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Superior Tribunal de Justiça

AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.797.688 - PE (2019/0042526-1)

RELATOR : MINISTRO OG FERNANDES


AGRAVANTE : JOSÉ AMARO DOS SANTOS
ADVOGADOS : SANDRO ROBERTO BELTRÃO FARIAS - PE023006
LYANE BEZERRA DE MENEZES LUCENA - PE048158
AGRAVADO : FUNDAÇÃO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA DE
PERNAMBUCO-HEMOPE
ADVOGADO : JEOVANI RODRIGUES NEIVA - PE026263
EMENTA

PROCESSO CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.


RESPONSABILIDADE CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
PENSIONAMENTO. PRETENSÃO DE RECEBER POR PARCELA
ÚNICA. MOMENTO DO REQUERIMENTO. FASE DE CONHECIMENTO.
DIREITO POTESTATIVO. AUSÊNCIA. PRECLUSÃO. AUSÊNCIA.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO NULLA EXECUTIO SINE TITULO.
CONHECIMENTO DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE. RECURSO NÃO
PROVIDO.
1. A regra contida no art. 950, parágrafo único, do Código Civil, ao
explicitar que "o prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização
seja arbitrada e paga de uma só vez", apenas pode ser suscitada pela
parte interessada na fase de conhecimento, pois é o momento que a
indenização é arbitrada e que são aferidas as circunstâncias exigidas no
caput do mencionado normativo para a substituição do regime de pensão.
2. No caso, o aresto recorrido concluiu que o requerimento para o
pagamento da pensão por meio de parcela única apenas ocorreu na fase
de execução, não tendo constado do título judicial transitado em julgado. A
modificação desse ponto é vedada no âmbito do apelo especial, haja vista
a incidência da Súmula 7/STJ.
3. Não se opera preclusão para o Juízo de origem reconhecer a
impossibilidade da conversão do pensionamento em parcela única,
devendo prevalecer o princípio da "nulla executio sine titulo".
4. Além disso, a aplicação do art. 950, parágrafo único, do Código Civil
não se configura como direito potestativo da parte, cumprindo ao juiz
avaliar a possibilidade de pagamento por meio de parcela única à luz das
circunstâncias do caso concreto. Precedentes.
5. Agravo interno a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça,
por unanimidade, negar provimento ao agravo interno, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães,
Francisco Falcão e Herman Benjamin votaram com o Sr. Ministro Relator.
Documento: 1849954 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/08/2019 Página 1 de 4
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Brasília, 13 de agosto de 2019(Data do Julgamento).

Ministro Og Fernandes
Relator

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AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.797.688 - PE (2019/0042526-1)

AGRAVANTE : JOSÉ AMARO DOS SANTOS


ADVOGADOS : SANDRO ROBERTO BELTRÃO FARIAS - PE023006
LYANE BEZERRA DE MENEZES LUCENA - PE048158
AGRAVADO : FUNDAÇÃO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA DE
PERNAMBUCO-HEMOPE
ADVOGADO : JEOVANI RODRIGUES NEIVA - PE026263

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO OG FERNANDES: Trata-se de agravo interno


manejado por José Amaro dos Santos contra decisão que negou provimento ao
recurso especial.
O agravante sustenta que o pleito para pagamento da pensão em parcela
única foi deduzido desde a fase de conhecimento, de modo que deveria ser afastado o
argumento de que inexistiu inovação no cumprimento de sentença.
Afirma que a decisão combatida contrariou o disposto no art. 950,
parágrafo único, do Código Civil, sendo direito do prejudicado exigir que a indenização
seja arbitrada e paga de uma só vez, inclusive, quando a pretensão é apenas
apresentada no cumprimento de sentença. Cita a existência de precedentes do STJ no
mesmo sentido da pretensão deduzida no apelo especial.
Reitera a alegativa de que houve preclusão quanto à forma de pagamento
pleiteada pelo ora agravante por não ter a Fundação de Hematologia e Hemoterapia
de Pernambuco – Hemope impugnado a execução no momento oportuno.
Acrescenta o seguinte (e-STJ, fls. 902-903):

E mais, além de não ter apresentado os competentes embargos à


execução, a fundação agravada sequer indicou o valor que reputa devido
e/ou apresentou memória de cálculos, o que veda o conhecimento da
matéria pelo Juízo da Execução, segundo dicção do art. 739-A, § 5º, do
CPC/73, então vigente,
[...]
Portanto, ao acolher o excesso de execução sem que a fundação
agravada tenha indicado o valor que reputa correto e/ou tenha
apresentado demonstrativo de cálculo, o acórdão recorrido e/ou a decisão
agravada afrontou também a disposição contida no art.
739-A, § 5º, do CPC/73, então vigente, que corresponde ao art. 917, §§ 3º
e 4º, I, do NCPC.

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Requer a reforma da decisão agravada para que seja dado provimento ao
recurso especial.
A parte agravada apresentou impugnação às e-STJ, fls. 908-916.
É o relatório.

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VOTO

O SR. MINISTRO OG FERNANDES (Relator): O aresto recorrido


asseverou que a pretensão de obter o pagamento da pensão por meio de parcela
única apenas ocorreu na fase de execução, não tendo constado do título judicial
transitado em julgado.
Não é possível modificar tal premissa fática na seara extraordinária, tendo
em vista o óbice da Súmula 7/STJ: "A pretensão de simples reexame de prova não
enseja recurso especial."
Logo, o cerne da controvérsia a ser apreciada por esta Corte Superior diz
respeito ao momento de se buscar a aplicação do art. 950, parágrafo único, do Código
Civil; à existência de preclusão para a parte interessada impugnar o pleiteado
pagamento da pensão por meio de parcela única; ou se a matéria poderia ser
conhecida de ofício pela instância de origem.
A decisão agravada, nesse particular, é irretocável, consoante se observa
na seguinte transcrição (e-STJ, fls. 881-885):

A regra contida no art. 950, parágrafo único, do Código Civil, ao explicitar


que "o prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja
arbitrada e paga de uma só vez", apenas pode ser suscitada pela parte
interessada na fase de conhecimento, pois é o momento que a
indenização é arbitrada e que são aferidas as circunstâncias exigidas no
caput do mencionado normativo para a substituição do regime de pensão.
Transcrevo, a título elucidativo, o dispositivo legal em referência:

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não


possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a
capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do
tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá
pensão correspondente à importância do trabalho para que se
inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a
indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.

No caso, consoante bem acentuou o aresto recorrido, o pedido de


pagamento em parcela única apenas foi aduzido no momento da
execução, sendo incompatível com o título judicial exequendo.
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Os precedentes indicados pelo insurgente não se aplicam ao caso, pois
não tratam da possibilidade de aplicação do art. 950, parágrafo único, do
Código Civil em execução.
No tocante à preclusão, deve-se salientar que o referido instituto não se
opera quando a pretensão executória destoa, manifestamente, do título
judicial exequendo, incidindo, na espécie, o princípio da nulla executio sine
titulo.
Nos termos constantes do aresto recorrido (e-STJ, fls. 645-646):

O caso em comento trata da possibilidade de alterar título executivo


que prevê a pensão mensal em favor do autor, até os setenta anos,
no valor equivalente a cinco salários mínimos, para que o
pagamento seja realizado de forma imediata e em parcela única.
[...]
Consoante se infere da parte dispositiva do aresto executado, não
houve determinação judicial no sentido de que o pagamento da
pensão mensal vitalícia ocorresse através de uma parcela única,
razão pela qual, a pretensão de executar a obrigação desta forma
extrapola os limites da coisa julgada, fazendo incidir na espécie o
princípio da "nulla executio sine titulo".
Também não há o que se falar em preclusão da pretensão de
requerer a realização do pagamento em parcelas mensais, pois o
pagamento da pensão em cota única está em total desacordo com o
próprio título executivo e acoberta o enriquecimento ilícito do credor.
A ausência de oposição de embargos ou impugnação à execução
pela agravante não justifica que o cumprimento da obrigação seja
realizado de forma diversa da assentada no título executivo judicial.

Saliente-se que a situação em tela revela a cobrança de uma indenização


não prevista no título judicial exequendo, ou ainda inexigível, haja vista que
a condenação fez referência apenas ao pensionamento, nada dispondo
sobre a sua conversão em única parcela indenizatória. Logo, o caso em
tela não se confunde com o mero excesso de execução, tampouco se
trata de meros erros de cálculo.
Em tal contexto, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de que as
instância ordinárias podem conhecer de ofício as questões atinentes aos
requisitos constitutivos do título executivo, a exemplo da certeza, liquidez
e exigibilidade, pois é matéria de ordem pública não sujeita à preclusão.
Nesse sentido (grifos acrescidos):

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL.


EXECUÇÃO FISCAL. CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO
PROFISSIONAL. ANUIDADES. OFENSA AO ART. 1.022 DO
CPC/2015. INEXISTÊNCIA. REQUISITOS CONSTITUTIVOS DO
TÍTULO EXECUTIVO. CONHECIMENTO DE OFÍCIO PELAS
INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. POSSIBILIDADE. AFERIÇÃO DA
CERTEZA E LIQUIDEZ DA CDA. REEXAME DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
7/STJ.
Documento: 1849954 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/08/2019 Página 6 de 4
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1. Inexiste ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015, pois o acórdão
recorrido se manifestou de forma clara e fundamentada sobre a
matéria posta em debate na medida necessária para o deslinde da
controvérsia.
2. Hipótese em que o Tribunal de origem, no julgamento dos
segundos Embargos de Declaração, foi enfático no sentido de que
"a cobrança das anuidades ocorre através de um título executivo, e a
liquidez e certeza do título são condições do processo executório
(nulla executio sine titulo). Assim, a cobrança não terá condições de
prosseguir se existirem vícios objetivos no título atinentes à certeza,
liquidez e exigibilidade" (fl. 188, e-STJ).
3. O STJ tem jurisprudência firmada no sentido de "ser
possível o conhecimento de ofício pelas instâncias ordinárias
das questões referentes aos requisitos constitutivos do título
executivo (certeza, liquidez e exigibilidade), porquanto
trata-se de matéria de ordem pública que não se submete aos
efeitos da preclusão." (AgRg no REsp 1.350.305/RS, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em
5/2/2013, DJe 26/2/2013).
4. É assente na jurisprudência do STJ que a aferição da certeza e
liquidez da CDA, bem como da presença ou não dos requisitos
essenciais à sua validade implica reexame do conjunto
fático-probatório dos autos, o que é vedado, nesta instância
especial, em face do óbice constante da Súmula 7/STJ.
Precedentes: AgRg no REsp 1.434.773/PR, Rel. Min. Humberto
Martins, DJe de 25.8.2015; AgRg no AREsp 392.057/RS, Rel. Min.
SÉRGIO KUKINA, DJe 21.8.2015.
5. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não
provido.
(REsp 1.644.180/RS, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 7/3/2017, DJe 19/4/2017)

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE


TÍTULO JUDICIAL CONTRA A FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL.
ANUÊNCIA DO ESTADO EMBARGADO COM CÁLCULOS DO
EXEQÜENTE. TRANSCURSO IN ALBIS DO PRAZO PARA
OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DO DEVEDOR. HOMOLOGAÇÃO
DOS CÁLCULOS. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.
NULIDADE. INEXISTÊNCIA DE TÍTULO EXECUTIVO. EXTINÇÃO
DO PROCESSO DE EXECUÇÃO. COISA JULGADA. FENÔMENO
EXCLUSIVO DOS PROCESSOS DE COGNIÇÃO.
INOCORRÊNCIA, IN CASU, DE PRECLUSÃO PRO IUDICATO.
1. Recurso especial no qual a controvérsia gravita em torno de
saber-se, se na execução, a não oposição de embargos do devedor
e a consequente homologação dos cálculos são aptos a gerar a
coisa julgada capaz de validar o processo executivo, obstando
inclusive, a decretação da nulidade do feito pelos juízos de cognição
plena na hipótese em que, após a expedição do precatório, mas
antes de seu efetivo pagamento, a parte executada demonstra
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cabalmente a inexistência de título executivo a instruir a ação
executiva, via "exceção de pré-executividade".
2. In casu, a Corte de origem, mediante análise do conjunto fático
probatório carreado nos autos, assentou o entendimento de que: "No
caso dos autos, não há a mínima evidência de que a exeqüente
esteja vinculada ao título judicial, o que autorizava o decreto extintivo
da execução, como lançado pelo operoso magistrado singular".
3. O processo de execução guarda a finalidade de realizar direito já
declarado, quer por meio de sentença condenatória, quer por
documento extrajudicial a que a lei reconheça o poder de conferir à
obrigação certeza, liquidez e exigibilidade.
4. Deveras, é justamente pela impossibilidade de se discutir, na
execução, direito substancial das partes que, consoante o disposto
na própria norma processual, "toda execução tem por base título
executivo judicial ou extrajudicial" (CPC, art. 583).
5. O título executivo é assim, por expressa determinação legal,
pressuposto de qualquer demanda executiva, o que revela
inconteste a máxima nulla executio sine titulo. Nesta esteira, a
lição de HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, litteris: "Mais
grave do que a iliquidez, a incerteza ou a inexigibilidade é a
própria ausência do título executivo. E evidente que nenhum
credor pode iniciar a execução sem título executivo. Mas se
por descuido do órgão judicial foi despachada uma petição
inicial sem esse pressuposto básico da execução, é claro que
será nulo todo o processado.
O mesmo pode ser dito da desconformidade entre o título executivo
e o pedido do credor, como quando o título é de quantia certa e
pede-se coisa certa, é de fazer e reclama-se entrega de coisa.
Propor execução sem base no conteúdo do título é o mesmo
que propô-la sem título. A inicial é inepta e deve ser
liminarmente indeferida. Se isto não for feito, o processo
estará nulo." (in "Processo de Execução", 23.ª ed. São Paulo:
LEUD, 2005, p. 264)
6. Deveras, in casu, interdita-se a alegação de ofensa à coisa
julgada e conseqüente violação dos arts. 467, 468 e 474 do CPC. É
que sobressai cediço que a res judicata "é fenômeno próprio e
exclusivo da atividade de conhecimento do juiz e insuscetível de
configurar-se no plano de suas atividades executórias,
consequenciais e consecutivas" (in NEVES, Celso. "Coisa Julgada
Civil", ed. 1971, p. 452)
7. Outrossim, a ilegitimidade da exeqüente ou a inexistência do título
são fatos passíveis de cognição provocada ou ex officio, antes do
pagamento e até mesmo na fase do precatório por força do novel
dispositivo 1.º-E da Lei n. 9.494/97. Nesse segmento, expressivo o
aresto recorrido que concluiu, após ampla cognição interditada ao E.
STJ (Súmula n. 07): "[...] A apelante, então, e de fato, como decorre
da própria inconsistência das razões de seu recurso, não detêm
qualquer crédito decorrente do título judicial que estão a executar; a
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execução, portanto, era nula (art. 618 c/c 586 do CPC), e só podia
mesmo ter sido extinta, como foi, a qualquer tempo e mesmo
independentemente de embargos.
As matérias relacionadas com as condições da ação e
pressupostos processuais, como o são a de legitimidade das
partes, questão de indiscutível ordem pública, não se submetem à
preclusão para as instâncias ordinárias, podendo ser examinada a
qualquer tempo, mesmo de ofício pelo Juiz, enquanto estiver em
curso a causa, como decorre do que estabelecem os arts. 267, §
3.º, e 301, § 4.º, do CPC, o que ainda mais haveria de ser admitido
quando em jogo os interesses indisponíveis da Fazenda Pública.
[...]"
8. Destarte, eventual transação de direitos indisponíveis e por agente
incapaz é inutiliter data.
9. A regra nulla executio sine previa cognitio, bem como a aferição
da legitimidade do exeqüente, implicam em revisitar o conteúdo da
sentença, excepcionando a eficácia preclusiva do julgado; por isso
que, cediço em doutrina que: "[...] Propor execução sem base no
conteúdo do título é o mesmo que propô-la sem título. A inicial é
inepta e deve ser liminarmente indeferida. Se isto não for feito, o
processo estará nulo." (in THEODORO JÚNIOR, Humberto.
"Processo de Execução", 23.ª ed. São Paulo: LEUD, 2005, p. 264)
10. Inafastável, destarte, a aplicação ao processo sub judice das
disposições insertas nos arts. 583 c/c 618 do CPC, pelo que há de
ser mantido hígido decisum hostilizado, na medida em que "toda
execução tem que ter por base título executivo" e acertadamente
reconheceu-se a nulidade do feito por falta do mesmo, matéria
cognoscível mesmo após o prazo para a oposição de embargos à
execução.
11. Recurso especial desprovido.
(REsp 713.243/RS, Rel. Min. LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 11/4/2006, DJ 28/4/2006, p. 270).

Aplica-se, portanto, o mandamento contido no art. 618 do CPC/1973,


segundo o qual:

Art. 618. É nula a execução:


I - se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação
certa, líquida e exigível (art. 586); (Redação dada pela Lei n. 11.382,
de 2006).
II - se o devedor não for regularmente citado;
III - se instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrido o
termo, nos casos do art. 572.

Ademais, diferentemente do que alega o agravante, a aplicação do art.


950, parágrafo único, do Código Civil não se configura como direito potestativo da
parte, cumprindo ao juiz avaliar a possibilidade de pagamento por meio de parcela

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única à luz das circunstâncias do caso concreto. A propósito (sem destaques no
original):

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.


ACIDENTE EM VIA FÉRREA. AMPUTAÇÃO DE MEMBRO INFERIOR.
OFENSA AO ART. 535 DO CPC/73. NÃO OCORRÊNCIA.
PENSIONAMENTO MENSAL. PARCELA ÚNICA. ART. 950, PARÁGRAFO
ÚNICO, DO CÓDIGO CIVIL. PENSÃO VITALICIEDADE. REGRA
INCOMPATÍVEL. SÚMULA N. 83/STJ. DESPESAS MÉDICAS. PARCELA
UNA. DIREITO POTESTATIVO DA VÍTIMA. INEXISTÊNCIA. DESPESAS
MÉDICAS. ELEMENTOS DO CASO CONCRETO. SÚMULA N. 7/STJ.
DANOS MORAIS E ESTÉTICOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO. REEXAME DO ACERVO
FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA. N. 7/STJ. DECISÃO MANTIDA.
1. Não há afronta ao art. 535 do CPC/73 quando o Tribunal de origem
manifesta-se suficientemente sobre a questão controvertida, apenas
adotando fundamento diverso daquele perquirido pela parte.
2. O pagamento da pensão em parcela única, nos termos do art. 950,
parágrafo único, do Código Civil, é incompatível com a vitaliciedade.
Súmula n. 83/STJ.
3. Embora possível o pedido de pagamento em parcela única das
despesas com o tratamento e pensão temporária, conforme art. 950,
parágrafo único, do Código Civil, não se trata de direito potestativo
da vítima, devendo o julgador apreciar a necessidade e
possibilidade à luz do caso concreto, incluindo, nesse ponto, a
viabilidade financeira do réu. No caso, rever o que foi decidido
ensejaria reexame do acervo fático-probatório, inviável, conforme
Súmula n. 7/STJ.
4. Conforme entendimento pacífico do STJ, a revisão do quantum
indenizatório a título de danos morais e estéticos enseja o reexame
reexame do conjunto probatório carreado aos autos, o que encontra óbice
na Súmula n. 7/STJ, salvo nas hipóteses de exorbitância ou irrisoriedade
do valor.
5. Agravo interno não provido.
(AgInt no REsp 1.601.214/RJ, Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 9/4/2019, DJe 16/4/2019).

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE


TRÂNSITO. DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS.
PENSIONAMENTO MENSAL. INDENIZAÇÃO. MAJORAÇÃO. SÚMULA N.
7/STJ. DISSÍDIO NÃO CONFIGURADO. ARTIGO 950, PARÁGRAFO
ÚNICO, DO CÓDIGO CIVIL. PAGAMENTO EM ÚNICA PARCELA.
MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO. SÚMULA Nº 7/STJ.
1. Cuida-se, na origem, de ação indenizatória em virtude de acidente de
trânsito causador de sequelas graves à vítima que resultaram em perda
da capacidade laboral (agente de segurança) e sensorial (visão e olfato).
2. Tendo em vista que, no caso específico, o valor da indenização fixada a
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título de danos morais e estéticos não se apresenta flagrantemente
irrisório (R$ 30.000,00 - trinta mil reais), não há como se afastar o óbice
na Súmula nº 7/STJ quanto à pretensão de majorá-lo. Precedentes do
STJ.
3. A teor do artigo 950, parágrafo único, do Código Civil, nos casos
de redução da capacidade laboral ou incapacitação total da vítima,
esta poderá optar pelo pagamento da indenização de uma só vez,
no lugar do pensionamento mensal.
4. O pagamento de indenização em parcela única não se configura
em um direito absoluto da vítima, mas, caso requerido, deve ser
apreciado pelo julgador, que ponderará as circunstâncias do caso,
em especial, a capacidade econômica do ofensor.
5. Inviável modificar o acórdão que, à luz do acervo probatório, rejeitou o
pleito de pagamento indenizatório em parcela única, mantendo o
pensionamento mensal. Incidência da Súmula n. 7/STJ.
6. Recurso especial não provido.
(REsp 1.531.096/PR, Rel. Min. RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 17/5/2016, DJe 23/5/2016)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS. ACIDENTE DE TRÂNSITO QUE
DEIXOU O AUTOR PARAPLÉGICO. EMPRESA DE TRANSPORTE
CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. OMISSÃO DO ACÓRDÃO
RECORRIDO. INEXISTÊNCIA. MAJORAÇÃO DO VALOR DAS
INDENIZAÇÕES POR DANOS MORAIS E ESTÉTICOS. CABIMENTO.
PENSIONAMENTO MENSAL. PAGAMENTO EM PARCELA ÚNICA. ART.
950, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC. DESCABIMENTO, NO CASO.
NECESSIDADE DA CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL. SÚMULA 313/STJ.
JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. DATA DA CITAÇÃO. PROVIMENTO
PARCIAL APENAS DO RECURSO DO AUTOR.
1. Consoante dispõe o art. 535 do CPC destinam-se os embargos de
declaração a expungir do julgado eventuais omissão, obscuridade ou
contradição, não se caracterizando via própria ao rejulgamento da causa.
2. O dano moral decorrente da perda de parente, em regra, traduz-se em
abrandamento da dor emocional sofrida pela parte, mas que tende a se
diluir com o passar do tempo. Já nas hipóteses de amputação de
membros, paraplegias ou tetraplegias, a própria vítima é quem sofre
pessoalmente com as agruras decorrentes do ato ilícito praticado, cujas
consequências se estenderão por todos os dias da sua vida. No presente
caso, entre outras circunstâncias, o fato de o autor ter ficado paraplégico
quando tinha apenas 20 (vinte) anos de idade, no auge de sua juventude,
recomenda a majoração do valor da indenização por danos morais para
R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) e dos danos estéticos para R$
200.000,00 (duzentos mil reais).
3. A regra prevista no art. 950, parágrafo único, do CC, que permite o
pagamento da pensão mensal de uma só vez, não deve ser interpretada
como direito absoluto da parte, podendo o magistrado avaliar, em cada
caso concreto, sobre a conveniência de sua aplicação, a fim de evitar, de
um lado, que a satisfação do crédito do beneficiário fique ameaçada e, de
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outro, que haja risco de o devedor ser levado à ruína. Na espécie, a fim de
assegurar o efetivo pagamento das prestações mensais estipuladas,
faz-se necessária a constituição de capital ou caução fidejussória para
esse fim, nos termos da Súmula 313 deste Tribunal.
4. Nos casos de responsabilidade contratual, o termo inicial para a
incidência dos juros de mora é a data da citação.
5. Recurso especial do autor provido parcialmente e desprovido o recurso
da ré.
(REsp 1.349.968/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 14/4/2015, DJe 4/5/2015).

Ante o exposto, nego provimento ao agravo interno.


É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA

AgInt no
Número Registro: 2019/0042526-1 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.797.688 / PE

Números Origem: 00105208620114058300 08048834820164058300 08067934720174050000


8048834820164058300 8067934720174050000

PAUTA: 13/08/2019 JULGADO: 13/08/2019

Relator
Exmo. Sr. Ministro OG FERNANDES
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FRANCISCO FALCÃO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MOACIR GUIMARÃES MORAIS FILHO
Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : JOSÉ AMARO DOS SANTOS
ADVOGADOS : SANDRO ROBERTO BELTRÃO FARIAS - PE023006
LYANE BEZERRA DE MENEZES LUCENA - PE048158
RECORRIDO : FUNDAÇÃO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA DE
PERNAMBUCO-HEMOPE
ADVOGADO : JEOVANI RODRIGUES NEIVA - PE026263

ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO -


Responsabilidade da Administração - Indenização por Dano Moral

AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : JOSÉ AMARO DOS SANTOS
ADVOGADOS : SANDRO ROBERTO BELTRÃO FARIAS - PE023006
LYANE BEZERRA DE MENEZES LUCENA - PE048158
AGRAVADO : FUNDAÇÃO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA DE
PERNAMBUCO-HEMOPE
ADVOGADO : JEOVANI RODRIGUES NEIVA - PE026263

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto
do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."
Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães, Francisco Falcão e
Herman Benjamin votaram com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 1849954 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/08/2019 Página 13 de 4

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