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Empréstimo de Mútuo Entre Empresas

1. Introdução
É muito comum nas sociedades empresariais, os sócios emprestarem dinheiro
para a sociedade da qual participem ou até mesmo os sócios tomarem dinheiro
emprestado da sociedade, mesmo que esta não seja uma instituição financeira. Essas
operações também são muito comuns entre empresas coligadas e entre as
controladoras e suas controladas.
O artigo 586 do Código Civil (CC/2002), aprovado pela Lei nº 10.406/2002,
denomina essa operação de mútuo. Assim, perante a legislação civilista, mútuo é o
empréstimo de coisas fungíveis (dinheiro, por exemplo), no qual o mutuário obriga-se
a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e
quantidade.
Normalmente, a operação de mútuo de dinheiro realizada entre pessoas
jurídicas ou entre pessoa jurídica e seus sócios ocorre quando o empreendimento
necessita de recursos para o giro normal das operações, circunstância em que os
sócios normalmente optam por disponibilizar temporariamente recursos sob a forma
de empréstimos, sem modificar o Capital Social integralizado. Ou, quando os sócios
não podendo retirar lucros da sociedade e precisando de recursos financeiros optam
por tomarem emprestado dinheiro da sua própria empresa.
Instrumento importante nesta transação, o "Contrato de Mútuo" se faz
necessário para a contabilização dos fatos e para a produção de prova em eventuais
demandas fiscais e jurídicas.

2. Conceito
O atual Código Civil/2002 considera mútuo como sendo o empréstimo de coisas
fungíveis (dinheiro, por exemplo), no qual o mutuário obriga-se a restituir ao mutuante
o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade.
Neste tipo de empréstimo é transferido o domínio da coisa emprestada ao
mutuário, por cuja conta correm todos os riscos dela desde o momento exato em que
a coisa que foi contratada é transferida para o mutuário pelo mutuante. (Base Legal:
Arts. 586 e 587 do Código Civil/2002).
Importante registrar que quem empresta o dinheiro é tecnicamente denominado
de MUTUANTE e quem recebe o valor emprestado é denominado de MUTUÁRIO.
3. IRRF
De acordo com o RIR/2018, aprovado pelo Decreto nº 8.580/2018, os rendimentos
decorrentes de operações de mútuo de recursos financeiros entre pessoas jurídicas ou
entre pessoa jurídica e pessoa física são equiparados, para fins de incidência do
Imposto de Renda, a rendimentos de aplicações financeiras de renda fixa,
independente de a fonte pagadora ser instituição autorizada a funcionar pelo Bacen ou
não.
O Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) incidente sobre rendimentos auferidos
nas operações de mútuo em dinheiro é compensável com o imposto devido no
encerramento de cada período de apuração ou na data da extinção, no caso de pessoa
jurídica tributada com base no Lucro Real, Presumido ou Arbitrado. Dessa forma, a
empresa mutuante deverá registrar em conta do subgrupo de "Impostos a Recuperar"
(conta "IRRF a Recuperar"), no "Ativo Circulante (AC)", o imposto que foi retido pela
mutuaria.
A MUTUARIA, por sua vez, deve registrar o IRRF em conta do subgrupo de
"Impostos a Recolher" (conta "IRRF a Recolher"), no "Passivo Circulante (PC)", quando
do pagamento ou crédito do rendimento, pois o imposto retido caracteriza para ela
uma obrigação.
Se a empresa MUTUANTE for pessoa jurídica optante pelo Simples Nacional ou
isenta do Imposto de Renda, o imposto retido sobre os rendimentos auferidos em
operações de mútuo será considerado definitivo e, consequentemente, deverá ser
registrado como uma despesa operacional, no resultado do exercício.
Desde 01/01/2005, as alíquotas do IRRF dessas operações são, para os residentes ou
domiciliados no Brasil, observado o prazo de contratação da operação:

 22,50%, em operações com prazo de até 180 (cento e oitenta) dias ou


prazo indeterminado;
 20,00%, em operações com prazo de 181 (cento e oitenta e um) dias até
360 (trezentos e sessenta) dias;
 17,50%, em operações com prazo de 361 (trezentos e sessenta e um)
até 720 (setecentos e vinte) dias;
 15,00%, em operações com prazo acima de 720 (setecentos e vinte)
dias.
Para a pessoa física os rendimentos equiparam-se a operações de renda fixa.
Assim, tal tributação pelo IRRF é considerada como definitiva, desta forma os
rendimentos auferidos não integram a Base de Cálculo (BC) do Imposto de Renda na
Declaração de Ajuste Anual (DAA), porém devem ser informados na ficha
"Rendimentos Sujeitos à Tributação Exclusiva/Definitiva".

4. Cadastro e contabilizações
A MUTUANTE deve registrar o contrato de mútuo como um "Ativo Realizável" e a
MUTUARIA, por sua vez, deve contabilizá-lo como um "Passivo Exigível". Assim, a
mutuante e o mutuário devem observar os procedimentos tratados nos subcapítulos
que se seguem.

4.1. MUTUANTE (QUEM EMPRESTA O DINHEIRO)


Deve ser um contrato do tipo RECEBIMENTO.

O Imposto não será apropriado contabilmente no encerramento mensal nem


integrado diretamente com o financeiro.
O recebimento deverá criar uma parcela a receber com o valor total dos juros, e
atrelado a ela uma ocorrência bancária com o valor do IRRF apurado.
Cadastro de IR para contratos de recebimento:

A ocorrência de Imposto de Renda (IRRF) deve possuir uma ocorrência bancária


para que na geração da parcela a receber seja colocado uma ocorrência de desconto
na parcela com o valor do IRRF apurado.
Ocorrência bancária que por sua vez deve estar parametrizada para registrar o
fator contábil em uma conta do subgrupo de "Impostos a Recuperar" (conta "IRRF a
Recuperar"), no "Ativo Circulante (AC)".

O cadastro do contrato segue as rotinas normais de cadastro.


- Aba de Liberação: Informar a origem do dinheiro fruto do empréstimo concedido.
- Aba de Ocorrência: Cadastrar a ocorrência de amortização/regate de principal
bem como a ocorrência de juros a ser calculado, ambas com suas devidas formações
de periodicidade e fórmulas a serem executadas.
- Aba de Contabilização: Informar as contas de ativo circulante e não circulante
bem como o código do histórico e o histórico complementar que será usado para
segregação de saldo.
- Aba de Imposto: Informar o imposto que incidirá sobre o contrato e vincula-lo a
ocorrência de juros.
Contabilização
APROVAÇÃO:
Débito: Investimento (Ativo Circulante/Não Circulante)
Crédito: Banco
APROPRIAÇÃO DOS JUROS INCORRIDOS
Débito: Investimento (Ativo Circulante)
Crédito: Receita
PAGAMENTO AMORTIZAÇÃO
Débito: Banco
Crédito: Investimento (Ativo Circulante)
PAGAMENTO JUROS
Débito: Banco
Crédito: Investimento (Ativo Circulante)
*Débito: IRRF a Recuperar
*Crédito: Banco
Obs: (*) Contabilização proveniente da ocorrência bancária com o valor de IRRF apurado.

4.2. MUTUÁRIO (QUEM PEGA EMPRESTADO O DINHEIRO)


Deve ser um contrato do tipo Financiamento/Consórcio.
O Imposto não será apropriado contabilmente no encerramento mensal.
O pagamento deverá criar uma parcela a pagar com o valor total dos juros,
atrelado a uma ocorrência bancária com o valor do IRRF apurado, e uma parcela de
pagamento de imposto para o fornecedor da receita federal.
Cadastro de IR para contratos de pagamento:

A ocorrência de Imposto de Renda (IRRF) deve possuir uma ocorrência bancária


para que na geração da parcela a receber seja colocado uma ocorrência de desconto
na parcela com o valor do IRRF apurado.
Ocorrência bancária que por sua vez deve estar parametrizada para registrar o
fator contábil em uma conta subgrupo de "Impostos a Recolher" (conta "IRRF a
Recolher"), no "Passivo Circulante (PC)".
A ocorrência precisa também ter um encargo informado, de onde será obtido o
tipo de contas a pagar e o fornecedor que será gerado a parcela de imposto, além das
datas de pagamento.

Cadastro do encargo:
Por fim o pagamento do tipo de contas a pagar informado no cadastro do encargo
deve estar parametrizado para baixar a conta de "IRRF a Recolher", no "Passivo
Circulante (PC)".

O cadastro do contrato segue as rotinas normais de cadastro.


- Aba de Liberação: Informar a origem do dinheiro fruto do empréstimo concedido.
- Aba de Ocorrência: Cadastrar a ocorrência de amortização/regate de principal
bem como a ocorrência de juros a ser calculado, ambas com suas devidas formações
de periodicidade e fórmulas a serem executadas.
- Aba de Contabilização: Informar as contas de ativo circulante e não circulante
bem como o código do histórico e o histórico complementar que será usado para
segregação de saldo.
- Aba de Imposto: Informar o imposto que incidirá sobre o contrato e vincula-lo a
ocorrência de juros.
Contabilização
APROVAÇÃO
Débito: Banco
Crédito: Empréstimo a pagar (Passivo Circulante/Não Circulante)

APROPRIAÇÃO DOS JUROS INCORRIDOS


Débito: Despesa
Crédito: Empréstimo a pagar (Passivo Circulante)

PAGAMENTO AMORTIZAÇÃO
Débito: Empréstimo a pagar (Passivo Circulante)
Crédito: Banco

PAGAMENTO JUROS
Débito: Empréstimo a pagar (Passivo Circulante)
Crédito: Banco
*Débito: Banco
*Crédito: IRRF a Recolher (Passivo Circulante)

PAGAMENTO IRRF
Débito: IRRF a Recolher (Passivo Circulante)
Crédito: Banco
Obs: (*) Contabilização proveniente da ocorrência bancária com o valor de IRRF apurado.

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