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CG – 2.

ANÁLISE DO
DEMONSTRATIVO DE
RESULTADOS

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Sumário
2. Análise do demonstrativo de resultados ..........................................................................................2
DRE ....................................................................................................................................................6
Balanço Patrimonial (BP) ................................................................................................................10
Demonstração de fluxos de caixa ...................................................................................................11
Análise horizontal e análise vertical ...............................................................................................14
Análise Horizontal.......................................................................................................................14
Análise Vertical ...........................................................................................................................15
Referências bibliográficas ...................................................................................................................18

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2. Análise do demonstrativo de resultados

As demonstrações financeiras são compostas pela demonstração do resultado do exercício (DRE),


pelo balanço patrimonial (BP) e pela demonstração de fluxo de caixa (DF).
A DRE nos informa quanto dinheiro a empresa lucrou durante certo período. É função dos contadores
das empresas gerarem declarações de resultado para os acionistas a cada trimestre e ao fim do ano
fiscal. Com a análise da DRE, podemos chegar a parâmetros importantes para o processo de decisão,
como as margens das vendas, o seu retorno sobre o patrimônio e a (in)consistência dos lucros.
O BP, por sua vez, nos revela quanto dinheiro a empresa tem no banco, suas contas a receber, seus
estoques, suas propriedades, ou seja, tudo o que faz parte do que chamamos de ativos.
Adicionalmente, nos informa o quanto ela deve, também conhecido como passivo. Ao realizar a
diferença entre ativo e passivo, obtemos o patrimônio líquido da companhia, isto é, o valor que os
sócios possuem investido nela. Os balanços são gerados ao fim de cada trimestre e ao fim do ano
contábil ou fiscal.
A demonstração de fluxo de caixa, por sua vez, acompanha o dinheiro que entra e sai da empresa,
revelando o quanto de dinheiro a companhia está gastando em melhorias dos ativos fixos, por
exemplo. Também é possível, através da DF, monitorar as vendas e recompras de títulos e ações.

Antes de entrarmos de forma mais detalhada em cada uma das demonstrações, vejamos alguns
aspectos básicos da ciência contábil:

A Contabilidade, como sabido, contém milhares de regras, de acordo com o lançamento a ser
realizado. Entretanto, há cinco leis contábeis que devem ser enunciadas, a priori, que devemos ter
como referências para a ciência da contabilidade.

i. Lei da Entidade: o Balanço Social é da entidade, e nenhum acionista pode sobrepor-se às


Assembleias, Estatutos Sociais e Leis;
ii. Lei da Continuidade: assume-se a hipótese de que a empresa sobreviverá para sempre; por
isso, os valores embutidos inicialmente são sempre de custo. No entanto, o IFRS começa a
flexibilizar essa regra, “marcando a mercado” sobretudo ativos e passivos que não guardem
correlação com a atividade-fim da empresa;
iii. Lei da Realização da Receita e Despesa: o processo de venda (receita e despesa associada)
deve ser realizado inteiramente em determinado período. Tudo que estiver ligado à venda,
mesmo com pagamento posterior, deve ser registrado como receita no período
correspondente à venda (regime de competência). A contabilização do faturamento e

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despesas deve ser realizada totalmente no ano em que ocorreu de fato,
independentemente da forma de pagamento (à vista, parcelado, com carência etc.);
iv. Lei da Moeda Comum: os balanços devem ser expressos sempre na mesma unidade
monetária;
v. Lei da objetividade, Consistência e Materialidade: são três princípios resumidos em uma lei:
os balanços devem ser padronizados na mesma documentação e com critérios uniformes;
os fatos relatados devem ser materiais (com a importância devida); e qualquer fato não
“contabilizável” que possa influir na análise deve ser relatado em notas explicativas ao fim
do balanço.

Na análise contábil, existe, assim como em outras ciências, um método a ser seguido no que diz
respeito aos lançamentos e à leitura dos dados financeiros. Esse método, conhecido como método
das partidas dobradas, é aceito pela Contabilidade mundial, e assume que todo e qualquer registro
de operação de débito, de uma ou mais contas, deve corresponder a um crédito de valor equivalente
em uma ou mais rubricas. Dito de outra forma, a soma dos valores creditados e debitados ao fim de
um exercício contábil devem ser exatamente iguais.
Para exemplificar, considere um investidor que fundou sua companhia com R$1 milhão (disponível
no caixa). Algum tempo depois, ele tomou um empréstimo de R$500 mil do Banco ABX por 10 anos
(juros de 18% ao ano), dinheiro este que foi imediatamente aplicado em um investimento de um
ano, cuja rentabilidade chegou a 20% ao ano.

Operação 1
Operação 2
Debita - Caixa: 1 milhão
Credita - PL: 1 milhão Debita - Aplicações Financeiras:
500 mil
Credita - Empréstimos: 500 mil

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Ativo Passivo
Ativo Circulante Passivo Exigível de LP
Caixa: R$ 1 milhão Empréstimos: R$ 500 mil
Aplicação financeira: R$ 500 mil
Patrimônio Líquido
Capital: R$ 1 milhão
Total ativo: R$ 1,5 milhão Total do passivo + PL: R$ 1,5 milhão

Após essa rápida introdução ao método de partidas dobradas, vamos a importantes conceitos
compreendidos pela demonstração de resultados:

▪ Ativo circulante: todos os direitos a receber em até um ano de prazo – as principais contas
são: Disponível (dinheiro em caixa), Aplicações Financeiras, Contas a receber (financiamento
a consumidores) e Estoques;
▪ Ativo Realizável no longo prazo: todos os direitos a receber de um ano em diante: Aplicações
Financeiras e Contas a receber após 365 dias;
▪ Ativo permanente: tem como principais contas:
o Imobilizado: bens imóveis destinados à manutenção da atividade da companhia,
além do registro de marcas e patentes;
o Investimentos: participações em outros negócios e imóveis; não se destina à
manutenção do negócio da empresa;
o Ativos intangíveis: valores que são gastos agora, mas poderão ter, com algum grau
de previsibilidade, benefícios futuros. Por exemplo, dinheiro gasto por empresas de
petróleo na prospecção de novos poços. Normalmente há grande rigor nos
contadores para verificar a existência de possibilidades materiais de retorno. Caso
não se tenha essa segurança, a rubrica deve ser registrada como despesa. Um
exemplo comum são as despesas de pesquisa, desenvolvimento e marketing, que
dificilmente são classificadas como ativo diferido, e sim como despesa. Outro
exemplo clássico de Ativo Diferido ocorre quando uma empresa compra outra por
um valor acima do seu Patrimônio Líquido. A diferença entre o que foi pago e o que
estava contabilizado poderá ser usada no futuro de forma parcelada pelo
comprador em termos de benefício fiscal. É chamado de ágio, que deve ser
amortizado a cada período.
▪ Passivo Circulante: todas as obrigações a pagar com até um ano de prazo – principal conta:
Contas a pagar (pagamento a fornecedores oriundo de compras realizadas a prazo);

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▪ Passivo Exigível de longo prazo: todos os direitos a receber de um ano em diante:
Empréstimos e contas a pagar após 365 dias;
▪ Patrimônio líquido (PL): a principal rubrica é a conta “Capital”, na qual serão contabilizados
todos os novos aportes de capital da empresa. Todos os lucros ou prejuízos da empresa no
exercício alterarão o PL, tal como o novo Ajuste da Avaliação Patrimonial introduzido pelo
IFRS. Existem também as rubricas reservas de capital, reservas de reavaliação, reservas de
lucros e lucros acumulados.
▪ Receita Bruta (ou faturamento bruto): representa o total recebido pela empresa com a
venda de seus produtos. De forma simples, é o resultado da multiplicação do preço final da
mercadoria pela quantidade vendida; ressalte-se que o analista deve sempre estar atento
ao momento em que ocorreu o fato gerador, não importando quando a quantia será
recebida. Em outras palavras, se um comerciante vender R$1 milhão em mercadorias em
novembro/2012, mas só vai receber os recursos em fevereiro/2013 (venda a prazo sem
entrada), a quantia deverá ser contabilizada como faturamento bruto em 2012, com
contrapartida no Ativo Circulante – rubrica Contas a receber (Financiamento a
consumidores);
▪ Receita Líquida: Receita Bruta menos os impostos que incidem diretamente sobre a venda
de mercadorias ou prestação de serviços (ICMS, ISS, IPI etc.);
▪ Custo da Mercadoria Vendida (CMV): o custo de todos os insumos gastos diretamente no
processo produtivo;
▪ Lucro Bruto: Diferença entre Receita Líquida e Custo de Mercadoria Vendida (CMV); define,
de forma geral, o quanto a empresa gera de resultado apenas em seu processo produtivo
direto.
▪ Despesas operacionais: Todas as despesas necessárias para o funcionamento do negócio
(salários, aluguéis, luz, administrativas etc.) e que não estão diretamente ligadas à produção
(em outras palavras, não se encontram no CMV). A depreciação também é uma despesa
operacional, mas será analisada à parte;
o Depreciação: o conceito de depreciação dos imóveis, máquinas e equipamentos de
uma empresa encontrasse na raiz da Ciência Contábil; para cada unidade de receita,
um “pedacinho” da máquina ou do imóvel foi usado – em outras palavras, há uma
despesa associada. Portanto, se trata de uma despesa operacional como outra
qualquer. Na prática, representa um benefício contábil, que pode ser deduzido do
Imposto de Renda para que, em tese, ao longo do tempo, as empresas tenham
condições financeiras para reposição. Até a introdução do IFRS, existia uma regra
geral de depreciação para ser usada de acordo com o tipo de imobilizado;

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▪ Lucro operacional: Lucro Bruto menos Despesas Operacionais; define, de forma geral, o
quanto a empresa gera de resultado em termos operacionais (produção + pagamento de
todos os custos operacionais da companhia);
▪ Despesas e Receitas Financeiras: Despesas financeiras com empréstimos e receitas
financeiras com aplicações;
▪ Lucro antes do IR: Soma do lucro operacional ao saldo financeiro (receitas financeiras –
despesas financeiras);
▪ Lucro líquido: Lucro depois do pagamento de Imposto de Renda (também chamado pelos
analistas de bottom line (última linha) de uma empresa).

Com os principais conceitos elencados, podemos entrar na análise de demonstração dos resultados.

DRE

O Demonstrativo de Resultados do Exercício é um relatório que oferece uma síntese econômica


completa das atividades operacionais e não operacionais de uma empresa em um determinado
período, demonstrando se há lucro ou prejuízo. A DRE é um resumo da lucratividade da empresa ao
longo de um período (um ano, por exemplo). Apresenta as receitas geradas durante o período
operacional, as despesas incorridas durante esse mesmo período e as receitas ou lucros líquidos da
empresa, basicamente constituídos pela diferença entre receitas e despesas.
No que diz respeito às despesas, cabe destacar que existem, basicamente, quatro classes gerais:
custo das mercadorias vendidas (custo direto da fabricação o produto vendido pela empresa);
despesas gerais e administrativas (despesas indiretas, salários, propaganda e outros custos
operacionais da empresa que não são diretamente atribuíveis à produção); despesa de juros sobre a
dívida da empresa; e impostos sobre lucros.

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Como exemplo, tome a seguinte demonstração de resultados consolidada da varejista Magazine
Luíza (2018):

Tabela 1: Demonstração dos resultados Magazine Luiza 2018


Milhares de R$
Receita líquida de vendas 15.385.737

Custo das mercadorias revendidas e das


(10.941.965)
prestações de serviços

Lucro Bruto 4.443.772


Despesas operacionais (2.713.474)
Com vendas (557.944)
Gerais e administrativas (59.737)

Perdas com créditos de liquidação duvidosa (161.811)

Depreciação e amortização 61.841

Resultado de equivalência patrimonial 49.608

Outras receitas operacionais, líquidas (3.381.517)

Lucro operacional antes do resultado financeiro 1.062.255

Receitas financeiras 149.528


Despesas financeiras (426.546)
Resultado financeiro (277.018)

Lucro operacional antes do imposto de renda e da


785.237
contribuição social

Imposto de renda e contribuição social correntes


(187.808)
e diferidos

Lucro líquido do exercício 597.429

Perceba que na parte superior encontram-se as receitas operacionais da varejista. Logo após, você
obtém as despesas operacionais, além dos custos incorridos ao longo do período em que as
despesas foram geradas. A diferença entre a receita operacional e a despesa operacional nos dá o
lucro operacional. Os lucros ou despesas gerados por outras fontes, principalmente não

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recorrentes, são somados ou subtraídos para obter o lucro antes de juros e impostos, também
conhecido como Ebit (earnings before interest and taxes), que, basicamente, é o que a empresa
teria obtido se não fossem as obrigações com seus credores e com o fisco. O Ebit é uma medida da
lucratividade das operações da empresa em que se ignora qualquer carga de juros atribuível ao
financiamento da dívida. Logo, a demonstração de resultados subtrai a despesa de juros do Ebit
para encontrar o lucro tributável. Finalmente, o imposto de renda devido é subtraído para
encontrar o lucro líquido.

A receita total ou bruta trata do volume de produtos ou serviços vendidos pela empresa
durante o período em questão. O fato de a empresa ter uma receita alta não significa que
ela está tendo lucro. Como vimos, é preciso deduzir as despesas da receita total.

O custo dos bens vendidos representa o custo da compra de bens que a empresa está
revendendo ou o custo da matéria-prima e da mão de obra usadas na fabricação dos
produtos. Esse componente é essencial para determinar o lucro bruto da companhia.

Subtraindo da receita bruta o custo dos bens vendidos obtemos o lucro bruto, isto é, a
quantidade de dinheiro que a empresa ganhou com sua receita total após subtrair os custos
de matéria-prima e mão de obra usadas para produzir os bens. O lucro bruto pode nos
indicar um indicador importante na análise de empresas competitivas. Trata-se da margem
de lucro bruto, indicador obtido pela divisão entre lucro bruto e receita total. Uma margem
alta pode indicar uma vantagem competitiva para a empresa, o que pode lhe proporcionar
a liberdade de, por exemplo, estabelecer preço de seus produtos e serviços bem acima de
seus custos.

As despesas operacionais, como vimos, trata de todos os custos associados a despesas de


vendas e administrativas para a comercialização de produtos, pesquisa e desenvolvimento,
depreciação e amortização.

As despesas gerais, de vendas e administrativas dispensam apresentação. Nelas estão


inclusos os salários da gerência, os gastos com publicidade, com viagens, custos da folha de
pagamento etc. Uma empresa que visa competitividade deve buscar constância em um
baixo patamar dessa categoria.

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A depreciação é, basicamente, uma despesa alocada em contraposição ao rendimento do
mesmo período. Todas as máquinas, edifícios e automóveis sofrem desgaste ao longo do
tempo. Esse desgaste é representado justamente pela depreciação.

A despesa com juros consiste no lançamento dos juros pagos durante o período sobre a
dívida que a empresa apresenta no balanço patrimonial como passivo. Enquanto bancos
recebam mais juros que pagam, varejistas e empresas fabris pagam muito mais juros do
que recebem. Os juros são reflexos do endividamento total que a empresa apresenta em
seu balanço. Quanto maior o endividamento, maior a quantidade de juros a ser paga. Em
geral, empresas que pagam muitos juros em relação ao lucro operacional apresentado
tendem a ser de dois tipos: ou está em um setor altamente competitivo, no qual grandes
investimentos em ativos fixos são necessários para manter a competitividade; ou está com
condições econômicas excelentes que contraiu a dívida ao ser comprada em uma aquisição
alavancada.

O lucro antes dos impostos aponta o lucro de uma empresa após a dedução de todas as
despesas, mas antes da retirada dos impostos.

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Balanço Patrimonial (BP)

Vimos que a DRE oferece uma medida de lucratividade ao longo de um período. O Balanço
Patrimonial, por sua vez, oferece uma medida da situação financeira da empresa em um
determinado momento. O mesmo apresenta uma relação dos ativos e dos passivos da empresa no
momento X. A diferença entre ativos e passivos é o patrimônio líquido da empresa, também
mencionado anteriormente, e alternativamente chamado de patrimônio líquido dos acionistas. O
BP apresenta, em geral, uma padronização em sua apresentação. Vejamos:

Tabela 2: Balanço Patrimonial Magazine Luiza 2018


R$ R$
Ativos Passivos
Caixa e equivalentes de caixa 604.636 Fornecedores 4.105.766
Títulos e valores mobiliários e outros Empréstimos e financiamentos e outros passivos
665.241 454.087
ativos financeiros financeiros
Contas a receber 5.852.698 Depósitos interfinanceiros 1.931.922
Estoques 2.810.248 Operações com cartões de crédito 1.737.286
Investimentos 395.227 Provisões técnicas de seguros 233.837

Imobilizado e intangível 1.402.883 Provisão para riscos tributários, cíveis e trabalhistas 445.309

Outros 1.530.086 Receita diferida 447.157

Outras 1.257.117

10.612.481

Patrimônio líquido 2.648.538

13.261.019 13.261.019

A primeira parte do BP exibe uma lista dos ativos da empresa. Os ativos circulantes são
apresentados primeiro, constituídos pelo caixa disponível, contas a receber ou estoques. Em geral,
conforme destacado nos conceitos, em itens que serão convertidos em caixa no prazo de um ano.
Após isso, são listados os ativos de longo prazo ou “fixos”. Enquanto os ativos fixos tangíveis são
itens como edifícios, equipamentos ou veículos, os ativos fixos intangíveis são atribuídos a marcas,
patentes, franquias, dentre outros ativos de complexidade em sua estimação.
A soma dos ativos circulantes e dos ativos fixos é o total de ativos, relacionado na última linha da
seção de ativos do BP.
A seção de passivos e patrimônio líquido dos acionistas é organizada de modo similar.
Primeiramente são listados os passivos de curto prazo ou “circulantes”, como contas a pagar,
impostos provisionados e dívidas que vencerão em um ano. Em seguida, encontram-se a dívida de
longo prazo e outros passivos com prazo de vencimento superior a um ano. A diferença entre o

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total de ativos e o total de passivos é o patrimônio líquido dos acionistas que, como vimos, trata-
se do patrimônio líquido ou do valor contábil da empresa.
O patrimônio líquido foi apresentado, neste exemplo, sem maiores detalhamentos. Porém, o
mesmo é dividido em valor nominal das ações, capital integralizado adicional e lucros retidos. De
forma objetiva, o valor nominal mais o capital integralizado adicional representam os lucros
realizados com a venda das ações ao público, enquanto os lucros retidos representam o acúmulo
de patrimônio líquido obtido com o reinvestimento dos lucros na empresa. Ainda que a empresa
não emita novas ações, o valor contábil normalmente aumentará a cada ano em virtude dos lucros
reinvestidos.

Para avaliar a existência de competitividade durável de uma empresa, é preciso avaliar quanto
ela possui em ativos e quanto ela possui de dívidas. Salienta-se, porém, que o BP é uma fotografia
da data correspondente, sendo necessário, assim como dos demais fatores, um
acompanhamento periódico.

Alguns aspectos são relevantes na avaliação do BP. Vamos à eles:

 Ativo circulante: elencado no BP por ordem de liquidez, isto é, pela rapidez com que
podem ser transformados em dinheiro. Sua importância reside na sua disponibilidade
para ser transformado em dinheiro e gasto em casos de condições econômicas adversas;

 Ativo circulante: faz parte do ciclo do caixa que compra estoque. Esse estoque é vendido
a fornecedores e se torna contas a receber que, quando pagas, voltam a se tornar caixa.
Esse ciclo se repete continuamente.

Demonstração de fluxos de caixa

A DRE e o BP baseiam-se em métodos contábeis provisionais, o que significa que as receitas e as


despesas são reconhecidas no momento da venda, ainda que não se tenha recebido nenhum
dinheiro em troca. Em contraposição, a demonstração de fluxos de caixa acompanha as implicações
de caixa das transações. Ilustrativamente, se as mercadorias forem vendidas hoje, com pagamentos
em 60 dias, a DRE tratará a receita como se ela tivesse sido gerada no momento da venda e o BO

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será imediatamente aumentado pelas contas a receber. A demonstração dos fluxos de caixa, porém,
só mostrará um aumento no caixa disponível quando a fatura for efetivamente paga.
A tabela 3 apresenta a demonstração dos fluxos de caixa da Magazine Luiza. Tipicamente, ela é
dividida em três seções:

1. Primeiro, temos o fluxo de caixa de atividades operacionais, que se inicia com o lucro líquido
e soma o valor da depreciação e da amortização. Embora do ponto de vista contábil sejam
despesas reais, a depreciação e a amortização não consomem dinheiro, pois representam o
que já foi gasto anos antes.
2. Após isso, temos o fluxo de caixa de operações de investimento. Esse campo inclui um
lançamento para todas as despesas com ativos fixos feitas durante o período contábil. As
despesas com ativos fixos são sempre um número negativo porque representam gastos, o
que acarreta um esvaziamento do caixa.
3. Por último, temos a seção do fluxo de caixa de atividades de financiamento, que mensura o
fluxo de entrada e saída de dinheiro de uma empresa gerado por operações financeiras.
Nele estão incluídas todas as saídas de dinheiro para o pagamento de dividendos. Também
estão incluídas a venda e a compra de ações da companhia (quando vende ações para
financiar uma nova fábrica, há entrada de dinheiro; quando recompra as próprias ações, há
saída de dinheiro). O mesmo acontece com os títulos. Esses três lançamentos são somados
para gerar o Caixa total das atividades de financiamento.

A maioria das empresas usa o chamado de Regime de Competência Contábil, ao contrário do Regime
de Caixa. Com a primeira modalidade, as receitas são lançadas quando os bens saem porta afora,
mesmo que o comprador leve anos para pagá-los. Já no Regime de Caixa, as vendas só são registradas
quando há entrada de dinheiro. Como quase todas as companhias oferecem algum tipo de crédito
para seus compradores, a utilização do Regime de Competência é considerada mais vantajosa, pois
permite que elas lancem as vendas a crédito como receita na DRE.
Visto que o Regime de Competência Contábil permite que vendas a crédito sejam lançadas como
receita, tornou-se necessário para as empresas monitorar separadamente o dinheiro que realmente
entra e sai do seu caixa. Com esse propósito, os contadores criaram a demonstração de fluxo de
caixa.
Percebemos que a demonstração de fluxos de caixa fornece evidências importantes sobre o bem-
estar de uma companhia. Se esta não conseguir pagar seus dividendos e manter a produtividade de
suas ações representativas de capital fora do fluxo de caixa operacional, por exemplo, e tiver de
recorrer a empréstimos para atender a essas necessidades, isso é um sinal de que a longo prazo ela
não conseguirá manter o nível atual de pagamento de dividendos. A demonstração de fluxos de caixa

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revelará a evolução desse problema quando mostrar que o fluxo de caixa operacional não é
adequado e que estão sendo utilizados empréstimos para manter o pagamento de dividendos em
níveis insustentáveis.

Tabela 3: Demonstração de fluxo de caixa Magazine Luiza 2018


Fluxo de caixa das atividades operacionais
Lucro líquido do exercício 597.429
Ajustes para conciliar o lucro líquido do exercício ao caixa gerado pelas atividades operacionais:
Imposto de renda e contribuição social reconhecidos no resultado 189.434
Depreciação e amortização 163.690
Juros sobre empréstimos e financiamentos provisionados 49.714
Rendimento de títulos e valores mobiliários -18.299
Equivalência patrimonial -57.757
Movimentação da provisão para perdas em ativos 130.550
Provisão para riscos tributários, cíveis e trabalhistas 95.113
Resultado na venda de ativo imobilizado 88
Apropriação da receita diferida -76.947
Despesas com plano de opção de ações 17.673
Lucro líquido do exercício ajustado 1.090.688

(Aumento) redução nos ativos operacionais:


Contas a receber -925.580
Títulos e valores mobiliários e outros ativos financeiros 867.149
Estoques -882.998
Contas a receber de partes relacionadas -92.707
Tributos a recuperar -85.919
Outros ativos 2.962
Variação nos ativos operacionais -1.117.093

Aumento (redução) nos passivos operacionais:


Fornecedores 1.185.107
Salários, férias e encargos sociais 19.946
Tributos a recolher 22.420
Contas a pagar a partes relacionadas 32.543
Outras contas a pagar 71.778
Variação nos passivos operacionais 1.331.794
Imposto na renda e contribuição social pagos -100.589
Recebimento de dividendos 31.364
Fluxo de caixa gerado pelas atividades operacionais 1.236.164

Fluxo de caixa das atividades de investimento


Aquisição de imobilizado -285.072
Aquisição de ativo intangível -79.334
Recebimento de venda de imobilizado 0
Aumento de capital em controlada -30.000
Investimento em controlada 294
Fluxo de caixa aplicado nas atividades de investimento -394.112

Fluxo de caixa das atividades de financiamento


Captação de empréstimos e financiamentos 0
Pagamento de empréstimos e financiamentos -412.590

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Pagamento de juros sobre empréstimos e financiamentos -53.157
Pagamento de dividendos -114.273
Alienação (aquisição) de ações em tesouraria -75.652
Recursos provenientes da emissão de ações 0
Pagamento de gastos com emissão de ações, líquido de tributos 0
Fluxo de caixa aplicado nas atividades de financiamento -655.672

Aumento (redução) do saldo de caixa e equivalentes de caixa 186.380

Caixa e equivalentes de caixa no início do exercício 412.707


Caixa e equivalentes de caixa no fim do exercício 599.087
Aumento (redução) do saldo de caixa e equivalentes de caixa 186.380

Análise horizontal e análise vertical

Análise Horizontal

A Análise Horizontal (AH) avalia a evolução dos elementos do Balanço Patrimonial, da Demonstração
de Resultados do Exercício e do Demonstrativo de Fluxo de Caixa durante um período. O principal
objetivo dessa metodologia é analisar se os valores das Demonstrações Financeiras cresceram ou
diminuíram em comparação com as informações passadas. Ou seja, ela permite verificar tanto a
situação patrimonial da empresa (analisada pelo Balanço) quanto seu desempenho (analisado pelo
DRE ou DFC) ao longo do tempo. Essa análise é chamada de horizontal, pois baseia-se na evolução
dos saldos das contas ao longo dos anos.
A análise horizontal é utilizada quando existe a necessidade de se comparar as taxas de crescimento
de uma empresa em relação aos seus concorrentes e ao setor, avaliando como ocorreu a evolução
dos mais variados itens das demonstrações financeiras em intervalos de tempo. O cálculo é simples
e, como trata-se de uma comparação, o ano mais antigo será considerado o ano base e todos os seus
valores serão equivalentes a 100. Os valores dos anos subsequentes serão um percentual desse valor
base. A formulação é dada por:
𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑎𝑡𝑢𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑖𝑡𝑒𝑚
𝐴𝐻 = [( ) – 1] × 100
𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑖𝑡𝑒𝑚 𝑛𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑏𝑎𝑠𝑒

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Exemplo 1:
Tabela 4: Análise Horizontal DRE Magazine Luiza (Fundamentus)
31/12/2018 31/03/2019 Var. 03.19/12.18 30/06/2019 Var. 06.19/03.19
Receita Bruta de Vendas e/ou Serviços 0 0 0
Deduções da Receita Bruta 0 0 0
Receita Líquida de Vendas e/ou Serviços 4.610.529 4.328.984 -6,11% 4.308.102 -0,48%
Custo de Bens e/ou Serviços Vendidos -3.314.354 -3.117.565 -5,94% -3.215.868 3,15%
Resultado Bruto 1.296.175 1.211.419 -6,54% 1.092.234 -9,84%
Despesas Com Vendas -774.984 -692.977 -10,58% -726.195 4,79%
Despesas Gerais e Administrativas -222.421 -240.214 8,00% -251.677 4,77%
Perdas pela Não Recuperabilidade de Ativos -16.649 -12.422 -25,39% -13.178 6,09%
Outras Receitas Operacionais 15.680 25.537 62,86% 184.398 622,08%
Outras Despesas Operacionais 0 0 0
Resultado da Equivalência Patrimonial 14.660 90 -99,39% -2.500 -2877,78%
Financeiras -90.693 -98.934 9,09% 255.990 -358,75%
Receitas Financeiras 35.762 38.022 6,32% 479.665 1161,55%
Despesas Financeiras -126.455 -136.956 8,30% -223.675 63,32%
Resultado Não Operacional 0 0 0
Receitas 0 0 0
Despesas 0 0 0
Resultado Antes Tributação/Participações 221.768 192.499 -13,20% 539.072 180,04%
Provisão para IR e Contribuição Social 0 0 0
IR Diferido 0 0 0
Participações/Contribuições Estatutárias 0 0 0
Reversão dos Juros sobre Capital Próprio 0 0 0
Part. de Acionistas Não Controladores 0 0 0
Lucro/Prejuízo do Período 189.644 132.104 -30,34% 386.626 192,67%

Pela AH conseguimos identificar que, em Receita líquida de vendas, do último trimestre de 2018 ao
primeiro de 2019 houve uma queda de 6,11%; do segundo trimestre de 2019, frente ao primeiro, a
queda foi de 0,48%. Quanto ao lucro do período, enquanto no 1º/2019, frente ao 4º/2018 a
companhia apresentou um desempenho 30,34% inferior, no 2º/2019, frente ao 1º/2019, o resultado
cresceu 192,67%. Tal comparação pode ser aplicada a qualquer linha dentro do DRE ou de qualquer
outra Demonstração Financeira, basta fazer a comparação entre resultados de um mesmo indicador
em relação a períodos anteriores.

Análise Vertical

A Análise Vertical (AV), conhecida também como Análise de Estrutura, ocorre de cima para baixo ou
de baixo para cima, indicando resultados em efeito cascata, sendo utilizado para identificar a
porcentagem de participação de determinado indicador nos resultados.
Ao contrário da Análise Horizontal, são analisadas as colunas das demonstrações. O objetivo da AV
é medir percentualmente cada componente em relação ao todo do qual faz parte, permitindo que

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sejam feitas comparações caso existam dois ou mais períodos. Aqui, sabemos o quanto cada conta é
importante em relação à demonstração financeira a que pertence. Ao comparar percentuais da
própria empresa em anos anteriores, conseguimos inferir se há itens fora das proporções normais.
A principal vantagem deste tipo de análise é a fácil comparação de balanços, demonstrações de
resultados e outros relatórios financeiros de empresas dos mais variados portes. É uma ferramenta
utilizada também para visualizar as mudanças anuais relativas dentro de uma organização.
Na AV, cada item de linha de uma demonstração financeira é analisado como uma representação da
porcentagem do foco principal da declaração:

− Na DRE, cada item de linha pode ser representativo das vendas brutas, ou vendas
líquidas, a depender da empresa;
− No BP, cada item de linha pode ser representativo do total de ativos;
− Na demonstração de fluxo de caixa, cada item pode ser expresso como uma
porcentagem do total de caixa e equivalentes de caixa da empresa.

A AV permite que a demonstração financeira de uma empresa seja representada dentro de um


processo padrão em todas as indústrias. Além disso, permite uma comparação fácil com períodos
anteriores para a análise da linha de tempo, incluindo o trimestre anual e a análise do trimestre
sequencial, e a análise de períodos mais longos, como cinco ou três anos.
Este tipo de análise facilita a avaliação da estrutura das demonstrações financeiras e a
representatividade de cada conta em relação ao total do Ativo e Passivo, bem como a participação
de cada conta do Demonstrativo de Resultado na formação do lucro ou prejuízo do período
analisado.
A metodologia de cálculo da Análise Vertical é simples e consiste em calcular o percentual de cada
conta em relação a um valor base. Na AV de um Balanço calcula-se o valor percentual de cada conta
em relação ao total do Ativo. A fórmula da Análise Vertical é:

𝐶𝑜𝑛𝑡𝑎 (𝑜𝑢 𝑔𝑟𝑢𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠)


𝐴𝑉 = 𝑥 100
𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 (𝑜𝑢 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙)

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Exemplo:
31/12/2018 31/03/2019 31/03/2019 AV 30/06/2019 31/06/2019 AV
Receita Líquida de Vendas e/ou Serviços 4.610.529 4.328.984 100,00% 4.308.102 100,00%
Custo de Bens e/ou Serviços Vendidos -3.314.354 -3.117.565 72,02% -3.215.868 74,65%
Resultado Bruto 1.296.175 1.211.419 27,98% 1.092.234 25,35%
Despesas Com Vendas -774.984 -692.977 16,01% -726.195 16,86%
Despesas Gerais e Administrativas -222.421 -240.214 5,55% -251.677 5,84%
Perdas pela Não Recuperabilidade de Ativos -16.649 -12.422 0,29% -13.178 0,31%
Outras Receitas Operacionais 15.680 25.537 0,59% 184.398 4,28%
Outras Despesas Operacionais 0 0 0
Resultado da Equivalência Patrimonial 14.660 90 0,00% -2.500 0,06%
Financeiras -90.693 -98.934 2,29% 255.990 -5,94%
Receitas Financeiras 35.762 38.022 0,88% 479.665 11,13%
Despesas Financeiras -126.455 -136.956 3,16% -223.675 5,19%
Resultado Não Operacional 0 0 0,00% 0 0,00%
Receitas 0 0 0,00% 0 0,00%
Despesas 0 0 0,00% 0 0,00%
Resultado Antes Tributação/Participações 221.768 192.499 4,45% 539.072 12,51%
Provisão para IR e Contribuição Social 0 0 0,00% 0 0,00%
IR Diferido 0 0 0,00% 0 0,00%
Participações/Contribuições Estatutárias 0 0 0,00% 0 0,00%
Reversão dos Juros sobre Capital Próprio 0 0 0,00% 0 0,00%
Part. de Acionistas Não Controladores 0 0 0,00% 0 0,00%
Lucro/Prejuízo do Período 189.644 132.104 3,05% 386.626 8,97%

Iniciando com a receita de vendas ocorrem todas as deduções referentes a impostos, custos de
produção e outras despesas. Na última linha encontra-se o valor restante: caso positivo, significa que
a empresa ganhou mais do que gastou e, portanto, está dando lucro.
Nesse caso, a receita líquida de vendas é o nosso total (representando 100%). Logo, os R$692.977,00
de despesas com vendas representam 16,01% do total das receitas.
Nessa análise fica mais fácil identificar quais são as contas que estão consumindo todas as receitas
obtidas e assim, aplicar ações para melhorá-las. É possível também realizar a AV do Fluxo de Caixa
para comparar contas do período estipulado. Nesse caso, a análise será muito útil em verificar onde
o volume de receitas ou despesas está mais concentrado.

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Referências bibliográficas

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Bruni, Famá. Gestão de Custos e Formação de Preços (2014);
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Debastiani, Carlos Alberto. Russo, Felipe Augusto. Avaliando empresas, investindo em ações: a
aplicação prática da análise fundamentalista na avaliação de empresas (2018);
Ehrhardt,Michael C.Brigham,Eugene F.. Administração Financeira (2012);
Marion, José Carlos. Contabilidade Empresarial (2015);
Ross, S. A.; Westerfield, R. W.; Jaffe, J. F, Administração Financeira (2012);
Vieira, Marcos Villela. Administração Estratégica do Capital de Giro (2014).

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