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RECURSO ESPECIAL Nº 2080234 - RJ

(2023/0205727-8)
DECISÃO
Trata-se de Recurso Especial interposto,
com fulcro no art. 105, III, "a", da
Constituição da República, contra acórdão
assim ementado:
AGRAVO DE INSTRUMENTO.
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COLETIVA.
ASSOCIAÇÃO.
GDIBGE. EXECUÇÃO INDIVIDUAL DE
SENTENÇA COLETIVA. SÚMULA
VINCULANTE 20. IMPLEMENTAÇÃO DOS
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO.
INEXIGIBILIDADE DO TÍTULO.
EXTINÇÃO DE OFÍCIO. RECURSO
PREJUDICADO.
1. Trata-se de agravo de instrumento em
face da decisão que, em ação de
cumprimento de sentença contra a
Fazenda Pública, fixou os honorários
advocatícios na Execução em 10% (dez
por cento) do valor devido, nos termos do
inc. I do § 3º do art. 85, do CPC.
2. O título que embasa a presente
execução foi formado nos autos do
mandado de segurança coletivo nº
2009.51.01.002254-6, impetrado pela
DAPIBGE, em que restou decidido o
pagamento da parcela GDIBGE aos
associados da Impetrante.
3. A Súmula Vinculante nº 20 fixou como
termo final para pagamento paritário de
gratificação de desempenho, a
implementação dos critérios de avaliação
de desempenho dos servidores em
atividade.
4. A referida avaliação foi implementada
pelo Decreto 6.312/2007 e Resolução 11-A,
de 20/06/2008, ou seja, a GDIBGE teve a
sua regulamentação concluída a partir de
julho de 2008, nada justificando a paridade
entre os servidores ativos e
inativos/pensionistas após esta data.
5. Uma vez que o mandado de segurança
coletivo foi ajuizado em 2009, nada há de
ser incorporado aos vencimentos dos
Exequentes, restando evidente a
inexigibilidade do título.
6. Processo de execução extinto de ofício.
Recurso prejudicado.
Os Embargos de Declaração foram
rejeitados (fls. 678-680, e-STJ).
A recorrente aponta ofensa aos arts. 10, 11,
489, 502, 503, 508, 509, § 4º, 933 e 1.022
do CPC/2015 e aos arts. 467, 468, 473,
474, 475-G, 475-L, II, § 1º, e 741, II, do
CPC/1973. Sustenta:
Em suma, a Oitava Turma Especializada do
Tribunal de origem, que parece ter tomado,
contra o direito dos recorrentes, uma
prevenção invencível, decidiu rescindir o
título em sede de cumprimento de
sentença, por suposto vício de
inconstitucionalidade qualificado, qual seja,
a alegada ofensa à Súmula Vinculante n.
20/STF.
Confrontada com os fatos de que a ação de
mandado de segurança coletivo que deu
origem ao título tinha feição peculiar
(distinguishing), e que a alegação de
ofensa à Súmula Vinculante n. 20/STF fora
deduzida pelo IBGE em ação rescisória
cujo pedido de desconstituição do título foi
julgado improcedente por decisão
transitada em julgado, passou a defender, a
uma, que o julgado que concedera a
segurança na verdade a negara, e que a
decisão que julgou improcedente a ação
rescisória não recusou a pretensão
deduzida.
A tal ponto se chegou, e dele não se moveu
na origem, na medida em que, apontadas
as óbvias contradições e omissões em que
incorreu, com o prequestionamento das
disposições legais pertinentes, a Corte
Regional preferiu silenciar.
Todavia, as questões jurídicas postas nos
embargos sobre tema de ordem pública
eram (i) essenciais ao deslinde da
controvérsia; (ii) foram devida e
adequadamente invocadas pela parte; (iii)
não foram objeto de manifestação pelo
órgão julgador; (iv) detinham, como detêm,
autonomia para alterar o resultado do
julgamento, independente dos argumentos
invocados pelo v. acórdão.
Tratava-se, pois, de questões relevantes
para o julgamento da causa, sobre as quais
não podia o Tribunal silenciar, sob pena de
ofensa ao art. 1.022, I e II, do CPC.
Contrarrazões às fls. 783-788, e-STJ.
É o relatório.
Decido.
Os autos foram recebidos neste Gabinete
em 6.7.2023.
Merece prosperar a irresignação.
O Colegiado originário consignou:
Tratando-se de ajuizamento de Execução
Individual de Sentença proferida em Ação
Coletiva, a jurisprudência tem se
posicionado no sentido de que os limites
subjetivos do título judicial, formado em
ação proposta por associação, são
definidos pela comprovação de filiação ao
tempo da propositura da demanda
principal, sendo, portanto, imprescindível
essa demonstração.
(...)
Destaco que, por não haver distinção
qualitativa na natureza da representação
exercida pelas associações nos Mandados
de Segurança Coletivos e Ações Ordinárias
Coletivas, deve ser aplicado o
entendimento supra por construção
analógica também nos Mandados de
Segurança. Ou seja, faz-se necessária
prova de filiação de associado da parte
exequente, também quando a ação
originária se tratar de Mandado de
Segurança.
No caso, a Exequente, ora Agravada, não
comprovou a data da sua filiação quando
da interposição da ação e no curso do
processo (Evento 01 dos autos originários),
ou seja, não restou demonstrado que a
associação ocorreu até a data do
ajuizamento do Mandado de Segurança
Coletivo de n° 0002254-59.2009.4.02.5101,
qual seja, 19/01/2009 (Evento 01, doc. 6, fl.
42, dos autos originários), quando
distribuído ao Juízo da 24ª Vara Federal da
Seção Judiciária do Rio de Janeiro.
Ressalto que o Juiz, quando verificar a
ausência de pressupostos de constituição e
de desenvolvimento válido e regular do
processo, deverá conhecer de ofício a
matéria, em qualquer tempo e grau de
jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito
em julgado, de acordo com o art. 485, § 3º
do CPC, ainda que não suscitada.
Nos seus aclaratórios, a recorrente requer
a manifestação sobre estes pontos:
a) a decisão-surpresa foi prolatada sem a
necessária observância dos arts. 10 e 933
do CPC;
b) a tese de inexigibilidade do título por
suposta ofensa à Súmula Vinculante
20/STF, adotada de ofício pela Corte
regional, já foi resolvida em Ação
Rescisória, com acórdão proferido pela
Terceira Seção do TRF da 2ª Região e
confirmado em seus fundamentos pelo
Supremo Tribunal Federal (arts. 467, 474,
475-L, II, § 1º, c/c art. 741, II, parágrafo
único, do CPC/1973 e arts. 502 e 508 do
CPC); e c) o Mandado de Segurança
coletivo não alegou a falta de
regulamentação da gratificação como
causa de pedir, e houve omissão quanto à
distinção referente aos casos que
conduziram à edição da Súmula Vinculante
20/STF.
De fato, ocorreu omissão quanto à análise
dos itens acima elencados, que são
relevantes para o deslinde da controvérsia.
Dessa forma, justifica-se a devolução dos
autos à origem para novo julgamento dos
Embargos Declaratórios.
Nesse sentido:
PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO.
AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE
PROCESSO ADMINISTRATIVO.
INVESTIGAÇÃO GENÉRICA.
DESPROPORCIONALIDADE DA MULTA
APLICADA. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS.
APELAÇÃO NÃO CONHECIDA. FALTA DE
RATIFICAÇÃO. EXTEMPORANEIDADE.
AUSÊNCIA DE MODIFICAÇÃO DO
CAPÍTULO IMPUGNADO DA SENTENÇA.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
REJEITADOS. OMISSÃO. VIOLAÇÃO DO
ART. 1.022 DO CPC/2015.
NECESSIDADE DE DEVOLUÇÃO DOS
AUTOS AO TRIBUNAL DE ORIGEM.
MATÉRIA FÁTICA. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO. PRECEDENTES.
(...)
IV - Apesar de provocado, por meio de
embargos de declaração, o Tribunal a quo
não apreciou questão jurídica relevante, a
fim de esclarecer se, in casu, o julgamento
dos embargos modificou a sentença
monocrática, induzindo à prejudicialidade
do apelo apresentado anteriormente - ou
seja, se o recurso interposto possui como
objeto os honorários advocatícios, única
parcela alterada da sentença.
V - Diante da referida omissão, apresenta-
se violado o art. 1.022, II, do CPC/2015, o
que impõe a anulação do acórdão que
julgou os embargos declaratórios, com a
devolução do feito ao órgão prolator da
decisão para a realização de nova análise
dos embargos, na medida em que, apesar
do disposto no art. 1.025 do CPC/2015,
tratando-se de matéria fático-probatória,
incabível a apreciação desta por este
Superior Tribunal de Justiça, ante o óbice
sumular n. 7/STJ.
(...)
VI - Agravo conhecido para dar provimento
ao Recurso Especial e anular o acórdão
que julgou os embargos de declaração,
determinando o retorno dos autos ao
Tribunal de origem para que se manifeste
especificamente sobre as questões
articuladas nos declaratórios e, se o caso
for, aprecie de logo a apelação interposta.
(AREsp 1.465.390/GO, Rel. Ministro
Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe
2/3/2021) Diante do exposto, dou
provimento ao Recurso Especial e
determino o retorno dos autos ao Tribunal a
quo para que este, em novo julgamento
dos Embargos de Declaração, se pronuncie
especificamente acerca das seguintes
alegações: a) a decisão-surpresa foi
prolatada sem a necessária observância
dos arts. 10 e 933 do CPC; b) a tese de
inexigibilidade do título por suposta ofensa
à Súmula Vinculante 20/STF, adotada de
ofício pela Corte regional, já foi resolvida
em Ação Rescisória, com acórdão proferido
pela Terceira Seção do TRF da 2ª Região e
confirmado em seus fundamentos pelo
Supremo Tribunal Federal (arts. 467, 474,
475-L, II, § 1º, c/c art. 741, II, parágrafo
único, do CPC/1973 e arts. 502 e 508 do
CPC); e c) o Mandado de Segurança
coletivo não alegou a falta de
regulamentação da gratificação como
causa de pedir, e houve omissão quanto à
distinção referente aos casos que
conduziram à edição da Súmula Vinculante
20/STF.
Publique-se.
Intimem-se.
Brasília, 16 de agosto de 2023.
MINISTRO HERMAN BENJAMIN
Relator
(REsp n. 2.080.234, Ministro Herman
Benjamin, DJe de 18/08/2023.)

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