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Introdução

Tendo como premissa que obrigação é a relação jurídica estabelecida entre devedor e
credor e cujo objecto consiste em prestação de dar, fazer ou não fazer alguma coisa. O
direito das obrigações regula directamente relações sociais, na perspectiva das relações
estabelecidas directamente ente indivíduos. A forma de cooperação a que diz respeito o
direito das obrigações pressupõe uma relação entre sujeitos autónomos, independentes,
e tem por objecto já não directamente uma coisa, mas uma “prestação”, isto é, um
comportamento de um dos sujeitos (o devedor) no interesse ou para satisfação de um
interesse do outro sujeito (o credor).

Na nossa lei civil a matéria das obrigações constitui objecto do Livro II do Código
Civil, que se estende desde o artigo 397.° do CC, ao artigo 1250° do CC, abrangendo
assim mais de um terço, dos preceitos (2334 artigos de todo o diploma. Em
consonância, com o previsto art.º 397º do CC, Obrigação é o vínculo jurídico por
virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma prestação.
A presente pesquisa, versa sobre fontes das obrigações, e a primeira fonte das
obrigações primeira não só na sistematização da lei e porventura na sucessão histórica
dos factos, mas também na ordem natural das coisas e até na sua importância prática..

Na presente objectivou-se á:

 Analisar os corolários das fontes das obrigações

E para consolidar essa análise elencou-se como objectivos específicos:

 Identificar as fontes das obrigações numa visão doutrinária;


 Descrever o tratamento legal das fontes das obrigações no ordenamento
jurídico moçambicano.

São estes tópicos que farão manchete desta pesquisa cujo para sua elaboração usou-se
o método hermenêutico e consulta bibliográfica. Portanto o objectivo, método e técnica
foram pensados e ajustados da forma mais racional e lógica possível, para que as
análises e discussões alvitradas alcançassem plenamente os fins cuidadosamente
propostos, com o intento de que a totalidade destes elementos pudesse contribuir com
relação a um melhor entendimento académico sobre as fontes das obrigações.
Conceito de obrigações

De acordo com João de Matos1 “o direito das obrigações é o conjunto das normas
jurídicas reguladoras das relações de crédito, sendo estas as relações jurídicas em que ao
direito subjectivo atribuído a um dos sujeitos corresponde um dever.” O direito das
obrigações é o conjunto das normas jurídicas reguladoras das relações de crédito, sendo
estas as relações jurídicas em que ao direito subjectivo atribuído a um dos sujeitos
corresponde um dever de prestar especificadamente imposto a determinada pessoa. É o
dever de prestar, a que uma pessoa fica adstrita, no interesse de outra, que distingue a
relação obrigacional de outros tipos próximos de relações (nomeadamente dos direitos
reais, dos direitos de autor, dos direitos de personalidade e também dos direitos
potestativos2 em geral).

Segundo Gagliano 3

Obrigação é a relação jurídica estabelecida entre devedor e credor e


cujo objecto consiste em prestação de dar, fazer ou não fazer alguma
coisa. O direito das obrigações regula directamente relações sociais,
na perspectiva das relações estabelecidas directamente ente
indivíduos. A forma de cooperação a que diz respeito o direito das
obrigações pressupõe uma relação entre sujeitos autónomos,
independentes, e tem por objecto já não directamente uma coisa, mas
uma “prestação”, isto é, um comportamento de um dos sujeitos (o
devedor) no interesse ou para satisfação de um interesse do outro
sujeito (o credor).

A matéria das obrigações constitui objecto do Livro II do Código Civil, que se estende
desde o artigo 397.° ao artigo 1250°, abrangendo assim mais de um terço, dos preceitos
(2334 artigos de todo o diploma. Em consonância, com o previsto art.º 397º do CC,
Obrigação é o vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com
outra à realização de uma prestação.

1
João de Matos Antunes Varella, das obrigações em Geral, vol I, 2 ed, Almeida, 2000, p,45

2
Os direitos potestativos (como o direito de resolução, de anulação ou de denúncia de um contrato)
distinguem-se, porém, dos direitos subjectivos propriamente ditos (entre os quais figuram os direitos de
crédito) também quanto ao lado activo da relação, pois são fundamentalmente direitos tendentes a uma
modificação jurídica: Manuel DE ANDRADE, Teoria geral ¿a relação jurídica, I, 1960
3
Gagliano e Filho, Novo curso de direito civil - Obrigações, vol. IV, 2005, pág. 12.
Estrutura da Obrigação

Elementos constitutivos da obrigação: I) Os sujeitos conhecida a noção técnica de


obrigação, sabido que a distinção entre as obrigações e os direitos reais assenta na
diferente estrutura das situações que integram cada uma dessas categorias, interessa
analisar agora a relação creditória, decompondo-a nos seus elementos constitutivos, e
mostrando, em seguida, como estes se articulam logicamente dentro do organismo
jurídico a que dão vida.

São três os elementos constitutivos da relação obrigacional: a) Os sujeitos, que são os


titulares (activo e passivo, ou simultaneamente activo e passivo quando se trata por
exemplo de obrigações nascidas dum contrato bilateral) da relação; b) O objecto, que é
a prestação debitória; c) O vínculo, que é o nexo ideal que liga os poderes do credor aos
deveres do obrigado.

Sujeito como elemento das Obrigações

O primeiro elemento da relação, pelo papel primordial que desempenha dentro dela, é
constituído pelos sujeitos: o credor, de um lado; o devedor, do outro.

Credor como sujeito activo

O credor é a pessoa a quem se proporciona a vantagem resultante da prestação, o


titular do interesse (patrimonial, espiritual ou moral) que o dever de prestar visa
satisfazer4. Segundo Azevedo5 “Ser titular do interesse protegido significa, no fundo, o
seguinte: a) ser o credor o portador de uma situação de carência ou de uma necessidade;
b) haver bens (coisas, serviços) capazes de preencherem tal necessidade; c) haver uma
apetência ou desejo de obter estes bens para suprimento da necessidade ou satisfação da
carência6.”

Mais, porém, do que titular do interesse tutelado, o credor é o senhor da tutela do seu
interesse. A cautela do interesse depende da sua vontade, o funcionamento dela está
subordinado à iniciativa do titular activo da relação. Na veste ou qualidade de

4
Chamado credor, escreve M. Andrade (pág. 17), «porque acreditou no devedor na sua lealdade c na sua
capacidade de pagamento», ou porque, como diz Larenz, § 2,1, crê na pessoa do obrigado, no seu desejo
de cumprir (Leiswtgswiüigkety, por um lado, e na sua capacidade de cumprir (Leistungsvemiõgen).
5
Azevedo, António Junqueira de. Negócio jurídico: existência, validade, op. cit., p. 16
6
Entendemos por interesse, escreve Groppali na sua sugestiva Introdução ao estudo do direito (trad, de
M. Alarcãq, 1968, pág. 132), o desejo, a exigência de um bem que se considera útil, isto é, apto para
satisfazer uma necessidade»
verdadeiro sujeito de um direito subjectivo, e não de simples titular de um interesse
reflexamente protegido, o credor pode dispor, pelas mais variadas formas, dos meios
coercitivos predispostos pela ordem jurídica para governo da relação: pode exigir o
cumprimento (voluntário ou judicial) da obrigação e pode não o exigir, sem que do
facto lhe advenha qualquer sanção. O credor é, numa palavra, o titular do direito à
prestação, o sujeito activo da relação de crédito.

Devedor Como sujeito passivo

O devedor é, por seu turno, a pessoa sobre a qual recai o dever de efectuar a prestação
(o comprador, quanto à entrega do preço; a entidade patronal, quanto ao salário; o
empreiteiro, quanto à entrega da obra). É, como sujeito passivo da relação, quem está
adstrito ao cumprimento da prestação. Enquanto o credor tem, dentro da relação
obrigacional, uma posição de supremacia, o devedor ocupa uma posição de
subordinação (de subordinação jurídica; não de subordinação política, social ou
pessoal).

Objecto como elemento das obrigações

Objecto a prestação debítória. Objecto imediato e objecto mediato. O objecto da


obrigação é a prestação devida ao credor. E o meio que satisfaz o interesse do credor,
que lhe proporciona a vantagem a que ele cem direito. A prestação consiste, em regra,
numa actividade ou numa acção7. A prestação é o fulcro da obrigação, o seu alvo
prático. Distingue- -se do dever geral de abstenção próprio dos direitos reais, porque o
dever jurídico de prestar é um dever específico (que apenas atinge o devedor), enquanto
o dever geral de abstenção é um á e ver genérico, que abrange todos os não titulares
direito. Tendo principalmente em vista as obrigações com prestação de coisas, os
autores costumam distinguir entre o objecto imediato e o objecto mediato da obrigação 8.
O primeiro consiste na actividade devida (na entrega da coisa, na cedência dela, na sua
restituição); o segundo, na própria coisa, em si mesma considerada, ou seja, no objecto
da prestação9.
7
Exemplo, a entregar uma coisa, realizar uma obra, dar uma consulta, patrocinar alguém numa causa,
transportar alguns móveis, transmitir um crédito, dar certo número de lições)
8
A distinção é menos nítida nas prestações dejdao. onde apenas se poderá distinguir entre a actividade
{dore, faceré} ou omissão {non faceré) do devedor e a aedvidade ou omissão, abstractamente
consideradas. E. todavia, nesta distinção que radica a classificação (legal e doutrinal) das prestações (de
fácto) fungáveis e não fungíveis
9
O objecto da prestação pode consistir numa coisa, num conjunto de coisas (várias peças de mobiliário,
de ourivesaria), numa obra do espírito (como sucede com o objecto da prestação a cargo do escritor no
O vínculo jurídico como núcleo central da relação

Através do vínculo que a ordem jurídica estabelece entre o credor e o devedor. Este
vínculo, constituído pelo enlace dos poderes conferidos ao credor com os correlativos
deveres impostos ao titular passivo da relação, forma o núcleo central da obrigação, o
elemento substancial da economia da relação. Atenta a facilidade com que mudam os
sujeitos da obrigação e ponderadas as transformações que sofre a cada passo a própria
prestação debitória, o vínculo estabelecido entre o devedor e o credor constitui o
elemento verdadeiramente irredutível da relação. Nele reside o cerne do direito de
crédito.

Coelho da Rocha10 definiu-a igualmente como “um vínculo legal, pelo qual é alguém
adstrito a dar, fazer ou pagar alguma coisa”. E o Código Civil volta a percutir a mesma
tecla, quando dela nos dá (art. 397.°) a seguinte noção “Obrigação é o vínculo jurídico
por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma
prestação”.

Traduz-se logo no poder que tem o credor de exigir a prestação, no dever que recai
sobre o obrigado de efectuá-la, e na sanção aplicável ao devedor inadimplente ou em
mora, a requerimento do credor lesado. O direito de exigir a prestação pode ser exercido
extrajudicialmente (mediante interpelação do devedor) ou judicialmente (através de
citação para a acção de cumprimento ou a execução, ou por meio de notificação judicial
avulsa: art. 805.° do Cód. Civ. e arts. 228.°, 234.°, 811.°, e 261.° do Cód. Proc. Civ).

Se o devedor cumpre voluntariamente, como sucede as mais das vezes, o credor pode
reter a prestação, e retê-la a título de cumprimento (soluti retentío) — não a título de
liberalidade porque a ela tinha direito; pela mesma razão, o devedor não pode exigir
nessa altura a sua restituição, não goza da condictio indebiti. E se o devedor não
cumpre?.

Nessa altura, o credor terá em regra de recorrer à execução forçada, agredindo, não a
pessoa, mas o património do devedor. Se o credor tem o direito de agredir o património
do devedor, é porque os bens deste respondem pelo cumprimento da obrigação,

contrato de edição) ou numa coisa incorpórea (estabelecimento comerciai, direito a uma herança). Por
exemplo Se A vende um prédio a B e, em virtude da venda, fica obrigado a entregá-lo, são realidades
completamente distintas o acto de entrega do prédio (a prestação devida), por um lado, e o prédio, por
outro (objecto da prestação).
10
Instituições, I, pág. 112
garantindo o seu cumprimento (art. 601.°).Visto, porém, lhe não ser lícito fazer justiça
por suas mãos (uma vez que a lei condena o sistema da justiça privada ou da autodefesa-
art. 1.° do Cód. Proc. Civ; cff., porém, art. 336.° do Cód. Civ.), será forçado para esse
efeito a recorrer aos tribunais.

Fontes das Obrigações

No âmbito obrigacional, diz-se fonte da obrigação o facto jurídico de onde nasce o vínculo
obrigacional. Trata-se da realidade sub sperie iuris que dá vida à relação creditória. A fonte tem
uma importância especial na vida da obrigação, por virtude da atipicidade da relação creditória.
Os autores e as leis costumam catalogar as fontes das obrigações em grandes classes ou
categorias de factos. Já as Institutos de Noronha 11 referem as duas categorias fundamentais: a) o
contraio e b) delito, às quais um conhecido passo do Digesto aditou as variae causanem figurae,
no intuito de abranger as diversas espécies geradoras de obrigações, que não se integravam em
nenhuma daquelas categorias.

Contexto histórico das fontes das Obrigações

A sistematização que preponderou na doutrina, durante todo o período medieval e


ainda nas primeiras codificações do século XIX, foi a célebre classificação
quadripartida de origem justinianeia: a) os contratos e os quase-contratos 12; c) os delitos
e os quase-delitos.13 Mas a classificação tradicional das fontes das obrigações tem sido
muito criticada pelos autores modernos e pode hoje considerar-se geralmente
abandonada, pelo seu escasso rigor científico. a) Na categoria dos quase-contratos
incluiu a doutrina, por mera exclusão de partes, como figuras residuais, uma série
heterogénea de situações, muitas das quais pouco ou quase nada têm de comum com os
contratos, a ponto de sobre elas não ter sido possível construir um conceito unitário com
real préstimo para a condensação lógica das soluções fornecidas pelo sistema legislativo

11
Noronha, O direito do contrato e seus princípios fundamentais, 1994, pág. 113.
12
Os contratos eram já, e continuam a ser ainda hoje, a fonte mais importante das obrigações, embora
deles possam nascer também relações jurídicas de outro tipo A rubrica dos quase-contratos compreendia
os factos voluntários lícitos, que não eram contratos por lhes faltar um elemento essencial (o acordo dos
contraentes, segundo a concepção bizantina do contrato; o intento de constituir uma obrigação, segundo a
concepção do direito romano clássico), mas que criavam obrigações para o respectivo autor ou para
terceiro
13
Os delitos eram constituídos pelos factos ilícitos extracontratuais, de carácter intencional (factos
danosos praticados com dolo ou intenção maligna, segundo a noção dada por Pothier), enquanto os quase-
-delitos (cfr. art. 1383 do Code civil) abrangiam os factos ilícitos praticados com mera culpa ou
negligência í1) (factos danosos-praticados sem intenção maligna, mas com imprudência indesculpável, na
definição do mesmo autor).
f1). Nota-se, por isso, além de uma grande divergência quanto à lista dos quase-
contratos, uma acentuada imprecisão dos autores quanto ao conceito correspondente.

Fontes das obrigações na esfera jurídica Moçambicana

No ordenamento jurídico Moçambicano são fontes das obrigações nomeadamente: a)


Contratos previsto no artigo 405 do cc; b) Negócios unilaterais previsto o artigo 457 do
cc; c) gestão de negócios previsto no artigo 464 do cc; d) Enriquecimento em causa
artigo 473; e) Responsabilidade Civil nos termos do artigo 483 do cc.

Contratos

Noção de contrato. A primeira fonte das obrigações primeira não só na sistematização


da lei e porventura na sucessão histórica dos factos, mas também na ordem natural das
coisas e até na sua importância prática. Diz-se contrato o acordo vinculativo, assente
sobre duas ou mais declarações de vontade (oferta ou proposta, de um lado; aceitação,
do outro), contrapostas mas perfeitamente harmonizáveis entre si, que visam estabelecer
uma composição unitária de interesses14. Os contratos podem ser: a) Bilaterais e b)
Unilaterais.

O contrato é essencialmente um acordo vinculativo de vontades opostas, mas


harmonizáveis entre si. O seu elemento fundamental é o mútuo consenso. Se as
declarações de vontade das partes, apesar de opostas, não se ajustam uma à
outra, não há contrato, porque falta o mútuo consentimento. Por isso que o
Contrato é um negócio jurídico por meio do qual as partes declarantes,
limitadas pelos princípios da função social e da boa-fé objectiva,
autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo a
autonomia das suas próprias vontades15.

Contratos Bilaterais

Esse tipo de contrato é o mais comum nas relações jurídicas, que é a convenção pela
qual duas pessoas se convencionam a celebrar um dado negócio jurídico, por força da
liberdade contratual estipulado no artigo 405 do cc, e este esta sujeito a liberdade de
forma em consonância com o revisto no artigo art.º 219º que dispõe que a validade da
declaração negocial não depende da observância de forma especial, salvo quando a lei a
exigir. São exemplos de contratos bilaterais: a) contrato de compra e venda, que nos
termos do art.º 874º a é o contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou
outro direito, mediante um preço. B) Mútuo em conformidade com o art.º 1142º -

14
M. DE Andrade, Teoria geral da relação jurídica, II, n.° 65
15
Gagliano e Filho, Novo curso de direito civil - Obrigações, vol. IV, 2005, pág. 12.
Noção Mútuo é o contrato pelo qual uma das partes empresta à outra dinheiro ou outra
coisa fungível, ficando a segunda obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e
qualidade.

Outro exemplo é o Contrato de trabalho previsto no art.º 1152º do cc, que é aquele
pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua actividade
intelectual ou manual a outra pessoa, sob a autoridade e direcção desta. E por ultimo o
contrato de prestação de serviço que nos termos do art.º 1154º do cc, é aquele em que
uma das partes se obriga a proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho
intelectual ou manual, com ou sem retribuição.

Contratos Unilaterais

Dizem-se unilaterais os contratos dos quais resultam obrigações só para uma das
partes, Assim sucede em regra na doação previsto no art. 940.° do CC, no comodato
consagrado no art. 1129.° do CC e no mandato gratuito (art. 1157.°), etc. Estes são os
contratos unilaterais. OU seja, Trata-se de negocio em que apenas uma parte
convenciona-se a celebrar um contrato, como é o caso de doação que ao brigo do art.º
940º é o contrato pelo qual uma pessoa, por espírito de liberalidade e à custa do seu
património, dispõe gratuitamente de uma coisa ou de um direito, ou assume uma
obrigação, em benefício do outro contraente., Promessa unilateral previsto no art.º 411º
do CC, se o contrato-promessa vincular apenas uma das partes e não se fixar o prazo
dentro do qual o vínculo é eficaz, pode o tribunal, a requerimento do promitente, fixar à
outra parte um prazo para o exercício do direito, findo o qual este caducará.

Enquadra-se nesse tipo de contrato o pacto de preferência consagrado no art.º 414º que
consiste na convenção pela qual alguém assume a obrigação de dar preferência a outrem
na venda de determinada coisa. Outro exemplo é a locação nos termos do art.º 1022º do
cc, que é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o gozo
temporário de uma coisa, mediante retribuição.

Contratos como fonte das Obrigações


A teoria geral das obrigações, porém, interessa apenas os efeitos do contrato como
fonte de relações jurídicas creditórias. E esse aspecto importante da vida dos contratos
desdobra-o a lei em duas partes: numa delas (que se estende desde o art. 874.a até ao art.
1250.°) estabelece a disciplina de cada um dos vários contratos em especial (típicos ou
nominados) que, sendo as espécies mais correntes no comércio jurídico, servem de
padrão ou modelo na grande massa das operações negociais; na outra, que vai do artigo
405.° ao artigo 450 do CC, traça uma espécie de teoria geral do contrato, com as regras
aplicáveis, em princípio, não só aos contratos em especial regulados na lei, mas a
quaisquer outros contratos celebrados pelas partes.

Os princípios fundamentais em que assenta toda a disciplina legislativa dos contratos


são os seguintes: a) o princípio da autonomia privada,16 que atribui aos contraentes o
poder de fixarem, em termos vinculativos, a disciplina que mais convém à sua relação
jurídica; b) o princípio da confiança17, assente no stare pactis, segundo o qual cada
contraente deve responder pelas expectativas que justificadamente cria, com a sua
declaração, no espírito da contraparte; c) o princípio da justiça comutativa ou da
equivalência objectiva18, de acordo com o qual, nos contratos a título oneroso (que são,
de longe, os mais frequentes no comércio jurídico), à prestação de cada um dos
contraentes deve corresponder uma prestação de valor objective (ou subjectivo)
sensívelmente equivalente da parte do outro contraente.

Contratos com eficácia Real

16
Previsto no artigo 405 do cc, consagra que dentro dos limites da lei, as partes tem a faculdade de fixar
livremente o conteúdo dos contratos, celebrar contratos diferentes dos previstos neste código ou incluir
nestes as cláusulas que lhes aprouver ou seja, As partes são livres, ao contratar, na medida em que podem
seguir os impulsos da sua razão, sem estarem aprisionadas pela jaula das normas legais.
17
O princípio da confiança explica, por sua vez, a força vinculativa do contrato, a doutrina válida em
matéria de interpretação e integração dos contratos (arts. 236.°; 238.°; 239.°, cfr. art. 217.°) e a regra da
imodificabilidade do contrato por vontade (unilateral) de um dos contraentes (art. 406.°, 1), É, com efeito,
a protecção da legítima expectativa criada pelo recebimento da proposta contratual no espírito do
destinatário que explica a irrevogabilidade dela pelo proponente durante o período razoavelmente
reservado à reflexão e decisão deste (art. 230.°).
18
Encontra-se, por seu turno, latente em várias disposições importantes do nosso direito constituído, entre
as quais podem salientar-se as seguintes: a) a anulação ou modificação dos negócios usurários (arts. 282.°
e segs.); b) a possibilidade de redução oficiosa da cláusula penal excessiva (art. 812.°); c) a redução ou
aumento do preço de coisas sujeitas a contagem, pesagem ou medição, no caso de divergência, além de
certo limite, entre a realidade e a declaração das partes (art. 888.°, 2); d) o direito à redução do preço no
caso da venda de coisas defeituosas (art. 913.°).
Não sendo a única fonte das obrigações, o contrato é a mais importante entre todas
elas. Mas o contrato não se limita a constituir, modificar ou extinguir relações de
obrigação. “A constituição ou transferência- de direitos reais sobre coisa determinada,
diz o artigo 408.°, dá-se por mero efeito do contrato”. Por exemplo assim, se A vender a
B certa coisa móvel ou imóvel, o contrato imporá ao vendedor a obrigação de entregar a
coisa (art. 879.°). Mas, ao mesmo tempo, por força do preceito basilar contido no
arartigo 408.° do CC, a celebração do contrato transfere desde logo, do vendedor para o
comprador, o domínio sobre a coisa.

Suponhamos, para realçar o interesse prático da solução, que A vendeu certo móvel a
B no dia 1 de Novembro, devendo a coisa ser paga e entregue no dia 5, porque B só
nesse dia a pode receber (cfr. art. 796.°, 1 e 2). Se no dia 3 um terceiro (Q a furtar,
danificar ou a vender porque a tinha em seu poder) a D, quem pode reivindicar o móvel
de D ou exigir de C a reparação do dano é B e não A.

Aos contratos com semelhante efeito dá a doutrina o nome de contratos com eficácia
real ou, mais simplesmente, de contratos reais.

Contrato-promessa

Em consonância com o previsto no artigo 410 do CC, À convenção pela qual alguém
se obriga a celebrar certo contrato são aplicáveis as disposições legais relativas ao
contrato prometido, exceptuadas as relativas à forma e as que, por sua razão de ser, não
se devam considerar extensivas ao contratopromessa. Porém, a promessa relativa à
celebração de contrato para o qual a lei exija documento, quer autêntico, quer particular,
só vale se constar de documento assinado pelos promitentes.19

Suponhamos que A quer comprar um prédio a B e este quer vender-lho. Não podem
todavia, celebrar já o contrato, porque faltam documentos necessários: porque A não
dispõe, por enquanto, do capital para a compra e B não quer vender a crédito; porque
estão ainda em curso formalidades burocráticas para regularizar o direito do próprio
vendedor; porque o prédio ainda não está concluído.

19
O C pretende obter o arrendamento de uma casa de praia e D está disposto a arrendar-lha;
mas, como vêm ainda longe os meses de verão, pode convir-lhes mais efectuarem entre si um
contrato-promessa de arrendamento, entregando o promitente arrendatário determinada
importância como sinal
Desejando assegurar desde logo a realização futura do negócio, os interessados têm
um meio natural de fazê-lo, mediante a celebração dum contrato-promessa de compra e
venda.

Segundo GOMES, 20

O contrato-promessa é assim a convenção pela qual ambas as partes, ou


apenas uma delas, se obrigam, dentro de certo prazo ou verificados certos
pressupostos, a celebrar determinado contrato (compra e venda, locação
sociedade, conta em participação, compromisso arbitral). O contrato-promessa
cria a obrigação de contratar, ou, mais concretamente, a obrigação de emitir a
declaração de vontade correspondente ao contrato prometido. A obrigação
assumida por ambos os contraentes, ou por um deles se a promessa é apenas
unilateral, tem assim por objecto uma prestação de facto positivo, um facere
oportere E o direito correspondente atribuído à outra parte traduz-se numa
verdadeira pretensão.

Tendo a promessa eficácia real, nos termos do artigo 413.°, o direito da contraparte é
oponível ao terceiro adquirente, cujo direito se não ache registado antes do registo do
contrato-promessa. A alienação ou oneração da coisa não impedirá a contraparte,
quando assim seja, de requerer e obter a execução específica da promessa. E haverá
lugar à execução específica, tendo o contrato-promessa eficácia real, mesmo que haja
sinal passado ou convenção de cláusula penal.

Pactos de Preferência

Nos termos do artigo 414.º Noção O pacto de preferência consiste na convenção pela
qual alguém assume a obrigação de dar preferência a outrem na venda de determinada
coisa. Pactos de preferência são, assim, os contratos pelos quais alguém assume a
obrigação de, em igualdade de condições, escolher determinada pessoa como seu
contraente, no caso de se decidir a celebrar determinado negócio.

Suponhamos que A, imprevistamente necessitado de dinheiro, se dispõe a


vender um prédio; confiado, porém, na futura melhoria da sua situação, só quer
fazê-lo se o comprador lhe prometer que, no caso de mais tarde alienar o
prédio, o preferirá na compra, em igualdade de preço, a qualquer outro
comprado disposto a entrar na constituição de uma nova sociedade por quotas
se os outros sócios lhe concederem preferência na futura alienação das suas
quotas. E os outros sócios, interessados na colaboração pessoal de B,
concordam com a exigência. C, D e E, herdeiros de F, interessados em manter
na família os bens que herdaram deste, sem prescindirem da faculdade de os
alienar, concedem-se reciprocamente direitos de preferência nas alienações que
venham a realizar21

20
GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil, op. cit., p. 268
21
Júlio césar. Direito Civil parte geral. 2 edição, revista ampliada. 2015, p45
Do pacto de preferência nasce uma obrigação típica, para uns autores, a de o devedor
não contratar com terceiro, se o outro contraente se dispuser a contratar em iguais
condições; para outros, a de, querendo contratar, o obrigado escolher a contraparte, de
preferência a qualquer outra pessoa. Em face dessa obrigação, fica a plena liberdade de
o titular da preferência aceitar ou não a celebração do contrato, nos termos em que o
obrigado se propõe realizá-lo.

De qualquer dos modos, o pacto de preferência distingue-se do contrato-promessa. Na


promessa bilateral há uma obrigação recíproca de contratar, enquanto no pacto de
preferência só um dos contraentes se vincula. Na promessa unilateral, o promitente
compromete-se a contratar, enquanto no pacto de preferência a obrigação é diferente: o
vinculado não se obriga a contratar, promete apenas, se contratar, preferir certa pessoa a
qualquer outro interessado, havendo assim, quando muito, uma promessa unilateral
condicional.

Contratos a favor de Terceiro

Segundo o previsto no artigo 443.º do cc, por meio de contrato, pode uma das panes
assumir perante outra, que tenha na promessa um interesse digno de protecção legal, a
obrigação de efectuar uma prestação a favor de terceiro, estranho ao negócio, diz-se
promitente a parte que assume a obrigação e promissário o contraente a quem a
promessa é feita. Por contrato a favor de terceiro, têm as panes ainda a possibilidade de
remitir dívidas ou ceder créditos, e bem assim de constituir, modificar, transmitir ou
extinguir direitos reais.

O contrato a favor de terceiro é o contrato em que um dos contraentes (promitente)


atribui, por conta e à ordem do outro (promissário), uma vantagem a um terceiro
(beneficiário), estranho à relação contratual.22 Essencial ao contrato a favor de terceiro,
como figura típica autónoma, é que os contraentes procedam com a intenção de atribuir,
através dele, um direito (de crédito ou real) a terceiro ou que dele resulte, pelo menos,
uma atribuição patrimonial imediata para o beneficiário.

22
Segundo o estiplado no artigo 444.º do cc, o Direitos do terceiro e do promissário. O terceiro a favor de
quem for convencionada a promessa adquire direito à prestação, independentemente de aceitação. O
promissário tem igualmente o directo de exigir do promitente o cumprimento da promessa, a não ser que
outra tenha sido a vontade dos contraentes. 3.Quando se trate da promessa de exonerar o promissário de
uma dívida para com terceiro, só àquele é lícito exigir o cumprimento da promessa.
Gestão de Negócios

Nos termos do artigo 464.º do CC, dá-se a gestão de negócios, quando uma pessoa
assume a direcção de negócio alheio no interesse e por conta do respectivo dono, sem
para tal estar autorizada. Para que haja gestão de negócios (cujo regime se mostra
impregnado das duas ideias fundamentais que comandam a existência do instituto) são
necessários os seguintes requisitos: à) que alguém (gestor) assuma a direcção de
negócio alheio; è) que o gestor actue no interesse e por conta do dono do negócio; c)
que não haja autorização deste (art. 464.°).

A gestão de negocio gera obrigações, dai que o artigo 466.º do CC, prevê o regime de
Responsabilidade do gestor, com a seguinte redacção, o gestor responde perante o dono
do negócio, tanto pelos danos a que der causa, por culpa sua, no exercício da gestão,
como por aqueles que causar com a injustificada interrupção dela. Considera-se culposa
a actuação do gestor, quando ele agir em desconformidade como interesse ou a vontade,
real ou presumível, do dono do negócio.

Enriquecimento sem causa

Segundo a previsão do artigo 473 do CC, aquele que, sem causa justificativa,
enriquecer à custa de outrem é obrigado a restituir aquilo com que injustamente se
locupletou. 23
A obrigação de restituir, por enriquecimento sem causa, tem de modo
especial por objecto o que for indevidamente recebido, ou o que for recebido por virtude
de uma causa que deixou de existir ou em vista de um efeito que não se verificou.

Na visão de Gagliano 24 “É o caso de alguém consumir as bebidas que se destinavam a


outrem e por engano lhe foram entregues, se instalar em casa alheia persuadido de que
ela lhe pertence”, afixar cartazes de propaganda dos seus produtos em prédio alheio, ou
de a estação de rádio ou televisão transmitir uma representação teatral sem autorização
do autor da peça, ou de uma casa comercial ter utilizado indevidamente a imagem ou o
nome de certo artista no reclame dos seus produtos.

23
Ainda um outro exemplo: A vende certo imóvel a B, que não regista a aquisição. Entretanto, A aliena
a mesma coisa a C, que regista. Apesar de ter adquirido a coisa do non dominus, a aquisição de C é
valida, por força dos princípios que regem a instituição do registo, em homenagem à segurança do
comércio jurídico. O que não pode, porém, persistir, por clamorosa violação dos princípios da justiça
comutativa, é o enriquecimento obtido por A à custa de B, recebendo pela segunda vez o preço da mesma
coisa.
24
Gagliano e Filho, Novo curso de direito civil - Obrigações, vol. IV, 2005, pág. 12.
O enriquecimento injusto25 pode dar lugar, tanto à acção de restituição ou à obrigação
de restituir, quando o enriquecimento se tenha já verificado, como à excepção do
enriquecimento sem causa, para evitar que ele se verifique. Assim sucede, por ex.,
quando a prestação devida, apesar de ter sido feita ao credor incapaz, haja enriquecido
do património deste, podendo o devedor opor-se, com esse fundamento, ao pedido de
anulação da prestação e de novo cumprimento da obrigação (art. 764.°, 2).

Prescrição do direito à restituição

O direito à restituição do que foi obtido sem justa causa está sujeito à prescrição de
três anos, a contar da data em que o credor teve conhecimento do direito que lhe
compete e da pessoa do responsável (art. 482.° do CC). É um dos poucos casos de
prescrição de curto prazo, constituindo a norma do artigo 482.° do CC, um caso paralelo
da disposição (art. 498.° do CC) que sujeita a prazo semelhante o direito de
indemnização fundado na responsabilidade civil extracontratual.

A razão de ser do prazo excepcional fixado no artigo 482.° está na pressão que a lei
pretende compreensivelmente exercer sobre o credor no sentido de usar do seu direito,
logo que tenha os elementos necessários para agir: o conhecimento do direito que lhe
assiste (como quem diz dos elementos constitutivos do seu direito) e da pessoa do
responsável.

Responsabilidade civil
25
O enriquecimento consiste na obtenção de uma vantagem de carácter patrimonial, seja qual for a forma
que essa vantagem revista. Umas vezes a vantagem traduzir-se-á num aumento do activo patrimonial
(preço da alienação de coisa alheia; lucro da edição de obra alheia ou da representação de peça alheia;
recepção de prestação não devida, porque a obrigação nunca existiu ou já havia sido cumprida, ou porque
fora cedida entretanto; bens adquiridos ou benfeitorias realizadas pelo gestor; etc.); outras, numa
diminuição do passivo (cumprimento efectuado por terceiro, na errónea convicção de estar obrigado a
efectuá-lo; pagamento efectuado pelo aceitante ao tomador, que libera o sacador em face deste); outras,
no uso ou consumo de coisa alheia ou no exercício de direito alheio, quando estes acros sejam
susceptíveis de avaliação pecuniária (instalação em casa alheia; apascentamento do rebanho próprio em
lameiro de outrem; consumo de bebidas ou de cigarros pertencentes a terceiro; utilização da assinatura de
outrem no teatro ou na ópera).
Segundo Noronha 26 a Responsabilidade contratual e extracontratual. Sistematização do
Código Civil. Entre as fontes das obrigações regula o Código, por a responsabilidade
civil. Na rubrica da responsabilidade civil cabe tanto a responsabilidade proveniente da
falta de cumprimento das obrigações emergentes dos contratos, de negócios unilaterais
ou da lei {responsabilidade contratual). 27 Como a resultante da violação de direitos
absolutos ou da prática de certos actos que, embora lícitos, causam prejuízo a outrem
(responsabilidade extracontratual).

O código civil Trata, porém, as duas formas de responsabilidade em lugares distintos,


deslocando o regime da responsabilidade contratual para o capítulo onde regula, ao lado
do cumprimento, as formas e efeitos do não cumprimento das Obrigações (arts. 798.° e
segs.). Conquanto se não tenha acompanhado inteiramente a doutrina tradicional na
diversidade de regime que os autores estabeleciam entre a responsabilidade
extracontratual e a contratual reconheceu-se que esta tinha aspectos específicos, cujo
lugar próprio se situava na zona do cumprimento e não cumprimento das obrigações.

Como há, todavia, uma série de problemas comuns às duas fontes da responsabilidade
e da maior importância, aliás, dentro do instituto o Código tratou-os conjuntamente, ao
fixar o regime próprio da obrigação de indemnizar, a que ambas podem dar lugar (ares.
562.° e segs.).

Responsabilidade Civil Extracontratual

Essa responsabilidade está assente na violação de deveres gerais de abstenção,


omissão ou não ingerência, correspondentes aos direitos absolutos. Nota-se na vasta
literatura jurídica sobre a matéria uma acentuada divergência de orientação entre os
autores que, fiéis às linhas mestras do pensamento clássico, persistem em filiar a
responsabilidade extracontratual na ideia da culpa (doutrina da responsabilidade
subjectiva) e aqueles que, pelo contrário, tendem a desprender-se cada vez mais desse
pressuposto individual, para olharem de preferência à necessidade ou conveniência

26
Noronha, O direito do contrato e seus princípios fundamentais, 2007, p.458
27
A expressão responsabilidade contratual não é inteiramente rigorosa, na medida em que a obrigação de
reparação do dano por ela abrangida nem sempre resulta da violação de um contrato. Por isso, alguns
autores sugeriram outras designações, como fossem a de responsabilidade negociai (para abranger a
violação das obrigações provenientes de negócio unilateral, inquestionavelmente sujeita ao mesmo
regime) ou a de responsabilidade obrigacional (para compreender o não cumprimento das obrigações em
sentido técnico, que não provenham de um negócio jurídico, mas da lei).
social de reparar o dano sofrido pelo lesado (teoria da responsabilidade objectiva),
desde que este não tenha agido com culpa grave ou com dolo).

Responsabilidade subjectiva ou por Culpa

Pressupostos, Aquele que, com dolo ou mera culpa, diz o artigo 483.°, Violar
ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger
interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da
violação.

Na perspectiva Marcelo28

A simples leitura do preceito mostra que vários pressupostos


condicionam, no caso geral da responsabilidade por fastos ilícitos, a
obrigação de indemnizar imposta ao lesante. Cada um desses
pressupostos desempenha um papel especial na complexa disciplina
das situações geradoras do dever de reparação do dano. É necessário,
desde logo, que haja um facto voluntário do agente (não um mero
facto natural causador de danos), pois só o homem, como destinatário
dos comandos emanados da lei, é capaz de violar direitos alheios.

Em 3° lugar, importa que baja um nexo de imputação do facto ao lesante. Em seguida,


é indispensável que à violação do direito subjectivo ou da lei sobrevenha um dano, pois
sem dano não chega a pôr-se qualquer problema de responsabilidade civil. Por último,
exige a lei que haja um nexo de causalidade entre o facto praticado pelo agente e o dano
sofrido pela vítima, de modo a poder afirmar-se, à luz do direito, que o dano e resultante
da violação. Só quanto a esses danos manda a lei indemnizar o lesado.

Reduzindo todos os requisitos que acabam de ser discriminados à terminologia técnica


corrente entre os tratadistas da matéria, dir-se-á que a responsabilidade pressupõe, nesta
zona: a) o facto (controlável pela vontade do homem); b) a ilicitude; c) a imputação do
facto ao lesante; d) o dano; e) um nexo de causalidade entre o facto e o dano.29

Pessoas obrigadas à vigilância de outrem

Assim é que, no caso de danos causados por incapazes (pessoas naturalmente


incapazes) a terceiros. se presume que houve culpa da parte das pessoas obrigadas a
vigiá-los (art. 491.°): pais, tutores, mestres de oficinas, professores, preceptores,
enfermeiros, guardas. Nem todos os obrigados a vigiar outras pessoas estão sujeitos à

28
Marcelo G. M. (2000), Lesão Contratual no Direito Brasileiro, op. São Paulo: RT;

29
Vaz Sérica., Culpa do devedor ou do agente, pág. 39
presunção de culpa, mas só aqueles cujo dever de vigilância é determinado pela
incapacidade natural do vigiado. A responsabilidade não abrange, assim, o graduado
que comanda um destacamento militar, em relação aos actos danosos praticados pelos
seus subordinados.

Danos causados por edifícios ou outras obras

Quanto aos danos causados por edifícios que venham a ruir, no todo ou em parte, vale
o mesmo regime (presunção de culpa, mas não responsabilidade objectiva) (J), nos
termos do artigo 492.° do cc, contanto que a derrocada ou queda do edifício provenha
comprovadamente de vício da construção ou de defeito de conservação.

A responsabilidade abrange o proprietário ou possuidor, por se presumir que é deles a


negligência havida na construção ou na conservação, que levou à derrocada do edifício
ou da obra). Mas, se o dano provier apenas de defeitos de conservação e esta competir
(por lei ou negócio jurídico) a outra pessoa (o usufrutuário: art. 1472 do CC), sobre esta,
exclusivamente, recairá a presunção legal de culpa, desde que não haja ao mesmo tempo
culpa do proprietário ou possuidor.

Danos causados por coisas ou animais ou por actividades perigosas

O artigo 493.° do Código Civil deslocou o eixo da responsabilidade do simples


domínio para a detenção da coisa ou do animal, com o dever de os vigiar. Com efeito, se
a responsabilidade assenta, no caso presente, sobre a ideia de que não foram tomadas as
medidas de precaução necessárias para evitar o dano, a presunção recai em cheio sobre
a pessoa que detém a coisa (armas, explosivos, depósito de combustíveis, substâncias
radioactivas ou insalubres, agulhas, agulhas médicas, caldeira, paiol de pólvora) ou o
animal, com o dever de os vigiar.

Responsabilidade Civil objectiva ou pelo Risco

Dos danos que cada um sofra na sua esfera jurídica só lhe será possível ressarcir-se à
custa de outrem quanto àqueles que, provindo de facto ilícito, sejam imputáveis a
conduta culposa de terceiro. Há largos e importantes sectores da vida em que as
necessidades sociais de segurança se têm mesmo de sobrepor às considerações de
Justiça alicerçadas sobre o plano das situações individuais. Por isso a responsabilidade
civil pelo risco decorre da prática de uma actividade.
Responsabilidade do comitente

Carácter objective da responsabilidade. O comitente responde, em determinados


termos, mas independentemente de culpa, pelos danos que o comissário cause a terceiro,
desde que o comissário tenha agido com culpa (art. 500.°). A lei civil assinala de modo
inequívoco o carácter objectiva da responsabilidade do comitente, afirmando (art. 500.°,
1) que ele responde, independentemente de culpa, e que (n.° 2) a sua responsabilidade
não cessa pelo facto de o comissário haver agido contra as instruções recebidas.30

Pressupostos da Responsabilidade do comitente

Os pressupostos da Responsabilidade do comitente são a) Vinculo entre comitente e


comissário (liberdade de escolha e relação de subordinação). Para que haja
responsabilidade objectiva deste, o primeiro requisito é que haja comissão que alguém
tenha encarregado outrem de qualquer comissão (art. 500 1). O termo comissão tem
aqui o sentido amplo de serviço ou actividade realizada por conta e sob a direcção de
outrem, podendo essa actividade traduzir-se tanto num acto isolado como numa função
duradoura, ter carácter gratuito ou oneroso, manual ou intelectual.

b) Responsabilidade do comissário. A responsabilidade (objectiva) do comitente


pressupõe, por último, a responsabilidade do próprio comissário, como se diz na parte
final do n.° 1 do artigo 500.° do cc, desde que sobre este (comissário) recaia também a
obrigação de indemnizar» f1). Este requisito tem como resultado que o comitente só
responde (objectivamente) quando haja culpa do comissário. Essa culpa pode ser a
simples culpa presuntiva do comissário (arts. 503.°, n.° 3, 1/ parte e 506.°, n.° 1), que
este não consiga elidir.

No domínio da responsabilidade objectiva, o regime das relações entre comitente e


comissário veste por um figurino diferente do traçado no artigo 500.°. Se é o comissário
quem conduz, no interesse do dono do veículo, e o acidente causador do dano a terceiro
resulta, não de culpa comprovada ou presuntiva do condutor, mas de causa de força
maior inerente ao veículo, é o dono da viatura, e só ele quem responde perante o terceiro
lesado, nenhuma responsabilidade havendo por parte do comissário (art. 503.°, n.° 1).

30
Sobre a responsabilidade do devedor pelos actos dos auxiliares de que se sirva no cumprimento da
obrigação (já existente), veja-se o disposto no artigo 8OO do CC).
Se, pelo contrário, é o comissário quem conduz o carro da entidade patronal, fora do
exercício da sua comissão, é ele e só ele quem responde objectivamente, nos termos do
n.° 1 do artigo 503.° do CC, por força do disposto no n.° 3 (2 aparte) da mesma
disposição. Havendo culpa efectiva, comprovada, do condutor e encontrando- -se este
no pleno exercício da sua função de comissário, é evidente que cem inteira aplicação o
disposto no artigo 500.°

Danos causados por Animais

Regime legal: I) Pessoa responsável. Já na subsecção relativa à responsabilidade por


factos ilícitos, a propósito dos casos de presunção de culpa, se faz referência à obrigação
de indemnizar certos danos causados por animais (art. 493.°). O artigo 502.° refere-se
também aos danos causados por animais, mas estabelecendo para eles um princípio de
responsabilidade objectiva, a cargo do respectivo utente (!).É o regime que se depreende
do texto do preceito (que não ressalva a falta de culpa, como se faz no art. 493. c) e
ainda da sua inserção na subsecção que trata da responsabilidade pelo risco.

A diferença de regime explica-se pela diversidade de situações a que as duas


disposições se aplicam: o artigo 493.° do CC, refere-se às pessoas que assumiram o
encargo da vigilância dos animais (o depositário, o mandatário, o guardador, o tratador,
o interessado na compra que experimenta o animal, etc.), enquanto o disposto no artigo
502.° do CC, é aplicável aos que utilizam os animais no seu próprio interesse (o
proprietário, o usufrutuário, o possuidor, o locatário, o comodatário). É quanto a estas
pessoas que tem inteiro cabimento a ideia do risco: quem utiliza em seu proveito os
animais, que, como seres irracionais, são quase sempre uma fonte de perigos, mais ou
menos graves, deve suportar as consequências do risco especial que acarreta a sua
utilização.

Normalmente, este fundamento da responsabilidade atinge o proprietário ou aqueles


que, como o usufrutuário ou o possuidor, têm um direito real de gozo sobre o animal
(nada impedindo, em princípio, que o utente do animal seja um incapaz). Porém, se o
dono o ceder por empréstimo a outrem, também o comodatário o utiliza em seu
proveito, sendo justo que responda pelos danos que a utilização do animal venha a
causar. Já não responderá, entretanto, nos termos do artigo 502.° do CC, a pessoa a
quem o dono do animal, rendo que ausentar-se, pediu que o guardasse.

Se o animal é alugado, a sua utilização passa a fazer-se canto no interesse do locador


(que percebe a respectiva retribuição), como no do locatário que directamente se serve
dele no seu interesse, devendo ambos considerar-se responsáveis perante o terceiro
lesado. No caso de o utente haver incumbido alguém da vigilância dos animais, poderão
cumular-se as duas responsabilidades (a prevista no art. 493.° e a fixada no art. 502.°)
perante o terceiro lesado, caso o facto danoso provenha da presuntiva culpa do vigilante;
não havendo culpa deste, a obrigação de indemnizar recairá apenas, com o fundamento
do risco, sobre a pessoa do utente, caso se verifiquem os pressupostos de que ela
depende.

Danos causados por veículos danos causados por Veículos

Regime da responsabilidade: A) Pessoas responsáveis. Também no domínio dos


acidentes de viação, ou seja, no capítulo dos danos causados por veículos de circulação
terrestre f1), vigora o princípio da responsabilidade objectiva, fundada no risco.
Responde pelos danos que o veículo causar, nos termos do arartigo 503.° do Código
Civil, quem tiver a direcção efectiva dele e o utilizar no seu próprio interesse (ainda que
por intermédio de comissário). A fórmula, aparentemente estranha, usada na lei ter a
direcção efectiva do veículo destina-se a abranger todos aqueles casos (proprietário,
usufrutuário, locatário, comodatário, adquirente com reserva de propriedade f1), autor
do forro do veículo, pessoa que o utiliza abusivamente).

Danos causados por instalações de energia eléctrica ou gás


Regime da responsabilidade correspondente. Como a energia eléctrica e o gás são
coisas cuja utilização é bastante perigosa, pelos riscos que envolve, compreende-se que
também relativamente a uma e outro vigore o princípio da responsabilidade objectiva.

Os termos de tal responsabilidade são paralelos, por força do preceituado no artigo


509.° do CC, aos que regem a obrigação de indemnizar em matéria de acidentes de
viação. As empresas respondem, não só pelos acidentes devidos a culpa dos seus
órgãos, agentes ou representantes ou dos seus comissários, como também pelos devidos
ao mau funcionamento do sistema de condução ou entrega ou aos defeitos da própria
instalação. Quanto à instalação, porém, a responsabilidade pode ser afastada mediante a
prova de que ela se encontrava, ao tempo do acidente, de acordo com as regras técnicas
em vigor e em perfeito estado de conservação.

Conclusão
Chegado a este ponto conclui-se que sendo as obrigações uma relação jurídica
estabelecida entre devedor e credor e cujo objecto consiste em prestação de dar, fazer ou
não fazer alguma coisa. O direito das obrigações regula directamente relações sociais,
na perspectiva das relações estabelecidas directamente ente indivíduos. A forma de
cooperação a que diz respeito o direito das obrigações pressupõe uma relação entre
sujeitos autónomos, independentes, e tem por objecto já não directamente uma coisa,
mas uma “prestação”, isto é, um comportamento de um dos sujeitos (o devedor) no
interesse ou para satisfação de um interesse do outro sujeito (o credor).

E por sua vez do ponto de vista jurídico é o conjunto das normas jurídicas reguladoras
das relações de crédito, sendo estas as relações jurídicas em que ao direito subjectivo
atribuído a um dos sujeitos corresponde um dever de prestar especificadamente imposto
a determinada pessoa. É o dever de prestar, a que uma pessoa fica adstrita, no interesse
de outra, que distingue a relação obrigacional de outros tipos próximos de relações
(nomeadamente dos direitos reais, dos direitos de autor, dos direitos de personalidade e
também dos direitos potestativos em geral).

As obrigações têm um regime próprio de fontes, que apesar de gerar desentendimento


a nível da doutrina devido o seu carácter plurivoco, no ordenamento jurídico
Moçambicano as obrigações em consonância, com o previsto art.º 397º do CC,
Obrigação é o vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com
outra à realização de uma prestação. E tem como fontes nomeadamente: a) Contratos
previsto no artigo 405 do cc; b) Negócios unilaterais previsto o artigo 457 do cc; c)
gestão de negócios previsto no artigo 464 do cc; d) Enriquecimento em causa artigo
473; e) Responsabilidade Civil nos termos do artigo 483 do cc.

Referências Bibliográficas
 Legislação

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