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Superior Tribunal de Justiça

EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.280.825 - RJ (2011/0190397-7)

RELATORA : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI


EMBARGANTE : FRANCISCO VALADARES PÓVOA
ADVOGADOS : MARIA APARECIDA MIRANDA TERRIGNO - RJ059297
CARLOS FABIANO TERRIGNO - RJ116141
FLAVIA MARIA TERRIGNO SANTANA - RJ179070
EMBARGADO : CLUBE DE INVESTIMENTO DOS EMPREGADOS DA VALE
INVESTVALE
ADVOGADO : CARLOS MÁRIO DA SILVA VELLOSO FILHO E OUTRO(S) -
DF006534
ADVOGADOS : ANNA MARIA DA TRINDADE DOS REIS E OUTRO(S) -
DF006811
MARCOS VINICIUS SANTOS MENEZES E OUTRO(S) -
RJ122908
ADVOGADA : GABRIELA DOURADO - DF031721
EMBARGADO : ASSOCIAÇÃO APOSENTADOS PENSIONISTAS
EMPREGADOS ATIVOS E EX EMPREGADOS DA COMPANHIA
VALE DO RIO DOCE SUAS EMPREITEIRAS CONTROLADAS E
COLIGADAS APEVALE
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR E OUTRO(S) - DF007447
CAROLINA F M T MACEDO E OUTRO(S) - RJ152408
EMENTA
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. OBSCURIDADE. CONTRADIÇÃO.
INEXISTÊNCIA. PRINCÍPIO DA NÃO SURPRESA (ART. 10 DO CPC). AUSÊNCIA DE
OFENSA.
1. Os embargos de declaração só se prestam a sanar obscuridade, omissão ou
contradição porventura existentes no acórdão, não servindo à rediscussão da matéria já
julgada no recurso.
2. O "fundamento" ao qual se refere o art. 10 do CPC/2015 é o fundamento jurídico -
circunstância de fato qualificada pelo direito, em que se baseia a pretensão ou a defesa,
ou que possa ter influência no julgamento, mesmo que superveniente ao ajuizamento da
ação - não se confundindo com o fundamento legal (dispositivo de lei regente da
matéria). A aplicação do princípio da não surpresa não impõe, portanto, ao julgador que
informe previamente às partes quais os dispositivos legais passíveis de aplicação para
o exame da causa. O conhecimento geral da lei é presunção jure et de jure.
3. O requisito do prequestionamento diz respeito apenas à fase de conhecimento do
recurso especial. A orientação da Súmula 456 do STF ("O Supremo Tribunal Federal,
conhecendo do recurso extraordinário, julgará a causa, aplicando o Direito à espécie")
foi incorporada como texto legal expresso pelo art. 1034 do novo CPC, segundo o qual
"Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, o Supremo Tribunal Federal ou
o Superior Tribunal de Justiça julgará o processo, aplicando o direito."
4. Embargos de declaração rejeitados.

ACÓRDÃO

A Quarta Turma, por unanimidade, rejeitou os embargos de declaração


opostos por FRANCISCO VALADARES PÓVOA, nos termos do voto da Sra. Ministra
Relatora. Os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Marco Buzzi e Raul Araújo votaram
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com a Sra. Ministra Relatora.
Impedido o Sr. Ministro Luis Felipe Salomão.

Brasília (DF), 27 de junho de 2017(Data do Julgamento)

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI


Relatora

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EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.280.825 - RJ (2011/0190397-7)

RELATÓRIO

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI: Trata-se de embargos de


declaração opostos por Francisco Valadares Póvoa (e-STJ fls. 4717/4722) contra o
acórdão de e-STJ fls. 4.652/4.702, cuja ementa encontra-se lavrada nos seguintes
termos:

CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. ALEGAÇÃO DE


OFENSA AO ART. 535 DO CPC/73. INEXISTÊNCIA.
CERCEAMENTO DE DEFESA. SÚMULA 7/STJ. AUSÊNCIA DE
INTIMAÇÃO DA CVM. DISSÍDIO NÃO DEMONSTRADO E
FUNDAMENTO INATACADO. PRESCRIÇÃO. MARCO INICIAL.
DOUTRINA OBJETIVA. DATA DA LESÃO. PRAZO. ILÍCITO
CONTRATUAL (ART. 205 DO CÓDIGO CIVIL). PRECEDENTES.
SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. ART. 200 DO CÓDIGO CIVIL.
MÉRITO. REEXAME DE MATÉRIA CONTRATUAL E FÁTICA DA
LIDE. SÚMULAS 5 e 7 DO STJ.
1. Inexistente a alegada ofensa ao art. 535 do Código de Processo
Civil se o tribunal se pronuncia detalhadamente sobre a questão
jurídica posta em debate, revelando-se o recurso integrativo mera
tentativa de rediscussão da causa e reforma do julgado.
2. Inviável o recurso especial quanto ao suposto cerceamento de
defesa e à necessidade de dilação probatória, eis que a análise
das razões de impugnação impõe reexame da matéria fática da lide,
vedado nos termos do enunciado nº 7 da Súmula do STJ.
3. Inviável o recurso que deixa de fazer impugnação específica ao
fundamento do acórdão recorrido, nos termos da Súmula 283 do
STF.
4. O Código Civil de 2002, assim como o fazia o de 1916, adota
orientação de cunho objetivo, estabelecendo a data da lesão de
direito, a partir de quando a ação pode ser ajuizada, como regra
geral para o início da prescrição, excepcionando os demais casos
em dispositivos especiais. Assim, não se deve adotar a ciência do
dano como o termo inicial do prazo se a hipótese concreta não se
enquadra nas exceções.
Precedentes.
5. O prazo de prescrição de pretensão fundamentada em ilícito
contratual, não havendo regra especial para o contrato em causa,
é o previsto no art. 205 do Código Civil. Precedentes.
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6. Não corre o prazo de prescrição no tocante à parte do pedido
indenizatório cuja causa de pedir é conduta em persecução no juízo
criminal (Código Civil, art. 200). Precedentes.
7. Impossível a reforma do acórdão recorrido quanto ao mérito da
lide se a fundamentação do acórdão recorrido e as alegações do
recurso especial estão embasadas na interpretação de elementos
circunstanciais e cláusulas contratuais, eis que incide a vedação
das Súmulas 5 e 7 do STJ.
8. Recurso especial de Clube de Investimentos dos Empregados da
Vale - INVESTVALE conhecido em parte e, na parte conhecida,
provido em parte para declarar a prescrição da pretensão relativa
ao pedido 46.a da inicial unicamente para as operações realizadas
anteriormente a 27.8.1997.
9. Recurso especial de Francisco Valadares Póvoa conhecido em
parte e, na parte conhecida, não provido .

O embargante transcreve parcialmente trechos do acórdão e pede que


este Tribunal se pronuncie sobre os seguintes pontos (e-STJ fls. 4.721/4.722):

(a) Ausência de debate, pela Instância a quo, do dispositivo legal


que serviu de fundamento para afastar a prescrição da pretensão
“de reparação de danos”, como se reconheceu nas instâncias
iniciais (artigos 200 e 205 ambos do Código Civil);
(b) Reconhecimento, como ponto incontroverso, pela instância a
quo e pelas partes, de que o prazo aplicável à pretensão autoral
está fundado no inciso V, parágrafo 3º, do artigo 206, do Código
Civil;
(c) Inaplicabilidade do princípio processual do iura novit curia ao
recurso especial, sendo vedada a transferência de fundamento
para dar como correto o dispositivo do acórdão recorrido que não
assentou nele, até porque não foi ele objeto de discussão na
causa. Pede prequestionamento do artigo 141, do NCPC;
Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas
partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não
suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte.
(d) Vedação à adoção de fundamento diverso sem que tenha sido
dado oportunidade à parte interessada de se manifestar (artigos
200 e 205, do Código Civil), conforme artigos 10 e 14, ambos do
NCPC, os quais pede, desde logo, que sejam prequestionados;
(e) Existência ou não de prejudicialidade entre a demanda penal e
a causa de pedir desta pretensão reparatória, independentemente

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de indentidade entre ambas;
(f) Ausência de debate sobre a natureza de inadimplemento
contratual à pretensão reparatória ajuizada pelos demandantes ora
recorridos.

Impugnação apresentada às e-STJ fls. 4.775/4.795.


É o relatório.

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VOTO

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI (Relatora): A petição de


embargos de declaração não aponta nem demonstra, de forma analítica, objetiva e
articulada, nenhum dos vícios elencados no art. 1.021 do Código de Processo Civil.
Limita-se a postular pronunciamento sobre pontos que relaciona na
petição.
Quanto às alegações aviadas no recurso, todas dizem respeito a
insatisfação do recorrente quanto ao fundamento apresentado pelo acórdão para afastar
a alegação de prescrição.
Vê-se, pois, que não se trata de omissão, contradição ou obscuridade do
provimento jurisdicional. Tampouco erro material.
Trata-se de expressa e inequívoca impugnação ao mérito da decisão,
pretensão para a qual não se presta a via eleita, de natureza integrativa.
A impugnação aviada nos embargos é semelhante àquela apresentada
pela corré, INVESTVALE, nas razões de seu recurso.
Assim, a questão deve ser tratada de igual forma.
Tal como no recurso da corré, entendo que há de se afastar a alegação
de ofensa ao princípio da não surpresa.
A interpretação dada ao princípio pela parte não me parece a mais
adequada.
Em verdade, trata-se de uma interpretação que exigiria do julgador
adiantar o seu provimento jurisdicional, informando qual dispositivo de lei federal
específico iria aplicar, em um verdadeiro pré-julgamento da causa.
O artigo 10 do Código de Processo Civil, invocado pela embargante,
assim dispõe:
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com
base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às
partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de
matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

O Código de Processo Civil de 2015 reconhece que a prescrição é


matéria passível de reconhecimento de ofício:

Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:


(...)

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II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de
decadência ou prescrição;
(...)
Parágrafo único. Ressalvada a hipótese do § 1o do art. 332, a
prescrição e a decadência não serão reconhecidas sem que antes
seja dada às partes oportunidade de manifestar-se.

No caso concreto, o acórdão embargado decidiu sobre a prescrição -


preliminar de mérito argüída desde a contestação e julgada em ambas as instâncias
ordinárias - apreciando a causa e todas as suas circunstâncias tal como postas na
origem, inclusive o seu enquadramento como responsabilidade civil contratual.
Ressalto, embora o STJ não esteja vinculado a tal enquadramento legal,
que a submissão da causa ao regime da responsabilidade contratual foi expressamente
declarada pelo acórdão recorrido, ao afirmar textualmente (e-STJ fl. 3.744):
"Isso porque a responsabilidade provém de relação eminentemente
contratual, como se extrai do só fato de ser o Estatuto Social do
Clube de Investimentos o mais forte fundamento jurídico do
pedido."

Desse enquadramento vindo da origem - responsabilidade contratual -


não houve discordância dos embargantes (cf. recurso especial do Investivale, e-STJ fl.
3.931 e recurso especial de Francisco Valadares Póvoa, e-STJ fl. 4173).
O inconformismo dos embargantes reside na aplicação, na fase de
julgamento da causa, após o conhecimento do recurso especial, de dispositivo legal
que, realmente, não fora invocado pelas partes, a saber, o art. 205 (prescrição decenal),
ao invés do art. 206, § 3º, V (prescrição trienal), ambos do Código Civil.
Não se pode pretender, todavia, que o órgão jurisdicional deixe de aplicar
uma norma ao caso concreto porque as partes, embora tratem do tema, não a
invocaram em seu recurso.
O tema da prescrição foi amplamente debatido nas instâncias de origem
e foi, inclusive, objeto de impugnação por recurso especial.
Não se trata, pois, de novidade para as partes, nem ofensa ao chamado
princípio da não surpresa.
Deve-se ressaltar que o Código Civil estabelece que a prescrição não é
disposição das partes:

Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por


acordo das partes.

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Assim, pouco importa que as partes não tenham aventado a incidência do
prazo decenal ou mesmo que estivessem de acordo com a incidência do prazo trienal.
Houve ampla discussão sobre a prescrição ao longo da demanda e o tema foi objeto de
recurso, tendo essa Turma, no julgamento da causa, aplicado o prazo que entendeu
correto, à luz da legislação em vigor, conforme interpretada pela jurisprudência
predominante na época para ações de responsabilidade civil por descumprimento
contratual.
A propósito do tema, lembro o seguinte enunciado da Escola Nacional de
Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados:

"1. Entende-se por 'fundamento' referido no art. 10 do CPC 2015 o


substrato fático que orienta o pedido, e não o enquadramento
jurídico atribuído pelas partes." (aprovado no seminário "O Poder
Judiciário e o novo CPC", agosto de 2015).

Penso que o "fundamento" ao qual se refere o art. 10 é o fundamento


jurídico - causa de pedir, circunstância de fato qualificada pelo direito, em que se baseia
a pretensão ou a defesa, ou que possa ter influência no julgamento, mesmo que
superveniente ao ajuizamento da ação, conforme art. 493 do CPC/2015) - não se
confundindo com o fundamento legal (dispositivo de lei regente da matéria).
Lembro a distinção feita por Vicente Greco Filho:

"O fato e o fundamento jurídico do pedido são a causa de pedir, na


expressão latina, a causa petendi. Antes de mais nada é preciso
observar que o fundamento jurídico é diferente do fundamento
legal; este é a indicação (facultativa, porque o juiz conhece o
direito) dos dispositivos legais a serem aplicados para que seja
decretada a procedência da ação; aquele (que é de descrição
essencial) refere-se à relação jurídica e fato contrário do réu que
vai justificar o pedido de tutela jurisdicional.” (Direito Processual
Civil Brasileiro, 2º Volume, 22ª ed., pg. 136).

Se ao autor e ao réu não é exigido que declinem, na inicial e na


contestação, o fundamento legal, mas apenas o fundamento jurídico, não faz sentido
supor que o magistrado deva proferir despacho prévio à sentença enumerando todos os
dispositivos legais possivelmente em tese aplicáveis para a solução da causa.
Os fatos da causa devem ser submetidos ao contraditório, não o
ordenamento jurídico, o qual é de conhecimento presumido não só do juiz (iura novit

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curia), mas de todos os sujeitos ao império da lei, conforme presunção jure et de jure
(art. 3º da LINDB).
A subsunção dos fatos à lei deve ser feita pelo juiz no ato do julgamento e
não previamente, mediante a pretendida submissão à parte, pelo magistrado, dos
dispositivos legais que possam ser cogitados para a decisão do caso concreto. Da
sentença, que subsumiu os fatos a este ou àquele artigo de lei, caberá toda a sequência
de recursos prevista no novo Código de Processo Civil.
A aventada exigência de que o juiz submetesse a prévio contraditório das
partes não apenas os fundamentos jurídicos, mas também os dispositivos legais
(fundamento legal) que vislumbrasse de possível incidência, sucessivamente, em
relação aos pressupostos processuais, condições da ação, prejudiciais de mérito e ao
próprio mérito, inclusive pedidos sucessivos ou alternativos, entravaria o andamento
dos processos, conduzindo ao oposto da eficiência e celeridade desejáveis. Seria
necessário exame prévio da causa pelo juiz, para que imaginasse todos os possíveis
dispositivos legais em tese aplicáveis, cogitados ou não pelas partes, e a prolação de
despacho submetendo artigos de lei - cujo desconhecimento não pode ser alegado
sequer pelos leigos - ao contraditório, sob pena de a lei vigente não poder ser aplicada
aos fatos objeto de debate na causa.
A discussão em colegiado, com diversos juízes pensando a mesma
causa, teria que ser paralisada a cada dispositivo legal aventado por um dos vogais, a
fim de que fosse dada vista às partes. Grave seria o entrave a marcha dos processos,
além de fértil campo de nulidades.
O absurdo da conclusão revela, data maxima venia, o equívoco da
premissa.
Afasto, portanto, a alegação de ofensa aos arts. 10 e 933 do CPC/2015.
II

Quanto às alegações de ausência de debate, na origem, dos arts. 200 e


205 do Código Civil, e inaplicabilidade do princípio processual do iura novit curia ao
recurso especial, observo que o requisito do prequestionamento diz respeito apenas à
fase de conhecimento do recurso especial.
Ultrapassada a fase de conhecimento, o Tribunal julgará a causa,
aplicando o Direito à espécie, independentemente de prequestionamento na origem do
dispositivo legal incidente à espécie.
Essa já era a orientação da Súmula 456 do STF ("O Supremo Tribunal
Federal, conhecendo do recurso extraordinário, julgará a causa, aplicando o Direito à
espécie"), a qual foi incorporada como texto expresso de lei, pelo art. 1034 do novo

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CPC:
Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, o
Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça
julgará o processo, aplicando o direito."
III

Por fim, tampouco cabe pronunciamento sobre eventual prejudicialidade


de demanda penal e causa de pedir da pretensão reparatória.
A aplicação do art. 200 diz respeito ao curso da prescrição, matéria do
recurso.
Não fosse o suficiente, há independência entre as esferas cível e criminal.
A respeito:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE


REPARAÇÃO DE DANOS - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU
PARCIAL PROVIMENTO AO APELO EXTREMO. INSURGÊNCIA
DOS RÉUS.
1. As questões trazidas à discussão foram dirimidas pelo Tribunal
de origem de forma suficientemente ampla, fundamentada e sem
omissões, devendo ser afastada a alegada violação ao artigo 535
do Código de Processo Civil de 1973.
2. Havendo em regra completa independência entre os
juízos criminal e cível, uma mesma prova pode ser
suficiente para condenar à reparação civil dos danos
causados, em que pese não seja o bastante para uma
condenação criminal. Precedentes. Incidência da Súmula
83/STJ.
3. Rever o entendimento da Corte a quo, a qual consignou que,
diante da realidade fática apresentada nos autos,
evidenciou-se a existência de culpa concorrente pelo acidente
de trânsito em questão, demandaria necessário reexame
do contexto fático-probatório, o que é inviável em sede de
recurso especial, à luz do óbice contido na Súmula 7 do STJ.
Precedentes.
4. O valor estabelecido pelas instâncias ordinárias a título de
indenização por danos morais somente pode ser revisto nas
hipóteses em que o valor se revelar irrisório ou exorbitante,
distanciando-se dos padrões de razoabilidade, o que não se
evidencia no caso em tela.
5. Quanto ao pensionamento, cabe ressaltar que a jurisprudência

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do STJ consolidou-se no sentido de ser esse devido, mesmo no
caso de morte de filho(a) menor. E, ainda, de que a pensão a que
tem direito os pais deve ser fixada em 2/3 do salário percebido
pela vítima (ou o salário mínimo caso não exerça trabalho
remunerado) até 25 (vinte e cinco) anos e, a partir daí, reduzida
para 1/3 do salário até a idade em que a vítima completaria 65
(sessenta e cinco) anos.
Precedentes. Incidência da Súmula 83/STJ.
6. No tocante ao termo inicial dos juros moratórios em relação aos
danos morais fixados, a jurisprudência deste Tribunal
consolidou-se no sentido de que, como se trata de
responsabilidade extracontratual, a sua incidência ocorre a partir
da data do evento danoso, nos termos da Súmula 54 do STJ.
Precedentes. Incidência da Súmula 83/STJ.
7. Já no que diz respeito à tese de inexistência de erro material no
acórdão apto a justificar o acolhimento dos embargos de
declaração, constata-se que o Tribunal de origem não fez qualquer
análise sobre essa matéria, não tendo o conteúdo dos dispositivos
legais tidos por violados sido apreciados pelas instâncias de piso.
Com efeito, ainda que a suposta violação somente tenha surgido
quando do julgamento dos embargos de declaração, devem ser
opostos novos aclaratórios a fim de suscitar o pronunciamento do
Tribunal sobre a questão.
Precedentes. Incidência, por analogia, das Súmulas 282 e 356 do
STF.
8. No que tange à determinação pelo Tribunal origem de
constituição de capital para assegurar o cumprimento da obrigação
alimentar, esta está em perfeita conformidade com a jurisprudência
desta Corte, nos termos da Súmula 313 do STJ, que dispõe: "Em
ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a
constituição de capital ou caução fidejussória para a garantia
de pagamento da pensão, independentemente da situação
financeira do demandado".
9. Agravo interno desprovido.
(AgInt no REsp 1287225/SC, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, julgado em 16/03/2017, DJe 22/03/2017)

HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO EM SUBSTITUIÇÃO AO


RECURSO CABÍVEL. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DO REMÉDIO
CONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO AO SISTEMA RECURSAL. NÃO
CONHECIMENTO.
1. A via eleita revela-se inadequada para a insurgência contra o ato
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apontado como coator, pois o ordenamento jurídico prevê
recurso específico para tal fim, circunstância que impede o seu
formal conhecimento. Precedentes.
2. O alegado constrangimento ilegal será analisado para a
verificação da eventual possibilidade de atuação ex officio, nos
termos do artigo 654, § 2º, do Código de Processo Penal.
CRIME AMBIENTAL. ACUSADO QUE TERIA AGIDO LICITAMENTE.
FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A PERSECUÇÃO CRIMINAL.
NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DO CONJUNTO
PROBATÓRIO. VIA INADEQUADA. COAÇÃO ILEGAL NÃO
CONFIGURADA.
1. Em sede de habeas corpus e de recurso ordinário em habeas
corpus somente deve ser obstada a ação penal se restar
demonstrada, de forma indubitável, a ocorrência de
circunstância extintiva da punibilidade, a manifesta ausência de
indícios de autoria ou de prova da materialidade do delito, e ainda,
a atipicidade da conduta.
2. Estando a decisão impugnada em total consonância com
o entendimento jurisprudencial firmado por este Sodalício, não há
que se falar em trancamento da ação penal, pois, de uma
superficial análise dos elementos probatórios contidos no presente
mandamus, não se vislumbra estarem presentes quaisquer das
hipóteses que autorizam a interrupção prematura da persecução
criminal por esta via, já que seria necessário o profundo estudo
das provas, as quais deverão ser oportunamente valoradas
pelo juízo competente.
SUSPENSÃO DO PROCESSO ENQUANTO TRAMITAM AÇÕES
CÍVEIS REFERENTES À PROPRIEDADE EM QUE O DANO
AMBIENTAL TERIA OCORRIDO. DESNECESSIDADE.
INDEPENDÊNCIA DE INSTÂNCIAS. AUSÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
1. Não há que se falar em suspensão do processo criminal
enquanto tramitam as ações cíveis referentes ao imóvel em
que o suposto dano ambiental ocorreu, uma vez que vigora
no sistema jurídico pátrio o princípio da independência de
instâncias. Precedentes.
2. Habeas corpus não conhecido.
(HC 340.039/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 01/12/2016, DJe 07/12/2016)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


AÇÃO INDENIZATÓRIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
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JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. ACIDENTE DE TRÂNSITO.
ART. 935 DO CC. INDEPENDÊNCIA RELATIVA ENTRE AS
INSTÂNCIAS. SENTENÇA PENAL ABSOLUTÓRIA. NÃO
VINCULAÇÃO DO JUÍZO CÍVEL. PRECEDENTE. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. MODIFICAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
7/STJ. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. Não há vício consistente em omissão quando o Tribunal de
origem decide fundamentadamente todas as questões postas ao
seu crivo. O mero inconformismo da parte com o julgamento
contrário à sua pretensão não caracteriza falta de prestação
jurisdicional.
2. "A responsabilidade civil é independente da criminal,
não interferindo no andamento da ação de reparação de
danos que tramita no juízo cível eventual absolvição por
sentença criminal que, a despeito de reconhecer a culpa
exclusiva da vítima pelo acidente, não ilide a autoria ou a
existência do fato" (AgRg no REsp n. 1483715/SP, Relator o
Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, DJe 15/5/2015).
3. Quanto ao valor fixado a título de danos morais, esta Corte
entende que somente é admissível modificá-lo em recurso
especial, quando o montante estabelecido na origem for excessivo
ou irrisório, de forma a violar os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, o que não ocorreu na
espécie. Assim, a pretensão recursal esbarra no enunciado n.
7/STJ. Precedentes.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 749.755/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/11/2015, DJe
10/12/2015)

Revelando-se a pretensão meramente infringente, em desconformidade


com a índole do recurso, impõe-se a sua rejeição.
Em face do exposto, rejeito os embargos de declaração.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

EDcl no
Número Registro: 2011/0190397-7 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.280.825 / RJ

Números Origem: 1275148420078190001 20070011241382 200900134306 201101903977

PAUTA: 27/06/2017 JULGADO: 27/06/2017

Relatora
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI

Ministro Impedido
Exmo. Sr. Ministro : LUIS FELIPE SALOMÃO

Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MARIA HILDA MARSIAJ PINTO
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CLUBE DE INVESTIMENTO DOS EMPREGADOS DA VALE INVESTVALE
ADVOGADO : CARLOS MÁRIO DA SILVA VELLOSO FILHO E OUTRO(S) - DF006534
ADVOGADOS : ANNA MARIA DA TRINDADE DOS REIS E OUTRO(S) - DF006811
MARCOS VINICIUS SANTOS MENEZES E OUTRO(S) - RJ122908
ADVOGADA : GABRIELA DOURADO - DF031721
RECORRENTE : FRANCISCO VALADARES PÓVOA
ADVOGADOS : MARIA APARECIDA MIRANDA TERRIGNO - RJ059297
CARLOS FABIANO TERRIGNO - RJ116141
FLAVIA MARIA TERRIGNO SANTANA - RJ179070
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO APOSENTADOS PENSIONISTAS EMPREGADOS ATIVOS E
EX EMPREGADOS DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE SUAS
EMPREITEIRAS CONTROLADAS E COLIGADAS APEVALE
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR E OUTRO(S) - DF007447
CAROLINA F M T MACEDO E OUTRO(S) - RJ152408

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
EMBARGANTE : FRANCISCO VALADARES PÓVOA
ADVOGADOS : MARIA APARECIDA MIRANDA TERRIGNO - RJ059297
CARLOS FABIANO TERRIGNO - RJ116141
FLAVIA MARIA TERRIGNO SANTANA - RJ179070
EMBARGADO : CLUBE DE INVESTIMENTO DOS EMPREGADOS DA VALE INVESTVALE
ADVOGADO : CARLOS MÁRIO DA SILVA VELLOSO FILHO E OUTRO(S) - DF006534
ADVOGADOS : ANNA MARIA DA TRINDADE DOS REIS E OUTRO(S) - DF006811
Documento: 1616785 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/08/2017 Página 14 de 4
Superior Tribunal de Justiça
MARCOS VINICIUS SANTOS MENEZES E OUTRO(S) - RJ122908
ADVOGADA : GABRIELA DOURADO - DF031721
EMBARGADO : ASSOCIAÇÃO APOSENTADOS PENSIONISTAS EMPREGADOS ATIVOS E
EX EMPREGADOS DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE SUAS
EMPREITEIRAS CONTROLADAS E COLIGADAS APEVALE
ADVOGADOS : ALDE DA COSTA SANTOS JÚNIOR E OUTRO(S) - DF007447
CAROLINA F M T MACEDO E OUTRO(S) - RJ152408

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Quarta Turma, por unanimidade, rejeitou os embargos de declaração opostos por
FRANCISCO VALADARES PÓVOA, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Marco Buzzi e Raul Araújo votaram com a
Sra. Ministra Relatora.
Impedido o Sr. Ministro Luis Felipe Salomão.

Documento: 1616785 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/08/2017 Página 15 de 4

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