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EMENTA
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da QUARTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 06/12/2022 a
12/12/2022, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto da Sra.
Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Raul Araújo, Antonio Carlos Ferreira e
Marco Buzzi votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Raul Araújo.
RELATÓRIO
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REsp 1867013 Petição : 763900/2020 C542542155;00560092908@ C065308443443032506230@
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AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.867.013 - SC (2020/0062184-3)
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REsp 1867013 Petição : 763900/2020 C542542155;00560092908@ C065308443443032506230@
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VOTO
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nessas hipóteses, a fixação da reparação deve sopesar apenas
a natureza compensatória do instituto.
DANOS ESTÉTICOS. RÉ QUE PRETENDE A REDUÇÃO E
AUTORA, O AUMENTO. QUANTUM FIXADO QUE SE
MOSTRA EXCESSIVO EM RELAÇÃO À EXTENSÃO DO
DANO. MINORAÇÃO QUE SE IMPÕE. OBSERVÂNCIA DOS
CRITÉRIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA
RAZOABILIDADE. APELO DA RÉ PROVIDO NO PONTO.
PENSÃO MENSAL (ART. 950 DO CC). AMPUTAÇÃO DE
PARTE DO INDICADOR QUE NÃO IMPLICA REDUÇÃO DA
CAPACIDADE PARA O TRABALHO EXERCIDO PELA
AUTORA, QUE É EMPRESÁRIA E ATUA NO RAMO DE
SORVETES. AUSÊNCIA DE PERDA SALARIAL COM O
ACIDENTE. RECURSO DA RÉ ACOLHIDO PARA AFASTAR
A PENSÃO PRETENDIDA.
ÔNUS SUCUMBENCIAIS. REDISTRIBUIÇÃO DIANTE DA
REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA.
PLEITO DE MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS QUE MERECE ACOLHIMENTO, EM
ATENÇÃO AO DISPOSTO NO § 3º DO ART. 20 DO
CPC/1973. RECURSOS CONHECIDOS E PARCIALMENTE
PROVIDOS.
Sustenta a recorrente que o Tribunal de origem afastou
equivocadamente o laudo pericial do expert, e com base
exclusivamente em suas convicções pessoais negou a indenização
material pela redução da capacidade de trabalho, no caso a pensão
mensal.
Afirma, por outro lado, que devem ser fixados os juros de mora desde
a data do evento danoso, e a correção monetária desde a data do
arbitramento.
Assim posta a questão, passo a decidir.
Verifico que o Tribunal de origem afastou a condenação da empresa
recorrida ao pagamento de pensão mensal, por não ter comprovado a
autora, ora recorrente, que se encontrava impedida de continuar
realizando suas atividades profissionais habituais em virtude do evento
danoso, conforme se extrai dos seguintes trechos (fls. 299/300):
(...) Pretende a ré o afastamento da pensão mensal, sob o
argumento de que a perícia judicial concluiu que a autora detém
capacidade laboral. O magistrado de origem entendeu que,
"ainda que a autora possa retomar a atividade profissional,
houve redução da capacidade laboral em razão da amputação"
(p. 197).
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A pensão mensal, no âmbito da responsabilidade civil, é devida
em casos nos quais da ofensa resulta defeito que impeça a
vítima de exercer seu ofício ou profissão ou que lhe diminua a
capacidade de trabalho - neste caso, o valor da pensão deve
corresponder à importância do trabalho para que se inabilitou ou
da depreciação que ele sofreu (art. 950 do Código Civil).
No caso em tela, embora o perito judicial tenha consignado que
houve redução parcial e permanente de 6%, decorrente da
amputação de parte do indicador da mão direita da autora, ele
concluiu que:
"Não houve perda da capacidade laborativa por parte da autora,
em relação à atividade que exercia quando do acidente relatado,
mas sim a autora refere constrangimento para vender sorvetes
devido ao aspecto de sua mão" (p. 136).
Analisando a documentação anexada com a exordial, vê-se que
a autora é sócia da empresa Sorvetes Spessatto Ltda ME (p.
41/44) e inclusive se intitulou como empresária na petição inicial
(p. 2), razão pela qual não há se falar em incapacidade
laborativa.
A autora não comprovou que, em virtude do evento danoso,
encontra-se realmente impedida de continuar realizando suas
atividades profissionais habituais.
É importante ressaltar ainda que o constrangimento mencionado
pela autora não é capaz de justificar o deferimento da pensão
mensal, porquanto esse mal-estar já está sendo reparado por
meio das indenizações por danos morais e estéticos, que não se
confundem, em absoluto, com o benefício material pretendido.
Diante disso, acolhe-se o recurso da ré para afastar a sua
condenação ao pagamento de pensão mensal. (...)
Com efeito, registro que o acórdão recorrido está em consonância
com a jurisprudência do STJ, que já decidiu que não cabe a pensão
mensal quando não verificado o prejuízo para a vítima do evento
danoso. A propósito, confira-se:
RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO.
INDENIZAÇÃO. DIREITO COMUM. AUTONOMIA EM
RELAÇÃO À PREVIDENCIÁRIA. PRECEDENTES.
INCAPACIDADE PARA A FUNÇÃO QUE EXERCIA.
EMPREGO EM OUTRA COM A MESMA REMUNERAÇÃO.
PENSÃO INDEVIDA. CASO CONCRETO. ART. 1.539,
CÓDIGO CIVIL. INTERPRETAÇÃO. PRECEDENTE DA
TERCEIRA TURMA. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.
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I - A indenização previdenciária é diversa e independente da
contemplada no direito comum, inclusive porque têm elas
origens distintas: uma, sustentada pelo direito acidentário; a
outra, pelo direito comum, uma não excluindo a outra
(enunciado n. 229/STF), podendo, inclusive, cumularem-se.
II - A norma do art. 1.539 do Código Civil traz a presunção de
que o ofendido não conseguirá exercer outro trabalho.
Evidenciado que a vítima continuou a trabalhar nesse período,
ainda que em atividade distinta, mas com a mesma
remuneração, a pensão é descabida, por ausência de prejuízo.
(REsp 235.393/RS, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO
TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 23.11.1999, DJ de
28.2.2000, p. 89)
Transcrevo, por oportuno, trechos do voto condutor do referido
julgado:
(...) A indenização por dano material, em forma de pensão, tem
como objetivo proporcionar à vítima o recebimento dos mesmos
rendimentos que auferia anteriormente à redução ocorrida em
sua capacidade produtiva. Ou seja, visa recompor a renda que a
vítima não poderá mais auferir em razão da debilidade sofrida.
Vinda a vítima, portanto, a dedicar-se, em determinado período,
a outra atividade, que lhe proporcione os mesmos rendimentos,
não há prejuízo material que justifique o pagamento de uma
pensão paralela. Se assim não fosse, estaria o autor
enriquecendo-se indevidamente. (...)
No caso dos autos, a Corte de origem expressamente destacou que
"embora o perito judicial tenha consignado que houve redução parcial
e permanente de 6%, decorrente da amputação de parte do indicador
da mão direita da autora, ele concluiu que: 'Não houve perda da
capacidade laborativa por parte da autora, em relação à atividade que
exercia quando do acidente relatado (...)" (fl. 299).
Além disso, destacou que a autora não comprovou que, em virtude do
evento danoso, encontra-se realmente impedida de continuar
realizando suas atividades profissionais habituais.
Dessa forma, não tendo havido prejuízo para a recorrente, mormente
porque não houve perda da capacidade laborativa em relação à
atividade que exercia quando do acidente ocorrido, está correto o
acórdão recorrido ao afastar a condenação ao pagamento de pensão
mensal.
Por outro lado, observo que o termo inicial dos juros de mora é a data
do evento danoso, e da correção monetária é a data do arbitramento,
nos termos da jurisprudência do STJ. A propósito, confira-se:
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REsp 1867013 Petição : 763900/2020 C542542155;00560092908@ C065308443443032506230@
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AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. ACIDENTE
DE TRÂNSITO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. FALTA
DE PROVA DA HIPOSSUFICIÊNCIA DA SEGURADORA,
EM PROCESSO DE LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL.
SÚMULA 7/STJ. CONCLUSÃO ACERCA DA SUSPENSÃO
DA INCIDÊNCIA DE JUROS DE MORA APENAS DA FASE
DE EXECUÇÃO. SÚMULA 83/STJ. JUROS DE MORA EM
RELAÇÃO À REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. EVENTO
DANOSO. APLICAÇÃO DA SÚMULA 54/STJ. INCIDÊNCIA
DO VERBETE SUMULAR N. 83/STJ. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO.
1. Não há nenhuma omissão ou mesmo contradição a serem
sanadas no julgamento estadual, portanto inexistentes os
requisitos para reconhecimento de ofensa ao art. 1.022 do novo
CPC. A segunda instância dirimiu a controvérsia com base em
fundamentação sólida, sem tais vícios, o que não se confunde
com omissão ou contradição, tendo em vista que apenas
resolveu a celeuma em sentido contrário ao postulado pela parte
insurgente.
2. Com base nas provas dos autos, o Tribunal estadual
assentou que, embora em processo de liquidação extrajudicial, a
seguradora não teria demonstrado sua hipossuficiência, logo,
não seria caso de concessão de gratuidade de justiça. Essas
premissas atraem a aplicação da Súmula 7/STJ.
3. A conclusão no sentido de que não era caso de exclusão dos
juros de mora e correção monetária, porquanto o art. 18, d e f,
da Lei n.
9.024/1974 não obsta sua incidência na fase de conhecimento,
surtindo efeitos apenas no momento de cumprimento do julgado,
está em sintonia com a jurisprudência desta Corte Superior
(Súmula 83/STJ). Precedentes.
4. O acórdão fixou que, em casos de responsabilidade civil
extracontratual, os juros moratórios incidem sobre a indenização
por dano moral desde o evento danoso (Súmula 54/STJ) e
correção monetária desde a data do arbitramento (Súmula
362/STJ). Esse entendimento também não destoa da
jurisprudência deste Tribunal - a aplicação da Súmula 83/STJ.
5. Agravo interno desprovido.
(AgInt no REsp 1.827.648/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 10.8.2020, DJe de
17.8.2020) (grifo nosso)
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Em face do exposto, dou parcial provimento ao recurso especial
apenas para definir que o termo inicial dos juros moratórios é a data
do evento danoso, e da correção monetária é a data do arbitramento.
Intimem-se.
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TERMO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
AgInt no REsp 1.867.013 / SC
Número Registro: 2020/0062184-3 PROCESSO ELETRÔNICO
Número de Origem:
00028081220098240036 0002808122009824003650000 036090028088 2808122009824003650000
Relator do AgInt
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RAUL ARAÚJO
Secretário
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
AGRAVO INTERNO
TERMO