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AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1993729 - MG (2021/0315191-9)

RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


AGRAVANTE : MARIA DE FÁTIMA RIBEIRO BARBOZA
AGRAVANTE : RICARDO LUIZ DA MATA BARBOZA
ADVOGADOS : ABELARDO MEDEIROS MOTA - MG085115
ADRIENE MARIA DE MIRANDA VERAS - DF029497
GABRIEL BATISTA RODRIGUES - MG184255
AGRAVADO : SAO MIGUEL AGRICOLA E MERCANTIL EIRELI
ADVOGADOS : DALCI FERREIRA DOS SANTOS - MG081007
JOAQUIM ALVES DA ROCHA JUNIOR - MG107625

EMENTA

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO. MULTA CONTRATUAL. COBRANÇA. RECONVENÇÃO.
DECADÊNCIA. AÇÃO PRINCIPAL. MULTA PENAL MORATÓRIA.
CONTRATO. DESCUMPRIMENTO. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA.
PREQUESTIONAMENTO. FICTO. AUSÊNCIA. ART. 1.025 DO CPC/2015.
REEXAME DE PROVAS. FUNDAMENTO. NÃO IMPUGNAÇÃO. ÔNUS DA
SUCUMBÊNCIA. REDISTRIBUIÇÃO. SÚMULA Nº 7/STJ.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de
origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia
com a aplicação do direito que entende cabível à hipótese, apenas não no
sentido pretendido pela parte.
3. A subsistência de fundamento não atacado apto a manter a conclusão
do aresto impugnado impõe o não conhecimento da pretensão recursal.
Súmula nº 283/STF.
4. É inviável a análise de violação de dispositivos de lei não
prequestionados na origem, apesar da oposição de embargos de declaração.
5. De acordo com a jurisprudência deste Tribunal Superior, a admissão de
prequestionamento ficto em recurso especial, previsto no art. 1.025 do
CPC/2015, exige que no mesmo recurso seja reconhecida a existência de
violação do art. 1.022 do CPC/2015, o que não é o caso dos autos.
6. Não há impropriedade em afirmar a falta de prequestionamento e afastar
a negativa de prestação jurisdicional, haja vista que o julgado está
devidamente fundamentado sem, no entanto, ter decidido a causa à luz dos
preceitos jurídicos suscitados pelos recorrentes.
7. Na hipótese, o acolhimento da pretensão recursal exigiria o revolvimento
do acervo fático-probatório dos autos, procedimento inviável ante a
natureza excepcional da via eleita, conforme dispõe o enunciado da Súmula
nº 7/STJ.
8. A necessidade do reexame da matéria fática impede a admissão do
recurso especial tanto pela alínea "a" quanto pela alínea "c" do permissivo
constitucional. Além disso, a tese de dissídio jurisprudencial, diante das
normas legais regentes da matéria (arts. 1.029 do CPC/2015 e 255 do
RISTJ), exige confronto entre trechos do acórdão recorrido e das decisões
apontadas como divergentes, mencionando-se as circunstâncias que
identifiquem ou assemelhem os casos confrontados, o que não ocorreu na
espécie.
9. A alteração da distribuição da sucumbência fixada pelas instâncias
ordinárias demanda o necessário revolvimento do conteúdo fático-
probatório dos autos, o que atrai a incidência da Súmula nº 7/STJ.
10. Agravo interno não provido. 

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em
sessão virtual de 03/11/2022 a 09/11/2022, por unanimidade, negar provimento ao
recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino, Marco
Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.
 
Brasília, 09 de novembro de 2022.

Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


Relator
AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1993729 - MG (2021/0315191-9)

RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


AGRAVANTE : MARIA DE FÁTIMA RIBEIRO BARBOZA
AGRAVANTE : RICARDO LUIZ DA MATA BARBOZA
ADVOGADOS : ABELARDO MEDEIROS MOTA - MG085115
ADRIENE MARIA DE MIRANDA VERAS - DF029497
GABRIEL BATISTA RODRIGUES - MG184255
AGRAVADO : SAO MIGUEL AGRICOLA E MERCANTIL EIRELI
ADVOGADOS : DALCI FERREIRA DOS SANTOS - MG081007
JOAQUIM ALVES DA ROCHA JUNIOR - MG107625

EMENTA

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO. MULTA CONTRATUAL. COBRANÇA. RECONVENÇÃO.
DECADÊNCIA. AÇÃO PRINCIPAL. MULTA PENAL MORATÓRIA.
CONTRATO. DESCUMPRIMENTO. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA.
PREQUESTIONAMENTO. FICTO. AUSÊNCIA. ART. 1.025 DO CPC/2015.
REEXAME DE PROVAS. FUNDAMENTO. NÃO IMPUGNAÇÃO. ÔNUS DA
SUCUMBÊNCIA. REDISTRIBUIÇÃO. SÚMULA Nº 7/STJ.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de
origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia
com a aplicação do direito que entende cabível à hipótese, apenas não no
sentido pretendido pela parte.
3. A subsistência de fundamento não atacado apto a manter a conclusão
do aresto impugnado impõe o não conhecimento da pretensão recursal.
Súmula nº 283/STF.
4. É inviável a análise de violação de dispositivos de lei não
prequestionados na origem, apesar da oposição de embargos de declaração.
5. De acordo com a jurisprudência deste Tribunal Superior, a admissão de
prequestionamento ficto em recurso especial, previsto no art. 1.025 do
CPC/2015, exige que no mesmo recurso seja reconhecida a existência de
violação do art. 1.022 do CPC/2015, o que não é o caso dos autos.
6. Não há impropriedade em afirmar a falta de prequestionamento e afastar
a negativa de prestação jurisdicional, haja vista que o julgado está
devidamente fundamentado sem, no entanto, ter decidido a causa à luz dos
preceitos jurídicos suscitados pelos recorrentes.
7. Na hipótese, o acolhimento da pretensão recursal exigiria o revolvimento
do acervo fático-probatório dos autos, procedimento inviável ante a
natureza excepcional da via eleita, conforme dispõe o enunciado da Súmula
nº 7/STJ.
8. A necessidade do reexame da matéria fática impede a admissão do
recurso especial tanto pela alínea "a" quanto pela alínea "c" do permissivo
constitucional. Além disso, a tese de dissídio jurisprudencial, diante das
normas legais regentes da matéria (arts. 1.029 do CPC/2015 e 255 do
RISTJ), exige confronto entre trechos do acórdão recorrido e das decisões
apontadas como divergentes, mencionando-se as circunstâncias que
identifiquem ou assemelhem os casos confrontados, o que não ocorreu na
espécie.
9. A alteração da distribuição da sucumbência fixada pelas instâncias
ordinárias demanda o necessário revolvimento do conteúdo fático-
probatório dos autos, o que atrai a incidência da Súmula nº 7/STJ.
10. Agravo interno não provido. 

RELATÓRIO

Trata-se de agravo interno interposto por MARIA DE FÁTIMA RIBEIRO


BARBOZA e RICARDO LUIZ DA MATA BARBOZA contra a decisão que conheceu do
agravo para conhecer parcialmente do recurso especial e, nessa extensão, negar-lhe
provimento (fls. 347/352, e -STJ).
Em suas razões (fls. 355/381, e-STJ), os agravantes sustentam, em síntese,
a nulidade do acórdão por não suprir a omissão apontada nos embargos de
declaração.
No ponto, afirmam que
 
"(...) o v. acórdão recorrido incorreu em MANIFESTO ERRO
MATERIAL/OMISSÃO, posto que a decadência do direito de os ora
agravantes receberem o valor referente à área encontrada à maior JAMAIS
não poderia ser usada para se sustentar que a demora no cumprimento da
cláusula contratual teria sido injustificada!
Isso porque, durante a demora no cumprimento da cláusula
contratual, o DIREITO AO PREÇO DA ÁREA EXCEDENTE ESTAVA
INCÓLUME, sendo legítima a busca da sua implementação pelos ora
agravantes e, por conseguinte, JUSTIFICADA a mora também por essa
razão" (fl. 358, e-STJ).
 
Alegam que a condenação ao pagamento da multa penal compensatória
viola os arts. 489, § 1º, IV, e 1.022, II, do Código de Processo Civil de 2015 e 248, 393,
500 e 501 do Código Civil, além de divergir da jurisprudência desta Corte.
Defendem que a demora no cumprimento da cláusula contratual se deu por
razões alheias à sua vontade.
Argumentam que as matérias alusivas aos arts. 248, 392 e 393 do Código
Civil estão prequestionadas, ainda que de maneira ficta.
Assinalam que não há falar em incidência da Súmula nº 7/STJ, pois, "para
a correção do erro caracterizado pela equivocada distribuição do ônus sucumbencial no
caso em exame, prescinde-se de percuciente análise fático-probatória" (fl. 373, e-STJ).
Além disso, no que diz respeito ao pedido de revisão da multa moratória e
do prazo decadencial, apontam que desnecessária a análise das circunstâncias fáticas,
tendo em vista que estão delineadas no acórdão recorrido.
Ao final, requerem a reforma da decisão atacada.
Devidamente intimada, a parte contrária não ofereceu impugnação (fl. 384,
e-STJ).
É o relatório.

VOTO
O acórdão impugnado pelo recurso especial foi publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
A irresignação não merece prosperar.
Na origem, SÃO MIGUEL AGRÍCOLA E MERCANTIL - EIRELI ajuizou ação
de indenização e de cobrança de multa por descumprimento de cláusula contratual
contra MARIA DE FÁTIMA RIBEIRO BARBOZA e RICARDO LUIZ DA MATA BARBOZA,
ora agravantes.
Alegou ter firmado contrato de compra e venda de imóvel rural com os réus,
no qual estes se responsabilizaram pela outorga da escritura pública com o
georreferenciamento, logo após o pagamento integral do contrato por parte dos
compradores.
Contudo, mesmo após a quitação e cumpridas todas as demais condições
do contrato pela promitente compradora, a escritura outorgada apresentou desacordo
com o georreferenciamento, visto que teria sido encontrada uma área a maior,
necessitando de retificação por parte dos réus, que não o fizeram, o que obrigou a
autora a contratar profissionais para a regularização da documentação.
Os réus, ora agravantes, contestaram e ofereceram reconvenção alegando a
ocorrência da prescrição, pois a liquidação se deu em 15/9/2011 e a ação foi ajuizada
em 18/8/2015.
No mérito, no que ora interessa, sustentaram que a documentação somente
"não teria sido entregue em razão do não pagamento, pela reconvinda, da área a maior
encontrada no terreno, tendo, inclusive, afirmado que o comprador teria assinado sem
sua autorização pedido de retificação da área" (fl. 146, e-STJ).
Assim, pleitearam, na reconvenção, que a reconvinda fosse condenada ao
pagamento de indenização no valor de R$ 610.175,09 (seiscentos e dez mil cento e
setenta e cinco reais e nove centavos). 
O juiz de direito, considerando que se trata de compra e venda de imóvel na
modalidade ad mensuram e que o prazo decadencial para as ações que visam a
receber a diferença entre "a medida de extensão no imóvel alienado, quer seja para
maior ou para menor, é de 01 (um) ano, contado do registro do título, na forma do art.
501 do Código Civil" (fl. 146, e-STJ), reconheceu a decadência tanto dos pedidos
iniciais quanto dos pedidos formulados na reconvenção.
Ao dirimir a controvérsia, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
entendeu que a demanda principal  não se submete à decadência, mas, sim, à
prescrição, nos termos do art. 205 do Código Civil, ou seja, ao prazo decenal e, assim,
afastou tanto a decadência quanto a prescrição, tendo em vista que o descumprimento
contratual ocorreu em agosto de 2012 e a ação foi proposta em agosto de 2015, antes,
portanto, do prazo prescricional.
No que diz respeito à reconvenção, o aresto combatido está assim
fundamentado:
"(...)
Avançando, contudo, sobre a questão para analisar a
reconvenção, entendo que, neste ponto, houve a decadência do direito dos
ora apelados/reconvintes.
Isto porque os recorridos, em sede de pedido reconvencional,
pretendem seja reconhecida a venda como 'ad mensuram' e, com base
nisso, pleiteiam o pagamento do 'valor a (sic) maior encontrado na
propriedade alienada' (fl. 64).
Ora, é notório que os apelados ingressaram, por meio de
reconvenção, com ação ex empto, que, como já dito, decai no prazo de
1 (um) ano, a contar do registro.
No caso concreto, é possível perceber que houve o registro da
escritura pública de compra e venda no Cartório de Imóveis da respectiva
Comarca em 23/04/2014 (fl. 31v), ao passo que a reconvenção foi
proposta em 10/05/2016, após, portanto, o decurso do prazo decadencial"
(fl. 189, e-STJ - grifou-se).
 
Com amparo no art. 1.013, § 4º, do CPC/2015, o Colegiado local adentrou
no mérito e, entendendo pela aplicação da cláusula penal moratória e que restou
comprovado o descumprimento contratual, julgou procedentes em parte os pedidos
iniciais para condenar os réus, ora agravantes, a pagar à autora a multa no valor de
10% (dez por cento) do contrato, devidamente corrigidos pelo CGJ e acrescidos de
juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, ambos a partir de 21/2/2013, data da
notificação extrajudicial, nos termos do art. 397, parágrafo único, do Código Civil de
2002.
No que ora interessa, o voto condutor está assim consolidado:
 
"(...)
Segundo alega a recorrente, embora os apelados tenham se
comprometido a outorgar a escritura pública de compra e venda após a
liquidação total do preço ajustado, ocorrido em 15/09/2011, tal outorga foi
feito 'em desacordo com o georreferencial', tendo sido constatada uma área a
maior.
Ainda, sustenta a apelante que, mesmo notificados a cumprir tal
obrigação, os apelados se mantiveram inertes por 11 meses, quando
assinaram o requerimento de 'Retificação de Área e Divisas com Atualização
dos Confrontantes e a Averbação da Certificação do Incra', permitindo-se,
então, o registro da Escritura Pública do imóvel, em 23/04/2014.
Destaca, por fim, que teve de contratar responsável técnico e
advogado para providenciar a aludida retificação de área. Lado outro, os
apelados, em sua peça de defesa, afirmam que a escritura pública e a
documentação necessária para o georreferenciamento foram entregues na
data estipulada, porém, o georreferenciamento não foi providenciado, devido
à recusa da apelante em pagar o valor relativo à diferença de metragem do
imóvel.
Com efeito, entendo que assiste razão neste ponto à
recorrente, uma vez que, realmente, as partes acordaram que a
escritura pública de compra e venda seria outorgada após a
liquidação do preço ajustado (fl. 11), o que ocorreu em setembro de
2011.
De igual modo, há provas de que a apelante não conseguiu
promover o registro da escritura pública em razão da divergência
da área indicada no Contrato e aquela efetivamente existente, tendo de
promover a retificação desta (fls. 22/32).
É fato incontroverso, porquanto admitido pelos apelados,
que eles não anuíram com a retificação da área porque pretendiam
receber 'pela sua diferença'.
Ocorre que, como já dito, a ação ex empto é a via adequada
para obter tal complementação, desde que comprovados seus
requisitos (venda ad mensuram) e proposta no prazo decadencial
previsto em lei, o que não foi observado pelos apelados.
Portanto, a conclusão inarredável a que se chega é de que
os apelados, injustificadamente, recusaram-se a contribuir para a
retificação da área e, por consequência, descumpriram a obrigação
que lhes competia de outorgar a escritura pública após a quitação do
preço acordado.
Assim sendo, entendo que a multa moratória prevista em contrato,
no valor de 10% sobre o preço ajustado, é devida, não sendo possível,
contudo, à recorrente cobrar os prejuízos suplementares, conforme disposto
nos artigos 411 e 416 do CC/02" (fls. 195/196, e-STJ - grifou-se). 
 
Sob a assertiva de que o acórdão não se manifestou quanto à ausência de
culpa arguida na contestação, os réus, ora agravantes, opuseram embargos de
declaração.
No ponto, afirmam que receberam o imóvel em doação e não estariam
autorizados a retificar a área, porquanto não se sabe se a intenção dos doadores era
doar toda a área. Além disso, não representam o espólio dos doadores, já falecidos.
Os aclaratórios foram rejeitados, com os seguintes fundamentos:
 
"(...)
Com efeito, inexiste omissão no Acórdão embargado, notadamente
porque a questão ora ventilada, a tese da ausência de culpa por
inexistência de poderes para retificação da área, não foi levantada
nas contrarrazões recursais.
Ora, prevalece em âmbito recursal o efeito devolutivo dos recursos,
de forma que incumbe ao Tribunal conhecer apenas das matérias trazidas
pelas partes, nos termos do artigo 1.013, CPC.
Nesse contexto, se os embargantes pretendiam que este
Órgão Julgador se manifestasse sobre a ausência de poderes para
promover a retificação da área vendida, deveriam ter devolvido a
matéria para debate em grau recursal, o que não fizeram.
De todo modo, não há se falar que os embargantes não
tinham poderes para retificar a área, porque eles se comprometeram
contratualmente com a venda e entrega do imóvel em condições de
registro, não podendo imputar a terceiros (doadores) o
descumprimento desta obrigação.
Portanto, é evidente que os embargantes não cumpriram com
obrigação pela qual eles mesmos se comprometeram livremente, não sendo
possível acolher a tese de ausência de culpa.
Veja excerto do Acórdão embargado em que se evidencia tal
conclusão:
Portanto, a conclusão inarredável a que se chega é de
que os apelados, injustificadamente, recusaram-se a contribuir
para a retificação da área e, por consequência, descumpriram a
obrigação que lhes competia de outorgar a escritura pública
após a quitação do preço acordado.
 
Logo, inexiste omissão a ser sanada" (fl. 215, e-STJ - grifou-se).
 
A decisão ora atacada afastou a alegação de ofensa aos arts. 489, § 1º, IV, e
1.022, II, do CPC/2015, porque, de fato, o Tribunal de origem indicou adequadamente
os motivos que lhe formaram o convencimento, analisando de forma clara, precisa e
completa as questões relevantes do processo e solucionando a controvérsia com a
aplicação do direito que entendeu cabível à hipótese, como se observa do trecho
supratranscrito.
Extrai-se que o Tribunal acentuou que os agravantes: (i) não devolveram a
questão da ausência de poderes para promover a retificação por meio das
contrarrazões à apelação, nos termos do art. 1.013 do CPC/2015, e (ii)
 comprometeram-se contratualmente com a venda do imóvel e com o registro, não
podendo imputar a terceiros o descumprimento da obrigação.  
Não há falar, portanto, em prestação jurisdicional lacunosa ou deficitária
apenas pelo fato de o acórdão recorrido ter decidido em sentido contrário à pretensão
da parte.
Nesse sentido:
 
"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE
DANOS MATERIAIS. BENFEITORIAS EM IMÓVEL. EFEITO SUSPENSIVO.
REQUISITOS. AUSÊNCIA. ART. 1.022 DO CPC/2015. VIOLAÇÃO. NÃO
OCORRÊNCIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EFEITOS MODIFICATIVOS.
POSSIBILIDADE.
1. A atribuição de efeito suspensivo a recurso especial está circunscrita à
presença cumulativa dos requisitos da plausibilidade do direito invocado e
no perigo de dano irreparável ou de difícil reparação, que não se fazem
presentes na hipótese.
2. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal
de origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a
controvérsia com a aplicação do direito que entende cabível à
hipótese, apenas não no sentido pretendido pela parte.
3. É possível a atribuição de efeitos infringentes aos embargos de declaração
quando a alteração da decisão surgir como consequência lógica da correção
da omissão, contradição ou obscuridade.
4. Agravo interno não provido" (AgInt no AREsp 1.070.607/RN,
Relator Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, DJe
25/8/2017 - grifou-se).
 
Registra-se que, das razões do recurso especial, não se verifica impugnação
específica de tais fundamentos, o que atrai o óbice da Súmula nº 283/STF, aplicada
por analogia: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida
assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles."
A propósito:
 
"AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO
ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE
SENTENÇA. TERCEIRO DE BOA-FÉ. ART. 42, § 3º, DO CPC/73. VENDA DO
IMÓVEL. LITÍGIO PRECEDENTE. INTERDITO PROIBITÓRIO. AUTOR.
SUPOSTO TERCEIRO INTERESSADO. FUNDAMENTO INATACADO
SUFICIENTE PARA MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO. SÚMULA Nº 283/STF.
HISTÓRICO DOS FATOS. REEXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO.
SÚMULA. Nº 7/STJ. DECISÃO MANTIDA.
1. A subsistência de fundamento inatacado apto a manter a
conclusão do aresto impugnado impõe o não conhecimento da
pretensão recursal. Súmula nº 283/STF.
(...).
3. Agravo interno não provido" (AgInt nos EDcl no REsp 1.520.059/DF,
Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe
15/9/2017 - grifou-se).
 
Além disso, as matérias versadas nos arts. 248, 392 e 393 do Código Civil,
apontados como violados no recurso especial, não foram objeto de prequestionamento,
embora opostos embargos de declaração. Ausente o requisito do prequestionamento,
incide o disposto na Súmula nº 211/STJ: "Inadmissível recurso especial quanto à
questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo
Tribunal a quo."
De mais a mais, não há impropriedade em afirmar a falta de
prequestionamento e afastar a negativa de prestação jurisdicional, haja vista que o
julgado está devidamente fundamentado sem, no entanto, ter decidido a causa à luz
dos preceitos jurídicos suscitados pelo recorrente.
Observa-se, ainda, que, de acordo com a jurisprudência deste Tribunal
Superior, a admissão de prequestionamento ficto em recurso especial, previsto no art.
1.025 do CPC/2015, exige que no mesmo recurso seja reconhecida a existência de
violação do art. 1.022 do CPC/2015, o que não é o caso dos autos.
Sobre o tema:
 
"CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. INVENTÁRIO. -
LIQUIDAÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE LIMITADA. PARTICIPAÇÃO NOS
LUCROS PROPORCIONAIS ÀS COTAS INVENTARIADAS - HERDEIROS
SÓCIOS EM CONDOMÍNIO - CABIMENTO - PRESCRIÇÃO DO DIREITO - NÃO
OCORRÊNCIA.
01. Inviável o recurso especial na parte em que a insurgência recursal não
estiver calcada em violação a dispositivo de lei, ou em dissídio
jurisprudencial..
02. Avaliar o alcance da quitação dada pelos recorridos e o que se apurou a
título de patrimônio líquido da empresa, são matérias insuscetíveis de
apreciação na via estreita do recurso especial, ante o óbice da Súmula
7/STJ.
03. Inviável a análise de violação de dispositivos de lei não
prequestionados na origem, apesar da interposição de embargos de
declaração.
04. A admissão de prequestionamento ficto (art. 1.025 do CPC/15), em
recurso especial, exige que no mesmo recurso seja indicada violação
ao art. 1.022 do CPC/15, para que se possibilite ao Órgão julgador
verificar a existência do vício inquinado ao acórdão, que uma vez
constatado, poderá dar ensejo à supressão de grau facultada pelo
dispositivo de lei.
05. O pedido de abertura de inventário interrompe o curso do prazo
prescricional para todas as pendengas entre meeiro, herdeiros e/ou
legatários que exijam a definição de titularidade sobre parte do patrimônio
inventariado.
06. Recurso especial não provido" (REsp 1.639.314/MG, Relatora Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, DJe 10/4/2017 - grifou-se).
 
Anota-se que a jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que "o
prequestionamento é indispensável ao conhecimento da questão veiculada no âmbito do
Superior Tribunal de Justiça, ainda que se trate de matéria de ordem pública" (AgRg no
REsp nº 1.505.392/PE, Relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe
6/11/2015).
Nesse mesmo sentido:
 
"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL E
PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA Nº
282/STF INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA E REEXAME DE PROVA.
SÚMULAS Nº 5 E Nº 7/STJ. INVIABILIDADE.
1. Ausente o prequestionamento, até mesmo de modo implícito, dos
dispositivos apontados como violados no recurso especial, incide, por
analogia, o disposto na Súmula nº 282 do Supremo Tribunal Federal.
2. As questões de ordem pública, embora passíveis de conhecimento
de ofício nas instâncias ordinárias, não prescindem, no estreito
âmbito do recurso especial, do requisito do prequestionamento.
3. Rever questão decidida com base na interpretação das normas contratuais
e no exame das circunstâncias fáticas da causa esbarra nos óbices das
Súmulas nºs 5 e 7 deste Tribunal.
4. Agravo regimental não provido" (AgRg no AREsp 568.759/SP, Relator
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, DJe
27/10/2015 - grifou-se).
 
Também não há como afastar a incidência da Súmula nº 7/STJ, tendo em
vista que rever a conclusão do tribunal de origem no tocante à decadência e
ao cabimento da multa moratória, no caso, demandaria a análise das circunstâncias
fáticas utilizadas pelo aresto recorrido para fundamentar a sua conclusão.
Isso porque, conforme se extrai dos trechos supratranscritos, a reconvenção
foi ajuizada após o transcurso de 1 (um) ano, prazo aplicável às ações que visam a
receber o pagamento do valor a maior encontrado na propriedade alienada. Além do
mais, o contrato foi descumprido injustificadamente.
O acolhimento da pretensão recursal exigiria o revolvimento do acervo
fático-probatório dos autos, o que se mostra inviável ante a natureza excepcional da
via eleita, conforme dispõe o enunciado da Súmula nº 7/STJ.
Ressalta-se que, além de o mesmo óbice sumular inviabilizar o
conhecimento do recurso especial pela alínea "c" do permissivo constitucional, a tese
de dissídio jurisprudencial, diante das normas legais regentes da matéria (arts. 1.029
do CPC/2015 e 255 do RISTJ), exige confronto entre trechos do acórdão recorrido e
das decisões apontadas como divergentes, mencionando-se as circunstâncias que
identifiquem ou assemelhem os casos confrontados, o que não ocorreu na espécie.
Por fim, no tocante à alegada distribuição dos ônus sucumbenciais, é
entendimento assente neste Tribunal Superior que
 
"(...)
Aferir-se o decaimento de cada litigante, com o objetivo de
estabelecer-se a proporção dos ônus sucumbenciais, implica em reapreciação
de matéria fática, o que não é permitido neste eg. Tribunal em razão do
enunciado da Súmula 7 do Superior Tribunal de Justiça" (REsp 422.111/AP,
Relator Ministro Francisco Peçanha Martins, Segunda Turma, DJ de
13/2/2006).
 
Confira-se:
 
"AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONTRATO
BANCÁRIO. ART. 535 DO CPC/1973. VIOLAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA.
JUROS REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE. APURAÇÃO PELA TAXA MÉDIA
DE MERCADO. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. CUMULAÇÃO COM OUTROS
ENCARGOS. ILEGALIDADE. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. PREVISÃO
CONTRATUAL. AUSÊNCIA. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. REDISTRIBUIÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ.
1. Não subsiste a alegada ofensa ao art. 535 do CPC/1973, pois o tribunal
de origem enfrentou as questões postas, não havendo no aresto recorrido
omissão, contradição ou obscuridade.
2. Em qualquer hipótese, é possível a correção para a taxa média se for
verificada abusividade nos juros remuneratórios praticado.
3. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que a
capitalização de juros mensal não pode ser aplicada sem previsão clara e
expressa no contrato.
4. Segundo o entendimento pacificado por essa Corte, a comissão de
permanência não pode ser cumulada com quaisquer outros encargos
remuneratórios ou moratórios.
5. A alteração da distribuição da sucumbência fixada pelas
instâncias ordinárias demanda o necessário revolvimento do
conteúdo fático-probatório dos autos, o que atrai a incidência da
Súmula nº 7/STJ.
6. Agravo interno não provido" (AgInt no AREsp nº 909.361/BA, Relator
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Terceira Turma, julgado em
16/2/2017, DJe de 23/2/2017 - grifou-se).
 
As razões do presente recurso não são suficientes para reformar a decisão
atacada, que merece ser mantida por seus próprios fundamentos.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo interno.
É o voto.
TERMO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AgInt no AREsp 1.993.729 / MG
Número Registro: 2021/0315191-9 PROCESSO ELETRÔNICO

Número de Origem:
10363150035964004

Sessão Virtual de 03/11/2022 a 09/11/2022

Relator do AgInt
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA

AUTUAÇÃO

AGRAVANTE : MARIA DE FÁTIMA RIBEIRO BARBOZA


AGRAVANTE : RICARDO LUIZ DA MATA BARBOZA
ADVOGADOS : ABELARDO MEDEIROS MOTA - MG085115
ADRIENE MARIA DE MIRANDA VERAS - DF029497
GABRIEL BATISTA RODRIGUES - MG184255
AGRAVADO : SAO MIGUEL AGRICOLA E MERCANTIL EIRELI
ADVOGADOS : DALCI FERREIRA DOS SANTOS - MG081007
JOAQUIM ALVES DA ROCHA JUNIOR - MG107625

ASSUNTO : DIREITO CIVIL - RESPONSABILIDADE CIVIL - INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL

AGRAVO INTERNO

AGRAVANTE : MARIA DE FÁTIMA RIBEIRO BARBOZA


AGRAVANTE : RICARDO LUIZ DA MATA BARBOZA
ADVOGADOS : ABELARDO MEDEIROS MOTA - MG085115
ADRIENE MARIA DE MIRANDA VERAS - DF029497
GABRIEL BATISTA RODRIGUES - MG184255
AGRAVADO : SAO MIGUEL AGRICOLA E MERCANTIL EIRELI
ADVOGADOS : DALCI FERREIRA DOS SANTOS - MG081007
JOAQUIM ALVES DA ROCHA JUNIOR - MG107625

TERMO

A TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 03/11/2022 a 09


/11/2022, por unanimidade, decidiu negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino, Marco Aurélio Bellizze e
Moura Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.

Brasília, 10 de novembro de 2022

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