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07/10/2021 SICC (R) 2021 | Sistema de Informação do Contabilista Certificado

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PT26503 - Factoring
Quarta, 01 de Setembro, 2021

Factoring

Actualizado em: Quinta, 23 de Setembro, 2021

Determinada empresa de factoring adianta ao aderente 85% do valor das faturas cedidas e quando o cliente paga ao factoring este
disponibiliza o remanescente do qual já são deduzidos os encargos do factoring. Na cessão que é feita são cedidas faturas e notas de
crédito, mas as notas de crédito cedidas não são consideradas pelo factoring. Existe plafond de crédito por cliente, o que significa que
podem estar a ser cedidas faturas sobre as quais não vai ser feito adiantamento.

Na data de vencimento de uma fatura a mesma não foi liquidada ao factoring porque o cliente não a lançou na sua contabilidade por
não concordar com o valor da mesma (litígio comercial). O cliente cedido é também fornecedor e quando liquidou as faturas ao
factoring abateu as faturas que tinha como fornecedor. O cliente não cumpriu o contrato e entrou em mora/insolvência.

Pode a empresa desreconhecer os créditos na data da cedência ao factoring? Na existência de litígio os mesmos têm que voltar a ser
reconhecidos? Pode existir encontro de contas com clientes cedidos ao fatoring que sejam também fornecedores? Quem fica
responsável pela dívida e quem pode recuperar o IVA das faturas em mora?

Parecer Técnico
Na situação exposta as questões colocadas referem-se ao tratamento contabilístico de cedências de dívidas a receber de clientes
através de um contrato de factoring.

No caso em apreço a entidade celebrou um contrato de factoring sem recurso.

De acordo com o Decreto-Lei n.º 171/95, de 18 de julho, com posteriores alterações, a atividade de cessão financeira, ou factoring, não
é mais do que a aquisição de créditos a curto prazo, derivados da venda ou da prestação de serviços, nos mercados interno e externo
de acordo com o n.º 1 do artigo 2.º desse Decreto.

Os intervenientes destas operações de factoring, de acordo com o artigo 3.º do mesmo Decreto, são os seguintes:

a) Fator ou cessionário - as sociedades que adquirem os referidos créditos a curto prazo;

b) Aderente - o interveniente no contrato de factoring que cede créditos ao factor;

c) Devedores - os terceiros devedores dos créditos cedidos pelo aderente ao factor;

Pode-se então resumir que a atividade de factoring consiste essencialmente na aquisição pelas sociedades de factoring de créditos
de curto prazo da empresa aderente.

O contrato de factoring tem que ser sempre realizado por escrito e dele devem constar o conjunto de acordos estabelecidos entre o
factor e o respetivo aderente.

O início das negociações deve ser efetuado pela empresa aderente que ao pretender dispor de um serviço de factoring deve formular
ao factor uma proposta de adesão, acompanhada de elementos históricos e contabilísticos sobre a sua vida e situação financeira e
económica.

O aderente submete à aprovação do factor a sua carteira de clientes, indicando para cada um a sua identificação, o volume normal de
compras anuais, as condições habituais de pagamento e o limite de crédito que lhe pretende atribuir, de modo que o factor possa
definir o valor dentro do qual assume o risco de insolvência de cada cliente.

Após o estudo daquelas informações e definido este limite, em caso de mútuo consenso, é celebrado um contrato entre o aderente e o
factor, onde normalmente constam os seguintes elementos:

- a respetiva duração;

- a comissão de factoring pelos serviços prestados;

- a taxa de juro dos adiantamentos efetuados;

- a provisão financeira, que não é mais do que a percentagem a deduzir nos adiantamentos sobre créditos cedidos, prevenindo
eventuais litígios comerciais: devoluções, nota de crédito, etc.

- os clientes aprovados, suas condições e limite de crédito

- a periodicidade da remessa ao factor pelo aderente das cópias das faturas por este emitidas

- outras condições que merecem constar do contrato.

Após o contrato tem que ser dado a conhecer aos devedores aceites pelo factor da existência do contrato, por carta registada com
aviso de receção.

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Posteriormente, o aderente passa a enviar as suas faturas para os devedores, com indicação de que devem ser pagas ao factor, no
vencimento e nas condições habituais.

As operações de cobrança são efetuadas pelo factor, competindo-lhe a emissão dos respetivos recibos.

Relativamente às entregas do factor ao aderente, que se processam por meio de crédito em conta-corrente, aberta pelo factor a favor
da empresa aderente, aquele pode, consoante a modalidade acordada:

- efetuar o pagamento na data do vencimento de cada fatura ou na data de um vencimento médio presumido, estipulado no contrato;

- efetuar o pagamento antecipado;

- possibilitar, mediante a prestação de garantias, a cobrança antecipada por intermédio de instituições bancárias.

O factor, normalmente, envia periodicamente ao aderente informações atualizadas sobre a situação da sua conta-corrente, com os
justificativos dos lançamentos efetuados e sobre o comportamento dos seus devedores, no que se refere à pontualidade nos
pagamentos, situações de mora, etc.

Os encargos com o factoring englobam, fundamentalmente, uma comissão de cobrança, que deve ser registada na conta 6221 -
"Fornecimentos e serviços externos - Trabalhos especializados", e os juros do eventual financiamento concedido, pelo adiantamento
do valor das faturas cedidas, a contabilizar na conta 69 - "Gastos e Perdas de Financiamento".

Note-se, entretanto, que a gestão e cobrança dos créditos podem ser efetuadas nas seguintes modalidades:

- Sem recurso: o factor não reclamará junto do aderente, em caso de não pagamento do devedor, sendo, por isso, o risco de crédito por
conta daquele;

- Com recurso: o factor tem o direito de regresso sobre o aderente, no caso de o crédito se tornar incobrável;

Estas modalidades de factoring podem ter influência no reconhecimento contabilístico das operações de cedências de faturas, uma
vez que esta em causa a existência de um passivo (com recurso) ou uma redução de ativo (sem recurso), no momento do
recebimento antecipado do valor das faturas pela empresa aderente efetuado pelo factor.

Quando se tenha contratado a modalidade "cessão de créditos sem recurso", a empresa aderente, no fundo, está a vender as dívidas
dos seus clientes ao factor, transmitindo todos os riscos e benefícios associados à empresa de factoring.

Ora, neste caso, na presença de uma venda de créditos está-se perante uma redução de ativo, no momento da cessão do crédito,
efetuando-se o desreconhecimento (anulação) das dívidas a receber de clientes, conforme estabelecido no parágrafo 30 da Norma
Contabilística e de Relato Financeiro (NCRF) n.º 27 - "Instrumentos financeiros".

Por outro lado, quando se tenha contratado a modalidade "cessão de créditos com recurso", a empresa aderente mantém todos os
riscos e benefícios pela não cobrança do crédito, devendo o valor antecipado pelo factor ser tratado como uma mera operação de
financiamento (reconhecimento de um passivo), mantendo-se no ativo as dívidas a receber de clientes (cf. parágrafo 32 da NCRF 27).

Os parágrafos 30 e seguintes da NCRF 27, estabelecem:

- Que se deve desreconhecer um ativo financeiro, isto é o saldo de clientes, (§30) quando a entidade (Aderente) transfere para outra
parte (Factor) todos os riscos significativos e benefícios relacionados com o ativo financeiro;

- Se a transferência não resultar num desreconhecimento (§ 32), uma vez que a entidade reteve significativamente os riscos e
benefícios de posse do ativo transferido, a entidade deve: continuar a reconhecer o ativo transferido de forma integral; e deverá
reconhecer um passivo financeiro pela retribuição recebida.

Pelo recurso ao factoring, tal como já referido, podemos observar dois tipos de contabilização mediante o tipo de factoring:

Factoring com recurso:


 
Débito Crédito Descritivo
12 - Depósitos à Ordem 2514 - Financiamentos obtidos - Pelas quantias recebidas do fator -
Instituições de crédito e Adiantamentos
sociedades financeiras - Factoring
2111y Clientes c/c - Créditos 2111x Clientes c/c - Clientes gerais Pela evidenciação dos saldos
cedidos cedidos ao factoring (apenas como
conta de controlo, não obrigatória)
2514 - Financiamentos obtidos - 2111x Clientes c/c - Clientes gerais Pela cobrança efetuada pelo fator
Instituições de crédito e ao cliente
sociedades financeiras - Factoring
 

Factoring sem recurso:


 
Débito Crédito Descritivo
12 - Depósitos à Ordem 2111y Clientes c/c - Créditos Pelas quantias recebidas do fator
cedidos
2111y Clientes c/c - Créditos 2111x Clientes c/c - Clientes gerais Pela cobrança efetuada pelo fator
cedidos ao cliente (apenas como conta de
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controlo, não obrigatória).
 

Habitualmente, a empresa de factoring envia uma relação mensal (extracto) de contas com os movimentos relacionados com os
registos que constarão das contas mencionadas em cima, bem com relação de crédito cobrados ao cliente.

Estes extratos devem ser utilizados para efetuar reconciliações frequentes (normalmente mensais) das contas contabilísticas, no
sentido destas refletirem a verdadeira posição financeira e desempenho da empresa relativamente a este tipo de operações.

Na contabilidade das empresas aderentes o mero envio ao factor das cópias das faturas para cobrança (cessão dos créditos), não
constituindo um verdadeiro facto patrimonial, pode implicar, a transferência dos respetivos créditos para uma conta específica, com a
criação de algumas subcontas na conta de clientes, que permitirá um controlo interno destas operações:

- Débito da conta 213 - "Clientes- Fator conta créditos tomados" por contrapartida a crédito da conta 211XX - "Clientes - clientes c/c -
Cliente XX (por cada cliente)", pela cessão do crédito, representado por uma fatura.

Relativamente aos encargos da operação e das entregas efetuadas pelo factor ao aderente, podem ter-se os seguintes registos
contabilísticos:

Na modalidade "cessão de créditos sem recurso", quando o factor se encarregar da cobrança, antecipar meios monetários e assumir o
risco da cobrança, tratando-se de uma verdadeira cessão de créditos e utilizando o método de venda de créditos:

- Débito da conta de meios financeiros líquidos (conta 12) por contrapartida a crédito da conta 278x - "Outros devedores e credores -
Fator c/c", pelo valor recebido do factor (normalmente o saldo desta conta corrente, após cedência de faturas, líquido dos vários
encargos debitados pelo factor à empresa aderente);

- Débito da conta de serviços externos (6221) por contrapartida da conta 278x - "Outros devedores e credores - Fator c/c", pela
comissão de cobrança e prémio de seguro de crédito (normalmente estas são as comissões variáveis, debitadas mensalmente pela
gestão da cobrança das faturas, que variam consoante as faturas por liquidar pelo cliente, e respetivo de prazo de mora, se for o caso;

- Débito da conta de gastos de financiamento (691) por contrapartida da conta 278x - "Outros devedores e credores - Fator c/c", pelos
juros das antecipações de recebimentos e pelas comissões fixas no momento inicial da cessão das faturas;

- Débito da conta 278x - "Outros devedores e credores - Factor c/c" por contrapartida a crédito da conta de clientes 213 - "Clientes -
Fator conta créditos tomados", pelo total das faturas cedidas e já recebidas do factor.

Estes movimentos devem ser efetuados com o suporte dos respetivos documentos (ou extratos) enviados pelo factor à empresa
aderente, no momento que cada operação ocorrer.

Como se constata, nos contratos de factoring sem recurso, se existir a transferência do saldo devedor de clientes da subconta de
conta corrente (conta 211 - "Clientes c/c) para a subconta do saldo cedido ao factoring (conta 213), o respetivo desreconhecimento do
ativo financeiro pelo recebimento do factoring não determina que a conta 213 possua saldos credores.

Com os procedimentos explicados, a conta 213 apresentará saldos devedores ou nulos.

Face ao exposto, no caso apresentado sugerimos que seja validado o contrato existente para validar do correto enquadramento do
tipo de factoring e operações envolvida. Estando perante um factoring sem recurso, significa que, a entidade transfere 85% do valor
das faturas para a factoring, transmitindo todos os risco e vantagens associados, pelo que, deve desreconhecer o valor transferido.

Quanto às notas de crédito, se bem entendemos, a factoring não as inclui na listagem pelo que, depreendemos que não fazem parte
da operação. Assim sendo, estes documentos não devem ser incluídos nas operações de factoring. O mesmo acontece com as
entidades que são simultaneamente clientes e fornecedores. Em bom rigor, apenas as faturas de clientes são operações enquadráveis
o factoring. Esta operações devem ser validade com a factoring. Em teoria os cientes deveriam pagar à factoring os montantes
apenas considerados no contrato de factoring, os restantes montantes (créditos e dedução de valor enquanto fornecedor) deveria ser
tratado diretamente com a entidade. Em todo o caso, sendo os valores deduzidos à factoring, sugerimos que a entidade estabeleça
um acordo com a factoring para regularização destes montantes.

Por último, quanto aos riscos da dívida, sendo estes transmitidos para a factoring, uma vez que se trata de factoring sem recurso, é a
factoring quem assume todos os riscos. Logo, a entidade desrecohece o ativo ficando sem qualquer risco relacionado com a dívida.

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