Você está na página 1de 1

Meio: Imprensa Pág: 19

País: Portugal Cores: Cor

Period.: Semanal Área: 18,64 x 28,65 cm²

ID: 94819548 10-09-2021 Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1

BERNARDO CORREIA
consultor da Ordem dos
Contabilistas Certificados
comunicacao@occ.pt

Suprimentos: enquadramento em Imposto do Selo


U
ma das mais importantes se acordar que o crédito passa a ser exigível titularidade durante um ano
alterações fiscais que marcou (e apenas a médio/longo prazo, uma vez consecutivo; ou
atribulou) o início do ano de que, em circunstâncias normais, o facto 2.2) Pertença ao mesmo desde a
2021foi o início da produção de efeitos de o sócio adiantar certos montantes aos constituição da sociedade, contando
da obrigação de entrega da Declaração fornecedores e, de seguida, a sociedade que, neste caso, a participação seja
Mensal de Imposto do Selo (DMIS), restituí-lo pelo exato montante não deverá mantida durante todo esse período.
que veio autonomizar as obrigações configurar facto tributário em sede de IS. Assim, caso estejam cumpridas estas
declarativas em sede deste imposto, até O diferimento do vencimento dos condições, os empréstimos efetuados
então entregue através da comummente créditos, conferindo-lhes esse caráter de com características de suprimentos,
designada “guia multi-imposto”. permanência, aponta no sentido de o embora sujeitos a IS, encontram-se
Tal como sucede com qualquer alteração sócio continuar a pretender ser restituído, isentos do mesmo. Neste âmbito,
declarativa e/ou procedimental de cariz mas num horizonte temporal alargado, salientamos que uma das grandes
fiscal/tributário desta magnitude, foram assegurando assim à sociedade recursos alterações implementadas com a DMIS
muitas as questões colocadas à Ordem financeiros por via indireta. foi a obrigação declarativa mensal de
dos Contabilistas Certificados (OCC) Outro aspeto a salientar é que, em todas as operações sujeitas a IS, incluindo
sobre a DMIS e o impacto que esta qualquer das situações, a restituição do as isentas, pelo que deverá a mesma ser
teria na organização dos procedimentos crédito do sócio sobre a sociedade não entregue, neste caso, como vimos, pela
internos e administrativos para assegurar deverá ser exigível ou verificar-se durante, sociedade, ainda que não haja lugar a
o atempado cumprimento declarativo das pelo menos, um ano (sendo esse o prazo entrega do imposto por via da isenção.
empresas e dos respetivos empresários. considerado como indicador para o Outra das questões mais colocadas no
Um dos temas mais questionados e “caráter de permanência” referido na âmbito dos suprimentos é o tratamento
que mais preocupação gerou (e ainda parte final da definição suprarreferida). fiscal do seu reembolso, ou seja, as
gera) aos Contabilistas Certificados Feita esta nota introdutória e de forma a implicações fiscais associadas à restituição
prende-se com as operações financeiras fazer a ligação para o próximo tema, será aos sócios desses valores. Ora, para
entre os sócios de capital e as sociedades pacífico afirmar que, em termos práticos efeitos de IS, o nascimento da obrigação
(cujas personalidades jurídicas são e sucintos, os suprimentos não são nada tributária ocorre no momento em que o
diferentes), cuja natureza, como é mais do que empréstimos efetuados pelo crédito for utilizado (e não no momento
do conhecimento geral, poder-se-á sócio à sociedade, geralmente, mas não em que o respetivo contrato é celebrado).
enquadrar num leque vastíssimo de só, para suprir dificuldades de tesouraria Significa isto, de forma sucinta, que o
opções, sendo sempre preciso averiguar, com caráter tendencialmente mais reembolso dos suprimentos aos sócios,
junto dos intervenientes, o respetivo estrutural, ou seja, de médio/longo prazo. em circunstâncias normais, não implica
enquadramento. Ora, como é do conhecimento geral, qualquer tributação fiscal em termos de
Cingindo-nos apenas ao impacto em qualquer empréstimo que seja efetuado, IS, nem qualquer entrega da DMIS.
sede de Imposto do Selo (IS), uma das independentemente do seu valor, por Contudo, relembramos que, para além
operações mais relevantes e frequentes alguma entidade (geralmente do setor das condições relativas à percentagem
efetuadas entre os sócios e as empresas, financeiro) encontra-se sujeito a IS. e duração da participação do sócio,
sobre a qual nos iremos debruçar neste Em circunstâncias normais, o sujeito tal como referido no início do artigo,
artigo, com o objetivo de esmiuçar as suas passivo de IS num empréstimo é sempre quando esteja em causa um contrato de
vicissitudes e mitigar eventuais dúvidas a entidade concedente do crédito, suprimentos, o crédito deverá cumprir
que possam haver sobre os mesmos, são constituindo o imposto encargo, por sua com a definição de “suprimento”, que
os denominados “suprimentos”. vez, do “titular do interesse económico”, tanto pode implicar a sua não restituição
Em termos concetuais, define o Código enquadrando-se em tal conceito, nestas num prazo não inferior a um ano como
das Sociedades Comerciais (CSC) que situações, o utilizador do crédito. a não utilização da faculdade de exigir o
“contrato de suprimento” é «o contrato Exemplo: entidade bancária empresta reembolso devido pela sociedade durante
pelo qual o sócio empresta à sociedade dinheiro a um particular no âmbito de um ano (ou mais) contado da constituição
dinheiro ou outra coisa fungível, ficando um crédito à habitação. Sujeito passivo = do crédito, quer não tenha sido estipulado
aquela obrigada a restituir outro tanto do entidade bancária (concedente do crédito) prazo, quer tenha sido convencionado
mesmo género e qualidade, ou pelo qual – entrega a DMIS; titular do encargo = prazo inferior.
o sócio convenciona com a sociedade o particular (titular do interesse económico) Por este mesmo motivo e tendo em conta
diferimento do vencimento de créditos – irá suportar o IS. a isenção acima explanada, quando sejam
seus sobre ela, desde que, em qualquer dos Sem prejuízo desta regra geral, no caso efetuados empréstimos pelos sócios às
casos, o crédito fique tendo carácter de dos suprimentos efetuados em que o sócio sociedades, mas o seu reembolso, por
permanência». é um particular, o sujeito passivo passará qualquer motivo, ocorra antes do prazo
Deste modo, poderemos ter suprimentos a ser a sociedade, transitando, deste de um ano, o Código do IS estipula o
em duas situações: modo, para a esfera desta a obrigação de nascimento de um novo facto tributário
• Quando o sócio empresta dinheiro submeter a DMIS. na mesma data desse reembolso.
ou outra coisa fungível à sociedade, Todavia e considerando o papel De facto, o reembolso antes de ter
ficando esta obrigada a restituir ao relevante que a capitalização acionista decorrido um ano afasta a isenção
sócio outro tanto do mesmo género e tem no financiamento das sociedades de que possam ter beneficiado os
qualidade; ou em Portugal, os empréstimos com suprimentos. Caso tal aconteça, deverá
• Quando o sócio acorda com características de suprimentos, incluindo a sociedade entregar nova DMIS,
a sociedade o diferimento do os respetivos juros, encontram-se isentos com referência à data de reembolso
vencimento de eventuais créditos seus de IS, desde que: antecipado do suprimento, para
sobre a mesma. 1) O sócio detenha diretamente uma proceder à liquidação do imposto
Poder-se-ão enquadrar nesta segunda participação no capital não inferior a devido, sem necessidade de qualquer
definição, por exemplo, as despesas pagas 10%; e correção ou substituição da DMIS em
pelo sócio em nome da sociedade que não 2) Essa participação: que a operação tenha sido declarada,
sejam reembolsadas no curto prazo, por 2.1) Tenha permanecido na sua inicialmente, como isenta.

Você também pode gostar