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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.730.037 - SP (2018/0003186-2)

RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN


RECORRENTE : PETRÓLEO BRASILEIRO S A PETROBRAS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO DO VALE DE ALMEIDA GUILHERME -
SP195805
TAÍSA OLIVEIRA MACIEL E OUTRO(S) - RJ118488
RECORRIDO : ESTHER YOLANDA BIANCO DE AZEVEDO - ESPÓLIO
REPR. POR : FRANKLIN JUNQUEIRA DE AZEVEDO - INVENTARIANTE
ADVOGADOS : CARLOS ALBERTO AMERICANO E OUTRO(S) - SP015183
AURÉLIA LIZETE DE BARROS CZAPSKI - SP051491
CLARICE CATTAN KOK - SP040245
EMENTA

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. CONSTITUIÇÃO DE


SERVIDÃO ADMINISTRATIVA. LAUDO PERICIAL. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ.
1. Trata-se, na origem, de Ação Ordinária movida pela Petróleo Brasileiro S/A
contra o Espólio de Esther Yolanda Bianco de Azevedo, objetivando a instituição
de servidão de passagem em propriedade particular (objeto da matrícula 2.933 do
1° Cartório de Registro de Imóveis de Campinas) para a implantação de dutos
destinados à movimentação e transporte de gás natural, petróleo e derivados do
gasoduto Campinas/Rio de Janeiro, nos termos do artigo 40 do Decreto-Lei
3.365/1941.
2. O Tribunal de origem, com base no conjunto probatório dos autos, consignou
que "a indenização totalizou a quantia de R$ 67.536,30 para outubro de 2004 (data
do laudo preliminar). No laudo definitivo o perito manteve os mesmos critérios e
os mesmos elementos de pesquisa, esclarecendo que a indenização para data da
imissão na posse (julho de 2004) é de R$ 66.322,90 (fl. 467) e para data do laudo
definitivo (julho de 2011) é de R$ 92.378,45 (fl. 468). A sentença acolheu o laudo
pericial e fixou a indenização em R$ 92.378,45 para julho de 2011. Inconformada,
apela a expropriante pleiteando a redução do valor fixado (pela suposta
necessidade de exclusão ou redução da indenização das duas faixas non
aedificandi) porque, no seu entendimento, não existe restrições para as práticas
agrícolas nessas áreas. Baseia-se no parecer de seu assistente técnico (...) Sob
esse aspecto, todavia, não lhe assiste razão, pois, decorrendo a servidão de um
mesmo ato e abrangendo um mesmo imóvel, com a mesma finalidade, não
se vislumbra motivo plausível para distinguir diferentes graus de restrição dentro
da área, principalmente quando se nota que a limitação administrativa, no
presente caso, tanto em relação à área serviente, como em relação à faixa non
aedificandi, impede o proprietário igualmente (nas mesmas condições): a) de
realizar edificações ou edículas; b) de promover queimadas e de fazer
escavações; e c) de opor obstáculos à livre passagem da expropriante ou de seus
empreiteiros ou subempreiteiros e de impedir o livre trânsito de equipamentos
para manutenção dos dutos. Na fixação da justa indenização, portanto, adota-se o
laudo oficial, por seus próprios fundamentos, e porque melhor atendeu à finalidade
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a que se propôs, apresentando trabalho objetivo e equidistante dos interesses das
partes, sem qualquer contraposição (fundamentada e comprovada) que pudesse
infirmar o posicionamento adotado. (...) Ante o exposto, nega-se provimento ao
recurso" (fls. 744-748, e-STJ, grifos no original).
3. Já a recorrente sustenta, nas razões do Recurso Especial, que "o v. acórdão
que julgou o recurso de apelação não observou adequadamente o princípio da
justa indenização. (...) O valor arbitrado a título de indenização pelo bem objeto
da servidão administrativa não corresponde ao seu valor real pelos prejuízos dela
decorrentes. (...) Quanto ao aumento patrimonial, resta claro o aumento indevido
no patrimônio dos Recorridos, visto que o laudo pericial produzido não levou em
consideração que a servidão a ser instituída no local não corresponde ao justo
montante a ser pago pelo bem (...) Com efeito, o que se pretende naquele imóvel
é a instituição de uma servidão administrativa que não opera a transferência
do domínio, nem da posse, nem do uso total do bem a terceiros ou ao
poder público, pois apenas parcela do bem tem seu uso compartilhado ou
limitado em vista do atendimento do interesse público. (...) Ademais, em
caso de servidão administrativa o ônus judicial da prova de prejuízo em virtude da
servidão administrativa é do proprietário do prédio serviente. (...) Fica assim
patente haver, no caso em exame, discrepância entre o valor indenizatório
arbitrado para a instituição da servidão administrativa e o valor que efetivamente
deve ser pago para indenizar a instituição da servidão. Caso seja mantido o valor
indenizatório fixado no v. acórdão recorrido, os Recorridos obterão vantagem
patrimonial às custas da Recorrente. (...) Além disso, não há justa causa no
presente enriquecimento, ou seja, não há justificativa juridicamente aceitável para
o enriquecimento dos Recorridos, tendo em vista que tal enriquecimento ocorreu
a partir de um erro na avaliação do preço do imóvel. (...) O enriquecimento às
custas da Recorrente, além de preencher os requisitos legais para a configuração
do enriquecimento sem causa, o que contraria o disposto ao artigo 884 do Código
Civil, é injusto, razão pela qual deverá ser reformado o v. acórdão recorrido" (fls.
776-780, e-STJ, grifos no original).
4. A revisão desse entendimento implica reexame de matéria fático-probatória, o
que atrai o óbice da Súmula 7/STJ. Precedentes: AREsp 1.233.966/SP, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 7.3.2018; AgInt no
AREsp 634.675/SP, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe
15.12.2016; e AgRg no AREsp 729.675/MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina,
Primeira Turma, DJe 21.8.2015.
5. Recurso Especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça: ""A Turma, por
unanimidade, não conheceu do recurso, nos termos do voto do(a) Sr(a).
Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Og Fernandes, Mauro Campbell Marques,
Assusete Magalhães e Francisco Falcão (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator."

Brasília, 15 de maio de 2018(data do julgamento).

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MINISTRO HERMAN BENJAMIN


Relator

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.730.037 - SP (2018/0003186-2)
RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN
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ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO DO VALE DE ALMEIDA GUILHERME -
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TAÍSA OLIVEIRA MACIEL E OUTRO(S) - RJ118488
RECORRIDO : ESTHER YOLANDA BIANCO DE AZEVEDO - ESPÓLIO
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RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Trata-se


de Recurso Especial interposto, com fundamento no art. 105, III, "a", da CF/1988, contra
acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo cuja ementa é a seguinte
(fl. 743, e-STJ):

APELAÇÃO. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA. Indenização.


Impugnação do valor apurado no laudo oficial. Rejeição. Perito
judicial que atendeu à finalidade a que se propôs apresentando trabalho objetivo e
equidistante dos interesses das partes.
Juros compensatórios. Cabimento. Jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça que já consolidou entendimento no sentido de que essa verba é
devida pela simples perda antecipada da posse, tanto na hipótese de
desapropriação, como no caso de servidão administrativa. Confira-se nesse
sentido a Súmula 56/STJ. "Na desapropriação para instituir servidão
administrativa são devidos os juros compensatórios pela limitação de uso da
propriedade".
Juros moratórios. Incidência desde o trânsito em julgado da
sentença até a data do respectivo pagamento (já que a expropriante é sociedade
de economia mista).
Recurso desprovido.

Em suas razões, a recorrente alega que houve violação do art. 884 do Código
Civil/2002, sob o argumento de que "o v. acórdão que julgou o recurso de apelação não
observou adequadamente o princípio da justa indenização" (fl. 776, e-STJ).
Contrarrazões às fls. 787-790, e-STJ.

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O Recurso Especial foi inadmitido pelo Tribunal de origem (fl. 818, e-STJ).
Por decisão proferida no AREsp 1.230.090/SP, determinei a conversão do
Agravo no presente recurso (fl. 887, e-STJ).
O Ministério Público Federal, na pessoa do Subprocurador-Geral da República
Joel Almeida Belo, opinou pelo não conhecimento do recurso (fls. 894-898, e-STJ). Eis a
ementa do parecer ministerial:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SERVIDÃO


ADMINISTRATIVA DE PASSAGEM. IMPLANTAÇÃO DE DUTOS PARA
TRANSPORTE DE GÁS NATURAL. ACOLHIMENTO DO LAUDO DO
PERITO. JUSTA INDENIZAÇÃO. ART. 884 DO CC. ENRIQUECIMENTO
SEM CAUSA DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL SERVIENTE. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356 DO STF. PELO NÃO
CONHECIMENTO DO RECURSO ESPECIAL.

É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Os autos


foram recebidos neste Gabinete em 16.4.2018.
Tenho que a irresignação não merece prosperar.
Trata-se, na origem, de Ação Ordinária movida pela Petróleo Brasileiro S/A
contra o Espólio de Esther Yolanda Bianco de Azevedo, objetivando a instituição de servidão
de passagem em propriedade particular (objeto da matrícula 2.933 do 1° Cartório de Registro
de Imóveis de Campinas) para a implantação de dutos destinados à movimentação e
transporte de gás natural, petróleo e derivados do gasoduto Campinas/Rio de Janeiro, nos
termos do artigo 40 do Decreto-Lei 3.365/1941.
O Tribunal de origem consignou (fls. 744-748, e-STJ, grifos no original):

A servidão, no caso, abrange: a) uma faixa central medindo 30


metros de largura por 886,76 metros de extensão (área serviente), somando
26.604,00m2 (fl. 17); e b) mais duas áreas laterais ('non aedificandi') uma do
lado esquerdo da faixa central, com área de 13.213,19m2 (fl. 18) e outra do lado
direito, com área de 13.367,87m2, cada uma com aproximadamente 15 metros de
largura por 886,76 metros de extensão, totalizando (área serviente + área non
aedificandi) a superfície de 53.185,06m2, conforme memorial descritivo de fls.
17/21.
Para apuração do valor da indenização o perito nomeado, em seu
laudo preliminar (fls. 56/77), adotou o Método Comparativo Direto de Dados
de Mercado, com tratamento por fatores para determinação do valor da terra
nua.
O valor unitário foi obtido através do resultado de elementos de
pesquisa composto da estimativa de seis ofertas de imóveis situados na mesma
região geo-econômica (fls. 70/72).
Depois de calcular a média dos elementos pesquisados (fl. 73), o
perito obteve o valor do metro quadrado equivalente a R$ 2,70 para uma
superfície de 53.185,06m2.
No passo seguinte, sopesou os métodos existentes para
determinação do valor da indenização pela restrição imposta em caso de servidão
(fls. 73/75) e, nesse ponto, adotou o critério orientado pelos tipos possíveis de
aproveito econômico da terra antes e depois da implantação dos dutos.
Com isso, obteve o percentual de servidão equivalente a 40,53%,
sobre o qual aplicou dois fatores de ajustamento (referente ao relevo e posição da
faixa) e adequou esse percentual para 44,68%, com o que apurou para a terra
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nua (53.185,06m2) a indenização de R$ 57.744,30 (fl. 76).
Para o pasto nativo o perito apurou a indenização de R$ 7.794,72
e para capoeira e cobertura simples a indenização de R$ 497,28 e R$ 1.500,00,
respectivamente, com base no critério indicado a fl. 487:

“A mata, classificada como capoeira densa,


será avaliada à razão de R$ 0,80/m2, considerando o volume
de madeira a ser retirado, o valor de mercado (quase nulo em
razão da legislação ambiental vigente no país) e a
necessidade de se cumprir todos os requisitos previstos na
legislação antes do início das obras.
O Pasto Nativo, classificado como brachiaria,
será avaliado à razão de R$ 0,30/m2 (considerando o valor
de mercado à razão de R$ 5,10/m2 para grama tipo batatais
em zona urbana), bem como as facilidades de recomposição
com mudas existentes no próprio local.
A cobertura simples será avaliada à razão de
R$ 200,00/m2, considerando os valores básicos dos materiais
aplicados e da mão de obra necessária, bem como as Leis
Sociais e BDI, além da área de construção”.

Assim, a indenização totalizou a quantia de R$ 67.536,30 para


outubro de 2004 (data do laudo preliminar).
No laudo definitivo o perito manteve os mesmos critérios e os
mesmos elementos de pesquisa, esclarecendo que a indenização para data da
imissão na posse (julho de 2004) é de R$ 66.322,90 (fl. 467) e para data do laudo
definitivo (julho de 2011) é de R$ 92.378,45 (fl. 468).
A sentença acolheu o laudo pericial e fixou a indenização em R$
92.378,45 para julho de 2011.
Inconformada, apela a expropriante pleiteando a redução do valor
fixado (pela suposta necessidade de exclusão ou redução da indenização
das duas faixas non aedificandi) porque, no seu entendimento, não existe
restrições para as práticas agrícolas nessas áreas. Baseia-se no parecer de seu
assistente técnico na parte em que esse profissional conclui que: “na faixa 'non
aedificandi' somente será impedido ao réu edificar. Esta restrição é pequena,
tendo em vista que trata-se de imóvel rural. O valor do percentual de servidão a
ser aplicado à referida faixa deve pautar-se em estudo do nobre eng. Luiz
Augusto Seabra da Costa, cujo teor encontra-se em anexo” (fls. 90/91).
Sob esse aspecto, todavia, não lhe assiste razão, pois, decorrendo
a servidão de um mesmo ato e abrangendo um mesmo imóvel, com a
mesma finalidade, não se vislumbra motivo plausível para distinguir diferentes
graus de restrição dentro da área, principalmente quando se nota que a limitação
administrativa, no presente caso, tanto em relação à área serviente, como em
relação à faixa non aedificandi, impede o proprietário igualmente (nas mesmas
condições): a) de realizar edificações ou edículas; b) de promover queimadas e de
fazer escavações; e c) de opor obstáculos à livre passagem da expropriante ou de
seus empreiteiros ou subempreiteiros e de impedir o livre trânsito de equipamentos
para manutenção dos dutos.

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Na fixação da justa indenização, portanto, adota-se o laudo oficial,
por seus próprios fundamentos, e porque melhor atendeu à finalidade a que se
propôs, apresentando trabalho objetivo e equidistante dos interesses das partes,
sem qualquer contraposição (fundamentada e comprovada) que pudesse infirmar
o posicionamento adotado.
(...)
Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso.

Já nas razões do Recurso Especial sustenta-se (fls. 776-780, e-STJ, grifos no


original):

O v. acórdão que julgou o recurso de apelação não observou


adequadamente o princípio da justa indenização.
Destaca-se que a não observância do referido princípio implicaria
enriquecimento sem causa dos Recorridos.
Havendo a referida negativa de vigência, a anulação do v. acórdão
recorrido é medida de rigor, seguindo-se determinação para que outro seja
proferido em seu lugar.
O valor arbitrado a título de indenização pelo bem objeto da
servidão administrativa não corresponde ao seu valor real pelos prejuízos dela
decorrentes. E não correspondendo ao seu valor real, fica caracterizada uma
afronta ao direito objetivo - por representar afronta à Constituição, conforme será
demonstrado abaixo.
O art. 884 do Código Civil é preciso ao tipificar o enriquecimento
sem causa, vejamos:

Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se


enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o
indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.

Assim, inferem-se deste artigo três requisitos para a configuração


do enriquecimento sem causa, quais sejam (i) aumento patrimonial, (ii) obtenção
de tal vantagem às custas de outrem e (iii) ausência de justa causa. É notório que
os três requisitos foram preenchidos na presente demanda.
Quanto ao aumento patrimonial, resta claro o aumento indevido no
patrimônio dos Recorridos, visto que o laudo pericial produzido não levou em
consideração que a servidão a ser instituída no local não corresponde ao justo
montante a ser pago pelo bem, porquanto a estimação na qual este se pautou - e
neste passo roga-se vênia para discordar do v. Acórdão que julgou a apelação -
deixou de lado fatores importantíssimos.
E não foi por outro motivo que se chegou a tão grave discrepância
entre o valor inicialmente ofertado pela Recorrente e aquele apontado no laudo do
expert.
Com efeito, o que se pretende naquele imóvel é a instituição de
uma servidão administrativa que não opera a transferência do domínio, nem
da posse, nem do uso total do bem a terceiros ou ao poder público, pois
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apenas parcela do bem tem seu uso compartilhado ou limitado em vista do
atendimento do interesse público.
(...)
Ademais, em caso de servidão administrativa o ônus judicial da
prova de prejuízo em virtude da servidão administrativa é do proprietário do prédio
serviente. Após a apuração do prejuízo sofrido, a indenização não
corresponderá ao valor do imóvel, visto que a servidão administrativa não
configura supressão de direito de propriedade e sim restrição parcial de tal direito.
Assim, não ocorre a perda do domínio, mas apenas restrição parcial no exercício
dos direitos inerentes à propriedade, configurando ônus pela utilização pública.
Conclui-se, assim, que caso haja verdadeira servidão
administrativa, as limitações administrativas impostas ao proprietário do prédio
serviente gerarão direito à indenização restrita aos prejuízos sofridos, sendo que a
indenização será inferior ao valor do imóvel, continuando o proprietário a exercer
os seus direitos de usar, gozar, usufruir e dispor do bem, respeitados os limites
impostos por essa situação.
(...)
Fica assim patente haver, no caso em exame, discrepância entre o
valor indenizatório arbitrado para a instituição da servidão administrativa e o valor
que efetivamente deve ser pago para indenizar a instituição da servidão.
Caso seja mantido o valor indenizatório fixado no v. acórdão
recorrido, os Recorridos obterão vantagem patrimonial às custas da Recorrente.
E sendo a Recorrente uma sociedade de economia mista, a vantagem auferida
pelos Recorridos, em última análise, foi realizada às custas da Administração
Pública e do contribuinte brasileiro, o que é reprovável.
Além disso, não há justa causa no presente enriquecimento, ou
seja, não há justificativa juridicamente aceitável para o enriquecimento dos
Recorridos, tendo em vista que tal enriquecimento ocorreu a partir de um erro na
avaliação do preço do imóvel.
(...)
O enriquecimento às custas da Recorrente, além de preencher os
requisitos legais para a configuração do enriquecimento sem causa, o que
contraria o disposto ao artigo 884 do Código Civil, é injusto, razão pela qual deverá
ser reformado o v. acórdão recorrido.
Portanto, demonstrada a violação ao artigo 884 do Código Civil,
deve ser o presente recurso especial admitido e provido para se anular o v.
acórdão recorrido.

É inviável, portanto, analisar a tese defendida no Recurso Especial, pois


inarredável a revisão do conjunto probatório dos autos para afastar as premissas fáticas
estabelecidas pelo acórdão recorrido. Aplica-se o óbice da Súmula 7/STJ. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. (...) INTERVENÇÃO DO ESTADO


NA PROPRIEDADE. (...) CONSTITUIÇÃO DE SERVIDÃO
ADMINISTRATIVA. ARBITRAMENTO DE INDENIZAÇÃO. LAUDO
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PERICIAL. VIOLAÇÃO A NORMATIVO FEDERAL. REVISÃO DOS
CRITÉRIOS E DA METODOLOGIA DO LAUDO PERICIAL.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 07/STJ.
1. Não é cognoscível o recurso especial para o exame da justeza
da indenização arbitrada em ação de desapropriação e de constituição de servidão
administrativa, quando a verificação disso exigir a revisão e a reinterpretação dos
critérios e da metodologia utilizados nos laudos do assistente técnico e do perito
judicial. Inteligência da Súmula 07/STJ.
2. Agravo conhecido para não conhecer do recurso especial.
(AREsp 1233966/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe 07/03/2018)

ADMINISTRATIVO (...) SERVIDÃO ADMINISTRATIVA.


INSTALAÇÃO DE LINHA DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA.
ACÓRDÃO QUE, COM BASE NOS ELEMENTOS
FÁTICO-PROBATÓRIOS DOS AUTOS, FIXOU O QUANTUM
INDENIZATÓRIO. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. (...)
(...)
II. Na origem, trata-se de Ação de instituição de Servidão
Administrativa, movida por FURNAS-CENTRAIS ELÉTRICAS S.A contra a
parte agravante, visando a instalação da linha de transmissão de energia elétrica
Cachoeira Paulista - Adrianópolis, em área declarada de utilidade pública, na qual
se situa o imóvel do recorrente.
III. Na hipótese dos autos, o Tribunal de origem, soberano na
análise fática da causa, consignou, expressamente, que o Magistrado pode fixar
sua convicção com base em outros elementos, além do laudo pericial, alterando o
índice de desvalorização da área de lazer da fazenda, fora da faixa serviente, de
60% - estimado pelo expert oficial - para 20%, porquanto "o índice mostrou-se
excessivo, considerando que se trata de constituição de servidão de passagem de
cabos aéreos, que não impõem restrições significativas às atividades exercidas na
propriedade, sendo certo que seu proprietário não perderá o domínio sobre
referida área, podendo continuar a exercer a finalidade precípua desta parcela do
imóvel, qual seja o lazer". Logo, rever tal conclusão e acolher a pretensão recursal
- no sentido de que seria indevida a utilização dos aludidos critérios, pelas
instâncias ordinárias, para a fixação do valor indenizatório - é medida inviável, na
via eleita, ante o óbice da Súmula 7 do STJ.
IV. Na forma da jurisprudência do STJ, "uma vez declinadas, de
maneira excessivamente pormenorizada, as razões pelas quais a definição da
justa indenização por desapropriação não observaria a integralidade do laudo
pericial, a pretensão de reexame do acerto dos seus critérios e da sua
metodologia encontra óbice da Súmula 07/STJ" (STJ, REsp 1.355.641/PR, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de
29/04/2014).
V. Agravo interno improvido.
(AgInt no AREsp 634.675/SP, Rel. Ministra ASSUSETE
MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, DJe 15/12/2016).

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ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. (...)
SERVIDÃO ADMINISTRATIVA. CONSTRUÇÃO E PASSAGEM DE
MINERODUTO. LAUDO PERICIAL. VALOR DA INDENIZAÇÃO.
REVISÃO FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. O Tribunal de origem, com base no substrato fático-probatório,
entendeu que o laudo pericial judicial reflete o preço justo para fins de
indenização, sendo que a reforma de tal entendimento, no caso, esbarraria na
Súmula 7/STJ.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 729.675/MG, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA,
PRIMEIRA TURMA, DJe 21/08/2015).

Diante do exposto, não conheço do Recurso Especial.


É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA

Número Registro: 2018/0003186-2 REsp 1.730.037 / SP

Números Origem: 00168167020048260114 1215/2004 12152004 168167020048260114

PAUTA: 15/05/2018 JULGADO: 15/05/2018

Relator
Exmo. Sr. Ministro HERMAN BENJAMIN
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FRANCISCO FALCÃO
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. DENISE VINCI TULIO
Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : PETRÓLEO BRASILEIRO S A PETROBRAS
ADVOGADOS : LUIZ FERNANDO DO VALE DE ALMEIDA GUILHERME - SP195805
TAÍSA OLIVEIRA MACIEL E OUTRO(S) - RJ118488
RECORRIDO : ESTHER YOLANDA BIANCO DE AZEVEDO - ESPÓLIO
REPR. POR : FRANKLIN JUNQUEIRA DE AZEVEDO - INVENTARIANTE
ADVOGADOS : CARLOS ALBERTO AMERICANO E OUTRO(S) - SP015183
AURÉLIA LIZETE DE BARROS CZAPSKI - SP051491
CLARICE CATTAN KOK - SP040245

ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Intervenção


do Estado na Propriedade - Servidão Administrativa

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso, nos termos do voto do(a) Sr(a).
Ministro(a)-Relator(a)."
Os Srs. Ministros Og Fernandes, Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães e
Francisco Falcão (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 1712428 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 02/08/2018 Página 12 de 4

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