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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

16ª CÂMARA CÍVEL

Autos nº. 0002014-63.2020.8.16.0121

Apelação Cível n° 0002014-63.2020.8.16.0121


Vara Cível de Nova Londrina
Apelante(s): LEONICE JOVENTINO MIGUEL
Apelado(s): Banco Daycoval S/A
Relator: Juiz Subst. 2ºGrau Marco Antonio Massaneiro

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO


COM PEDIDO DE RESTITUIÇÃO E DANOS MORAIS E PEDIDO DE
TUTELA DE URGÊNCIA – EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS –
ALEGAÇÃO DE QUE O CUSTO EFETIVO TOTAL (CET)
CONTRATADO SUPERA O LIMITE REGULAMENTAR PREVISTO NAS
PORTARIAS EXPEDIDAS PELO INSS - SENTENÇA QUE JULGA
IMPROCEDENTES OS PEDIDOS INICIAIS – INCONFORMISMO DA
PARTE AUTORA – ALEGAÇÃO DE ILICITUDE DAS TAXAS
PRATICADAS DE CUSTO EFETIVO TOTAL – POSSIBILIDADE –
ABUSIVIDADE CARACTERIZADA – APLICAÇÃO AO CASO
CONCRETO DO ART. 13, INCISO II DA INSTRUÇÃO NORMATIVA DO
INSS 28/2008, QUE EXPRESSAMENTE LIMITA AS TAXAS DE JUROS
REMUNERATÓRIOS APLICÁVEIS AOS EMPRÉSTIMOS
CONSIGNADOS, INCLUSO O CUSTO EFETIVO TOTAL SEM
QUALQUER RESSALVA – CONTRATO DE EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO QUE ULTRAPASSA OS PERCENTUAIS FIXADOS,
CONFORME A ÉPOCA DA CONTRATAÇÃO – NECESSÁRIA A
RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO NA FORMA SIMPLES – DANOS
MORAIS – NÃO CONFIGURADOS - PARTE AUTORA NÃO
DEMONSTROU A OCORRÊNCIA DE ABALO NO PLANO
EXTRAPATRIMONIAL – MERO DISSABOR DO COTIDIANO -
INVERSÃO DO ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA, COM FIXAÇÃO DE
HONORÁRIOS POR EQUIDADE, EM VIRTUDE DA PEQUENO VALOR
DA CONDENAÇÃO OU DO PROVEITO ECONÔMICO DA PARTE -
ADOÇÃO DE CRITÉRIO OBJETIVO QUE, NO CASO CONCRETO,
IMPLICARIA EM AVILTAMENTO DO VALOR DOS HONORÁRIOS -
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


0002014-63.2020.8.16.0121, da Vara Cível da Comarca de Nova Londrina, em que é apelante LEONICE
JOVENTINO MIGUEL e apelado BANCO DAYCOVAL S/A.

I – RELATÓRIO.

Trata-se de recurso de apelação cível interposta por LEONICE JOVENTINO MIGUEL


contra a sentença proferida ao mov. 73.1 que, nos autos de Ação Revisional de Contrato Bancário com
Pedido de Restituição e Danos Morais e Pedido de Tutela de Urgência sob o nº
0002014-63.2020.8.16.0121, julgou improcedentes os pedidos iniciais, extinguindo-se o processo com
resolução de mérito, nos termos do art. 487, inc. I, do Código de Processo Civil.

Outrossim, condenou a parte autora ao pagamento das custas e despesas processuais e


honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor atualizado da causa (art. 85, §2º, incisos I a IV, do
Código de Processo Civil), observada a justiça gratuita concedida à parte.

Inconformada, a autora LEONICE JOVENTINO MIGUEL interpôs o presente recurso


de apelação (mov. 79.1) alegando que a sentença deve ser reformada, tendo em vista que a decisão
recorrida analisou apenas os juros remuneratórios constantes no contrato firmado entre as partes e não o
CET, ou seja, o custo efetivo total.

Dessa forma, a parte recorrente argui que o CET estipulado pelo banco réu é abusivo se
considerar a Instrução Normativa INSS nº 28/2008 reformada em 2020 que estabelece um limite máximo
para as instituições financeiras conveniadas ao INSS aplicarem nos contratos de empréstimo consignado.

Dessa forma, aduz que, o INSS tem editado desde 2008 Portarias e Instruções Normativas
estabelecendo limite para o Custo Efetivo Total (CET) das taxas de juros a serem aplicadas nos
empréstimos consignados para cada mês.

Alega que, ao firmar convênio com o INSS, as instituições financeiras comprometem-se a


seguir as normas por ele estabelecidas para as operações de crédito, incluindo-se as taxas de juros
máximas fixadas ao mês.

Afirma ainda que o banco recorrido deve ser condenado a pagar indenização por danos
morais causados à autora, uma vez que a parte ré feriu direitos personalíssimos da apelante.

Por fim, pugna pela inversão do ônus de sucumbência a restituição em dobro das quantias
pagas indevidamente.

Foram apresentadas contrarrazões, conforme se verifica ao mov. 83.1, nas quais a parte ré
pugnou pelo desprovimento do recurso.

Regularmente processado o recurso, os autos foram remetidos a este Tribunal onde foram
registrados, autuados e distribuídos a esta 16ª Câmara Cível e a seguir vieram conclusos para elaboração
de voto.

É o relatório.

II - VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO.

O presente recurso merece conhecimento, na medida em que estão presentes os


pressupostos de admissibilidade recursal, tanto os intrínsecos (cabimento, legitimação e interesse em
recorrer), como os extrínsecos (tempestividade, regularidade formal, inexistência de fato impeditivo ou
extintivo do poder de recorrer e dispensa de preparo).

Pretende a apelante a reforma da r. sentença, para que seja reconhecido que a parte apelada
não respeitou os limites estabelecidos pelo regramento específico do INSS, fixando o Custo Efetivo Total
(CET) em importe maior que o permitido para a época da contratação de cada um dos empréstimos
consignados por ela contraídos.

Para tanto, alega que ao firmar convênio com o INSS, as instituições financeiras
comprometem-se a seguir as normas por ele estabelecidas para as operações de crédito, incluindo-se as
taxas de juros máximas fixadas ao mês.

Razão assiste à recorrente.

A Instrução Normativa nº 28/2008 do INSS, eu seu artigo 13, inciso II, estipulou limite
regulamentar para as taxas de juros remuneratórios a serem praticadas/contratadas pelas instituições
financeiras quando da concessão de empréstimo pessoal consignado a beneficiários do INSS, senão
vejamos:

“Art. 13. Nas operações de empréstimos são definidos os seguintes critérios,


observado o disposto no art. 56 desta Instrução Normativa:

(...)

II - a taxa de juros não poderá ser superior a um inteiro e oitenta centésimos


porcento (1,80%) ao mês, devendo expressar o custo efetivo do empréstimo;
(Redação do inciso dada pela Instrução Normativa INSS Nº 106 DE 18/03/2020,
efeitos a partir de 23/03/2020)”. (Destaquei)
Assim, trata-se de um limite oficial das taxas que as instituições financeiras podem cobrar
nos contratos de empréstimo consignado a beneficiários do INSS, estabelecendo um percentual máximo
como custo efetivo total mensal do contrato, sendo que tal limitação se justifica pela própria natureza da
linha de crédito, onde o risco de inadimplência é virtualmente zero, sendo intuitivo que, caso a instituição
financeira entenda tal remuneração insuficiente, simplesmente não opere tal modalidade de crédito.

Contudo, destaca-se que, no caso concreto, uma vez que o contrato posto à lide data de 24
de dezembro de 2019, devemos nos ater à taxa estabelecida à época da contratação, pois que a redação
supracitada fora alterada em março de 2020. Desta feita, colaciona-se aqui as taxas praticadas na época da
contratação controvertida:

Instrução Normativa INSS nº 92 de 28/12/2017:

“II - a taxa de juros não poderá ser superior a dois inteiros e oito centésimos por
cento (2,08%) ao mês, devendo expressar o custo efetivo do empréstimo;”

No que concerne ao custo final da operação, a abusividade dos percentuais cobrados


quando envolvidos beneficiários do INSS não é aferida a partir da comparação entre a taxa praticada pela
instituição financeira e a média de mercado divulgada pelo Bacen à época da contratação, mas sim deverá
ser feito com base no limite estabelecido pela Instrução Normativa alhures invocada de modo que, se
ultrapassado o patamar regulamentar é considerada abusiva independentemente do quanto foi
ultrapassado.

É neste sentido o entendimento jurisprudencial desta Corte de Justiça:

“Apelação cível. Ação de revisão de contrato c/c repetição de indébito e


indenização por danos morais. (...) Limitação dos juros remuneratórios, nos
termos do artigo 13, inciso II, da Instrução Normativa 28/2008 do INSS.
Aplicabilidade. Autora beneficiária do INSS. (...) 1. Constata-se que é livre a
contratação de juros remuneratórios, sendo possível a intervenção do Judiciário
apenas em caso de abusividade demonstrada, quando ausente a pactuação ou
inexistindo o contrato nos autos. 2. Constam dos contratos de movs. 1.9 e 1.10,
quando da opção formas de pagamento, a marcação "consignado", pelo que,
evidente a modalidade contratada. 3. Art. 13 da Instrução Normativa nº 28/2008
do INSS. Nas operações de empréstimos são definidos os seguintes critérios,
observado o disposto no art. 56 desta Instrução Normativa: (...) II - a taxa de
juros não poderá ser superior a 2,5% (dois inteiros e meio por cento) ao mês,
devendo expressar o custo efetivo do empréstimo; (...).” (destaquei) (Apelação
Cível nº 1.657.353-2 - União da Vitória - Rel. Des. Hélio Henrique Lopes
Fernandes Lima - DJe 24-5-2017).

“BANCÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO,


CUMULADA COM RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO. EMPRÉSTIMO PESSOAL
CONSIGNADO CELEBRADO COM APOSENTADOS E PENSIONISTAS DO
INSS. CUSTO EFETIVO.1. PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. IMPUGNAÇÃO
ESPECÍFICA VERIFICADA EM CONCRETO. REJEIÇÃO DA PRELIMINAR
ARGUIDA EM CONTRARRAZÕES.2. CUSTO EFETIVO TOTAL MENSAL DA
OPERAÇÃO. EXISTÊNCIA DE IMPOSIÇÃO DE TETO OFICIAL DOS
VALORES QUE AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS PODEM COBRAR DE
APOSENTADOS E PENSIONISTAS PARA TAL MODALIDADE DE
OPERAÇÃO. INSTRUÇÃO NORMATIVA DO INSS 28/2008, ART. 13.
RECONHECIMENTO DE ABUSIVIDADE NAS CÉDULAS DE CRÉDITO
BANCÁRIO QUE ULTRAPASSARAM OS PERCENTUAIS FIXADOS,
CONFORME A ÉPOCA DAS CONTRATAÇÕES.3. RESTITUIÇÃO DO
INDÉBITO. VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. ADMITIDA A
COMPENSAÇÃO PARA OS CONTRATOS NÃO LIQUIDADOS.4.
REDISTRIBUIÇÃO DA SUCUMBÊNCIA CONFORME GANHOS E PERDAS EM
FACE DE CADA UM DOS QUATRO RÉUS.5. HONORÁRIOS RECURSAIS.
NÃO CABIMENTO. FINALIDADE DE OBSTAR RECURSOS INFUNDADOS
E/OU PROTELATÓRIOS.RECURSO PROVIDO EM PARTE”. (destaquei) (TJPR
- 16ª C.Cível - 0014322-69.2018.8.16.0035 - São José dos Pinhais - Rel.:
Desembargador Lauro Laertes de Oliveira - J. 09.03.2020)

Compulsando os autos, verifica-se que no contrato acostado por cópia ao mov. 24.2 o custo
efetivo mensal da contratação é de 2,14% a.m., portanto, encontra-se acima do patamar legal, segundo os
limites estipulados à época de sua contratação, ainda que um tanto quanto oculta a abusividade, pois que
malgrado a taxa nominal esteja dentro da norma regulamentar, fato é que o limite estabelecido pelo INSS
se refere ao custo efetivo total, o qual não fora observado no contrato.

Portanto necessária a reforma da sentença no sentido de limitar o custo efetivo total mensal
do contrato de empréstimo consignado posto à lide ao limite regulamentar estabelecido pela Portaria
INSS nº 1.959 de 08 de novembro de 2017, observados os limites percentuais vigentes à época de cada
contratação, em conformidade com a Instrução Normativa nº 92, de 28 de dezembro de 2017.

Assim, se faz necessário a adequação do contrato ao limite vigente na época de sua


celebração, redução das parcelas vincendas e restituição/compensação de forma simples das parcelas já
pagas.

DA REPETIÇÃO DE INDÉBITO

Requer ainda, a condenação da instituição financeira na repetição do indébito.

Restou sedimentado o entendimento de que a repetição em dobro do indébito pressupõe a


existência de pagamento indevido e a má-fé do credor, tendo em vista o parágrafo único do art. 42 do
CDC:

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à


repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso,
acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano
justificável.

Desse modo, prevalece o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que


ao ressalvar a devolução em dobro nas hipóteses de engano justificável, acabou por vincular tal
modalidade de repetição à prova de má-fé do fornecedor, conforme se verifica do seguinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO. LIMITAÇÃO
DOS JUROS. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS
AUTOS. INADMISSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. LEGALIDADE. PACTUAÇÃO
EXPRESSA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. PREVISÃO CONTRATUAL.
REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO. INADMISSIBILIDADE. JUROS DE
MORA. 1% AO MÊS. DECISÃO MANTIDA. (...) 5. É possível a compensação de
créditos e a devolução de quantia paga indevidamente, em obediência ao
princípio que veda o enriquecimento ilícito (REsp n. 680.237/RS, Relator Ministro
ALDIR PASSARINHO JUNIOR, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/12/2005, DJ
15/3/2006, p. 211). No entanto, não incide a restituição em dobro quando o
encargo é objeto de discussão judicial e não está configurada a má-fé do credor.
(...) 7. Agravo regimental a que se nega provimento. (Destaquei) (AgRg no
AREsp 586.987/RS, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA
TURMA, julgado em 19/05/2016, DJe 30/05/2016)

É também o entendimento deste Tribunal de Justiça:

RECURSO DE APELAÇÃO - AÇÃO REVISIONAL - SENTENÇA DE PARCIAL


PROCEDÊNCIA - INCONFORMISMO DA PARTE AUTORA - ALEGAÇÃO DE
ABUSIVIDADE NA COBRANÇA DE JUROS CAPITALIZADOS MENSAIS -
INOCORRÊNCIA - EXPRESSA PREVISÃO LEGAL E CONTRATUAL -
PRECEDENTES - PEDIDO DE REPETIÇÃO EM DOBRO DOS VALORES
COBRADOS A MAIOR - IMPOSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DA MÁ-FÉ - PRECEDENTES - APELO DESPROVIDO 1.
"É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em
contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional
a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n.
2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada" (Súmula 539/STJ), sendo
certo que "a previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada" (Súmula 541/STJ).2. "A repetição do indébito em dobro pressupõe
cobrança indevida por má-fé do credor, o que não ficou demonstrado nos autos"
(AgInt nos EDcl no REsp 1488240/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 21/02/2017, DJe 01/03/2017). (Destaquei) (TJPR -
18ª C.Cível - AC - 1640013-2 - Região Metropolitana de Londrina - Foro
Regional de Cambé - Rel.: Denise Kruger Pereira - Unânime - J. 12.07.2017)

Dessa forma, todos os valores devem ser restituídos de forma simples, pois não há
evidência inequívoca de má-fé do banco, mesmo porque, como visto, os valores cobrados, a princípio, são
relativos às prestações calculadas segundo a taxa de juros contratada entre as partes.

DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

Por fim, requer a apelante a condenação da instituição financeira ao pagamento de


indenização por danos morais.

Entendo que razão não lhe assiste.

A simples abusividade do CET, por si só, não gera qualquer repercussão nos direitos da
personalidade da apelante, já estando devidamente sancionada com a devolução dos valores, não dando
margem ao dano moral.

Cumpre salientar que, não tendo a Apelante comprovado qualquer prejuízo sofrido, muito
menos os desgastes físicos e as alterações psíquicas alegadas, não há que se falar em reparação de danos,
pelo fato de as alegações estarem desprovidas de provas, ônus que lhe competia, nos termos do artigo
373, inc. I, do CPC.

Neste sentido:

“APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO REVISIONAL – CONTRATO DE EMPRÉSTIMO


PESSOAL – APELO – VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ –
INOCORRÊNCIA – POSSIBILIDADE DE REVISÃO DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS – RELATIVIZAÇÃO A FIM DE PRESERVAR O EQUILÍBRIO
CONTRATUAL – TEORIA DA SUPRESSIO – INAPLICABILIDADE AO CASO –
LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS – POSSIBILIDADE –
ABUSIVIDADE CONSTATADA – TAXA DE JUROS ANUAL QUE SUPERA UMA
VEZ E MEIA A TAXA MÉDIA DIVULGADA PELO BACEN PARA OPERAÇÕES
DA MESMA ESPÉCIE E PERÍODO CONTRATADO – APLICAÇÃO DO
ENTENDIMENTO EXARADO NO RECURSO ESPECIAL Nº 1.061.530/RS –
REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM DOBRO – INVIABILIDADE – AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DA MÁ-FÉ DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA – DEVOLUÇÃO
QUE DEVE SER FEITA DE FORMA SIMPLES – RECURSO ADESIVO –
PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA DEFERIDO – COMPROVAÇÃO DE QUE
OS APELANTES NÃO POSSUEM CONDIÇÕES DE SUPORTAR COM AS
DESPESAS PROCESSUAIS – CONDENAÇÃO POR DANOS MORAIS –
DESCABIMENTO – AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE NEXO DE
CAUSALIDADE ENTRE A COBRANÇA ABUSIVA E O ABALO
SUPORTADO – DANO MORAL INEXISTENTE. RECURSO DE APELAÇÃO
E RECURSO ADESIVO CONHECIDOS E PARCIALMENTE PROVIDOS.”
(Destaquei) (TJPR - 16ª C.Cível - 0004965-37.2018.8.16.0109 - Mandaguari -
Rel.: Desembargadora Maria Mércis Gomes Aniceto - J. 28.10.2019)
“BANCÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO DE TAXA ANUAL DE
JUROS, CUMULADA COM RESTITUIÇÃO DE VALORES E INDENIZAÇÃO
POR DANO MORAL. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO PESSOAL NÃO
CONSIGNADO. DESCONTO EM CONTA CORRENTE. SENTENÇA QUE
RECONHECEU A ABUSIVIDADE DA TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS E
DETERMINOU SUA LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA DE MERCADO.
1.PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA
VERIFICADA EM CONCRETO. REJEIÇÃO DA PRELIMINAR ARGUIDA EM
CONTRARRAZÕES. 2. DANO MORAL. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO
PELA 2ª SEÇÃO DO STJ NO SENTIDO DE QUE SÃO LÍCITOS OS
DESCONTOS EM CONTA CORRENTE PARA O ABATIMENTO DE
MÚTUO, DESDE QUE HAJA PREVISÃO CONTRATUAL NÃO REVOGADA
PELO CORRENTISTA E QUE OS DESCONTOS SATISFAÇAM DÉBITOS
QUE CONSTITUEM O MÚTUO. INEXISTÊNCIA DO DEVER DE
INDENIZAR (CC, ARTIGO 186). ADEMAIS, A MERA COBRANÇA
ABUSIVA DE JUROS REMUNERATÓRIOS NÃO IMPLICA, POR SI,
HIPÓTESE APTA A CONFIGURAR DANO MORAL. 3. DEVOLUÇÃO DOS
VALORES COBRADOS INDEVIDAMENTE NA FORMA SIMPLES. PRINCÍPIOS
DA BOA-FÉ, EQUIDADE E VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO.
4.FIXA HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM GRAU RECURSAL. (CPC, ART.
85, § 11 E ENUNCIADO Nº 7 DO STJ). RECURSO DESPROVIDO.” (Destaquei)
(TJPR - 16ª C.Cível - 0000172-25.2018.8.16.0119 - Nova Esperança - Rel.:
Desembargador Lauro Laertes de Oliveira - J. 17.07.2019)

Sendo assim, neste ponto não assiste razão à parte apelante.

Ante o exposto, voto no sentido de conhecer e dar parcial provimento ao presente


recurso, reformando a sentença no que diz respeito à limitação do custo efetivo total em conformidade
com Instrução Normativa nº 92, de 28 de dezembro de 2017, de modo que seja efetuada a devolução na
forma simples dos valores cobrados a maior pela instituição financeira.

Diante do provimento do recurso de apelação, necessária a inversão do ônus de


sucumbência, devendo o apelado suportar integralmente o valor das custas e despesas processuais, bem
como necessário fixar honorários advocatícios,com fundamento no disposto no art. 85, § 8º do CPC,
estabeleço-os em R$ 500,00 (quinhentos reais) adotando o critério da equidade, uma vez que, cf. a
estimativa formulada na inicial, os valores a serem restituídos, já considerada a correção monetária e juros
remuneratórios não alcança um patamar elevado, uma vez que redução da taxa de juros é de apenas 0,6%,
sendo, portanto, inviável a fixação da verba honorária com base na condenação ou mesmo no proveito
econômico da parte autora, pois caso adotado tal critério ocorreria o aviltamento de tal verba, o que não se
admite.

III – DISPOSITIVO.

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 16ª Câmara Cível do


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O
RECURSO DE PARTE E PROVIDO EM PARTE o recurso de LEONICE JOVENTINO MIGUEL.

O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargador Paulo Cezar Bellio,


sem voto, e dele participaram Juiz Subst. 2ºgrau Marco Antonio Massaneiro (relator), Desembargadora
Maria Mercis Gomes Aniceto e Desembargador Luiz Antônio Barry.

25 de abril de 2022

Juiz Subst. 2ºGrau Marco Antonio Massaneiro

Juiz (a) relator (a)

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