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ID: 98631736 14-04-2022 Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1

MÁRCIO PEREIRA
Consultor da Ordem
dos Contabilistas Certificados
comunicacao@occ.pt

Imparidades nas dívidas a receber – aspetos fiscais em IRC

N
as situações em que existem dúvidas tribunais que vão no sentido contrário, isto é, por qualquer espécie de garantia real; resultado tributável do período em que se
quanto à cobrabilidade das dívidas a estas operações devem ser consideradas como - Os créditos sobre pessoas singulares cumprirem as condições acima referidas.
receber, observando-se as evidências sendo da atividade normal, uma vez que o ou coletivas que detenham, direta ou Na prática, a empresa pode considerar essas
objetivas, as entidades devem reconhecer objetivo da aquisição de uma máquina ou indiretamente, mais de 10% do capital da perdas por imparidade para efeitos fiscais no
contabilisticamente a respetiva perda por do adiantamento ao fornecedor é o regular empresa ou sobre membros dos seus órgãos período em que, em termos contabilísticos,
imparidade. No entanto, em termos fiscais é funcionamento do seu objeto social. Assim, sociais (participantes no capital); considerou existirem as respetivas evidências
necessário atender às condições e limites para segundo a jurisprudência nacional, também os - Os créditos sobre empresas participadas, objetivas relacionadas com o risco de
que estas perdas possam ser deduzidas ao lucro créditos das alienações de ativos não correntes direta ou indiretamente, em mais de 10% incobrabilidade, tendo por isso reconhecido a
tributável. No passado dia 4 de fevereiro, foi e os adiantamentos a fornecedores são aceites do capital; respetiva perda por imparidade.
publicado um artigo (https://www.occ.pt/pt/ fiscalmente. - Os créditos entre empresas detidas, direta As perdas por imparidade contabilizadas fora
noticias/imparidades-nas-dividas-a-receber- ou indiretamente, em mais de 10% do dos períodos devidos colocam em causa a
aspetos-contabilisticos/) sobre o tratamento Conceito de cobrança duvidosa capital pela mesma pessoa singular ou dedutibilidade fiscal.
contabilístico das perdas por imparidades das Em termos fiscais, consideram-se créditos coletiva (empresas com sócios em comum).
dívidas a receber. Neste artigo, o objetivo é o de cobrança duvidosa aqueles em que o De notar que, relativamente a estes três Caso prático
de abordar o tratamento fiscal. risco de incobrabilidade esteja devidamente últimos pontos, isto é, para os créditos A entidade “XPTO” tem contabilizada uma
Em termos fiscais, o Código do IRC apresenta comprovado, o que acontece nas seguintes sobre os participantes do capital, os créditos dívida do cliente, no valor de 6000 euros,
o tratamento das perdas por imparidade em situações: sobre as participadas e os créditos entre relativa a três faturas em que o prazo de
dívidas a receber nos artigos 35.º e 36.º para os - O devedor tenha pendente processo de empresas com sócios em comum, são vencimento foi ultrapassado em junho do
períodos de tributação até 2013 e nos artigos execução, processo de insolvência, processo aceites fiscalmente as perdas resultantes ano passado (ano “n-1”). Na altura foram
28.º-A e 28.º-B para os períodos de tributação especial de revitalização ou procedimento de de processo de execução, processo de feitos esforços, por intermédio de e-mails e
de 2014 e seguintes. recuperação de empresas por via extrajudicial insolvência, processo especial de revitalização carta registada, no sentido de receber a dívida.
De acordo com estas normas fiscais, apenas são ao abrigo do Sistema de Recuperação de ou procedimento de recuperação de empresas Esforços que se revelaram infrutíferos, o que
aceites fiscalmente as perdas por imparidade Empresas por Via Extrajudicial (SIREVE), por via extrajudicial ao abrigo do Sistema de levou o órgão de gestão a ter sérias dúvidas
de créditos que preencham as três condições aprovado pelo Decreto-Lei n.º 178/2012, de 3 Recuperação de Empresas por Via Extrajudicial quanto à sua cobrabilidade. Apesar destas
seguintes: de agosto; (SIREVE), ou os créditos que tenham sido dúvidas, no ano ”n-1”, não foi contabilizada
- Respeitem a créditos resultantes da - Os créditos tenham sido reclamados reclamados judicialmente ou em tribunal qualquer perda por imparidade pelo risco de
atividade normal; judicialmente ou em tribunal arbitral; arbitral. incobrabilidade. No final do corrente ano (ano
- Sejam consideradas de cobrança duvidosa; - Os créditos estejam em mora há mais “n”) foi contabilizada a perda por imparidade
- Estejam evidenciadas na contabilidade de seis meses desde a data do respetivo Evidenciados na contabilidade correspondente a 50% do valor da dívida
como créditos de cobrança duvidosa. vencimento e existam provas de terem sido Para que as perdas por imparidade dos créditos (3000 euros).
Atente que estas condições terão que se efetuadas diligências para o seu recebimento, a clientes sejam aceites fiscalmente é necessário Qual o gasto fiscal aceite no ano “N+1”?
observar cumulativamente, pelo que importa atendendo aos seguintes limites: que estejam contabilizadas no mesmo período Em termos fiscais, para que a perda por
efetuar uma análise cuidada de cada uma delas. - 25% para créditos em mora há mais de 6 de tributação ou em períodos de tributação imparidade seja considerada, é necessário
meses e até 12 meses; anteriores, pelo que é necessário atender às que estejam cumpridos os três requisitos
Atividade normal - 50% para créditos em mora há mais de 12 evidências objetivas previstas nas normas anteriormente mencionados.
Quanto ao conceito de atividade normal, tem meses e até 18 meses; contabilísticas. Neste caso, estes três requisitos estão
sido entendimento da Autoridade Tributária - 75% para créditos em mora há mais de 18 No que respeita à evidência dos créditos de cumpridos, na medida em que a dívida é de
(AT) que se resumem aos créditos comerciais meses e até 24 meses; cobrança duvidosa na contabilidade, considera- um cliente resultante da atividade normal da
que resultem das vendas e prestações de - 100% para créditos em mora há mais de -se cumprida com os registos contabilísticos entidade “XPTO”, os créditos são considerados
serviços respeitantes à atividade da empresa. De 24 meses. propostos no artigo publicado neste jornal no de cobrança duvidosa, pelo facto de se
acordo com o entendimento da AT, os juros Por outro lado, as normas fiscais também passado dia 4 de fevereiro. encontrarem em mora há mais de 6 meses
de mora (juros de atraso no cumprimento das identificam as situações em que não são Importa sublinhar que a constituição de (desde junho de “n-1”) e estão evidenciados na
obrigações) também são considerados como considerados de cobrança duvidosa, logo não imparidades, quer em termos contabilísticos contabilidade (registo efetuado no ano “n”).
resultantes da atividade normal. aceites fiscalmente, mesmo que contabilizadas, quer em termos fiscais, tem de ter em No entanto, apesar de estarem cumpridos
Por outro lado, relativamente aos créditos designadamente: consideração que as demonstrações financeiras os três requisitos, é importante atender ao
resultantes das vendas de ativos não correntes e - Os créditos sobre o Estado, regiões são elaboradas com base no regime do momento em que eles se verificam. Ora, em
adiantamentos a fornecedores, o entendimento autónomas e autarquias locais ou aqueles em acréscimo ou periodização económica. Quer termos contabilísticos, as evidências objetivas
da AT tem sido no sentido de que não que estas entidades tenham prestado aval; isto dizer que, em termos contabilísticos, as foram observadas no ano “n-1”, pelo que
resultam da atividade normal. Desta forma, no - Os créditos cobertos por seguro, com imparidades devem ser contabilizadas quando a perda por imparidade deveria ter sido
entender do fisco, estes créditos não são aceites exceção da importância correspondente à se verificarem as evidências objetivas. Em contabilizada no ano “n-1” pelo valor total da
fiscalmente. No entanto, existem decisões dos percentagem de descoberto obrigatório, ou termos fiscais, devem ser consideradas no dívida (6000 euros).

INFORMAÇÃO ELABORADA PELA ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

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