Você está na página 1de 12

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) FEDERAL DA 6ª VARA DA SUBSEÇÃO

JUDICIÁRIA DE SANTA CATARINA

AUTORA, brasileira, casada, inscrita no RG sob o n... e CPF n...,


residente e domiciliada na Rua..., Florianópolis/SC, CEP..., vem,
à presença de Vossa Excelência, por seu advogado, propor

MODELO DE AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE


ATO ADMINISTRATIVO MULTA AMBIENTAL

em face de INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E


DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS – IBAMA, com
sede na Rua..., Centro, Florianópolis - SC, CEP..., pelas razões
de fato e de direito que passa a expor.
1. DOS FATOS

No dia 06 de setembro de 2020, o agente fiscal do IBAMA lavrou o auto de infração


ambiental e termo de embargo, por entender que a Autora destruiu ou danificou vegetação ao
construir em área de preservação permanente, infringindo o art. 43 do Decreto 6.514/08, assim
redigido:

Decreto 6.514/08
Art. 43.  Destruir ou danificar florestas ou demais formas de vegetação natural ou utilizá-
las com infringência das normas de proteção em área considerada de preservação
permanente, sem autorização do órgão competente, quando exigível, ou em desacordo
com a obtida:
Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), por hectare ou
fração.

Segundo o agente fiscal, a Autora estaria construindo uma casa residencial em


área circundante a APA/Anhatomirim, danificando florestas considerada de preservação permanente
(próximo à curso d’água e nascente) na Praia de Palmas, Município de Governador Celso
Ramos/SC.

Ocorre que, antes mesmo de iniciar a construção, a Autora realizou a consulta de


viabilidade e posteriormente teve seu projeto aprovado pela municipalidade, emitindo-se o
competente alvará para construção.

A defesa prévia apresentada tempestivamente, foi instruída com documentos


suficientes a comprovar a legalidade da obra. No entanto, a autoridade julgadora homologou o auto
de infração ambiental, julgando improcedente a defesa prévia.

Interposto recurso administrativo, reiterou-se que a obra foi erigida à luz das
normas ambientais e municipais, com aprovação de projeto e expedição do competente alvará de
construção.

Entretanto, o recurso administrativo foi improvido, que assim como a decisão de


primeira instância, sequer analisou as provas acostas pela Autora, e a condenou ao pagamento de
multa administrativa e à demolição da edificação e recuperação da área supostamente degradada.

Portanto, requer a procedência da ação declaratória de nulidade de ato


administrativo, porque o auto de infração ambiental lavrado em face da Autora é eivado de vício,
conforme passa a demonstrar.
2. PEDIDO DE ANULAÇÃO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO POR AUSÊNCIA DE
MOTIVAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO

Conforme mencionado anteriormente, a Autora apresentou defesa prévia contra o


auto de infração ambiental que foi julgada improcedente em primeira instância. Disso, interpôs
recurso administrativo que foi improvido em segunda instância.

Contudo, a autoridade ambiental motivou sua decisão concordando com


fundamentos de anterior parecer e informações que sequer analisaram a defesa e recurso da Autora.

Ora. A observância do devido processo legal, com o respeito ao contraditório e à


ampla defesa, não se encerra ao se oportunizar ao infrator a contradita do fato infracional que lhe é
imputado.

Para que o princípio seja coerentemente observado, imprescindível que a defesa


apresentada e todos os seus documentos, a tempo e modo devidos, assim como as postulações no
curso do processo, sejam analisadas e exerçam influência na tomada da decisão, o que não
aconteceu no caso em comento.

Apenas facultar a apresentação de defesa, mas não permitir que os argumentos e


documentos apresentados influam no convencimento, não prestigia o princípio que assegura ao
autuado por infração ambiental que se defenda, mas tão somente significando o cumprimento de
uma formalidade legal, que só traria mais ônus ao autuado.

Essa, definitivamente, não é a finalidade da garantia constitucional que prestigia a


ampla defesa e o contraditório, tanto no âmbito administrativo quanto no judicial.

A Autora, em sede de defesa prévia e recurso administrativo, sempre alegou a


legalidade da edificação e juntou documentos aptos a comprovar suas alegações, os quais não foram
analisados de forma satisfatória.

Em que pese ser permitido à autoridade ambiental julgadora que adote


fundamentos de anteriores pareceres, informações ou decisões, bastando sua declaração de
concordância ao julgar processo administrativo (art. 125, do Decreto 6.514/08), o Parecer emitido
pela Procuradoria Federal Especializada – IBAMA não apresenta os critérios mínimos exigidos,
porque se limitou a indicar que competia a Autora a produção de provas, deixando de emitir qualquer
parecer razoável, tocantemente ao mérito do caso concreto.
E ao julgar, a autoridade de primeira instância fundamentou assim a sua decisão:

II— FUNDAMENTAÇÃO

9. As alegações e documentos apresentados na defesa administrativa foram objeto de


análise técnica e jurídica, sendo as informações prestadas pela área técnica e fiscal na
instrução dos autos aliadas ao Parecer Jurídico da Procuradoria Federal Especializada
são suficientes para motivar a presente decisão, não sendo necessária sua reprodução.

10. Desta forma, nos termos do art. 125, parágrafo único, do Decreto nº 6.514, de 2008,
concordo com os fundamentos apresentados pelo Parecer Jurídico da Procuradoria
Especializada e homologo as informações prestadas pela área técnica e fiscal desta
Autarquia Federal, fazendo-os parte integrante deste ato decisório.

Já a autoridade de segunda instância decidiu pelo improvimento do recurso pelos


seguintes motivos:

Não havendo no recurso interposto elementos capazes de modificar o ato decisório de


primeira instância, em face de razões de legalidade e de mérito – conforme Parecer
Técnico Recursal para Recurso do Interessado e Despacho, DECIDO: apelo improvimento
do recurso, pela manutenção do Auto de Infração, da multa aplicada e do Termo de
Embargo/Interdição e pela demolição da obra e recuperação da área degrada, nos termos
do art. 70, § 4º, e art. 72, incisos II e VII, ambos da Lei nº 9.605/98; do art. 3º, incisos II e
VII, art. 108 e art. 127, § 2º, todos do Decreto nº 6.514/08; e do art. 152, § 1º, da Instrução
Normativa nº 14/09.

Ora! Não poderiam essas autoridades julgadoras concordar com pareceres que
não apreciaram as provas, documentos e argumentos levantados pela Autora/autuada, limitando-se a
rechaçar a defesa de forma genérica e vazia, sem combater as teses ali apresentadas.

Está evidente que apenas foi oportunizado o direito a defesa e ao contraditório à


Autora para cumprimento de formalidade legal, de modo que, a autuação foi mantida com base em
parecer visivelmente padronizado, que irrefutavelmente ofende o princípio da motivação e conduz à
procedência da ação declaratória de nulidade de ato administrativo de multa ambiental.

E quando interposto o recurso administrativo, a equipe técnica do IBAMA elaborou


o Parecer Técnico Recursal para o Recurso do Interessado, que de igual forma, é padronizado e não
analisou o recurso muito menos as provas juntadas pela Autora/recorrente, limitando-se a análise
genérica e vazia.

Não há dúvidas que o Parecer Técnico Recursal para o Recurso do Interessado em


anexo não serve como fundamento de decidir, porque se limitou, dentre outros pontos, a dizer que
“todos os argumentos e alegações trazidos pelo autuado no recurso e que constam na defesa foram
analisados pela autoridade julgadora”, quando de fato não foram!
É notório que não houve a análise da defesa prévia, nem do recurso e muito menos
das provas juntadas pela Autora, pois sequer é possível encontrar menção a estas nos documentos
que instruem o processo administrativo ambiental, a demonstrar de forma inequívoca a ilegalidade do
processo administrativo em questão para julgar procedente a ação declaratória de nulidade de ato
administrativo de multa ambiental.

Ora. Não se pode considerar como motivado um ato administrativo que não
combate a defesa prévia e recurso administrativo apresentados pelo administrado, limitando-se a
decisões genéricas, vazias e padronizadas.

A conclusão extraída disso, é que houve expressa violação ao art. 20, da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei 4.657/42); aos art. 1º, art. 5º, LIV e LV, art.
37, caput, e art. 93, inciso IX, da Constituição Federal de 1988; art. 2º e art. 50 da Lei Federal nº
9.784/99; e, art. 95 do Decreto 6.514/08, assim descritos:

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro


Art. 20.  Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em
valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da
decisão
Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida
imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa,
inclusive em face das possíveis alternativas.   
Constituição Federal de 1988
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos: [...]
III - a dignidade da pessoa humana;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...]
Art. 93. [...]:
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas
todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos
nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação; 
Lei Federal 9.784
Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os
critérios de:
I - atuação conforme a lei e o Direito;
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou
competências, salvo autorização em lei;
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de
agentes ou autoridades;
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas
na Constituição;
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e
sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do
interesse público;
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão;
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados;
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza,
segurança e respeito aos direitos dos administrados;
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção
de provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam resultar sanções e
nas situações de litígio;
XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei;
XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação dos
interessados;
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento
do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres,
laudos, propostas e relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.
§ 1º A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração
de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou
propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato. [...]
Decreto 6.514/08
Art. 95.  O processo será orientado pelos princípios da legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança
jurídica, interesse público e eficiência, bem como pelos critérios mencionados no
parágrafo único do art. 2º da Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999.

Os dispositivos acima tratam do óbvio: a fundamentação e motivação tem como


pressuposto a análise das alegações apresentadas pelas partes, o efetivo contraditório e o exercício
da ampla defesa. Em última análise, trata-se do respeito ao devido processo legal.

Não se desconhece que a autoridade julgadora poderia ter motivado sua decisão
na declaração de concordância com fundamento no Parecer e demais informações, como o fez.

Ocorre que, as informações dos autos do processo administrativos e


principalmente dos pareceres, não consistem em motivação explícita, clara e congruente, muito
menos possuem a indicação dos fatos e fundamentos jurídicos aptos a desqualificar a defesa da
Autora, justamente porque não houve qualquer análise do que foi dito pela Autora, daí que deve ser
julgada procedente a ação declaratória de nulidade de ato administrativo de multa ambiental.

É de lembrar que a motivação funciona como instrumento para verificar se a


Administração Pública fez cumprir os princípios constitucionais, tais como: o da legalidade, da
moralidade, da impessoalidade, da publicidade e da eficiência, expressamente previstos no art. 37 da
Constituição Federal.

Assim sendo, leciona DI PIETRO1 que “o princípio da motivação exige que a


Administração Pública indique os fundamentos de fato e de direito de suas decisões” e que a “sua
obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de ato, porque se trata de formalidade necessária para
permitir o controle de legalidade dos atos administrativos”.

E continua a doutrinadora a sublinhar que esta exigência está regrada no parágrafo


único, inciso I, Art. 2º da Lei 9.784/199 no qual se exige a “indicação dos pressupostos de fato e de
direito que determinarem a decisão”. Além disso, destaca que “a motivação consta de pareceres,
informações, laudos, relatórios [...]”, feitos pelo próprio órgão ou por outros, “sendo apenas indicados
como fundamento da decisão. Nesse caso, eles constituem a motivação do ato, dele sendo parte
integrante”.

Isso significa que, os pareceres, informações, laudos e relatórios que constituem a


motivação do ato devem se prestar a combater de forma satisfatória aquilo que é alegado pelo
1
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 30ª ed. Rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. P. 118-119.
administrado, e sendo assim, não podem ser patronizados, vazios e genéricos, como aconteceu no
caso em tela.

Por fim, DI PIETRO2 assevera no que tange a teoria dos fatos determinantes:

Entendemos que a motivação é, em regra, necessária, seja para os atos vinculados, seja
para os atos discricionários, pois constitui garantia de legalidade, que tanto diz respeito ao
interessado como à própria Administração Pública; a motivação é que permite a
verificação, a qualquer momento, da legalidade do ato, até mesmo pelos demais Poderes
do Estado.... Ainda relacionada com o motivo, há a teoria dos motivos determinantes, em
consonância com a qual a validade do ato se vincula aos motivos indicados como seu
fundamento, de tal modo que, se inexistentes ou falsos, implicam a sua nulidade. Por
outras palavras, quando a Administração motiva o ato, mesmo que a lei não exija a
motivação, ele só será válido se os motivos forem verdadeiros. [...].

A motivação não pode limitar-se a indicar a norma legal em que se fundamenta o ato. É
necessário que na motivação se contenham os elementos indispensáveis para controle da
legalidade do ato, inclusive no que diz respeito aos limites da discricionariedade. É pela
motivação que se verifica se o ato está ou não em consonância com a lei e com os
princípios a que se submete a Administração Pública. Verificada essa conformidade, a
escolha feita pela Administração insere-se no campo do mérito. A exigência de motivação,
hoje considerada imprescindível em qualquer tipo de ato, foi provavelmente uma das
maiores conquistas em termos de garantia de legalidade dos atos administrativos.

De acordo com ALEXANDRINO e PAULO3 a motivação é:

[...] a declaração escrita do motivo que determinou a prática do ato. É a demonstração, por
escrito, de que os pressupostos autorizadores da prática do ato realmente estão
presentes, isto é, de que determinado fato aconteceu e de que esse fato se enquadra em
uma norma jurídica que impõe ou autoriza a edição do ato administrativo que foi praticado.
[...] Em regra, a motivação, quando obrigatória, deve ser prévia ou contemporânea à
expedição do ato, sob pena de nulidade deste. [...]”

Como se indicou, o princípio da motivação é instrumental e corolário do princípio do


devido processo da lei (art. 5.º, LIV, da Constituição), tendo necessária aplicação às decisões
administrativas, assim como nas decisões judiciárias.

Por decisão, não se deve entender, porém, qualquer ato administrativo ou judiciário
que apenas contenha um mandamento, senão aquele cujo comando aplique uma solução a litígios,
controvérsias e dúvidas, conhecendo, acolhendo ou denegando pretensões, através das adequadas
vias processuais, ainda que atuando de ofício.

Essa, a ratio do art. 50 da Lei 9.784, impõe à Administração Pública o dever de


motivar os atos administrativos que neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses dos

2
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 30ª ed. Rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. P. 225-230.
3
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 25ª ed. rev. e atual. - Rio de Janeiro: Forense;
São Paulo: MÉTODO, 2017. p. 592.
administrados, não podendo os fazer com base em pareceres jurídicos padronizados, genéricos e
omissos às alegações do administrado em sede de defesa.

Os atos administrativos devem ser sempre motivados para assegurar que as


decisões administrativas velem pelos direitos e garantias individuais, além de garantir o controle
popular e o atendimento ao princípio da publicidade. A motivação consiste em dar uma justificativa ou
exposição das razões originárias daquele ato administrativo.

Logo, a falta de motivação no ato discricionário abre a possibilidade de ocorrência


de desvio ou abuso de poder, dada a dificuldade ou, mesmo, a impossibilidade de efetivo controle
judicial e popular, pois, pela motivação, é possível aferir a verdadeira finalidade buscada pelo agente
na prática do ato administrativo. Assim, verifica-se que a necessidade de motivação também visa
garantir o PRINCÍPIO DA MORALIDADE, já que faz transparecer a eticidade da atuação do agente
público.

O ilustre Professor Diogenes Gasparine 4 ensina que, “a motivação é necessária


para todo e qualquer ato administrativo, pois a falta de motivação ou indicação de motivos falsos ou
incoerentes torna o ato nulo devido a Lei n.º 9.784/99, em seu art. 50, que prevê a necessidade de
motivação dos atos administrativos sem fazer distinção entre atos vinculados e os discricionários,
embora mencione nos vários incisos desse dispositivo quando a motivação é exigida. ”

Cediço que a motivação é necessária para todo e qualquer ato administrativo,


inclusive em anteriores pareceres que embasam decisão das autoridades julgadoras. Sem isso, fica
prejudicada a análise das condutas administrativas, sem as razões motivadoras que permitissem
reconhecer seu afinamento ou desafinamento com os princípios administrativos como da legalidade,
da finalidade, da proporcionalidade, da razoabilidade, da moralidade, do contraditório e ampla defesa,
permitindo assim formar uma linha divisória entre os atos praticados dentro da legalidade ou atos
eivados de vício.

Assim, a mera enunciação do artigo da lei ou alegação de que caberia à autuada


produzir prova em contrário capaz de derruir o ato administrativo, não é suficiente para se considerar
suprida a exigência de motivação. Também não basta a simples enumeração dos fatos que deram
margem ao ato, devendo ser substancialmente motivado, não servindo mera fundamentação
formalística, vazia e padronizada, exigência necessária em virtude do direito que se tem em saber o
motivo da imposição da penalidade.

Nesse sentido, vale destacar a doutrina de DI PIETRO5:

O princípio da motivação exige que a Administração Pública indique os fundamentos de


fato e de direito de suas decisões. Ele está consagrado pela doutrina e pela
jurisprudência, não havendo mais espaço para as velhas doutrinas que discutiam se a sua
4
Gasparini, Diogenes. Direito Administrativo – 10. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2005. p. 23.
5
DI PIETRO, 2001, p. 82.
obrigatoriedade alcançava só os atos vinculados ou só os atos discricionários, ou se
estava presente em ambas as categorias. A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer
tipo de ato, porque se trata de formalidade necessária para permitir o controle da
legalidade dos atos administrativos.

A obrigatoriedade de motivar decisões, estendeu-se, com a Constituição Federal


de 1988, a seus próprios atos administrativos com características decisórias (art. 93, X). Por via de
consequência, o princípio da motivação abrange as decisões administrativas tomadas por quaisquer
dos demais Poderes, corolário inafastável do princípio do devido processo da lei.

Com efeito, se o Poder Judiciário, a quem caberá sempre o controle final da


juridicidade de qualquer decisão, está obrigado à motivação das suas decisões administrativas, com
mais razão, a ela também estarão os Poderes Legislativo, Executivo e os órgãos constitucionalmente
autônomos, cada um em suas respectivas decisões administrativas, pois só assim ficará garantida a
efetividade do controle.6

Em outras palavras, o dever de motivação e fundamentação dos atos


administrativos decorre tanto da necessidade de se assegurar a ampla defesa e o devido processo
ao administrado, quanto também do princípio constitucional da publicidade -- poderoso instrumento
posto à disposição da cidadania para exercer o controle da administração, sobretudo a partir da
análise dos motivos que deflagram a expedição de atos que limitam direitos dos administrados.

Assim, sempre que houver a imposição de sanção ou a prática de ato


administrativo gravoso ao administrado, a Administração tem o dever de motivá-lo. E, repise-se, que
tal motivação amparada no Parecer colacionado ut retro e outros documentos produzidos pelo Réu
nos autos do processo administrativo, não consistiram em motivação explícita, clara e congruente,
muito menos analisaram as provas acostas ou indicaram os fatos e fundamentos jurídicos aptos a
desqualificar a defesa da Autora, o que implica na procedência da ação declaratória de nulidade de
ato administrativo de multa ambiental.

À propósito, embora não haja regra formal no ordenamento jurídico brasileiro que
apresente cominação expressa de sanção em razão do descumprimento da obrigação de motivar os
atos administrativos, pode-se afirmar, com fundamento no princípio da legalidade administrativa, que
o ato administrativo sem fundamentação, com motivação obscura ou incongruente padece de vício
que, em princípio, pode acarretar sua invalidade7.

Em resumo: ato desprovido de motivação é ato insuscetível de compor objeto do


controle analítico de legalidade exercido pelo Poder Judiciário, nos termos do art. 53 da Lei 9.784/99
e Súmula 473 do Supremo Tribunal Federal. Logo, o gravame imposto à administrada/Autora deve

6
Curso de direito administrativo: parte introdutória, parte geral e parte especial / Diogo de Figueiredo Moreira Neto. – 16. ed. rev. e
atual. – Rio de Janeiro : Forense, 2014, p.153-154.
7
MORAES, Germana de Oliveira - 1997/1998/1999, p. 13.
ser anulado, sob pena de se criar um processo administrativo de nítido cunho inquisitório, daí que
procedente a ação declaratória de nulidade de ato administrativo de multa ambiental.

Não se desconhece que o auto de infração constitui ato administrativo dotado de


presunção juris tantum de legalidade e veracidade, de modo que para que seja declarada a
ilegalidade de um ato administrativo, cabe ao administrado provar os fatos constitutivos de seu
direito, e a inexistência dos fatos narrados como verdadeiros no auto de infração ambiental.

No entanto, não adianta a Administração Pública oportunizar ao autuado o direito


ao contraditório e a ampla defesa apenas para cumprir direito constitucionalmente assegurado, se as
alegações produzidas por ele forem desconsideradas sem o mínimo de análise.

Repise-se que a Autora juntou ao processo administrativo, documentos aptos a


comprovar a inexistência de danos ambientais da obra. No entanto, tais documentos não foram
objeto de análise, nem pelas autoridades que emitiram pareceres, muito menos pelas autoridades
julgadoras de primeira e segunda instância, limitando-se a decisões vazias, genéricas e
padronizadas.

Portanto, tendo o Réu se limitado a negar a pretensão da Autora, sem qualquer


justificativa plausível e sem realizar a efetiva subsunção da norma ao caso concreto ou análise das
provas apresentadas, baseando-se unicamente em anteriores pareceres e informações não
fundamentados e muito menos motivados, deve ser julgada procedente a ação declaratória de
nulidade de ato administrativo de multa ambiental.

3. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Ante o exposto requer:

a) A citação do Réu para querendo apresentar contestação;

b) requer seja anulado o Processo Administrativo por ausência de motivação e


fundamentação da decisão administrativa baseada em anterior parecer vazio, genérico e
padronizado, sem a análise das provas, da defesa prévia e do recurso administrativo
apresentados pela Autora;

c) A condenação do Réu ao pagamento das custas, despesas processuais e de honorários


advocatícios.

d) Protesta provar o alegado, através de todos os meios de provas em direitos admitidos, a


serem especificados em momento oportuno, caso necessário;
e) Que as futuras intimações e notificações sejam todas feitas em nome do advogado
subscritor.

Dá-se à causa o valor de R$ 50.000,00.

Pede deferimento.

Florianópolis/SC, 12 de JANEIRO de 2021.

ADVOGADO
OAB/SC
Petição assinada digitalmente
(Lei 11.419/2006, art. 1º, §2º, III, “a”)

Você também pode gostar