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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 959.338 - SP (2007/0132107-8)


RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
RECORRENTE : HÉVEA INDÚSTRIA DE PLÁSTICOS LTDA
ADVOGADO : DOMINGOS NOVELLI VAZ E FRANCISCO ROBERTO SOUZA
CALDERARO E OUTRO(S)
RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL
PROCURADORE : SÉRGIO AUGUSTO G PEREIRA DE SOUZA E OUTRO(S)
S
CLAUDIO XAVIER SEEFELDER FILHO

EMENTA

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO.


INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 535 DO CPC. AÇÃO DECLARATÓRIA
DE DIREITO A APROVEITAMENTO DE CRÉDITO-PRÊMIO DE IPI
SUSPENSO ILEGALMENTE COM PEDIDO DE RESSARCIMENTO (ART. 1o.
DO DL 491/69). SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE O PEDIDO PARA
DECLARAR A EXISTÊNCIA DO DIREITO DA AUTORA DE USUFRUIR DO
DENOMINADO CRÉDITO-PRÊMIO DO IPI NO PERÍODO DE 07.12.79 A
31.03.81, BEM COMO CONDENOU A FAZENDA NACIONAL AO
RESSARCIMENTO DO BENEFÍCIO COM CORREÇÃO MONETÁRIA E
JUROS DE MORA A PARTIR DO TRÂNSITO EM JULGADO. LIMITAÇÃO DA
CONDENAÇÃO, EM REMESSA OFICIAL, ÀS GUIAS DE IMPORTAÇÃO
JUNTADAS COM A INICIAL. AUSÊNCIA DE CONTRADITÓRIO SOBRE A
QUESTÃO OU DE DECISÃO DO JUIZ SINGULAR A RESPEITO DA
SUFICIÊNCIA DA DOCUMENTAÇÃO. EFEITO TRANSLATIVO DA REMESSA
NECESSÁRIA QUE ENCONTRA LIMITES NO PRINCÍPIO DO
CONTRADITÓRIO. PRECEDENTES. DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À
PROPOSITURA DA AÇÃO. COMPROVAÇÃO DA LEGITIMIDADE AD
CAUSAM. POSSIBILIDADE DE JUNTADA DO RESTANTE DA
DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA DO QUANTUM DEBEATUR POR
OCASIÃO DA LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA, QUE DEVERÁ SER FEITA POR
ARTIGOS, NOS TERMOS DA PACÍFICA ORIENTAÇÃO DESTA CORTE.
JUROS DE MORA DEVIDOS A PARTIR DO TRÂNSITO EM JULGADO.
APLICAÇÃO, IN CASU, TÃO-SOMENTE, DA TAXA SELIC. PRECEDENTES.
SUCUMBÊNCIA TOTAL DA FAZENDA NACIONAL. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS FIXADOS EM 10% DO VALOR DA CONDENAÇÃO.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. ACÓRDÃO SUJEITO AO REGIME DO
ART. 543-C E DA RES. 08/STJ.

1. Afasta-se a aventada ofensa ao art. 535, II e III do CPC, pois,


da simples leitura do acórdão recorrido, complementado por aquele proferido
em Embargos de Declaração, ressai que todas as questões suscitadas pela
ora recorrente foram devidamente analisadas, apenas que de forma contrária
ao seu interesse, o que, como tem reiteradamente afirmado esta Corte, não
autoriza a interposição do Recurso Especial pelo malferimento da referida
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legislação processual.

2. Verifica-se dos autos que a recorrente, empresa exportadora


de produtos manufaturados, propôs ação declaratória c/c com pedido
condenatório, objetivando a declaração de seu direito ao incentivo fiscal
previsto no art. 1o. do Decreto-Lei 491/69 e o ressarcimento de
créditos-prêmio de IPI indevidamente suprimidos pela Portaria 960 do Ministério
da Fazenda, com os consectários legais, inclusive juros de mora de 1% ao
mês a partir do dia seguinte de cada exportação, sobre o montante daquelas
realizadas entre 07.12.1979 a 31.03.1981. Em contestação, a FAZENDA
NACIONAL sustentou tão-somente a constitucionalidade da supressão do
referido incentivo fiscal pela Portaria Ministerial. Julgado procedente o pedido,
com juros de mora fixados a partir do trânsito em julgado, em sua apelação, a
recorrida limitou-se a reiterar os termos da contestação.

3. A remessa necessária, expressão do poder inquisitivo que


ainda ecoa no ordenamento jurídico brasileiro, porque de recurso não se trata
objetivamente, mas de condição de eficácia da sentença, como se dessume
da Súmula 423 do STF e ficou claro a partir da alteração do art. 475 do CPC
pela Lei 10.352/2001, é instituto que visa a proteger o interesse público; dentro
desse contexto, é possível alargar as hipóteses de seu conhecimento,
atribuindo-lhe mais do que o efeito devolutivo em sua concepção clássica
(delimitado pela impugnação do recorrente), mas também o chamado efeito
translativo, quando se permite ao órgão judicial revisor pronunciar-se de ofício,
independentemente de pedido ou requerimento da parte ou interessado, em
determinadas situações, como, por exemplo, para dirimir questões de ordem
pública.

4. Esse efeito translativo amplo admitido pela doutrina e pela


jurisprudência não autoriza a conclusão de que toda e qualquer questão
passível de ofender, em tese, o interesse público deva ou possa ser
examinada, de ofício, pelo Tribunal ad quem. O reexame necessário nada mais
é do que a permissão para um duplo exame da decisão proferida pelo Juiz
Singular em detrimento do ente público, a partir das teses efetivamente objeto
de contraditório ou de pronunciamento judicial anterior, sendo que o Tribunal
somente pode conhecer de ofício daquelas matérias que também poderiam
sê-lo pelo Julgador solitário.

5. A questão da suficiência da documentação acostada com a


inicial para fins de deferimento do pedido deveria ter sido objeto de
contraditório, uma vez que envolve a exegese dos arts. 283 e 284 do CPC.

6. É dispensável que na inicial da ação de conhecimento se


exiba toda a documentação alusiva ao crédito prêmio de IPI, das operações
realizadas no período cujo ressarcimento é pleiteado, uma vez que essa prova
não diz respeito, propriamente, ao direito da parte, que, nesse momento, deve
comprovar, apenas a sua legitimidade ad causam e o seu interesse.

7. A jurisprudência desta Corte Superior já se manifestou pela


possibilidade de juntada da prova demonstrativa do quantum debeatur em
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liquidação de sentença: REsp. 685.170/DF, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, DJe 10.08.2006; REsp. 894.858/DF, Rel. Min. ELIANA CALMON,
DJe 01.09.2008; REsp. 980.831/DF, Rel. Min. LUIZ FUX, DJe 29/06/2009; AgRg
no REsp. 1.067.126/DF, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 07.06.2010;
REsp. 1.185.202/DF, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 13.09.2011; REsp.
1.111.003/PR, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, julgado sob o rito do art. 543-C
do CPC, DJe 25.05.2009.

8. Na oportunidade da liquidação da sentença, por se tratar de


reconhecimento de crédito-prêmio de IPI, a parte deverá apresentar toda a
documentação suficientes à comprovação da efetiva operação de exportação,
bem como do ingresso de divisas no País, sem o que não se habilita à fruição
do benefício, mesmo estando ele reconhecido na sentença.

9. Os juros de mora incidem a partir do trânsito em julgado da


decisão definitiva e, a partir de 01.01.96, início da vigência da Lei 9.250/95,
aplica-se somente a taxa SELIC, que compreende correção monetária e juros
de mora; assim, para as demandas ainda em curso, aplica-se tão-somente a
SELIC. Precedentes: EDcl no REsp. 465.097/RS, Rel. Min. MAURO
CAMPBELL MARQUES, DJe 08/09/2009; REsp. 931.741/SP, Rel. Min. ELIANA
CALMON, DJe 18/04/2008.

10. Honorários advocatícios fixados em favor da recorrente em


10% do valor da condenação (art. 20, § 4o. do CPC).

11. Recurso Especial provido. Acórdão submetido ao regime do


art. 543-C do CPC e da Res. 8/STJ.

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ACÓRDÃO
A Seção, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial,
nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Mauro Campbell
Marques, Benedito Gonçalves, Cesar Asfor Rocha, Teori Albino Zavascki,
Humberto Martins e Herman Benjamin votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Francisco Falcão.
Licenciado o Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima.

Brasília/DF, 29 de fevereiro de 2012 (Data do Julgamento)

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO


MINISTRO RELATOR

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RECURSO ESPECIAL Nº 959.338 - SP (2007/0132107-8) (f)
RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
RECORRENTE : HÉVEA INDÚSTRIA DE PLÁSTICOS LTDA
ADVOGADO : DOMINGOS NOVELLI VAZ E OUTRO(S)
RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL
PROCURADORE : SÉRGIO AUGUSTO G PEREIRA DE SOUZA E OUTRO(S)
S
CLAUDIO XAVIER SEEFELDER FILHO

RELATÓRIO

1. HÉVIA INDÚSTRIA DE PLÁSTICOS LTDA. interpôs Recurso


Especial, com fulcro nas alíneas a e c do art. 105, III da CF, contra acórdão proferido
pelo TRF da 3a. Região, que, nos autos da ação de ressarcimento de crédito-prêmio de
IPI não usufruídos, proposta pela ora recorrente e julgada procedente em primeiro grau,
proveu parcialmente a remessa obrigatória, pelos fundamentos assim resumidos:

TRIBUTÁRIO. IPI. CRÉDITO-PRÊMIO. DECRETO-LEI 419/69.


DECRETO-LEI 1.724/79. PORTARIA MINISTERIAL 960/79. MUDANÇA DE
CRITÉRIOS. ILEGALIDADE. CORREÇÃO MONETÁRIA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS.

1. Os incentivos fiscais estão sujeitos ao princípio da reserva


legal, não podendo norma hierarquicamente inferior modificá-los.

2. Direito ao recebimento do crédito-prêmio do IPI no período


em que foi suspenso, 07.12.79 a 31.03.81, que se reconhece, nos termos
do Decreto-Lei 491/69.

3. Na correção monetária do crédito-prêmio do IPI, a taxa de


câmbio a ser considerada é a correspondente ao valor do dia em que foram
efetuadas as exportações, corrigindo-se a partir daí pelos índices oficiais
até o seu efetivo creditamento. Inteligência do artigo 143 do Código
Tributário Nacional, c/c o artigo 103 do Regulamento Aduaneiro.

4. Esta ação de ressarcimento do crédito-prêmio guarda


semelhança com a ação de repetição de indébito, razão pela qual o
percentual fixado a título de honorários advocatícios deve incidir sobre o
valor da condenação. Precedentes do STJ.

5. Considerando que a sucumbência da União Federal

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(Fazenda Nacional) foi proporcional, os honorários advocatícios e as custas
processuais devem ser compensados.

6. Sentença que se reforma em parte. (fls. 389).

2. A autora opôs, então, Embargos Declaratórios, aduzindo que, no


tocante à afirmação do aresto de que o creditamento estava limitado aos valores
referentes às guias de importação juntadas com a inicial, teria havido julgamento extra
petita, eis que o tema jamais fora discutido nos autos, sequer em contestação ou
apelação da Fazenda. Aduziu, ainda, que o pedido foi julgado totalmente procedente,
para abarcar o ressarcimento do período referido na inicial (07.12.1979 a 31.03.1981),
tendo sido juntadas algumas guias apenas para comprovação da qualidade da
postulante de empresa exportadora de produtos manufaturados sujeitos ao incentivo,
não havendo empecilho para a juntada das guias de todas as operações de exportação
realizadas no período por ocasião da apuração do quantum debeatur, na fase de
liquidação de sentença. Reclamou, ainda, a existência de omissão quanto à fixação dos
juros de mora.

3. Apreciando os embargos, o Tribunal acolheu-os parcialmente,


para sanar omissão referente ao juros de mora. O aresto restou assim ementado:

TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. IPI.


CRÉDITO-PRÊMIO. DECRETO-LEI 419/69. ALEGAÇÃO DE DÚVIDA.
CONTRADIÇÃO E OMISSÃO.

1. Prestam-se os embargos de declaração para o


esclarecimento de obscuridade, eliminação de contradição ou supressão de
omissão existente no acórdão, e nã opara o rejulgamento da causa.

2. Quando da apreciação do recurso de ofício, pode-ser


esclarecer o alcance da sentença monocrática, não caracterizando decisão
extra-petita.

3. O crédito-prêmio reconhecido como devido deve ser pago


sob a forma de compensação, isto é, o benefício será deduzido do valor do
IPI incidente sobre as operações da embargante no mercado interno, a teor
do que dispõe o § 1o. do artigo I do DL 491/69 e, havendo excedente de
crédito, este poderá ser compensado com o pagamento de outros impostos
federais (§ 2o. do artigo 1o. do DL 491/69), ou aproveitados nos termos do

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que preceitua a letra b, do § 2o. do artigo 3o. e § 3o. do Decreto 64.833/69
(transferência para outro estabelecimento da mesma empresa ou emissão
do NCFE (Nota Crédito Fiscal de Exportação).

4. Tratando-se de compensação, incabíveis juros moratórios.


Precedentes da Egrégia 6a. Turma.

5. Embargos parcialmente providos (fls. 406).

4. Em seu Apelo Raro, sustentou a recorrente, inicialmente,


negativa de vigência ao art. 535 do CPC, porquanto o aresto teria se omitido na análise
da questão referente à impossibilidade de decisão de ofício sobre matéria não
questionada pela Fazenda e nem restringida pela instância a quo, bem como sobre a
incidência dos juros de mora a partir de cada exportação; além disso, teria sido
contraditória a decisão, porque, ao mesmo tempo que determinou a aplicação da
legislação de regência, que previa o ressarcimento na via administrativa, com
apresentação de toda a documentação do período para conferência e apuração do
montante a ser ressarcido, retirou esse mesmo direito ao limitar a restituição do
crédito-prêmio do IPI às guias juntadas com a inicial.

5. No tocante à tal limitação, afirmou a existência de ofensa aos


arts. 128, 283, 284, 300, 460, 473, 474, 475 e 515 do CPC. Explicou ter sido acolhido
integralmente o pedido de ressarcimento do crédito-prêmio de IPI sobre o período
pleiteado (de 1979 a 1981), em primeiro grau, com determinação de apuração do
quantum debeatur em liquidação de sentença, ocasião em que seria apresentada a
documentação pertinente. Como tal questão não foi discutida anteriormente no
processo, em qualquer manifestação da ré ou mesmo do Julgador singular, o Tribunal
estaria impossibilitado de decidi-la de ofício, sob pena de incorrer em julgamento extra
petita. Aduz que o art. 475 do CPC não tem a extensão dada pelo aresto a quo, pois a
remessa oficial também encontra limites nas questões enfrentadas/controvertidas
durante o decorrer do processo, sendo vedado o exame de matéria estranha à
demanda. Cita jurisprudência em abono de sua tese.

6. Insistiu, ainda, quanto à necessidade de juntada de toda a


documentação comprobatória das exportações realizadas no período, que a ação visou

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ao reconhecimento do direito ao ressarcimento do crédito-prêmio do IPI e da ilegalidade
da suspensão do benefício pela Portaria 960/78; portanto, a questão do valor exportado
não foi apreciada, sendo admissível em nosso direito o conhecimento do quantum
debeatur na fase de execução. A prova indispensável a ser feita com a inicial era a
condição de empresa exportadora. Em apoio a sua tese, esclareceu:

Resta induvidoso que a empresa juntou à inicial os documentos


essenciais à propositura da ação, comprovando que era empresa
exportadora e que os produtos eram beneficiados. Isto é pacífico, até
mesmo porque se o MM. Juiz entendesse que todos os documentos
deveriam vir aos autos na fase de conhecimento porque indispensáveis,
deveria aplicar o art. 283 do CPC, que fala sobre a inicial ser instruída com
os documentos indispensáveis à propositura da ação. Se não estivesse
instruída regularmente, caberia aplicar o disposto no art. 284, intimando a
parte para regularizar. A isso pode-se acrescentar que a Fazenda não
questionou inépcia da inicial nesse aspecto ou questionou a juntada de
todos os documentos, pois sabia que os acostados eram meramente
ilustrativos.

(...).

O que ocorreu é o acolhimento lógico e coerente do pedido, pois,


na inicial havia pedido expresso e a sentença o acolheu sem qualquer
restrição (art. 474) sem que a Fazenda contestasse esse fato (arts. 300,
302 e 303, além dos arts. 282 e 284 do CPC) (fls. 458).

7. Quanto aos juros de mora, aduziu ofensa aos arts. 463 e 512 do
CPC e 161, § 1o., e 167 do CTN. Argumentou que, fixados estes pela sentença a partir
do trânsito em julgado da condenação, não poderia o Tribunal alterar o teor do referido
decisum por ocasião do julgamento dos Embargos Declaratórios opostos pela própria
autora, que postulava sua incidência desde cada exportação.

8. Requereu o estabelecimento dos juros de mora contados de


cada exportação ou como fixados da sentença; a partir de janeiro/96, postulou a
incidência da taxa SELIC, na forma dos arts. 1o. e 4o. da Lei 9.250/95. Aventou ofensa
aos arts. 20, parág. único, e 21 do CPC, pretendendo a inversão dos ônus
sucumbenciais e a fixação dos honorários advocatícios em 10% do valor da

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condenação.

9. Para comprovar a divergência jurisprudencial, colaciona diversos


julgados desta Corte e de outros Tribunais, que, em casos semelhantes, consignaram a
possibilidade de juntada da prova documental demonstrativa do quantum debeatur na
fase de liquidação de sentença, bem como afirmaram a legalidade da incidência de
juros de mora.

10. Sem contrarrazões (fls. 620), o recurso foi admitido (fls. 622).

11. O então Relator, Ministro LUIZ FUX, proferiu decisão elegendo o


presente recurso como representativo de controvérsia (art. 543-C do CPC e Res.
08/STJ) (fls. 645).

12. A 1a. Seção negou provimento ao Agravo Regimental interposto


pela recorrente para adversar essa decisão, mantendo hígida a determinação de
submissão do tema ao regime previsto no art. 543-C do CPC, pelos seguintes
fundamentos, no que interessa:

O Resp 1111003/PR, submetido ao regime dos recursos repetitivos,


Relator Min. Humberto Martins, publicado no DJ de 25/05/09, dirimiu a
controvérsia relativa à possibilidade de apresentação de documentos hábeis
à comprovação do quantum debeatur por ocasião da fase de liquidação. A
seu turno, o presente recurso versa a possibilidade de juntada de
documentos destinados à apuração do quantum debeatur relativo ao
benefício do crédito prêmio do IPI, em fase de liquidação de sentença.

A distinção entre o referido julgado e a hipótese presente reside no


fato de que aquele recurso versa sobre ação de repetição de indébito - na
qual se discute pagamento indevido ou a maior -, enquanto este apelo trata
de aproveitamento de crédito-prêmio do IPI, em que se postula o
reconhecimento de creditamento decorrente da regra da
não-cumulatividade estabelecida pelo texto constitucional (fls. 693/697)

13. O MPF, em parecer subscrito pelo ilustre Subprocurador-Geral da


República, WALLACE DE OLIVEIRA BASTOS, manifestou-se pelo provimento parcial
do Recurso Especial, pelos seguintes fundamentos:

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RECURSO ESPECIAL. Ação declaratória cumulada com ação
ordinária de ressarcimento de créditos oriundos de incentivos fiscais que
objetiva o aproveitamento de crédito-prêmio de IPI referente ao período de
07.12.79 a 31.03.81. Acórdão do TRF da 3a. Região que deu parcial
provimento ao recurso da autora e à remessa necessária para reformar em
parte a sentença que julgou procedente a ação em comento. Recurso
Especial fundado no art. 105, III, a e c da Constituição Federal. Alegada
afronta ao art. 535 do CPC. Não demonstração. Acórdão que apreciou a
questão posta nos autos, todavia, para adotar tese contrária ao interesse
da embargante. Alegação de ofensa aos arts. 128. 460, 475 e 515 do CPC.
Acórdão regional que limitou o direito ao creditamento apenas aos valores
referentes às guias de importação juntadas à inicial. Impossibilidade.
Decisão extra petita. Apuração dos créditos-prêmio de IPI em liquidação de
sentença. Juntada de documentos. Possibilidade. Orientação pacífica dessa
Colenda Corte. Afronta aos arts. 161, § 1o. e 167 do CTN demonstrada.
Cabimento dos juros moratórios na espécie. Termo a quo. Trânsito em
julgado da decisão. Processo ainda em curso. Incidência tão-somente da
Taxa SELIC. Precedentes. Arguição de violação aos arts. 20, parágrafo
único e 21 do CPC. Ocorrência. Sucumbência recíproca não configurada, in
casu. Parecer pelo provimento parcial do recurso especial ora examinado
(fls. 649).

14. É o que havia de relevante para relatar.

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RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
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ADVOGADO : DOMINGOS NOVELLI VAZ E OUTRO(S)
RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL
PROCURADORE : SÉRGIO AUGUSTO G PEREIRA DE SOUZA E OUTRO(S)
S
CLAUDIO XAVIER SEEFELDER FILHO

VOTO
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO.
INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 535 DO CPC. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE DIREITO A APROVEITAMENTO DE
CRÉDITO-PRÊMIO DE IPI SUSPENSO ILEGALMENTE COM PEDIDO DE
RESSARCIMENTO (ART. 1o. DO DL 491/69). SENTENÇA QUE JULGOU
PROCEDENTE O PEDIDO PARA DECLARAR A EXISTÊNCIA DO DIREITO
DA AUTORA DE USUFRUIR DO DENOMINADO CRÉDITO-PRÊMIO DO IPI
NO PERÍODO DE 07.12.79 A 31.03.81, BEM COMO CONDENOU A
FAZENDA NACIONAL AO RESSARCIMENTO DO BENEFÍCIO COM
CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA A PARTIR DO TRÂNSITO
EM JULGADO. DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA
AÇÃO. COMPROVAÇÃO DA LEGITIMIDADE AD CAUSAM E DO
INTERESSE. POSSIBILIDADE DE JUNTADA DO RESTANTE DA
DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA DO QUANTUM DEBEATUR POR
OCASIÃO DA LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA, QUE DEVERÁ SER FEITA
POR ARTIGOS, NOS TERMOS DA PACÍFICA ORIENTAÇÃO DESTA
CORTE. JUROS DE MORA DEVIDOS A PARTIR DO TRÂNSITO EM
JULGADO. APLICAÇÃO, IN CASU, TÃO SOMENTE, DA TAXA SELIC.
PRECEDENTES. SUCUMBÊNCIA TOTAL DA FAZENDA NACIONAL.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS FIXADOS EM 5% DO VALOR DA
CONDENAÇÃO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. ACÓRDÃO SUJEITO AO
REGIME DO ART. 543-C E DA RES. 08/STJ.

1. Afasta-se a aventada ofensa ao art. 535, II e III do CPC,


pois, da simples leitura do acórdão recorrido, complementado por aquele
proferido em Embargos de Declaração, ressai que todas as questões
suscitadas pela ora recorrente foram devidamente analisadas, apenas que
de forma contrária ao seu interesse, o que, como tem reiteradamente
afirmado esta Corte, não autoriza a interposição do Recurso Especial pelo
malferimento da referida legislação processual.

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2. Verifica-se dos autos que a recorrente, empresa
exportadora de produtos manufaturados, propôs ação declaratória c/c com
pedido condenatório, objetivando a declaração de seu direito ao incentivo
fiscal previsto no art. 1o. do Decreto-Lei 491/69 e o ressarcimento de
créditos-prêmio de IPI indevidamente suprimidos pela Portaria 960 do
Ministério da Fazenda, com os consectários legais, inclusive juros de mora
de 1% ao mês a partir do dia seguinte de cada exportação, sobre o
montante daquelas realizadas entre 07.12.1979 a 31.03.1981.

3. É dispensável a exibição de toda a documentação alusiva


às operações de exportação realizadas no período cujo ressarcimento é
pleiteado com a inicial da ação, pois essa prova não diz propriamente com o
direito da parte, que, nesse momento, deve comprovar a sua legitimidade ad
causam e o seu interesse.

4. A jurisprudência desta Corte Superior já se manifestou pela


possibilidade de juntada da prova demonstrativa do quantum debeatur em
liquidação de sentença: REsp. 685.170/DF, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, DJe 10.08.2006; REsp. 894.858/DF, Rel. Min. ELIANA
CALMON, DJe 01.09.2008; REsp. 980.831/DF, Rel. Min. LUIZ FUX, DJe
29/06/2009; AgRg no REsp. 1.067.126/DF, Rel. Min. HUMBERTO
MARTINS, DJe 07.06.2010; REsp. 1.185.202/DF, Rel. Min. HERMAN
BENJAMIN, DJe 13.09.2011; REsp. 1.111.003/PR, Rel. Min. HUMBERTO
MARTINS, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, DJe 25.05.2009.

5. Na oportunidade da liquidação da sentença, que deverá ser


feita por artigos, segundo remansosa jurisprudência desta Corte, por se
tratar de reconhecimento de crédito-prêmio de IPI, a parte deverá
apresentar toda a documentação suficiente à comprovação da efetiva
operação de exportação, bem como do ingresso de divisas no País, sem o
que não se habilita à fruição do benefício, mesmo estando reconhecido na
sentença.

6. Os juros de mora incidem a partir do trânsito em julgado da


decisão definitiva e, a partir de 01.01.96, início da vigência da Lei 9.250/95,
aplica-se somente a taxa SELIC, que compreende correção monetária e
juros de mora; assim, para as demandas ainda em curso, aplica-se
tão-somente a SELIC. Precedentes: EDcl no REsp. 465.097/RS, Rel. Min.
MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe 08/09/2009; REsp. 931.741/SP, Rel.
Min. ELIANA CALMON, DJe 18/04/2008.

7. Manutenção da sentença quanto aos honorários


advocatícios.

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8. Recurso Especial provido. Acórdão submetido ao regime do
art. 543-C do CPC e da Res. 8/STJ.

1. Verifica-se dos autos que a recorrente HÉVEA INDÚSTRIA DE


PLÁSTICOS LTDA., empresa exportadora de produtos manufaturados, propôs ação
declaratória c/c pedido condenatório, objetivando, além da declaração de seu direito ao
incentivo fiscal previsto no art. 1o. do Decreto-Lei 491/69, o ressarcimento de
créditos-prêmio de IPI indevidamente suprimidos pela Portaria 960 do Ministério da
Fazenda, com os consectários legais, inclusive juros de mora de 1% ao mês a partir do
dia seguinte de cada exportação, sobre o montante daquelas realizadas entre
07.12.1979 a 31.03.1981.

2. Em contestação, limitou-se a FAZENDA NACIONAL a sustentar a


constitucionalidade da supressão do referido incentivo fiscal pela Portaria Ministerial.

3. Apreciando o pedido, o MM. Juiz Federal concluiu o seguinte, no


que interessa:

Pelo exposto e considerando o mais que dos autos consta, julgo


PROCEDENTE a presente ação, para declarar a existência do direito da
Autora de receber o denominado crédito-prêmio do IPI no período de sua
suspensão, ou seja, de 07.12.79 a 31.03.81, da mesma forma que vinha
recebendo antes, isto é, com base no art. 1o. do D.L. 491/69, sendo o
mesmo calculado sobre a venda dos produtos manufaturados, com direito
ao crédito-prêmio do IPI, pois ilegal a suspensão do benefício criado pelo
DL 491/69, pela ilegalidade da Portaria 960 e inconstitucionalidade do art.
1o. do DL 1.724/79.

Declaro, também, que o ressarcimento do crédito-prêmio do IPI à


Autora, deverá ser com correção monetária, a partir da vigência da Lei
6.899/81, após a conversão dos respectivos valores da moeda estrangeira
em nacional, levando em conta os valores da época em que o
crédito-prêmio do IPI deveria ter sido reconhecido à Autora, no período da
suspensão, acrescido de juros de mora, a partir do trânsito em julgado (1%
ao mês).

Em face de ter a Ação Declaratória cumulada com a Ordinária,


condenado a União Federal a proceder ao ressarcimento à Autora do total

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do crédito-prêmio do IPI, referente ao período de suspensão, acrescido de
correção monetária, a partir da vigência da Lei 6.899/81, dos juros de mora,
à partir do trânsito em julgado (art. 167, § único do CTN), da presente
decisão; aos honorários advocatícios na base de 5% (cinco por cento)
sobre o valor dado à causa, devidamente atualizado e ao reembolso das
custas antecipadas pela Autora, também corrigidas (fls. 284/285).

4. Apelou a autora, requerendo (a) a alteração do decisum no


tocante à correção monetária, pretendendo fosse esta feita pela variação cambial, (b) a
incidência dos juros de mora a partir de cada exportação e (c) o arbitramento dos
honorários sobre o valor da condenação e não da causa (fls. 324/332).

5. Apelou também a ré, sustentando, tão-somente, a legalidade da


suspensão do benefício feita com base no Decreto-Lei 1.724/79 e na Portaria 960 do MF
(fls. 359/361).

6. No que interessa ao presente Recurso Especial, transcreve-se o


voto condutor do acórdão impugnado:

Dessa data da conversão até o recebimento do respectivo crédito


deverá incidir a correção monetária desse valor até o efetivo recebimento da
importância reclamada.

(...).

Esse creditamento poderá à evidência ser realizado nos livros da


empresa autora, ou na impossibilidade, pelo seu pagamento em dinheiro,
nos termos do artigo 1o. do Decreto-Lei 491/69 c/c o artigo 3o. do Decreto
64.833/69.

No entretanto, há uma outra questão. É que somente poderá haver


creditamento dos valores referentes às GI's comprovadas nos autos: fls. 52
(contrato de câmbio de 07/80 com vencimento em 30.08.80; fls. 56 (contrato
de câmbio de 06/80 - com vencimento em 02.08.80); fls 57 (contrato de
câmbio de 18.12.79); fls 59 (contrato de câmbio de 12.02.81, com
vencimento em 15.04.81) e fls. 61 (contrato de câmbio de 18.12.80, com
vencimento em 16.02.81), mesmo porque o ônus dessa prova incumbia à
autora.

Quanto à verba honorária, este procedimento guarda semelhança

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com a repetição de indébito, devendo incidir, portanto, sobre o valor da
condenação. Todavia, considerando que a sucumbência da ré-União
Federal (Fazenda Nacional) foi proporcional, à vista dos inúmeros pedidos
trazidos com a inicial, compensam-se as custas e os honorários
advocatícios.

Assim considerando, pelo meu voto, nego provimento à apelação


da União Federal (Fazenda Nacional), e dou provimento ao recurso da
autora, bem como à remessa necessária, para que se proceda à
adequação do julgado, como descrito acima (fls. 386/388).

7. Por ocasião do julgamento dos Embargos Declaratórios, quanto à


limitação da condenação e a incidência dos juros de mora, acrescentou-se:

Traz o embargante como razões de seu inconformismo a


impossibilidade de tal limitação, de ofício, vez que não discutido no
processo.

É cediço que o recurso ex officio ou reexame necessário é instituto


trazido para proteção dos interesses indisponíveis da União Federal, que
poderão estar subsumidos na causa em julgamento.

Não por razão outra que o artigo 475, II do CPC é claro ao afirmar,
taxativamente, que está sujeito ao duplo grau de jurisdição, não produzindo
efeito senão depois de confirmada pelo Tribunal, a sentença proferida
contra a União, o Estado e o Município. Trata-se de norma de aplicação
obrigatória pelo Magistrado.

Assim, em sede de duplo grau de jurisdição obrigatório, a revisão


do julgamento monocrático pelo Tribunal é integral, independentemente da
interposição de recurso voluntário pela Fazenda Pública, sem a qual se
torna inexequível.

(...).

Logo, quando da apreciação do recurso de ofício, pode-se


esclarecer o alcance da sentença, não caracterizando decisão extra petita.

(...).

Quanto aos juros de mora, verifico que há omissão a ser suprida.

Com efeito, o benefício reconhecido como devido deve ser resolvido

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pela compensação, isto é, o crédito-prêmio será deduzido do valor do IPI
incidente sobre as operações da embargante no mercado interno, a teor do
que dispõe o § 1o. do artigo 1o. do DL 419/69 e artigo 3o., § 1o. do Decreto
64.833/69 e, havendo excedente de crédito, este poderá ser compensado
com o pagamento de outros impostos federais (§ 2o. do artigo 1o. do DL
491/69), ou aproveitados nos termos do que preceitua a letra b do § 2o. do
artigo 3o. e § 3o. do Decreto 64.833/69 (transferência para outro
estabelecimento da mesma empresa ou emissão do NCFE (Nota Crédito
Fiscal de Exportação).

Depois de compensado, remanescendo ainda excedente do


estímulo fiscal referido, o artigo 3o. do Decreto 64.833/69, que regulamenta
o Decreto-Lei 491/69, autorizou o recebimento em dinheiro desse
excedente.

Assim, tratando-se de compensação, esta Turma vem


reiteradamente decidindo que são incabíveis juros de mora, pois tal
procedimento depende do contribuinte e não da administração (fls.
404/405).

8. Afasta-se, desde logo, a aventada ofensa ao art. 535, II e III do


CPC; da simples leitura do acórdão recorrido, complementado por aquele proferido em
Embargos de Declaração, ressai que todas as questões suscitadas pela ora recorrente
foram devidamente analisadas, apenas que de forma contrária ao seu interesse, o que,
como tem reiteradamente afirmado esta Corte, não autoriza a interposição do Recurso
Especial pelo malferimento da referida legislação processual.

9. Quanto à devolutividade da remessa necessária, tem-se que


esse instituto, expressão do poder inquisitivo que ainda ecoa no ordenamento jurídico
brasileiro, porque de recurso não se trata objetivamente, mas de condição de eficácia
da sentença, como se dessume da Súmula 423 do STF (não transita em julgado a
sentença por haver omitido o recurso ex officio, que se considera interposto ex lege), e
da alteração do art. 475 do CPC pela Lei 10.352/2001, visa a proteger o interesse
público, daí porque esta Corte, inclusive, já afirmou a inadmissibilidade de agravamento
da situação da Fazenda Pública pelo Tribunal ad quem quando ausente recurso da
parte contrária (Súmula 45/STJ).

10. Dentro desse contexto, é possível, e assim tem sido admitido pela

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doutrina e pela jurisprudência, alargar as hipóteses de seu conhecimento, atribuindo-lhe
mais do que o efeito devolutivo em sua concepção clássica (delimitado pela
impugnação do recorrente), mas também o chamado efeito translativo, quando se
permite ao órgão judicial revisor pronunciar-se sobre dado tema independentemente de
pedido ou requerimento da parte ou interessado (de ofício), como por exemplo, para
dirimir questões de ordem pública (Nelson Nery Júnior, Teoria Geral dos Recursos, 7a.
ed., RT: São Paulo). Essa conclusão inspirou a Súmula 325 desta Corte, segundo a
qual a remessa oficial devolve ao Tribunal o reexame de todas as parcelas da
condenação suportadas pela Fazenda Pública, inclusive os honorários de advogado.

11. De qualquer forma, essa questão mostra-se acessória e não


interfere no resultado do recurso, uma vez que a conclusão do Tribunal a quo pela
indispensabilidade da exibição de todas as guias de importação com a inicial da ação
declaratória não encontra eco na orientação desta Corte Superior de Justiça.

12. Com efeito, este STJ tem entendido que essa prova não diz com o
direito da parte, que, nesse momento, deve comprovar a sua legitimidade ad causam e
o seu interesse, mas com o quantitativo a ser restituído, no caso de procedência do
pedido.

13. Veja que fora requerida a declaração de ilegalidade e


inconstitucionalidade da suspensão do benefício criado pelo Decreto-Lei 491/69
(crédito-prêmio de IPI), pelo Decreto-Lei 1.724/79 e pela Portaria 960/79 do Ministério da
Fazenda, e, consequentemente, a restituição/compensação dos valores não usufruídos
durante o período referido na inicial (na forma da legislação de regência, com os
acréscimos financeiros devidos).

14. Assim, a prova indispensável era a de ser a autora empresa


exportadora de produtos manufaturados, inserida no contexto do incentivo fiscal; a
comprovação do total das operações realizadas no período, e, consequentemente, do
valor a ser compensado/restituído, porque necessariamente ilíquida a sentença a ser
proferida, como o foi, poderia perfeitamente ser relegada para a fase de liquidação.

15. Sobre os documentos indispensáveis à propositura da ação,

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confira-se a precisa lição de CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO:

Por isso é que, numa perspectiva moderna do direito processual, o


poder de exigir o provimento de mérito é mais do que a mera ação,
considerada em sua tradicional feição estática. Não basta ter ação: é
preciso exercê-la adequadamente porque, sem o desempenho dos ônus
inerentes a ela, não chegará o sujeito ao desiderato de ter julgada sua
pretensão.

Essa premissa sistemática legitima as exigências, que a lei faz e


neste caso mostram-se relevantes, de uma demanda regularmente
deduzida, como elemento indispensável à constituição de um processo
viável. Essa exigência, qualificada como pressuposto processual, inclui a
própria apresentação de uma demanda (nemo judez sine actore) e a
presença de certos requisitos nela, como (pelo que interessa ao presente
caso) a adequada e explícita narração de fatos que em tese sejam
suficientes para a outorga da tutela jurisdicional. A exigência de uma causa
petendi adequada cumpre, a um só tempo, a dúplice finalidade de (a)
delimitar o âmbito da tutela jurisdicional possível no caso, uma vez que fora
dos limites da demanda o juiz não pode pronunciar-se (CPC, art. 128), e (b)
oferecer ao demandado elementos para a defesa eficiente.

Mas é óbvio que a medida dessa exigência é dada pelo contexto da


própria demanda, especialmente pelo modo como em cada caso concreto
veio equacionado o pedido. É dada também pelo limites da decisão possível.
Assim, a mesma narrativa pode ser insuficiente para para a concessão de
uma sentença líquida, mas bastante para a prolação de uma condenação
(parcial ou mesmo integral) a ser liquidada no futuro. Pode ser insuficiente
como requisito inicial para a procedência integral, mas suficiente para a
parcial procedência. Pode ser insuficiente para a propositura de uma ação
executiva, na qual se exige a particularizada demonstração dos cálculos do
valor líquido cobrado (CPC, arts. 604 e 614), mas bastar para legitimar a
iniciativa de um processo de conhecimento.

(...).

No processo de conhecimento, em que tudo se passa


diferentemente, não haveria porque exigir desde logo a pronta indicação do
quantum debeatur pelo autor (em certos casos, ele pode até deduzir pedido
genérico: art. 286) e muito menos a demonstração do acerto do valor que
ele indique. Tudo isso se remete às fases procedimentais adequadas,
sendo objeto dos meios de prova que oportunamente se desencadearem.
(Cândido Rangel Dinamarco, Fundamentos do Processo Civil Moderno, 3a.

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ed., Malheiros Editores: São Paulo, 2000, p. 447/454).

16. A jurisprudência desta Corte Superior, em diversas oportunidades,


já se manifestou pela possibilidade de juntada da prova demonstrativa do quantum
debeatur em liquidação de sentença, estando comprovada a divergência jurisprudencial,
no ponto. Confira-se, a propósito, os seguintes julgados:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO.


CRÉDITO-PRÊMIO DO IPI. OMISSÕES E CONTRADIÇÕES. OFENSA AO
ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF. DOCUMENTOS
INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA AÇÃO DE REPETIÇÃO DE
INDÉBITO. ART. 283 DO CPC. JUNTADA DE NOVOS DOCUMENTOS NA
LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE
OFENSA À COISA JULGADA.

(...).

4. Os documentos indispensáveis à propositura da ação de


ressarcimento de créditos decorrentes de benefícios à exportação são
aqueles hábeis a comprovar o direito da empresa no período questionado.
A verificação do quantum debeatur pode ser postergada para a liquidação,
permitindo-se a juntada de novos documentos que comprovem as
operações de exportação realizadas pela exeqüente.

5. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, não


provido (REsp. 894.858/DF, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe 01/09/2008).

² ² ²

PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO – IPI - CRÉDITO PRÊMIO -


JUNTADA DE DOCUMENTOS NA FASE DE LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA –
POSSIBILIDADE – NÃO INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL VIOLADO –
SÚMULA 284/STF – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

1. Segundo a jurisprudência do STJ, a verificação do quantum


debeatur pode ser postergada para a liquidação, permitindo-se a juntada de
novos documentos que comprovem as operações de exportação realizadas
pela exequente. Precedentes: REsp. 1.048.624/DF, Rel. Min. Eliana
Calmon, Segunda Turma, DJe 18.2.2009; REsp. 685.170/DF, Rel. Min. João
Otávio de Noronha, Segunda Turma, DJ 10.8.2006, p. 201.

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2. No que se refere à alíquota aplicável, a recorrente não
demonstrou, no recurso especial, a ofensa à Lei Federal no que se refere
ao tema da revogação da resolução CIEX 2/79. Incidência, por analogia, da
Súmula 284/STF.

3. Quanto à fixação de honorários advocatícios, esta Corte


Superior, via de regra, mantém o valor estabelecido na origem, por força do
óbice da Súmula 7/STJ; todavia, em situações excepcionais, quais sejam,
condenação em patamares ínfimos ou exorbitantes, a jurisprudência deste
Tribunal autoriza a revisão do quantum fixado no acórdão a quo, o que é o
caso dos autos.

Agravo regimental improvido (AgRg no REsp. 1.067.126/DF, Rel.


Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 07.06.2010)

² ² ²

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ART. 535 DO CPC. SÚMULA


284/STF. CRÉDITO-PRÊMIO DE IPI. FASE DE EXECUÇÃO. RESOLUÇÃO
CIEX 2/1979. ENTENDIMENTO DA SEGUNDA TURMA. VALIDADE.
ALTERAÇÃO DAS ALÍQUOTAS. SÚMULA 211/STJ. EXPURGOS
INFLACIONÁRIOS. APLICABILIDADE. TABELA DE CÁLCULO DA JUSTIÇA
FEDERAL. ADOÇÃO. APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS.
POSSIBILIDADE. SENTENÇA EXEQUENDA ANTERIOR À LEI 9.250/1995.
INCLUSÃO DA SELIC. POSSIBILIDADE. CONVERSÃO DA OTN PARA O
BTN. FATOR. SÚMULA 211/STJ. REDUÇÃO DOS HONORÁRIOS.

(...).

5. Considerando que o TRF aferiu que a sentença foi ilíquida,


remetendo à liquidação a apresentação dos documentos comprobatórios
das exportações, sua juntada na presente fase não viola a coisa julgada ou
a preclusão. Precedente da Segunda Turma.

(...).

11. Recurso Especial parcialmente provido (REsp.


1.185.202/DF, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 13/09/2011)

² ² ²

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL.

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ACÓRDÃO QUE JULGOU OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. VIOLAÇÃO
DO ARTIGO 535, I, DO CPC. OMISSÃO. ERRO MATERIAL.
CONTRADIÇÃO. INOCORRÊNCIA. CRÉDITO-PRÊMIO DO IPI.
CORREÇÃO MONETÁRIA. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS.
JURISPRUDÊNCIA FIRMADA NA PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. APLICAÇÃO.
CONVERSÃO DA OTN PARA BTN.

(...).

3. A insurgência empresarial e fazendária, fundada na


alegada violação dos artigos 467, 468, 471 a 474, e 610 do CPC, não
merece prosperar, uma vez que não se vislumbra ofensa à coisa julgada
pelo acórdão que tão-somente esclareceu os limites da decisão exeqüenda,
consoante se infere da leitura do seguinte excerto: o título judicial em
execução não determina sejam os cálculos da restituição realizados com
base, tão-somente, nos documentos apresentados na fase probatória. A
referência aos documentos de fls. 29/61 dos autos do processo de
conhecimento foi a título explicativo. Em outras palavras: eles apenas
demonstraram para o juiz sentenciante que a autora tinha direito, porque
exportou produtos classificados na posição que menciona, à percepção do
crédito-prêmio do IPI. Com efeito, a sentença assegurou o direito a receber
os valores decorrentes do crédito-prêmio do IPI no período a que se refere
sem se ater, de forma conclusiva, aos documentos que instruíram o feito.
Logo, a questão de direito prevaleceu no julgado, e não a questão de fato.
Nesse cenário, nada mais justo que o exequente produza, na execução, os
documentos hábeis para amparar o direito já reconhecido na sentença que
transitou em julgado, ainda que tenham origem em data anterior ao
ajuizamento da ação cognitiva. Isso porque não inovam a lide. Desde que os
documentos refiram-se às exportações de produtos que conferem ao
exeqüente direito ao crédito-prêmio do IPI, e alberguem o período
consignado na sentença, eles podem servir de cálculo para a execução,
cabendo à Fazenda Nacional sobre eles se manifestar. (...) Assim, a
sentença merece ser reformada para que a execução prossiga com base
nos documentos apresentados na execução, desde que preencham os
requisitos legais e sejam relativos ao período albergado no título judicial
exeqüendo.

(...).

6. A fluência dos juros de mora deve observar o trânsito em


julgado da decisão final, máxime tendo em vista que não se pode falar em
parte incontroversa porquanto a decisão final, conforme se depreende dos
autos desses embargos à execução, modificou o período do ressarcimento

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do crédito-prêmio do IPI (acórdão que julgou a apelação).

7. A correção monetária plena é mecanismo mediante o qual


empreende-se a recomposição da efetiva desvalorização da moeda, com o
escopo de se preservar o poder aquisitivo original, sendo certo que
independe de pedido expresso da parte interessada, não constituindo um
plus que se acrescenta ao crédito, mas um minus que se evita.

(...) (REsp. 980.831/DF, Rel. Min. LUIZ FUX, DJe 29/06/2009)

17. No REsp. 894.858/DF, acima citado, a ilustre Relatora bem


explicitou a controvérsia, razão pela qual transcrevo o voto condutor do acórdão, no que
interessa:

No mérito, resta para julgamento a tese de violação dos arts. 283,


396 e 610 do CPC, sob o alegação de que não poderia o Tribunal ter
permitido a juntada, na fase de liquidação do julgado, de documentos novos
relativos a novas causas de pedir (novas guias de exportação).

Verifico que a sentença de conhecimento julgou a questão relativa


ao crédito-prêmio do IPI de forma abstrata, reconhecendo simplesmente o
direito ao benefício no período de 01.04.81 a 30.04.85. Não aludiu
expressamente a valores representados em guias de exportação, deixando
entender, no entanto, que o levantamento ficaria para a execução,
naturalmente. Veja-se, a propósito, o conteúdo da parte dispositiva da
sentença, como indicado às fls. 209 dos autos do apenso 1.

Se assim foi proferida a sentença, não se pode aceitar a figura da


preclusão, porquanto é justamente na fase de liquidação do julgado que se
apurará o an debeatur, quantificando-se o montante do crédito-prêmio do
IPI pelas anotações constantes das guias de exportação, conforme
entendimento da Corte de origem não impugnado pela recorrente.

A hipótese dos autos se assemelha à da repetição de indébito


tributário, em que não se exige do autor a juntada de todos os
comprovantes de recolhimento do tributo, providência que deverá ser levada
a termo quando da apuração do montante que se pretende restituir, em
sede de liqüidação do título executivo judicial.

De fato, com relação aos documentos que devem instruir a inicial


na ação de repetição de indébito tributário, Fábio Tabosa preceitua que:

De um modo geral, indispensáveis são antes de mais nada

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aqueles voltados a demonstrar os pressupostos processuais e as
condições da ação. (...)
... no campo dos pressupostos processuais, cuida-se da
apresentação de documentos destinados a demostrar o
preenchimento daqueles de cunho subjetivo, basicamente os
ligados à capacidade processual e à representação em juízo das
partes (Código de Processo Civil Interpretado. São Paulo: Atlas,
2004. P. 1.211)
Deflui-se, portanto, que, em sede de ação de repetição de indébito,
os documentos indispensáveis mencionados pelo art. 283 do CPC são
aqueles hábeis a comprovar a legitimidade ativa ad causam do contribuinte
que arcou com o pagamento indevido da exação.

Cassio Scarpinella Bueno, examinando o art. 283 do CPC, afirma


que:

A doutrina costuma referir-se a tais documentos como


aqueles sem os quais não há como fazer prova do alegado pelo
autor, tratando-os, em última análise, como casos de prova legal.
Quando menos, que os "documentos indispensáveis" são aqueles
sem os quais é inconcebível o julgamento do mérito porque se
referem diretamente à causa de pedir descrita na petição inicial
(art. 282, III), vale dizer aos fatos constitutivos do direito do autor
(Código de Processo Civil Interpretado. São Paulo: Atlas, 2004. P.
869)
Dejalma de Campos, analisando questão em torno da ação de
repetição de indébito, assevera que:

A ação deve ser instruída com a documentação que


convença da legitimidade do pagamento contra o qual se volta e
deve ser proposta no prazo de cinco anos a contar do pagamento.
(Processo Judicial Tributário. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2004. P. 96)
No presente caso, da mesma forma, o que se exige do autor no
momento em que dá início à ação de conhecimento é a prova de que era
exportador no período em que alega fazer jus ao beneficio do
crédito-prêmio do IPI, o que pode ser feito com a juntada de apenas uma ou
algumas guias de exportação. Nada impede (ao contrário: recomenda-se)
que no momento da liquidação, venha o exequente anexar às planilhas de
cálculo do quantum debeatur os comprovantes das operação de exportação
que realizou, o que possibilita, inclusive, à executada, FAZENDA
NACIONAL, a impugnação concreta de eventuais excessos de execução.
Nesse sentido:

PROCESSO CIVIL. CRÉDITO-PRÊMIO IPI. RESTITUIÇÃO.


LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. POSSIBILIDADE DE JUNTADA DE

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DOCUMENTOS NOVOS. VIOLAÇÃO DO ART. 610 DO CPC.
NÃO-OCORRÊNCIA. INOVAÇÃO DA LIDE. SÚMULA 7/STJ.
DISSÍDIO PRETORIANO. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA.
NÃO-CONHECIMENTO.
1. A liquidação de sentença deve guardar consonância
com o decidido no processo de conhecimento, de forma que se
afigura defeso, naquela fase processual, modificar a sentença que
julgou a lide ou mesmo utilizar de critérios outros que não aqueles
estabelecidos pela decisão exeqüenda. De outra parte, não é
vedado que se junte documentos na fase de liquidação que tenham
por fim único a apuração o valor aritmético da quantia objeto de
execução.
(...).
4. Recurso especial não-conhecido. (REsp.
685.170/DF, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
SEGUNDA TURMA, julgado em 27.06.2006 p. 201). (DJe
01.09.2008).

18. Com efeito, a presente ação, por assemelhar-se à de repetição de


indébito, deve ter a mesma solução dada por ocasião do julgamento do REsp.
1.111.003/PR, relatado pelo ilustre Ministro HUMBERTO MARTINS, também julgado
pelo regime do art. 543-C do CPC, onde restou consignado o seguinte:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO. TAXA


DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA. MUNICÍPIO DE LONDRINA.
DESNECESSIDADE DE APRESENTAÇÃO DE TODOS OS
COMPROVANTES DE PAGAMENTO COM A INICIAL. APURAÇÃO DO
"QUANTUM DEBEATUR" NA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA.

1. De acordo com a jurisprudência pacífica do STJ, em ação


de repetição de indébito, no Município de Londrina, os documentos
indispensáveis mencionados pelo art. 283 do CPC são aqueles hábeis a
comprovar a legitimidade ativa ad causam do contribuinte que arcou com o
pagamento indevido da exação.

2. Dessa forma, conclui-se desnecessária, para fins de


reconhecer o direito alegado pelo autor, a juntada de todos os
comprovantes de recolhimento do tributo, providência que deverá ser levada
a termo, quando da apuração do montante que se pretende restituir, em
sede de liquidação do título executivo judicial.

3. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da

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Superior Tribunal de Justiça
Resolução STJ 08/08.

4. Recurso especial improvido (DJe 25.05.2009).

19. Anote-se, por fim, que, nesses casos, esta Corte já decidiu que a
liquidação deve ser feita por artigos, para permitir o contraditório sobre toda a
documentação ofertada, o que mais corrobora a tese de desnecessidade de sua
juntada com a inicial da ação de conhecimento. A propósito:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. IPI. CRÉDITO-PRÊMIO. PRÉVIA LIQUIDAÇÃO POR
ARTIGOS.

NECESSIDADE. ALÍQUOTA. RESOLUÇÃO CIEX 2/79. AUSÊNCIA


DE COMPROVAÇÃO DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL.

1. Agravos regimentais interpostos pela contribuinte e pela


Fazenda Nacional contra decisão que proveu o recurso especial desta
última, cuja controvérsia reside no procedimento a ser adotado para a
liquidação de crédito-prêmio de IPI.

2. No que concerne ao agravo regimental da contribuinte, a


jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento
de que a liquidação de sentença que concede crédito-prêmio de IPI, na qual
se junta documento novo não discutido no processo de conhecimento, não
depende apenas da elaboração de meros cálculos aritméticos, mas, sim, de
dilação probatória pela qual se apure as exportações efetivamente
realizadas pelo contribuinte, motivo porque a execução de tais valores exige
prévia liquidação por artigos, procedimento em que é assegurado o
contraditório e a ampla defesa. Precedentes: REsp 1.115.444/DF, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 13/10/2010; REsp
839.473/DF, Rel. Ministra Denise Arruda, Rel. p/ Acórdão Ministro Luiz Fux,
Primeira turma, DJe 24/06/2009; entre outros.

(...).

4. Agravos regimentais não providos. (AgRg no REsp.


1.208.431/DF, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, DJe 17.10.2011)

20. No caso, nessa oportunidade, por se tratar de reconhecimento de

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Superior Tribunal de Justiça
crédito-prêmio de IPI, a parte deverá apresentar documentos suficientes à comprovação
da efetiva operação de exportação, bem como o ingresso de divisas no País, sem o que
não se habilitará à fruição do benefício, mesmo estando ele reconhecido na sentença.

21. Quanto aos juros de mora, é pacífica a orientação desta Corte de


que estes são cabíveis em ações como a destes autos, mas a partir do trânsito em
julgado da sentença. Assim, como não houve ainda o referido trânsito, somente poderá
incidir a Taxa SELIC. Nesse sentido:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL.


PRESENÇA DE OBSCURIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
ACOLHIDOS SEM EFEITOS INFRINGENTES. CRÉDITO PRÊMIO DE IPI.
CRÉDITOS PASSÍVEIS DE APROVEITAMENTO. DELIMITAÇÃO.
SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. SÚMULA N. 306/STJ. INCIDÊNCIA DE
CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA. APLICAÇÃO DA TAXA
SELIC.

1. É devido o crédito-prêmio do IPI para as exportações


realizadas entre 1.3.1984 e 30.4.1985, pois são esses os créditos passíveis
de aproveitamento para o presente caso, já que a sentença restringiu o
pedido às exportações realizadas entre 1.4.1981 e 30.4.1985 e quanto a
isso não houve recurso (apelação) das embargantes, sendo que o
ajuizamento da ação se deu em 1.3.1989.

2. Constatação que tem reflexo direto na sucumbência que


deve ser fixada de forma recíproca, já que a embargante restou vencedora
para as exportações realizadas entre 1.3.1984 (inclusive) e 30.4.1985
(inclusive) e vencida para as exportações realizadas de 1.4.1981 (inclusive)
a 1.3.1984 (exclusive). Aplicação do enunciado 306 da Súmula do STJ: Os
honorários advocatícios devem ser compensados quando houver
sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à
execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria parte.

3. A Primeira Seção do STJ firmou entendimento de que, em


se tratando de crédito-prêmio do IPI, deve-se efetuar a conversão da moeda
estrangeira em nacional, com base na taxa cambial oficial referente à data
da exportação dos produtos, de acordo com o art. 2o. do Decreto-lei 491/69
(EREsp. 38.953/DF, Primeira Seção, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
23.8.2006).

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Superior Tribunal de Justiça
4. Efetuada a conversão, os valores transformam-se em débito
judicial e, como tal, merecem o tratamento dispensado pelo STJ, que
permite a aplicação dos expurgos inflacionários (REsp. 931.741/SP,
Segunda Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 8.4.2008).

(...).

7. Pacificou-se, a jurisprudência no sentido de que, na


repetição do indébito, os juros de mora devem ser aplicados a partir do
trânsito em julgado da decisão definitiva e de que, a partir de 01/01/96,
início da vigência da Lei 9.250/95, aplica-se somente a taxa SELIC, que
compreende correção monetária e juros de mora. Assim, para as demandas
ainda em curso aplica-se tão-somente a SELIC (REsp. 931.741/SP,
Segunda Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 8.4.2008).

(...).

9. Embargos de declaração acolhidos sem efeitos infringentes


(EDcl no REsp. 465.097/RS, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe
08.09.2009)

² ² ²

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. CRÉDITO-PRÊMIO DO IPI –


TERMO A QUO DA PRESCRIÇÃO. DATA DA PROPOSITURA DA AÇÃO.
CORREÇÃO MONETÁRIA. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. PLANO REAL .
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO: SÚMULA 282/STF.
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE: SÚMULA 284/STF. OFENSA AOS ARTS.
535, 128, 460, 475 e 515 DO CPC: INEXISTÊNCIA.

(...).

9. Pacificou-se, também, a jurisprudência no sentido de que,


na repetição do indébito, os juros de mora devem ser aplicados a partir do
trânsito em julgado da decisão definitiva e de que, a partir de 01/01/96,
início da vigência da Lei 9.250/95, aplica-se somente a taxa SELIC, que
compreende correção monetária e juros de mora. Assim, para as demandas
ainda em curso aplica-se tão-somente a SELIC.

10. Recurso conhecido em parte e, nessa parte, provido


parcialmente (REsp. 931.741/SP, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe
18.04.2008).

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22. Quanto aos honorários, devem ser mantidos aqueles fixados na
sentença, pois suficientes para remunerar adequadamente o trabalho profissional.

23. Ante o exposto, dá-se provimento ao Recurso Especial. Acórdão


submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Res. 8/STJ.

24. É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
PRIMEIRA SEÇÃO

Número Registro: 2007/0132107-8 REsp 959.338 / SP

Número Origem: 89030327233

PAUTA: 29/02/2012 JULGADO: 29/02/2012

Relator
Exmo. Sr. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MOACIR GUIMARÃES MORAES FILHO
Secretária
Bela. Zilda Carolina Véras Ribeiro de Souza

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : HÉVEA INDÚSTRIA DE PLÁSTICOS LTDA
ADVOGADO : DOMINGOS NOVELLI VAZ E OUTRO(S)
RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL
PROCURADORES : SÉRGIO AUGUSTO G PEREIRA DE SOUZA E OUTRO(S)
CLAUDIO XAVIER SEEFELDER FILHO

ASSUNTO: DIREITO TRIBUTÁRIO - Impostos - IPI/ Imposto sobre Produtos Industrializados

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Seção, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves, Cesar Asfor Rocha,
Teori Albino Zavascki, Humberto Martins e Herman Benjamin votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Francisco Falcão.
Licenciado o Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima.

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