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Senhor(a) Juiz(a) de Direito da 4ª Vara Fazenda Pública do Estado do Pará

Processo n. 0881369-83.2023.8.14.0301

ANDRÉ LUIZ DE ALMEIDA CUNHA, já devidamente


qualificado nos autos do processo em epigrafe, neste ato representado por seus advogados
que ao final subscrevem, vem, perante Vossa Excelência, apresentar a presente
RÉPLICA A CONTESTAÇÃO, pelos fatos alegados o que doravante passa a expor.
O Estado do Pará ao apresentar sua contestação suscitou a ausência de
previsão legal de conversão de licença especial não gozada em pecúnia arguindo violação
aos artigos 2º; 5º, II; 37, caput e 61, § 1º, todos da CF/88; bem como da impossibilidade de
aplicação do art. 99, II, da Lei Estadual n. 5.810/94 (Regime Jurídico Único dos Servidores
Civis do Estado do Pará) aos militares estaduais em virtude da anulação do Decreto n.
2.397/94.
O Autor já arguiu na inicial que a licença especial dos militares está
prevista nos arts. 70 e 71 da Lei nº 5.251/85 (Estatuto dos Policiais Militares da Polícia
Militar do Pará). Na legislação dos servidores civis do Estado do Pará, ao norte citada, a
licença prêmio é prevista nos arts. 98 e 99 e estabelece a possibilidade de conversão das
licenças não usufruídas em pecúnia. Por sua vez, o Decreto nº 2.397/94 estendeu aos
militares do Estado do Pará as pertinências
da Lei nº 5.810/94, incluindo o que concerne à possibilidade dessas licenças prêmios
não gozadas serem convertidas em pecúnia.
Ademais, o STF em sede de repercussão geral (TEMA 635/STF -
ARE 721001 RG-ED / RJ) decidiu que a “obrigação da Administração Pública de
indenizar o servidor aposentado por férias ou licença-prêmio não
usufruídas, mesmo na pendência de edição de norma estadual, em face da
vedação do enriquecimento sem causa”.
Além do mais, exaustiva jurisprudência do STJ pacificou o
entendimento acerca da possibilidade de conversão da licencia prêmio em pecúnia, com base no
principio da vedação do enriquecimento sem justa causa da Administração Pública e na
responsabilidade objetiva do ente público, sendo dispensada sua previsão legal. Vejamos:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO


RECURSO ESPECIAL. POLICIAL MILITAR ESTADUAL. VIOLAÇÃO DO
ART. 24 DO DECRETO-LEI N. 667/1969. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. LICENÇA ESPECIAL E
FÉRIAS NÃO USUFRUÍDAS. CONVERSÃO EM PECÚNIA.
POSSIBILIDADE. 1. Tendo o recurso sido interposto contra acórdão publicado na
vigência do CPC/2015, devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na
forma nele previsto, conforme Enunciado Administrativo n. 3/2016/STJ. 2. A
falta de prequestionamento da matéria suscitada no recurso especial, a despeito da
oposição de embargos de declaração, impede o seu conhecimento, a teor da
Súmula 211/STJ. 3. O acórdão recorrido encontra-se em consonância com o
entendimento adotado nesta Corte, "firme no sentido de ser possível a conversão
em pecúnia da licença-prêmio não gozada ou não contada em dobro para
aposentadoria, sob pena de enriquecimento ilícito da administração pública" (
AgInt no REsp 1.826.302/AL, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe
18/11/2019). 4. Agravo interno não provido.

(STJ - AgInt no REsp: 1936519 AM 2021/0134109-0, Relator: Ministro


BENEDITO GONÇALVES, Data de Julgamento: 28/03/2022, T1 - PRIMEIRA
TURMA, Data de Publicação: DJe 30/03/2022)

Ementa: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


PRESCRIÇÃO. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356
DO STF. MILITAR INATIVO. LICENÇA ESPECIAL NÃO USUFRUÍDA E
NÃO CONTADA EM DOBRO. CONVERSÃO EM PECÚNIA.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. REVISÃO DA
DISTRIBUIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE REEXAME
DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. 1. Extrai-se do acórdão recorrido que o art. 1º do
Decreto n. 20.910/1932 e a tese a ele correlata não foram objeto de apreciação pelo
Tribunal de origem, estando ausente o requisito do prequestionamento. Incidência
das Súmulas 282 e 356 do STF. 2. Consoante a jurisprudência desta Corte Superior,
é possível ao servidor público aposentado a conversão em pecúnia da licença-
prêmio não gozada ou não contada em dobro para a aposentadoria, sob pena
de
enriquecimento ilícito da administração pública. 3. A Segunda Turma do STJ, no
julgamento do AgInt no REsp 1.570.813/PR, reafirmou referido entendimento,
registrando a inexistência de locupletamento do militar no caso, porquanto, ao
determinar a conversão em pecúnia do tempo de licença especial, o Tribunal a quo
impôs a exclusão desse período no cálculo do adicional por tempo de serviço, bem
como compensou os valores correspondentes já pagos. 4. O Superior Tribunal de
Justiça possui orientação consolidada de que "a via do especial não se presta para
quantificar a proporção de decaimento das partes de modo a modificar a
distribuição dos encargos sucumbenciais, em face do óbice contido na Súmula 7
desta Corte, haja vista a imperiosa necessidade de revolver o acervo fático dos
autos" (AgInt no AREsp 442.595/SC, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira
Turma, julgado em 26/9/2017, DJe 23/11/2017). 5. Recurso especial conhecido em
parte e, nessa extensão, não provido. (STJ - REsp: 1710433 RS 2017/0276068-0,
Relator: Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento: 03/04/2018, T2 -
SEGUNDA TURMA,Data de Publicação: DJe 10/04/2018). (Grifo nosso).

ADMINISTRATIVO. MILITAR INATIVO. LICENÇA ESPECIAL NÃO


GOZADA. CONVERSÃO EM PECÚNIA. POSSIBILIDADE. INOVAÇÃO
RECURSAL.EXAME. INVIABILIDADE. 1. Consoante o entendimento desta
Corte é devido ao militar inativo a conversão em pecúnia da licença-prêmio não
gozada, ou não contada em dobro para fins de tempo de serviço, sob pena de
enriquecimento ilícito da Administração. Incidência da Súmula 83 do STJ. 2.
Inviável a análise, em sede de agravo interno, de tema não arguido anteriormente, o
que configura verdadeira inovação recursal. 3. Agravo interno desprovido. (STJ
- AgInt no REsp: 1298078 AM 2011/0212502-5, Relator: Ministro GURGEL DE
FARIA, Data de Julgamento: 17/06/2019, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 25/06/2019).

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM ARESP. SERVIDOR


PÚBLICO. LICENÇA-PRÊMIO. CONVERSÃO EM PECÚNIA. ART. 7º DA LEI
9.527/1997. VIOLAÇÃO DO ART. 97 DA CF. INOVAÇÃO DA
LIDE. IMPOSSIBILIDADE. 1. O servidor aposentado tem direito à conversão em
pecúnia da licença-prêmio não gozada e não contada em dobro, sob pena de
enriquecimento sem causa da Administração Pública.
2. Não é possível em agravo regimental inovar a lide, invocando questão até então
não suscitada.
3. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 270.708/RN, Rel. Ministra
ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/09/2013, DJe
16/09/2013)

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. LICENÇA-PRÊMIO.


INTERPRETAÇÃO DE DIREITO LOCAL. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 28
0 / S T F. C O N VE R S Ã O EM PE C Ú N I A . R E Q U E R I M E N TO .
DESNECESSIDADE. PRINCÍPIO QUE VEDA O ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
DA ADMINISTRAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA DO ESTADO. CARACTERIZAÇÃO. 1. A indigitada violação do
artigo 884 do CC não é passível de ser conhecida, porquanto envolve interpretação
de direito local (Lei Complementar Estadual n. 10.098/94), atraindo a incidência da
Súmula 280/STF, segundo a qual por ofensa à direito local não cabe recurso
extraordinário, entendido aqui em sentido amplo. 2. Este Superior Tribunal, em
diversos julgados, consolidou a orientação de que é cabível a conversão em pecúnia
da licença- prêmio e/ou férias não gozadas, independentemente de requerimento
administrativo, sob pena de configuração do enriquecimento ilícito da
Administração. Precedentes. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp
434.816/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 11/02/2014, DJe 18/02/2014)

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. LICENÇA-PRÊMIO NÃO


GOZADA E NÃO CONTADA EM DOBRO. CONVERSÃO EM PECÚNIA. P
O S S I B I L I D A D E . R E Q U E R I M E N T O A D M I N I S T R AT I V O .
DESNECESSIDADE. 1. Conforme jurisprudência consolidada no Superior
Tribunal de Justiça, é possível a conversão em pecúnia da licença- prêmio não
gozada e não contada em dobro, quando da aposentadoria do servidor, sob pena
de enriquecimento ilícito da Administração. 2. Agravo regimental a que se nega
provimento. (AgRg no AREsp 396.977/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 10/12/2013, DJe 24/03/2014
FÉRIAS E LICENÇA-PRÊMIO – SERVIDOR PÚBLICO – IMPOSSIBILIDADE
DE GOZO – CONVERSÃO EM PECÚNIA. O
Tribunal, no Recurso Extraordinário nº 721.001/RJ, da relatoria do ministro
Gilmar Mendes reafirmou o entendimento jurisprudencial e concluiu pelo direito
do servidor à conversão em pecúnia das férias não gozadas por necessidade do
serviço, bem como de outros direitos de natureza remuneratória, quando não puder
mais usufruí-los. (RE 496431 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira
Turma, julgado em 17/09/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-193 DIVULG 01-
10-2013 PUBLIC 02-10- 2013).
De mais a mais, igualmente o Superior Tribunal Militar (STM) também
entende que a licença especial não usufruída, e nem computada em dobro como tempo de
serviço para a inatividade, deve ser convertida em pecúnia, sob pena de ensejar
enriquecimento sem causa da Administração Pública, ipsis verbis:

Ementa: QUESTÃO ADMINISTRATIVA. LICENÇA ESPECIAL NÃO


GOZADA NEM COMPUTADA EM DOBRO PARA FINS DE
APOSENTADORIA. CONVERSÃO EM PECÚNIA. VANTAGEM DEVIDA,
SOB PENA DE CONFIGURAR ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. NÃO INCIDÊNCIA DE ENCARGOS SOCIAIS
E IMPOSTO DE
RENDA. MAIORIA. Como a Suprema Corte entendeu que o marco inicial do
direito ao benefício da conversão de licença especial em pecúnia seria o dia 21
de setembro de 2011, mostra-se tempestivo o presente pleito, vez que sobreveio
em data de 8 de agosto de 2016, porquanto dentro do quinquênio prescricional
previsto na Lei nº 8.112/90 e no Decreto nº 20.910/32. Preliminar de prescrição
suscitada em Plenário não acolhida, por maioria. Faz jus à conversão em pecúnia
de licença- prêmio não usufruída e não computada em dobro como tempo de
serviço para aposentadoria, adquirida por ministro do STM anteriormente ao
ingresso na magistratura, benefício esse revertido em prol de seu cônjuge,
pensionista. Pensar diferente ensejaria enriquecimento sem causa da
Administração Pública, o que não se admite. Precedentes. Verba reconhecida
como de cunho indenizatório, o que afasta a incidência de quaisquer encargos
sociais e de imposto de renda, cuja liquidação é condicionada à existência de
disponibilidade orçamentária. Pleito deferido parcialmente. Decisão à unanimidade.
(STM - QA: 00000686420177000000 DF, Relator: Francisco Joseli Parente
Camelo, Data de Julgamento: 05/04/2017, Data de Publicação: Data da Publicação:
09/05/2017 Vol: Veículo: DJE). (Grifo nosso)
Além de tudo, o egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Pará, de
modo administrativo também entendeu pela possibilidade de se converter em pecúnia a
licença especial não gozada, com base no princípio da vedação ao enriquecimento sem
justa causa pela Administração Pública e na responsabilidade objetiva do ente público,
sendo dispensada sua previsão legal. Vejamos:

DIREITO ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO


MILITAR. APOSENTADORIA. LICENÇA PRÊMIO NÃO GOZADA
DURANTE A ATIVIDADE. DIREITO DE CONVERSÃO EM PECÚNIA.
PRESCRIÇÃO NÃO CONFIGURADA. DECADÊNCIA NÃO
CONFIGURADA. TERMO INICIAL PARA O PLEITO INICIA-SE COM O
ATO DA INATIVIDADE. DISPOSITIVOS LEGAIS GARANTIDORES DA
LICENÇA ESPECIAL. VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DA
ADMINISTRAÇÃO. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA. TEMAS 810 DO
STF E 905 DO STJ. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
UNANIMIDADE. in-bottom: 0cm; text-align: center; line-height: 150%;
background: white; mso-background-themecolor: background1;"
align="center">pt; line-height: 150%; font-family:" Arial ",sans-serif;">
ACÓRDÃO Vistos, relatados e aprovados em Plenário Virtual os autos acima
identificados, ACÓRDAM os Excelentíssimos Desembargadores que integram a
2ª Turma de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, por
unanimidade, conhecer e negar provimento à apelação do Estado do Pará, na
conformidade do relatório e voto que passam a integrar o presente acórdão. Sessão
de julgamento presidida pelo (a) Excelentíssimo (a) Desembargador (a) José Maria
Teixeira do Rosário. 42ª sessão do Plenário Virtual da 2ª Turma de Direito
Público, no período de 11/12/2023 a 18/12/2023. Belém/PA, assinado na data e
hora registradas no sistema. Desa. LUZIA NADJA GUIMARÃES
NASCIMENTO Relatora

(TJ-PA - APELAÇÃO CÍVEL: 0806112-35.2021.8.14.0006, Relator: LUZIA


NADJA GUIMARAES NASCIMENTO, Data de Julgamento:
11/12/2023, 2ª Turma de Direito Público)

EMENTA : RECURSO ADMINISTRATIVO SERVIDOR PÚBLICO


APOSENTADO. PEDIDO DE CONVERSÃO EM PECÚNIA DE LICENÇAS-
PRÊMIO NÃO GOZADAS. POSSIBILIDADE. DIREITO QUE SE
INCORPORA DE PLENO IURE AO PATRIMÔNIO FUNCIONAL DO
SERVIDOR. PRESUNÇÃO DE INTERESSE PÚBLICO PELA
PERMANÊNCIA EM SERVIÇO. DESNECESSIDADE DE REQUERIMENTO
E MESMO DE PREVISÃO LEGAL. JURISPRUDÊNCIA UNÍSSONA DO
TRIBUNAL DA CIDADANIA NESSE SENTIDO CALCADA NA
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO E NO PRINCÍPIO QUE
VEDA O ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. ISENÇÃO DE PAGAMENTO DA
PREVIDÊNCIA E IMPOSTO DE RENDA EM VIRTUDE DO CARÁTER I N D
E N I Z AT Ó R I O DA V E R B A .
S Ú M U L A 136 DO S T J . IMPRESCINDIBILIDADE DE MELHOR
REGULAMENTAÇÃO E CONTROLE DO DIREITO À LICENÇA-PRÊMIO
POR PARTE DA ADMINISTRAÇÃO A FIM DE QUE NÃO SE
DESVIRTUE O ESPÍRITO DA LEI RESPEITADO O DIREITO DO SERVIDOR
DE OPTAR PELO MODO E MOMENTO DE EXERCITAR O DIREITO À
SANÇÃO PREMIAL. SUGESTÃO DE QUE SEJAM VIABILIZADOS ESTUDOS
PELO SETOR COMPETENTE DO TJE/PA A FIM DE ANALISAR AS
SITUAÇÕES JURÍDICAS ENVOLVENDO O GOZO DE LICENÇA-PRÊMIO
POR PARTE DE SERVIDORES QUE JÁ LHE FAZEM JUS E AINDA NÃO
USUFRUÍRAM, ESPECIALMENTE DAQUELES QUE ESTÃO EM VIAS DE
SE APOSENTAR. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. VOTAÇÃO POR
MAIORIA.

I
Direito à licença-
prêmio indiscutivelmente adquirido e, por conseguinte, incorporado ao patrimônio
funcional do servidor; II Desnecessidade de comprovação de que as licenças-
prêmio não foram gozadas por necessidade de serviço; III Discussão acerca da
culpa pelo não gozo inócua. Indeferimento do pleito do servidor fere princípio
universal de direito, implicitamente inscrito na Declaração Universal dos Direitos
do Homem, de que a ninguém é lícito se locupletar do trabalho alheio; IV Natureza
jurídica indenizatória, visando tão- somente restabelecer integridade patrimonial
do servidor. Isenção de pagamento da Previdência e Imposto de Renda; V
Inexistência de regramento acerca do efetivo exercício do direito à licença-
prêmio. Sugestão de viabilização de estudos no sentido de implementar o gozo da
sanção premial, respeitado o direito do servidor de optar pelo modo e momento de
exercitá-la. ACÓRDÃO: Decide o Conselho da Magistratura do Tribunal de
Justiça do Estado do Pará, por maioria de votos, em conhecer do recurso e dar-lhe
provimento para reconhecer que o recorrente faz jus ao recebimento do valor em
pecúnia das licenças- prêmio não gozadas, com isenção de pagamento da
Previdência e do Imposto de Renda, devendo ser oficiado à Presidência da Corte
para que promova o pagamento dos valores devidos a serem apurados pela
Secretaria de Planejamento, com a sugestão consignada acerca da
regulamentação e controle do direito à licença-prêmio e viabilização de estudos
para seu efetivo implemento, nos termos do voto da Desembargadora Relatora que
passa a integrar o Acórdão. Conselho da Magistratura do Tribunal de Justiça do
Estado do Pará. Julgamento presidido pelo Exmo Senhor Desembargador Rômulo
José Ferreira Nunes, em 10 de outubro do ano 2007. (TJ-PA - RECURSO
ADMINISTRATIVO : 200730033955 PA 2007300-33955).

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. LICENÇAS-


PRÊMIOS NÃO GOZADAS CONVERSAO EM PECÚNIA. PREVISAO
LEGAL EXPRESSA DESNECESSIDADE (Grifo nosso). PRINCÍPIO QUE
VEDA O ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DA ADMINISTRAÇÃO.
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO.

1. O acórdão recorrido implicitamente afastou a tese de enriquecimento ilícito


em detrimento da tese de que não havendo previsão legal para a conversão
das licenças-prêmios em pecúnia, tal procedimento Documento: 921387 -
Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 09 /11 /2009 Página 4
de Superior Tribunal de Justiça não poderia ser aceito, sob pena de ofensa
ao princípio da l e g a l i d a d e . V i o l a ç ã o ao art. 535 não
configurada.

2. A conversão em pecúnia das licenças-prêmios não gozadas em face do


interesse público, tampouco contadas em dobro para f ins de
contagem de tempo de serviço para efeito de aposentadoria, avanços ou
adicionais, independe de previsão legal expressa, sendo certo que tal
entendimento está fundado na Responsabilidade Objetiva do Estado, nos
termos do art. 37, § 6º, da Constituição Federal, e no Princípio que veda o e n r
i q u e c i m e n t o i l í c i t o da A d m i n i s t r a ç ã o . Precedentes desta
Corte e do
Supremo Tribunal Federal.

3. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.

(REsp 693.728/RS, 5ª Turma, Min. Laurita Vaz, DJ de 11/04/2005).

RECURSO ESPECIAL. A D M I N IS T R AT I VO . SERVIDOR.


APOSENTA DORIA. LI C E N Ç A - PRÊMIO NÃO GOZADA.
CONVERSÃO EM PECÚNIA. DESNECESSIDADE DE PEDIDO
EXPRESSO. Sob pena de enriquecimento ilícito da Administração, é
devida a conversão em pecúnia do período de licença-prêmio não gozada em
época própria, por necessidade de serviço, não e x i s t i n d o nada na l e g i s l a
ç ã o r e f e r e n t e à necessidade de pedido expresso nesse sentido. Recurso
provido. (REsp 413.300/PR, 5ª Turma, Rel. Min. JOSÉ ARNALDO DA
FONSECA, DJ de 07/10/2002).

E M E N TA : R E C U R S O A D M I N I S T R AT I V O . CONVERSÃO
DE LICENÇA PRÊMIO N Ã O GOZADA EM PECÚNIA. MAGISTRADO.
DIREITO ADQUIRIDO E RECONHECIDO PELO TJE/PA. INTERRUPÇÃO
POR CAUSA SUPERVENIENTE OCASIONADA PELA
ADMINISTRAÇÃO. 1- Do exame dos autos, verifica- se que o TJE/ PA
reconheceu o direito do recorrente ao gozo de licenças prêmio devidamente
averbadas conforme os d o c u m e n t o s j u n t a d o s e d e c i s ã o da
Administração (fls.13v), bem como é indubitável que o magistrado deixou de
usufruir de 41 (quarenta e um) dias, em razão da superveniência de sua
aposentadoria. 2- Em verdade, tendo sido reconhecido administrativamente o
direito ao benefício pelo Tribunal de Justiça do Estado, o qual integrava o
Juiz de Direito (fls.9- 10) e estando em pleno gozo dos dias concedidos através de
decisão da Presidência em 15 de abril de 2015, não há que se falar em
desconsideração da referida licença. 3- Também é inegável que o não
pagamento do valor p le i teado a t í tu lo de indenização fere explicitamente
o direito adquirido do recorrente seja pela impossibilidade de revisão das licenças
concedias em data pretérita (no ano de 1998) ou pelo simples fato de o
recorrente ter in i c iado o gozo e não ter provocado sua interrupção. 4-
Ademais, considerando o direito a d q u i r i d o do r e c o r r e n t e , b e m c
o m o a impossibilidade de gozo, a qual não deu causa, a Administração deve
converter a licença prêmio ou saldo remanescente em justa indenização, sob pena
de incorrer em enriquecimento sem causa, conforme vasto acervo de precedentes
do Superior Tribunal de Justiça. 5- Recurso conhecido e provido.
(2016.05110050-81, 169.409, Rel. LUIZ GONZAGA DA COSTA
NETO, Órgão Julgador CONSELHO DA MAGISTRATURA, Julgado em 2016-
12-14, Publicado em 2016-12-19).

EMBARGOS INFRINGENTES. AÇÃO DE COBRANÇA. SERVIDOR


PÚBLICO EXCLUSIVAMENTE COMISSIONADO. IMPOSSIBILIDADE DE
CONVERSÃO DE LICENÇA PRÊMIO EM REMUNERAÇÃO ADICIONAL
NA APOSENTADORIA OU FALECIMENTO. SERVIDOR EXONERADO.
IMPOSSIBILIDADE DE LOCUPLETANTO ILÍCITO PELA
ADMINISTRAÇÃO. PRECEDENTES DOS TRIBUNAIS SUPERIORES E
DESTA CORTE. EMBRAGOS INFRINTES REJEITADOS (Grifo nosso).

(2016.02336376-55, 160.800, Rel. MARIA DO CEO MACIEL


COUTINHO, Órgão Julgador 1ª CÂMARA CÍVEL ISOLADA,
Julgado em 2016-06-14, Publicado em 2016-06-15).
E M E N TA : R E C U R S O A D M I N I S T R AT I V O I N T E R P O S T
O C O N T R A D E C I S Ã O DA PRESIDÊNCIA DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ. PEDIDO ADMINISTRATIVO DE
CONVERSÃO EM PECÚNIA DE LICENÇA-PRÊMIO NÃO GOZADA.
SERVIDOR PÚBLICO TEMPORÁRIO EXONERADO. POSSIBILIDADE.
PREVISÃO LEGAL. PRINCÍPIO QUE VEDA O
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DA ADMINISTRAÇÃ
O.RESPONSABILIDADEOBJETIVA DO ESTADO.
R E C U R S O CONHECIDO E PROVIDO. 1- A requerente adquiriu o direito
ao gozo de licença-prêmio e não a usufruiu. 2- Servidor exclusivamente
temporário quando exonerado sem ter gozado de licença- prêmio adquirida, faz
jus a sua conversão em pecúnia, em respeito ao princípio da vedação do
enriquecimento ilícito da Administração Pública. 3- Desnecessidade de
previsão legal, conforme precedentes do STJ, TJPA e Conselho da
Magistratura. Recurso conhecido e provido.

( 2 0 1 5 . 0 4 8 5 6 0 3 4 - 4 9 , 154 . 989 , Rel. MARIA FILOMENA DE


ALMEIDA BUARQUE, Órgão Julgador CONSELHO DA
MAGISTRATURA, Julgado em 2015-12-09, Publicado em 2016- 01-
08).

TJ- PA - MANDADO DE SEGU RA N ÇA MS 201430127056 PA


Data de publicação: 21/11/2014

Ementa: CONSTITUCIONAL PROCESSO CIVIL M A N D A D O DE S E


G U R A N Ç A S E R V I D O R PÚBLICO - LICENÇAS-PRÊMIO NÃO
GOZADAS CONVERSÃO EM PECÚNIA POSSIBILIDADE VEDAÇÃO
AO ENRIQUICIMENTO SEM CAUSA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
I- É possível a conversão em pecúnia das licenças-prêmio não gozadas pelo
servidor público em decorrência do princípio da vedação do enriquecimento
da Administração Pública, independentemente de previsão legal, pois tal
conversão é calcada na responsabilidade objetiva do Estado. Precedentes do STJ.
II- Segurança concedida. Encontrado em: CÂMARAS CÍVEIS REUNIDAS
21 /11 / 2014 - 21/11/2014 MANDADO DE SEGURANÇA MS
2014430127056 PA (TJ-PA) LEONARDO DE NORONHA TAVA RES

RECURSO INOMINADO Nº 0835474-12.2017.8.14.0301 RECORRENTE:


ESTADO DO PARÁ
RECORRIDO: EDMILSON FARIAS LIMA
ORIGEM: JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DE BELÉM /PA
RELATORA:JUÍZA MÁRCIA CRISTINA LEÃO MURRIETA.

EMENTA: JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DE BELÉM.


RECURSO INOMINADO. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. NÃO
APROVEITAMENTO DE LICENÇA ESPECIAL. CONVERSÃO EM PECUNIA.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Trata-se de recurso inominado do
réu contra sentença que julgou procedente o pedido do autor de conversão da
licença especial em pecúnia. 2. O autor alegou na peça exordial, que é Coronel da
Reserva Remunerada do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Pará, tendo sido
transferido para a reserva em 27 de janeiro de 2014 (Portaria RR n. 2.482/14 –
publicada no DOE n. 32.764, de
10NOV2014), e quando foi transferido para a reserva remunerada deixou de gozar,
por impedimento legal, 1 (uma) licença especial referente ao decênio de 13/03/2001
à 13/03/2011, conforme se depreende da Certidão de Licença Especial em anexo.
Informa que o STF firmou entendimento em repercussão geral (ARE 721001 RG-
ED / RJ) no sentido de que é possível a conversão de licenças não gozadas em
indenização pecuniária por aqueles que não mais possam delas usufruir, seja por
conta do rompimento do vínculo com a Administração, seja por inatividade,
tendo em vista a vedação do enriquecimento sem causa da Administração. 3. Dessa
feita, entende que, estando provado pela Certidão da Administração Pública Militar
que não gozou o último decênio de licença especial, tendo em vista a vedação legal
da Lei Complementar n. 39/02, cabe a conversão em pecúnia, razão pela qual
requereu em Juízo a conversão da licença especial em remuneração ou valores
pecuniários, posto ter cumprido o período aquisitivo necessário ao gozo da
licença, tudo em conformidade com o art. 1º do Decreto 2.397/94, e
consequentemente, condenar o réu ao pagamento da verba indenizatória no valor de
R$ 50.635,92 (cinquenta mil, seiscentos e trinta e cinco reais e noventa e dois
centavos), valor este que deverá ser corrigido pelo IPCA-E, acrescido de juros de
mora de 0,5% ao mês, a partir da citação, bem como as parcelas das diferenças
vencidas no decorrer da presente demanda conforme o artigo 323, do CPC/2015. 4.
O juízo de origem julgou parcialmente procedente o pedido, assim prolatando a
sentença: “Isto posto, ante as razões fáticas e jurídicas expendidas, com
fundamento no artigo 487, inciso I do CPC, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO
DA INICIAL, CONDENANDO O REQUERIDO AO PAGAMENTO DA
LICENÇA ESPECIAL RELATIVA AO DECÊNIO DE 2001/2011, QUE DEVE
SER CONVERTIDA EM PECÚNIA, EM FAVOR DO REQUERENTE, nos
termos requeridos na exordial.” 5. Não merece reforma a sentença de origem. 6.
Preliminarmente, não acolho a alegação de ilegitimidade passiva do Estado do
Pará, uma vez que corroboro do entendimento de que o pedido formulado na peça
inaugural consiste em conversão em pecúnia em pagamento da licença especial,
referente ao período em que o recorrido estava na ativa. Passo à análise do mérito.
7. A sentença está de acordo com a Lei e o entendimento jurisprudencial acerca
do assunto. O art. 70, §1º, “a” e art. 71, §1º da Lei Estadual nº 5.251/85, que dispõe
sobre o Estatuto dos Militares Estaduais do Estado do Pará, estabelecem
respetivamente que: “ART. 70 - Licença é a autorização para afastamento total do
serviço, em caráter temporário, concedida ao Policial-Militar, obedecidas as
disposições legais e regulamentares. § 1° - A licença pode ser: a) Especial; ART.
71 - Licença especial é a autorização para afastamento total do serviço, relativa a
cada decênio de tempo de efetivo serviço prestado, concedida ao Policial-Militar
que a requerer sem que implique em qualquer restrição para sua carreira. § 1° -
A licença especial tem a duração de 06 (seis) meses a ser gozada de uma só
vez, podendo ser parcelada em 02 (dois) ou 03 (três) meses por ano civil,
quando solicitada pelo interessado e julgado conveniente pela autoridade
competente.” 8. Conforme demonstrado através da Declaração emitida pela
Secretaria de Estado de Segurança Pública, juntada pelo recorrido na peça
inaugural (ID. nº. 1938066 - Pág. 1), quando realizada a análise do processo de
reserva remunerada do autor, o IGEPREV não considerou, para fins de cálculo, a
licença especial referente ao decênio 10.03.2001 a 13.03.2011.
9.Assim, é devida a conversão da referida licença não gozada em
pecúnia, em respeito ao princípio do não enriquecimento ilícito da administração.
Essa questão está pacificada pelo Supremo Tribunal Federal que já entendeu ser
devida ao militar a conversão da licença especial em pecúnia, desde que esse
período ficto, embora computado para fins de aposentadoria, não tenha
influenciado para a concessão desse direito. Vejamos: “PROCESSUAL CIVIL E
ADMINISTRATIVO. MILITAR
INATIVO. LICENÇA ESPECIAL NÃO USUFRUÍDA. CONVERSÃO EM
PECÚNIA. POSSIBILIDADE. SÚMULA 7 DO STJ. NÃO INCIDÊNCIA. 1.
Conforme estabelecido pelo Plenário do STJ, "aos recursos interpostos com
fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016)
devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as
interpretações dadas até então pela jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça" (Enunciado Administrativo n. 2). 2. Segundo o entendimento desta
Corte, é devida ao militar a conversão da licença especial em pecúnia, desde que
esse período ficto, embora computado para fins de aposentadoria, não tenha
influenciado para a concessão desse direito, por possuir tempo de serviço em
excesso, devendo, nesse caso, ser excluída a averbação do período decorrente da
contagem em dobro e compensados os valores indenizatórios com o quanto pago a
título de adicional de tempo de serviço usufruído em decorrência dessa contagem
ficta. Precedentes. 3. Tendo o Tribunal a quo afirmado que, para efeitos de direito à
reserva remunerada, o cômputo em dobro das licenças não gozadas como tempo
de serviço em nada beneficiou o autor, sem razão a alegação da agravante de que
haveria de incidir a Súmula 7 do STJ sobre a pretensão recursal. 4. Agravo
interno desprovido. (AgInt no REsp 1612126/SC, Rel. Ministro GURGEL DE
FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/12/2019, DJe
19/12/2019)”. 10. Quanto ao índice de correção monetária e juros a serem
aplicados, esta turma adota o entendimento que está previsto na sentença, pelo
que não há nada que deva ser alterado. 11. Diante do exposto, conheço do recurso,
porém nego-lhe provimento, mantendo-se a Sentença vergastada por seus próprios
fundamentos. Isento o recorrente de custas processuais. Condeno o recorrente no
pagamento de honorários advocatícios no importe de 20% sobre o valor da
condenação. Belém/PA, 09 de dezembro de 2020. MÁRCIA CRISTINA LEÃO
MURRIETA - Juíza Relatora – Turma Recursal Permanente dos Juizados
Especiais.

Além da farta jurisprudência apresentada importante se destacar um


trecho do voto da Ministra Laurita Vaz no AgRg no REsp nº 1.116.770/SC, do STJ,
publicado em 15.10.2009:
“Como se vê a conversão em pecúnia das licenças-prêmios não gozadas, em
razão do interesse publico, independe de previsão legal, uma que esse direito
como acima apresentado, está calcado na responsabilidade objetiva do Estado,
nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição Federal, e não no art. 159 do
Código Civil, que prevê a responsabilidade subjetiva.
Na esteira desse entendimento esta Corte Superior de Justiça firmou a
orientação que é cabível a conversão em pecúnia da licença-prêmio não
gozada, em razão do serviço público, sob pena de configuração do
enriquecimento ilícito da Administração.
Logo entendo que o ato administrativo que não reconheceu o direito do
impetrante de receber em pecúnia as licenças-prêmio não gozadas é ilegal.
Ante o exposto, concedo a segurança, determinando que a autoridade coatora
reconheça o direito do impetrante em converter em pecúnia as licenças-prêmio
não gozadas nos termos pleiteados na inicial”
No mesmo sentido, um estudo da Procuradoria de Justiça do Estado do
Pará realizado pela ilustre Procuradora Monica Toscano alertou o Estado sobre a mudança
de entendimento da questão posta a apreciação judicial:
(...)

4. O STJ vem evoluindo na tese da conversão de períodos completos quando da


aposentadoria ou falecimento, inclusive destacando mais atualmente a
superfluidade do pedido administrativo e negativa da Administração. A Corte tem
se afastado da tese da responsabilidade civil (caráter reparatório da licença negada
por necessidade de serviço) e se harmonizado cada vez mais com o fundamento da
mera vedação ao enriquecimento sem causa da Administração. Na mesma linha,
destacou o Acórdão n° 55.884, julgado em 30/06/2016 e publicado em 02/09/2016
pelo TCE/Pa.

(...)

9) em todo caso, o ARE 721001 RG/RJ tem norteado decisões do STF que
concedem indenização em pecúnia tanto de licença-prêmio quanto de licença
especial que não possam mais ser usufruídas, independentemente de previsão legal
especifica, com exclusivo amparo no princípio da vedação ao enriquecimento
ilícito da Administração;

10) a conversão em pecúnia de licença especial não gozada por


militares tem se amparado, essencialmente, no princípio da vedação
ao enriquecimento ilícito, conforme decisões do STF que
reconheceram a militares a conversão de licenças especiais em
pecúnia, na trilha do quanto decidido no ARE 721.001-RG.

Em suma, conclui-se que, não obstante o acerto do entendimento


atualmente mantido pela Administração sobre a matéria, o confuso
cenário jurisprudencial se mostra desfavorável à Administração, na
medida em que, de modo geral, para supostamente resguardar o
princípio da vedação ao enriquecimento ilícito, tem sido concedida a
conversão, em pecúnia, de licença prêmio e licença especial
simplesmente não gozadas por livre opção do servidor.

São as considerações que, respeitosamente, tenho a submeter à superior apreciação


de V. Exa.

Belém, 04 de outubro de 2018.

Mônica Martins Toscano Simões – Procurado do Estado do Pará (sem


grifos no original).

Por fim, de forma a refutar o argumento de que a anulação do Decreto


Estadual nº 2.397/94 pelo Decreto Estadual nº 1.388/21 não permite mais a aplicação art. 99,II,
da Lei Estadual nº 5.810/94 (Regime Jurídico Único dos servidores Civis do Estado do Pará),
recorro a alguns trechos da recente e brilhante decisão da ilustre magistrada ANDREA
CRISTINE CORREA RIBEIRO, ipsis verbis:

PROCESSO nº 0847662-32.2020.8.14.0301 RECORRIDO:


RAIMUNDO NONATO PAIXÃO DE LIMA
RECORRENTE: ESTADO DO PARÁ
ORIGEM: 2ª VARA DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA DE BELÉ/PA
RELATORA: JUÍZA ANDREA CRISTINE CORREA RIBEIRO
EMENTA: JUIZADOS ESPECIAIS DA FAZENDA PÚBLICA. RECURSO
INOMINADO. LICENÇA ESPECIAL NÃO GOZADA. COBRANÇA.
NECESSIDADE DE CONVERSÃO EM PECÚNIA RECONHECIDA. O
ASSUNTO REFERE-SE AO TEMA 1086 DO STJ, ALINHADO À
ORIENTAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) NO TEMA
635 DA REPERCUSSÃO GERAL, SEGUNDO A QUAL É ASSEGURADA AO
SERVIDOR INATIVO A CONVERSÃO DE DIREITOS REMUNERATÓRIOS
EM INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA, EM VIRTUDE DA VEDAÇÃO AO
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

3. Em sede de defesa, o requerido Estado do Pará sustentou a falta de previsão


legal. Falta de provas. A inconstitucionalidade da aplicação de decreto
governamental estadual, vez que Decreto Estadual nº 2.397/94 extrapolou os
limites imposto pelo Art. 84, VI -
CF/Art. 135, VI – CE. Sustentou ainda que o autor não gozou as licenças por
vontade própria. Requereu ao final a improcedência da demanda.

4. O magistrado de primeiro grau, ao proferir a sentença JULGOU


PROCEDENTE O PEDIDO DA INICIAL, “condenando o ESTADO DO PARÁ a
converter, em pecúnia, e pagar, em favor da parte autora, a licença especial não
gozada, referente ao 2º decênio, no período de 04 de novembro de 1999 a 04 de
novembro de 2009, cujo valor deve ser apurado em cumprimento de sentença e
corrigido pelo IPCA-e, calculado de acordo com o fixado no RE 870947 e no REsp
1.492.221/PR, e juros pelo mesmo índice adotado para a remuneração dos
depósitos da caderneta de poupança (art. 12 da Lei 8177/91), a contar da citação,
limitado ao teto dos Juizados Especiais, e observada a prescrição quinquenal,
extinguindo o processo com resolução de mérito, nos termos do art. 487, I do
CPC”.

11. A priori, insta consignar que a Licença Especial se trata de ato vinculado, por
meio do qual, a Administração confere ao policial militar estadual, para que este
goze 6 meses de licença remunerada, sem que o mesmo exerça suas funções.
Direito este que se adquire após 10 (dez) anos ininterruptos de efetiva atividade
e cumpridos alguns requisitos, nos termos da Lei Estadual nº 5.251/85 (Estatuto
dos Militares):

12. A respeito da conversão da licença prêmio em pecúnia, embora não haja


previsão específica na Lei Estadual nº 5.251/85, o Decreto Estadual nº 2.397/94
estabeleceu tal direito aos Policiais Militares, estendendo aos servidores públicos
militares as previsões constantes na Lei 5.810/94, conforme o art. 1º, in verbis:

13. Em que pese o argumento da inconstitucionalidade do ato que


criou tal ddireito, existe premissa superior que respalda o direito do autor, pois a
interpretação no presente caso deve se amoldar ao Princípio da Legalidade com a
moderna concepção de Finalidade e Moralidade no Direito Administrativo,
resultando no preceito já difundido pela doutrina, consistente no “Alargamento do
Princípio da Legalidade”.
15. Dessa forma, como é incontroverso que o autor adquiriu o direito de gozar a
licença especial referente a u m decênio ( 06 meses), tal como
reconhecido pela administração, e que não exerceu tal prerrogativa,
presumivelmente, no interesse da administração; indeferir o pedido com base em
interpretação meramente literal e restritiva da letra da lei acarretaria duplo
prejuízo ao ex-servidor: não permitir o gozo de um direito adquirido e privá-
lo de receber a indenização equivalente; circunstâncias que ensejaria o
enriquecimento sem causa da Administração. Sendo que o STJ e também
este Tribunal pacificaram o entendimento acerca da possibilidade de conversão da
licença-prêmio em pecúnia, com base no princípio da vedação ao enriquecimento
sem causa pela Administração Pública e na responsabilidade objetiva do ente
público, ssendo despicienda sua previsão legal. Vejamos:

17. Impede fazer o seguinte destaque, cabe à Administração Pública, enquanto


gestora de todos os servidores que lhe são vinculados, ter e apresentar organização
e regulamentação prévia quanto ao tempo de gozo de todos os direitos de seus
servidores, para que, ao tempo da aposentadoria, da inatividade, quando o servidor
não tiver usufruído o direito remuneratório A ou B tenha a administração
subterfúgios palpáveis que demonstrem que estava aquele servidor ciente da
obrigatoriedade de gozar seus direitos durante o tempo da atividade e não o fez. Ao
invés de, diante de um pedido judicial, argumentar a falta de previsão normativa e
desejar apenas locupletar-se financeiramente, já que se aproveitou oportunamente
de todo o serviço público que aquele servidor ou policial ofereceu no interesse
tanto da administração quanto dos usuários quanto encontrava-se na atividade. Por
essa razão, comungo do entendimento pacificado da jurisprudência pátria que a
conversão da licença em pecúnia ao policiais militares não fere o
Principio da Reserva Legal e impedir tal conversão vai de encontro ao
alargamento do princípio da Legalidade com a moderna concepção
de Finalidade e Moralidade no Direito Administrativo, bem como o
Principio da Vedação ao Enriquecimento Ilícito (Grifo nosso).

19. À vista do exposto, CONHEÇO do presente Recurso, mas NEGO-LHE


PROVIMENTO, mantendo a sentença de primeiro grau em todos os seus
termos e pelos seus próprios fundamentos.

Isto posto, vê-se insofismavelmente que resta incontroverso o direito


da Autor aqui pleiteado, pelo que deve ser mantido pelos Tribunais Superiores, TJe/Pa e
Turma Recursal, afastando-se inteiramente as teses de que a ausência de previsão legal e a
de que anulação do Decreto n. 2.397/94 impedem a conversão de licenças especiais e
férias não gozadas em pecúnia.
Por todo o exposto requer se digne Vossa Excelência em receber a
presente impugnação à contestação, a fim de dar pela procedência da ação, com a
condenação da Ré, em todos os pedidos contidos na exordial.

Nestes termos, pede a procedência da Ação.


Belém, Pará, 15 de fevereiro de 2024.
DANIEL MARTINS BARROS – OAB/PA, n° 27.150
HILTON CELSON BENIGNO DE SOUZA – OAB/PA, nº 34.140

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