Você está na página 1de 13

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. EMBARGOS À MONITÓRIA.
CONTRATOS DE ABERTURA DE CRÉDITO A
PESSOA JURÍDICA. GARANTIA COMPLEMENTAR.
FUNDO DE GARANTIA DE OPERAÇÕES (FGO).
COMISSÃO DE CONCESSÃO DA GARANTIA (CCG).
REGULARIDADE. REPETIÇÃO DO INDÉBITO.
DESCABIMENTO.
Não se mostra abusiva a cobrança da CCG eis que
expressamente prevista em contrato a título de custeio do
FGO. O fato de o contrato ser parcialmente garantido pelo
FGO não desobriga o devedor do adimplemento do débito
contraído junto à instituição financeira.
APELO DESPROVIDO.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470- COMARCA DE PORTO ALEGRE


83.2021.8.21.7000)

JKF CARNES LTDA. ME APELANTE

JERRI KUHN APELANTE

MARLI LUIZ RAMIRES APELANTE

BANCO DO BRASIL S/A. APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao apelo.
Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores


DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI (PRESIDENTE) E DES.ª WALDA MARIA
MELO PIERRO.
Porto Alegre, 15 de junho de 2022.

1
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,


Relator.

RELATÓRIO

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)


Trata-se de apelação cível interposta por JKF CARNES LTDA. ME E
OUTROS contra a sentença que julgou improcedentes os embargos à ação monitória
ajuizados em face de BANCO DO BRASIL S/A.

Em suas razões recursais, a parte ré postula o afastamento da Comissão de


Permanência em razão da existência de garantia pelo FGO. Sustenta haver excesso de
execução por se tratar de operação em que 80% do valor devido tem proteção do FGO
(Fundo de Garantia de Operações), devendo ser descontado tal montante do débito. Pede
ainda o afastamento da cobrança da CCG (Comissão de Concessão de Garantia) com
determinação de repetição do valor cobrado ao longo da relação contratual. Pugna pela
aplicação dos efeitos do art. 400 do CPC pelo descumprimento da determinação de juntada
de documentação comprobatória da não utilização do FGO. Requer o provimento do apelo e
a readequação da verba honorária sucumbencial.
Subiram os autos, com contrarrazões, vindo conclusos para julgamento.

Tendo em vista a adoção do sistema informatizado, os procedimentos para


observância dos ditames do CPC foram simplificados, mas observados na sua integralidade.

É o relatório.

VOTOS

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)


Eminentes Colegas.

O recurso está em condições de ser conhecido, pois preenchidos os


requisitos de admissibilidade.

2
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

Merece ser confirmada a sentença proferida pela Magistrada a quo, cujos


fundamentos vão aqui adotados como razões de decidir, com a licença de sua ilustre
Prolatora, a fim de se evitar tautologia, nos seguintes termos:

“Conheço do feito no estado em que se encontra, eis que desnecessária a


produção de provas.
Consigno que as regras previstas no Código de Defesa do Consumidor
incidem nas relações jurídicas postas em análise. A questão restou, inclusive, pacificada no
Superior Tribunal de Justiça, conforme enunciado sumular nº 297, in verbis: “O Código de
Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.
Não obstante a incidência do Código de Defesa do Consumidor, ressalto
que ao julgador é vedado conhecer de ofício a abusividade das cláusulas contratuais,
conforme enunciado nº 381 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça: “Nos contratos
bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas”.
Dito isso, passo a analisar os encargos impugnados nos embargos à
monitória.
Em que pesem os diversos posicionamentos acerca dos juros
remuneratórios, a jurisprudência do egrégio Superior Tribunal de Justiça é uníssona no
sentido de que com o advento da Lei nº 4.595/64, restou afastada a incidência do Decreto n
º 22.626/33 (Lei de Usura), incumbindo ao Conselho Monetário Nacional o poder normativo
para limitar as taxas de juros (salvo as exceções legais).

É nesse sentido o enunciado nº 596 da Súmula do STF: “As disposições do


Decreto nº 22.626/33 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas
operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema
financeiro nacional”.

Portanto, mesmo que analisada a legislação infraconstitucional, constata-se


a não possibilidade de limitação dos juros remuneratórios.

Além disso, embora aplicável a Lei Consumerista aos contratos bancários, a


fixação de juros remuneratórios acima de 12% ao ano, por si só, não indica abusividade,

3
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

conforme enunciado sumular do Superior Tribunal de Justiça: “382. A estipulação de juros


remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade”.
No mesmo sentido foi o julgamento do REsp nº 407.097/RS, pela 2ª Seção do
STJ, publicado no DJ de 29/09/2003. E também: os REsp’s nºs 271.214/RS e 420.111/RS.
Outrossim, é cediço o entendimento de que a pretensão de limitação dos
juros remuneratórios em 12% ao ano, ou mesmo de que sejam limitados à taxa Selic não é
admissível, uma vez que tal questão já foi objeto de ampla rejeição pelo Superior Tribunal
de Justiça.
Sendo assim, a alteração da taxa de juros previamente pactuada depende de
demonstração cabal da sua abusividade em relação à taxa média do mercado, mediante
comprovação do desequilíbrio contratual.

Imprescindível, outrossim, que haja a expressa convenção acerca da taxa de


juros praticada, pois a sua ausência enseja o livre arbítrio de cobrar juros no percentual
que bem entender, o que faz com que o consumidor assuma uma obrigação futura e incerta.
Pois bem. Os percentuais de juros remuneratórios no contrato de crédito
rotativo – capital de giro – variaram entre 2,37% ao mês a 1,32% ao mês, não havendo
qualquer irregularidade, já que as taxas praticadas não destoam, em mais do que o dobro,
daquelas para operações de igual natureza pela Taxa Média divulgada pela BACEN.
Acerca da capitalização tem cabimento nos contratos celebrados após a
edição da MP 1.963-17, de 30 de março de 2000, reeditada sob o nº 2.170-36, de 23 de
agosto de 2001, em consonância com o REsp nº 973.827, de relatoria do Ministro Luis
Felipe Salomão, julgado em 08/08/2012.
Dispõe o art. 5º da referida Medida Provisória: “Nas operações realizadas
pelas instituições financeiras do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização
mensal de juros com periodicidade inferior a um ano”.

No presente caso, o contrato foi firmado após o ano 2000, sendo possível a
capitalização mensal, já que expressamente pactuada.

Quanto à comissão de permanência, o encargo não é ilegal, nem abusivo,


como decidido pelo STJ.

4
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

Admite-se sua incidência durante o período de inadimplemento contratual,


desde que pactuada expressamente, e não esteja cumulada com outros encargos moratórios
(Súmulas 30 do STJ).

No caso, houve previsão de comissão de permanência na cláusula nona do


contrato de abertura de crédito (BB Giro Empresa Flex), inexistindo cumulação com demais
encargos, motivo pelo qual deverá ser mantida.
Da mesma forma, não há qualquer irregularidade quanto à cobrança de
IOF, já que é imposto incidente na contratação.
Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. REVISÃO DE CONTRATO BANCÁRIO.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - CDC. O CDC
é aplicável às instituições financeiras. Súmula 297 do STJ.
PACTA SUNT SERVANDA.(...)IOF. Não há ilegalidade na
exigência de IOF por se tratar de imposto incidente na
contratação. AUSÊNCIA DE DISCRIMINAÇÃO DOS
DEMAIS ENCARGOS IMPUGNADOS. Quanto ao pleito de
afastamento dos demais encargos, vai de encontro com o
estabelecido na Súmula 381, do STJ. Possibilidade de
revisão apenas das cláusulas especificamente impugnadas.
EXCLUSÃO DA MORA. Não reconhecida a cobrança de
encargos abusivos durante a normalidade do contrato, está
caracterizada a mora. Sentença reformada em parte. Ônus
sucumbenciais redimensionados. NEGARAM
PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME.(Apelação Cível,
Nº 70081991143, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Nelson José Gonzaga, Julgado em:
18-11-2019) – grifei e suprimi

Consoante o preconizado nos arts. 4º e 9º da Lei 4.595/1964, recepcionada


pela Constituição Federal de 1988 como lei complementar, compete ao Conselho Monetário
Nacional dispor sobre a remuneração dos serviços bancários, e ao Banco Central fazer
cumprir as normas expedidas pelo CMN.

Assim, com a edição da Resolução nº 3.518/2007 do CMN, em 30/04/2008, a


cobrança por serviços bancários ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em
norma padronizadora expedida pelo Banco Central do Brasil, o qual, por sua vez, ao editar
a Tabela anexa à Circular nº 3.371/2007, não previu a incidência da Tarifa de Abertura de
5
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

Crédito (TAC), nem a Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) dentre o rol de tarifas
administrativas passíveis de exigibilidade pelas instituições financeiras.
Por conseguinte, ao julgar o REsp nº 1.251.331-RS, julgado na sistemática
dos Recursos Repetitivos, nos termos do art. 543-C do CPC que, o Superior Tribunal de
Justiça asseverou que: “a Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) e a Tarifa de Emissão de
Carnê (TEC) deixaram de ser legitimamente passíveis de pactuação com a entrada em vigor
da Resolução CMN 3.518/2007. Os contratos que as estipularam até 30.04.2008 não
apresentam eiva de ilegalidade, salvo demonstração de abuso, em relação às práticas de
mercado em negócios jurídicos contemporâneos análogos”.

Sendo assim, tem-se não ser permitida a cobrança da TAC e da TEC nos
contratos celebrados após 30/04/2008. Todavia, não houve a comprovação da cobrança dos
referidos encargos, não tendo se falar em abusividade.
Quanto à cobrança da Tarifa de Cadastro, a recente jurisprudência do STJ
permite sua cobrança em contratos pactuados após a vigência da Resolução nº 3.518/2007
do CMN, ou seja, 30/04/2008, desde que cobrada somente no início do relacionamento entre
o consumidor e a instituição financeira, o que foi observado. Por conseguinte, não se
verifica qualquer ilegalidade nesse sentido.

Finalmente, em relação ao FGO – Fundo de Garantia de Operações, os


embargantes afirmam excesso na cobrança, uma vez que havia previsão de garantia da
dívida em 80%.
A esse respeito, o resgate dos valores do FGO se trata de faculdade do
credor e não obrigação.
Depreende-se da inicial terem sido feitos alguns resgates pelo banco das
quantias do Fundo, mas não do limite de 80%. Ademais, não há pagamento automático pelo
FGO à instituição financeira em caso de inadimplemento, pois, como dito, é faculdade do
credor o requerimento.
Aliás, houve expressa previsão no contrato a respeito:

7. Independentemente da concessão da garantia, obrigo-


me(amo-nos) a pagar integralmente o financiamento que
vier a ser concedido por esse Banco, estando ciente(s) de
6
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

que, se o FGO vier a honrar a garantia prestada, sub-rogar-


se-á nos direitos do credor até o montante por ele
efetivamente pago, respeitado o direito de preferência do
Banco do Brasil S.A sobre as demais garantias prestadas.

Por oportuno:
APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIO JURÍDICO BANCÁRIO.
PRETENSÃO REVISIONAL VERTIDA EM SEDE DE
EMBARGOS À AÇÃO MONITÓRIA. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS FORMULADOS NOS
EMBARGOS. Inépcia da inicial. Ação monitória instruída
com o Contrato de Abertura de Crédito – BB Giro Empresa
Flex que origina o débito, memória discriminada do débito e
conjunto de extratos. Documentação que atende à exigência
do art. 1.102-A do CPC/1973, ainda em vigor quando da
propositura da monitória (ao qual corresponde o art. 700 do
CPC/2015). Igualmente contemplados os todos os requisitos
da petição inicial, conforme elencados pelos incs. I a VII do
art. 282 do CPC/1973 (art. 319 do CPC). Inicial apta. Juros
remuneratórios. Ausência de pactuação dos juros incidentes
sobre a contratação. Limitação à taxa média de mercado
divulgada pelo BACEN para a operação financeira em
questão na data em que contratada. Capitalização de juros.
Procedimento expressamente previsto no contrato que
arrima a ação monitória, em consonância com o disposto no
julgamento do Resp. 1.388.972/SC. Amortização de valores
em face da “Garantia Complementar do FGO”. Garantia
(para a hipótese de inadimplemento) não implementada pelo
credor, que possui a faculdade de utilizá-la (não estando
obrigado a tal, portanto). PRELIMINAR REJEITADA.
APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.(Apelação Cível,
Nº 70082487968, Décima Nona Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Mylene Maria Michel, Julgado em:
31-10-2019) – grifei

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CONTRATOS
DE ABERTURA DE CRÉDITO A PESSOA JURÍDICA.
GARANTIA COMPLEMENTAR. FUNDO DE GARANTIA
DE OPERAÇÕES (FGO). COMISSÃO DE CONCESSÃO
DA GARANTIA (CCG). REGULARIDADE. Não se mostra
abusiva a cobrança da CCG eis que expressamente prevista
em contrato a título de custeio do FGO. O fato de o contrato
ser parcialmente garantido pelo FGO não desobriga o
devedor do adimplemento do débito contraído junto à
7
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

instituição financeira. JUROS REMUNERATÓRIOS. Na


espécie, consideradas as taxas pactuadas, configuram-se as
mesmas em cobrança adequada, consoante à taxa média de
mercado aferida pelo BACEN à época da contratação.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. Possível a capitalização
mensal, desde que expressamente pactuada. Sendo a taxa de
juros anual prevista em contrato superior ao duodécuplo da
mensal, resta autorizada a capitalização dos juros em
periodicidade mensal. IOF. Inexiste abusividade na
cobrança do IOF, porquanto consiste em tributo com
previsão legal de incidência na espécie. REPETIÇÃO DO
INDÉBITO E COMPENSAÇÃO DE VALORES. Cabimento
da repetição do indébito, na sua forma simples, e da
compensação de valores pagos a maior, mediante operação
de revisão judicial das cláusulas contratuais abusivas.
APELO PROVIDO EM PARTE.(Apelação Cível, Nº
70081912545, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Glênio José Wasserstein Hekman, Julgado
em: 11-09-2019)

APELAÇÕES CÍVEIS. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CÉDULA DE
CRÉDITO BANCÁRIO. SENTENÇA CITRA PETITA.
NULIDADE PARCIAL. JULGAMENTO DA QUESTÃO
SUPRIMIDA ANTE O PERMISSIVO LEGAL DO ART.
1.013, §§ 1º E 3º, INCISO III, DO CPC/15. COMISSÃO DE
CONCESSÃO DA GARANTIA (CCG). GARANTIA
COMPLEMENTAR. FUNDO DE GARANTIA DE
OPERAÇÕES (FGO). PARCELAMENTO COMPULSÓRIO.
JUROS REMUNERATÓRIOS. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA. CAPITALIZAÇÃO MENSAL.
REDIMENSIONAMENTO ÔNUS SUCUMBENCIAIS.
SENTENÇA MODIFICADA. ÔNUS SUCUMBENCIAIS
REDIMENSIONADOS. Sentença citra petita. A ausência de
análise, pelo juízo de origem, de todas as alegações
formuladas na inicial, configura a sentença citra petita, o
que acarreta sua nulidade. No caso, não foi analisado o
pedido de nulidade da garantia complementar - FGO. No
entanto, estando o processo pronto para julgamento, passa-
se à análise do mérito recursal, nos termos do art. 1.013,
§§1º e 3º, inciso III, do CPC/2016. Readequação da
sentença aos limites da lide. Ausência de outorga uxória. No
caso dos autos, o embargante subscreveu o título na
condição de principal pagador, sendo devedor solidário da
obrigação, o que de plano afasta a necessidade de outorga
uxória. Inobstante este fato, a alegação de nulidade do aval
somente pode ser demandada pelo cônjuge a quem cabia
8
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

concedê-la ou por seus herdeiros, na forma do art. 1.650 do


Código Civil. No caso dos autos, quem postula a decretação
de nulidade do aval prestado é o próprio avalista, ora
embargante, não se aplicando, portando, o art. 1.647, III, do
CC. Juros remuneratórios. O STJ já consolidou o
entendimento de que as instituições financeiras não se
sujeitam à limitação dos juros remuneratórios ao patamar
de 12% ao ano ou à Taxa Selic, sendo admitida a revisão
deste encargo apenas em situações excepcionais, em que
caracterizada a abusividade da taxa pactuada. No caso em
tela, os juros remuneratórios fixados nos contratos não
destoam da taxa média de juros fixada pelo BACEN, pelo
que não há falar em abusividade a justificar a limitação
desse encargo. Sentença modificada neste tocante.
Capitalização de juros. Aplicação das orientações do
Superior Tribunal de Justiça, extraídas do julgamento do
Recurso Especial Representativo de Controvérsia n.
973.827/RS. No caso, existe cláusula autorizando a
capitalização mensal de juros. Logo, se admite a cobrança
do encargo na periodicidade prevista Comissão de
permanência. A importância a título de comissão de
permanência é devida, no período da inadimplência, quando
pactuada, e não poderá ultrapassar a soma dos juros
remuneratórios contratados, mais juros moratórios de 12%
ao ano e multa de 2% do valor da prestação, nos termos do
artigo 52, § 1º, do CDC (REsp 1.058.114-RS). Descabida
sua cobrança apenas quando reconhecida a abusividade dos
encargos da normalidade (juros remuneratórios e
capitalização), o que não é o caso dos autos. Fundo de
garantia de operações (FGO) e acessórios: O Fundo de
Garantia de Operações tem a finalidade de prestar garantia
complementar do empréstimo. A contratação é lícita quando
expressa ajustada; e não constitui venda casada, tampouco
isenta o contratante/devedor do pagamento da sua
obrigação. A denominada Comissão de Concessão de
Garantia (CCG) constitui encargo destinado a constituir
Fundo de Garantia de Operações (FGO) que tem a
finalidade de prestar garantia complementar do empréstimo.
A sua contratação é lícita quando expressa e claramente
ajustada, e não constitui venda casada ao contrato de
mútuo. Circunstância dos autos que se impõe manter a
decisão recorrida também neste tocante. REJEITARAM A
PRELIMINAR RECURSAL E NEGARAM PROVIMENTO
AO RECURSO DE APELAÇÃO DOS EMBARGANTES.
DERAM PROVIMENTO AO APELO DO EMBARGADO.
UNÂNIME.(Apelação Cível, Nº 70081891251, Décima

9
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:


Giovanni Conti, Julgado em: 22-08-2019)

Inexiste comprovação a respeito de pagamento, efetivamente, pelo FGO, de


forma que este não possui natureza de seguro de crédito, mas de garantia de operação.

O FGO, portanto, é uma garantia complementar aos riscos do


financiamento, acarretando benefícios ao contratante como, por exemplo, a redução de
encargos e o próprio acesso ao crédito pelas empresas.
No tocante ao pedido de nulidade da Comissão de FGO, prejudicado o
pleito, pois veiculado após a apresentação de embargos à monitória.
Concernente à repetição do indébito, existindo pagamento a maior, a
jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de admitir a compensação na “forma simples,
independentemente da prova do erro”, em atenção ao princípio que veda o enriquecimento
indevido do credor (REsp nº 714624, Relator: Ministro Jorge Scartezzini; REsp 540.381,
Relatora: Ministra Nancy Andrighi e ArRg no Recurso Especial nº 850.739/RS, Relator:
Ministro Hélio Quaglia Barbosa).
No mesmo sentido é o enunciado sumular nº 159 do Supremo Tribunal
Federal, não tendo se falar em repetição em dobro do indébito.
Outrossim, acompanho o critério apresentado nas razões de decidir da Min.
Nancy Andrighi relatora do Recurso Especial nº 1.061.530/RS, no sentido de que os
encargos abusivos que possuem potencial para descaracterizar a mora são, portanto,
aqueles relativos ao chamado “período da normalidade”, ou seja, aqueles encargos que
naturalmente incidem antes mesmo de configurada a mora.

Por tais razões, inexistindo revisão de qualquer cláusula, não há falar em


repetição ou compensação de valores.”

Na espécie, em face das circunstâncias do caso concreto, entendo estar


adequada a apreciação realizada pela Magistrada singular, considerando-se os fundamentos
sustentados em sentença.

10
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

Ao contrário do que alega a parte recorrente, não se mostra abusiva a


cobrança da CCG (Comissão de Concessão de Garantia) eis que expressamente prevista em
contrato a título de custeio do FGO (Fundo de Garantia de Operações).

Nesse sentido, julgados desta Corte:


APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS
BANCÁRIOS. EMBARGOS MONITÓRIOS. Objeto -
Contrato de Abertura de Crédito – BB Giro Empresa Flex nº
012.617.808, no valor de R$ 150.000,00, datado de
13/01/2014. PRELIMINAR RECURSAL: EXTINÇÃO DO
PROCESSO PELA CONTRATAÇÃO DO FUNDO DE
GARANTIA DE OPERAÇÕES – FGO. O Fundo de Garantia
de Operações, constituído pelos embargantes/apelantes,
previsto no item 7 do contrato (fl. 37), como uma garantia
complementar à instituição financeira, não isenta a parte
financiada do pagamento da sua obrigação. Preliminar
rejeitada. EXCESSO DE EXECUÇÃO. ABUSIVIDADE
CONTRATUAL. REJEIÇÃO DE OFÍCIO. Nos termos do
art. 702, §§ 2º e 3º, do CPC/15, incumbe à parte
embargante, quando alegar que a parte autora pleiteia
quantia superior à devida, declarar o valor que entende
correto de imediato, apresentando demonstrativo
discriminado e atualizado da dívida, sob pena de rejeição
liminar ou não conhecimento da alegação de excesso, o que
não foi observado na hipótese dos autos. RECURSO
DESPROVIDO.(Apelação Cível, Nº 70080642689, Vigésima
Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Jorge Maraschin dos Santos, Julgado em: 29-05-2019)

NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO


REVISIONAL. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.
Código de Defesa do Consumidor. Aplica-se o Código de
Defesa do Consumidor às instituições financeiras (Súmula
nº 297 do STJ). Comissão de permanência. A importância à
título de comissão de permanência é devida, no período da
inadimplência, quando pactuada, e não poderá ultrapassar
a soma dos juros remuneratórios contratados, mais juros
moratórios de 12% ao ano e multa de 2% do valor da
prestação, nos termos do artigo 52, § 1º, do CDC (REsp
1.058.114-RS). Descabida sua cobrança apenas quando
reconhecida a abusividade dos encargos da normalidade
(juros remuneratórios e capitalização), o que não é o caso
dos autos. Fundo de garantia de operações (FGO) e
acessórios: O Fundo de Garantia de Operações tem a
finalidade de prestar garantia complementar do empréstimo.

11
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

A contratação é lícita quando expressa ajustada; e não


constitui venda casada, tampouco isenta o
contratante/devedor do pagamento da sua obrigação.
Repetição do indébito e compensação. Nada havendo a
restituir ou compensar ao autor, diante do resultado da
demanda. APELO DESPROVIDO. UNÂNIME.(Apelação
Cível, Nº 70081440745, Décima Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Giovanni Conti, Julgado
em: 23-05-2019)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO MONITÓRIA. MONITÓRIA.
REQUISITOS. PROVA DOCUMENTAL. A prova escrita de
existência da dívida é requisito previsto no art. 700 do
CPC/15 que adotou a ação monitória na espécie
documental. – Circunstância dos autos em que os
documentos autorizam o procedimento monitório.
GARANTIA COMPLEMENTAR. FUNDO DE GARANTIA
DE OPERAÇÕES (FGO). COMISSÃO DE CONCESSÃO
DA GARANTIA (CCG). REGULARIDADE. A denominada
Comissão de Concessão de Garantia (CCG) constitui
encargo destinado a constituir Fundo de Garantia de
Operações (FGO) que tem a finalidade de prestar garantia
complementar do empréstimo. A sua contratação é lícita
quando expressa e claramente ajustada; e não constitui
venda casada ao contrato de mútuo. - Circunstância dos
autos que se impõe manter a decisão recorrida. RECURSO
DESPROVIDO.(Apelação Cível, Nº 70081009367, Décima
Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
João Moreno Pomar, Julgado em: 25-04-2019)

Ademais, o fato de o contrato ser parcialmente garantido pelo FGO não


desobriga o devedor do adimplemento do débito contraído junto à instituição financeira,
tampouco influi na incidência dos encargos moratórios.
Por esta razão, não há interesse processual na aplicação do art. 400, no que
tange à demonstração ou não da utilização dos recursos do referido fundo.
Destarte, considerando-se os elementos que compõem o aparato probatório,
resta inviável o provimento do presente apelo, pelo que deve ser confirmada a sentença de
improcedência.

Por fim, observado o disposto no art. 85, §11, do CPC, majoro os honorários
sucumbenciais devidos ao patrono da parte apelada para 11% sobre o valor da condenação.
12
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70085089175 (Nº CNJ: 0022470-83.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

Ante o exposto, voto por negar provimento ao apelo.

DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI (PRESIDENTE) - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI - Presidente - Apelação Cível nº 70085089175,


Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: GLADIS DE FATIMA CANELLES PICCINI

13

Você também pode gostar