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Pós-Graduação em Gestão de PME

Finanças Empresariais

Gestão das Fontes de Financiamento

© Artur Morgado
I. Gestão das necessidades de fundo de maneio

II. Fontes de financiamento de curto prazo

III. Fontes de financiamento de médio/longo prazo


I. Gestão das necessidades de fundo de maneio

 Gestão dos stocks (inventários)

 Gestão do crédito concedido a clientes

 Gestão do crédito obtido de fornecedores


Gestão de stocks
• Objetivo: reduzir o custo da sua posse, para o qual é necessário
ponderar:
– Custos com o financiamento da sua posse
versus
– Custos de rutura (e.g., interrupção da produção for falta de
matérias-primas ou não realização de vendas por inexistência
mercadorias/produtos acabados).

• Exemplos de fatores que condicionam a gestão de stocks: tipo de


atividade desenvolvida, proximidade com os fornecedores/
clientes, capacidade de planeamento, coordenação entre os
departamentos de aprovisionamento e de produção e entre os
de aprovisionamento/produção e o comercial.
Gestão do crédito concedido a clientes

• Objetivo: implementar uma política de crédito que permita


maximizar o “valor da empresa”.

• É necessário ponderar:
– Custos com o financiamento da sua posse
versus
– Eventual efeito financeiro negativo resultante de uma diminuição
das vendas por via da exigência de PMR mais curtos
(contrabalançado, eventualmente, pela menor atração de clientes
de mais elevado risco de crédito).
• Política de descontos financeiros (“descontos de pp”
concedidos):

 Aplicar descontos de pp (e.g., 5% sobre o valor da fatura se paga a


pronto, 3% se paga até 30 dias e 1% se paga até 60 dias) => uma
diminuição da margem de lucro das vendas;

 Em contrapartida, aplicar descontos de pp => um menor PMR,


donde menores NFM, donde eventuais menores encargos
financeiros com o financiamento das NFM;

 A política de descontos de pp deverá confrontar aqueles dois


efeitos financeiros de sentido contrário, eventualmente ainda
ponderados por efeitos no volume de vendas e no risco de crédito
da carteira de clientes.
Gestão do crédito obtido de fornecedores
• Objetivo: implementar uma política de crédito que permita
maximizar o “valor da empresa”.

• É necessário ponderar:
– Efeito financeiro positivo resultante de uma eventual diminuição
dos encargos financeiros associados ao financiamento das NFM por
via de um alargamento do PMP;
– Efeito financeiro negativo de eventual não aproveitamento de
descontos de pp concedidos pelos fornecedores.

• Deve-se evitar situações de atrasos (incumprimento dos prazos


negociados) pelos efeitos que tal pode vir a provocar (aplicação
de condições menos vantajosas em compras posteriores, no
limite a recusa de novos fornecimentos).
• Devemos, ou não, aproveitar os eventuais descontos de pp
concedidos pelos fornecedores?

 A lógica de decisão é análoga à da definição da política de


descontos de pp concedidos aos clientes;

 Aproveitar os descontos de pp => um menor PMP, donde maiores


NFM, donde eventuais maiores encargos financeiros com o
financiamento das NFM;

 Em contrapartida, aproveitar os descontos de pp => adquirir os


fornecimentos a um custo mais baixo, com o consequente aumento
da margem de lucro com que trabalha.
II. Fontes de financiamento de curto prazo

 Empréstimos bancários de curto prazo tradicionais


 Crédito em conta corrente
 Descobertos bancários
 Desconto bancário de letras
 Factoring
 Confirming
Empréstimos bancários de cp tradicionais
• Crédito, com montante integralmente colocado na conta de DO
da empresa no início do prazo, com um plano de amortização
de capital pré-definido e, normalmente, titulado por uma ou
mais livranças (de acordo com o plano de amortização).

• Prazo, plano/forma de amortização e taxa: definidos à cabeça.

• Quando titulado por livranças, o crédito pode ser obtido através


do seu desconto, caso em que é possível solicitar a reforma das
mesmas.

• Encargos:
– Juros
– Comissão de abertura de crédito e despesas diversas
– Imposto de selo sobre os juros e a comissão de abertura
• Muitas vezes é exigida a prestação de uma garantia acessória
por parte dos sócios (o seu aval, quando o empréstimo é
titulado, ou, quando não titulado, que se constituam como
fiadores).*

* O aval é uma garantia pessoal que é dada por uma 3ª pessoa (avalista) a
quem concede o crédito. Nos créditos bancários titulados, esta garantia é
representada pela assinatura do avalista no verso do documento que titula a
dívida. O avalista tem uma responsabilidade solidária, isto é, perante o
incumprimento do devedor, pode ser de imediato acionado pelo credor.
A fiança é também uma garantia pessoal que é dada por uma 3ª pessoa
(fiador) a quem concede o crédito. Distingue-se, porém, do aval pelas
seguintes caraterísticas: 1) aplica-se aos contratos em geral (e não apenas
aos títulos de crédito); 2) exige a elaboração de um documento escrito; 3) é
feita obrigatoriamente pela totalidade da dívida; 4) em condições normais,
isto é, se no documento constar que o fiador “não prescinde do benefício de
excussão prévia”, a responsabilidade do fiador é apenas subsidiária (1º é
acionado o devedor e só depois, esgotadas que estejam todas as
possibilidades de este honrar a dívida, o fiador).
Crédito em conta corrente

• Disponibilização de um limite de crédito por um determinado


período (normalmente renovável) para utilização de acordo com
as necessidades da empresa, não existindo qualquer plano de
amortização pré-estabelecido.

• Formalização através de um contrato de abertura de crédito que


estabelece todas as condições.

• Vantagens:
– Flexibilidade de utilização e amortização dos fundos (melhor
adequação a necessidades irregulares de fundos);
– Juros sobre o valor e período correspondentes à utilização
efetuada.
• Montante, prazos e garantias: definidas caso a caso.

• Encargos:
– Juros (contados ao dia e debitados periodicamente);
– Comissão de abertura;
– Comissão de imobilização ou de não utilização;
– Imposto de selo sobre juros e comissões;
– Imposto de selo mensal sobre o montante médio utilizado
(MMU).

• As movimentações a débito (utilizações) e a crédito


(amortizações) da conta corrente (a crédito e a débito na
contabilidade do Banco) são efetuadas por transferência para e
da conta de DO.
Descoberto bancário
• Disponibilização de um limite de crédito (plafond) que
possibilita a movimentação a crédito (débito na contabilidade
do Banco) de valores superiores ao saldo disponível existente na
conta DO em determinado momento.

• Funciona da mesma forma que os créditos em conta corrente,


com as seguintes diferenças:
– Não exige a abertura de uma conta paralela à conta de DO. Os
movimentos de crédito e amortização são efetuados a partir da
própria conta de DO;
– Não é cobrada uma comissão de não utilização. Porém, em
contrapartida, é cobrada uma comissão de gestão.
Desconto bancário de letras
• Forma de crédito bancário que se consubstancia na
antecipação, para a data de apresentação da letra a desconto,
de créditos com vencimento posterior, titulados por uma letra
de câmbio. Implica, previamente, que a letra seja sacada e
aceite.

• Na data de vencimento da letra, caso o aceitante não a liquide


ou solicite previamente a sua reforma, o banco onde a letra foi
descontada debita de imediato o sacador pelo valor (nominal)
da letra.

• Encargos (todos pagos à cabeça):


– Juros (calculados através do desconto por fora);
– Comissão de cobrança e despesas diversas;
– Imposto de selo sobre os juros e a comissão.
Factoring
• Consiste na cedência a uma sociedade de factoring de faturação
da empresa sobre os clientes para que aquela proceda à
respetiva gestão e cobrança.

• Quando o contrato de factoring, além de envolver a prestação


do serviço anterior, também prevê a possibilidade de parte do
valor das faturas cedidas ser adiantada, estamos perante uma
fonte de financiamento alternativa.

• Embora constitua uma situação muito pouco comum, o contrato


de factoring pode ainda também prever que a sociedade de
factoring assume o risco de crédito dos clientes (contrato de
factoring “sem recurso” ou “sem direito de regresso”).
• Encargos (de um contrato que inclui apenas os serviços de
gestão e cobrança das faturas e o seu desconto):
– Juros (postecipados ou antecipados, incidindo a taxa de juro sobre
o valor adiantado das faturas cedidas);
– Comissão de gestão e cobrança (percentagem que incide sobre o
valor das faturas cedidas);
– Imposto de selo (sobre os juros, comissão de gestão e cobrança e
montante médio de crédito utilizado).
Confirming
• Consiste, em primeiro lugar, num serviço de gestão dos
pagamentos aos fornecedores, em que o Banco se encarrega ele
próprio de efetuar os pagamentos devidos nas datas acordadas.

• Forma de funcionamento:
– Periodicamente, a empresa envia para o Banco, em layout próprio,
uma remessa de ordens de pagamento relativa a faturas de
fornecedores, com a informação necessária para o seu
processamento (pagamento);
– O Banco notifica cada um dos fornecedores, informando-os que
será ele, por conta da empresa cliente, a proceder ao pagamento
das faturas na respetiva data de vencimento.
• Contudo, ao mesmo tempo que o Banco informa os
fornecedores que será ele a proceder ao pagamento, oferece-se
para o fazer antecipadamente, antes da data do respetivo
vencimento.

• Se o fornecedor aceitar a proposta do Banco, estamos perante


uma operação de crédito relativamente similar ao factoring.

• Neste caso, o desconto das faturas é sempre feito “sem recurso”


e, normalmente, pela totalidade do valor da fatura.
III. Fontes de financiamento de médio e longo prazo
 Via capital próprio
 Constituição e aumentos do capital social
 Prestações suplementares de capital
 Autofinanciamento

 Via capital alheio


 Suprimentos dos sócios
 Empréstimos bancários de médio e longo prazo
 Leasing financeiro

 Via capital próprio e/ou alheio


 Financiamento colaborativo (crowdfunding)
Constituição e aumentos do capital social

• Deverá constituir uma importante fonte de financiamento das


empresas. É a componente do Capital Próprio que tem maiores
restrições legais em termos da sua “devolução” aos sócios e, por
isso, a que apresenta uma maior garantia para os credores.

• Os aumentos de capital, para além de também poderem ser


realizados através de entradas em dinheiro ou em espécie,
podem ainda ser realizados através de:
– Conversão de créditos (sobre a empresa) em capital;
– Incorporação de reservas.

• No último caso não estamos perante um financiamento à


empresa, nem direto (entradas em dinheiro), nem indireto
(entradas em espécie ou conversão de créditos).
• Muitas vezes, sobretudo na fase de arranque/desenvolvimento
inicial da empresa, os promotores/sócios, frequentemente
ainda muito jovens, não têm grandes possibilidades de colmatar
todas as necessidades de financiamento do negócio.

• Por outro lado, dada a ausência de histórico de reputação da


empresa e dos promotores, bem como, frequentemente, o
elevado risco do tipo de negócio desenvolvido e a natureza
intangível (não colaterizável) dos principais ativos económicos, o
financiamento através de endividamento encontra-se muito
limitado.
• É neste âmbito que pode intervir o denominado “capital de
risco”, que se materializa num aumento do capital social por
entradas em dinheiro, mas com caraterísticas muito especiais:

 A participação no capital social da empresa por parte dos novos


sócios (investidores de capital de risco individuais – business angels
– ou institucionais – sociedades de capital de risco), pretende-se
apenas temporária, em geral por um período que não ultrapasse 5
a 10 anos;
 Normalmente, a participação é apenas minoritária (os sócios
originais mantêm o poder de controlo sobre a sociedade);
 Além de aportarem os fundos, disponibilizam também a sua
experiência ao nível de gestão e os seus contactos e parcerias
privilegiadas;
 O seu objetivo é o de que a empresa venha a atingir elevados
níveis de rentabilidade que lhes permitam mais tarde vender as
suas participações com importantes mais-valias.
• Tipicamente, o financiamento via capital de risco envolve as
seguintes fases:

 1ª Fase: análise da operação


• Apresentação do Plano de Negócios (PN) pelos promotores;
• Análise interna da viabilidade e interesse na operação;
• Decisão de aprovação ou rejeição de passagem à 2ª fase.

 2ª Fase: concretização da operação


• Negociação do valor de entrada;
• Regulamentação das relações societárias e discussão da forma de saída
(celebração do acordo parassocial);
• Subscrição e realização da participação.

 3ª Fase: saída
• Venda da participação (aos promotores ou a novos sócios, eventualmente
através de um IPO).
Prestações suplementares de capital

• Devem estar previstas no contrato da sociedade (pacto


social), mas a obrigação de as efetuar depende sempre de
deliberação posterior dos sócios.

• Só podem ser realizadas em dinheiro.

• Podem ser restituídas aos sócios, se assim o deliberarem, mas


na condição de que, após a restituição: CP ≥ CS + Reserva
Legal.

• Ao contrário dos aumentos de capital social, não implicam


uma alteração ao contrato da sociedade com as respetivas
despesas legais associadas.
Autofinanciamento
• Conceito (autofinanciamento líquido ou MLLR):
 Financiamento gerado pela atividade global da empresa num
dado período e que nela ficou retido.

• Expressão de cálculo (versão simplificada/corrente):


 MLLR do período = RL + D&A – RL a distribuir

• Nos primeiros anos de atividade é natural que uma empresa


não consiga gerar grandes excedentes financeiros (MLLT).
Porém, quando comece a entrar na fase de maturidade, se
sistematicamente tiver MLLT negativos ou positivos mas
insuficientes o seu futuro poderá estar em causa.
Suprimentos
• Conceito: empréstimos, em dinheiro ou outra coisa fungível,
ou diferimento de crédito, de sócios à empresa, por um prazo
superior a 1 ano.

• A 2ª modalidade do contrato de suprimento – diferimento de


crédito de um sócio sobre a empresa – pode resultar de
convenção expressa ou de mero não exercício tácito do seu
direito (e.g., um sócio-gerente cujos salários são processados
mas não pagos há mais de 1 ano).

• Não necessitam de estar previstos no contrato da sociedade.

• A gerência, por maioria simples, tem a capacidade de poder


celebrar contratos de suprimentos, a não ser que o contrato
de sociedade exija expressamente uma deliberação da AG
para o efeito.
• Podem ser remunerados (vencer juros), mas para tal terá que
haver uma estipulação expressa em contrato de suprimento.

• Aquando da constituição da sociedade, os sócios podem logo


acordar, no contrato de sociedade, uma obrigação de efetuar
suprimentos, sendo que apenas ficam obrigados os sócios
concordantes. Nesse caso, o contrato de sociedade deverá
estipular:
 O montante a que cada sócio fica obrigado ou o limite máximo
geral de suprimentos exigíveis;
 O seu caráter oneroso ou gratuito.

• Os suprimentos só podem ser restituídos aos sócios depois de


satisfeitas todas as dívidas sociais da sociedade, i. e., em caso
de insolvência, os credores não sócios não sofrem a
concorrência dos credores de suprimentos.
• Outras disposições legais que pretendem salvaguardar os
interesses dos credores não sócios:
 Os suprimentos reembolsados no ano anterior ao da declaração
de insolvência são resolúveis;
 Os credores por suprimentos não podem requerer, por esses
créditos, a insolvência da sociedade;
 As garantias reais prestadas pela sociedade a obrigações de
suprimentos são nulas;
 A compensação de obrigações de suprimentos com créditos da
sociedade é proibida.
Empréstimos bancários de médio e longo prazo
• Contrato de mútuo entre uma empresa e uma instituição de
crédito no qual são definidas todas as condições do
empréstimo, nomeadamente:
 Montante;
 Prazo;
 Taxa de juro;
 Comissão de abertura de crédito;
 Forma de reembolso do capital e de pagamento dos juros;
 Eventual período de carência de capital ou de capital e juros;
 Garantias acessórias exigidas.
Locação financeira
• Conceito: contrato em que uma empresa de leasing (o
locador) cede à outra parte (o locatário), mediante o
pagamento de uma renda, a utilização temporária de um
bem, mandado adquirir pelo cliente, e que este poderá
comprar no final do período do contrato por um valor
residual.
• Termos da renda:
 Amortização + juro vencido;
 Podem ser antecipados ou postecipados, constantes ou
variáveis.
• Apesar da propriedade do bem ser do locador até ao eventual
exercício da opção de compra, as despesas de seguro e de
manutenção são normalmente debitadas ao locatário.
• Principal vantagem desta forma de financiamento face aos
empréstimos bancários tradicionais de médio e longo prazo:
possibilidade de financiamento de 100% do valor do bem que
se pretende adquirir/utilizar.
• Principal desvantagem: a taxa de custo efetivo é mais elevada
já que, normalmente, os termos da renda são antecipados.
Crowdfunding (financiamento colaborativo)

• O regime jurídico do financiamento colaborativo encontra-se


primeiramente definido na Lei n.º 102/2015, de 24 de agosto,
com as alterações introduzidas pela Lei n.º 3/2018, de 9 de
fevereiro.

• Complementarmente, o Regulamento da CMVM n.º 1/2016


desenvolve alguns aspetos particulares do regime jurídico do
financiamento colaborativo de capital ou por empréstimo
(RJFCCE), designadamente quanto ao acesso à referida
atividade e ao procedimento de registo das entidades gestoras
de plataformas eletrónicas de crowdfunding.
• De acordo com a referida legislação, o crowdfunding é o tipo
de financiamento que é obtido através de um registo em
plataformas eletrónicas acessíveis através da Internet, a partir
das quais se procede à angariação de parcelas de fundos
provenientes de um ou vários investidores individuais.

• Podem recorrer às plataformas de financiamento colaborativo


pessoas singulares ou coletivas, nacionais ou estrangeiras,
interessadas na angariação de fundos para as suas atividades
ou projetos.
• Modalidades de financiamento colaborativo previstas:

1. Financiamento através de donativos, com ou sem a entrega de


uma contrapartida não pecuniária;

2. Financiamento com recompensa, ficando a entidade financiada


obrigada a entregar aos financiadores o produto ou serviço a
desenvolver;

3. Financiamento de capital, ficando a entidade financiada de


remunerar as respetivas participações no capital social através
da distribuição de dividendos ou partilha de lucros;

4. Financiamento por empréstimo, ficando a entidade financiada


de reembolsar o capital emprestado e remunerar esse capital
através do pagamento de juros.

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