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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Vigésima Segunda Câmara Cível

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0029395-66.2022.8.19.0000


Ação Originária nº 0251709-53.2021.8.19.0001
50ª Vara Cível da Comarca da Capital
AGRAVANTE: ÁGUAS DO RIO 4 SPE S.A.
AGRAVADOS: ROYAL REGENCY HOTEL LTDA. E COMPANHIA
ESTADUAL DE ÁGUAS E ESGOTOS CEDAE
RELATORA: DESª MÔNICA SARDAS

ACÓRDÃO

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONSUMIDOR.


ÁGUAS DO RIO. DECISÃO AGRAVADA QUE
DETERMINOU A INCLUSÃO DA
CONCESSIONÁRIA NO POLO PASSIVO.
EFEITOS DA TUTELA DEFERIDA EM FACE DA
CEDAE ESTENDIDOS À AGRAVANTE.
CONHECIMENTO PARCIAL DO RECURSO
QUANTO À ILEGITIMIDADE PASSIVA.
MÉRITO APRECIADO EM ANTERIOR
RECURSO. DECISÃO MANTIDA.
1. Recurso conhecido na parte que pretende a
exclusão do polo passivo da Águas do Rio. Não
conhecido, no entanto, na parte que pretende discutir
a forma de cálculo da cobrança, já que a questão foi
apreciada no agravo de instrumento 0003233-
34.2022.8.19.0000.
2. É fato público e notório a realização do leilão de
parte dos serviços concedidos à CEDAE e, diante
disso, a concessionária agravante passou a executar
parte dos serviços prestados pela Companhia.
3. Firmado em agosto de 2021, em decorrência do
leilão ocorrido em abril de 2021, o Contrato de
Interdependência, anexo ao Edital de Concessão, no
qual foram definidas na cláusula 5ª, as obrigações

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Rua Dom Manuel, 37, 2º andar – Sala 231 – Lâmina III
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Tel.: + 55 21 3133-6022 – E-mail: 22cciv@tjrj.jus.br – PROT. 8479 (RSA)
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MONICA DE FARIA SARDAS:32080 Local: GAB. DES(A). MONICA SARDAS
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entre as concessionárias, bem como a gestão


comercial de todas as atividades previstas. Neste
contexto, a agravante assumiu o cumprimento das
obrigações anteriormente impostas à CEDAE, em face
de quem a ação foi originalmente ajuizada. Destarte,
conforme jurisprudência deste Tribunal, eventual
acordo de gestão realizado entre a Cedae e
terceiros não pode ser oposto ao consumidor,
não tendo, portanto, o condão de afastar a
responsabilidade, tampouco se traduz em
impossibilidade de cumprimento da obrigação
de fazer imposta.
4. A concessionária agravante sustenta a
regularidade das cobranças e a ausência de requisitos
para concessão da tutela, além da legalidade da
cobrança em condomínios da tarifa mínima
multiplicada pelo número de economias e da
inaplicabilidade da Súmula nº 191/TJRJ e do RESP
1.166.561/RJ.
5. A decisão que deferiu a tutela antecipada foi
apreciada por esta 22ª Segunda Câmara Cível, em
anterior agravo de instrumento interposto pela
CEDAE, que decidiu pela sua manutenção.
CONHECER PARCIALMENTE O RECURSO E,
NESTA EXTENSÃO, NEGAR-LHE
PROVIMENTO.

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Vistos, relatados e discutidos estes autos do AGRAVO


DE INSTRUMENTO Nº 0029395-66.2022.8.19.0000, em que
figuram como AGRAVANTE: COMPANHIA ESTADUAL DE ÁGUAS E
ESGOTOS CEDAE e AGRAVADOS: ROYAL REGENCY HOTEL LTDA. E
COMPANHIA ESTADUAL DE ÁGUAS E ESGOTOS CEDAE.

ACORDAM, os Desembargadores que integram a


Vigésima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em conhecer em
parte o recurso, quanto à legitimidade passiva, e, nesta
extensão, negar-lhe provimento, nos termos do voto da
Desembargadora Relatora.

_________________________
DES. MÔNICA SARDAS
RELATORA

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VOTO

A hipótese é de agravo de instrumento interposto por


ÁGUAS DO RIO 4 SPE S.A. em face da decisão do Juízo da 50ª Vara
Cível da Comarca da Capital, que determinou a sua inclusão no polo
passivo da demanda e determinou sua intimação para cumprir as
decisões de antecipação de tutela de urgência.

Alega a agravante ilegitimidade passiva; inexistência de


sucessão empresarial; legalidade da tarifa mínima multiplicada pelo
número de economias; ausência de previsão legal para o critério
híbrido de cobrança. Requer a concessão de efeito suspensivo e, ao
final, a reforma da decisão.

Decisão de concessão do efeito suspensivo (pasta nº


20).

Contrarrazões (pasta nº 119).

É O RELATÓRIO.

O agravo é tempestivo, encontra-se regularmente


instruído. Há legitimidade e interesse recursal. Presentes os
requisitos de admissibilidade, o recurso deve ser conhecido, em
parte, quanto à alegação de ilegitimidade passiva.

Ofeito foi distribuído a esta Relatora por


prevenção ao agravo de instrumento nº 0003233-
34.2022.8.19.0000 interposto pela COMPANHIA ESTADUAL
DE AGUAS E ESGOTOS CEDAE, em face da decisão proferida
pelo juízo da 50ª Vara Cível da Capital, nos autos de ação de
repetição de indébito, que concedeu a tutela de urgência
para determinar que a ré se abstenha de cobrar por consumo
mínimo, a cobrar pelo consumo efetivamente medido no
hidrômetro existente no estabelecimento do autor,

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observando a tarifa progressiva de acordo com a faixa de


consumo de cada economia, bem como a se abster de alterar
o número de economias atualmente existentes, no prazo de
48 horas, sob pena de multa do dobro do valor cobrado
indevidamente.

A agravante sustenta, em síntese, não ser sucessora da


CEDAE, uma vez que, sua investidura nos serviços públicos de
abastecimento de água e esgotamento sanitário ocorreu mediante
processo de licitação, ou seja, de forma originária. Logo, a nova
concessionária, vencedora de processo licitatório, não responde por
pendências ou ilícitos praticados pela concessionária anterior.

Afirma que a CEDAE ainda existe e que não pode


suceder em suas obrigações, razão pela qual deve ser afastada a
determinação imposta à agravante para que cumpra a obrigação de
fazer concedida em desfavor da CEDAE.

É fato público e notório a realização do leilão de parte


dos serviços concedidos à CEDAE e, diante disso, a concessionária
agravante passou a executar parte dos serviços prestados pela
Companhia, na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro e,
ainda, por Municípios diversos do Estado, sobre a qual a CEDAE não
possui qualquer ingerência.

Registre-se que a localidade abrangida por esta


demanda – Catete - está localizada no bloco (I e IV) da concessão,
arrematado pelo Consórcio Águas do Rio.

Foi firmado em agosto de 2021, em decorrência do leilão


ocorrido em abril de 2021, o Contrato de Interdependência, anexo
ao Edital de Concessão, no qual foram definidas na cláusula 5ª, as
obrigações entre as concessionárias, bem como a gestão comercial
de todas as atividades previstas. Vejamos:

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5. DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ABASTECIMENTO DE


ÁGUA 5.1. Compete à CEDAE a prestação dos serviços de
produção e fornecimento de água potável por atacado no
SISTEMA UPSTREAM, incluindo as seguintes atividades:
5.1.1. captação de água bruta; 5.1.2. adução de água
bruta; 5.1.3. tratamento de água. 5.2. Compete à
CONCESSIONÁRIA a prestação dos serviços de
abastecimento de água potável e esgotamento sanitário,
incluindo as seguintes atividades: 5.2.1. adução de água
tratada; 5.2.2. abastecimento de água potável, incluindo
a: 5.2.2.1.reservação de água tratada; 5.2.2.2.
distribuição de água tratada, inclusive ligação predial;
5.2.3. esgotamento sanitário, incluindo a: 5.2.3.1. coleta,
inclusive ligação predial, dos esgotos sanitários; 5.2.3.2.
transporte dos esgotos sanitários; 5.2.3.3. tratamento dos
esgotos sanitários; e 5.2.3.4. disposição final dos esgotos
sanitários e do lodo do processo de tratamento. 5.2.4.
Caberá à CONCESSIONÁRIA a gestão comercial de todas
as atividades previstas na sub cláusula 5.2 ressalvados os
casos em que existam Contratos de Concessão pré-
existentes, nos quais os operadores privados sejam
responsáveis pela gestão comercial.

Nesse contexto, a agravante assumiu o


cumprimento das obrigações anteriormente impostas à
CEDAE, em face de quem a ação foi originalmente ajuizada.

Destarte, conforme jurisprudência deste Tribunal,


eventual acordo de gestão realizado entre a Cedae e terceiros não
pode ser oposto ao consumidor, não tendo, portanto, o condão de
afastar a responsabilidade, tampouco se traduz em impossibilidade
de cumprimento da obrigação de fazer imposta.

É o precedente:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO INDENIZATÓRIA.


DECISÃO QUE EXONEROU A PARTE AUTORA DA
RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DAS FATURAS
MENSAIS VINCENDAS, AFASTADA A MORA E GARANTIDOS
OS PLENOS DIREITOS ESTABELECIDOS NO CONTRATO
ATÉ QUE SEJA CUMPRIDA A ORDEM DE LIMITAÇÃO DAS
COBRANÇAS, NA FORMA DO JULGADO. IRRESIGNAÇÃO DA
AGRAVANTE. Conforme se nota nos autos principais, as

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partes transacionaram, sendo certo que a sentença


atacada vem sendo descumprida e o consumidor
prejudicado. Como bem destacado pelo magistrado de
primeiro grau, eventual acordo de gestão realizado
entre a Cedae e terceiros não pode ser oposto ao
consumidor, não tendo, portanto, o condão de
afastar a sua responsabilidade, tampouco em
impossibilidade de cumprimento da obrigação de
fazer sentenciada. INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO
SUMULAR Nº 59 DESTA CORTE. AGRAVO DE
INSTRUMENTO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (0051924-
50.2020.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO. Des(a).
MARCIA FERREIRA ALVARENGA - Julgamento: 10/11/2020
- DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL).

Então, conheço do recurso na parte que pretende a


exclusão do polo passivo da Águas do Rio.

Não conheço, no entanto, do recurso na parte que


pretende discutir a forma de cálculo da cobrança, já que a questão
foi apreciada no agravo de instrumento 0003233-
34.2022.8.19.0000.

E no mérito, na parte que conheço, nego-lhe


provimento, já que a agravante assumiu o cumprimento das
obrigações anteriormente assumidas pela CEDAE, em face de quem
a ação foi originalmente ajuizada.

POR TAIS FUNDAMENTOS, voto no sentido de


conhecer em parte o recurso, quanto à ilegitimidade passiva,
e, nesta extensão, negar-lhe provimento.

Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 2023.

_________________________
DES. MÔNICA SARDAS
RELATORA

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