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INTRODUÇÃO AO

ESTUDO DO DIREITO
II

INTRODUÇÃO AO DIREITO II
AULA 01

Apresentação da Disciplina
Indicação da Bibliografia
Relação Jurídica

Conceito e conteúdo.
Relações Sociais Comuns e Relação Jurídica: Características e distinções.
Elementos da relação jurídica: sujeitos, objeto, vínculo, garantia e fato
jurídico – noções gerais.1

Conceito e conteúdo:

1
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 165/167 – pg 291/297.
1
A doutrina da Relação Jurídica tem origem em Savigny, para quem a Relação
Jurídica é: “um vínculo entre pessoas, em virtude do qual uma delas pode
pretender algo a que a outra está obrigada”. Tal definição encontrou amparo
no nosso Direito, principalmente através de grandes juristas como Pontes de
Miranda e Miguel Reale.
Hans Kelsen discorda, na medida em não enxerga a relação entre pessoas,
mas sim, o vínculo entre fatos entrelaçados por normas jurídicas. O
posicionamento de Kelsen, contudo sempre encontrou acolhida, visto ser
originária do prócer da corrente normativista.
A Relação Jurídica integra o elenco dos conceitos jurídicos fundamentais e vem
a ser o ponto de convergência de diversos componentes do Direito. Aliás,
segundo Paulo Nader, “São as relações jurídicas que dão movimento ao
Direito. Em cada uma ocorre a incidência de normas jurídicas, que definem os
direitos e os deveres dos sujeitos”.

Relações Sociais Comuns e Relação jurídica: Características e distinções

Considerando que o homem é um ser social por natureza, a necessidade de


suprir suas carências o leva – salvo raras distorções – a conviver em
sociedade. Da convivência surgem as relações sociais.
Quando as relações de vida passam a repercutir no equilíbrio social, não
podem permanecer no seio da sociedade de forma aleatória. É nesse
momento, quando as relações sociais se tornam negativas ou prejudiciais ao
interesse coletivo, que o Estado tem o dever de intervir e normatizar as
relações sociais, transmutando-as em norma jurídica.

Pode ainda o Estado faze-lo de forma positiva, quando determinada relação


social beneficia esse mesmo interesse comum. Reconhecendo a sua licitude,
pode discipliná-la e até mesmo fornecer auxílio estatal.

Logo, as relações jurídicas estão intimamente ligadas à Política Jurídica. É ela


que indica ao legislador as relações sociais que se sujeitam a normatização.

Elementos:

1) Sujeito:
a. Ativo;
b. Passivo.
2) Vínculo
3) Objeto;
4) Garantia;
5) Fato jurídico 2

2
Paulo Nader desconsidera fato jurídico como elemento, pois considera-o mais um
pressuposto das relações jurídicas. Será estudado apropriadamente na Aula 7.
2
Sujeito:

Para se tratar dos sujeitos, conquanto elementos da Relação Jurídica, é mister


que se tenha a compreensão do conceito da chamada “alteridade”, que significa a
relação de homem para homem.

Sujeito Ativo – detém o direito subjetivo. É a pessoa que, na relação jurídica


ocupa a situação jurídica ativa, ou seja, é o portador do direito subjetivo que
tem o poder de exigir do sujeito passivo o cumprimento do dever jurídico.
Sujeito passivo – possui o dever jurídico. Encontra-se no pólo oposto. É o
indivíduo que integra a relação jurídica passiva, ou seja, com a obrigação de
uma conduta ou prestação em favor do sujeito ativo.

É impossível a relação jurídica sem a bilateralidade de sujeitos, já que não


existe direito onde não há dever.

Vínculo:

Vínculo de Atributividade, na denominação de Paulo Nader, pode ter origem


tanto na lei, quanto no contrato.
No entender de Miguel Reale, “É o vínculo que confere a cada um dos
participantes da relação o poder de pretender ou exigir algo determinado ou
determinável”.

Objeto:

O Vínculo existente na relação jurídica está sempre em função de um objeto. As


relações jurídicas são estabelecidas visando a um fim específico.
O objeto da relação jurídica recai sempre sobre determinado bem, que tanto
pode ser patrimonial ou não.
Ex: em um contrato onde se prevê a construção de uma casa, o objeto é a
prestação de serviço; o sujeito ativo é o contratante, e o passivo o contratado;
o vínculo se origina no contrato.

Garantia:

A partir do conceito de que cada relação jurídica possui sujeito ativo e passivo,
vínculo e objeto, há que se pensar necessariamente em um quarto elemento que
vem aperfeiçoá-la, qual seja a garantia.
Podemos, afirmar, portanto, que a garantia decorre justamente do poder de
coerção da lei. Seja o vínculo a própria lei ou o contrato – que existe, pois a lei
prevê a sua existência – é o fator de coerção que irá propiciar a garantia, visto que
o descumprimento por parte do sujeito passivo em cumprir sua obrigação
acarretar-lhe-á sanção como forma de punição.

Fato Jurídico:

3
Conforme comentado acima, na visão de Paulo Nader, o fato jurídico antecede
a relação jurídica, razão pela qual não pode ser um de seus elementos. Na
verdade, tem fundamento sua assertiva já que, para que possa existir uma
relação jurídica, a mesma deve advir de fato pré-existente.
Em uma visão mais global, o Direito decorre do fato. Se não existir um
elemento causador (fato), não haverá nada a ser avaliado (valor), nem a
necessidade de uma regra (norma) para regular eventual direito.
Como bem define o Prof. José Acir Lessa, “Fato é todo acontecimento que
ocorre no meio social”.3

AULA 02

Relação Jurídica 4

Espécies 5

Relações Jurídicas quanto ao sujeito:

SIMPLES: Quando as relações contém apenas um direito subjetivo, ou seja,


um dos sujeitos ocupa a posição ativa e o outro a posição passiva. Aquele que
se coloca do lado ativo é o titular do direito subjetivo. Aquele que se coloca do
lado passivo é o que tem o dever jurídico para com o outro. Exemplo: relação
em que se configure um empréstimo de dinheiro.

COMPLEXAS: Quando encerram vários direitos subjetivos em cada lado,


figurando como sujeito ativo e passivo os seus titulares. Exemplo: contrato de
trabalho, contrato de locação de imóvel, dentre outros.

ABSOLUTAS: Quando a coletividade figura como sujeito passivo da relação


jurídica. Seus efeitos vinculam todas e quaisquer pessoas do universo e não
apenas aquelas diretamente envolvidas. Nas relações dessa natureza está
implícita a obrigação de respeito ao direito de outrem que seja o respectivo

3
José Acir Lessa Giordano – Direito Civil, 2ª – Parte IV, Cap I - pg 169.
4
Paulo Dourado de Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, Cap. XXVII.
5
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, Caps. XXXV e XXXVI./ Paulo Dourado de Gusmão –
Introdução ao Estudo do Direito, Caps, XVII e XVIII.
4
titular do direito. Por isso, diz-se que operam erga omnes (contra todos, para
todos, que atinge a todos). Exemplo: Ocorre com o direito de propriedade ao
qual todos devem respeito.

RELATIVAS: Quando uma pessoa ou um grupo de pessoas figura no pólo


passivo da relação jurídica. Envolvem somente as partes relacionadas entre si.
A obrigação ou dever recais somente sobre determinada(s) pessoa(s),
perfeitamente identificada(s) ou identificável(eis), não tendo qualquer
ingerência quanto às demais pessoas não envolvidas. São denominadas, ainda,
como relações pessoais. Exemplo: É o caso das relações da família, em que
os direitos e deveres circunscrevem-se, exclusivamente às pessoas dos
cônjuges, dos pais e dos filhos; ou, nas relações sucessórias, cujos direitos e
obrigações restringem-se às pessoas ligadas à herança, tais como os herdeiros
legítimos e testamentários, legatários, credores do de cujus, dentre outros.

Relações Jurídicas quanto ao objeto: Podem ser pessoais, obrigacionais e reais,


conquanto direitos da pessoa, de uma prestação ou de uma coisa.

PESSOAIS: Quando relativas aos direitos das pessoas. A conduta de uma parte
depende da conduta da outra parte. Ocorrem nas relações estabelecidas no Direito
de Família. Exemplo: Pátrio-poder, casamento, etc...;
OBRIGACIONAIS: Quando relativas às prestações, havendo liberdade de
disposição. A conduta de uma parte é o meio de satisfazer o interesse da outra
parte. Ocorrem nos contratos, de modo geral. Exemplo: O contrato de compra e
venda, ao credor, gera a obrigação de entregar a coisa; ao devedor gera a
obrigação de pagar a coisa.
REAIS: Quando relativas às coisas. Nessas relações, sobressaem os poderes e
as faculdades que têm o titular em relação à coisa, colocando-se as demais
pessoas do universo na situação jurídica de não impedir que ele os exerça.
Exemplo: A transferência da propriedade de um titular para outro.

Relações Jurídicas quanto às normas: No que tange à disciplina normativa,


podem ser tratados em várias subdivisões.

CIVIS: São aquelas estabelecidas pela lei aos particulares e reguladas pelos
direito privado. Exemplo: O art. 159 do C.C. determina: Aquele que, agindo por
ação ou omissão, causar prejuízo a outrem, fica obrigado a indenizar;

PENAIS: são aquelas que decorrem da infringência de um dever jurídico


estabelecido na lei penal. Exemplo: O art. 121 C.P. proíbe matar. Se ocorre o
homicídio, surge a relação jurídica entre o Estado e o agente, da qual pode resultar
aplicação da sanção prevista em lei.

COMERCIAIS: São aquelas que dizem respeito às atividades dos comerciantes


em geral. Exemplo: O art. 10, I, do Código Comercial diz que todos os

5
comerciantes são obrigados a seguir uma ordem uniforme de contabilidade e
escrituração, e a manter livros para essas finalidades;

TRABALHISTAS: São aquelas que dizem respeito à convivência entre


empregador e empregado dentro da empresa moderna. Exemplo: O art. 391 da
CLT afirma não constituir justo motivo para a rescisão do contrato de trabalho da
mulher, o fato de haver contraído matrimônio ou de se encontrar em estado de
gravidez. Ocorrendo o contrário, estabelece-se uma relação jurídica trabalhista
entre empregada e empregador.

CONSTITUCIONAIS: São aquelas que dispõem sobre a estrutura do Estado,


definem a função de seus órgãos e estabelecem as garantias fundamentais da
pessoa. As normas constitucionais dispõem sobre a auto-organização do Estado,
limitando a ação de governo ao estabelecer faixas de competência; bem como
consagram o Direito de garantia das pessoas, sendo certo que as constituições
modernas estabelecem todo um rol de garantias fundamentais do homem.6

ADMINISTRATIVAS: São aquelas que buscam a regulação dos serviços


públicos. Consideramos serviço público, a atividade estatal voltada para a
satisfação das necessidades coletivas essenciais, dentre as quais, podemos citar os
serviços de correios, fornecimento de água e energia elétrica, seguranças, obras
públicas, etc. Está profundamente inserida no nosso cotidiano, pois não apenas
estabelece as regras internas da administração pública, como tecem parâmetros de
conduta externa, tais como os códigos de postura, caça e pesca, extratividade
mineral, e outros. Ainda em plena fase desenvolvimento no Brasil, busca dar à
administração pública uma “performance” mais profissional de modo a dar mais
eficiência no atendimento à demanda dos serviços públicos. 7

TRIBUTÁRIAS: Decorrentes das relações financeiras. É o braço que rege


impostos e taxas, impondo sanções para o não pagamento dos mesmos. Suas
sanções são tanto patrimoniais (multa, correção monetária, etc) quanto pessoais
(prisão), nesse caso com o diferencial de que, a prisão pode ser atenuada caso o
contribuinte infrator quitar o débito fiscal, quando notificado para tal.8

PROCESSUAIS: São aquelas que disciplinam o processo judicial, ou seja, a


seqüência de atos destinados a obter a sentença definitiva. Em termos mais claros,
propiciam os meios necessários para fazer valer o direito material. Sua distinção do
Direito Material é recente e divide-se em Processo Civil e Processo Penal. São
chamadas triangulares ou trilaterais, pois além dos sujeitos está vinculada à
atuação do juiz.

1. O Direito Processo Civil regulamenta o processo que tem por


objeto, matéria cível, ou seja, todo litígio não encampado na
âmbito penal. A iniciativa depende da vontade das partes e

6
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 196 – pg 342.
7
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 197 – pg 343, 344./ Paulo Dourado de Gusmão –
Introdução ao Estudo do Direito, 102 – 173, 174
8
Paulo Dourado de Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, 103 – 174.
6
seus efeitos alcançam somente os indivíduos que são parte no
processo.
2. O Direito Processual Penal dispõe sobre a ação penal, ou seja,
o exercício do poder punitivo do Estado e, ao contrário de que
ocorre no cível, a ação pode sofrer alteração no seu decorrer,
atingindo indivíduos que inicialmente não integravam o
processo.
3. Além das distinções clássicas, no Brasil, começa-se a discutir a
existência de relação processual administrativa, o que, num
primeiro instante faz bastante sentido, na medida em que o
processo administrativo segue ritualística bastante similar à do
Direito Processual.9

Relações Jurídicas podem ser ainda: Direito Público (de subordinação) Direito
Privado (de coordenação)

DIREITO PÚBLICO: Quando o Estado participa da relação jurídica com seu


poder de mando (imperium) que lhe é inerente. Ocorrem quando são disciplinados
os interesses gerais da coletividade, nos quais o interesse público se impõe.
Exemplo: Relações entre o Fisco e o contribuinte, relações entre o Estado e seus
funcionários, relações entre o Estado e cidadão que teve seu imóvel desapropriado,
etc;
DIREITO PRIVADO: Quando integradas por particulares em plano de igualdade,
podendo nelas o Estado participar, desde que não investido de sua autoridade ius
imperium. Exemplo: As relações decorrentes de um contrato, seja entre
particulares, seja entre o Estado e uma pessoa física ou jurídica, é uma relação de
direito regulada pelos instintos constantes do Direito Civil.

9
Paulo Dourado de Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, 111 – pg. 182 e 183
7
AULA 03

Relação Jurídica

Elementos externos
Pessoas Naturais e Jurídicas
Personalidade Jurídica – Aquisição e Perda
Comoriência
Natureza Jurídica do Nascituro
Pessoa Jurídica
Desconsideração da Pessoa Jurídica
Análise dos institutos jurídicos à luz do CC/1916 e CC/2003

Elementos externos

Sujeito Ativo e Passivo:

A Sujeito Ativo – detém o direito subjetivo. É a pessoa que, na relação jurídica


ocupa a situação jurídica ativa, ou seja, é o portador do direito subjetivo que
tem o poder de exigir do sujeito passivo o cumprimento do dever jurídico.
Sujeito passivo – possui o dever jurídico. Encontra-se no pólo oposto. É o
indivíduo que integra a relação jurídica passiva, ou seja, com a obrigação de
uma conduta ou prestação em favor do sujeito ativo.
É impossível a relação jurídica sem a bilateralidade de sujeitos, já que não
existe direito onde não há dever.

Pessoas reconhecidas pela Ordem Jurídica: Pessoas Naturais e


Jurídicas

Maria Helena Diniz entende que “pessoa” é o ente físico ou coletivo


suscetível de direitos e obrigações, sendo sinônimo de sujeito de direito.10
Sujeito de direitos é o ente que, para o Direito, pode ser o titular de
direitos e obrigações. Ente que, para o Direito Moderno, se reduz à pessoa,
seja a pessoa física (homem) seja a pessoa jurídica (sociedade civil,
sociedade comercial, fundação).11

PESSOA NATURAL:

10
Maria Helena Diniz – Compêndio de Introdução à Ciência do Direito – 5-B, pg. 503.
11
Paulo Dourado de Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, 153 – p. 271.
8
O Homem. O Ser Humano. A Pessoa Física.
Pessoa Natural é o ser humano considerado como sujeito de direitos e
obrigações.12

PESSOA JURÍDICA:13

Entidade a que a Lei empresta personalidade, isto é, são seres que atuam na
vida jurídica, com personalidade diversa das dos indivíduos que a compõe,
capaz de ser sujeito de direitos e obrigações na ordem civil. Sua personalidade
não se confunde com a personalidade de seus integrantes.
A pessoa jurídica surge para suprir a deficiência humana. Freqüentemente, o
homem não encontra forças suficientes para realizar empreitadas de maior
vulto, de forma que busca se associar a outras pessoas visando a realização e
um objetivo.
Não necessariamente, a pessoa jurídica irá se nortear por finalidades
econômicas, já que, por vezes, indivíduos se unem para realizar atividades
recreativas, religiosas, de caridade ou assistência social, dentre outros.

Personalidade Jurídica – Aquisição e Perda

Personalidade: Para o Direito, é a qualidade que tem a pessoa de ser sujeito


de direitos e obrigações. Afirmar que o homem tem personalidade é o mesmo
que dizer que ele tem capacidade para ser titular de direitos.14

A aquisição da personalidade dá-se com o nascimento (art. 2º -C.C.), ao passo


que a perda da personalidade ocorre com a sua morte (art. 6º - C.C.).
Nascituro é o ser já concebido, mas que ainda se encontra no ventre materno.
A lei não lhe concede personalidade, a qual somente lhe será conferida se
nascer com vida.
No instante em que o indivíduo falece, morre com ele a sua personalidade, ou
seja, sua aptidão para ser titular de direitos. Seus bens, entretanto, passam
para os herdeiros, já que sua morte produz efeitos civis.

Comoriência

Ocorre comoriência quando pessoas falecem na mesma ocasião, sem que se


possa aferir qual delas pré-morreu à outra. Está intimamente ligado ao fim da
personalidade e é relevante, na medida em que influi na questão sucessória.15

Em obra recente, Silvio de Salvo Venosa verifica que o novo Código Civil em seu
art. 8º, repete ipsis litteris a redação do art.11 do CC/1916.

12
Maria Helena Diniz - Compêndio de Introdução à Ciência do Direito – 5-B, pg. 505.
13
Sílvio Rodrigues - Direito Civil (Parte Geral), 40 – 85 a 87.
14
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 16 – 35 e 36.
15
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 17 – 37.
9
o Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se
podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros,
presumir-se-ão simultaneamente mortos.16

Natureza Jurídica do Nascituro

Duas correntes divergem quanto ao início da personalidade. Enquanto uma


defende que aquela somente se inicia com o nascimento com vida; a outra
entende que a personalidade jurídica se adquire na concepção.
O legislador pátrio optou pela primeira corrente. O Art. 2º do CC dispõe: ”Art.
2o. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei
põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.
Ao referir-se ao nascituro, a lei alcança o embrião, garantindo-lhe direitos.17 O
nascituro tem proteção jurídica de ordem patrimonial, subordinada a uma
condição suspensiva. Se nascer com vida, os bens que lhe foram reservados,
lhe pertencerão...Se nascer com vida, a aquisição ocorre a partir do momento
da concepção. 18

Pessoa Jurídica

Conceito

É a unidade de pessoas naturais ou de patrimônios que visa a consecução de


certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e
obrigações.19

Classificação

A principal classificação dos seres coletivos é uma projeção da maior divisão do


Direito Positivo (art. 40 CC).20

1. Pessoa Jurídica de Direito Público

1.1. Pessoa Jurídica de Direito Público Interno – art. 41 C.C.

Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:


I - a União;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios;
IV - as autarquias;
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.

1.2. Pessoa Jurídica de Direito Público Externo – art. 42 C.C.

16
Sílvio de Salvo Venosa – Código Civil (Texto Comparado) – pg. 43
17
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 163 – p. 284.
18
Paulo Dourado de Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, 153 – p. 272.
19
Maria Helena Diniz - Compêndio de Introdução à Ciência do Direito – 5-B3, pg. 508.
20
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 164 – p. 289/290.
10
Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados
estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional
público.
2. Pessoa Jurídica de Direito Privado – art. 44 C.C.

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.

As associações (universitas personarum) são entidades que visam a fins


culturais, beneficentes, esportivos, religiosos. Não carregam em seu bojo o
objetivo de lucro.
As fundações (universitas bonorum) caracterizam-se pela existência de um
acervo econômico, instituído como instrumento ou meio para a realização de
um fim.
As sociedades são pessoas jurídicas que objetivam fins lucrativos, com a
finalidade de partilhar os resultados com seus membros. À exceção da
sociedade anônima, que continua regida por lei própria, as demais se acham
reguladas no C.C., a partir do art. 981.

Formação

As pessoas jurídicas de direito público, iniciam-se em razão de fatos históricos,


de criação constitucional, de lei especial e de tratados internacionais, quando se
tratar de pessoa jurídica de direito público externo.21

O Processo genético da pessoa jurídica de direito privado apresenta duas fases:

Ato Constitutivo: Antes de tudo, deve ser escrito. Tem-se a


constituição da pessoa jurídica por ato jurídico unilateral inter vivos
ou causa mortis, nas fundações, e por ato jurídico bilateral ou
plurilateral inter vivos, nas associações e sociedades.
Determinadas sociedades dependem de prévia autoriza-ção
governamental para adquirirem personalidade jurídica, como por
exemplo, as sociedades estrangeiras, agencias de seguro, caixas
econômicas, bolsas de valores, etc..

Registro: Para que a pessoa jurídica de direito privado exista


legalmente é necessário inscrever os contratos, estatutos ou
compromissos no seu registro peculiar, regulado por lei especial. O
mesmo deve ocorrer quando conseguir a imprescindível autorização
governamental.
Uma vez registrado o estatuto, contrato ou instrumento similar, a
pessoa jurídica começa a existir. (art. 45, CC)

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição
do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou

21
Maria Helena Diniz - Compêndio de Introdução à Ciência do Direito – 5-B3, pg. 513.
11
aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o
ato constitutivo.22

Representação

Partindo do pressuposto de que, uma vez registrada a pessoa jurídica, a


mesma adquire personalidade, cabe dispor sobre a sus representação, ou seja, que
irá representa-la judicialmente e extra-judicialmente.
Para exercer tais direitos, para atuar na vida cotidiana, a pessoa jurídica recorre
a pessoas físicas que a representam.
O CC/1916 dispunha sobre a matéria em seu artigo 17:

Art. 17. As pessoas jurídicas serão representadas, ativa e passivamente, nos


atos judiciais e extrajudiciais, por quem os respectivos estatutos
designarem, ou, não o designando, pelos seus diretores.

O CC/2003 embora dispense a repetição, em seu art. 46, III, dispõe o seguinte:

Art. 46. O registro declarará:


III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e
extrajudicialmente;

Responsabilidade

A pessoa jurídica é responsável na órbita civil, contratual e extracontratual.


No que se refere à responsabilidade contratual, a matéria é pacífica, e, uma vez
inadimplente, a situação é contemplada no art. 389 do C.C.

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e
atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado.

No entender de Silvio Rodrigues a responsabilidade extracontratual não foi


recepcionada no novo CC, já que não há dispositivo equivalente ao do art. 1521 do
CC/1916. Assim, o ato ilícito cometido por representante da pessoa jurídica, não
mais a vincula como responsável, salvo, se provada a sua participação no evento.
Traz o novo códice uma inovação no que tange à representação e
responsabilidade. (art. 50)
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou
pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério
Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações
de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa
jurídica.

Extinção

22
O Código Civil 1916 dispunham sobre a matéria em seu art. 18 (ver Silvio de Salvo Venosa).
12
O C.C./1916 contemplava a extinção da pessoa jurídica. O art. 21 dispunha da
seguinte forma.

Art. 21. Termina a existência da pessoa jurídica:


I – pela sua dissolução, deliberada entre seus membros, salvo o direito de
minoria e de terceiros;
II – pela sua dissolução, quando a lei determinar;
III – pela sua dissolução em virtude de ato do Governo, que lhe casse a
autorização para funcionar, quando a pessoa jurídica incorra em atos opostos aos
seus fins ou nocivos ao bem público.

O novo CC dispõe diretamente sobre a dissolução, sem utilizar a Expressão


extinção: (verbis)

Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu
funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua.
§ 1o Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua
dissolução.
§ 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais
pessoas jurídicas de direito privado.
§ 3o Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica.

Desconsideração da Pessoa Jurídica

“DISREGARD THEORY”: Como em toda parte do mundo, as pessoas jurídicas


sob a forma de sociedade por ações se difundiram enormemente, inclusive sob a
forma de sociedade holding, cujo escopo primeiro é ocultar os verdadeiros
proprietários dos bens. A possibilidade que tais sociedades oferecem, de ocultar a
pessoa do verdadeiro proprietário dos bens, provocou, em alguns países, uma
reação da doutrina e da jurisprudência., visando por termos aos abusos que esta
prática propiciaria.

Essa concepção desenvolvida por alguns tribunais americanos e alemães é


conhecida naquele primeiro país pela denominação de disregard theory ou
disregard of the legal entity, ou ainda pela locução lifting the corporate veil, ou
seja, erguendo-se a cortina da pessoa jurídica. O que pretendem os adeptos
dessa doutrina é justamente permitir ao juiz erguer o véu da pessoa jurídica,
para verificar o jogo de interesses que se estabeleceu em seu interior, com o
escopo de evitar o abuso e a fraude que poderiam ferir os direitos de terceiros
e o Fisco.23

Com sua clareza habitual, Silvio Rodrigues ensina que a disregard theory vem a
ser a defesa jurídica quando se recorre à ficção da pessoa jurídica para enganar
credores, fugir da incidência da lei ou mesmo para encobrir atos ilícitos ou
desonestos. Aponta que essa teoria, muito provavelmente, inspirou a redação
do referido art. 40, do CC. Não obstante, lembra que o art. 28 do Código de
Proteção e Defesa do Consumidor já autoriza o juiz a desconsiderar a persona-
lidade jurídica da sociedade nos casos de abuso, infração da lei, etc, quando
resultar em prejuízo ao consumidor.
23
Sílvio Rodrigues - Direito Civil (Parte Geral), 46 – 96/97.
13
AULA 04

Capacidade de direito ou gozo e capacidade de fato ou de exercício


da pessoa física
Maioridade e Emancipação
Hipóteses legais de incapacidade civil: Absoluta e Relativa
Declaração de ausência: finalidade.
Análise dos institutos jurídicos à luz do CC/1916 e CC/2002

Capacidade de direito ou gozo e capacidade de fato ou de


exercício da pessoa física24

Um dos atributos da pessoa é o fato de ser dotada de personalidade


(jurídica). Por ter personalidade isto implica em conseqüências, uma destas
conseqüências é a capacidade. Capacidade é a aptidão que qualquer pessoa
tem de exercer direitos e deveres. Todo aquele que tem personalidade tem
uma determinada capacidade de direito e pode ter uma capacidade de fato. Ele
pode ter apenas a capacidade de direito, nem sempre a pessoa tem a
capacidade de fato. Se possuir as duas o indivíduo tem uma capacidade plena.

24
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 18 – 39.
14
Toda a pessoa tem capacidade ao nascer (de direito) e esta capacidade, que
mais tarde pode ser de direito e de fato, só termina quando a pessoa morre.
Todo ser humano, desde o seu nascimento até a sua morte tem personalidade,
ou seja, capacidade para ser titular de direitos e obrigações. No entanto, não
quer dizer que todos podem exercer tais direitos, em razão de situações
pessoais.
A lei, tendo em vista a idade, saúde ou o desenvolvimento mental de certas
pessoas, ainda que lhes confira personalidade, não lhes permite o exercício
pessoal de direitos, com o intuito de protegê-los.
Tais pessoas são classificadas como incapazes. Incapacidade nada mais é, do
que o reconhecimento da inexistência, numa pessoa, daqueles requisitos que a
lei considera indispensáveis para que possa exercer seus direitos.

Maioridade e Emancipação

Maioridade:25

De acordo com o art. 5º do CC, aos 18 anos finda a menoridade, ficando o


indivíduo habilitado a exercer todos os atos da vida civil. Trata-se de um dispositivo
de caráter geral, rígido e que não admite dúvidas. Mesmo sendo precoce, o menor
continuará sendo incapaz até completar 18 anos, exceto nos casos de
emancipação.

Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada
à prática de todos os atos da vida civil.

O CC/1916 garantia a maioridade somente aos 21 anos.


Se olharmos bem verificaremos que não há uma total coerência em relação a
capacidade. A lei brasileira permite o voto aos 16 anos, mas não permite dirigir.
A responsabilidade penal só ocorre aos 18 anos, mas hoje em dia existem
marginais perigosos bem mais novos. Isto ocorre porque os critérios de idade
são estabelecidos com base em dados estatísticos e por isso nem sempre se
ajustam perfeitamente a todos os casos.

Emancipação:26

É a aquisição da capacidade civil, antes da idade legal.


O parágrafo único do mesmo art. 5º, elenca os casos de emancipação.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:


I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento
público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o
tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

25
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 24 – 54/55.
26
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 25 – 55/59.
15
No caso do inciso I, a emancipação dar-se-á por ato unilateral quando os
responsáveis, reconhecendo que o filho possui maturi-dade suficiente,
proclamam-no plenamente capaz. No entanto, a emancipação enseja na
lavratura de escritura pública, sem a qual o ato não terá validade. A
emancipação dar-se-á, ainda, por decisão judicial. Uma vez requerida a
emancipação, o juiz citará o tutor e o MP para ouvirem a justificação do menor
e decidirá de acordo com o seu livre arbítrio. A sentença, igualmente, deverá
ser registrada.
O inciso II dispõe sobre a emancipação advinda do casamento. O casamento
válido conduz os cônjuges à maioridade e de forma irreversível. Nem a viuvez
ou a separação podem devolver o estado de incapacidade.
Na hipótese prevista no inciso III, pressupõe-se que se o Poder Público
reconheceu a maturidade no indivíduo para representá-lo, como então negar a
sua capacidade civil. Note-se que a emancipação nesse caso dar-se-á não
apenas nos cargos efetivos, como também se o menor assumir cargo de
confiança.

O inciso IV, em que pese ser de pouca aplicabilidade em nosso cotidiano, visto
a natural dificuldade de se chegar ao término da vida universitária antes de se
completar 18 anos, tem fundamento filosófico, pois ocorrendo a hipótese,
presumir-se-á que o indivíduo é merecedor da capacidade civil.
Por fim, o inciso V dispõe que a iniciativa do menor em auferir renda própria e
manter sua subsistência, pode integrar o rol dos capazes. Sua emancipação
nesse caso é automática.

Hipóteses legais de incapacidade civil: Absoluta e Relativa27

O novo Código Civil, nos artigos 3º e 4º identifica os incapazes, subdividindo-os


em absolutamente incapazes e relativamente incapazes.

Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:


I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento
para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o
discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.

Absolutamente Incapazes:28

27
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 20 – 40/42.
28
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 21 – 42/47.
16
São absolutamente incapazes aqueles que não podem, por si mesmos, praticar
atos jurídicos. O Direito tendo em vista a condição do menor impúbere, a do
psicopata, ou a do surdo-mudo que não pode se externar, despreza sua
vontade, e não lhe dá qualquer efeito como criadora de relações jurídicas.
Na medida em que o negócio jurídico é ato da vontade humana a que a lei
empresta conseqüências, o ato jurídico praticado por pessoa absolutamente
incapaz é nulo de pleno direito (quod nullum est, nullum producit effectum). O
CC/2003 dispõe o seguinte:

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:


I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

Passamos a aprofundar a situação dos absolutamente incapazes, com base na


legislação.

1. Os menores de 16 anos:

A lei pressupõe que o indivíduo que antes de alcançar essa idade, não possui
discernimento para distinguir o que convém ou não, de modo que a lei ignora
sua vontade, impedindo que atue de per si na vida jurídica.

Até aí, nenhuma alteração em relação ao CC/1916, cujo art. 5º trazia redação
absolutamente idêntica. Antes dele, as Ordenações mencionavam o varão
menor de 14 anos e a mulher menor de 12, visto que tomava-se por base a
puberdade e não o desenvolvimento intelectual, que efetivamente vai influir na
relação jurídica.

2. Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o


necessário discernimento para a prática desses atos:

O códice civilista recém revogado trazia como absolutamente incapazes “Os


loucos de todo gênero” (art. 5º, II)29. O Decreto nº 24.559/34 inovou com a
expressão “psicopata” ora ratificada pelo novo códice.

No entanto, a interdição de amentais não é automática e depende de processo


judicial cujo rito está estabelecido no CPC (arts. 1.177 e seguintes). O juiz,
mediante provocação de pessoa interessada, analisará a capacidade do
indivíduo, sendo obrigatória a perícia médica e o acompanhamento do MP.
Decretada a interdição, o juiz nomeará curador e determinará o registro da
interdição em cartório.

“Não é a sentença de interdição que cria a incapacidade. É a loucura. A


sentença apenas a reconhece” (Ementário Forense, n 80, jul. 1955 – Supremo
Tribunal Federal).

29
Ver Sílvio de Salvo Venosa – Código Civil (Texto Comparado) – pg. 41.
17
Interessante comparar esse instituto jurídico em relação ao ordenamento
anterior. O CC/1916 considerava como válidos os atos praticados pelo amental
em seus intervalos de lucidez. Grande era a confusão na medida em que era
difícil comprovar o fato. Em razão disso, o novo código suprimiu tal
possibilidade.

Embora o ato praticado por absolutamente incapaz seja nulo, a jurisprudência


tem se manifestado no sentido de validar ato praticado pelo amental antes de
sua interdição, desde que a outra parte estivesse de boa-fé, ignorando a
doença mental.

3. Os que, mesmo por motivo transitório, não puderem exprimir sua


vontade.

Adotando a linha de raciocínio acima, sendo o negócio jurídico um ato de


vontade, é imperativo que se o indivíduo não pode externar sua vontade, ainda
que provisoriamente, o ato não há de prevalecer.

Relativamente Incapazes:30

No caso da incapacidade relativa, a inaptidão físico-psíquica dos beneficiários é


menos intensa. Parte-se do pressuposto que mesmo sem alcançarem um juízo
adequado das coisas, apresentam grau de perfeição intelectual não desprezível.
Permite, portanto, que pratique ato jurídico, desde que assistido por
responsável (pai, tutor, curador).
Como se pode ver, ao contrário do absolutamente incapaz que há de ser
representado, este é assistido. Destarte, seu ato jurídico não é nulo, porém
anulável, conforme disposição do Art. 171 do novo Código Civil.

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;

Passamos a aprofundar a situação dos relativamente incapazes, com base na


legislação.
O Código de 1916 trazia a seguinte configuração:

Art. 6o São incapazes, relativamente a certos atos (art. 147, n.I), ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos (arts. 154 a 156);
II - os pródigos;
III – os silvícolas.

1. Os maiores de 16 e os menores de 18 anos.


No caso presente, a lei admite que o indivíduo alcançou estágio intelectual que
lhe permita atuar na vida jurídica, ainda que não possua pleno discernimento.
Logo, não despreza sua vontade, porém, limita-a desde que preenchidos os
requisitos legais. O mais relevante é o de que esteja assistido por seu

30
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 22 – 48/53.
18
representante (pai ou tutor) que o aconselhará, e se estiver de acordo, o
assistirá.
Diferentemente do menor de 16 anos, a sua vontade é que motivará o ato
jurídico. No entanto, se desassistido por seu representante o ato é passível de
anulação. Todavia, se o menor dolosamente enganar o outro contratante não
poderá se escudar na idade para se eximir. Tal disposição encontra-se no art.
180 do CC/2002.

Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação,
invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato
de obrigar-se, declarou-se maior.

2. Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência


mental, tenham o discernimento reduzido.

Aqui, nota-se um reflexo do Decreto n.º 24.559/34 que dispôs sobre os


psicopatas, ébrios e viciados, ao passo que o CC/1916 dispunha sobre “loucos
de toda espécie”.
Obviamente, o alcoolismo e a dependência de substâncias entorpecentes
impedem a plena compreensão. No entanto, a lei terá dificuldades em
identificar o grau de aplicabilidade do presente dispositivo, já que o alcoolismo
até determinado estágio é bastante tolerado e o problema das drogas no que
concerne a identificação do viciado é tratado com inequívoca hipocrisia.

3. Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo.

O presente dispositivo é bastante flexível, na medida em que abrange casos de


deficiência mental de menor intensidade. Aqueles que tiverem enfermidade que
os impeça de discernir ou portadores de deficiência mental serão impedidos de
realizar negócio jurídico, sem assistência.

4. Os pródigos.

Pródigo é aquele que gasta desordenadamente, de forma a destruir seu próprio


patrimônio e o de sua família, a ponto de por em risco a subsistência familiar.
Tal instituto gera inevitáveis reações, na medida em que muitos entendem que
constitui desrespeito à liberdade individual. Não obstante, é tradicional em
nosso Direito e visa a proteção da família.
Em razão disso, mesmo interditado possui capacidade para atuar no mundo
jurídico, ficando impedido tão somente de dispor de seu patrimônio. O CC/2002
estabelece as hipóteses de impedimento.
Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar
quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não
sejam de mera administração.
Importa finalizar o assunto, deixando claro que o legislador buscou proteger os
incapazes, de forma que, na impossibilidade de agir de per si, tem na figura dos
pais, tutores e curadores, a possibilidade de realizar negócio jurídico sob a

19
representação ou assistência, onde sua deficiência é suprida pela inteligência
de seu representante.

Declaração de ausência: finalidade.31

Direito, por vezes se depara com situações inusitadas e necessitar dar solução
ao problema. Como fazer quando uma pessoa desaparece de seu domicílio sem
deixar paradeiro, ou mesmo, sem deixar representante que, ao menos, tenha
conhecimento de seu destino? Pode parecer incomum num primeiro momento.
Imaginemos, porém, em casos de guerra ou grandes catástrofes, quando não
se pode aferir se efetivamente morreram. Imaginemos, ainda, que essa pessoa
possui bens; a sua ausência há de gerar inevitáveis conseqüências.
A Ausência, portanto, deve ser analisada sob dois prismas. No primeiro caso,
existe a possibilidade de o “ausente” estar vivo, tendo direito, portanto, à
proteção de seus bens. De outro lado, existe a possibilidade de ter morrido,
deixando em aberto o interesse de seus herdeiros que passariam a ter direito
sobre o seu patrimônio.
O legislador buscou proteger seus bens, visando eventual retorno, fixando,
contudo, limites para o seu retorno. A lei prevê três fases: a) curadoria do
ausente; b) sucessão provisória; c) sucessão definitiva.

1) Curadoria de ausentes.32

Desaparecendo a pessoa sem deixar rastros, ou representante com poderes


para tocar seus bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do
Ministério Público, arrecadará tais bens e nomeará curador para administrá-los.
Via de regra, a escolha do curador recai sobre o cônjuge, desde que não se
encontre separado judicialmente, ou companheiro(a) estável. Na ausência
destes, virão na ordem de preferência os ascendentes e os descendentes, e
também ausentes, caberá ao juiz a escolha do curador.

Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por
mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador.
§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos
descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo.
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.

Efetuada a arrecadação dos bens, empossado o curador, o juiz determinará a


publicação de editais bimestrais durante um ano, convocando o ausente para
retornar e assumir a posse de seu patrimônio.
Ao término de um ano (três anos, se existente procurador), sem que retorne o
ausente, presume-se maior a hipótese de falecimento. A requerimento de seus
sucessores, abre-se a sucessão provisória.

2) Sucessão provisória.33

31
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), Capítulo IV – 77/84.
32
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 35 – 78/79.
20
Findo o prazo de um ano, publicados os editais, sem que o ausente reapareça,
cresce a presunção de que menos provável será o retorno. Entende a lei, que
se estiver vivo, declinou de retornar, permitindo portanto, que os interessados
possam requerer a abertura provisória de sua sucessão, presumindo o seu
falecimento.
A lei não despreza, contudo, a hipótese de o ausente estar vivo. Assim,
encarando como plausível o seu retorno, busca assegurar seus direitos da
seguinte forma:
A sentença referente a abertura da sucessão provisória somente produz
efeitos decorridos seis meses de sua publicação em diário oficial. Dá-se um
prazo suplementar para que o ausente, tendo ciência das conseqüências de
seu silêncio, resolva aparecer.
Faz-se a partilha dos bens do ausente. Todavia, os herdeiros darão garantias
de sua restituição, compatíveis com seus respectivos quinhões.
A lei veda a venda de bens imóveis do ausente, salvo no caso de
desapropriação, ou em face de ordem judicial para lhes evitar a ruína. O art.
475 do CC/1916 previa a hipótese de conversão de bens em títulos da dívida
pública. Tal possibilidade não mais consta do novo ordenamento cível:
Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou
hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína.
As rendas decorrentes do patrimônio do ausente pertencerão aos herdeiros,
desde que descendentes, ascendentes, cônjuges ou companheiros. Caso
existam terceiros como herdeiros, terão direito a apenas metade da renda,
devendo a outra metade ser poupada para fins de resgate por parte do
ausente em caso de retorno.

3) Sucessão definitiva.34

Transcorridos dez anos após a abertura da sucessão provisória, sem que


retorne o ausente, ou caso tenha oitenta anos e não dê notícias há cinco anos,
a lei presume que é muito improvável a sua possibilidade de retorno.

Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da
sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento
das cauções prestadas.
Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta
oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele.

Nesse ponto, o legislador abandona a proteção aos direitos do ausente e se


concentra nos direitos dos herdeiros. Podemos afirmar que a sucessão é quase
definitiva, já que a lei ainda prevê a hipótese – ainda que remota – de seu
retorno. Determina que, se retornar a contar de dez anos da abertura da

33
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 36 – 79/81.
34
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 36 – 81/82.
21
sucessão definitiva, terá direito aos bens ainda existentes, no estado em que se
encontrarem.
O CC/1916 previa o prazo de 30 anos. A Lei n.º 2.437/55 reduziu-o para 20 e o
novo códice fechou questão em 10 anos.

Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou
algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no
estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais
interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo.

Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e
nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio
do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições,
incorporando-se ao domínio da União, quando situados em território federal.

No caso do efeitos matrimoniais o novo código prevê que a ausência, após a


abertura da sucessão é equiparada à morte. O art. 1.571 dispõe o seguinte:

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:


I - pela morte de um dos cônjuges;
II – pela nulidade ou anulação do casamento;
III - pela separação judicial;
IV - pelo divórcio.
§ 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio,
aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.
§ 2o Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá
manter o nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de
separação judicial.

AULA 05

Domicílio Civil dos Sujeitos de Direito: Conceito, importância da


fixação de domicílio.
Distinção entre domicílio e residência.
Análise dos institutos jurídicos à luz do CC/1916 e CC/2002

22
Domicílio Civil dos Sujeitos de Direito: Conceito, importância da
fixação de domicílio.35

Para vários fins do Direito, é indispensável que a pessoa natural tenha um


domicílio, o qual corresponde ao lugar onde reside com ânimo definitivo. O Art.
70 do CC traz a seguinte disposição:
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo.

Como pode-se depreender da interpretação do texto legal, existe uma ligação


intrínseca entre um elemento material, representado pela idéia de residência; e
o elemento psicológico, representado pelo ânimo definitivo.

Tal conceito, aparentemente subjetivo, na verdade é passível de ser aferido em


razão das circunstâncias externas que revelam a sua intenção, ou seja, o seu
propósito de fazer daquele local o centro de suas atividades.

É o ponto central de seus negócios, o lugar de onde ele se irradia para a vida
jurídica.

O Direito Brasileiro, na esteira do alemão e, em oposição ao francês, admite a


pluralidade de domicílios. O art. 71 do novo Código Civil dispõe o seguinte:
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva,
considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.

Espécies de Domicílio:

Pode-se proceder à classificação do domicílio tendo em vista a pessoa de seu


titular; nesse caso, salienta-se,de um lado, o domicílio da pessoa natural, e de
outro, da pessoa jurídica.36

A classificação clássica relativa á pessoa natural é a seguinte:

Domicílio Voluntário: É o domicílio estabelecido livremente pelo indivíduo,


sem sofrer outra influência, que não a de sua vontade ou conveniência.37

Domicílio Legal ou Necessário: É aquele que a lei impõe a determinadas


pessoas, que se encontram em determinadas circunstâncias.38

Domicílio de Eleição: É defluente de ajuste entre as partes contratantes.39

Domicílio Voluntário da Pessoa Natural: Como já foi visto é o domicílio


escolhido pelo indivíduo. Há que se atentar, contudo que a lei admite a pluralidade
de domicílios, bem como, a possibilidade de a pessoa, em razão do tipo de

35
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 49 – 103/112.
36
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 50 – 106.
37
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 52 – 108.
38
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 53 – 108/109.
39
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 51 – 107.
23
negócios que pratica, viver em viagem sem residência fixa. Nesse caso, seu
domicílio será o local onde for encontrado (arts. 72 e 73).

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão,
o lugar onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles
constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar
onde for encontrada.

Domicílio Necessário da Pessoa Natural: O domicílio é necessário quando


a lei, tendo em vista a condição de determinadas pessoas, lhes impõe um
determinado.
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.

Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor


público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e,
sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente
subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que
cumprir a sentença.
Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade
sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou
no último ponto do território brasileiro onde o teve.

Os incapazes: A lei, sem diferenciar o relativamente, do absolutamente


incapaz, impede que possa fixar domicílio próprio. Seu domicílio será sempre o
de seu representante.

Interessante destacar que, no código anterior, a mulher possuía domicílio necessário,


visto que cabia ao marido fixar o domicílio da família (art. 233, II CC/1916). Com a
nova Constituição, qualquer dos cônjuges pode fixar o domicílio, porém, em caso de
divergência, resolve o juiz.

Servidores Públicos: Serão obrigatoriamente domiciliados onde exercerem


seu cargo ou função em caráter permanente. Aí deverão ser citados,
notificados e demandados.

Militares: Sendo servidores públicos, obrigatoriamente, terão domicílio no


lugar onde estiverem servindo. No caso de militar da Aeronáutica e Marinha, o
domicílio se valerá da sede do comando a que está subordinado.

Marítimos: O domicílio do marítimo será aquele onde o navio estiver


matriculado.

Presos: Nesse caso, como não poderia deixar de ser, o domicílio do preso será
o do lugar onde estiver cumprindo a sentença. A lei despreza
momentaneamente a sua residência, visto que a mesma não poderá servir de
base para a prática de atos jurídicos.

Domicílio de Eleição: Também denominado convencional, é o escolhido


pelos contratantes, nos contratos escritos, para fins de exercício dos direitos e
cumprimento das obrigações que dos mesmos contratos decorrem.

24
O CC/2002 traz essa possibilidade no art. 78, cuja redação é a seguinte:
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se
exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.

A classificação clássica relativa á pessoa jurídica é a seguinte:

Domicílio da Pessoa Jurídica de Direito Público: É o domicílio dos entes


públicos.40 O art. 75, em seus incisos I a III estabelece:

Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:


I - da União, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;

Domicílio da Pessoa Jurídica de Direito Privado: O domicílio das Pessoas


Jurídicas de Direito Privado é o lugar onde funcionarem as respectivas
diretorias e administrações, desde que nos estatutos não conste domicílio
especial.41

Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:


IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e
administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.

A lei determina obrigatória a declaração de sua sede no ato de registro, no


entanto, se não constar do ato constitutivo, o domicílio será o do lugar onde a
empresa ou associação for administrada. Até esse ponto, nenhum problema,
no entanto, a coisa tende a se complicar quando a entidade possui vários
estabelecimentos em locais diversos, já que fica a dúvida sobre o foro
competente.
Caso a lei previsse que o domicílio haveria de ser o da matriz, em caso de
demanda judicial, mesmo tendo o indivíduo contratado com a filial, haveria de
demandar contra a empresa no foro de sua sede, em prejuízo daquele que se
julga lesado.
Para que tal situação não ocorra, o códice civilista traz no parágrafo único do
referido artigo 75, a referida disposição sobre a matéria:
§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um
deles será considerado domicílio para os atos nele praticados.
Nada mudou, portanto em relação ao código revogado, cujo § 3º, do art. 35
trazia as mesmas disposições em relação a pluralidade de domicílios da pessoa
jurídica de direito privado para efeito de foro.

Distinção entre domicílio e residência.

O conceito de domicílio se distingue do de residência. Este representa uma


relação de fato entre uma pessoa e um lugar, envolvendo a idéia de habitação,

40
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 54 – 109/111.
41
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 55 – 111/112.
25
enquanto que o domicílio compreende o de sua residência, acrescido do ânimo
de aí fazer o centro de sua atividade jurídica.42
O fato de uma pessoa ter mais de uma residência não quer dizer que possui
mais de um domicílio. O fator determinante da constituição do domicílio é a
intenção de fazer daquela residência um lugar para agir no mundo jurídico.
Assim, uma casa de praia vem a ser uma residência, porém não será
considerado domicílio; ao passo que residindo em uma cidade, porém tendo
negócios em outro, pode ter outra residência com o animus de utilizá-la como
base para agir, intenção esta que a diferencia como domicílio.
Residência é o local em que a pessoa se encontra de fato, e não de direito, por
não ser o lugar em que tem o centro de seus negócios ou atividade, isto é, o
centro de suas relações jurídicas. Mas, quando nela tem o centro de sua
atividade jurídica, domicílio e residência se confundem. É o local em que, de
modo definitivo, fixa a residência.43
Para vários fins de Direito, é indispensável que a pessoa natural tenha um
domicílio, o qual corresponde ao lugar onde reside com ânimo definitivo.44

AULA 06

Elementos Externos da Relação Jurídica: Objeto – Conceito e


Espécies
Noção de Patrimônio
Distinção entre bem e coisa
Classificação dos bens: bens considerados em si mesmos; bens
reciprocamente considerados; bens em relação ao sujeito.
Análise dos institutos jurídicos à luz do CC/1916 e CC/2002

Elementos Externos da Relação Jurídica: Objeto – Conceito e


Espécies

Toda relação jurídica, todo direito subjetivo e toda obrigação têm um objeto
(objeto do Direito). De modo amplo pode-se dizer que, sendo o direito a
vinculação de, pelo menos, uma pessoa a outra para que essa satisfaça
interesse legítimo daquela, o objeto do direito é a ação da pessoa que está,
por lei ou contrato, obrigada a praticá-la.45
Maria Helena Diniz destaca a divisão em objeto imediato e objeto mediato.46

Objeto Imediato:

Obrigação de dar
Obrigação de fazer;
42
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 49 – 105.
43
Paulo Dourado de Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, 153 – p. 273/274
44
Paulo Nader - Introdução ao Estudo do Direito, 163 – p. 287.
45
Paulo Dourado de Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, 156 – p. 282/283.
46
Maria Helena Diniz – Compêndio de Introdução à Ciência do Direito – 5 C, p. 516/517.
26
Obrigação de não fazer.

Objeto Mediato.

Distinção entre bem e coisa.47

Passado o estudo do Livro I da Parte Geral do Código Civil, relativo às pessoas,


passamos a estudar o Livro II que trata dos bens. Antes, contudo,faz-se mister
ressaltar a distinção entre bem e coisa.
Do ponto de vista científico, bens são aquelas coisas que possuem valor para o
homem, a ponto de despertar seu desejo de possuí-la. Logo, o fato de ser
coisa, não significa ser um bem. Para isso, o Direito Econômico define bem
como coisa que, sendo útil ao homem, existindo em quantidade limitada, tendo
caráter de relativa raridade.

Como bem define Silvio Rodrigues, enquanto coisa é gênero, bem é espécie.
Coisa é tudo que existe objetivamente, com exclusão do homem. Como só o
homem tem personalidade, coisa é tudo que existe exteriormente a ele. Bens
são coisas que, sendo úteis e raras, são suscetíveis de apropriação e contêm
valor econômico.

Noção de Patrimônio.48

O patrimônio de determinada pessoa pode ser mensurado pelo acervo de


seus bens, conversíveis em dinheiro. A noção de patrimônio está
intimamente ligada à idéia de valor econômico que pode ser convertido em
pecúnia.

Na lição de Clóvis Beviláqua patrimônio é “o complexo das relações jurídicas


de uma pessoa que tiverem valor econômico”. Ensina ainda o afamado
autor que o patrimônio vem a ser composto pelo ativo e passivo do
indivíduo, de modo que pode ter o patrimônio negativo, como ocorre nas
situações de insolvência.

A noção de patrimônio é fundamental importância, na medida em que cria o


fundamento que embasa todo o Direito das Obrigações contemplado no
Código Civil. Apenas para efeito de ilustração, basta dizer que o
inadimplente, o devedor terá seu patrimônio disponibilizado para efeito de
garantia de seus credores, ou seja, uma vez que o indivíduo não paga sua
dívida, o credor acionará o Judiciário e promoverá a liquidação do
patrimônio do devedor, separando bens que possam ressarci-lo.

Classificação dos bens.49

47
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 57 – 115/116.
48
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 58 – 116/118.
49
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 59 – 118/119.
27
A operação de classificar consiste na tentativa de agrupar várias espécies de
um gênero, de forma a aproximar as que apresentam um elemento comum e
afastar aquelas que não o apresentam. É procedimento de ordem lógica que
visa facilitar o entendimento de determinado fenômeno.

Seguindo parcialmente o enfoque adotado pelo CC/1916, o novo Código se


ateve na seguinte classificação:

Bens considerados em si mesmos;


Bens reciprocamente considerados;
Bens em relação ao sujeito.

bens considerados em si mesmos.50

Analisando os bens em si mesmos, faz-se necessária a distinção entre bens


imóveis e bens móveis. Bens imóveis, no dizer de Clóvis Beviláqua, são as
coisas que se não podem transportar, sem destruição, de um lugar para outro.
O novo código civil trata da matéria nos artigos 79 a 81.

Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.

Imóveis por sua natureza51: A rigor, somente o solo é imóvel por sua natureza.

Imóveis por acessão52: Acessão significa justaposição, aderência de uma coisa


à outra, de modo que a primeira absorva a segunda. O inciso II, do art. 43 do
antigo códice trazia a seguinte redação:

Art. 43. São bens imóveis:


II – Tudo quanto o homem incorporar permanentemente ao solo, como a semente lançada
à terra, os edifícios e construções, de modo que não se possa retirar sem destruição,
modificação, fratura ou dano.

O atual código admitiu, como se pode depreender na leitura do


art. 79, a noção de imóvel por acessão, na medida em que define
imóvel tudo o que se incorpora ao solo, natural ou artificialmente.

Imóveis Por acessão intelectual ou destinação do proprietário53: Nesse caso,


trata-se de bens móveis, mas que em virtude do animus do proprietário de mantê-
los incorporados a um imóvel, a lei, em caráter de ficção, também os considera
imóveis.

Assim, um maquinário em uma empresa, ou um trampolim à beira da


piscina, se tornam bens imóveis em razão do animus do proprietário em
incorpora-los em definitivo.

50
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), Cap II – 121/136.
51
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 61 – p. 122.
52
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 62 – p. 123.
53
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 63 – p. 124/125.
28
Bens imóveis por definição da lei54:

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:


I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta.

Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:


I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas
para outro local;
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.

No caso presente, ainda tratamos de ficção da lei, já que esta atribui a condição
de imóveis a determinados direitos em decorrência de situações especiais.

Bens móveis55: Conforme ocorre com os bens imóveis, os bens móveis também
sofrem diferenciação por sua natureza e por lei. O art. 82 do CC/2002 define os
primeiros, ao passo que o art. 83, os últimos.

Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia,
sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.

Os bens que se movem por força alheia são os bens móveis,


propriamente ditos. Aqueles que se movem por meios próprios, ou seja, os
animais, são denominados semoventes.

Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:


I - as energias que tenham valor econômico;
II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.

Os bens podem ser ainda: fungíveis e não fungíveis; consumíveis e não


consumíveis; divisíveis e indivisíveis; singulares e coletivas.

Fungíveis: São os móveis que podem ser substituídos por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade. “Contrario sensu” infungíveis são os que não
podem. Ex: São fungíveis o café, o dinheiro, o arroz, etc..., e infungíveis,
determinado quadro de Van Gogh, um violino Stradivarius, uma partitura rara
dos Beatles...56
Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade.
Consumíveis: São os que terminam logo com o primeiro uso, havendo imediata
destruição da substância (ex: alimentos); e inconsumíveis – os que podem ser

54
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 64 – p. 125/126.
55
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 65 – p. 126.
56
Maria Helena Diniz - Compêndio de Introdução à Ciência do Direito – 5 C, p. 518/ Sílvio Rodrigues –
Direito Civil (Parte Geral), 67 – p. 128/129.
29
utilizados continuadamente, possibilitando que se retirem todas as sua
utilidades, sem atingir sua integridade (ex: roupas).57
Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria
substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.

Divisíveis: Que podem ser fracionados em partes homogêneas e distintas, sem


alterações das qualidades essenciais do todo, e sem desvalorização, formando
uma totalidade perfeita (ex: Se dividirmos uma saca de café, cada metade
conservará as qualidades do produto). Indivisíveis, portanto, quando a divisão
traz prejuízo ao todo. (ex: Não se pode cortar um cavalo ao meio, ou uma tela
de um artista).58
Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância,
diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.

Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação
da lei ou por vontade das partes.

Singulares: São bens que, em razão de sua natureza simples ou composta,


material ou imaterial, podem ser singulares ou compostos. O art. 89 aduz que
bens singulares são bens que, embora reunidos, se consideram por si,
independentemente dos demais. Logo, coletivos são os que são considerados
quando agregados a outros.
Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si,
independen-temente dos demais.
Simples: Coisas simples são as que constam de partes homogêneas ou de
partes da mesma espécie, ligadas entre si, como os animais e os vegetais,
etc;
Compostos: São as que constam de partes heterogêneas, como as
máquinas, uma caneta.
Materiais: São aquelas que possuem forma física, como a casa, o livro,
etc.
Imateriais: São as coisas incorpóreas, como os direitos autorais, o
crédito, etc.

Universais ou Compostos: São bens constituídos por vários bens singulares,


que considerados em conjunto, formam um todo único, que passa a ter
individualidade própria, distinta das partes que a compõem. Ex. Biblioteca,
rebanho, etc.59

São chamados universais, e podem ainda ser categorizados dentro da


universalidade de fato (universalidade de coisas ou universitas rerum), por
formar conjunto de bens singulares, corpóreos e homogêneos, ligados em
si pela vontade humana (biblioteca) e universalidade de direito
(universalidade de direitos ou universitas júris), constituídos por bens
singulares corpóreos heterogêneos ou incorpóreos, a que a norma jurídica,

57
Maria Helena Diniz - Compêndio de Introdução à Ciência do Direito – 5 C, p. 518/ Sílvio Rodrigues –
Direito Civil (Parte Geral), 68 – p. 129/130.
58
Maria Helena Diniz - Compêndio de Introdução à Ciência do Direito – 5 C, p. 519/ Sílvio Rodrigues –
Direito Civil (Parte Geral), 69 – p. 130/132.
59
Maria Helena Diniz - Compêndio de Introdução à Ciência do Direito – 5 C, p. 519
30
com o intuito de produzir certos efeitos dá unidade. Ex: o patrimônio, a
massa falida, a herança, etc.

Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à
mesma pessoa, tenham destinação unitária.
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relações
jurídicas próprias.
Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa,
dotadas de valor econômico.

bens reciprocamente considerados.60

Agora, muda-se o prisma, analisando os bens entre si mesmos. Nesse casso, o


legislador fez a distinção entre principais e acessórios.
Faz-se necessária, portanto, a distinção entre principal e acessório, partindo do
pressuposto de que o acessório segue o principal. O art. 92 do CC/2002 traz a
seguinte definição:
Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele
cuja existência supõe a do principal.

Principal: Que existe por si, exercendo sua função e finalidade


independentemente de outra. Ex: O solo.
Acessório: Para existir juridicamente, é preciso que decorra de um bem
principal. Ex: Os frutos.
Nas relações jurídicas, uma obrigação acessória é sempre subsidiária da
obrigação principal. Cite-se como exemplo a teoria da acessão (art. 1.248
CC/2002), onde os proprietários ribeirinhos adquirem o domínio da ilha que se
forma no rio divisório que corre entre as suas propriedades, porque, sendo
donos do principal, adquirem o acessório.

FRUTOS: São as utilidades que o bem, periodicamente produz. Dividem-se em


três categorias:

Naturais: quando resultam do desenvolvimento próprio de sua força orgânica.


Ex: A cria do semovente, o café produzido e colhido pelo cafeicultor;
Industriais: os devidos à intervenção do esforço humano, tais como os
produtos manufaturados;
Civis: rendimentos tirados da utilização da coisa por terceiros como as rendas e
os alugueres.

PRODUTOS: São as utilidades que se retiram do bem, diminuindo-lhe a


quantidade, visto que não se reproduzem periodicamente. Ex: Extração de
petróleo, carvão, etc.

60
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), Cap III – 137/144.
31
Frutos e produtos se diferenciam, na medida em que o fruto não diminui
quantitativamente o bem, que se renova; ao passo que o produto, a cada
retirada esgota parte do principal.
Por fim, a BENFEITORIA, que para Silvio Rodrigues “É uma espécie de
acessório, constante de obra levada a efeito pelo homem, com o propósito de
conservar, melhorar ou simplesmente embelezar uma coisa determinada”. O
art. 96 do Código Civil tratou a benfeitoria da seguinte forma:

Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.


§ 1o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do
bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
§ 2o São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.
§ 3o São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.

Voluptuária: Quando sua construção traz só maior deleite, sem aumentar a


utilidade da coisa, embora possa torná-la mais agradável ou aumentar-lhe o
valor. Ex: A construção de um jardim.
Útil: Quando tem por fim a melhoria da utilização da coisa, como por exemplo,
a construção de uma garagem;
Necessária: Quando é realizada com o propósito de conservar a coisa, de evitar
a sua deterioração ou de poupar-lhe um estrago iminente. Ex: A reforma de
um telhado para que não haja vazamento e infiltração.

bens em relação ao sujeito.61

Resta, por fim, analisar os bens sob a ótica do titular do domínio, ou seja, em
relação ao sujeito. O legislador os distingue em públicos e particulares.
BENS PÚBLICOS: São aqueles do domínio nacional, pertencentes à União,
Estados e Municípios. Por exclusão, todos os demais são particulares. Destarte,
de acordo com a pessoa jurídica que pertencerem, poderão ser federais,
estaduais ou municipais.
Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de
direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que
pertencerem.
Quanto ao fim a que se destinam, valemo-nos da redação do art. 99 do novo
Código Civil.

Art. 99. São bens públicos:


I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou
estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de
suas autarquias;

III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público,
como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens
pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito
privado.

61
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 76/78 – 146/148.
32
OS DE USO COMUM DO POVO: São os bens que qualquer pessoa, cumprindo
os regulamentos, pode utilizar. A listagem prevista no artigo não é restritiva,
pois há, certamente, outros bens públicos de uso comum, como é o caso das
praias e cascatas.62
OS DE USO ESPECIAL: São aqueles destinados a algum serviço da pessoa
jurídica de direito público, ex: quartéis, repartições públicas, etc. A relação do
inciso II tampouco é restritiva, já poderia constar dela a presença dos palácios
onde funcionam a administração federal, estadual e municipal.63
OS DOMINICAIS: São dominicais ou dominiais aqueles que constituem o
patrimônio da pessoa jurídica de direito público. O Poder Público é titular do
bem e equivale-se ao proprietário em relação à pessoa jurídica de direito
privado. Ex: Estradas de ferro, empresas de navegação ou aviação, terras de
marinha e terras devolutas, ilhas, etc.64

Outrora inalienáveis, os bens dominiais podem ser alienados em casos


especiais devidamente previstos em lei. Contudo, esses bens não são sujeitos a
usucapião. O novo Códice Civilista dispõe sobre a matéria da seguinte forma:
Por, não é demais lembrar que a utilização de bem público, via de regra
gratuita, em determinados casos pode ser passível de cobrança, conforme
ocorre com os pedágios, parques, etc.

Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis,
enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei.
Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for
estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem.

AULA 07

Fatos e Atos Jurídicos.


Conceito e Distinção. O negócio Jurídico. Requisitos de validade
do ato jurídico e nulidades.
Análise dos institutos jurídicos à luz do CC/1916 e CC/2002

62
Maria Helena Diniz - Compêndio de Introdução à Ciência do Direito – 5 C, p. 519.
63
Maria Helena Diniz - Compêndio de Introdução à Ciência do Direito – 5 C, p. 519/520.
64
Maria Helena Diniz - Compêndio de Introdução à Ciência do Direito – 5 C, p. 520.
33
FATO JURÍDICO OU JURÍGENO:65

Partindo do pressuposto de que o Fato Jurígeno antecede a Relação Jurídica,


como pretende Paulo Nader, é preciso entende-lo, portanto, a fim de que a
própria relação jurídica alcance sentido.
Temos a vantagem de estudar o fato jurígeno à luz do novo Código Civil,
que promoveu alterações conceituais de alto teor filosófico.
Como bem define o Prof. José Acir Lessa, “Fato é todo acontecimento que
ocorre no meio social”.66
De acordo com Savigny, fatos jurídicos são os acontecimentos em virtude
dos quais as relações de direitos nascem e se extinguem. Logo, a expressão
“fato jurídico”, lato sensu , engloba todos aqueles eventos, provindos da
atividade humana ou decorrentes de fatos naturais capazes de gerar reação
no âmbito do direito.
Na concepção de Orlando Gomes, fato jurídico é “todo acontecimento,
dependente, ou não, da vontade humana, a que o Direito atribui eficácia”.

CLASSIFICAÇÃO (clássica):

Fatos da Natureza: São os que decorrem da natureza, mas que irão trazer
conseqüências jurídicas. Exemplo: O Nascimento e a Morte são fatos naturais,
mas dotados de intrínseco valor jurídico. São chamados ainda fatos jurídicos
Stricto sensu, e são espécie do gênero fatos jurídicos;

Os fatos naturais - São os alheios à vontade e à ação humana


ou a elas apenas indiretamente relacionados.
Como exemplo de fatos naturais ordinários temos: o
nascimento, a morte, as figuras da maioridade, etc.
Como exemplo de fatos naturais extraordinários temos o caso
fortuito e a força maior: a inundação, a queda de raio, incêndio.

Atos Humanos.

Lícitos (atos jurídicos): São lícitos, os voluntários, a que a lei defere os efeitos
almejados pelo agente. A essa espécie de ato jurídico, constituído dentro da lei,
o CC/1916 chamava ato jurídico.

Quando o ato é celebrado preenchendo todos os requisitos legais exigidos pelas


normas jurídicas, visando ou gerando a criação, a modificação ou a extinção da
relação jurídica. se diz que ele é lícito e que produz regularmente os seus
efeitos.

65
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 82/83 – pg.155 a 158.
66
José Acir Lessa Giordano – Direito Civil, 2ª – Parte IV, Cap I - pg 169.
34
Ilícitos (atos ilícitos): De outro pólo, temos o ato praticado pelo agente contra
os ditames legais, culposa ou dolosamente.

Como o nome está a indicar são atos levados a efeito, contra disposição de lei,
assim, por exemplo, o homicídio, o furto, a fraude, a simulação, etc. São atos
que infringem as normas legais instituídas. E, uma vez praticados, geram
relação jurídica, independentemente da vontade do agente. Muitas vezes o ato
ilícito gera efeitos no campo do direito penal e direito civil.

Essa configuração corresponde ao Código Civil de 1916. No


entanto, os doutrinadores modernos se insurgiram contra essa
categorização, por considera-la imprópria e incompleta. Na
concepção atual, os atos lícitos são divididos em: meramente
lícitos e negócio jurídico.
No geral, a estrutura foi mantida, porém, difere um e outro, na
medida em que o primeiro é casual e o outro busca
deliberadamente um efeito jurídico. Exemplo: Atos lícitos
meramente lícitos ocorrem, por exemplo, quando alguém encontra
um tesouro. Não foi intencional, porém o agente terá direito à
premiação. No caso do negócio jurídico, podemos exemplificar um
testamento, onde a vontade do testador, desde que amparada em
lei, produzirá efeitos jurídicos, de forma deliberada.

1. Fatos Naturais, externos ao homem - fatos jurídicos em sentido estrito

Fatos Jurídicos Meramente Lícitos


a) Lícitos
2. Atos Humanos Negócio Jurídico
b) Ilícitos

NEGÓCIO JURÍDICO67

Conforme analisado, o Ato Jurídico é espécie do gênero Fato Jurídico. Dividem-


se em atos lícitos e ilícitos, sendo que os atos ilícitos dividem-se em ato jurídico
“stricto sensu” e negócio jurídico.
O negócio jurídico aperfeiçoa-se com a simples declaração de vontade, e seus
efeitos são definidos pela própria declaração e dentro dos limites permitidos
pela lei. Mais do que isso, não uma mera declaração, mas uma declaração que,
concomitantemente, expresse vontade e que seu objeto esteja inserido no
âmbito do ordenamento jurídico.68

67
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), Capítulo III – p.169 a 170 / Paulo Nader – Introdução ao
Estudo do Direito, Capítulo XXXIII – p.325 a 332.
68
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 184 – p. 325
35
Segundo Maria Helena Diniz, negócio jurídico é a norma estabelecida pelas
partes, que podem auto-regular, nos limites legais, seus próprios interesses. Ex:
contratos, testamentos, adoção etc.69
A liberdade conferida pela ordem jurídica para que as partes possam contratar
de acordo com sua vontade geram o chamado Princípio da Autonomia da
Vontade. Tal princípio, ao conceder liberdade de escolha ao indivíduo para
realizar negócio jurídico, permite melhor ajustamento nos interesses sociais, ou
seja, a lei não necessita prever todos os acontecimentos sociais, mas sim
outorga a indivíduo a dispor sobre os seus interesse dentro dos limites da lei.

Requisitos de Validade

O novo Código Civil aponta em seu art. 104, os pressupostos de validade do


negócio jurídico:
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Capacidade das Partes:

Ao estudarmos capacidade, pudemos depreender que a lei visando proteger


uma gama indivíduos em razão de alguma deficiência de discernimento real ou
legal (fator idade), os declara incapazes.
Na medida em que não possuem discernimento suficiente para tratar de seus
próprios interesses com eficácia, a lei, considerando que o ato jurídico é ato de
vontade, somente permite que possam firmar negócio quando representados
(absolutamente incapazes) ou assistidos (relativamente incapazes).

Há que se atentar, como bem salienta Sílvio Rodrigues que a capacidade nem
sempre é suficiente para permitir que o indivíduo firme negócio jurídico. Há
casos em que a lei traz impedimentos no que tange à legitimação. O tutor ou
curador ainda que tenha capacidade para firmar negócio jurídico, a lei não
permite que possa adquirir qualquer dois bens que esteja sob a sua tutela ou
curatela, isto é, não possuem legitimidade para tal. Da mesma forma, as
sociedades anônimas não podem adquirir suas próprias ações.

Liceidade do Objeto:

Nesse caso, o ponto de discussão migra da capacidade para a questão da


licitude ou liceidade do objeto. O objeto do ato jurídico não pode ser
atentatório à lei. Para o Direito Brasileiro, a liceidade do objeto é requisito de
validade do negócio jurídico. Tanto a doutrina e a jurisprudência convergem no
sentido de que não são válidos os atos que, porventura, venham a colidir com a
lei, a moral e os bons constumes.

69
Maria Helena Diniz – Compêndio de Introdução à Ciência do Direito, 5D – p. 522.
36
A Forma:

A liberdade de forma é característica dos negócios jurídicos, salvo nos casos


que a lei dispuser em contrário. O art. 107 do Código Civil dispõe o seguinte:

Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão
quando a lei expressamente a exigir.
A despeito da regra, são inúmeros os casos em que a lei determina forma
específica, como é o caso da compra e venda de imóveis acima de determinado
valor (art. 108 C.C.)

Classificação:70

A) Unilaterais e Bilaterais;

a. São unilaterais os atos em que a declaração de apenas


uma das partes detém o poder de validar o negócio
jurídico. Ex: Testamento.
b. Bilaterais são os atos que somente se consagram quando
existe anuência de ambas as partes. Ex: Contratos.

B) Onerosos e Gratuitos;71
a. No dizer de Silvio Rodrigues “Negócios onerosos são
aqueles em que à vantagem obtida corresponde um
sacrifício”. Quer dizer que nesse caso há reciprocidade de
obrigações, ou seja, ambas as partes tem obrigações para
com a outra. Ex: Contrato de compra e venda.
b. Gratuitos “são os que envolvem sacrifício apenas de uma
das partes pois a outra deles se beneficia”. Uma das partes
tem obrigações, enquanto a outra, apenas benefícios. Ex:
Doação.

C) “Causa mortis” e “inter vivos”;


a. Causa mortis são os atos que produzem efeitos após o
falecimento do agente. Ex: Testamento, Instituição de
Fundação, Seguro de vida, etc.
b. Inter vivos são os negócios cujos efeitos são produzidos
em vida. Ex: Mandato.

D) Solenes e Não Solenes.

70
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 93 – p. 178/179/ Paulo Nader – Introdução ao Estudo do
Direito, 186 – p. 327/328.
71
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 93 – p. 179.
37
a. Solenes, também denominados formais, devem obedecer a
uma forma determinada em lei para obterem validade. Ex:
A adoção depende de escritura pública por força de lei.
b. Não solenes, ou não formais, independem de forma
determinada, de modo que as partes podem optar pela
forma que quiserem. Ex: A venda de bens móveis não é
solene já que se aperfeiçoa mesmo que efetuada
verbalmente.

Defeito dos Negócios Jurídicos:72

O novo Código Civil dispõe sobre os defeitos dos negócios jurídicos (arts. 138 a
165), que são, justamente, vícios que comprometem a validade dos referidos atos
jurídicos. Basicamente, são eles:

Erro ou ignorância;

Ignorância é a ausência de conhecimento total ou parcial, em relação a


aspectos do negócio jurídico. Erro é a manifestação de uma vontade que se
forma sob pressupostos falsos. (art. 138 a 144)

Dolo;

Existe o dolo quando alguém é induzido a erro pela má-fe de outrem. (art.
145)

Coação;
A coação pode se manifestar tanto pelo uso da violência quanto pela pressão
ou constrangimento psicológico. (art. 151 a 155)

Estado de perigo;

Caracteriza-se o Estado de Perigo quando alguém pratica negócio forçado


pela necessidade de salvar-se ou salvar a família de grave dano, assumindo
obrigação excessivamente onerosa, imposta pela outra parte, gerando o dolo
de aproveitamento. (art. 156)
Trata-se de uma inovação do novo Código Civil, pois o antigo ordenamento
não contemplava tal hipótese.

Lesão, e;

De um lado temos a inexperiência ou necessidade do indivíduo (elemento


subjetivo) e, de outro, existe manifesta desproporção entre a obrigação
assumida e o valor da prestação proposta. A anulação pode ser evitada se a
parte beneficiada oferecer complementação ou concordar em diminuir as
suas vantagens, visto consideradas, indevidas. (art. 157)
72
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), Capítulo IV – p. 181/238/ Paulo Nader – Introdução ao
Estudo do Direito, 188 – p. 330/332.
38
Trata-se de outra inovação do Código Civil/2003.

Fraude contra credores.

Dá-se a fraude contra os credores quando alguém, em estado de insolvência ou


com tal propósito, transfere bens de sua propriedade, que serviriam para o
pagamento da dívida.
Nesse caso, cabe Ação revocatória (Ação Pauliana) cujo objeto é a busca da
anulação do negócio jurídico. (art. 158)

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra
credores.

Além dos casos de anulação, temos ainda os casos de nulidade. Uma vez que a
validade do ato jurídico depende dos pressupostos mencionados, sua ausência
acarreta em sua nulidade.73

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:


I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

O CC/2002 dá importância á nulidade advinda da Simulação, figura já existente


no antigo ordenamento civil.
Na simulação, o declarante não é vítima, mas sim, agente de um artifício para
burlar a lei. As partes agem em conluio buscando objetivo comum em evidente
má-fé, visto que pretendem se imiscuir do cumprimento da lei, em benefício
próprio.

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for
na substância e na forma.
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais
realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio
jurídico simulado.

Nunca é demais lembrar que o ato nulo não gera efeitos (quod nullum
est,nullum producit effectum). Enquanto o ato anulável somente deixa de
produzir efeitos após a sentença, o ato nulo, porquanto decorrente da vontade
do legislador, retroage seus efeitos ao ato invalidado. Tudo o que foi praticado
em decorrência dele perde seus efeitos.

73
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), Capítulo VII – p. 282/306.
39
O ato nulo leva a recondução das partes ao estado anterior. Ex: Se uma das
partes não pode dispor de seus bens e os vende, o negócio jurídico é nulo as
importâncias recebidas precisam ser devolvidas. No entanto, por vezes é
impossível a recondução das partes ao estado anterior. Nesse caso, busca-se
obter o equivalente mediante indenização.

AULA 08

Direito Subjetivo.74
Nascimento, aquisição e modificação de direitos (distinção).
Espécies de aquisição: originária e derivada, pelo próprio
adquirente ou por representação, por força de lei e por ato de
vontade.
Análise dos institutos jurídicos à luz do CC/1916 e CC/2002

Nascimento

O direito subjetivo nasce através do fato jurídico, do direito objetivo (norma


agendi). A norma jurídica (direito objetivo-norma agendi) antecede ao direito
subjetivo.
A respeito diz Pontes de Miranda: "Não é possível conceber-se o direito
subjetivo, quer histórica quer logicamente, sem o direito objetivo, de modo
que, incidindo a regra jurídica, ele seja o que „resulta‟ do lado positivo da
incidência. Não há direito subjetivo sem regra jurídica (direito objetivo), que
incida sobre suporte fático tido por ela mesma como suficiente. Portanto, é erro
dizer-se que os direitos subjetivos existiram antes do direito objetivo; e ainda o
é afirmar-se que foram simultâneos. A regra jurídica é prius, ainda quando
tenha nascido no momento de se formar o primeiro direito subjetivo".

Aquisição dos direitos. Modos de aquisição dos direitos75

74
Paulo Dourado de Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, 147/152 – p. 269./ Sílvio Rodrigues –
Direito Civil (Parte Geral), 85 – 160/164/ Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, Cap XXX – p.
299/309.
75
Sílvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 85 – 160/162
40
Bebendo na fonte de Paulo Nader temos o ensinamento de que “os direitos
subjetivos não são eternos nem imutáveis. Estão sujeitos a uma evolução
análoga à dos seres vivos, pois nascem, duram e perecem”. 76
Se alguns direitos já nascem junto com o indivíduo (direitos personalíssimos),
outros são adquiridos durante a vida. Duas razões permitem o seu surgimento:

Por determinação da Lei – Direito à vida, à honra, ao nome. São


direitos já assegurados na lei;
Por ato de vontade – Surge da prática de ato jurídico. Nesse
caso, a aquisição dar-se-á, por exemplo, de ato exclusivo do
agente, por ato conjunto de pessoas (caso típico do contrato, ou
por ato de outra pessoa (testamento).

O mundo jurídico é constituído por um complexo de relações jurídicas concretas


e decorre daí a importância de se conhecer como se formam e como se
extinguem essas relações.
O nascimento de um direito se verifica no instante em que ele começa a existir
em relação ao sujeito. Desta forma, todo direito ao nascer, liga-se a uma
pessoa e, só excepcionalmente e de modo transitório, pode admitir-se a
existência de um direito sem sujeito (essa teoria está quase abandonada no
mundo jurídico).
A atribuição de um direito a uma pessoa chama-se AQUISIÇÃO e esta pode
ser originária e derivada. Será originária, se independe de qualquer outra
pessoa, porque sua atribuição ao sujeito coincide com o seu nascimento
objetivo. Esta é a hipótese da constituição de uma servidão, que é adquirida no
mesmo instante em que tem nascimento como relação jurídica; ou quando
ocorre a apropriação de uma estrela do mar que as ondas atiram à praia (res
nullius); ou ainda a apropriação de uma coisa abandonada (res derelictae) pelo
primeiro que a encontrar. O direito origina-se do fato aquisitivo, ou seja, nasce
no mesmo instante em que o titular o adquire. Será derivada, se o sujeito
adquire um direito que já existia ligado a uma outra pessoa, da qual se torna
sucessor. É o caso da propriedade: compra e venda, usucapião; ou da sucessão
legítima. O direito não nasce com o atual titular, antes, preexiste a ele.
A importância prática dessa primeira distinção reside no fato de que aquele
que adquirir a propriedade de modo derivado poderá sujeitar-se eventualmente
a ter que comprovar que seu antecessor também era dono da coisa adquirida e
que esta sempre esteve no domínio de todos os proprietários que o
precederam. Também, acentua que ninguém pode transmitir mais direitos do
que tem. Pode-se inferir algumas regras:

se o titular for incapaz, a aquisição de seus direitos opera-se por meio da


representação legal, como no caso do pátrio poder, da tutela ou da curatela;
se o titular for capaz, podem os direitos também ser adquiridos por
intermédio da representação convencional, que se realiza por mandato
(procuração) ou por gestão de negócio.

76
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 173 – p. 306.
41
Além desses, existem direitos que podem ser adquiridos independentemente do
ato do adquirente ou de seu representante, como nas hipóteses de aluvião.
Também há direitos que podem ser adquiridos para outrem, sem que haja
qualquer representação, e, às vezes, até mesmo sem o conhecimento do
favorecido pela aquisição do direito, como é o caso da estipulação em favor de
terceiro (por exemplo: seguro de vida a ser pago à esposa, filhos, etc.).

A expectativa de direito é a mera esperança de vir adquirir um direito, ou


seja, o direito só surge e se adquire ao se verificar o fato ou o ato capaz de
produzi-lo ou de lhe conferir aperfeiçoamento e vida. Exemplo: alguém promete a
outrem instituí-lo herdeiro em testamento. Expectativa de direito é o nada jurídico.
O direito eventual é um direito já concebido, mas não nascido, por lhe faltar
um elemento básico. É mais que uma expectativa de fato, porque algumas das
circunstâncias de que depende o seu aperfeiçoamento já se produziram. Exemplo:
o caso dos filhos em relação ao pai autor da herança, cujo direito, já concebido
pela lei pelo fato de serem descendentes em 1º grau, só surgirá com a abertura da
sucessão daquele.
O direito condicional, que o Código Civil chama de não deferido, é aquele
que só se aperfeiçoa ou se extingue pelo advento de um acontecimento futuro e
incerto, ou seja, o que está subordinado a uma CONDIÇÃO, suspensiva ou
resolutiva. Exemplo: o advogado que oferece sociedade ao estagiário quando
este se bacharelar em Direito; ou a condição de alguém poder morar gratuitamente
em determinado imóvel, enquanto casado com determinada pessoa. No último
caso, dissolvida a sociedade conjugal, resolve-se o direito.

Art. 854. Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar, ou gratificar, a
quem preencha certa condição, ou desempenhe certo serviço, contrai obrigação de cumprir o
prometido.

Costuma-se, ainda, distinguir a aquisição gratuita da onerosa, ou a título


universal e a título singular.
É gratuita quando o patrimônio do adquirente aumenta sem qualquer
contraprestação; onerosa, em caso contrário.
A título singular, é o direito, quando tem por objeto coisa ou coisas
determinadas, especificadas, singularizadas; a título universal, quando tem
por objeto uma universalidade ou parte alíquota de uma universalidade (30%,
metade, etc.). Assim, para ilustrar, o herdeiro adquire a título universal; o
legatário, a título singular (uma coisa ou várias coisas determinadas).

Defesa dos direitos

O direito subjetivo seria ineficaz se não pudesse ser defendido, quando


ameaçado ou violado. Para tanto confere a lei ao seu titular meios diretos de

42
defesa. Exemplo: a legítima defesa, o direito de retenção, apropriação das
arras, etc.), mas via de regra, tal defesa se faz por intermédio de ação judicial.
Daí prescrever o art. 75 do Código Civil 1916 que “a todo direito
corresponde uma ação que o assegura”. Através da ação o titular do
direito reclama do Estado uma prestação jurisdicional no sentido de assegurá-
lo. Esse direito, como proclamam os processualistas, é um direito subjetivo
público dirigido contra o Estado e não propriamente contra o réu, mas sim
em face dele.
Só tem, entretanto, direito de pleiteá-la, ou dela defender-se, quem demonstre
legítimo interesse econômico, isto é, apreciável em dinheiro, ou moral,
sendo que este só autoriza a ação quando toque diretamente ao autor, ou a
sua família. O Poder Judiciário não se manifesta sobre questões teóricas, mas
apenas sobre casos específicos, quando demonstrado interesse legítimo, seja
patrimonial ou moral.

Os direitos podem também ser defendidos diretamente pela ação popular,


objetivando anular atos lesivos ao patrimônio de entidades públicas, por estar
em jogo o interesse público; e, indiretamente, por meio de exceção
processual. Também é permitido exercer atos destinados a conservar os
direitos futuros não-deferidos, subordinados a fatos ou condições falíveis (art.
121 C.C.), estando também o titular provido de instrumentos de defesa
preventiva, para impedir a violação de seu direito, que pode ser:

extrajudicial: como a cláusula penal, as arras, a fiança, etc.; e


judicial: como os protestos, o interdito proibitório, entre outros.

Modificações dos direitos77

Os direitos podem ser modificados tanto em relação ao conteúdo ou objeto,


quanto em relação ao sujeito. Isso não importa na alteração de sua
substância.
Assim, a modificação será OBJETIVA quando atingir a qualidade ou a
quantidade do objeto ou conteúdo da relação jurídica. Será qualitativa a
modificação quando o objeto do direito se converte em outra espécie. Exemplo:
quando, na impossibilidade da prestação de uma coisa certa, por culpa do
devedor, o direito do credor se transforma em indenização pecuniária. Será
quantitativa a modificação se o seu objeto aumentar ou diminuir no volume,
sem alterar a qualidade do direito, em virtude de fato jurídico stricto sensu
(diminuição de terrenos ribeirinhos, em virtude de aluvião), ou ato jurídico do
titular ou de outrem (amortização de débito).
A modificação SUBJETIVA é a pertinente ao titular do direito, subsistindo a
relação jurídica, hipótese em que se pode ter a substituição do sujeito de direito
inter vivos ou causa mortis. Exemplo: alienação de um imóvel, cujo direito de
propriedade passa do vendedor para o comprador (inter vivos); morte do
titular, cuja herança se transmite aos herdeiros (causa mortis), tornando-os

77
Paulo Dourado de Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, 149 – p. 265/267.
43
novos titulares do direito. Nas obrigações, a modificação tanto pode ser em
relação ao sujeito ativo, como ao passivo. Exemplo: quando terceiro assume
a dívida de outrem. Em todos esses casos, a relação jurídica não ficou alterada
em sua substância, mas, apenas, na titularidade do direito. Tem-se, ainda,
modificação subjetiva admitindo-se uma pluralidade dos sujeitos, quando
havia uma pessoa única. Exemplo: quando ao titular do direito outros se
associam, exercendo, conjuntamente, os poderes inerentes à propriedade.

Há direitos, todavia, que não comportam modificação em seu sujeito, por serem
personalíssimos; extinguem-se com a sua morte, sem possibilidade de serem
transmitidos a outrem. São eles: o direito à vida, à honra, ao nome, entre
outros.

Extinção (perda) dos direitos

Perda de um direito é a sua separação do sujeito ao qual se achava ligado. Daí


que, os direitos podem extinguir-se apenas em relação ao seu titular, isto
ocorrendo quando são transmitidos a outra pessoa. Não há, nesse caso,
propriamente perecimento do direito, mas, tão somente, modificação do
sujeito ativo. Entretanto, dizia o art. 78 C.C./1916: “Entende-se que pereceu o
objeto do direito” quando:

perde as qualidades essenciais, ou o valor econômico;


se confunde com outro, de modo que se não possa distinguir;
fica em lugar de onde não pode ser retirado.

O art. 79 C.C./1916 proclamava a ação de perdas e danos ao dono da coisa se


esta perecer por fato alheio a sua vontade. Da mesma forma, acentuava o art.
80 C.C./1916, ocorrerá em relação àquele que, por negligência, deixar perecer
a coisa de que está incumbido de conservar ou guardar, cabendo a este, por
sua vez, direito regressivo contra o terceiro culpado. Exemplo: contrato de
depósito.
Direitos existem que são, em regra, permanentes; outros, têm caráter
transitório. À primeira categoria pertencem a propriedade, as servidões, etc., à
segunda, o usufruto, que se liga à vida do usufrutuário; as obrigações, o
penhor, etc.
Os direitos perecem e se extinguem por causas naturais e por causas jurídicas.
Destas, a mais relevante é a vontade do interessado, que pode se externar
através da renúncia
=> renuntiatio (consiste na declaração do titular, no sentido de abolir um seu
direito, sem transferi-lo a quem quer que seja), do abandono (é a intenção do
titular de se desfazer da coisa com ânimo definitivo) ou da alienação (é a
transferência de um direito a outrem, por ato volitivo do titular).
44
Os direitos se extinguem ainda:
pelo falecimento do titular, sendo o direito personalíssimo e por isso
intransmissível;
pela prescrição, que extinguindo a ação faz com que o direito desapareça
de forma oblíqua ou indireta, pela ausência de tutela jurídica, embora possa
haver modificação de sujeitos, como sucede no caso do usucapião, em que o
antigo proprietário perde a ação devido à sua inércia e, conseqüentemente, o
possuidor adquire o direito real;
pela decadência, que atinge o próprio direito, pelo não exercício deste no
prazo legal;
pela abolição de uma instituição jurídica, como aconteceu com a
escravidão;
pela confusão, se numa só pessoa se reúnem as qualidades de credor e
de devedor;
pelo implemento de condição resolutiva;
pelo término do prazo, se a relação jurídica for constituída a termo;
pela perempção da instância ou do processo, ficando ileso o direito de
ação;
pelo aparecimento de direito incompatível com o direito atualmente
existente e que o suplanta.

AULA 09

Posição Jurídica dos Indivíduos. Posição jurídica ativa:


Direito Subjetivo. Conceito e Elementos.
Direito Potestativo: constitutivos e extintivos.
Poder jurídico e faculdade jurídica.
Posições Jurídicas passivas: dever jurídico, sujeição, obrigação e
ônus.

45
Posição Jurídica dos Indivíduos:

Os sujeitos (indivíduos) colocam-se ativa e passivamente nas relações jurídicas.


Em regra geral, ocupam posições unitárias contrárias, isto é, um sujeito ativo e
um sujeito passivo. Contudo, não se pode ignorar que, em determinadas
relações, podem os sujeitos, eventualmente, figurar ao mesmo tempo na
posição ativa e passiva, dependendo da natureza ou do negócio jurídico que os
vinculam. Veremos a seguir, particularmente, cada uma dessas situações.

Posição jurídica ativa:

A pessoa que ocupa a posição jurídica ativa é o titular do DIREITO


SUBJETIVO, o sujeito ativo da relação jurídica, o credor da relação
obrigacional principal, ou seja, aquele que tem o poder de exigir do sujeito
passivo o cumprimento do dever jurídico. Assim, para o exercício de seus
direitos, o sujeito que está na posição ativa tem poderes ou faculdades que
utilizará ou não, dependendo de sua vontade ou de seu interesse.
Assim, os PODERES e as FACULDADES JURÍDICAS formam o CONTEÚDO
dos DIREITOS SUBJETIVOS que, por sua vez, ora se juntam em um só
titular e constituem um direito pleno, obrigacional ou real, ora formam um
direito limitado quando um dos poderes lhes são retirados pela lei (ex.: a
indisponibilidade dos bens dotais), ou pelo respectivo título originário unilateral
(ex.: a indisponibilidade imposta pelo testador) ou convencional (ex.: pelo
doador). E outras vezes, o próprio titular do direito o desmembra e atribui a
outrem uma ou alguma de suas faculdades, com elas formando um direito
novo (ex.: os direitos reais sobre coisa alheia, como o usufruto, a enfiteuse,
etc.)

Direito Objetivo e Subjetivo

Bebendo na fonte de Silvio Rodrigues, temos a seguinte distinção: “O fenômeno


jurídico, embora seja um só, pode ser encarado sob mais de um ângulo. Vendo-
o como um conjunto de normas que a todos dirige e a todos vincula, temos o
direito objetivo. É a norma da ação humana, isto é, a norma agendi.
Se, entretanto, o observador encara o fenômeno através da prerrogativa que
para o indivíduo decorre da norma, tem-se o direito subjetivo. Trata-se da
faculdade conferida ao indivíduo de invocar a norma em seu favor, ou seja, a
faculdade de agir sob a sombra da regra, isto é, a facultas agendi.78
Na visão de Paulo Dourado de Gusmão “Quando consideramos o direito como
norma obrigatória, ou como conjunto de normas obrigatórias, entendemo-lo

78
Silvio Rodrigues – Direito Civil (Parte Geral), 2 – p. 06/07.
46
como direito objetivo, ou seja, direito em sentido objetivo”. É objetivo, na
medida em que decorre da norma, expresso em lei. Toda lei ou norma nela
contida é exemplo de direito objetivo.
O direito subjetivo nasce através do fato jurídico, do direito objetivo (norma
agendi). A norma jurídica (direito objetivo-norma agendi) antecede ao direito
subjetivo.

Direito Subjetivo

O Direito Subjetivo corresponde às possibilidades ou poderes de agir que a



ordem jurídica garante ao indivíduo. Quando dizemos, por exemplo: “Fulano
tem direito de pedir uma indenização” – podemos afirmar que esse indivíduo
possui direito subjetivo, identificado na faculdade (garantida pela lei) de poder
exigir uma reparação.
Especial a definição de Paulo D. de Gusmão para quem “Direito Subjetivo, de

modo geral, pode ser entendido como a prerrogativa ou faculdade outorgada,
por lei ou por contrato, a uma pessoa, para praticar certo ato”.
Para Paulo Nader “O Direito objetivo consiste, assim, na possibilidade de agir e

de exigir aquilo que as normas de Direito atribuem a alguém como próprio”. Ou
mais especificamente “O direito subjetivo apresenta-se sempre em relação
jurídica. Apesar de relacionar-se com o Direito Objetivo, ele se opõe
correlativamente é ao dever jurídico. Um não existe sem o outro. O sujeito
ativo da relação jurídica é o portador de direito subjetivo, enquanto o sujeito
passivo é o titular do dever jurídico.79
Direito Subjetivo é, em última análise, o poder de submeter alguém a um
direito seu preestabelecido pela norma jurídica. Enseja em um dever jurídico e
à sujeição da outra parte.

Elementos:

Para que se tenha direito subjetivo é necessário que haja três elementos
(doutrina de Santiago Dantas):80

1. É necessária a existência de um dever correspondente. Na balança da


Justiça, para cada direito, um dever correspondente.
2. O direito é passível de ser violado;
3. Pode o titular do direito ter iniciativa de coerção. Em caso de
descumprimento do dever jurídico inerente, o sujeito ativo poderá
acionar a tutela jurisdicional para a mantença de seus direitos.

Teorias:81

79
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 169 – p. 300/301.
80
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 169 – p. 302.
81
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 171 – p. 303/304.
47
Teoria da Vontade (Bernard Windscheid – 1817/1892) - o direito
subjetivo é “o poder ou o senhorio da vontade reconhecido pela ordem
jurídica”.
Teoria do Interesse (Rudolf Von Jhering – 1818/1892 - o direito
subjetivo seria o “interesse juridicamente protegido”.
Teoria Eclética (Georg Jellinek – 1851/1911) o direito subjetivo
como sendo: “o bem ou interesse protegido pelo reconhecimento do
poder da vontade.”
Teoria da Relação de Dependência - Na doutrina, encontramos
também quem sustente que a natureza do direito subjetivo está
essencialmente na relação de “dependência” formada entre o objeto da
pretensão e seu titular, reconhecida pela ordem jurídica. (Nesse sentido,
alega Antonio Bento Betioli, Introdução ao Direito, que há uma
“exigibilidade garantida, própria do direito subjetivo e a existência de um
dever jurídico correspondente.

Poderão faltar o interesse do titular, ou sua vontade efetiva, mas em


hipótese alguma haverá direito subjetivo se inexistir essa relação de
dependência.”)82

Teorias de Kelsen e Duguit (Teorias Negativistas) - Negam a


existência do direito subjetivo dentro da ordem jurídico-positiva.
Expressão do pensamento positivista, afastando conceitos axiológicos,
restando o conceito de que o que existe de fato é o dever de cumprir a
norma positivada.

Direito Potestativo:

É o poder conferido ao respectivo titular de produzir um efeito jurídico


mediante uma declaração unilateral de vontade, só de per si, com ou sem
formalidade, ou integrada por uma ulterior decisão judicial. São sujeitos a uma
modificação jurídica.
Exemplos: O direito de o locador denunciar a locação; ou o direito do
condômino de extinguir o condomínio.
Pode-se dizer que os direitos potestativos são poderes que o respectivo
titular tem de formar direitos, mediante a simples realização de um ato
voluntário e sem que isso corresponda em relação ao obrigado o cumprimento
de uma prestação.
Diferentemente das demais espécies de direitos subjetivos, no caso dos
direitos potestativos, o sujeito passivo da relação jurídica, ao invés de
prestar, satisfazendo a obrigação, apenas submete-se à vontade do titular do
direito (sujeição).
As diferenças fundamentais, portanto, são:
No direito subjetivo: há um dever jurídico preexistente, o que não ocorre
no potestativo;
O direito subjetivo pode ser violado, o potestativo não.

82
Cit. Profª Célia Barbosa Abreu Lawinski – Unesa.
48
Direitos potestativos constitutivos:

São aqueles em que o seu titular tem o poder de criar uma relação jurídica por
sua exclusiva manifestação de vontade.

Exemplo: A servidão de constituição de passagem, a aceitação de


herança, o direito de preferência.
Direitos potestativos extintivos:

São aqueles em que seu titular tem o poder de extinguir uma relação jurídica,
por sua exclusiva manifestação de vontade.

Exemplo: A revogação do mandato, o rompimento do vínculo do casamento


pelo divórcio, a anulação de negócio jurídico.

Direitos potestativos modificativos:

Alguns autores sustentam, ainda, a existência de direitos potestativos


modificativos. São aqueles que produzem uma modificação de uma relação
jurídica preexistente, que continua a existir:
Exemplo: casal que convive em união estável e contrai matrimônio.

Outras situações jurídicas subjetivas:

O direito subjetivo é apenas uma das categorias possíveis de situação jurídica


subjetiva, assim como o interesse legítimo, a faculdade e o poder.

Poder Jurídico e Faculdade Jurídica são expressões semelhantes, mas, com


significados diferentes.
O PODER JURÍDICO nasce da norma e deve ser exercido pelo respectivo
titular, em caráter quase obrigatório. Assim, por exemplo, o pátrio poder que
têm os pais em relação aos filhos.

Diferença direito subjetivo e poder

No direito subjetivo estamos diante de uma pretensão, a ser exercida em seu


próprio benefício e a qual corresponde um dever jurídico. Já na situação de
poder é conferida uma função normativa atribuída a um titular, que não pode
deixar de praticá-la, em razão de sua indisponibilidade. Ao poder corresponderá
uma forma, maior ou menor, de sujeição.

Exemplos de poder: poder familiar (poder dever instituído aos pais em função
do interesse dos filhos); formas de poder exercidas pelos órgãos do Estado
(não no interesse da Repartição Pública, mas da coletividade). (Miguel Reale,
Lições Preliminares de Direito).

Faculdade jurídica:

49
Como já pudemos aferir em aulas anteriores, a Faculdade Jurídica vem a ser o
poder conferido pelo direito de praticar certo ato sem que haja um dever
jurídico em contrapartida. Ex: faculdade de contratar, faculdade de adquirir,
faculdade de casar, a faculdade de alterar um contrato, a faculdade de alienar
um objeto seu.

A Faculdade Jurídica como uma expressão do Poder Jurídico consiste na


possibilidade da pessoa praticar atos jurídicos em sentido amplo, como o de
adquirir uma casa. Esta prática, como as demais que decorrem do princípio da
autonomia da vontade, não constitui um direito subjetivo, porque não se opõe
a qualquer dever jurídico. A possibilidade de contrair matrimônio, emancipar o
filho menor, doar bens é simples faculdade humana decorrente de
permissibilidade legal.83

A Faculdade Jurídica consiste no poder de agir conforme a norma, podendo


deixar de ser exercida sem afetar a existência do direito. Decorre da vontade do
titular do direito subjetivo, que pode ou não exercitar os próprios direitos em
face do sujeito passivo, dele exigindo ou não a sua satisfação, para o que
dispõe do direito de ação.
O exercício de um direito, em princípio, é facultativo, como no caso dos
direitos reais (consistem nas faculdades de uso, gozo ou fruição e disposição da
coisa) ou obrigacionais (consistem em exigir do devedor a prestação de dar, de
fazer ou de não fazer). Contudo, há direitos que devem ser exercidos
obrigatoriamente, porque são outorgados em proveito de outras pessoas, como
os do pai em relação aos filhos. Nesse caso estaremos mais no campo do poder
jurídico do que da faculdade jurídica.
No entender de Maria Helena Diniz “É comum dizer-se que o direito subjetivo é
facultas agendi. Porém as faculdades humanas não são direitos, e sim
qualidades próprias do ser humano que independem de norma jurídica para sua
existência”.
Entende, ainda, que “Compete a norma jurídica ordenar tais faculdades
humanas; logo, o uso dessas faculdades é lícito ou ilícito, conforme for
permitido ou proibido. Portanto, o direito subjetivo é a permissão para o uso
das faculdades humanas”. “A facultas agendi é anterior ao direito subjetivo.
Primeiro, a faculdade de agir, e, depois, a permissão de usar essa aptidão.84 Ex:
Todos nós temos o direito de ser proprietários (facultas agendi), porém a
norma (direito objetivo) é que garante o direito de propriedade.
É importante diferenciar a faculdade humana do direito subjetivo. Enquanto a
primeira não está condicionada a um dever jurídico correlato o Direito Subjetivo
decorre de disposição legal e, conseqüentemente, está condicionado a um
dever jurídico, a uma obrigação. Em suma, a faculdade humana, quando
autorizada por lei, torna-se faculdade jurídica e a facultas agendi, nesse caso,
equivale ao Direito Subjetivo.
Como características das faculdades jurídicas podemos apontar:

Não têm vida própria. Submetem-se, no exercício, às normas que disciplinam


o direito que as integram;

83
Idem – (cit. Recaséns Siches, Tratado General de Filosofia Del Derecho).
84
Maria Helena Diniz – Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. Cap 3 – 1 C, p. 246
50
São conseqüências naturais do direito. Antes de o direito ser adquirido, quem
tem a expectativa de adquiri-lo não pode exercer qualquer de suas
faculdades;
A faculdade pode deixar de ser exercida sem afetar a existência do direito que
integra. O conteúdo de um direito pode ser desfalcado de uma de suas
faculdades que o compõe, sem que o direito deixe de existir;
O direito subjetivo não perde a substância por não ser exercida qualquer uma
das suas faculdades, a menos que outra pessoa, por equívoco ou de modo
consciente, passe a exercê-las ostensivamente, prolongando a sua ação por
tempo que o ordenamento jurídico considere suficiente para que adquira o
direito que corresponde à faculdade jurídica exercida.

Exemplo: é o que pode acontecer ao proprietário que não exerce a faculdade


de usar ou gozar (receber os frutos), deixando inerte o seu direito até que
alguém adquira o direito de propriedade através do usucapião;

São as faculdades que dinamizam os direitos, impossibilitando sua


cristalização. Um direito cujo titular não usa as faculdades correspondentes,
conserva-se estático e pode prescrever ou gerar a decadência.

Como ensina Paulo Dourado de Gusmão, “O direito subjetivo não se confunde


com o estado pessoal (status), com a expectativa de direito, com a faculdade
jurídica, com o lícito jurídico e com a posição jurídica”.85

Posição jurídica (Situação Jurídica): Pode ser definida como a situação do


sujeito em uma relação jurídica, por força da qual é chamado a agir na esfera
jurídica do outro.

Status ou estado pessoal: É um dos pressupostos do direito subjetivo,


consistindo em uma situação jurídica da qual decorrem, ou podem decorrer
direitos subjetivos, tal como o estado de casado. 86

Expectativa de direito: Chamada por Carlos Alberto Bittar de situação


jurídica preliminar, é o direito subjetivo ainda em formação, que pode vir a ser
direito. Ainda não foi incorporado ao patrimônio ou à personalidade de um
titular. (Exemplo: O funcionário público a ser promovido por antiguidade e que
está em primeiro lugar na lista da Administração Pública para a promoção. Sua
expectativa só se consolida em direito quando ocorrer a vaga.)87

Lícito jurídico: É a esfera de ação social deixada à livre decisão do indivíduo,


não regulamentada juridicamente. A norma jurídica não ordena, nem proíbe,
deixa no campo da licitude, não no direito subjetivo. (Exemplos: art 8o, V e 170,
§ único da CF).

Posições Jurídicas passivas:

85
Paulo D. Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, 150 – p. 267/268.
86
Paulo D. Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, 150 – p. 267.
87
Idem.
51
Encontra-se na posição jurídica passiva, o sujeito passivo da relação jurídica,
isto é, quem tem o dever jurídico imposto pela norma ou decorrente de um
ato de vontade. Exemplo: o contrato. É a posição em que se encontra aquele
contra quem é dirigida a vontade do sujeito ativo. Em qualquer circunstância,
estará o devedor num ESTADO DE SUJEIÇÃO ao credor (titular do direito),
visto caber a este a faculdade de exigir a satisfação de seu direito, no caso de
inobservância do mesmo.

Dever Jurídico:
Pode-se dizer que o Dever Jurídico equivale à posição jurídica daquele sujeito
que, em decorrência da norma, está obrigado a praticar um ato ou se omitir,
sob pena de ser penalizado. Só há dever jurídico quando há possibilidade de
violação da regra social. Dever jurídico é a conduta exigida.88
O dever jurídico decorre do próprio ordenamento jurídico, que há de prever
obrigações para cada direito existente, independentemente, do tipo da norma
ou da espécie da relação jurídica. Ex: Contrato, onde as partes contraem
obrigações; Norma tributária que exige do contribuinte o pagamento de
determinado imposto.
Ensina Paulo Nader que existem duas correntes divergentes sobre o dever
jurídico. Enquanto a mais antiga o identifica como dever moral, prevalece a
corrente positivista de Kelsen que identifica-o como com as expressões
normativas do direito objetivo. “o dever jurídico não é mais que a
individualização, a particularização de uma norma jurídica aplicada a um
sujeito”, “um indivíduo tem o dever de se conduzir de determinada maneira
quando essa conduta é prescrita pela ordem social”.89
Dentre as várias espécies de obrigações jurídicas, destacam-se:
Dever positivo: Obrigação de dar e fazer;
Dever negativo: Exige omissão. Caso específico da obrigação de não-fazer.
Dever contratual: tem origem nos contratos;
Dever extracontratual ou aquiliano: dever legal decorrente da lei. São
deveres jurídicos extracontratuais, também denominados obrigações
aquilianas, os que se originam de uma norma jurídica. Exemplo: o dano em
um veículo, provocado por colisão, gera direito e dever para as partes
conflitantes.
Dever jurídico permanente: É aquele que não se esgota com o seu
cumprimento. Exemplo: os jurídico-penais, que são ininterruptos.
Dever jurídico transitório ou instantâneo: É aquele que se extingue com o
cumprimento da obrigação. Exemplo: o pagamento de uma dívida faz cessar
o dever jurídico.

Sujeição:

88
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 176 – p. 312/314.
89
Hans Kelsen, Teoria Pura do Direito Vol. I, 225 (cit. Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito,
176 – p. 313)
52
São elementos fundamentais da relação jurídica, o direito e o dever, que
coexistem num plano de igualdade dentro do Direito, sem prevalência de um
sobre o outro.
Todavia, o dever jurídico imposto pelo contrato ou por lei, sujeita-se ao poder
do titular do direito, pois cabe a este exigir a prestação de dar, de fazer ou de
não fazer.

Exemplo: o devedor de uma importância a outrem tem o dever jurídico de


pagá-la na data do vencimento. O credor tem o poder de exigir, judicial ou
extrajudicialmente, o pagamento da dívida. Fica, assim, o devedor, em razão do
inadimplemento da obrigação, sujeito à execução de seus bens pessoais,
decorrente do descumprimento do dever jurídico.
Essa sujeição pode chegar alcançar um patamar mais grave, atingindo até
mesmo a liberdade do indivíduo. No direito civil são exemplos, a prisão no caso
de não pagamento da pensão alimentícia; na prisão do depositário infiel ou
ainda nos casos de sonegação fiscal. No direito penal, a sujeição pelo
descumprimento do dever jurídico imposto pela lei é mais grave, pois acumula
penas corporais com a interdição de direitos, obrigação de indenizar as vítimas
ou seus parentes, a perda de bens, entre outras.

Obrigação:

Quando o dever jurídico consiste em uma prestação de natureza


patrimonial temos a OBRIGAÇÃO. A prestação, que forma o conteúdo
dos deveres jurídicos, diz-se fungível ou infungível, conforme pode ou não
ser substituída por outra do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Todas as
prestações de coisas são fungíveis. Para a intenção das partes, se a
individualidade da pessoa é essencial ou não para caracterizar a prestação. Nos
deveres públicos, a regra é que a prestação não pode ser transferida para
outrem: o dever de votar, de prestar serviço militar são intransferíveis.
O cumprimento do dever assegura-se no direito por meio de coação direta ou
por meios indiretos de coação, como decadência de direitos, incapacidade, etc.
Juridicamente onde há obrigação, há sanção que a garante e assegura.
Existem, contudo, as chamadas obrigações naturais que são voluntárias,
mas, uma vez realizadas, não podem ser objeto de pedido de restituição.
Exemplo: o pagamento de dívida de jogo, ou de dívida prescrita.

Quando o dever jurídico consiste em uma prestação de natureza


patrimonial.90 O cumprimento dela promove a circulação de bens. Pode se
dizer que é o vínculo que une dois indivíduos, no qual uma delas (o devedor)
está obrigada a uma prestação de natureza econômica à outra (o credor).

Ônus:

90
Paulo D. Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, 151 – p. 268.
53
Compreende a necessidade que o agente tem de comportar-se de determinado
modo para realizar um interesse próprio. (art 530, I do Código Civil de 1916 /
dispositivo correspondente no Novo Código Civil, art 1245).

É, portanto, a necessidade que o agente tem de comportar-se de determinado


modo para realizar interesse próprio, como, por exemplo, o ônus da prova para
quem deseja defender judicialmente um direito seu.
Também pode ser um encargo imposto ao beneficiário de um negócio jurídico
gratuito, como por exemplo, a doação ou legado, favorecendo o próprio
instituidor, terceiro, ou a coletividade anônima. São facilmente encontrados nas
doações aos Municípios, com o encargo de que sejam construídos hospitais,
escolas ou creches, em benefício da comunidade. Apresenta-se, o encargo
(ônus), como um dever imposto ao beneficiário da liberalidade, cujo descum-
primento poderá dar ensejo à revogação da mesma. Mas a sua realização não
pode ser exigida compulsoriamente, nem constitui contra prestação do
benefício recebido, consistindo numa recomendação ou um conselho ao bene-
ficiário, sabendo esse que, caso aceite a liberalidade, deverá cumprir o ônus.

Diferenças entre dever jurídico e ônus jurídico

No dever jurídico, o comportamento do agente é necessário para satisfazer


interesse do titular do direito subjetivo, enquanto no caso do ônus o interesse
é do próprio agente;
No dever jurídico, o comportamento do agente vincula-se ao interesse do
titular do direito, enquanto no ônus esse comportamento é livre, embora
necessário, por ser condição de realização do próprio interesse.
O ônus é, pelas razões acima, o comportamento necessário para conseguir-se
certo resultado que a lei não impõe, apenas faculta. No caso do dever há uma
alternativa de comportamento, um lícito (o pagamento, por exemplo) e outro
ilícito (o não-pagamento); no caso do ônus, também há uma alternativa de
conduta, ambas lícitas, mas de resultados diversos, como se verifica, por
exemplo, da necessidade do adquirente de um imóvel registrar seu título.

Diferenças entre obrigação jurídica e ônus jurídico

Obrigação é prestação; ônus é encargo;


A obrigação deve ser satisfeita pelo devedor; o ônus deve ser satisfeito pelo
beneficiário da liberalidade;
A obrigação tem natureza coercitiva; o ônus não pode ser exigido
compulsoriamente.

54
AULA 10

Direito Subjetivo. Classificação: absolutos, relativos, patrimoniais,


extrapatrimoniais, originários, derivados, principais, acessórios,
transmissíveis, intransmissíveis.
A questão da inalienabilidade, da sub-rogação e da sucessão.

Classificação dos Direitos Subjetivos

São inúmeras as classificações dos direitos, dependendo do ângulo da análise.


Inicialmente, divide-se em DIREITOS SUBJETIVOS PÚBLICOS e a dos DIREITOS
SUBJETIVOS PRIVADOS.

Direitos subjetivos privados

Os Direitos Subjetivos Privados são majoritários dentre os direitos subjetivos em


geral. Provêm de normas de caráter privado, ou seja, que tratam das pessoas
em uma relação de igualdade. Não há prevalência do Estado com o poder de
“imperium”.
É importante frisar que, na prática, essas classificações estão sujeitas a críticas,
pois, tendo em vista as constantes modificações sofridas pela sociedade, muitas
das categorias abaixo não mais subsistem em sua integralidade.

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Direitos Subjetivos Patrimoniais e Extrapatrimoniais

Patrimoniais:

São aqueles que possuem conteúdo econômico, isto é, aqueles em que o


homem procura atender às suas necessidades econômicas. Em regra, são
transmissíveis e alienáveis, ao contrário do que ocorre com os direitos
personalíssimos.
Na concepção de Paulo Nader, subdividem-se em reais, obrigacionais,
sucessórios e intelectuais.91

Reais: São aqueles que têm por objeto um bem móvel ou imóvel;
Obrigacionais: Conhecidos ainda como de crédito ou pessoais têm por objeto
uma prestação pessoal. Ex: contrato de trabalho;
Sucessórios: São aqueles direitos decorrentes do falecimento de seu titular e
são transmitidos aos seus herdeiros;
Intelectuais: Dizem respeito aos autores e inventores, que têm o privilégio de
explorar sua obra, com exclusão de outras pessoas.

91
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 172/2 – p. 306.
55
Extrapatrimoniais ou Não-Patrimoniais:92

Existem direitos pessoais extrapatrimoniais, também chamados inatos, porque


tutelam o ser humano a partir do seu nascimento, como é o caso dos direitos
de família puros. Aqui também estão compreendidos os direitos
personalíssimos. Exemplo típico no que se refere ao Direito de Família é o
disposto no § 5º, do art 226 da CF, cuja redação dispõe que “Os direitos e
deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem
e pela mulher”.

Tais direitos são dotados de valor moral, caso típico do direito à filiação, o
direito ao pátrio poder, o direito à honra. Podem ser direitos personalíssimos ou
direitos familiares propriamente ditos. De todo modo, são inalienáveis,
intransmissíveis, sendo alguns adquiridos pelo nascimento. Extinguem-se com a
morte do titular. Vale como exceptio lembrar que, um direito personalíssimo
pode ser explorado economicamente, embora não possa ser transferido a
outrem, como é o caso do direito à imagem.

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Direitos Subjetivos Absolutos e Relativos:93

Direitos Subjetivos Absolutos:

São aqueles em que o titular pode exigir um comportamento negativo


(abstenção) de toda a sociedade, sendo, portanto, exercidos erga omnes.
Caso típico do direito de propriedade, onde toda a coletividade é obrigada a
respeitar.
A principal característica dos direitos absolutos é o dever geral de abstenção de
todos os membros da comunidade no sentido de não lesionar referido direito.

Direitos Subjetivos Relativos:

São aqueles em que está na situação jurídica passiva uma pessoa ou pessoas
determinadas. Existe uma relação jurídica entre as partes, seja decorrente de
contrato, de ato ilícito ou de imposição legal. Sua eficácia é circunscrita a
determinadas pessoas. São relativos aos direitos de crédito, in personam.
Reflexo das relações jurídicas relativas. Nos Direitos Subjetivos Relativos está
na situação jurídica passiva uma pessoa ou pessoas determinadas. Existe uma
relação jurídica entre as partes (inter pars), seja decorrente de contrato, de ato
ilícito ou de imposição legal.

Ex: Os direitos de crédito em face de alguém, como os decorrentes de uma


locação, de alimentos (direitos obrigacionais ou de crédito); e os pessoais,
como aqueles decorrentes do casamento, do pátrio poder, etc. (direitos de
família puros).

Direitos Subjetivos Originários e Derivados

92
Idem.
93
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 172/1 – p. 306.
56
Direitos Subjetivos Originários:

São direitos que se adquirem diretamente, sem interposição de titular anterior.


Ex: A personalidade civil, o direito ao nome dos pais, direito a alimentos, os
direitos personalíssimos, o usucapião, a ocupação, etc.

Direitos Subjetivos Derivados:

São os direitos que nos são transmitidos por alguém.


Ex: Direito à sucessão aberta, de uma compra e venda (direito de propriedade),
direito de crédito, etc.

Direitos Subjetivos Principais e Acessórios94

Direitos Subjetivos Principais:

São os chamados direitos independentes, autônomos.


Ex: Direito de propriedade, direito de crédito oriundo de contrato, o pátrio
poder, direito a alimentos.

Direitos Subjetivos Acessórios:

São aqueles que dependem do principal, não possuindo existência autônoma.


Ex: Direitos decorrentes do contrato de fiança, direto a percepção de juros, os
resultantes de uma cláusula penal, etc.

Direitos subjetivos transmissíveis e intransmissíveis95

Direitos Subjetivos Transmissíveis: Os direitos subjetivos são em regra


transmissíveis, isto é, podem ser transferidos para outros sujeitos.

Direitos Subjetivos Intransmissíveis: Mas nem sempre é assim. Também


temos os direitos subjetivos, que não estão sujeitos à transmissão. São os
denominados personalíssimos, que dizem respeito, normalmente, aos direitos da
personalidade.
Ex: Direito à honra, à vida, ao nome, à imagem.

Da Inalienabilidade

A questão da inalienabilidade versa primordialmente sobre a indisponibilidade


de uma coisa ou de um direito. Na esfera do Direito Romano, as coisas

94
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 172/3 – p. 307.
95
Paulo Nader – Introdução ao Estudo do Direito, 172/2 – p. 307.
57
inalienáveis eram coisas fora do comércio, que não podem ser objeto de
apropriação individual e que não podem também ser vendidas ou compor o
patrimônio de uma pessoa.

Pelo nosso Direito, há três categorias de bens inalienáveis:

NATURALMENTE indisponíveis, como, por exemplo, o ar atmosférico, a


água, o mar, considerados como bens não-econômicos, em face de sua grande
quantidade;
LEGALMENTE inalienáveis, como, por exemplo, os bens públicos de uso
comum do povo ou de uso especial, os bens dotais, os bens de incapazes, o
corpo, a vida, etc.
Inalienáveis pela VONTADE HUMANA, isto é, resultante de manifestação
de vontade que não pode ser arbitrária, somente pode ocorrer nos casos
previstos em lei. Pode ser temporária ou vitalícia. Pode resultar de doação, de
testamento ou da instituição do bem de família.

Sub-rogação

Significa, em sentido amplo, substituição de um titular de direito por outro, ou


de uma coisa por outra. Distingue-se, portanto, sub-rogação PESSOAL da sub-
rogação REAL.

SUB-ROGAÇÃO PESSOAL: quando uma pessoa, natural ou jurídica, substitui


outra na relação jurídica, seja por ato inter vivos, seja causa mortis.

SUB-ROGAÇÃO REAL: quando um bem toma lugar de outro como objeto do


direito.

Sucessão

Na hipótese de transmissão derivada, o novo titular adquire o direito do seu


anterior titular. Nesse caso, temos o fenômeno da SUCESSÃO.

Dá-se a sucessão quando alguém assume o lugar do outro sujeito em um


determinado direito subjetivo. Pode ocorrer inter vivos, como no caso da
compra e venda, ou causa mortis, como no caso da sucessão hereditária.
A sucessão é presidida por certos princípios gerais, como, por exemplo, o de
que ninguém poder transmitir mais direitos do que possui ou de que não se
pode adquirir mais direitos do que possuía o seu titular anterior.

58
AULA 11
Direito Adquirido

Exercício versus abuso de direito96

Os ATOS DE EXERCÍCIO dos direitos subjetivos estão sujeitos a determinados


requisitos de duas ordens:

requisitos subjetivos;
requisitos objetivos.

96
Paulo Dourado de Gusmão – Introdução ao Estudo do Direito, 152 – p. 269.
59
Os requisitos subjetivos dizem respeito aos sujeitos do direito subjetivo,
isto é, o sujeito que o exercita (sujeito ativo) e o sujeito em face de quem se
exercita (sujeito passivo). Devem ambos os sujeitos ter legitimação, isto é,
idoneidade para praticar atos de exercício de um determinado direito subjetivo
(legitimação ativa) ou para suportar o exercício do direito (legitimação passiva).
Num ou noutro caso, a legitimação pode ser direta ou indireta, ocorrendo a
primeira quando existe plena coincidência entre o titular do direito ou o sujeito
passivo e aquele que pratica os atos de exercício do direito subjetivo
(capacidade de gozo e de exercício) ou de defesa; e a segunda, quando não
coincidem na mesma pessoa a capacidade de gozo e a de exercício, como no
caso dos absolutamente incapazes, que são representados (na verdade,
substituídos) em todos os atos da vida civil por seus tutores ou curadores ou
são por eles assistidos em certos atos, no caso de incapacidade relativa.
Os requisitos objetivos dizem respeito ao exercício oportuno e
tempestivo do direito subjetivo, isto é, não podem ser exercitados nem
antes de adquiridos, nem depois da época devida, posto que, no primeiro caso,
faltaria legitimação e interesse ilegítimo, e, no último, porque, passado o limite
temporal para o exercício do direito, não teria mais ação para protegê-lo, em
virtude da prescrição, ou até o perderia em definitivo, nos casos de decadência.
Quanto ao ABUSO DO DIREITO, ao contrário da legislação dos outros países
(Código Civil alemão, espanhol, suiço, etc.), o ordenamento jurídico brasileiro
não contém regra genérica, mas o repele em várias passagens.Existem
parâmetros dentro dos quais os direitos podem e devem ser exercidos. Isto
significa dizer que os direitos, na verdade, são relativos; eles não são
absolutos, como podem a princípio parecer, salvo no tocante aos chamados
direitos personalíssimos (direito à vida, à liberdade, à honra, à imagem, ao
nome, etc.). Se os demais direitos fossem absolutos, não sofreriam qualquer
restrição ou limitação ao seu exercício. Sendo relativos, como de fato o são, o
exercício de um direito anormal pelo seu titular, causando prejuízo a outrem, é
considerado abusivo.
Portanto, o ABUSO DE DIREITO é o exercício anormal de um direito pelo
titular, isto é, sem que haja interesse legítimo ou além desse interesse, por
mera rivalidade, concorrência, imoralidade ou para prejudicar a outrem, sem
que o agente se beneficie do resultado, causando, ainda, dano injustificado a
terceiro. Desse conceito podemos extrair alguns requisitos essenciais:
que haja de fato um direito e o seu exercício pelo titular do mesmo;
que tal exercício se faça sem qualquer interesse legítimo ou além desse
interesse;
que o exercício do direito ocorra por mera rivalidade, concorrência ou ainda
para causar prejuízo a outrem;
que o agente não se beneficie do resultado;
que cause dano a terceiros.

É importante ressaltar que no ABUSO DO DIREITO não há manifestamente uma


ilicitude ou um ato injurídico. Se assim fosse, estaríamos ou diante de um ilícito
civil ou de uma ação típica configurativa de crime, hipóteses que não poderiam
ser consideradas simplesmente como abusivas, mas sim de natureza muito
mais grave. Para haver abuso de direito há que existir como pressuposto básico
um direito do qual se fará uso imoderado. Exemplo: emissão de som, barulho,

60
gases nocivos ou fumaça de forma excessiva, causando incômodo ou prejuízo
aos vizinhos.

O ABUSO DE DIREITO é, na verdade, um ato reconhecidamente lícito, embora


praticado desmedidamente, vindo trazer prejuízos a outrem, Como diz Machado
Paupério: “No abuso do direito não há violação direta da lei, como poderá
parecer a muitos, mas apenas a violação do princípio geral de que os direitos
devem exercer-se dentro de certos limites.”

Modalidade implícita de ato ilícito, o abuso de direito, porém, com ele não se
confunde, pois o abuso decorre do exercício de um direito, realizado, porém,
de forma imoderada, excessiva, injustificada, causando, assim prejuízo a
outrem.

Os efeitos do abuso de direito, desde que configurado este, dão margem ao


pedido de interdição ou cessação do mesmo, além do de indenização a fim de
reparar os danos sofridos. Se o abuso consiste na ameaça do exercício normal
de um direito para extorquir do ameaçado certa declaração de vontade, o seu
efeito consiste na anulabilidade do negócio jurídico, podendo até configurar
crime de ameaça, se coação houver.

61

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