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Inteiro Teor

Parte superior do formulário

Número do processo: 1.0027.99.001692-8/001(1)


Relator: ARMANDO FREIRE
Relator do Acordão: ARMANDO FREIRE
Data do Julgamento: 26/09/2006
Data da Publicação: 12/10/2006
Inteiro Teor:
EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - MEIO AMBIENTE - RESPONSABILIDADE
OBJETIVA - PERÍCIA TÉCNICA - RELATÓRIO DA FEAM - AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DE DANO - DESCABIMENTO DE INDENIZAÇÃO -
REGULARIDADE DA EMPRESA CONSTATADA - DESNECESSIDADE DE
CONDENAÇÃO NAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER. A ação civil pública
configura meio processual hábil à busca a tutela jurisdicional de interesses
essenciais à comunidade como a preservação ao meio ambiente, caracterizada
na adoção de medidas de redução, substituição ou mesmo recuperação e
reparação, sempre que escorada em adequada avaliação científica. Consoante
disposição constitucional (artigo 225, §3º, da CF) e regramento legislativo
especial (artigo 14, §1º, da Lei 6.938/81), o DANO ao meio ambiente é regido
pelo sistema da RESPONSABILIDADE objetiva, prescindindo da
demonstração de culpa do agente para que exista a obrigação de reparação,
bastando a prova do DANO e do nexo causal. Todavia, a demonstração do
alegado DANO é imprescindível à procedência dos pedidos iniciais e
conseqüente condenação do apontado poluidor nas medidas cabíveis. Afinal,
constando dos autos prova técnica concluindo pela regularidade das atividades
da empresa e pelo inexpressivo perigo de DANO AMBIENTAL, não há se
cogitar de reparação baseada apenas na possibilidade indiciária da existência
de DANO constatada em sindicância que instruiu a inicial. Outrossim, diante da
regularidade das atividades empresarias, informada em relatório da FEAM e
confirmação do cumprimento de todas as condicionantes, inexiste razão para
condenação às penas de fazer e não fazer.

APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0027.99.001692-8/001 - COMARCA DE BETIM -


APELANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS - APELADO(A)
(S): REA IND COM LTDA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ARMANDO FREIRE

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do


Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade
da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM
NEGAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 26 de setembro de 2006.

DES. ARMANDO FREIRE - Relator


NOTAS TAQUIGRÁFICAS

Assistiu ao julgamento, pela apelada, o Dr. Eduardo Henrique Tito de Oliveira.

O SR. DES. ARMANDO FREIRE:

VOTO

Cuidam os autos de apelação aviada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO


DE MINAS GERAIS em AÇÃO CIVIL PÚBLICA ajuizada em face de REA
INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA., com o fim de que seja a empresa ré
condenada: na obrigação de não fazer, consistente em cessar o lançamento de
efluentes líquidos industrias e sanitários, bem como quaisquer outros efluentes
poluidores, com observância das normas estabelecidas pelo COPAM/MG; na
obrigação de fazer, consistente em promover o tratamento dos efluentes
líquidos industrias e sanitários, acima referidos, antes de seu lançamento em
curso d'água, de acordo com as normas técnicas e legais vigentes; na
obrigação de fazer, consistente em efetuar a recuperação dos cursos d'água
afetados, de modo a viabilizar a sua salubridade e pureza original, observadas
as diretrizes do COPAM/MG; à pena de pagamento da importância de R$
40.000,00 (quarenta mil reais), sob pena de multa diária, em caso de
procedência da ação e descumprimento das obrigações de fazer a que for
condenada, além de suspensão de suas atividades e fechamento da empresa
até a implantação de Plano de Controle AMBIENTAL e Relatório de Controle
AMBIENTAL aprovados pelo órgão competente. Visa, ainda, à condenação da
requerida no pagamento de indenização referente aos danos causados ao meio
ambiente em razão de sua atividade empresarial, a ser apurada em liquidação
de sentença.

Em razões de fl. 330/350, o Ministério Público sustenta, em síntese, que:

a) em 1998 foi instaurada sindicância sob o n. 036/98, com o fim de apurar a


existência de DANO AMBIENTAL e sua extensão, o que determinou a
realização de perícia técnica pela FEAM, que atestou a existência de DANO
AMBIENTAL na atividade desenvolvida pela empresa demandada;

b) o DANO AMBIENTAL constatado deve ser indenizado;

c) o douto Julgador de primeiro grau realçou que o empreendimento apresenta


baixo potencial poluidor e que, atualmente, opera escorado por uma licença
AMBIENTAL com condicionantes e que estas estão sendo atendidas;

d) o fato de, atualmente, a empresa estar cumprindo as condicionantes não


afasta o dever de indenizar o DANO anteriormente ocasionado quando exercia
suas atividades, "em completa desconsideração e indiferença à legislação
AMBIENTAL vigente";

e) a única forma de composição do DANO AMBIENTAL é a recomposição in


natura do DANO, o que, inviável, ou a indenização em dinheiro, situação a
qual o caso se impõe;

f) vigora o princípio do "poluidor-pagador", em observância à


RESPONSABILIDADE civil objetiva para o direito AMBIENTAL, bastando
provar o DANO e o nexo causal, para nascer o dever de recompor o DANO;

g) a perícia judicial foi realizada nos autos 04 (quatro) anos após a propositura
da ação, quando a empresa já havia regularizado suas atividades;

h) o dever de indenização decorre da norma disposta no artigo 14, §1º, da Lei


6.938/81;

i) não foram demonstrados os motivos da improcedência dos pedidos


consistentes na obrigação de fazer e de não-fazer descritas na exordial pelo
Ministério Público;

j) a tutela inibitória é necessária uma vez que a empresa demandada não


oferece qualquer garantia de que conseguirá manter suas atividades industriais
isentas de degradação ao meio ambiente.

Ao final, pede pelo provimento do recurso e reforma da sentença, para que a


empresa ré seja condenada nos exatos termos da peça vestibular, nas
obrigações de fazer, não fazer e indenizatória, fixando a tutela inibitória para o
caso de descumprimento do provimento jurisdicional.

A apelação foi recebida em despacho de fl. 351.

A empresa ré, em contra-razões de fl. 354/362, pugna pela confirmação da


sentença.

Assim relatado e presentes os pressupostos de admissibilidade, recebo a


apelação interposta.

Pelo que se depreende da peça inicial, o Ministério Público afirmou que, foi
instaurada sindicância para apurar possíveis danos ambientais causados pela
empresa REA, em face da inexistência de licenciamento da mesma junto à
FEAM/MG. Alegou que foi requisitada perícia técnica junto à FEAM/MG em que
constou que a empresa não apresenta projeto de combate à poluição; que os
efluentes líquidos de tingimento e sanitários são lançados na rede pública sem
tratamento prévio; e que a empresa não dispõe de licença de instalação do
COPAM. Asseverou que a atividade da empresa ofende o disposto no artigo 109
do decreto n. 24.643/34 (Código das Águas), bem como o artigo 3º da Lei n.
6.938/81, visto que "flagrantes" os danos ao meio ambiente, à saúde e ao
bem-estar da população.

A Sindicância n. 36/98 foi juntada às fl. 10/80.

REA Indústria e Comércio Ltda. apresentou contestação às fl. 86/94.


Preliminarmente suscitou inépcia da inicial e ilegitimidade passiva. No mérito,
sustentou que é uma empresa transformadora, caracterizada como de baixo
potencial poluidor, não utilizando-se, em seu processo produtivo, incorporação
de produtos químicos capazes de ocasionar danos significativos ao meio
ambiente. Asseverou que é incapaz de gerar efluentes líquidos provenientes de
tingimento dos zíperes, uma vez que esta unidade está paralisada em função
de competitividade no mercado. Acrescentou que o consumo de água é mínimo
e que o efluente líquido sanitário é encaminhado para a rede coletora do
Município de Betim, porém, possui impacto AMBIENTAL menor do que um
conjunto habitacional, pois se refere apenas aos 17 (dezessete) funcionários da
empresa. Concluiu que não foram caracterizados os resíduos gerados pela
empresa ré, como capazes de produzir impacto AMBIENTAL.

Impugnação às fl. 115 e verso.

Em petição de fl. 148/149, a empresa ré justificou a necessidade de realização


de prova pericial. Quesitos às fl. 179/180.

Quesitos do Ministério Público a fl. 185.

Laudo Pericial às fl. 186/189.

A empresa REA juntou laudo pericial às fl. 190/211.

Em audiência de fl. 225, não compareceu o Ministério Público.

Foi determinada a suspensão do feito por 12 (doze) meses, conforme despacho


de fl. 226-verso, aguardando manifestação do autor.

Cumprindo determinação do Juízo que acolheu manifestação do MP, a FEAM


apresentou "Relatório Técnico DIINQ n. 029/2004 - Processo COPAM n.
0242/1999" às fl. 240/243.

REA Indústria e Comércio Ltda. junta novos documentos às fl. 156/293.

O MP, em petição de fl. 296, manifesta-se pelo julgamento antecipado da lide.

Alegações finais do autor às fl. 299/309.

O MM. Juiz singular, em sentença de fl. 311/319, rejeitou as preliminares e, no


mérito, JULGOU IMPROCEDENTES os pedidos formulados na inicial. Considerou
que, consoante prova técnica realizada, restou demonstrado que a empresa ré
não causou qualquer dos danos alegados na exordial. Acrescentou que não
houve prova de culpa, nexo de causalidade ou prejuízo. Deixou de condenar o
autor no pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, nos
termos do artigo 18 da Lei 7.347/1985.

O MP opôs embargos de declaração às fl. 321/328. Em decisão de fl. 329, os


referidos embargos foram rejeitados.

Analisando detidamente os autos, com vênia, tenho que não assiste razão ao
apelante.

Primeiramente, considero que a ação civil pública configura meio processual


hábil à busca a tutela jurisdicional de interesses essenciais à comunidade como
um todo, dentre eles, a preservação ao meio ambiente equilibrado, direito
constitucionalmente garantido (artigo 225 da CF/88). Visando à referida
preservação a pretensão inicial pode assumir contornos diferentes, de acordo
com a medida necessária, podendo ser de redução, substituição, ou mesmo em
casos em que já foi demonstrado o efetivo DANO AMBIENTAL, medidas de
recuperação e reparação.

Vale dizer, porém, que a busca pela efetividade do mandamento constitucional


não pode fechar os olhos à realidade demonstrada nos autos, cumprindo
atribuir o valor que se deve à adequada avaliação científica, sob pena de se
promover o desequilíbrio entre o crescimento econômico e a preservação do
meio ambiente, com base em exageros que, conquanto sejam baseados em
louvável intenção, acabam por caracterizar uma visão equivocada,
fundamentada em presunções e elementos indiciários colhidos no inquérito
civil.

Rogata venia, é isso que se vê nos autos, uma vez que não obstante as
alegações iniciais reiteradas e acrescentadas nas razões recursais a existência
de laudo técnico e relatório produzido por órgão estatal, sob o crivo do
contraditório, acenam com a viabilidade AMBIENTAL da atividade da empresa
ré.

Apesar de considerar certa diferenciação entre o princípio do "poluidor-


pagador", de caráter mais preventivo que meramente reparatório, e a aplicação
do sistema da RESPONSABILIDADE objetiva ao DANO AMBIENTAL,
reconheço que para eventual condenação bastaria a prova do DANO e do nexo
causal entre a atividade da empresa ré e a degradação constatada,
diferentemente da RESPONSABILIDADE aquiliana ou extracontratual, em que
é imprescindível aferir a culpa ou dolo do agente.

Edis Milaré faz interessante consideração sobre a aplicação do sistema de


RESPONSABILIDADE objetiva:

"(...) Na legislação especial, ao contrário, o DANO AMBIENTAL é regido pelo


sistema da RESPONSABILIDADE objetiva, fundado no risco, que prescinde
por completo da culpabilidade do agente e só exige, para tornar efetiva a
RESPONSABILIDADE a ocorrência de DANO e a prova do vínculo causal com
a atividade. (...) A vinculação da RESPONSABILIDADE objetiva à teoria do
risco integral expressa a preocupação da doutrina em estabelecer um sistema
de RESPONSABILIDADE o mais rigoroso possível, ante ao alarmante quadro
de degradação que se assiste não só no Brasil, mas em todo o mundo. (...)
Segundo esta doutrina do risco integral, qualquer fato, culposo ou não culposo,
impõe ao agente a reparação, desde que cause um DANO. No dizer de Caio
Mário da Silva Pereira, 'trata-se de uma doutrina puramente negativista. Não
se cogita de indagar como ou porque ocorreu o DANO. É suficiente apurar se
houve o DANO, vinculado a um fato qualquer, para assegurar à vítima uma
indenização' (...)".(grifos do texto) (Ação Civil Pública - Lei 7.347/1985- 15
anos. A Ação Civil Pública por DANO ao Ambiente - Coordenador Edis Milaré -
Editora Revista dos Tribunais - 2ª ed. rev e atual.São Paulo. 2002. p. 151,
154).

Observa-se que, mesmo com todo o rigor da RESPONSABILIDADE objetiva e


sob a ótica do risco integral, a reparação somente tem lugar na existência de
DANO demonstrado, sob pena de se ferir o princípio da eqüidade.

Nesse sentido, a análise acerca da existência de DANO AMBIENTAL não pode


se afastar dos princípios da proporcionalidade e da coerência, de forma que o
uso, adequado à normas legais não é passível de gerar DANO, bem como o
fato de que determinada atividade, anteriormente considerada como perigosa,
possa ter causado efetivamente o DANO apontado.

Vale transcrever pequeno trecho da obra "Direito AMBIENTAL na Sociedade


de Risco", que diz sobre os referidos princípios:

"(...) Em atenção ao princípio da proporcionalidade, a simples natureza da


atividade - de elevado potencial de periculosidade - não pode ser critério
razoável para um tratamento excessivo. (...) A proteção do ambiente não é, na
relação de ponderação, hierarquizada em relação de precedência absoluta e
exclusão prima facie, de pretensões e interesses de quaisquer naturezas. O que
se exige não é a diminuição dos padrões de controle ou o excesso, mas a
imposição das medidas necessárias e adequadas à consecução dos mesmos
padrões de qualidade AMBIENTAL, que, de resto, devem também ser
coerentes com medidas já adotadas em circunstâncias semelhantes, o que
caracteriza o terceiro princípio, o da coerência (...)". (grifos do texto) (Direito
AMBIENTAL na Sociedade de Risco. José Rubens Morato Leite e Patryck de
Araújo Ayala. Editora Forense Universitária. 2ª ed. rev atual e ampl. Rio de
Janeiro. 2004. p. 91).

Na demanda em tela o apelante alega que o DANO está demonstrado na


sindicância que instruiu a peça exordial (Sindicância n. 36/98), mormente em
laudo pericial realizado pela FEAM (fl. 46/49), no qual constou que
irregularidade quanto à apresentação de projeto de combate à poluição, bem
como licença de instalação do COPAM. Constou ainda, que a empresa dispunha
de modo adequado os resíduos sólidos resultantes de sua atividade, bem como
os efluentes atmosféricos eram insignificantes. Apenas se verificou observação
acerca dos efluentes líquidos decorrentes do tingimento e sanitários, segundo a
qual a Fundação emitiu parecer quando à necessidade de tratamento dos
referidos efluentes antes de seu lançamento na rede pública, porém, sem
especificar ou detalhar qual degradação estaria ocorrendo em virtude da
irregularidade constatada, cumprindo transcrever trecho do referido laudo:

"(...) 11 - Pela gravidade do problema é aconselhável a paralisação da


atividade? Queiram apresentar resposta fundamentada. (...) Não. O efluente
líquido industrial e sanitário lançado na rede coletora pública, não ocasiona
risco grave ou eminente à saúde humana ou à comunidade aquática, uma vez
que o próprio local onde se encontra instalada a empresa não apresenta
qualquer sistema de tratamento de esgotos domésticos. (...) Contudo, é
necessário que a empresa proceda o seu licenciamento AMBIENTAL e que
regularize sua situação atual conforme determinações da Legislação
AMBIENTAL vigente. Caso a empresa não se licencie junto ao COPAM, sugere-
se a essa Promotoria promover a suspensão das atividades (...)".

Toda a argumentação das razões recursais encontra-se escorada no referido


laudo pericial, produzido em 1998, em sindicância anterior ao ajuizamento da
ação, sem a observância do contraditório e que, a meu ver apresenta algumas
irregularidades da empresa, porém, não demonstra, de fato, o DANO alegado,
mas, tão-somente indícios de possível DANO que não pode ser presumido.

Importa salientar que a própria FEAM, em trecho transcrito, assevera a


realidade dos fatos, afastando a possibilidade de degradação AMBIENTAL
passível de reparação ou ressarcimento pecuniário, apenas ressalvando a
necessidade da regularização da empresa.

Já no decorrer do trâmite processual, o alegado DANO que não havia sido


constatado foi definitivamente afastado, de modo que foi demonstrado, através
de perícia técnica e relatório da FEAM que o autor regularizou suas atividades
não exercendo perigo de degradação ao ambiente.

Em resposta aos quesitos formulados a ilustre expert não apenas afirmou que a
empresa ré apresentou projeto de combate à poluição e o executou, como
esclareceu que a atividade de maior impacto AMBIENTAL - o tingimento de
fios de cadarços de poliéster e para zíperes - foi desativada. Acrescentou que
as medidas implementadas para a destinação dos resíduos são eficazes.
Afirmou que a empresa não possui tratamento de esgoto doméstico, porém,
que a sua destinação para a rede coletora da COPASA consta do Plano de
Controle AMBIENTAL/PCA aprovado pela FEAM. Aduziu que a empresa dispõe
de aparelhos e instrumentos técnicos para evitar os lançamentos de efluentes
líquidos, emissões atmosféricas, bem como para acomodar os seus resíduos
sólidos. Esclareceu, também, que a empresa obteve Licença de Operação
Corretiva do COPAM em 04 de abril de 2000, com validade de 08 (oito) anos.

Manifestando-se acerca da perícia oficial, a ré considerou que os seus quesitos,


apesar de não constarem do laudo, foram devidamente respondidos com as
respostas dadas aos quesitos apresentados pelo Ministério Público (fl. 215).

Consoante "Relatório Técnico DIINQ n. 029/2004 - Processo COPAM n.


0242/1999" apresentado pela FEAM, a pedido do Ministério Público, a empresa
REA Indústria e Comércio Ltda. formalizou seu processo na FEAM em
30/08/1999, sendo-lhe concedida a LOC, válida por 8 anos, mediante
cumprimento de condicionantes, em 04/04/2000. Consta do aludido documento
que em 01/06/2000, foi protocolada uma revisão do Plano de Controle
AMBIENTAL informando a desativação do processo de tingimento.

Insta transcrever algumas considerações do aludido relatório sobre a situação


perante a FEAM/COPAM (fl. 240/243):

"(...) Os efluentes líquidos industriais passaram a se restringir à fase de


tamboreamento uma vez que o tingimento não mais é realizado. São
descartados diariamente 120 litros (3 lançamentos de 40L) de águas
residuárias. Assim, como o efluente gerado é descontínuo, o projeto proposto
para a ETE foi alterado, tendo sido retirado o sistema de aeração. O novo
sistema foi considerado adequado e as solicitações do empreendedor de
alterações das condicionantes pertinentes. Ressalta-se que as características de
efluente do tamboreamento atendem ao padrão de lançamento permitido pela
legislação, conforme DN 010/1986. (...) Quanto aos resíduos sólidos, a
quantidade gerada é pequena (60Kg/ano de fios e cadarço de poliéster) e sua
classificação segundo norma da ABNT, foi de resíduo inerte. Em razão disso, foi
decidido por sua armazenagem temporária em local impermeabilizado e
posterior envio ao Aterro Industrial de Betim. Será adotado o mesmo
procedimento com o Iodo das caixas de sedimentação do efluente líquido do
tamboreamento. (...) Em 20/11/2000 foi realizada reunião entre a FEAM e
representantes do empreendimento para verificar a necessidade do
cumprimento de condicionantes referentes à realização de análises do efluente
líquido. Foi informado que as águas do tamboreamento passam por um
processo de decantação e são reutilizadas no processo, não havendo descarte.
(...) Assim, as condicionantes da LOC da empresa se restringem à disposição
adequada dos resíduos sólidos gerados, à operação do sistema de tratamento
dos efluentes líquidos e à execução do programa de automonitoramento que
engloba uma descrição detalhada da disposição dos resíduos sólidos gerados e
análise do efluente líquido industrial, quando houver descarte. (...) A empresa
tem enviado semestralmente à FEAM a planilha de controle de geração e
disposição dos resíduos sólidos. (...) Com base nas informações acima, conclui-
se que a empresa REA Indústria e Comércio Ltda. vem cumprindo as
condicionantes estabelecidas na LOC. Portanto, este empreendimento
encontra-se com sua situação regularizada com este órgão AMBIENTAL (...)".
(grifos nossos).

Sob estes fundamentos, diante da insuficiência de provas acerca da existência


de danos ambientais deve ser confirmada a sentença que julgou improcedentes
os pedidos exordiais.

É o que se colhe dos seguintes arestos emanados deste egrégio Tribunal de


Justiça:

"AÇÃO CIVIL PÚBLICA - MEIO AMBIENTE - RESPONSABILIDADE CIVIL


'OBJETIVA' - DANOS - NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. Conforme reiterada
jurisprudência deste Tribunal, e também do STJ, a RESPONSABILIDADE civil
por danos ao meio ambiente é objetiva, ou seja, a sua caracterização
independe de culpa, bastando a existência do DANO e o nexo com a fonte
poluidora ou degradadora. Evidente, entretanto, que para que se determine a
correção desses danos pela degradação causada pela atividade industrial
específica, necessária a prova técnica da existência efetiva destes danos, não
bastando a mera possibilidade de ocorrência deste ou a simples suposição da
existência do impacto AMBIENTAL". (Apelação Cível n. 1.0105.03.095094-
0/002 - Comarca de Governador Valadares - 1ª Câmara Cível do TJMG -
Relator: DES. GERALDO AUGUSTO - Data do Julgamento: 21/06/2005).

"AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DANO AO MEIO AMBIENTE - RESPONSABILIDADE


OBJETIVA - PROVA PERICIAL - INOCORRÊNCIA DE DESMATAMENTO - ÁREA JÁ
RECUPERADA - RECURSO IMPROVIDO. 'O agente é responsável pela reparação
do meio ambiente, ou indenização, independentemente da análise
subjetividade da ação; assim, a RESPONSABILIDADE pelo DANO
AMBIENTAL prescinde da pesquisa da culpa latu sensu e, em certos casos, do
próprio nexo causal, eis que, a mera sucessão pode gerar o direito de
reparar';'Não sendo o caso da indenização (recuperação econômica) e, já tendo
ocorrido a reconstituição do meio ambiente lesado (reparação específica), não
há falar na condenação do apelado'". (Apelação Cível n. 1.0400.04.012368-
1/001 - Comarca de Mariana - 7ª Câmara Cível do TJMG - Relator: DES. ALVIM
SOARES - Data do Julgamento: 28/03/2006).

"AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEIO AMBIENTE. DANOS. IMPROCEDÊNCIA. AUSÊNCIA


DE PROVAS. À ausência de prova dos fatos apontados, de que estariam a
ocorrer danos ao meio ambiente e à ordem urbanística, impõe-se julgar
improcedente o pedido". (Apelação Cível n. 1.0079.03.073893-8/001 -
Comarca de Contagem - 6ª Câmara Cível do TJMG - Relator: DES. MANUEL
SARAMAGO - Data do Julgamento: 20/09/2005)

Especificamente quanto à alegação de que não foram demonstrados os motivos


da improcedência dos pedidos consistentes na obrigação de fazer e de não
fazer, realçada pela afirmação de que a empresa demandada "não fornece
qualquer garantia de que conseguirá manter suas atividades industriais isentas
de degradação ao meio ambiente", considero que, novamente, não assiste
razão ao recorrente.

Primeiramente, o douto Julgador singular demonstrou suficientemente as


razões de seu convencimento, na fundamentação da decisão que julgou
improcedentes, todos os pedidos iniciais.

De outro norte, um questionamento deve ser feito: que ato ilícito, mesmo que
provável, estaria sendo alvo da pretendida tutela inibitória? A meu ver,
nenhum.

Afinal, qualquer medida coercitiva que vise à garantia constitucional do meio


ambiente, que indubitavelmente é um direito de todos, deve estar
fundamentada em substrato probatório mínimo acerca da eminência de
descumprimento do referido mandamento constitucional, o que não se verifica
nos autos.

Na demanda em questão, inclusive, reiterando vênia, não apenas deixou-se de


se demonstrar o efetivo DANO AMBIENTAL, em qualquer fase do processo,
como as pequenas irregularidades constatadas em sindicância foram
completamente sanadas, sendo desativada a área da empresa que trazia maior
perigo.

Restou, também, demonstrado, pelas avaliações técnicas produzidas sob o


crivo do contraditório, o interesse da empresa em manter-se regular, de
maneira que atende a todas as condicionantes e envia semestralmente à FEAM
planilha de controle de geração e disposição dos resíduos sólidos.

Assim, concessa venia, presumir que a empresa não fornece garantias de que
conseguirá manter suas atividades industriais isentas de degradação ao meio
ambiente, apenas com o intuito de justificar a tutela inibitória é contrariar tudo
o que consta dos autos.

Obviamente, considerando a importância da matéria versada, eventual


degradação promovida pela empresa ré poderá ser objeto de nova ação,
porém, no momento, a tutela inibitória não é indicada.

À luz do exposto e por estas razões de decidir, NEGO PROVIMENTO À


APELAÇÃO, mantendo integralmente a decisão de primeiro grau.

É o meu voto.

O SR. DES. CORRÊA DE MARINS:

VOTO
De acordo.

O SR. DES. EDUARDO ANDRADE:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0027.99.001692-8/001

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