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ATIVIDADE INDIVIDUAL

Matriz de atividade individual

Disciplina: Direito Processual Civil Módulo: 0422-2_2

Aluno: Diogo Felipe Kalckmann Turma: ONL021ZJ-PODEMRS13T1

Tarefa: Análise de caso concreto e sugestão de decisão a ser tomada pelo juiz.

Decisão do juiz

DECISÃO SANEADORA

I. RELATÓRIO

Trata-se de ação de indenização de danos materiais c/c reparação de dano moral


c/c pedido de tutela provisória, aforada pela empresa Sol em face da empresa Lua,
ambos qualificados nos autos, na qual a parte Autora pugna (i) pela declaração por
sentença de validade da cláusula; (ii) a condenação da Ré na obrigação de fazer,
consubstanciada na aquisição dos seus produtos, com exclusividade, durante o
prazo estipulado em contrato e; (iii) a condenação de parte Ré a indenizar a parte
Autora pelos danos materiais decorrentes da aquisição de produtos de terceiros
nos meses de fevereiro e março de 2018. Com a inicial foram apresentados os
documentos de fls., consistentes em cópia do contrato e e-mails demonstrando a
aquisição de produtos de terceiros realizadas pela parte Ré.

Consta decisão inicial às fls., que deferiu o pedido de tutela provisória da empresa
Autora.

Realizada audiencia de conciliação, a mesma restou inexitosa.

A peça contestatória foi apresentada pela ré às fls., alegando, em síntese, que a


parte Autora não cumpriu os prazos de entrega indicados pela mesma.

Ato seguinte, a Autora apresentou réplica de fls. rebatendo a tese defensiva


apresentada pela Ré, com a afirmação de que não houveram atrasos na entrega
dos produtos.

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Recebidas as peças supracitacadas, este juízo intimou as partes para se
manifestarem sobre o interesse na produção de outras provas, sob pena de
preclusão.

A empresa Autora, por petição, pleiteou a produção de prova testemunhal para


comprovar a compra de produtos de terceiros, em desrespeito à cláusula de
exclusividade. Por sua vez, a empresa Ré, também por petição, requereu prova
pericial para demonstrar qual foi o prazo adequado para recebimento dos produtos,
bem como, requereu a redistribuição do ônus da prova, a fim de que a empresa
Autora passasse a ser incumbida de provar a data da entrega dos produtos nos
meses anteriores a fevereiro de 2018.

É o que basta. DECIDO.

II. SANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO FEITO

Entendo que as partes são legítimas, estão habilmente representadas, não


havendo quaisquer das nulidades previstas no art. 337, do CPC, para conhecer.

Tampouco, enquadra-se o presente feito no julgamento sem resolução do mérito, a


teor do art. 485, do CPC.

De acordo com o permissivo contido no art. 357, do CPC, passo ao saneamento e


organização do feito.

II.1 – DA INVERSÃO DO ÔNUS PROBATÓRIO

Primeiramente, CHAMO O FEITO A ORDEM para decider sobre o requerimento de


inversão do ônus da prova realizado pela parte Ré.

É uníssono o entendimento jurisprudencial de que o ideal é a apreciação do pedido


de inversão do ônus da prova em decisão saneadora, a teor do disposto no inciso
II, do art. 357, do CPC. Referido entendimento é consubstanciado no respeito às

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garantias constitucionais do contraditório, ampla defesa e do devido processo legal.
Não há óbice para que o juízo delibere sobre o tema em momento distinto, todavia,
para que não haja decisão surpresa, deve ser dada oportunidade à parte de se
desvincular do onus probandi que lhe foi imputado por força de decisão judicial.

Nesse diapasão se pronunciou o Superior Tribunal de Justiça:

A inversão ope judicis do ônus probatório deve ocorrer


preferencialmente na fase de saneamento do processo ou,
pelo menos, assegurando-se à parte a quem não incumbia
inicialmente o encargo, a reabertura de oportunidade para
apresentação de provas (STJ, REsp n. 802.832/MG, rel. Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, j. 13.4.2011).

No caso sob análise, verifica-se a hipótese de inversão do ônus da prova, com


base no §1º, do art. 373, do CPC, na medida que “os casos previstos em lei ou
diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva
dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de
obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo
diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à
parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.”

Sendo assim, considerando que, os comprovantes de entrega de mercadorias,


destacados do documento fiscal que acompanha as mesmas durante o transporte
na data de entrega, em tese, ficam sob a guarda da empresa remetente, ora
Autora, DEFIRO a inversão do ônus da prova postulado pela parte Ré, para
determinar que a Autora junte aos autos, no prazo de 15 (quinze) dias, sob as
penas da Lei, os comprovantes de entrega das mercadorias nos meses anteriores
a fevereiro de 2018, tendo em vista a excessiva dificuldade pela parte Ré de
cumprir o encargo e a maior facilidade de obtenção da prova pela parte Autora,
pois os referidos documentos estão sob a posse e guarda desta.

II.2 – DA PROVA TESTEMUNHAL

Pleiteia a parte Autora a oitiva de testemunhas para comprovar a compra de


produtos de terceiros, em desrespeito à cláusula de exclusividade.
Este juízo entende que a referida prova não se faz necessária ao deslinde dos
fatos, porquanto a Ré não contestou a validade da clausula de exclusividade,
tampouco impugnou a alegação da Autora de que adquiriu produtos de terceiros,
ao revés, a parte Ré admitiu ter adquirido produtos de terceiros porquanto a Autora
não cumpriu o prazo de entrega acordado.

Nesse sentido, colhe-se da jurisprudência:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.173.074 - MG


(2017/0236866-6) RELATOR : MINISTRO GURGEL DE
FARIA AGRAVANTE : MARIA DE LOURDES GONCALVES -
ESPÓLIO REPR. POR : REGINA DE LOURDES
GONCALVES - INVENTARIANTE ADVOGADOS : SÍLVIO DO
LAGO PADILHA - MG049962 MURILO DE PAULO VIEIRA -
MG041550 AGRAVADO : ESTADO DE MINAS GERAIS
PROCURADOR : MARCO TULIO CALDEIRA GOMES E
OUTRO (S) - MG060754N DECISÃO Trata-se de agravo
interposto pelo ESPÓLIO DE MARIA DE LOURDES
GONÇALVES em que pretende a admissão de recurso
especial o qual desafia acórdão assim ementado (e-STJ fl.
220): APELAÇÃO CÍVEL - AGRAVO RETIDO - PROVA
TESTEMUNHAL - INDEFERIMENTO - FATO
INCONTROVERSO - DESNECESSIDADE - RECURSO NÃ
PROVIDO […] 1. O indeferimento de prova testemunhal
que tem por finalidade comprovar fato incontroverso não
traduz cerceamento do direito de defesa. […] O magistrado
de primeiro grau julgou improcedente o pedido. Em sede de
apelação, o TJ/MG manteve a sentença com a seguinte
motivação: I - AGRAVO RETIDO Alega o agravante, em
petição de f. 159, ser necessária a produção da prova
testemunhal de modo a não restar dúvida quanto ao "fato já
comprovado pelo próprio testamento" , qual seja, de que a
edificação feita no terreno de propriedade da "de cujus" foi
custeada integralmente por seu filho José Antônio Gonçalves.
Recurso próprio e tempestivo, dele conheço. A prova
testemunhal mostra-se realmente desnecessária porque não
existe controvérsia quanto ao fato de a construção ter sido
realizada às expensas do filho da falecida, o que, conforme
ponderado nas razões ora em apreço, restou devidamente
consignado no testamento de f. 75/77. Assim, o
indeferimento de prova testemunhal que tem por
finalidade comprovar fato incontroverso não traduz
cerceamento ao direito de defesa. Nego provimento ao
agravo retido. […]. Ante o exposto, CONHEÇO do agravo
para NÃO CONHECER do recurso especial (art. 253,
parágrafo único, II, a, do RISTJ). Caso exista nos autos prévia
fixação de honorários sucumbenciais pelas instâncias de
origem, majoro, em desfavor da parte recorrente, em 10%
(dez por cento) o valor já arbitrado (na origem), nos termos do
art. 85, § 11, do CPC/2015, observados, se aplicáveis, os

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limites percentuais previstos nos §§ 2º e 3º do referido
dispositivo, bem como os termos do art. 98, § 3º, do mesmo
diploma legal. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 02 de
dezembro de 2019. MINISTRO GURGEL DE FARIA Relator.
(STJ - AREsp: 1173074 MG 2017/0236866-6, Relator:
Ministro GURGEL DE FARIA, Data de Publicação: DJ
10/12/2019)

Nessa mesma senda, a Corte Catarinense se posicionou:

APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


TUTELA ANTECIPATÓRIA. RESPONSABILIDADE PELO
CUSTEIO DO DESLOCAMENTO DE UM POSTE DA REDE
DE ENERGIA ELÉTRICA E ILUMINAÇÃO PÚBLICA,
SOLICITADO PELO AUTOR. PRETENSÃO DE QUE
CELESC DISTRIBUIÇÃO S/A. BANQUE O ÔNUS DA
REMOÇÃO, SOB O ARGUMENTO DE QUE O PILAR ESTÁ
FERINDO INDEVIDAMENTE SEU DIREITO DE
PROPRIEDADE. VEREDICTO DE IMPROCEDÊNCIA.
INSURGÊNCIA DO AUTOR. DENUNCIADO
CERCEAMENTO DE DEFESA, POR TER SIDO NEGADA A
OITIVA DE TESTEMUNHAS. OBJETIVO EXPLÍCITO DA
PROVA ORAL REQUERIDA QUE, TODAVIA,
CONSUBSTANCIA FATO INCONTROVERSO. MEIO
PROBATÓRIO DESPICIENDO. ART. 370, § ÚNICO, DO
CPC. INDEFERIMENTO APROPRIADO. PRELIMINAR
RECHAÇADA. MÉRITO. ALEGAÇÃO DE QUE O POSTE
ESTARIA DIFICULTANDO A CONTINUAÇÃO DA OBRA, E
QUE ESTÁ LOCALIZADO BEM DEFRONTE ONDE O
APELANTE PRETENDE CONSTRUIR A GARAGEM DO
IMÓVEL. REQUERIMENTO PARA REPOSICIONÁ-LO DE
LOCAL, ÀS EXPENSAS DA CONCESSIONÁRIA DE
SERVIÇO PÚBLICO. TESE INSUBSISTENTE. PLEITO PARA
TRANSFERÊNCIA DE LOCAL DO POSTE, DE EXCLUSIVO
INTERESSE DO PARTICULAR RECORRENTE. CUSTOS
DO SERVIÇO QUE INCUMBEM AO USUÁRIO QUE O
SOLICITA. ART. 44, INC. VII, E ART. 102, INC. XIII, AMBOS
DA RESOLUÇÃO N. 414/2010 DA ANEEL-AGÊNCIA
NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. DISTRIBUIDORA DE
ENERGIA ELÉTRICA QUE EM MOMENTO ALGUM
RECUSOU-SE A ALTERAR A LOCALIZAÇÃO DO POSTE.
TÃO SOMENTE INFORMOU AO PARTICULAR
INTERESSADO QUE, PARA TANTO, DEVERIA ELE ARCAR
COM O RESPECTIVO DISPÊNDIO. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJ-SC - APL:
50017979820208240027 Tribunal de Justiça de Santa
Catarina 5001797-98.2020.8.24.0027, Relator: Luiz Fernando
Boller, Data de Julgamento: 09/11/2021, Primeira Câmara de
Direito Público)

Dessa forma, o objetivo da prova testemunhal pleiteada pela Autora é comprovar a


incontroversa a quebra da exclusividade contratualmente estabelecida pelas partes
e a confessa aquisição de produtos de terceiros pela parte Ré. Assim, pelas razões
acima, INDEFIRO o pedido de prova testemunhal formulado pela Autora, com base
no art. 370, parágrafo único, em combinação com os incisos II e III, do art. 374, e
inciso I, do art. 443, todos do retro citado diploma legal.

II.3 – DA PROVA PERICIAL

Pretende a parte Ré a realização de prova pericial para demonstrar “qual foi o


prazo adequado para recebimento dos produtos”. No que se refere a alteração do
prazo de entrega dos produtos, entendo que a referida controvéria poderia ser
dirimida com a comprovação do prazo de entrega acordado entre as partes e o
prazo de entrega efetivamente realizado, mediante a análise de prova documental,
sendo dispensada a realização de perícia técnica por este motivo.

A controvérsia reside na hipótese ventilada pela parte Ré, qual seja, o


descumprimento do prazo de entrega dos produtos fornecidos pela Autora. A parte
Ré alega que em decorrência da alteração do prazo de entrega dos produtos não
teve outra saída, se não, adquirir produtos de terceiros.

Portanto, ainda que a prova documental fosse suficiente para analisar se houve
alteração no prazo de entrega dos produtos, não é possível determinar se o prazo
de entrega dos produtos fornecidos pela Autora era adequado às necessidades da
empresa Ré, em especial e pontualmente, nos meses de fevereiro e março de
2018.

Dessa forma, DEFIRO a prova pericial postulada pela Ré, para realizar a perícia
técnica contábil e documental, devendo o perito nomeado cumprir o seu encargo
nos termos do artigo 466 caput e § 2º, do CPC.

O perito, ao ser cientificado da presente nomeação, deverá apresentar à parte Ré a


sua proposta de honorários no prazo de 05 (cinco) dias, conforme §2º, do art. 465,
do CPC. A parte Ré terá o prazo de 05 (cinco) dias, após intimação da proposta de
honorários apresentada pelo perito, para realizar o depósito dos honorários em
conta judicial.

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Ato seguinte, terão as partes o prazo comum de 15 (quinze) dias para arguir
impedimento ou suspeição do perito, indicar assistentes técnicos e apresentarem
quesitos, se assim quiserem, a teor do disposto no § 1º, do art. 465, do CPC.

O perito terá o prazo de 45 (quarenta e cinco) dias após a realização do pagamento


dos honorários, para a entrega do respectivo laudo, em estrita observância ao
disposto no artigo 476 do CPC.

Ainda, nos termos do §1º, do art. 477, do CPC, após a juntada do laudo aos autos
do presente processo, intimem-se as partes para, querendo, manifestar-se sobre o
laudo do perito do juízo no prazo comum de 15 (quinze) dias, podendo o assistente
técnico de cada uma das partes, em igual prazo, apresentar seu respectivo
parecer.

Não há outros pedidos de prova a serem apreciados nos autos do presente


processo, portanto, INTIMEM-SE as partes para ciência do teor desta decisão, por
intermédio de seus procuradores constituídos, via publicação no Diário da Justiça,
advertindo-as de que, no prazo de 5 dias, poderão pedir esclarecimentos ou
solicitar ajustes, nos termos do art. 357, § 1º, findo o qual esta decisão se tornará
estável.

Cumpra-se.

Data.

Assinatura.

Referências bibliográficas

ALMEIDA, Diogo Rezende de. Direito processual civil. Apostila online. Rio de Janeiro,
Fundação Getúlio Vargas -FGV.

SHIMURA, Sérgio S.; ALVAREZ, Anselmo P.; SILVA, Nelson F. Curso de Direito
Processual Civil, 3ª edição. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2013. 978-85-
309-4841-2. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-
309-4841-2/. Acesso em: 29 abr. 2022.
TALAMINI, Eduardo. Saneamento e organização do processo no CPC/15. Artigo
científico publicado em 7 mar. 2016. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/depeso/235256/saneamento-e-organizacao-do-
processo-no-cpc-15. Acesso em: 29 abr. 2022.

VALLES, Edgar. Prática Processual Civil. Grupo Almedina (Portugal), 2020.


9789724084381. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9789724084381/. Acesso em: 29
abr. 2022.

LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015.


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em:
31 mar. 2022.

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