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RESUMO DO CASO COMPETIÇÃO BRASILEIRA DE PROCESSO 2022

A Usina Hidrelétrica Milton Nascimento, localizada no Estado de Minas Gerais,


iniciou no rio Maracangalha, localizado na cidade de Dorival Veloso, no Estado da Bahia,
após a realização de processo licitatório e de já terem sido emitidas as licenças
ambientais necessárias pelo órgão ambiental responsável, a construção de uma
barragem para a sua futura operação e produção de energia elétrica.
O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia – INEMA-BA,
autarquia criada para promover a integração do sistema de meio ambiente e recursos
hídricos do Estado da Bahia, é o órgão público responsável pela emissão da licença
ambiental (LPrévia e LInstalação) que foi concedida à referida usina para a construção
da referida barragem.
Diversos moradores que residem em cidades próximas à área em que está sendo
construída a barragem, tanto do Estado de Minas Gerais quanto do Estado da Bahia,
como por exemplo, pescadores, lavadeiras e extratores de arenito, por retirarem o seu
sustento das águas do rio que estão sendo contaminadas e represadas, alegam que
sofreram perdas em decorrência dos danos ao meio ambiente causados pela construção
da barragem. Alegam ainda que tiveram seu sustento direta ou indiretamente
prejudicado. Nesse contexto, foi constituída a Associação Maracangalha dos Atingidos
pela Barragem da UHE Milton Nascimento.
Dentre as questões envolvendo a construção da mencionada barragem, as quais
foram levantadas a partir das reclamações formuladas pelos moradores da região, a
Associação Maracangalha aduz que a obra pode gerar impactos ambientais incompatíveis
com a existência de empreendimento deste porte na região, que os habitantes residentes
no entorno do empreendimento não obtiveram antecipadamente, tanto pela Usina
quanto pelo INEMA-BA, qualquer amparo ou esclarecimento a respeito da construção da
barragem e que as recomendações e obrigações previstas nos Estudos de Impacto
Ambiental e no Relatório de Impacto Ambiental – EIA/RIMA não estão sendo
devidamente cumpridas pela Usina.
Além disso, a Associação também acusa o INEMA-BA de negligenciar a sua
função de órgão fiscalizador, tendo em vista que seria o órgão responsável pela
fiscalização das atividades da Usina e não estaria compelindo a mesma a cumprir todas
as condicionantes previstas na licença de instalação a partir da avaliação de impacto
trazida nos estudos ambientais previamente realizados. Afirma que tais questões são
estruturais ao INEMA-BA, tratando-se de comportamento recorrentemente verificado em
outros licenciamentos ambientais.
Considerando todas essas questões, em 17 de fevereiro de 2022, a Associação
ajuizou uma ação civil pública perante a Comarca de Dorival Veloso, no Estado da Bahia,
em face da Usina Hidrelétrica Milton Nascimento e do INEMA-BA.
Em sede de tutela provisória liminar, a Associação requereu a imediata suspensão
da licença de instalação emitida com a suspensão do licenciamento ambiental, o que
acarretaria a interrupção das obras de construção da barragem. Contudo, em decisão
proferida em 24 de fevereiro de 2022, a juíza, Dra. Maria Bethânia, determinou que a
apreciação dos pedidos liminares formulados pela Associação deveria ser postergada
para momento posterior à manifestação das rés, tendo determinado, ainda, que estas
deveriam apresentar suas respectivas contestações no prazo de 10 (dez) dias úteis.

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Na inicial da ação civil pública, a Associação requereu, dentre outros pedidos
abaixo elencados, a condenação da Usina a (i) repovoar o seu reservatório em função
do desaparecimento do badejo, peixe específico da região; (ii) pagar uma quantia
trimestral aos pescadores e extratores de arenito da região que tiveram seu sustento
prejudicado; (iii) pagar uma indenização como forma de compensação da violação
cultural e histórica causada pela eliminação da paisagem natural do rio, a ser destinado
a Fundo a ser gerenciado pela Associação para a manutenção das lavanderias e
continuidade da atividade ao longo dos anos; (iv) iniciar imediatamente um projeto de
recuperação das áreas afetadas pelas obras de construção da Usina; (v) a fixação de
indenização coletiva a ser paga pela Usina em razão da violação ao direito à informação
alegado.
Além disso, a Associação também pleiteou (vi) a realização imediata de audiência
pública em local de fácil acesso para a população efetivamente atingida, para
apresentação dos estudos ambientais já realizados e do estado atual de construção da
barragem; e (vii) a realização de audiências públicas mensais para atualização da
população sobre o andamento dos pedidos formulados na ação ou, subsidiariamente, a
criação de uma comissão mista composta por representantes da Associação e da Usina
para acompanhamento das obras e elaboração de relatórios periódicos ao juízo. Por fim,
diante da urgência e dos riscos suscitados, requereu tutela provisória para que seja
suspensa a obra, até que os pleitos indenizatórios e reparatórios fossem atendidos.
Em relação ao INEMA-BA, a Associação requereu a sua condenação em
apresentar um plano de reformulação das suas atividades de fiscalização, contemplando
medidas estruturais que lhe permitam fiscalizar e controlar efetivamente as atividades
desenvolvidas pela Usina e as suas consequências no tocante aos danos ao meio
ambiente e à população ribeirinha, bem como que seja cassada definitivamente a licença
ambiental outorgada à Usina, cessando-se imediatamente a omissão no cumprimento
de suas funções legais.
Por fim, a Associação também requereu em sua inicial o ingresso do MIB –
Movimento dos Interessados por Barragens como amicus curiae na ação, o que foi
prontamente deferido na decisão proferida em 24 de fevereiro de 2022.
Em 14 de março de 2022, o INEMA-BA apresentou sua contestação defendendo
a regularidade do EIA/RIMA elaborado e das licenças que foram emitidas (inclusive
ambiental) para a construção da barragem da Usina Hidrelétrica Milton Nascimento, sob
a justificativa de que foram observadas todas as exigências legais ambientais, e negando
a sua omissão no que tange à sua função fiscalizadora. Afirmou, ainda, ausência de
amparo legal quanto ao pedido de apresentação do plano de reestruturação, o qual
consistiria em interferência indevida do Poder Judiciário sobre as competências do
Executivo.
Em 14 de março de 2022, a Usina Hidrelétrica Milton Nascimento também
apresentou sua contestação, na qual, como principais argumentos, alegou (i)
cerceamento de defesa; (ii) improcedência liminar da ação; (iii) impossibilidade de
concessão da medida liminar no sentido de suspender as obras da barragem; (iv) o
cumprimento rigoroso do direito à informação ambiental; (vi) a impossibilidade de
fixação de indenizações individuais.
Em sua contestação, a Usina Hidrelétrica Milton Nascimento também requereu o
ingresso do CONGA – Comitê Nacional de Ganhos Ambientais, representante no Brasil
do CORINGA – Comitê Regional e Internacional de Ganhos Ambientais, como amicus
curiae no caso.
Ato contínuo, após a apresentação de contestação pelas rés, na mesma data, foi
proferida decisão, por meio da qual o juízo, em suma: (i) rejeitou todas as preliminares;

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(ii) deferiu a tutela provisória requerida para determinar a imediata suspensão das obras
de construção da barragem; (iii) deferiu, em julgamento parcial de mérito, os pedidos
indenizatórios formulados pela Associação para pagamento de quantias trimestrais aos
pescadores e extratores da região e para pagamento de indenização coletiva por violação
ao direito à informação; (iv) deferiu o pedido para que seja realizada imediatamente
audiência pública em local de fácil acesso para a população efetivamente atingida; (v)
deferiu o pedido subsidiário formulado pela Associação de criação de uma comissão
mista composta por representantes da Associação e da Usina para acompanhamento
das obras e elaboração de relatórios periódicos ao juízo, devendo a Usina arcar com os
custos da constituição da comissão e (vi) determinou a realização de perícia destinada a
apurar as condições orçamentárias, gerenciais, de pessoal e de recursos materiais do
INEMA-BA, com vistas a decidir o pedido de adoção de medidas estruturais,
determinando que a empresa ré adiantasse as despesas periciais, tão logo sejam
indicadas pelo perito do juízo.
Nessa mesma decisão, o juízo também (i) requereu a intimação do Ministério
Público para se manifestar; (ii) indeferiu o ingresso do CONGA como amicus curiae; (iii)
saneou o feito para determinar que os pontos controvertidos da demanda dizem respeito
à regularidade ou não do EIA/RIMA produzido, ao cumprimento ou não das obrigações
mitigadoras já previamente estabelecidas no EIA/RIMA e à omissão ou não do órgão
fiscalizador, o INEMA-BA; e (iv) determinou a intimação das partes para especificarem
as provas que desejam produzir, observados os pontos controvertidos estabelecidos.
Nesse contexto, a Usina deve interpor o recurso cabível e a Associação deve
respondê-lo.
Para fins das peças escritas, as equipes não precisam formular o pedido de
antecipação dos efeitos da tutela recursal. Para fins da sustentação oral, pode-se
considerar que foi formulado pedido de antecipação dos efeitos da tutela recursal e que
este foi indeferido pela i. Desembargadora Relatora.
Para fins do caso: (i) não estamos levando em consideração a existência de
eventuais ações individuais; e (ii) pode-se considerar que todas as demais licenças
legalmente exigíveis foram obtidas pela UHE Milton Nascimento para dar início à
construção e implementação do empreendimento.

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