Você está na página 1de 30

Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

Informação a prestar na vigência do contrato de crédito


Enquadramento

Temos vindo a analisar a forma como as instituições de crédito têm de atuar na concessão
de crédito aos consumidores e verificámos o processo relativo aos contratos de crédito para
imóveis de habitação.

Ainda que o momento em que se formaliza a operação de crédito seja um dos mais
relevantes, não terminam aí os direitos e deveres dos mutuantes e dos seus clientes. Aliás,
esse momento regista o início de uma relação contratual, normalmente longa e que supõe
diversas interações entre as partes, no decurso do crédito.

Com efeito, o cliente bancário pode resgatar antecipadamente planos de poupança-


-reforma/educação para pagar prestações de contratos de crédito garantidos por hipoteca
sobre imóvel que constitua a habitação própria e permanente do respetivo participante1.
Sugerimos que consulte a legislação aplicável 2.

A par dos direitos e dos deveres do consumidor durante o contrato 3, as instituições de


crédito também possuem direitos e deveres.

Um dos deveres das instituições financeiras é a prestação de informação na vigência do


contrato de crédito, nomeadamente:

• Extrato – Informação regular sobre a evolução do crédito e dos respetivos encargos;


• Alteração da taxa de juro – Nos casos de contratos a taxa variável ou mista;

1
Para tal será necessária uma declaração da entidade mutuante que ateste os montantes das prestações para
cujo pagamento é afeto o valor de reembolso do plano de poupança, que inclua os elementos estabelecidos no
Anexo à Portaria n.º 1453/2002, de 11 de novembro. Só podem ser resgatadas antecipadamente sem perda de
benefícios fiscais, caso existam, as entregas feitas há, pelo menos, cinco anos.
2
Portaria n.º 1453/2002, do Banco de Portugal.
3
No âmbito do dever de cumprimento do contrato, o cliente bancário deve:
• Pagar pontualmente as prestações e comissões acordadas;
• Utilizar os fundos para a finalidade acordada no contrato;
• Comunicar à instituição de crédito eventuais dificuldades em pagar os empréstimos contratados, para
que esta entidade possa promover medidas que evitem o incumprimento.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

1 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


• Informação adicional – Quando já está contratualmente previsto que a instituição
financeira pode modificar por sua iniciativa as condições contratuais com reflexo no
valor da prestação ou no montante a pagar;
• Prestação de informação complementar – Sempre que ocorram situações que não
estavam contratualmente previstas.

Analisemos cada um destes deveres com mais detalhe.

Que informação deve constar no extrato?

Extrato

O extrato é um elemento de informação e interação entre o cliente bancário e o mutuante,


ao longo da vida do crédito.

O Banco de Portugal implementou em 2014, para os contratos de crédito ao consumidor 4,


um quadro regulamentar com a informação a disponibilizar sob a forma de extrato5.

Em 2017, com a divulgação de novas regras para os contratos de crédito garantidos por
hipoteca ou por outro direito sobre coisa imóvel 6, o Banco de Portugal7 estende a este tipo
de crédito os deveres de informação a prestar ao cliente bancário através de extrato.

4
Aplicável aos:
a) Contratos de crédito ao consumo celebrados ao abrigo do disposto no Decreto-Lei n.º 359/91, de 21 de
setembro, alterado pelos Decretos-Leis n.º 101/2000, de 2 de junho e 82/2006, de 3 de maio, com
exceção dos contratos de crédito sob a forma de facilidade de descoberto;
b) Contratos de crédito aos consumidores abrangidos pelo disposto no Decreto-Lei n.º 133/2009, de 2 de
junho, alterado pelos Decretos-Leis n.º 72-A/2010, de 18 de junho e 42-A/2013, de 28 de março, com
exceção das ultrapassagens de crédito e dos contratos de crédito sob a forma de facilidade de
descoberto.
5
Aviso do Banco de Portugal n.º 10/2014.
6
Artigo 22.º do Decreto-Lei n.º 74-A/2017, de 23 de junho.
7
Através do Aviso n.º 5/2017.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

2 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Extrato aplicável aos contratos de crédito à habitação e a outros contratos de crédito
hipotecário

Entre outros elementos, os extratos devem conter 8:

• Data do extrato;
• Identificação atribuída pelo mutuante ao contrato de crédito;
• Montante do capital vincendo à data de emissão do extrato;
• Número, data de vencimento e montante (com desagregação das respetivas
componentes de capital e juro) da prestação subsequente à data de emissão do
extrato;
• TAN aplicável à prestação subsequente, com identificação das suas componentes;
• Identificação e montante de eventuais comissões e despesas a pagar pelo consumidor
na data de vencimento da prestação subsequente à data de emissão do extrato.

Consulte, nos documentos Anexos, todos os elementos que devem integrar o extrato e o
exemplo de um extrato.

Analise agora esta situação:

Um cliente, com um crédito para aquisição de habitação própria permanente em regime de


taxa mista, tem contratada uma taxa fixa para os primeiros 5 anos e liquida prestações
mensais.

Um colaborador que valida os pedidos a enviar à Informática para execução, recebe de um


dos balcões da entidade financeira um pedido, assinado pelo cliente, para que seja suspenso
o envio de extrato (ainda que tenha aderido à correspondência digital). No motivo do pedido
vem mencionado o facto de o cliente durante 5 anos ter a mesma prestação, pelo que não
necessita do extrato.

Como deveria o colaborador tratar este caso?

O colaborador deveria contactar o gestor informando que, embora o extrato pudesse deixar
de ser enviado mensalmente, não o podia suspender, mas somente passá-lo para uma
periodicidade anual.

8
No caso dos contratos de crédito hipotecário sob a forma de facilidade de descoberto, cartão de crédito, linha
de crédito ou conta corrente bancária existem diferenças entre os elementos a indicar.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

3 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Ou seja, o extrato relativo aos contratos de mútuo com hipoteca deverá ser enviado com
uma periodicidade equivalente à fixada no contrato de crédito para o pagamento de
prestações, neste caso, mensal. No entanto, por solicitação do cliente poderá passar a ser
enviada apenas informação anualmente, considerando-se esta a periodicidade mínima.

Considere agora a seguinte situação:

Um cliente contratou um crédito sob a forma de facilidade de descoberto com garantia


hipotecária. Em janeiro realizou um movimento de utilização da linha contratada e voltou a
realizar uma nova utilização em maio.

A instituição financeira enviou-lhe apenas extratos em janeiro e em maio.

Esta periodicidade de envio parece-lhe correta?

Nos casos de créditos concedidos sob a forma de facilidade de descoberto, cartão de crédito,
linha de crédito ou conta corrente bancária, a informação deve ser prestada, pelo menos,
com periodicidade mensal, exceto quando, no mês em causa não tenha sido utilizado crédito
disponível ao abrigo do contrato de crédito, ou não haja montantes a pagar em
cumprimento desse contrato de crédito, devendo, em todo o caso, observar-se uma
periodicidade mínima anual.

A decisão da instituição financeira enviar extratos em janeiro e maio está correta, embora
pudesse ter optado pelo envio mensal. Em qualquer caso, independentemente dos
movimentos efetuados ao longo do ano, teria sempre de enviar um extrato anual.

O caso particular dos empréstimos contratados em moeda estrangeira

Nos casos em que o consumidor contratar um empréstimo em moeda estrangeira e não


optar por qualquer instrumento financeiro para limitação do risco cambial, o mutuante
também tem deveres de informação a cumprir na vigência deste contrato.

Então, o que deve a instituição bancária fazer nesta situação?

Nestes casos, o mutuante deve alertar o titular do empréstimo em moeda estrangeira de


forma periódica, através de documento em papel ou noutro suporte duradouro, pelo menos
quando a variação do montante total em dívida ou do montante das prestações exceda em

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

4 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


mais de 20% a variação que resultaria da aplicação da taxa de câmbio entre a moeda do
contrato de crédito e a moeda nacional no momento da celebração do contrato de crédito.

O mutuante deve também informar o consumidor do aumento total em dívida bem como
explicar qualquer outro mecanismo aplicável que lhe permita limitar o risco cambial a que
está exposto.

E se existir alguma alteração à taxa de juro?

Alteração da Taxa de Juro

Sempre que esteja estabelecida a possibilidade de alteração da taxa de juro, em especial


quando estejam em causa modalidades de taxa variável ou taxa mista, o consumidor deverá
ser informado de quaisquer alterações da TAN (Taxa Anual Nominal), em papel ou noutro
suporte duradouro, antes da produção de efeitos dessas alterações.

A informação deve incluir o montante dos pagamentos a efetuar após a entrada em


vigor da nova TAN e, se o número ou a frequência dos pagamentos forem alterados, os
detalhes das alterações.

Então e como se processa o aviso ao cliente dessas alterações?

No caso dos contratos de crédito à habitação e outros contratos de crédito hipotecário, os


mutuantes devem prestar as informações relativas à alteração da taxa de juro do contrato
através de extrato, identificando a:

TAN aplicável à prestação subsequente, com identificação das suas componentes.

Repare que:

A informação deve ser comunicada ao cliente com uma antecedência mínima de 15 dias
relativamente à data de vencimento da prestação subsequente à alteração.

Se o envio do extrato não cumprir este critério terá de ser enviado documento autónomo.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

5 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


A informação deve conter, pelo menos, os seguintes elementos:

• Número, data de vencimento e montante da prestação subsequente a essa alteração;


e
• TAN aplicável à prestação subsequente, com identificação das suas componentes.

Existem outros casos em que também tem que ser prestada informação.

Informação Adicional

Uma determinada instituição financeira pretende alterar o valor de uma comissão.

O que terá de fazer?

Quando, nos termos do contrato de crédito, seja conferido ao mutuante o direito de


modificar por sua iniciativa as condições contratuais com reflexo no valor da prestação ou
do montante a pagar, deve comunicar ao consumidor o teor dessas alterações através de:

→ Extrato

ou

→ Documento Autónomo

Quando é que tem de ser enviada a comunicação desta alteração?

A informação deve ser prestada, pelo menos, com uma antecedência mínima de 30 dias
relativamente à data pretendida para a aplicação das alterações a que se refere essa
informação, sem prejuízo de outros prazos legal ou regulamentarmente fixados.

Prestação de Informação Complementar

Ao longo do prazo do empréstimo podem existir situações imprevistas que conduzem ao


aparecimento de deveres de informação complementar.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

6 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Assim, o mutuante deve prestar, através de extrato ou em documento autónomo,
informação específica nas seguintes condições:

Reembolso antecipado do contrato de crédito


por parte do consumidor

Nesta situação, terá que ser disponibilizada informação sobre:


• Os montantes entregues tendo em vista o reembolso antecipado, parcial ou total, do
contrato de crédito;
• O montante pago a título de comissão de reembolso antecipado e eventuais despesas,
quando aplicável;
• A data dos pagamentos efetuados pelo consumidor nos termos das alíneas anteriores; e
• O capital vincendo após o reembolso, no caso de reembolso antecipado parcial.

Incumprimento de obrigações contratuais por


parte do consumidor (*)

Neste caso, deve ser indicada:


• A identificação atribuída pelo mutuante ao contrato de crédito;
• A data de vencimento das obrigações em mora e a duração do incumprimento, em
número de dias, à data de emissão
do extrato ou do documento autónomo;
• O montante total em incumprimento à data de emissão do extrato ou do documento
autónomo, com descrição detalhada dos montantes relativos a capital vencido e não
pago, juros remuneratórios, comissões e despesas e respetivas datas de vencimento;
• A identificação da taxa, da base de incidência do montante devido a título de juros
moratórios e do montante de juros de mora calculado à data da emissão do extrato;
• Os elementos de contato do mutuante que o consumidor deve utilizar para obter
informações adicionais e para negociar eventuais alternativas para a regularização da
situação de incumprimento; e
• A existência da rede de apoio ao consumidor endividado e a menção de que as
informações sobre a rede podem ser consultadas no Portal do Consumidor, disponível em
www.consumidor.pt.

(*)
Nos casos em que o incumprimento de obrigações contratuais pelo consumidor esteja abrangido pelo
Procedimento Extrajudicial de Regularização de Situações de Incumprimento (PERSI), a prestação desta
informação aplica-se apenas após a extinção do PERSI.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

7 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Regularização de situações de incumprimento
por parte do consumidor

A informação a prestar terá de incluir:


• A identificação atribuída pelo mutuante ao contrato de crédito;
• As quantias entregues no âmbito da regularização de montantes em mora;
• A data de entrega dessas quantias;
• A imputação das quantias ao pagamento da dívida; e
• No caso de regularização parcial, o montante em dívida após essa regularização.

Periodicidade de envio desta informação:

Sempre que a informação complementar não seja prestada conjuntamente com o extrato, a
mesma deve ser disponibilizada ao consumidor em documento autónomo no prazo de 15
dias após a ocorrência de qualquer uma destas situações.

Cumprimento dos deveres de informação

As instituições financeiras podem prestar a Compete às entidades financeiras a prova:


informação em suporte papel ou noutro suporte
duradouro, a não ser que o consumidor solicite Da disponibilização ao consumidor da informação
expressamente a prestação de informação em legalmente exigida e do cumprimento dos prazos
suporte de papel. estabelecidos.

Envio do extrato
Comunicação da alteração da taxa de juro
Prestação de informação adicional
Prestação de informação complementar

Na prestação desta informação, as instituições de Em caso de incumprimento destes deveres, as


crédito devem utilizar os termos e expressões infrações são puníveis com coima de 3 000 euros
utilizados no Aviso do Banco de Portugal n.º a 1 500 000 euros e de 1 000 euros a 500 000
5/2017, respeitando as definições constantes do euros, consoante seja aplicada à entidade
respetivo Anexo. financeira ou ao colaborador.

Sugerimos que a este respeito consulte o Aviso do Banco de Portugal n.º 5/2017.
CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

8 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


E quando se aplicam estes deveres de informação?

Os deveres de informação a prestar durante a vigência dos contratos de crédito, aplicam-


-se:

→ Aos contratos de crédito celebrados após 1 de janeiro de 2018;

e,

→ Aos contratos de crédito celebrados antes de 1 de janeiro de 2018 aplica-se:

• A informação a prestar durante a vigência do contrato de crédito;


• A informação sobre a alteração da taxa de juro durante a vigência do contrato de
crédito;
• A informação adicional a prestar durante a vigência do contrato;
• A prestação de informação complementar;
• A periodicidade e prazos aplicáveis à prestação de informação; e
• O cumprimento dos deveres de informação.

Ideias-chave
• O momento em que se formaliza a operação de crédito regista o início de uma relação
contratual, normalmente longa e que supõe diversas interações entre as partes, no decurso
do crédito.
• Tanto os clientes bancários como as instituições financeiras têm direitos e deveres.
Efetivamente, no âmbito do dever de cumprimento do contrato, o cliente bancário deve:
• Pagar pontualmente as prestações e comissões acordadas;
• Utilizar os fundos para a finalidade acordada no contrato;
• Comunicar à instituição de crédito eventuais dificuldades em pagar os
empréstimos contratados, para que esta entidade possa promover medidas
que evitem o incumprimento.
• Um dos deveres das instituições financeiras é a prestação de informação durante a
vigência do contrato de financiamento, nomeadamente:
• Informação regular sobre a evolução do crédito e dos respetivos encargos,
através de extrato ou documento autónomo;
• Sempre que exista alteração da taxa de juro, nos casos de contratos a taxa
variável ou mista;
• Quando já está contratualmente previsto que a instituição financeira pode
modificar, por sua iniciativa, as condições contratuais com reflexo no valor da

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

9 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


prestação ou no montante a pagar, tem que ser prestada informação
adicional;
• Se ocorrerem situações que não estavam contratualmente previstas,
concretamente, se existir reembolso antecipado, incumprimento de
obrigações por parte do cliente ou regularização do incumprimento do
contrato de crédito, terá que ser prestada a respetiva informação
complementar.

Direito de Livre Revogação e Contrato de Crédito Coligado

Direito de Livre Revogação

Considere a seguinte situação:

Um cliente que há uma semana contratou um crédito pessoal, contacta telefonicamente a


comunicar que pretende desistir do crédito.

Assiste-lhe ou não o direito de cancelar este contrato?


A comunicação telefónica do cliente é suficiente?

A Lei permite de facto ao consumidor desistir do contrato de crédito:

É o designado direito de livre revogação.

Vejamos os casos em que se aplica e como poderá ser exercido o direito de livre revogação.

O direito de livre revogação aplica-se aos contratos de crédito a consumidores.

O consumidor dispõe de um prazo de 14 dias de calendário para exercer o direito de


revogação do contrato de crédito, sem necessidade de indicar qualquer motivo9.

O prazo para o exercício do direito de livre revogação começa a contar a partir da data:

• Da celebração do contrato de crédito; ou

9
Decreto-Lei n.º 133/2009, de 2 de junho.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

10 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


• De receção, pelo consumidor, do exemplar do contrato e das informações nele
contidas, se essa data for posterior.

Para que a revogação do contrato produza efeitos, o consumidor deve enviar uma
declaração, em papel ou noutro suporte duradouro, dirigida ao credor, no prazo referido.

Assim, o cliente pode dar a instrução para revogar o crédito que havia formalizado na
semana anterior (dado estar dentro do prazo legal dos 14 dias), mas o telefonema que fez é
insuficiente.
O cliente terá de enviar à instituição financeira uma declaração com o pedido de revogação
para que a sua ordem possa ser executada.

Impactos da livre revogação

Que consequências terá, para o cliente, esta revogação?

Exercido o direito de livre revogação, o consumidor deve pagar ao credor o capital e os


juros vencidos a contar da data de utilização do crédito até à data de pagamento do capital,
sem atrasos indevidos, em prazo não superior a 30 dias após a expedição da comunicação.

Para os efeitos acima referidos, os juros são calculados com base na taxa nominal
estipulada, nada mais sendo devido, com exceção da indemnização por eventuais
despesas não reembolsáveis pagas pelo credor a qualquer entidade da Administração
Pública.

Analise agora a seguinte situação.

Detalhe do crédito que um cliente contratou:

• Montante: 5 000€ • Prestações mensais de capital e juros

• Prazo: 60 meses • Finalidade: crédito pessoal sem finalidade

• TAN: 10% • Data de formalização e de acesso aos fundos: 31 de


maio

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

11 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


O cliente enviou a declaração para exercer o direito de livre revogação no dia 7 de junho e
pagou o valor devido à instituição de crédito em 30 de junho.

Questão 1: Os prazos para entrega da declaração e pagamento ao banco estão dentro dos
previstos no direito de livre revogação?

R: Sim. A declaração foi entregue dentro dos 14 dias de calendário previstos na Lei e a
devolução dos fundos ao banco ocorreu dentro do prazo que o cliente possui para tal; ou
seja, até 30 dias após a expedição da comunicação.

Questão 2: Qual o valor que o cliente tem de entregar ao mutuante: 5 000€, 5.041,67€ ou
5 054,16€?

R. 5.041,67€. O cliente terá de entregar ao mutuante o capital e os juros vencidos a contar


da data da utilização do crédito até à data de pagamento do capital, nada mais sendo devido
ao mutuante.

Ou seja:

O cliente utilizou os 5 000 € pelo período de 30 dias.

5 000€ X 10% X 30 / 360 = 41,67€

Contrato de Crédito Coligado

Caracterização

Considere o caso de um cliente que solicitou um crédito pessoal para aquisição de um veículo
motorizado.

Para tal, está expressamente previsto no contrato que a finalidade do crédito concedido se
destinou a esse fim e ficou igualmente identificado no contrato o veículo financiado.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

12 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Nesta situação o contrato de crédito ao consumidor surge coligado a outro contrato10.

O contrato de crédito está coligado a um contrato de compra e venda ou a um contrato de


prestação de serviços quando:

• Serve exclusivamente para financiar o pagamento do bem ou serviço em causa; e


• Ambos constituem objetivamente uma unidade económica.

Estes contratos constituem uma unidade económica.

Porquê?

Existe uma unidade económica:

• Se o crédito ao consumidor for financiado pelo fornecedor ou pelo prestador de


serviços; ou,
• Se o credor recorrer ao fornecedor ou ao prestador de serviços para preparar ou
celebrar o contrato de crédito, no caso de financiamento por terceiro; ou,
• Se o bem ou o serviço específico estiverem expressamente previstos no contrato de
crédito.

Direitos dos consumidores

Suponha que este veículo motorizado não chegou a ser entregue pelo vendedor ou foi
entregue em condições diferentes das que tinham sido acordadas e o comprador/mutuário
contactou a entidade financeira para saber como proceder nesta situação.

O que deverá dizer a este cliente?

Caso exista incumprimento ou cumprimento defeituoso do contrato de compra e venda ou


de prestação de serviços coligado com o contrato de crédito:

1. Deve, em primeiro lugar, interpelar o vendedor;

2. Caso não tenha obtido deste a satisfação do seu direito ao exato cumprimento do
contrato, pode interpelar a instituição de crédito para exercer qualquer uma das
seguintes pretensões:

10
Artigo 18. º do Decreto-Lei n.º 133/2009, de 2 de junho.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

13 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


→ Recusar o cumprimento da sua obrigação,
enquanto o fornecedor não cumprir a
obrigação decorrente do contrato de
compra e venda ou de prestação de
serviços;

→ Solicitar a redução do montante do crédito Nestes casos, o consumidor não


em montante igual ao da redução do preço está obrigado a pagar à instituição
de crédito o montante
do bem ou do serviço em causa; ou
correspondente àquele que foi
→ Proceder à resolução do contrato de crédito. recebido pelo vendedor.

O que aconteceria se o contrato de compra e venda fosse revogado ou, por qualquer motivo,
fosse inválido?

Invalidade ou a revogação do Invalidade ou ineficácia do


contrato de compra e venda DETERMINA contrato de crédito coligado

E se, por qualquer motivo, fosse o contrato de crédito a ser inválido ou ineficaz?

Invalidade ou a revogação do Invalidade ou ineficácia do


contrato de compra e venda DETERMINA contrato de crédito coligado

Note que:

Se o credor ou um terceiro prestarem um serviço acessório conexo 11 com o contrato de


crédito, o consumidor deixa de estar vinculado ao contrato acessório se revogar o contrato
de crédito ou se este se extinguir com outro fundamento.

11
Por exemplo, no financiamento para a aquisição de um automóvel, a contratação de um seguro.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

14 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Ideias-chave

• O direito de livre revogação aplica-se aos contratos de crédito a consumidores.


• O consumidor dispõe de um prazo de 14 dias de calendário para exercer o direito de
revogação do contrato de crédito, sem necessidade de indicar qualquer motivo.
• Para que a revogação do contrato produza efeitos, o consumidor deve enviar uma
declaração, em papel ou noutro suporte duradouro, dirigida ao credor.
• Exercido o direito de livre revogação, o consumidor deve pagar ao credor o capital e os
juros vencidos a contar da data de utilização do crédito até à data de pagamento do capital,
sem atrasos indevidos, em prazo não superior a 30 dias após a expedição da comunicação.
• O contrato de crédito está coligado a um contrato de compra e venda ou a um contrato
de prestação de serviços quando:
- Serve exclusivamente para financiar o pagamento do bem ou serviço em causa; e
- Ambos constituem objetivamente uma unidade económica.
• A invalidade ou a revogação do contrato de compra e venda determina a invalidade ou
ineficácia do contrato de crédito coligado e vice-versa.

Reembolso Antecipado, Renegociação e Regime da Mora

Reembolso Antecipado

Durante a vigência dos contratos de créditos podem surgir diversas ocorrências na vida
financeira dos clientes com repercussão nos créditos que tenham em vigor.

Que direitos assistem aos clientes, caso obtenham liquidez que lhes permita amortizar
capital do crédito contratado?

Podem ser realizados reembolsos antecipados no crédito hipotecário? E no crédito aos


consumidores?

Esses reembolsos só podem ser parciais ou também podem ser da totalidade da dívida? E
podem ser realizados em qualquer momento?

Existem algumas penalizações para os clientes que o pretendam fazer?

São as respostas a estas questões que vamos ver em seguida.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

15 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Caracterização e modalidades

No decurso de um crédito, através do pagamento das prestações, em regra o cliente


amortiza capital e liquida juros sobre o montante em dívida.

Imagine a seguinte situação:

Na sequência de partilhas, um cliente recebeu dinheiro e questiona sobre a possibilidade de


utilizar esse montante para abater a dívida à instituição de crédito, como poderá fazê-lo e
qual a vantagem, caso opte por tomar essa decisão.

O que deveria ser respondido a este cliente?

Assiste aos consumidores o direito de fazer uma


entrega extraordinária e antecipada de capital, ou
seja, de realizar um reembolso antecipado:

PARCIAL TOTAL

O reembolso antecipado parcial resultará, em O reembolso antecipado total determina


regra, numa redução do valor das prestações a extinção da dívida, com a emissão do
mensais, uma vez que diminuiu o valor do correspondente cancelamento da hipoteca
capital em dívida do empréstimo. (sobre o imóvel ou sobre um automóvel, por
exemplo), pelo que o cliente deixa de ter
este encargo mensal e passa a ter o bem livre
de ónus. Esta declaração, vulgarmente
designada distrate de hipoteca deverá ser
emitida no prazo máximo de 14 dias úteis a
contar da data de extinção do contrato e não
pode ser cobrada qualquer comissão.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

16 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Regime aplicável ao crédito hipotecário

Se o cliente pretender amortizar antecipadamente o crédito hipotecário, o que terá de


fazer?

Caso se trata de um reembolso parcial:

• Pode fazê-lo em qualquer momento da vigência do contrato, desde que essa


amortização seja coincidente com a data de pagamento da prestação;

• Tem de solicitar a realização do reembolso ao mutuante, com um pré-aviso mínimo


de 7 dias úteis.

Se pretender fazer o reembolso total:

• Pode fazê-lo em qualquer momento da vigência do contrato, sendo pagos os juros


remuneratórios até à data da amortização total;

• Tem de solicitar a realização do reembolso ao mutuante, com um pré-aviso mínimo


de 10 dias úteis.

Que consequências tem, para o consumidor, o reembolso antecipado, total ou parcial, do


crédito?

Consideremos em primeiro lugar, o caso dos créditos com garantia hipotecária12.

Rececionado o pedido, a instituição de crédito deve, sem demora, em papel ou noutro


suporte duradouro, prestar ao cliente as informações relativas ao impacto do reembolso do
crédito para o consumidor, descrevendo os pressupostos utilizados.

Repare que:

12
Ao abrigo do artigo 23.º do Decreto-Lei n.º 74-A/ 2017, de 23 de junho

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

17 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Só pode existir penalização para o cliente se a mesma estiver contratualmente prevista,
podendo também ser convencionado entre as partes a redução ou mesmo isenção do
pagamento desta penalização.

Em regra, está prevista a cobrança de comissão de amortização antecipada cujo valor


consta do contrato e, dependendo do regime de crédito à habitação e do regime de taxa de
juro em vigor, será, no máximo, de:

Caso a amortização ocorra no decurso de um


0,5% a aplicar sobre o capital reembolsado
período de regime de taxa variável.
Caso a amortização ocorra no decurso de um
2% a aplicar sobre o capital reembolsado
período de taxa de juro fixa.
Caso a amortização ocorra em contrato de
1% a aplicar sobre o capital reembolsado
crédito à habitação nos regimes bonificados.

Quando está em causa a facilidade de descoberto com garantia hipotecária, o mutuante


não pode exigir o pagamento de qualquer comissão por efeito de reembolso antecipado do
crédito concedido.

Imagine que um determinado cliente ficou desempregado e, tendo recebido um valor de


indemnização pela cessação do contrato de trabalho, pretende fazer o reembolso antecipado
deste crédito, estando prevista contratualmente uma comissão de 2% para esta situação.

A instituição de crédito poderá cobrar os 2% sobre o valor do capital a amortizar?

Não, pois em caso de reembolso antecipado por motivos de morte, desemprego13 ou


deslocação profissional14 não podem ser aplicadas comissões de reembolso antecipado.

13
Considera-se em situação de desemprego quem, tendo sido trabalhador por conta de outrem ou por conta
própria, se encontre inscrito como tal em centro de emprego há mais de três meses; constitui prova da
situação de desemprego a exibição de declaração do Instituto do Emprego e Formação Profissional.

14
Considera-se deslocação profissional a mudança do local de trabalho do consumidor ou de outro membro do
agregado familiar, à exceção dos descendentes, para um local cuja distância do imóvel seja superior a 50 Km
em linha reta, e que implique a mudança de habitação permanente do agregado familiar; a prova da
deslocação profissional faz-se mediante a exibição do respetivo contrato de trabalho ou de declaração do
empregador.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

18 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Poderão ser cobrados ao cliente quaisquer outras despesas ou encargos?

Adicionalmente à comissão de reembolso antecipado, só poderá ser cobrado ao cliente


algum encargo ou despesa que seja exigível perante terceiros, como é o caso de pagamentos
a Conservatórias e Cartórios Notariais, ou que tenham natureza fiscal.

Assim, mediante justificação documental das respetivas despesas, o mutuante pode


repercutir nos consumidores os custos incorridos neste âmbito.

Considere as seguintes situações:

1. Um cliente, residente em Évora, possui um contrato de crédito que foi realizado para
construção de habitação própria permanente, contratado há 3 anos, com taxa fixa durante 5
anos e valor atual em dívida de 85 000€.

Decidiu ir morar para Leiria e como tal vai vender esta habitação.

Qual a penalização que lhe irá ser cobrada?


A comissão de reembolso antecipado será de 425,00€; 1 700,00€ ou 212,50€?

R: 1 700,00€. Neste caso, o mutuante irá aplicar uma comissão de 2% sobre o capital
reembolsado, no caso de a amortização ocorrer no decurso de um período de taxa de juro
fixa. Ou seja: 85 000€ X 2% = 1 700€

2. Considere agora que o que motiva a venda do imóvel é a mudança de local de trabalho
proposta pela entidade empregadora, como forma de progredir na carreira.

Neste caso, haverá lugar a penalização?

R: Não. Neste caso, o cliente está isento de qualquer penalização, uma vez que o reembolso
antecipado total do crédito é motivado por deslocação profissional para uma distância entre
as 2 cidades superior a 50 Km em linha reta. Para justificar tal situação, o cliente bancário
terá de entregar uma declaração da entidade empregadora comprovativa da mudança a
ocorrer.

3. No dia 2 de maio foi recebido na entidade financeira um pedido de reembolso antecipado


de um contrato de crédito ao consumo para ser executado no dia 8 de maio.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

19 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


O pedido feito pelo cliente tem de ser aceite pelo mutuante?

R: Não tem de ser aceite, uma vez que não cumpre o prazo de pré-aviso estipulado na Lei.
Neste caso, o cliente deverá efetuar o pedido de reembolso antecipado com um pré-aviso
mínimo de 30 dias.

Que regras se aplicam no caso de o cliente decidir fazer o reembolso antecipado com vista
à transferência do crédito para outra entidade financeira?

Após o pedido de transferência do empréstimo, o credor deve facultar, no prazo de 10 dias


úteis, ao novo mutuante, todas as informações e elementos necessários à realização da
operação de transferência, designadamente, o:

• Valor do capital em dívida; e


• Período de tempo de empréstimo já decorrido.

Note que:

O reembolso antecipado total realizado com este objetivo não prejudica a validade dos
contratos de seguro, implicando apenas a necessária alteração do beneficiário dos contratos
de seguro para o novo mutuante.

Esta condição prevalece sobre qualquer outra que agrave a posição do segurado ou do
consumidor em função da transferência de crédito e sobre qualquer cláusula em sentido
contrário.

Neste caso, aplicam-se as mesmas regras relativas à cobrança da comissão de


reembolso antecipado bem como as despesas ou encargos, suportadas pelos
mutuantes, que lhes sejam exigíveis por terceiros.

Regime aplicável no crédito aos consumidores

Vejamos agora que condições se aplicam para o reembolso, parcial ou total, no caso de
crédito aos consumidores.

O consumidor deve notificar a instituição com um aviso prévio de, pelo menos, 30 dias de
calendário, por carta ou suporte duradouro.
CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

20 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Só pode existir penalização para o cliente se a mesma estiver contratualmente prevista,
podendo também ser convencionado entre as partes a redução ou mesmo isenção do
pagamento desta penalização.

Não há lugar ao pagamento de qualquer comissão de reembolso antecipado nos casos em


que:

• O reembolso ocorrer num período em que a taxa nominal do contrato seja variável;

• For um contrato de crédito sob a forma de facilidade de descoberto;

• O reembolso tiver sido efetuado em execução de contrato de seguro destinado a


garantir o crédito.

Se o reembolso antecipado ocorrer num período em que a taxa nominal do contrato seja
fixa, o cliente poderá ter de pagar uma comissão que não pode exceder:

0,25% do montante do
capital reembolsado Se o período remanescente Inferior ou igual a 1 ano
entre a data de reembolso
antecipado e a data
estipulada para o termo do
0,5% do montante do contrato de crédito for Superior a 1 ano
capital reembolsado

Note que:

A comissão a pagar pelo reembolso antecipado não pode exceder o valor correspondente ao
montante de juros que seriam exigidos ao cliente pelo período compreendido entre a data
do reembolso antecipado e a data estipulada para o termo do período de taxa fixa.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

21 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Renegociação do Contrato

Pode suceder, no decurso da vida do empréstimo, o cliente querer ou necessitar de alterar


algumas condições do crédito como, por exemplo:

• Spread;
• Prazo do indexante;
• Regime de taxa de juro15;
• Data de vencimento das prestações;
• Prazo de amortização; ou
• Modalidade de reembolso.

Para que possam ser concretizadas as alterações ao contrato de crédito, o consumidor


deverá solicitar ao mutuante que analise a possibilidade da sua implementação.

Quando consumidor e mutuante estão de acordo em promover alterações nas condições


contratuais de um crédito em vigor, estamos perante uma renegociação do crédito.

Vejamos exemplos de motivos para renegociação de contrato de crédito em vigor16:

Um cliente pretende reduzir Neste caso, o mais habitual é realizar-se a redução da


o prazo do empréstimo, prestação do crédito, mantendo o prazo inicial do
fazendo um reembolso contrato. Mas o cliente pode solicitar a manutenção da
antecipado do seu crédito. mesma prestação e diminuir o prazo da operação.

Um cliente, por motivos


Esta situação traduz um pedido de alteração da finalidade
profissionais, teve de alterar
do crédito, deixando de ser habitação própria
a sua residência do Porto
permanente e passando a ser habitação para
para Faro, pretendendo
arrendamento.
agora passar a arrendar a
casa do Porto.
Neste caso, pode ser do interesse de ambas as partes a
Um cliente passou a receber alteração da data de pagamento da prestação, fazendo
o vencimento ao dia 28 de coincidir com a nova data de recebimento do
cada mês e a prestação é vencimento, pois aumenta a probabilidade de ser paga
paga ao dia 25. atempadamente.

15
Alteração de fixa para variável ou vice-versa.
16
Repare que para ocorrer a renegociação do contrato de crédito é necessário o acordo dos diversos
intervenientes no contrato.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

22 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Note que no crédito à habitação, no crédito hipotecário e no crédito aos consumidores:

• Está vedada a cobrança, pelos mutuantes, de qualquer comissão pela análise da


renegociação das condições do crédito, em especial quando tem em vista a:

― Alteração das condições do contrato de crédito, nomeadamente do spread ou


do prazo de duração do contrato de crédito;
― Alteração do regime da taxa de juro;
― Alteração de companhia seguradora.

• As instituições financeiras não podem fazer depender a renegociação do crédito da


aquisição de outros produtos ou serviços financeiros.

Principais conceitos

Nos casos de pedido de alteração de condições contratuais, as instituições de crédito


podem agravar os encargos com o crédito?

Em sede de renegociação de créditos, a atuação dos mutuantes encontra-se limitada17.

Com efeito, as instituições de crédito não podem agravar os encargos com o crédito,
nomeadamente aumentando os spreads estipulados no caso de renegociação de créditos
cuja finalidade seja financiar a aquisição, realização de obras ou manutenção de direitos de
propriedade sobre a habitação própria permanente, se a renegociação ocorrer em
qualquer uma das duas situações:

1. Celebração de um contrato de arrendamento18 entre o consumidor e um terceiro, seja da


totalidade ou de parte do imóvel;

17
Artigo 25.º do Decreto-Lei n.º 74-A/2017, de 23 de junho.

18
No contrato de arrendamento deve constar que:
• O imóvel se encontra hipotecado em garantia de um contrato cuja finalidade é financiar a aquisição, a
realização de obras, ou a manutenção de direitos de propriedade sobre habitação própria permanente
do consumidor;
• O arrendatário está obrigado a depositar o valor da renda na conta do cliente bancário associada ao
empréstimo.
CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

23 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


2. Por divórcio, separação judicial de pessoas e bens, dissolução da união de facto ou
morte de um dos cônjuges e o crédito fique titulado por um consumidor que prove que o
rendimento do agregado familiar permite uma taxa de esforço inferior a 55% ou, no caso de
agregados familiares com dois ou mais dependentes, inferior a 60%.

Tanto no crédito hipotecário como no crédito aos consumidores está vedado aos
mutuantes a cobrança de comissões pela renegociação das condições do crédito,
nomeadamente do spread ou do prazo de duração do contrato de crédito.

Se a renegociação das condições do contrato de crédito ocorrer no âmbito do Procedimento


Extrajudicial de Regularização de Situações de Incumprimento (PERSI)19, a instituição de
crédito não pode cobrar ao cliente bancário comissões pela análise e formalização da
operação.

Na renegociação de contratos de crédito hipotecário, os clientes bancários têm também a


possibilidade de indicar uma conta domiciliada noutra instituição para ser efetuado o
reembolso da prestação.

Sempre que, na renegociação, a instituição de crédito e o cliente pretendam aumentar o


montante total do crédito, a instituição deve atualizar a informação financeira do cliente e
reavaliar a sua solvabilidade.

Designação do cumprimento do contrato

Imagine a seguinte situação:

Um cliente é titular de um crédito à habitação e de outro crédito hipotecário, de um crédito


pessoal, de um cartão de crédito e de uma facilidade de descoberto. Imagine que a conta não
tem saldo disponível e já estão vencidas prestações.

Se este cliente vier depositar um valor que não seja suficiente para liquidar todas as suas
responsabilidades, o que deverá o colaborador fazer?

Se forem cumpridas estas condições, o contrato de arrendamento caduca em caso de venda executiva do
imóvel ou dação em cumprimento do imóvel hipotecado.
19
Modelo de negociação legalmente estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 227/2012, de 25 de outubro, que se
aplica à generalidade dos contratos de crédito celebrados com consumidores, com exceção dos contratos de
locação financeira.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

24 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Se o devedor, por diversas dívidas da mesma espécie ao mesmo credor, efetuar uma
prestação que não chegue para as extinguir a todas, fica à sua escolha designar as
dívidas a que o cumprimento se refere.

Repare que:

Compete à instituição financeira:

1. Informar o consumidor, em linguagem simples e clara, das regras de imputação


aplicáveis, caso o cliente não indique o que pretende pagar com o montante que
está a depositar;

2. Interpelar o devedor para indicar quais os créditos que pretende pagar com aquele
valor.

Mas que regras se aplicam caso o devedor não indique qual a dívida que pretende pagar?

O cumprimento deve imputar-se:

1º Caso exista uma só dívida Na dívida vencida

2º Se existirem várias dívidas Na que oferece menor garantia

3º Se existirem várias dívidas


igualmente garantidas Na mais onerosa para o devedor

4º Se existirem várias dívidas


igualmente onerosas Na que primeiro se tenha vencido

5º Se existirem várias dívidas


vencidas simultaneamente Na mais antiga em data

Note que:

Se não for possível aplicar estas regras, o montante depositado será aplicado, por rateio, por
conta de todas as dívidas.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

25 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Regime da Mora

Quando se formaliza uma operação de crédito, a expetativa que decorre do contrato


firmado é que o cliente cumpra atempadamente as prestações a que ficou vinculado.

Mas nem sempre isto acontece. É nestes casos que se refere que “há mora”.

A mora

O cliente bancário constitui-se em mora quando não cumpre as condições de reembolso de


capital ou pagamento de juros remuneratórios no âmbito de um contrato de crédito20.

A mora no contrato de crédito determina a possibilidade aos mutuantes de poderem exigir


ao consumidor o pagamento de juros moratórios e outros encargos.

Recorde os seguintes conceitos:

Juros remuneratórios

As prestações que o cliente paga pelo empréstimo, por exemplo no caso de um crédito
à habitação, normalmente mensais e constantes, são compostas por reembolso do
capital mutuado e por juros remuneratórios que a instituição de crédito recebe por
disponibilizar os fundos.

A taxa de juro pela qual são calculados os juros remuneratórios é a taxa de juro anual
nominal (TAN) estipulada no contrato, calculada sobre o capital em dívida 21.

Juros moratórios

São os que visam indemnizar os prejuízos da instituição em resultado da mora do


devedor no cumprimento das obrigações contratuais.

20
Portugal dispõe desde 2013 de um novo quadro legal aplicável às situações de mora do cliente bancário nas
operações de crédito. A referência legal é o Decreto-Lei n.º 58/2013, de 8 de maio.

21
- Nas operações de desconto de letras e livranças, bem como de outros títulos de crédito, as instituições
podem cobrar a importância dos juros antecipadamente, por dedução ao valor nominal dos títulos de crédito.
- Os juros relativos às operações de abertura de crédito, empréstimos em conta corrente ou outras de
natureza similar são calculados em função dos montantes e períodos de utilização efetiva dos fundos pelo
beneficiário, de acordo com as taxas de juro contratadas.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

26 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Comissões

São as prestações pecuniárias exigidas aos clientes pelas instituições como retribuição
por serviços por elas prestados, ou subcontratados a terceiros, no âmbito da sua
atividade.

Despesas

São os encargos suportados pelas instituições perante terceiros, por conta dos seus
clientes, nomeadamente os pagamentos a conservatórias, cartórios notariais ou que
tenham natureza fiscal.

Vamos em seguida ver como se aplica cada um deles.

Como se calculam os juros moratórios?

Em caso de mora do devedor e enquanto a mesma se mantiver, os mutuantes podem cobrar


juros moratórios, contados dia-a-dia, mediante a aplicação de uma sobretaxa anual
máxima22, a acrescer à taxa de juros remuneratórios aplicável à operação.

Juros moratórios = Prestação em atraso x (taxa de juros moratórios/360) x n.º dias em mora

Capitalização de juros

A capitalização de juros remuneratórios ou de juros moratórios pode ocorrer em situações


definidas na Lei.

E como funciona a penalização por via de comissões?

No regime legal atualmente em vigor, admite-se apenas que as instituições de crédito


possam exigir, com fundamento no incumprimento, uma comissão única respeitante à
recuperação de valores em dívida.

22
Atualmente fixada em 3%.
CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

27 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


Comissão de recuperação dos valores em dívida

Para além dos juros moratórios, as instituições só podem cobrar aos seus clientes uma
comissão pela recuperação de valores em dívida, que não pode exceder 4% do valor da
prestação vencida e não paga:

• Com um valor fixo de 12,00€, caso a comissão calculada seja inferior a esse montante;
• Com um máximo de 150,00€, caso a comissão calculada seja superior a esse
montante23.

No caso da prestação vencida ser superior a 50 000,00€, a comissão a cobrar pelas


instituições pela recuperação de valores em divida é de 0,5% do valor da referida
prestação, não se aplicando as regras de mínimo e máximo anteriormente referidas.

A comissão só pode ser cobrada uma única vez, por cada prestação vencida e não paga,
ainda que o incumprimento se mantenha.

As quantias devidas a título de comissão pela recuperação de valores em dívida que não
forem pagas pelos clientes bancários só podem acrescer ao montante do capital em dívida
em caso de reestruturação ou consolidação de contratos de crédito.

Despesas

Podem ser repercutidas nos clientes bancários as despesas posteriores à entrada em


incumprimento que, por conta daquele, tenham sido suportadas pelas instituições perante
terceiros, mediante apresentação da respetiva justificação documental.

Considere agora a seguinte situação:

Um cliente assumiu no seu contrato de crédito para aquisição de habitação própria


permanente o pagamento mensal das suas prestações, ao dia 30 de cada mês. A TAN do
contrato é de 4%.

Em 30 de abril, quando o mutuante previa efetuar a cobrança da prestação relativa a esse


mês, no valor de 415€, a conta de depósito à ordem indicada no empréstimo para débito das

23
Os valores mínimo e máximo são anualmente atualizados de acordo com o IPC, mediante portaria dos
membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças e economia, a publicar até 30 novembro do ano
anterior.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

28 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


prestações não tinha qualquer saldo. O mutuante não conseguiu cobrar a prestação devida
nesse dia, pelo que o cliente bancário se constituiu, assim, em mora, a partir de 30 de abril.

O gestor do cliente, ao aperceber-se do sucedido, contactou o cliente para avisá-lo da mora


dessa prestação.

O cliente acabou por efetuar uma transferência bancária de 600€ para regularização da sua
prestação de abril, que foi creditada na conta à ordem associada ao crédito em 15 de maio,
permitindo a cobrança, nesse dia, da prestação em atraso.

Qual foi o valor debitado ao cliente no dia 15 de maio relativo à prestação de 30 de abril?
O valor debitado foi de 428,21€ ou de 432,81€?
R: O valor debitado foi de 432,81€ pois:

Total a pagar = Prestação mensal + Juros moratórios (15 dias) + Comissão


= 415€ + (415€ x 15 x 0,07(24) /360) + (415€ x 0,04(25))
= 415€ + 1,21€ + 16,60€
= 432,81€
Ou seja, pelo atraso de 15 dias na liquidação da sua prestação, o cliente pagou mais 17,81€,
sendo 1,21€ de juros moratórios e 16,60€ de comissão.

Não cumprimento do contrato de crédito pelo consumidor

Em caso de não cumprimento do contrato de crédito pelo consumidor, em que situações


pode a instituição financeira, proceder à resolução do contrato de crédito?

➢ Em caso de incumprimento do contrato de crédito pelo consumidor, o credor só


pode invocar a perda do benefício do prazo ou a resolução do contrato se,
cumulativamente, ocorrerem as circunstâncias seguintes:

• A falta de pagamento de duas prestações sucessivas que exceda 10% do montante


total do crédito;
• Ter o credor, sem sucesso, concedido ao consumidor um prazo suplementar
mínimo de 15 dias para proceder ao pagamento das prestações em atraso,

24
7% = 4% + 3%
= TAN + Taxa de mora

25
4% = Comissão de recuperação de valores em dívida

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

29 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon


acrescidas da eventual indemnização devida, com a expressa advertência dos
efeitos da perda do benefício do prazo ou da resolução do contrato.

➢ A resolução do contrato de crédito pelo credor não impede que este possa exigir o
pagamento de eventual sanção contratual ou indemnização, nos termos gerais.

Ideias-chave

• Assiste aos consumidores o direito de amortizar antecipadamente o capital em dívida,


podendo o pedido de reembolso antecipado, parcial ou total, ocorrer em qualquer momento
da vigência do contrato, devendo ser cumpridos os requisitos estabelecidos.
• Em regra, é cobrada uma comissão pelo reembolso antecipado do crédito, mas existem
limites máximos e condições legalmente definidas que têm que ser observados, tanto no
crédito hipotecário como no crédito aos consumidores.
• Quando o cliente e a entidade financeira estão a analisar a possibilidade de alteração de
condições contratuais de um crédito em vigor, estamos perante uma renegociação do
crédito.
• No crédito hipotecário está vedada a cobrança, pelos mutuantes, de qualquer comissão
pela análise da renegociação das condições do crédito, em especial quando tem em vista a
alteração das condições do contrato de crédito (nomeadamente do spread ou do prazo de
duração do contrato de crédito) do regime da taxa de juro ou da companhia seguradora.
• Tanto no crédito hipotecário como no crédito aos consumidores, as instituições
financeiras não podem fazer depender a renegociação do crédito da aquisição de outros
produtos ou serviços financeiros.
• Estão legalmente definidos casos em que a instituição não pode agravar os encargos com
o financiamento em virtude de uma renegociação do contrato de crédito, desde que sejam
cumpridas as condições estabelecidas.
• A mora no contrato de crédito permite ao mutuante imputar ao cliente o pagamento de
juros moratórios, da comissão de recuperação dos valores em dívida e de despesas, nos
termos legalmente estabelecidos.

CCC / Deveres na Vigência de Contratos de Crédito a Clientes Particulares

30 / 30

Copyright © 2021 by IFB/APB, Lisbon

Você também pode gostar