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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Segunda Câmara Cível

Apelação Cível nº 0037560-07.2019.8.19.0001


Apelante: Amil Assistência Médica Internacional S.A.
Apelado: Davi Duarte da Silva
Relatora: Desembargadora Maria Isabel Paes Gonçalves

ACÓRDÃO

APELAÇÃO CÍVEL. RELAÇÃO DE CONSUMO.


AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA
COM INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS.
PLANO DE SAÚDE. ALEGAÇÃO DE
CANCELAMENTO UNILATERAL DO CONTRATO
PELO PLANO DE SAÚDE EMPRESARIAL
COLETIVO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA
PARCIAL. IRRESIGNAÇÃO DA PARTE RÉ.
CONSTATAÇÃO DE FRAUDE PERPETRADA
PELA ESTIPULANTE QUE GEROU O
CANCELAMENTO UNILATERAL DO CONTRATO,
COM NEGATIVA DE ATENDIMENTO EM
CONTINUAÇÃO DE TRATAMENTO
QUIMIOTERÁPICO. AUSÊNCIA DE
COMUNICAÇÃO À PARTE AUTORA,
BENEFICIÁRIA DO PLANO DE SAÚDE
CONTRATADO DO CANCELAMENTO. AUSÊNCIA
DE COMPROVAÇÃO PELA PARTE RÉ DA MÁ-FÉ
DA PARTE AUTORA AO CONTRATAR.
INOBSERVÂNCIA DO ARTIGO 1º DA RESOLUÇÃO
DO CONSU Nº 19 DE 1999, QUE EXIGE A
DISPONIBILIZAÇÃO DE PRODUTO INDIVIDUAL
OU FAMILIAR AOS BENEFICIÁRIOS DO PLANO
COLETIVO. OPERADORA QUE CONTA COM
PREPOSTOS/AGENTES/CORRETORES QUE
ATUAM NA CAPTAÇÃO DE CONTRATOS E
CLIENTELA E, POR CERTO, A CONTRATAÇÃO
QUE SE APUROU FRAUDULENTA FOI
REALIZADA POR PESSOA HABILITADA PELA
AMIL PARA ATUAR EM SEU NOME NA
CONFECÇÃO DA AVENÇA. LOGO, CABERIA A
PARTE RÉ PROCEDER AS NECESSÁRIAS
VERIFICAÇÕES DAS INFORMAÇÕES
PRESTADAS E DADOS COLETADOS ANTES DE
EFETIVAR A CONTRATAÇÃO, COM VISTAS À

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MARIA ISABEL PAES GONCALVES:17531 Assinado em 18/07/2022 19:20:24


Local: GAB. DES(A). MARIA ISABEL PAES GONCALVES
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PROTEÇÃO DE SUA ATIVIDADE E DOS


BENEFICIÁRIOS DE BOA-FÉ. FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO CONFIGURADA.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA QUE SE IMPÕE.
MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS
SUCUMBENCIAIS. DESPROVIMENTO DO
RECURSO.

Vistos, relatados e discutidos este recurso de Apelação Cível n° 0037560-


07.2019.8.19.0001, em que é apelante AMIL ASSISTÊNCIA MÉDICA INTERNACIONAL
S.A. e apelado DAVI DUARTE DA SILVA.

A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Segunda Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso, nos termos do voto da Relatora.

Trata-se de apelação cível interposta por AMIL ASSISTENCIA MÉDICA


INTERNACIONAL S.A., às e-fls. 537/555, contra sentença de e-fls. 512/514, nos autos
da ação de obrigação de fazer, prolatada nos termos do seguinte dispositivo, in verbis:

.................................................................................................
“Isto posto, julgo procedente o pedido inicial e converto em
definitiva a decisão de fls. 56. Com base no princípio da
razoabilidade, condeno a ré à indenização a título de danos
morais no valor de R$4.000,00 (quatro mil reais), acrescido
de juros da citação e correção monetária desta data, bem
como, nas custas, despesas do processo, e honorários
advocatícios de 10% (dez por cento) sobre o valor da
condenação. P.R.I. Niterói, 05/05/2022. Cristiane da Silva
Brandão Lima - Juiz em Exercício”.
.................................................................................................

Em seu apelo, a parte ré alega que “a parte autora foi beneficiária do plano
coletivo por adesão, através de CONTRATO EMPRESARIAL, firmado entre a Amil e o
C D A CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO DE ALUMINIIO REPRESENTAÇÕES LTDA, e,
neste caso em específico, tendo como titular o SR. FABIANO PINHEIRO SANTANA, e
não a parte autora, sendo, portanto, um plano de saúde coletivo por adesão, o qual
foi cancelado em decorrência do óbito do titular. Neste Sentido, contrariamente ao que
consta da r. sentença ora guerreada, em razão do aumento repentino no número
dos beneficiários, foi realizada auditoria interna na empresa Ré que identificou
diversas irregularidades nos documentos e informações fornecidas pela contratante
ao incluir os beneficiários no plano de saúde coletivo. Urge observar que as

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irregularidades localizadas pela Ré foram quanto à ausência de elegibilidade dos 43


beneficiários titulares incluídos no plano coletivo POR NÃO POSSUÍREM VÍNCULO
EMPREGATÍCIO. Quantidade de Vidas: 66 Qtd. de Titulares: 43 Com vínculo: 0 Sem
vínculo: 43 . Além disso, Colenda Câmara, não foi observado pelo Douto Magistrado
a quo constatado que a listagem de FGTS que comprovaria o vínculo empregatício é
falsa. Foram apresentadas informações de registro de funcionários que já são
funcionários de outras empresas, inclusive com contratos suspensos por suspeita de
fraude junto a Ré, inclusive com vinculo ainda em aberto. Além disso, é importante
destacar que o endereço mencionado como sede da empresa foi visivelmente
informado com o intuito de enganar a contratada, uma vez que o local não se
compara a nenhuma sede de empresa”.

Aduz que “o contrato firmado pela contratante e a Ré dispõe de forma


clara e inequívoca que a Demandada poderá rescindir o contrato sem
a anuência da Contratante nos casos de fraude e que é a Contratante
quem deve comunicar aos beneficiários sobre a extinção do contrato”.

Ressalta que, “para que a Apelante, seja incluída em contrato na


modalidade coletivo empresarial, por não terem vínculo com a empresa, depende da
participação do beneficiário titular no plano de assistência à saúde. Isto posto, mostra-se
inconteste a necessidade, para a inclusão de beneficiários em contratos desta natureza,
a demonstração inequívoca de elegibilidade, evidenciada por meio de comprovação
de vínculo com a pessoa jurídica contratante, o que não ocorreu no caso em tela”.

Assevera que “a importância da fixação dos riscos assumidos neste gênero


contratual é tamanha que, ao verificar-se a existência de circunstâncias que agravem
o risco assumido, o segurador pode optar entre a extinção do contrato ou o
complemento do prêmio, mesmo que o segurado tenha agido de boa-fé ao omitir a
existência da circunstância agravante do risco”.

Salienta que, “por direito adquirido, entenda-se o direito subjetivo da parte


Ré em ter garantido o cumprimento da Lei 9.656/98, no que esta prescreve que seu
dever de cobrir tão somente os procedimentos constantes no contrato celebrado”.

Afirma que, “de maneira que se exige por parte das empresas fornecedoras
ou prestadoras de serviços respeito aos direitos do consumidor, sob pena de severas
punições, não raras vezes, reparações por danos morais, a mesma expectativa deve
recair sobre o consumidor. Pelo exposto, é certo que se a parte autora aderiu ao contrato
de plano de saúde, logo, espera-se da autora, em nome do princípio da boa-fé, que
respeite o instrumento em sua íntegra, e não, ao revés, busque cumprimento só daquilo
que, em tese, beneficia-lhe individualmente”.

Sustenta que “a r. sentença condenou a Apelante ao pagamento de R$


4.000,00 (quatro mil reais), a título de danos morais, mesmo sem ter praticado qualquer

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conduta lesiva. Destarte, resta claro que a Recorrente não cometeu qualquer
conduta ilícita, muito pelo contrário, agiu em perfeita consonância com a lei e, por
conseguinte, com o contrato que rege a relação entre as partes, razão pela qual,
impossível lhe imputar qualquer tipo de dano”.

Acresce que, “caso seja mantida a condenação da Apelante, o que


realmente não se acredita, tal condenação deve ser graduada, considerando-se o
Princípio da Razoabilidade e a extensão do dano, independente da Apelante ser
pessoa física ou jurídica. Com efeito, a hipótese dos autos não enseja a condenação
da Apelante ao pagamento da fabulosa quantia de R$ 4.000,00 (quatro mil reais). Mister
se faz destacar, que ao fixar o quantum da condenação não há qualquer tabela legal
para tal fim, de modo que compete ao I. Julgador, orientando-se pelo princípio da
razoabilidade, estimar uma quantia compatível com a reprovabilidade da conduta,
levando em consideração que se a reparação deve ser a mais ampla possível, não pode
o dano transforma-se em fonte de lucro e/ou enriquecimento sem causa.
Justamente nesses dois limites é que deve ter prudência e bom senso para basear
o seu entendimento”.

Requer o provimento do recurso, com “a reforma da sentença, dando-se


provimento ao presente recurso, com o fim de julgar improcedente a pretensão
autoral, com a consequente revogação da tutela anteriormente concedida, com a
condenação da parte autora em custas e ônus sucumbenciais”.

Certidão cartorária acerca da tempestividade e do preparo da apelação, às


e-fls. 559.

Contrarrazões oferecidas, às e-fls. 569/578, pela manutenção da sentença.

Certidão cartorária acerca da tempestividade das contrarrazões, às e-fls.


579.

Decisão de admissão recursal, às e-fls. 584.

É o Relatório.

Cinge-se a controvérsia sobre o cancelamento unilateral do plano de saúde


do autor, motivo pelo qual teria havido a negativa de continuação de atendimento do
demandante durante a seu tratamento quimioterápico.

Alega a parte autora, em suma, que firmou contrato de adesão ao plano


empresarial de assistência médica da ré em 28/11/2018, o qual vinha sendo pago de
forma assídua mensalmente. Sustenta que é portador de câncer no reto com metástase
hepática e faz tratamento quinzenal de quimioterapia.

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Aduz, ainda, que recebeu a notícia de que a parte ré se recusou a cobrir o


tratamento, vez que o plano teria sido cancelado.

Verifica-se que os documentos acostados pela parte autora à sua inicial


comprovam os fatos constitutivos de seu direito, nos termos do art. 373, I, do CPC/2015,
demonstrando cabalmente a existência de relação jurídica com a parte ré, consoante e-
fls. 47/48, bem como os documentos relativos ao tratamento às e-fls. 27/30 e 37/45.

Por seu turno, a demandada aduz, na peça de bloqueio, a possibilidade de


rescisão contratual unilateral em razão do fornecimento de informações inverídicas pela
contratante. Isso porque, após auditoria interna, constatou fraude na contratação
coletiva, em que a empresa estipulante CDA – Centro de Distribuição de Alumínio
Representações Ltda. teria cadastrado os associados como funcionários, apesar da
ausência de vínculo empregatício entre eles, o que motivou o cancelamento do plano de
saúde, nos termos da Resolução Normativa n. 195 da ANS.

Em réplica, a autora afirmou que “não foi informado pela a empresa que o
plano estava cancelado, desconhecendo a fraude apresentada pela empresa ré” e que
“em nenhum momento foi comunicado sobre o cancelamento do seu plano de saúde
empresarial, já que constava na relação dos empregados da empresa e os descontos
sendo realizados”.

O juízo de origem julgou parcialmente procedentes os pleitos autorais.


Inconformada, a parte ré interpôs apelação, todavia não assiste razão à apelante acerca
de sua irresignação.

Versando a matéria sobre relação de consumo, destaca-se que, segundo


o artigo 14, § 3º da Lei 8.078/90, o prestador do serviço só se exime da responsabilidade
se comprovada uma das excludentes nele previstas, quais sejam: inexistência do defeito
ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros, o que não ocorreu no caso concreto.

Com efeito, resta evidente que a seguradora de saúde foi vítima de fraude,
haja vista que a empresa estipulante contratou seguro coletivo perante a ré Amil, fazendo
constar que os beneficiários eram seus funcionários, o que, todavia, não correspondia à
verdade. Por outro lado, verifica-se que não há qualquer comprovação de vínculo
empregatício entre o autor e a referida empresa, e por tal razão a ré cancelou o contrato
firmado com a referida empresa CDA – Centro de Distribuição de Alumínio
Representações Ltda.

Acresce a operadora que oportunizou à estipulante a apresentação de


documentos complementares que comprovassem o vínculo empregatício dos
beneficiários, anteriormente ao cancelamento do contrato, conforme e-fls. 245, o que,
todavia, não foi atendido gerando o cancelamento do contrato em razão das informações
inverídicas, configurando situação fraudulenta.

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Induvidoso que poderia a ré proceder ao cancelamento do contrato, uma


vez apurada irregularidade ou fraude que autorizasse a cessação do serviço, nos termos
em que pactuado.

Todavia, a ré não comprovou que tenha realizado comunicação ao autor,


na condição de usuário do serviço, do cancelamento do plano de saúde. O que
efetivamente, deveria ter sido promovido. Sendo certo que o fato da contratação ter sido
formulada com a empresa tampouco afasta o dever de informação em relação ao autor,
- repita-se – na condição de usuário do serviço.

Importante registrar que tampouco restou demonstrado que o autor tenha


participado de alguma forma da contratação fraudulenta. Fato que, se demonstrado,
poderia alterar a conclusões aqui exaradas.

Ademais, em que pese a possibilidade de cancelamento unilateral em caso


de constatação de fraude, e não havendo comprovação da má-fé do autor ao contratar
(ou seja, de que teria ciência do fato de ter contratado seguro coletivo empresarial sem
ter qualquer vínculo com aquela pessoa jurídica), caberia a parte ré oferecer alternativa
para manutenção do contrato, notadamente por se tratar de serviço de saúde.

Nos termos do artigo 1º da Resolução do Conselho de Saúde Suplementar


- CONSU nº 19 de 1999, “as operadoras de planos ou seguros de assistência à saúde,
que administram ou operam planos coletivos empresariais ou por adesão para empresas
que concedem esse benefício a seus empregados, ou ex-empregados, deverão
disponibilizar plano ou seguro de assistência à saúde na modalidade individual ou
familiar ao universo de beneficiários, no caso de cancelamento desse benefício, sem
necessidade de cumprimento de novos prazos de carência”.

Assim, afigura-se abusivo o cancelamento do contrato sem a observância


da norma insculpida no artigo 1º da Resolução CONSU nº 19 de 1999.

Nesse sentido, a jurisprudência desta Corte:

.................................................................................................
“0011564-67.2016.8.19.0209 – APELAÇÃO - Des(a). CINTIA
SANTAREM CARDINALI - Julgamento: 23/05/2018 -
VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZATÓRIA. HIPÓTESE
QUE VERSA SOBRE SUPOSTA FALHA NA PRESTAÇÃO
DE SERVIÇO DA PARTE RÉ, REFERENTE A
ALTERAÇÕES EFETUADAS UNILATERALMENTE NO
PLANO DE SAÚDE CONTRATADO PELA AUTORA.

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SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA, ENTENDENDO PELA


PERDA DE OBJETO DO PEDIDO DE EMISSÃO DE NOVA
CARTEIRINHA, EM RAZÃO DO CANCELAMENTO
UNILATERAL DO PLANO PELA PARTE RÉ (UNIMED), EM
VIRTUDE DE FRAUDE CONSTATADA COM AS
EMPRESAS INTERMEDIADORAS. PLANO COLETIVO POR
ADESÃO. RECURSO DA AUTORA, QUE MERECE
PROVIMENTO. DEMANDANTE QUE, EMBORA
HIPOSSUFICIENTE, NÃO ESTÁ ISENTA DE REALIZAR
PROVA MÍNIMA DO QUE ALEGA, ÔNUS QUE LHE
INCUMBE E FOI DEVIDAMENTE CUMPRIDO, NOS
TERMOS DO ART. 373, I, DO CPC/2015. REPISA AS
ASSERTIVAS DA INICIAL, NO SENTIDO DE FRAUDE
CONSTATADA NA RELAÇÃO ENTRE A EMPRESA
INTERMEDIADORA E A OPERADORA DO PLANO DE
SAÚDE, A QUE A AUTORA NÃO DEU CAUSA, MAS
SOFREU DIRETAMENTE AS CONSEQUÊNCIAS NOCIVAS,
QUE GERARAM DANO MORAL. CONTRATO COLETIVO
POR ADESÃO. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 13 DA LEI
Nº 9.656/1998. NO ENTANTO, OBSERVADA A
ADIMPLÊNCIA DA AUTORA E A ILICITUDE DA RESCISÃO
DO CONTRATO EM TELA. RÉ QUE DEIXOU DE CUMPRIR
O DETERMINADO PELA RESOLUÇÃO 19 DO CONSU,
POIS NÃO DISPONIBILIZOU À AUTORA A MIGRAÇÃO
PARA UM PLANO DE SAÚDE INDIVIDUAL.
CANCELAMENTO UNILATERAL EM VIRTUDE DE
FRAUDE, A QUAL CONSUBSTANCIA FORTUITO
INTERNO, INERENTE AO DESENVOLVIMENTO DA
ATIVIDADE PELO FORNECEDOR DO SERVIÇO, SENDO
INCABÍVEL TRANSFERIR TAL RESPONSABILIDADE PARA
O CONSUMIDOR, PARTE VULNERÁVEL NA RELAÇÃO
JURÍDICA. DANO MORAL CONFIGURADO. AUTORA, QUE
É IDOSA E ANALFABETA (SUPERVULNERÁVEL), E
SOFREU DIVERSOS TRANSTORNOS POR NÃO
CONSEGUIR REALIZAR EXAMES, EM RAZÃO ADS
CONSTANTES MUDANÇAS EM SUA CARTEIRINHA E, AO
FINAL, TEVE SEU PLANO UNILATERALMENTE
CANCELADO, SEM AVISO PRÉVIO. VERBA
COMPENSATÓRIA ARBITRADA EM R$8.000,00 (OITO MIL
REAIS), EM ATENÇÃO AOS PARÂMETROS FIXADOS POR
ESTE TRIBUNAL EM CAOS SIMILARES E ÀS
PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO, ATENDIDOS
OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E

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PROPORCIONALIDADE. REDISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS


SUCUMBENCIAIS. PROVIMENTO DO RECURSO”.
.................................................................................................
.................................................................................................
“0251522-21.2016.8.19.0001 – APELAÇÃO - Des(a). JDS
ISABELA PESSANHA CHAGAS - Julgamento: 04/10/2017 -
VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C
INDENIZATÓRIA, COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE
TUTELA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL.
CANCELAMENTO DE PLANO DE SAÚDE. RECUSA DE
ATENDIMENTO MEDICO. FALHA NA PRESTAÇÃO DO
SERVIÇO CONSISTENTE NO NÃO OFERECIMENTO DE
MIGRAÇÃO PARA PLANO INDIVIDUAL OU OUTRO NA
MODALIDADE COLETIVA. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. REDUÇÃO PARA R$ 5.000,00.
RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E PROVIDO
PARCIALMENTE. 1- "Art. 13. Os contratos de produtos de
que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o desta Lei têm
renovação automática a partir do vencimento do prazo inicial
de vigência, não cabendo a cobrança de taxas ou qualquer
outro valor no ato da renovação. II - a suspensão ou a
rescisão unilateral do contrato, salvo por fraude ou não-
pagamento da mensalidade por período superior a sessenta
dias, consecutivos ou não, nos últimos doze meses de
vigência do contrato, desde que o consumidor seja
comprovadamente notificado até o qüinquagésimo dia de
inadimplência; " - Artigo 13 da Lei 9.656/98; 2- "As operadoras
de planos ou seguros de assistência à saúde, que
administram ou operam planos coletivos empresariais ou por
adesão para empresas que concedem esse benefício a seus
empregados, ou ex-empregados, deverão disponibilizar plano
ou seguro de assistência à saúde na modalidade individual ou
familiar ao universo de beneficiários, no caso de
cancelamento desse benefício, sem necessidade de
cumprimento de novos prazos de carência." - Artigo 1º da
Resolução Consu nº 19/1999; 3- Cancelamento de plano de
saúde; 4- Rescisão do contrato de plano de saúde coletivo
celebrado entre a Unimed, ora ré, e a AFAM - Associação dos
Funcionários das Autarquias Municipais. Ausência de
notificação prévia dos usuários quanto a interrupção dos
serviços. Responsabilidade da AFAM; 5- Impossibilidade de
manutenção do autor em plano coletivo cujo contrato se
encontra rescindido; 1. Falha na prestação do serviço da

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operadora ré. Não foi oportunizado ao autor e seus


dependentes, a migração para o plano individual,
responsabilidade esta que, de acordo com a Resolução
Consu nº 19/1999, é das operadoras do plano; 6- Danos
morais configurados mas que merecem redução para R$
5.000,00; 7- Precedentes: 0050818-89.2016.8.19.0001 -
APELAÇÃO Des(a). SÉRGIO SEABRA VARELLA -
Julgamento: 26/07/2017 - VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA
CÍVEL CONSUMIDOR e 0271224-84.2015.8.19.0001 -
APELAÇÃO Des(a). NILZA BITAR - Julgamento: 12/04/2017
- VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR; 8-
Recurso de Apelação conhecido e provido parcialmente”.
.................................................................................................

Frise-se, ademais, que tal hipótese versa sobre contrato de plano de saúde,
portanto o cancelamento unilateral importa em desassistência dos beneficiários em
tratamento contínuo de doenças, bem como em casos de necessidade de tratamento
emergencial, sem aviso prévio.

Registre-se que, a par da possibilidade de cancelamento da avença por


força da fraude identificada, não se pode deconsiderar o dever da operadora de regular
comunicação aos beneficiários da contratação, da mesma forma que não se pode
deconsiderar que se a contratação realizou-se com fraude, tal ocorrência igualmente se
encontra na esfera de atuação empresarial do plano de saúde.

Isso porque, a operadora conta com prepostos/agentes/corretores que


atuam na captação de contratos e clientela e, por certo, a contratação que se apurou
fraudulenta foi realizada por pessoa habilitada pela Amil para atuar em seu nome na
confecção da avença. Logo, caberia a parte ré proceder as necessárias verificações das
informações prestadas e dados coletados antes de efetivar a contratação, com vistas à
proteção de sua atividade e dos beneficiários de boa-fé.

Nesse contexto, a rescisão unilateral como realizada em relação ao autor,


não encontra fundamento na lei e atenta contra os princípios da dignidade da pessoa
humana, boa-fé objetiva e da função social do contrato, revestindo evidente caráter ilícito,
o que gera a obrigação de indenizar.

Assim sendo, a sentença recorrida deve ser mantida, tendo em vista que
restou caracterizada a falha na prestação do serviço.

Desta forma, deve ser reconhecida a responsabilidade da apelante quanto


aos danos morais advindos do cancelamento unilateral do contrato de seguro de saúde

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sem aviso prévio e sem oferta de alternativa para manutenção do contrato, o que legitima
a reparação por dano moral.

Relativamente ao quantum indenizatório, o juiz, ao arbitrá-lo, deve estimar


uma quantia que, de acordo com o seu prudente arbítrio, seja compatível com a
reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento experimentado
pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do
ofendido e outras circunstâncias mais que se fizerem presentes.

Assim, atentando para os parâmetros de razoabilidade e proporcionalidade


como norteadores para a fixação do valor da reparação, levando-se em conta o caráter
pedagógico, punitivo e, ainda, as peculiaridades do caso concreto, o quantum reparatório
fixado em R$ 4.000,00 (quatro mil reais) não carece de reparo, à míngua de recurso da
parte autora.

À conta de tais fundamentos, voto no sentido de negar provimento ao


recurso, majorando-se os honorários advocatícios, em 5% (cinco por cento), totalizando
15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação.

Rio de Janeiro, na data da assinatura digital.

Desembargadora MARIA ISABEL PAES GONÇALVES


Relatora

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