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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70082988791 (Nº CNJ: 0270788-84.2019.8.21.7000)
2019/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.
LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS EM FOLHA DE
PAGAMENTO.
Em face do entendimento firmado pelo E. STJ, os descontos
facultativos em folha de pagamento referentes a operações
bancárias não podem ultrapassar o limite de 30% da
remuneração bruta auferida pelo servidor. No caso concreto,
os descontos decorrentes dos empréstimos consignados
extrapolam os parâmetros referidos, razão pela qual se
impõe sua limitação. Reformada a sentença que havia
estabelecido o limite de 70%.
APELO PROVIDO.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70082988791 (Nº CNJ: 0270788- COMARCA DE PORTO ALEGRE


84.2019.8.21.7000)

ALEJANDRO DI MARTINO APELANTE

BANRISUL APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento ao apelo.

Custas na forma da lei.


Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores
DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI (PRESIDENTE) E DES. DILSO
DOMINGOS PEREIRA.

Porto Alegre, 12 de novembro de 2019.

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,


Relator.

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PODER JUDICIÁRIO
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Nº 70082988791 (Nº CNJ: 0270788-84.2019.8.21.7000)
2019/CÍVEL

RELATÓRIO
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Trata-se de apelação cível interposta por ALEJANDRO DI MARTINO


contra a sentença que julgou parcialmente procedente a ação ajuizada em face de
BANRISUL, tendo a decisão o seguinte dispositivo:
“Ainda, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a ação
formulada por Alejandro Di Martino contra BANRISUL –
Banco do Estado do Rio Grande do Sul, determinando que
os descontos se limitem ao percentual de 70% sobre os
vencimentos brutos do Autor.
Diante do decaimento mínimo do Réu, condeno o Autor ao
pagamento das custas processuais e ao pagamento de
honorários advocatícios ao patrono da requerida, que fixo
em arbitrados em 10% sobre o valor da causa atualizado
pelo IGP-M, o que é arbitrado com fundamento no artigo
85, §§ 2º e 8º do CPC. Suspensa a exigibilidade, tendo em
vista o § 3° do art. 98 do Código de Processo Civil.
Por fim, ante a sistemática do Novo Código de Processo
Civil, mais precisamente diante da inexistência de juízo de
admissibilidade, art. 1.010, § 3º, do CPC, em caso de
interposição de recurso de apelação, proceda-se na
intimação da parte apelada – salvo na hipótese de réu revel
sem procurador constituído nos autos (art. 346 do CPC) –,
para que apresente contrarrazões, querendo, no prazo legal.
Decorrido o indigitado lapso temporal, com ou sem
manifestação do recorrido, subam os autos ao egrégio
TJRS.
Com o trânsito em julgado, não sendo nada requerido no
prazo de 5 (cinco) dias, e satisfeitas eventuais custas
pendentes, arquive-se com baixa.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.”

Em suas razões recursais (fls. 207/215), a parte autora postula, em síntese, a


limitação dos descontos consignados ao patamar de 30% sobre os rendimentos brutos.
Requer provimento do apelo.
Subiram os autos, com as contrarrazões, vindo conclusos para julgamento.

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Tendo em vista a adoção do sistema informatizado, os procedimentos para


observância dos ditames dos do CPC foram simplificados, mas observados na sua
integralidade.

É o relatório.

VOTOS

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)


Eminentes Colegas.

Conheço do apelo, eis que preenchidos os pressupostos de admissibilidade


recursal.

O Magistrado a quo determinou a limitação da soma dos descontos em folha


de pagamento ao patamar de 30% dos rendimentos brutos auferidos pelo autor.

O art. 151, do Decreto estadual n. 43.337/04, alterado pelo Decreto estadual


nº 43.574/05, prevê o limite de 70% sobre a remuneração mensal bruta para a soma dos
descontos facultativos e obrigatórios do servidor.
Contudo, o STJ tem manifestado o entendimento de que o limite para
consignação é de 30% sobre os rendimentos brutos, em se tratando de descontos facultativos
referentes a operações bancárias, como no caso em pauta.

Nesse sentido:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO
INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR
PÚBLICO. DESCONTOS EM FOLHA DE PAGAMENTO.
LIMITE DE 30% DOS VENCIMENTOS. POSSIBILIDADE.
AGRAVO INTERNO DA SERVIDORA A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. Esta Corte pacificou o entendimento de
que a autorização para o desconto em folha de pagamento
de prestação de empréstimo contratado não constitui
cláusula abusiva, porquanto se trata de circunstância que
facilita a obtenção do crédito com condições mais
vantajosas, contanto que a soma mensal das prestações
destinadas ao desconto dos empréstimos realizados não
ultrapasse 30% dos vencimentos do trabalho, em função do
princípio da razoabilidade e do caráter alimentar dos
1
Decreto estadual n. 43.337/04. Art. 15. A soma mensal das consignações facultativas e obrigatórias
de cada servidor não poderá exceder a setenta por cento (70%) do valor de sua remuneração mensal
bruta.
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vencimentos. Precedentes: AgInt. no AREsp. 194.810/RS,


Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJe
22.2.2017 e AgRg no REsp. 1.535.736/DF, Rel. Min.
HERMAN BENJAMIN, DJe 18.11.2015.
2. No caso, o acórdão recorrido concluiu que os
empréstimos foram autorizados pela Servidora, sendo
cabíveis os descontos no limite de 30%. Alterar tais
conclusões, tiradas à vista das provas realizadas nos autos,
implica o revolvimento do conteúdo fático-probatório da
demanda, providência vedada em recurso especial em razão
da incidência da Súmula 7/STJ.
3. Agravo Interno da Servidora a que se nega provimento.
(AgInt no REsp 1516181/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
07/12/2017, DJe 15/12/2017)

Na mesma senda, julgados desta Câmara:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. DECLARATÓRIA. LIMITAÇÃO DE
DESCONTOS EM CONTA CORRENTE. O STJ firmou
entendimento (RESP Nº 1.169.334/RS), de que os descontos
relativos a empréstimos efetuados na folha de pagamento e
conta corrente do servidor público não podem ultrapassar
30% dos seus rendimentos brutos, justamente com o objetivo
de evitar o endividamento desenfreado e garantir o mínimo
existencial à parte para o seu sustento e de sua família. No
caso, o desconto realizado pelo banco réu relativo ao
empréstimo consignado e debitado em conta corrente
ultrapassa a margem consignável de 30% sobre o benefício
previdenciário da autora, de modo que se impõe a
pretendida limitação. Modificação da decisão agravada
para conceder a antecipação da tutela. DERAM
PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
UNÂNIME.(Agravo de Instrumento, Nº 70081379331,
Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Walda Maria Melo Pierro, Julgado em: 26-06-2019)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS.
PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL REJEITADA. O
pedido deve ser extraído da interpretação lógico-sistemática
da petição, a partir da análise de todo o seu conteúdo, e não
apenas da rubrica específica. Precedentes do STJ.
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AFASTADA.
A associação que atua como intermediadora da contratação
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do empréstimo celebrado entre a instituição financeira e seu


associado é parte legítima para figurar no polo passivo da
ação que visa a limitação dos descontos. LIMITAÇÃO DOS
DESCONTOS EM FOLHA DE PAGAMENTO. SERVIDOR
PÚBLICO ESTADUAL. Os descontos totais (obrigatórios e
facultativos), em folha de pagamento de servidor público
estadual, podem ser de, no máximo, 70% sobre seus
rendimentos brutos. Entretanto, conforme os limites
estabelecidos na legislação vigente, os descontos
facultativos devem ser limitados a 30% sobre a
remuneração auferida. Precedente do Superior Tribunal
de Justiça (REsp nº 1.164.334/RS). No caso concreto, os
descontos decorrentes dos empréstimos consignados
extrapolam os parâmetros referidos, razão pela qual se
impõe a sua limitação. RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO
Improcede o pedido de restituição, em dobro, do valor
descontado acima do limite legal permitido, pois inexistente
cobrança indevida, já que a autora expressamente anuiu
com a contratação. APELO PROVIDO EM PARTE.
UNÂNIME.(Apelação Cível, Nº 70081697450, Vigésima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dilso
Domingos Pereira, Julgado em: 12-06-2019)

No caso, os descontos facultativos em folha de pagamento e conta corrente


somados devem observar o limite de 30%, e não de 70% como determinado em sentença.
Destarte, merece provimento o recurso de apelação interposto ao efeito de
reformar a sentença quanto ao limite percentual efetivamente aplicável ao caso concreto, nos
termos da fundamentação.
Pelo exposto, voto por dar provimento ao apelo para limitar a soma dos
descontos mensais em folha de pagamento ao patamar de 30% dos rendimentos brutos
auferidos pelo apelante.

Por fim, em atendimento ao disposto no art. 85, §11, do CPC, majoro os


honorários devidos ao patrono da parte apelante para 11% sobre o valor atualizado da causa.

É como voto.

DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).

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DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI (PRESIDENTE) - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI - Presidente - Apelação Cível nº 70082988791,


Comarca de Porto Alegre: "DERAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: LEANDRO RAUL KLIPPEL

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