Você está na página 1de 31

- Objeto da relação juridica

- Facto jurídico: negócio jurídico (tipos, quais as diferenças e caraterísticas, como se forma e
interpretam, patologias do negócio jurídico (vontade e divergência ))

- Regimes da nulidade

Bibliografia: vícios da vontade estudar pelo livro (há divergências doutrinárias).

Teoria Geral do objeto da relação juridica

O QUE É? É aquilo sob que incide a relação juridica. Portanto, posso dizer que o objeto da
relação juridica é no fundo o objeto o direito subjetivo, ou seja, é aquilo sob que incidem os
poderes do titular ativo da relação juridica. Portanto, este objeto da relação juridica não se
confunde com o conteúdo da relação juridica porque este ultimo é composto pelo conjunto de
poderes do titular ativo e pelo conjunto de deveres do titular passivo. Da mesma maneira que o
objeto do direito subjetivo não se confunde com o conteúdo do direito subjetivo porque o conteúdo
é o conjunto de poderes.

Problema: os direitos potestativos têm ou não objeto? Este problema coloca-se porque
enquanto o direito subjetivo em sentido estrito é a faculdade de pretender de outro algo, o direito
potestativo é o poder ou a faculdade de produzir efeitos juridicos na outra esfera juridica, logo, é o
direito a produzir efeiros juridicos, poder de produzir uma modificação juridica, logo é difícil saber
em que incide o direito potestativo. Quanto muito os direitos potestativos modificativos e extintivos
poderiam ter um objeto que seria num fundo a relação juridica modificada ou extintiva, mas os
direitos potestativos construtivos não é possível de todo identificar o objeto. Alguns autores dizem
que o objeto seria o próprio efeito jurídico. Parece que a melhor posição são…

Muitas vezes faz-se a distinção entre objeto mediato (é aquele que não está diretamente
submetido aos poderes do titular de direito ) e imediato( é aquele que está diretamente submetido
aos poderes do titular do direito). Excise-se um elemento mediador. Esta distinção nem sempre
faz sentido, por exemplo, no direito de propriedade, só faz sentido nas coisas de prestação de
coisa séria (pode-se falar de um objeto mediato (caderno) e num objeto imediato (prestação)
porque só se pode exercer direitos sobre o caderno através de um comportamento mediador).

Quais são os possíveis objeto das relações jurídicas? Artigo 202º CC: definição de coisa.
Este artigo faz equivaler o objeto da relação juridica à coisa. Esta equiparação entre objeto e coisa
não é correta, portanto podemos criticar este artigo 202º porque há mais objetos das relação
juridica para além das coisas.
• As pessoas. Podem ser objeto de relações jurídicas. Têm direito como objeto as pessoas
os direitos funcionais (responsabilidades parentais). Estes servem para proteger as
pessoas.
• A própria pessoa pode ser objeto de relações jurídicas. Direitos de personalidade, isto não
significa que estamos a coisificar a pessoa nem que se torne escrava de si própria. Os
direitos de personalidade têm um determinado fundamento: a dignidade da pessoa
humana , logo, não posso invocar um direito que lá contra ela.
• As prestações. Os direitos de crédito
• As coisas. Direitos reais (coisas corpóreas), direitos de autor, direitos de propriedade
industrial (coisas incorpóreas).

Definição de Coisas: Não é a mesma definição na vida corrente. Na linguagem corrente a


eletricidade não é uma coisa mas para o direito é uma coisa. Durante muito tempo houve uma
grande discussão. Para o direito coisa são todos os bens de caráter estático, desprovidos de
personalidade e não integrados no conteúdo essencial dessa personalidade. Temos aqui três
notas essenciais. Caráter estáticos (distinguir coisas de prestações), distinguir das pessoas e
distinguir a coisa dos bens da personalidade. Para além disto, a coisa para ser objeto da relação
juridica tem que ter determinadas caraterísticas: existência autónoma ou separada; suscetível de
apropriação por alguém, mas não tem que ser efetivamente apropriada; tem que ser apta a
satisfazer necessidades ou interesses humanos mas não tem que ter valor de troca (permutáveis).
As coisas não têm que ser coisas corpóreas, podem ser incorpóreas. Por exemplo, a eletricidade,
o software. Dentro das coisas pode-se estabelecer diversas classificações que contam no código
civil que as classificas: moveis ou imoveis, corpóreas ou incorporas, simples ou compostas,
divisíveis ou indivisíveis, etc. (artigo 203º e sggt CC).

Por fim, o conceito de coisas é muito amplo, por isso, durante largo tempo os animais
foram considerados coisas para o direito, o que não implicava qualquer mau tratamento para os
animais. Eram coisa porque o conceito de coisa era muito amplo. Recentemente o legislador tirou
os animais nos conceitos de coisas, mas não são sujeitos de relações jurídicas, são objeto de
relações jurídicas. Numa logica muito própria dos direitos de defesas dos animais. O artigo 202,a
define os animais mas aplica-se o regime das coisas. Portanto, não existem direitos dos animais
mas sim deveres que têm como objeto os animais e estes cumpre 3 objetivos: 1) a proteção da
própria humanidade; 2) a proteção dos interesses de alguns homens; 3) a salvaguarda dos bons
costumes.
• Direitos subjetivos podem ser objeto de relações jurídicas. Ou seja, podemos ter direitos
sob direitos, por exemplo, um penhor de um crédito, logo, temos um direito que tem como
objeto um outro direito subjetivo.

Noção de património: é o conjunto de todas as relações jurídicas avaliadas em dinheiro de que é


titular um determinado sujeito. O património não é objeto de direitos, de relações jurídicas. Não
existe um direito sob o património. Há determinadas realidades com grande relevo económico e
que não são integradas no conceito de património porque não configuram relações jurídicas, por
exemplo, a força de trabalho não configura uma relação juridica logo não integra o conceito de
património. Mas se ele tiver direito a uma indeminização já integra a noção de património.
Podemos falar de património em diferentes sentidos: património global (é o conjunto de todas as
relações jurídicas avaliadas em dinheiro que o sujeito é titular ativo e passivo), património
ilíquido(fala-se apenas do conjunto de relações avaliadas em dinheiro que o sujeito é titular ativo)
ou património liquido (fala-se de o conjunto de relações jurídicas avaliadas em dinheiro que o
sujeito é titular ativo menos as relações jurídicas que ele é titular o passivo).

Património autónomo: conjunto de relações jurídicas avaliadas em dinheiro que é submetido a um


tratamento jurídico especial ou particular. O critério desta autonomia é o critério da
responsabilidade por dividas. O património autónomo só responde por certas dividas e por essas
dividas só ele é que responde. Por exemplo, a herança. A morre e deixou o seu património que vai
ser atribuído aos herdeiros, este património inclui uma casa (100.000), automóvel (50.000), uma
conta bancária (50.000) e dividas (300. 000). Pelas dividas só vão responder os bens da herança,
os herdeiros não têm que pagar mais do que as forças da própria herança. Se a herança for aceite
os herdeiros têm que provar que não há mais bens na herança para pagar as dividas. Se a
herança for aceite a titulo de inventário então sabe-se quais são os bens da própria herança e não
é necessário fazer prova. Por outro lado, este ativo vai servir primeiramente para pagar as dividas
da própria herança e só depois as dividas dos herdeiros. Artigo 2070 e 2071º CC

Património coletivo: temos um único património e vários sujeitos titulares. Por exemplo, a
comunhão conjugal.
03/03 (T)

Objeto da relação jurídica


- O que é
- Possíveis objetos
- Património (enquanto conjunto de relações jurídicas) vs objeto

1. Facto jurídico
É todo o facto humano ou todo o acontecimento natural produtor de efeitos jurídicos.
É o que faz desencadear a relação jurídica.

- Factos involuntários (acontecimento natural);


- Factos voluntários/atos jurídicos (facto humano): classificações
• Factos lícitos (aqueles que estão em conformidade com o ordenamento jurídico) e factos
ilícitos (aqueles que são desconformes ao ordenamento jurídico);
• Simples atos jurídicos (os efeitos jurídicos que se produzem, produzem-se independentemente
da vontade - ex lege) e negócios jurídicos (são atos jurídicos mas os efeitos jurídicos que se
vão produzir estão em conformidade com a vontade que é manifestada - ex voluntate);

Negócio jurídico
É o facto jurídico voluntário ou ato jurídico cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais
declarações de vontade, tendentes à produção de determinados efeitos práticos que as partes
querem que sejam tutelados pelo direito. Há uma relação estabelecida entre a vontade que se
manifesta e os efeitos que se produzem.
A forma como se compreende esta relação levou ao surgimento de diversas teorias a propósito
desta noção:
a. Doutrina dos efeitos jurídicos — de acordo com esta, os efeitos que se produziriam pelo
negócio seriam sempre efeitos jurídicos perfeitamente correspondentes ao conteúdo da
vontade. Esta doutrina não pode ser aceite porque caso fosse, apenas um jurista com uma
formação completa poderia celebrar negócios jurídicos. Há efeitos que resultam de normas
supletivas e não das vontades específicas das partes, isto é, não correspondem totalmente à
vontade manifestada pelas partes.
b. Teoria dos efeitos práticos — de acordo com esta, as partes manifestam a vontade de
produzir efeitos práticos e o ordenamento jurídico faria corresponder a esses efeitos práticos
determinados efeitos jurídicos. Esta teoria não pode ser aceite, dado que, se aderirmos a esta
teoria, não conseguimos distinguir o negócio jurídico de outros acordos da vida social,
designadamente de figuras próximas ao mesmo, como os negócios de pura obsequiosidade
e acordos de cavalheiros (gentleman agreement).
Os negócios de pura obsequiosidade correspondem a promessas ou combinações da vida social
às quais é estranho o intuito/intenção de criar um vínculo jurídico (ex.: convite para jantar).
Os acordos de cavalheiros são combinações sobre matérias que normalmente são objeto de
negócios jurídicos mas, relativamente às quais, as partes não pretendem criar efeitos jurídicos.
c. Teoria dos efeitos prático-jurídicos — num negócio jurídico, os sujeitos manifestam a
vontade de produzir determinados efeitos práticos mas manifestam, também, a vontade de
que eles sejam juridicamente vinculantes.

Classificações dos negócios jurídicos


I. Unilaterais vs Bilaterais (=contrato) — tem em conta o número e direção das declarações de
vontade. Nos negócios jurídicos unilaterais há apenas uma declaração negocial ou várias
declarações negociais, mas todas no mesmo sentido, de tal maneira que só há uma parte
(ex.: testamento). Dentro destes, há os negócios jurídicos não recetícios e os recetícios: os
primeiros consideram-se perfeitos com a mera emissão de declaração negocial; os últimos só
se consideram celebrados quando a declaração negocial é levada ao conhecimento do
destinatário. Os negócios jurídicos bilaterais ou contratos são integrados por, pelo menos,
duas declarações negociais (proposta e aceitação), de sentido oposto, mas convergente.
Dentro dos negócios jurídicos bilaterais, há uma distinção entre contratos unilaterais e
contratos bilaterais. O contrato unilateral distingue-se do contrato bilateral pelos efeitos
jurídicos que se produzem, isto é, nos contratos bilaterais produzem-se efeitos jurídicos e
obrigações para ambas as partes (ex.: compra e venda); nos contratos unilaterais, apenas se
geram obrigações para uma das partes (ex.: doação).
II. Negócios entre vivos vs negócios mortis causa —o que os distingue é o momento da
produção dos efeitos jurídicos. Nos primeiros, os efeitos jurídicos produzem-se logo. Nos
segundos, os efeitos jurídicos só se vão produzir depois da morte (ex.: testamento). Os
negócios mortis causa são especiais, considerados fora do comércio jurídico, e é por isso
que os interesses que prevalecem são os interesses do declarante. O testamento tem duas
características ao nível do seu regime: (1) os efeitos jurídicos só se produzem depois da morte
do testador; (2) o testamento é livremente revogável.
Haverá, ou não, no nosso ordenamento jurídico, outros negócios mortis causa?
Entre nós, os pactos sucessórios são proibidos. Se for feita uma doação por morte, ela é tratada
como uma disposição testamentária e, como tal, pode ser livremente revogada (art. 946º CC),
mas há excepções a esta proibição: nas convenções antenupciais é possível fazer disposições
por morte, sendo que estas podem ser feitas por qualquer dos esposados a favor de um deles ou
a favor de um terceiro. No primeiro caso, aplica-se o art. 1700º/1, a) CC, resultando duas notas:
(1) a transferência de propriedade só ocorre por morte; (2) não é livremente revogável — negócio
híbrido (tem características dos dois tipos de negócio). No segundo caso (a favor de um terceiro),
há duas hipóteses: o terceiro interveio no ato (a disposição não é livremente revogável, sendo um
negócio híbrido); se não interveio, o negócio é livremente revogável e tem natureza de negócio
mortis causa.

Quanto à forma
1. Solenes ou Formais — aqueles que, para serem validamente celebrados, exigem uma
determinada forma. Esta pode ser um documento autêntico, um documento autenticado, um
documento particular ou o casamento.
2. Não solenes ou Consensuais — podem ser celebrados de qualquer forma ou, até, sem forma
(verbalmente). Constituem a maioria dos negócios (art. 219º CC — liberdade de forma). A
excepção é a exigência de forma. Se houver exigência e esta não for cumprida, o negócio é
nulo (art. 220º CC).

Quanto à constituição
1. Consensual — é a regra. Para que um negócio jurídico se considere celebrado, bastam as
declarações negociais.
2. Real — é a excepção. Só se consideram perfeitos se, para além das declarações negociais,
existir um ato material de entrega (ex.: penhor, comodato, depósito, mútuo).

A doutrina tem-se mostrado particularmente crítica desta configuração de alguns negócios como
reais quanto à constituição. Esta diz que há uma excepção em que se justifica esta configuração,
o penhor. À excepção deste, não há justificação para, nos outros casos, serem configurados
como negócios reais.
Para os autores, seria algo que restou do direito romano e não teria grande razão de ser.

(ex.: António e Bernardo — carro na garagem)


Perante uma situação de injustiça, a doutrina aponta duas soluções:
- Não foi celebrado um contrato de depósito, mas sim um contrato-promessa de depósito: uma
parte incumpriu e, assim, lança mão de uma ação de execução específica (ação proposta em
tribunal, proferindo uma sentença, funcionando esta como um comportamento que está em
falta para celebrar o contrato).
- Trata-se o contrato como um contrato consensual e, por isso, considera-se que uma parte já
tem uma obrigação e só trataríamos este contrato como um contrato real se a outra parte
provasse que eles não queriam vincular-se sem o ato material de entrega.
Critério do conteúdo e das finalidades:
• Negócios onerosos — negócios em que há duas atribuições patrimoniais, unidas entre si, por
um nexo de correspetividade, isto é, uma é causa da outra, e implica um equilíbrio das
prestações.
Negócios onerosos comutativos (regra) —há uma relação de troca (ex.: compra e venda).
vs
Negócios onerosos aleatórios — são aqueles que se caracterizam pela submissão das partes a
uma álea (risco de ganhar ou risco de perder). Esta submissão transforma estes negócios em
negócios onerosos. Há 3 hipóteses:
- Há uma prestação mas não se sabe qual dos contraentes a vai realizar (ex.: contrato de
aposta);
- Há uma prestação que é certa e outra que é incerta (ex.: contrato de seguro de
responsabilidade civil);
- Há uma prestação que é certa e outra que é certa quanto à sua existência mas incerta quanto
ao seu montante (ex.: seguro de vida).
• Negócios gratuitos — negócios em que um determinado sujeito pretende gerar um benefício
em relação ao outro (animus liberandi).

• Negócios mistos — há duas prestações que se correspondem e, subjacente às mesmas, há


um animus liberandi (intenção de favorecer).

A distinção entre contrato unilateral/bilateral e a distinção entre negócios onerosos/gratuitos não


é correspondente nem coincidente, de tal maneira que podemos ter um negócio,
simultaneamente, unilateral e oneroso.

Contratos unilaterais onerosos — há atribuições patrimoniais para ambas as partes, unidas por
um nexo de correspetividade, só gerando obrigações para uma das partes (ex.: mútuo —
contrato real quanto à constituição).

Aula 3 (online)

Declarações negociais como elemento estruturante do negócio jurídico.


- A declaração negocial é todo o comportamento que exteriormente observado criava a
aparência de exteriorização de um determinado conteúdo de vontade negocial.

Elementos:
- Interno — vontade de ação, declaração e negocial;
- Externo.
Tipos de declaração negocial (art. 217º CC):
1. Expressas: feitas através de palavras, de forma direta
2. Tácitas: deduzidas através de um comportamento/ato

Qualquer uma delas tem o mesmo valor, embora haja determinados negócios jurídicos que só
podem ser celebrados mediante declarações expressas.

Por outro lado, o carácter formal da declaração não impede que seja emitida tacitamente os
termos da declaração (art. 217º/2).
Art. 218º do CC — silêncio
Para o direito, o silêncio é o nada dizer e o nada fazer (não se trata apenas de não falar, mas sim
de não atuar em nenhum sentido).
O silêncio não tem valor de declaração negocial, dado que se temia que o sujeito, sem se
pronunciar, se vinculasse a um negócio jurídico contra a sua vontade.
Excepções: o silêncio pode valer, desde que o valor seja atribuído por lei, por uso ou por
convenção.
- Uso — prática habitual, num determinado círculo social, estabelecido entre os contraentes. Ou
o valor do silêncio é recorrente naquele âmbito, ou os contraentes, na sua prática negocial, já
recorrem ao silêncio para a contração de um negócio. É um hábito.
- Lei — há uma norma que prevê o caso concreto em que o silêncio vale como declaração
negocial.
- Convenção — caso seja estipulado pelas partes. A e B acordam que, se nada for dito, o
silêncio terá valor de aceitação.

Declarações negociais:
1. Presumíveis — são as situações em que a lei liga um determinado comportamento do sujeito
a uma determinada vontade negocial. A lei diz que o comportamento deve ser entendido num
sentido específico, admitindo que esta presunção que se estabelece pode ser ilidida (art.
926º). Em caso de dúvida, presume-se que está em causa a venda a contento.
2. Ficta (art. 1054º) — se o contrato de arrendamento for celebrado por um determinado
período, vai renovar-se sucessivamente, excepto se houver uma vontade a opor-se à mesma.
À não manifestação é imposta esta condição. A lei não admite que seja ilidida a presunção.

Outras modalidades de declaração negocial:


- Reservas: declaração nos termos da qual especifica que um comportamento não corresponde
à renúncia de um direito.
- Protesto: declaração emitida pelo sujeito que visa explicitar que a declaração negocial
previamente emitida não pode ser entendida num determinado sentido.

A forma da declaração negocial/negócio jurídico (art. 219º CC).


- Vigora a regra da liberdade de forma.
Excepções: razões justificativas
a. Maior reflexão das partes
b. Formulação mais precisa dos termos do contrato
c. Maior certeza acerca da celebração do contrato
Etc..
Muitas vezes a forma exige-se tendo em conta a importância do negócio jurídico para as partes.

Como desvantagem, haverá a menor celeridade.

A forma do negócio juridico é imposta, em termos excepcionais, e pode ser de duas formas:
1. Legal (imposta por lei)
2. Convencional — determinada pelas partes. A e B celebram um negócio, negócio
determinativo da forma, e, num segundo momento, temos o negócio propriamente dito. O
primeiro, determinativo da forma, só pode exigir uma forma que o legislador não exigia. Este
não pode determinar a submissão a uma forma menos exigente do que o legislador previu. Se
isso acontecesse, torná-lo-ia nulo (violação dos requisitos do art. 280º).

A forma pode distinguir-se, entre:


- Formalidades ad probationem: estabelecida por questões probatórias, isto é, determinada para
que as partes, no futuro, quando necessitarem de estabelecer a prova de um determinado
aspeto daquele negócio, o possam fazer com maior facilidade. São estabelecidas por
questões atinentes à prova e à necessidade eventual de prova, quer da celebração do negócio
quer dos termos em que foi celebrado.
- Formalidades ad substantiam: são exigidas como condição de validade do próprio negócio.
Quando é imposta uma forma, se ela não for cumprida, torna-se nulo. Temos a nulidade como
sanção.

Nota:
Saber qual o âmbito da forma legal exigida? O que tem de constar da forma?
— A e B celebram um contrato de compra e venda de um imóvel e este é celebrado por escritura
pública. Aqui estabelecem um fracionamento do preço (não é pago todo ao mesmo tempo): uma
prestação paga-se no momento da escritura, outra ao fim de um ano. Se vale 100000€, pagar-se-
ia 50000€ por prestação. Quando A e B celebram este contrato, da escritura não consta este
acordo dos sujeitos relativamente à forma de pagamento.
Resta saber se esta cláusula acessória, que estabelece o modo de pagamento do preço, de deve
ser considerada válida. Quando se exige a E. Pública, deve estar tudo contido na mesma? (art.
221º CC).
Segundo o CC, há requisitos para que não seja nulo:
- Tem de ser uma estipulação verbal acessória: complementa o documento mas não o contraria;
- As razões determinantes da forma não lhe sejam aplicadas;
- Têm de corresponder à vontade do autor da declaração — no que diz respeito à prova, há
limitações (art. 394º): não é admitida a prova por testemunhas, restando a prova por confissão
ou prova por um documento (menos solene); quanto às estipulações posteriores à declaração
negocial (art. 394º/2), só são sujeitas à forma legal se as razões de exigência especial de forma
lhes forem aplicadas.
Não se exige a prova da correspondência à vontade do autor da declaração, porque se trata de
pactos modificativos/extintivos, estando em causa saber se as razões determinantes da forma se
aplicam ou não a estas situações.

• Se a forma não for cumprida, tratando-se de uma forma legal exigida, considera-se o negócio
nulo nos termos do art. 220º.
Saber se, em algumas situações, pode invocar-se o abuso do direito para impedir a arguição de
nulidade proveniente da nulição da forma, isto é, alegar as invalidades formais?
- A doutrina diverge. Mota Pinto diz que sim. Outros autores, como Antunes Varela, entende que
não.

Pode não ser possível invocar a ilegalidade, independentemente da nulidade do negócio.


O tribunal pode reconhecer a nulidade ou um terceiro pode invocá-la.
Haverá, assim, responsabilidade pré-contratual.

• Podemos estar perante o problema do incumprimento, de forma convencional (art. 223º).


As partes podem estipular uma forma especial e, ao fazê-lo, presume-se que se querem vincular
por essa forma, tendo carácter constitutivo.
Se a forma for convencionada depois, não terá esse carácter e presume-se que elas se estiveram
a vincular desde logo.

Problema da perfeição da declaração negocial: saber quando podemos considerar celebrado o


negócio jurídico (art. 224º CC).
- Num negócio não recetício: a declaração produz os seus efeitos logo que é emitida
- Num negócio recetício: duas declarações, proposta e aceitação, tornando-se eficaz quando
chega à esfera de poder da outra parte.
Temos de considerar que o contrato só está perfeito no momento em que a declaração que
contém a resposta à proposta chega à esfera de poder do proponente. Este não tem de ter
conhecimento da aceitação, apenas tem de ter as condições para que isso aconteça.

Há momentos a considerar se a negociação decorrer entre ausentes:


- Emissão da declaração
- Expedição (enviar)
- Quando chega a declaração ao proponente
(não se exige o efetivo conhecimento)
— Arts. 232º - consenso; 233º - aceitação com modificações, ou seja, rejeição com uma nova
proposta; 228º - elaboração da proposta; 230º; 231º - caso de morte.

Outro tipo de declaração, para além da proposta e da aceitação:


- Convite a contratar: A emite uma declaração e, com esta, só quer suscitar um comportamento
do B no sentido de este emitir uma declaração negocial (ex.: anúncio de emprego no jornal).

A doutrina entende que só estamos diante de uma proposta quando ela é concreta, precisa,
quando revela inequivocamente a vontade de contratar e quando reveste a forma requerida.

O convite a contratar é uma proposta dirigida a um número indeterminado de pessoas, em que o


sujeito reserva para si a última palavra em matéria de contratação.

Problema da interpretação das declarações negociais:


• Posições objetivistas — o negócio jurídico é celebrado de acordo com o sentido que seria
captado objetivamente daquela declaração. Procura-se saber o que é que a declaração
transmite e o sentido da vontade do declarante.
Teoria da impressão do destinatário, posição objetivista mitigada (art. 236º CC) — é uma
limitação. Pretende-se tutelar a legítima expectativa do declaratário. No entanto, é necessário
que seja possível a sua imputação ao declarante.
Caso não seja possível imputar, a sanção é a nulidade: a doutrina diz que há uma escassa
importância desta excepção. O significado que um declaratário normal atribui a uma declaração é
quase sempre imputável, dado que o declarante tem o ónus de se exprimir de uma forma
compreensível. Esta excepção só importa quando há uma falta de consciência na declaração.
Pode haver uma situação em que o declaratário não conheça a vontade real do declarante, mas é
exigível que conheça (cognoscibilidade) — verifica-se nestes casos que vamos interpretar de
acordo com o declarante, dado que se lhe era exigível, segue-se a regra do art. 236º/1, fazendo
coincidir a impressão do declaratário com a vontade do declarante.
O art. 236º/2 diz-nos que a falsa demonstratio non nocet — não há legitimas expectativas a
tutelar, interpretando-se de acordo com a vontade do real declarante.
Os elementos a ter em conta na reconstrução desta impressão do destinatário são, não só a
própria declaração, mas os interesses em jogo, as finalidades do negócio, os hábitos do
declarante.
Pode acontecer que haja dúvidas, sendo o resultado duvidoso: aplica-se a regra do art. 237º.
Pode não ser possível resolver com este critério, não sendo possível atribuir um sentido à
declaração: há autores que dizem que a declaração é ineficaz (art. 224º/3); outros dizem que a
declaração é nula. Para nós, a melhor posição é a que entende que é uma questão de ineficácia.
Há algumas regras especiais no ordenamento jurídico para casos duvidosos: por exemplo, DL
446/85 (proteção do consumidor).
A doutrina da impressão do destinatário sofre desvios, no sentido de um maior objetivismo: há
desvios quando estamos perante um negócio formal (regra do art. 238º). O sentido
correspondente à impressão do destinatário não pode valer se não tiver um mínimo de
correspondência no texto do documento. A impressão do destinatário pode ser formada com
base em outros elementos que não os elementos textuais. Resta saber, quando não há um
mínimo correspondente, entre o sentido do texto e a declaração do destinatário, qual é a
solução? Há autores que entendem que o negócio deve valer com um sentido objetivo normal e
há quem entenda que o negócio é nulo (é esta a nossa posição), estando em causa aqui um
problema de forma (art. 220º).
O sentido que não esteja minimamente traduzido no documento, pode ainda valer nos termos do
nº2 do artigo 238º.

Situação de desvio de um maior subjetivismo — testamento (art. 236º).


Art. 2187º: estamos a falar de negócios mortis causa, não havendo necessidade de acautelar
medidas da contraparte, não havendo expectativas dignas de tutela. Na pesquisa da vontade real
do testador, podemos recorrer à prova complementar (elementos estranhos aos termos do
testamento, elementos orais, anotações), exigindo-se um mínimo de correspondência da vontade
do testador. Não é possível atender à vontade do testador se ela não estiver presente no
testamento.
O sentido subjetivo vale se o testador usou os termos numa acepção pessoal, dando isso a
entender no testamento, ou se era habitual usar esses termos numa acepção normal. Este
sentido não valerá se usou os termos numa acepção extravagante, sendo a solução a nulidade
(problema de forma).
Admite-se o sentido subjetivo se o que estiver em causa for uma significação muito própria do
testador que resulte da própria letra do testamento.

• Posições subjetivistas

Problema da integração (art. 239º) — tentativa de resolução de problemas que não foram
pensados pelas partes.
Significa que, se as partes não previram um determinado problema, havendo uma lacuna no
negócio, há expedientes para tentar resolver essa lacuna.
1. Expedições legais — regulação ou não do contrato e aplicação de uma norma
2. Vontade hipotética-conjetural das partes — vontade que teriam tido se tivessem previsto o
problema
3. Ditames da boa fé — estes não surgem apenas em termos subsidiários.

A integração tem limites, ou seja, não se pode ir para além do circulo regulamentado pelas
partes.

Aula 4 (online) — livro Falta e Vícios da Vontade

As declarações negociais são compostas por dois elementos: interno (vontade) e externo.
O elemento interno tende a corresponder ao elemento externo. O negócio jurídico é um
instrumento de manifestação da autonomia da vontade.

Pode ocorrer uma divergência entre aquilo que se quis dizer e aquilo que se disse.
Quando isto ocorre, estamos perante um problema de divergência entre vontade e declaração:
1. Divergências intencionais — propositadas, desejadas.
2. Divergências não intencionais — não desejadas, potenciadas por algo que não depende da
vontade do sujeito, erro.

Dentro das divergências intencionais:


- Simulação
- Reserva mental
- Declarações não sérias
Dentro das divergências não intencionais:
- Erro, obstáculo ou erro na declaração
- Coação física ou absoluta
- Falta de consciência da declaração
O problema das divergências está profundamente ligado à compreensão que temos em matéria
de interpretação de negócios jurídicos: objetivismo (interesses do declaratário) e subjetivismo
(vontade/interesses do declarante). — CC: teoria objetivista mitigada (sentido do declaratário,
atendendo à vontade do declarante quando o declaratário conhecia a vontade real do
declarante).

O problema da divergência é um problema que só é possível conceber porque partimos da


concepção objetivista.
A e B celebram um contrato, formado por uma proposta e uma aceitação. Quando A emite a
proposta, diz x, querendo dizer y. B aceita. Há uma divergência entre a vontade e a declaração.
Se optássemos por uma teoria subjetivista, interpretaríamos de acordo com a vontade querida
pelo A (de acordo com y), não havendo qualquer divergência.
Como o negócio vale de acordo com o sentido objetivo, que o declaratário normal entende na
posição do real declaratário entende da declaração, vale com o sentido que o primeiro atribui a x.
Como x não corresponde a y, há um problema de divergência entre a vontade e a declaração.
Há diversos interesses contrapostos: interesse do declarante (não vinculação), interesse do
declaratário (vinculação), interesses de terceiros (vinculação ou desvinculação, dependendo de
quem são).

Quando temos de dar resposta ao problema de saber se o negócio deve ou não valer, temos de
ter em conta todos estes interesses. Ao longo do tempo, surgiram diversas teorias, harmonizando
estes interesses, dando uma resposta no sentido de saber se o negócio em que há divergência
de vontades, pode ou não ser considerado válido.
- Teoria da vontade: peso essencial dado à vontade. Defende a invalidade do negócio, porque o
que importa é a vontade do declarante.
- Teoria da culpa in contraendo: crítica à anterior, porque punha em causa os interesses de
ambos, desvinculando facilmente o negócio. Esta parte da teoria da vontade, dizendo que o
elemento principal do negócio é a vontade, tendo de ser considerado inválido, dado que não
há coincidência entre a vontade declarada e a vontade real. Considera que deve haver uma
obrigação de indemnização quando o negócio é inválido e haja dolo/culpa do declarante e boa
fé do declaratário. Há uma atenção especial aos interesses deste último. Esta doutrina foi
superada porque respondia aos interesses do declaratário, mas não totalmente, deixando-os à
mercê de uma possível desvinculação do negócio.
- Teoria da responsabilidade: nestas situações de dolo/culpa do declarante e boa fé do
declaratário, o negócio pode ser considerado válido. A tutela não é só negativa, mas passa a
ser positiva. O elemento primordial é a vontade.
- Teoria da declaração: o elemento importante é agora a declaração, porque esta teoria dá
primazia ao interesse do declaratário, da tutela da sua confiança.
Dentro desta, há várias posições:
a. Posição tradicional — o peso só se atende à declaração, sendo a ideia que o negócio seja
sempre válido, de acordo com a vontade declarada e não de acordo com a real/querida. Esta
posição era muito formalista, deixando de acautelar os interesses do declarante. Acabou por
ferir o sentido de justiça que perpassava o negócio jurídico.
b. Teoria da confiança — a divergência entre a vontade e declaração produz a invalidade se for
conhecida ou cognoscível pelo declaratário. Só assim corresponde à justiça a invalidação do
negócio, acautelando-se os interesses do mesmo.
c. Teoria da aparência eficaz — parte da última. Considera o negócio inválido pelos mesmos
motivos, considerando ainda que também haverá essa invalidade quando o negócio envolva
uma vontade que é querida pelo declarante, uma que é dita por este, e um terceiro sentido
entendido pelo declaratário. A emite uma proposta x, quer dizer y, B entende z. Há 3 sentidos,
existindo a falta de justificação para a confiança, num sentido que não corresponde nem há
vontade real nem à declarada.

Tendencialmente, aderimos à teoria da confiança, sendo esta acolhida pelo nosso legislador, nas
diversas soluções nesta problemática. Há algumas correções, podendo aceitar a teoria da
aparência eficaz.

Como sabemos, não há uma resposta unívoca para as divergências, tendo de atender aos
diversos regimes e disciplinas que o nosso legislador consagrou.

Divergências intencionais: explicitação


1. Simulação — é uma divergência intencional entre a vontade e declaração, resulta de um
conluio entre declarante e declaratário e tem em vista enganar terceiros.

Modalidades da simulação:
- Absoluta (apenas um negócio jurídico)
- Relativa (dois negócios jurídicos: um simulado e um dissimulado). Nesta suscitam-se maiores
problemas, atendendo à validade ou invalidade do negócio dissimulado.
Dentro desta, podemos ter:
- Subjetiva (diz respeito aos sujeitos: interposição fictícia de pessoas — A finge doar a B. B doa
a C. Conluio entre A, B e C; não pode confundir-se com a interposição real, em que A vende a
B e depois vende a C, ou seja, não há conluio - atua por conta própria, na vontade de outro).
Acórdão do STJ - numa interposição real, estamos perante uma simulação.
- Objetiva (simulação cujo elemento ao qual diz respeito o dissídio entre a vontade e a
declaração localiza-se no âmbito de um elemento referente ao objeto/preço do negócio ou à
natureza/tipo do mesmo).

Simulação pode ser, ainda:


Fradulenta — tem por finalidade enganar e prejudicar terceiros.
Inocente — tem por finalidade enganar terceiros, sem prejudicar.
(ler acórdãos do livro)
— Apesar de serem muito ténues as diferenças quanto ao regime aplicável entre as duas, importa
destacar o art. 242º/2 CC: a intenção de prejudicar.

Valor do negócio simulado (art. 240º/2) — sempre nulo.


Quanto aos seus efeitos (art. 240º/2º rem. 1253º) — o adquirente simulador é considerado um
detentor (e não possuidor), não podendo adquirir por usucapião.

Valor do negócio dissimulado (art. 241º) — este pode ser válido ou inválido, dependendo do
tratamento que receberia se não tivesse sido simulado de forma escondida.
Ver se há causas de invalidade material ou se é invalido.
Se se tratar de um negócio formal, teremos de atender também à sua validade formal.

Nota:
Mesmo para os autores mais exigentes, sendo uma simulação relativa objetiva de preço,
entendem que não é preciso nenhuma contradeclaração, bastando a forma do negócio (art.
883º).

Se o negócio é nulo, quem tem legitimidade para arguir?


art. 286º — qualquer interessado.
Em matéria de simulação, há regras especiais (art. 242º - excepção ao art. 286º):
- Podem invocar a nulidade da simulação os próprios simuladores, ainda que esta seja
fraudulenta.
Há limites a esta possibilidade (art. 394º/2): não é possível a prova testemunhal. Tem de se
basear em prova documental ou numa confissão.

A doutrina entende que, em matéria de prova, quando exista um início de prova, é possível
depois presumir e inverter o ónus da prova. É possível recorrer às provas por presunção e
testemunhais. É necessário esse princípio de prova.

- Não podemos invocar contra terceiro de boa fé, sendo este quem desconhecia a simulação ao
tempo da aquisição do direito.

Há autores que entendem que a boa fé deve ser entendida num sentido psicológico-normativo,
havendo um desconhecimento sem culpa.

O art. 243º não é interpretado de forma unânime, havendo quem diga que deve ser invocado
mesmo quando o é por um terceiro. Nós entendemos que só é aplicável quando sejam os
simuladores ou um deles a invocar a nulidade do negócio simulado.
Para além destes, também podem invocar a nulidade os herdeiros legitimários: se for depois da
morte, podem invocar como sucessores (limitações); ou para se defenderem.
art. 242º/2: pode ser invocada a nulidade do negócio sempre que tenha sido feito com o intuito
de prejudicar (simulação fraudulenta).
Pode ainda invocar a nulidade a fazenda nacional, os preferentes, não sendo protegidos pelo art.
243º, servindo este para evitar um prejuízo mas não cria benefício, e os credores (art. 605º, rem.
394º/2 e 243º).
2. Reserva mental: divergência intencional entre a vontade e a declaração que tem como intuito
enganar o declaratário.
(na simulação exige-se o conluio e tem de haver intenção de prejudicar terceiros)

Há várias modalidades:
- Inocente: não envolverá a intenção de criar prejuízo ao declaratário. Há situações de reserva
mental em que há uma intenção benemérita.
- Fraudulenta: envolve, para além da intenção, a intenção de prejudicar.
- Absoluta: o declarante diz uma coisa, quer dizer o oposto.
- Relativa: o declarante diz que quer celebrar um negócio jurídico, querendo na verdade celebrar
outro.
- Unilateral: só um é que pretende enganar o outro.
- Bilateral: um engana outro na proposta, outro engana o primeiro na aceitação.
Regime da reserva mental (art. 244º)
Em regra, não tem qualquer efeito, continuando um negócio a ser considerado válido.
Se for conhecida do declaratário, tem os mesmos efeitos da simulação, sendo este considerado
nulo.

Há situações em que esta solução não chega: reserva mental inocente, em que é feita com a
intenção de gerar um determinado benefício para auxiliar o declaratário.
A tem um amigo, B, que tem uma depressão. Para ajudar, A resolve declarar que lhe vai doar o
seu barco. Na verdade, A era uma pessoa conhecida por ser sovina, fazendo isto apenas para o
tirar da situação, sem a verdadeira intenção de lhe doar o barco. Quando B recupera, exige a
entrega do barco. A contesta e diz que agiu em reserva mental, não valendo o negócio. B
contesta com o art. 244º.
B não conhecia a reserva, mas talvez lhe fosse exigível conhecer, dado que eram tão amigos e B
conhecia a personalidade de A. B poderia ter percebido.
Basta a cognoscibilidade para que o negócio seja considerado nulo (art. 244º rem. art. 286º).

3. Declarações não sérias (art. 245º): situação em que a declaração é emitida mas não
corresponde à vontade do declarante intencionalmente, não havendo porém vontade de enganar
nem um terceiro nem um declaratário. É emitida na esperança de que o declaratário se aperceba
da não seriedade da declaração.
Ex.: declarações num ciclo de amigos.
Se o declarante se apercebe que o declaratário não percebeu o carácter não sério da declaração,
tem a obrigação de o esclarecer.

Estas não produzem qualquer efeito. É um negócio inexistente.


Se a declaração for feita em situações que induzam o declaratário a aceitar, então tem o direito
de ser indemnizado pelo dano da confiança.

Divergências não intencionais entre a vontade e a declaração:


1. Coação física ou absoluta (art. 246º): a divergência não foi desejada pelo declarante. Ocorre
porque o declarante é submetido a uma força irresistível, transformando-se num autómato?
(não tem vontade de ação, não tem intenção de nada).
Ex.: situações em que o silêncio atribui valor ao negócio, sem haver vontade nesse sentido.
A declaração não produz efeito se o declarante for coagido fisicamente. Se a situação for grave,
nem há corpus que permite a classificação da situação como negócio — figura da inexistência.
Rem. art. 291º: não pode ser aplicado se o negócio for inexistente.

2. Falta de consciência: o sujeito não tem vontade de declaração. Apesar de estar prevista no
mesmo artigo, não é uma situação tão grave. Não há falta de consciência.
A consequência é a nulidade.
Contradição com os art. 236º e 247º — o art. 246º dá mais valor à vontade do declarante do que
às expectativas do declaratário.
Nestas situações, o negócio é considerado anulável.
Os autores dizem que se A quer celebrar um negócio e não quer, afinal, fazê-lo, não tendo
consciência, este é nulo.
Se A diz que quer celebrar o negócio x, mas na verdade quer celebrar o y, e o faz por lapso, o
negócio é anulável, mediante condições: pode ficar vinculado a um negócio que não queria, em
termos que não queria, mas se há falta de consciência a vinculação fica afastada.
(Menezes Cordeiro)
- Quando a declaração não possa ser imputável ao declarante.
Quando é que o sujeito não tem consciência da declaração?
Não está consciente das formas/condições de declaração, por exemplo.

Em hipóteses mais graves, sem vontade de ação, recorre-se à inexistência.


Se a falta de consciência for devido à culpa, então haverá responsabilidade, ficando o declarante
obrigado a indemnizar o declaratário.

Aula 5 — online

Erro Obstáculo/Erro na Declaração (art. 247º)


Divergência não desejada entre o que o declarante diz e entre aquilo que queria, efetivamente,
dizer. Essa divergência resulta de um engano.
Pode ser um erro de linguagem, mecânico, de juízo/julgamento.

Regime:
- O negócio é anulável, caso se verifique um pressuposto: o declaratário tinha de conhecer ou
não devia ignorar da essencialidade do elemento sobre o qual incide o erro.
Alguns autores dizem que o regime é demasiado permissivo. (Mota Pinto)

O erro pode ser culposo. O declarante pode ter culpa e isso não obsta que o negócio seja
anulado.

O facto de não exigir a desculpabilidade não quer dizer que a culpa não torne mais difícil a prova
do elemento na base do erro, em algumas situações.
Se houver culpa, o negócio é anulável, mas o que erra por culpa própria, pode ter de indemnizar
o outro (responsabilidade pré-contratual — art. 227º).

Anulabilidade: quem pode arguir e dentro de que prazo?


- Aquele no interesse da qual foi estabelecida (errante)
- Dentro do prazo de um ano a contar da cessação do vício (quando descobre o vício) — art.
287º

Situações excepcionais:
Art. 236º/2 — é de acordo com a vontade real que o negócio vai valer.
Art. 248º — se o declaratário aceitar o negócio como o declarante o queria, então o negócio vale
como este último o queria, não sendo anulado.
Erro de cálculo ou erro de escrita (art. 249º) — se o erro for detetável no próprio contexto da
declaração, nesse caso não haverá direito a anulabilidade, mas sim à retificação, valendo assim o
negócio.
Teoria da aparência eficaz — negócio anulável.
Art. 250º — erro na transmissão da declaração (se o lapso resulta da transmissão de um terceiro
ao negócio, este é anulado; se for devido a dolo deste intermediário, é sempre anulável, havendo
direito a indemnização).
— Vícios da vontade —

Vícios vs divergência vontade-declaração


Nos vícios, a vontade do declarante não é formada de um modo natural.
Há fatores que perturbam o processo formativo da vontade.
A divergência corresponde a vícios na formulação na vontade e o vício corresponde a vícios na
formação da vontade.
Há pontos de proximidade entre as duas, podendo não ser fácil distinguir alguns vícios de
algumas divergências.

Nos vícios não há divergência entre o que se disse e o que se quis dizer, há sim um processo de
formação que está perturbado de alguma forma.
- Erro-vício
- Dolo
- Coação moral ou relativa
- Estado de necessidade
- Incapacidade acidental
Erro vício (enquanto vício da vontade)
É um vício da vontade, isto é, traduz-se na ignorância/desconhecimento/incorreta representação
da realidade que é determinante da vontade de celebrar um negócio.
Não há qualquer divergência entre o que se disse e o que se quis dizer.

Existe uma vontade formada fruto de uma incorreta representação da realidade.

Quando é que este erro revela? Com dois requisitos gerais (respeita a todas as modalidades de
erro vício):
1. Essencial (determinante da vontade de celebrar o negócio) — subjetivo. O seu oposto é o
erro irrelevante
2. Incidental (não é determinante da vontade, mas sim dos termos em que o negócio venha a
ser ou foi celebrado) — não dá lugar à anulabilidade do negócio. Determina, em regra, a
modificação do negócio.

Pode ser invalidado o negócio quando não se consegue determinar os exactos termos em que foi
celebrado o negócio.

3. Propriedade (o erro tem de ser próprio) — quando não incide sobre um requisito legal de
validade do negócio.
VS
Erro impróprio — incide sobre a questão da forma (requisito legal de validade do negócio).

Excepções:
Situações em que a contraparte não tem outra possibilidade para se desvincular do negócio se
não através deste erro.

Não se exige, por exemplo, que o erro seja desculpável. Pode ser culposo.

Para que o negócio seja anulável, serão necessários mais requisitos, respeitando cada uma das
modalidades de erro-vício:
Sobre a pessoa do declaratário (art. 251º rem. 287º e rem. art. 227º)): requisito do
conhecimento/cognoscibilidade do elemento sobre o qual incidiu o erro.
1. Sobre a identidade do declaratário
2. Sobre as características/qualidades do declaratário
Nota: parte da doutrina diz que o erro sobre a identidade muitas vezes se aproxima do erro-
obstáculo, qualificando-o assim mesmo. Para nós, o regime para os dois é o mesmo.

Sobre o objeto: incide sobre as características intrínsecas do objeto.


1. Identidade do objeto
2. Características do objeto
3. Natureza do negócio jurídico
Coloca-se o problema de saber se o erro do valor do objeto integra os problemas sobre o objeto
ou não.
Como é mutável considerando as condições do mercado, é um elemento externo. Não se
considerando um erro-vício sobre o objeto.
Problema 2:
Erro do vendedor quanto às características do objeto, aumentando o seu valor,
inconscientemente.
Será possível invocar este erro sobre o objeto e não sobre o comprador?
Não podemos deixar a validade do negócio jurídico depender das investigações futuras sobre
elementos históricos no objeto. Assim, pode declarar-se a nulidade do negócio caso, no
momento da venda, fosse possível detetar esse facto.
Tratando-se de dados supervenientes, não afetam a validade do negócio.

Sobre os motivos (art. 252º): categoria subsidiária


Todos os motivos que não digam respeito ao declaratário ou objeto, integram-se nesta categoria.
VS
(art. 252º/2 rem. 437º) Erro sobre a base do negócio — os motivos determinantes do negócio
dizem respeito a ambos e são conhecidos por ambos ou, caso não fossem, a parte que não
sabia não podia deixar de ter em conta esses motivos por respeito à boa fé. As circunstâncias
que constituem a base do negócio têm de dizer respeito a ambos os contraentes.

Se o erro for sobre os motivos, o art. 252º/1 diz que o erro só é causa de anulação se as partes
tiverem reconhecido por acordo a essencialidade do motivo. Não tem de ser expresso ou escrito.
O erro sobre os motivos diz respeito apenas ao declarante.

Nota adicional: base do negócio.


art. 437º — problema da alteração superveniente das circunstâncias
A celebrou um contrato com B dia 2/01/2020, no âmbito da realização de espetáculos.
Quando o fizeram, pressupuseram determinadas circunstâncias (viabilidade, clima de paz, saúde
pública).
Imaginemos que após a celebração deste contrato (futuro), as circunstâncias se alteraram. -
problema de pressuposição ou alteração das circunstâncias
Uma situação diversa é quando as circunstâncias já se haviam alterado no passado, como se
este contrato se celebrasse hoje, sabendo as condições de prevenção que atualmente se
aplicam no país.

O negócio seria, em regra, anulável.

Aula 6 — online

Dolo (vício da vontade) — art. 253º CC


Inexata ou incorreta representação da realidade. Este erro não é um erro em que o declarante
tenha incorrido espontaneamente (qualificado). Há alguém que o induz em erro.
Requisitos para verificação do dolo?
- Emprego de determinados artifícios ou sugestões com a intenção de induzir ou manter em erro
um sujeito — há um comportamento ativo do sujeito (mentiras, por exemplo) — dolo positivo
(baseia-se numa ação)
- Omissão — o declaratário teria o dever de esclarecer o declarante, e este dever decorreria da
boa fé, mas não o faz, dissimulando o erro — dolo negativo
Este art diz que o dolo implica a intenção de induzir/manter em erro. Tradicionalmente, a doutrina
vinha entendendo que, ao dolo enquanto vício, correspondia o dolo enquanto forma de culpa.
Para a responsabilidade civil, era uma forma de culpa baseado na intencionalidade.
Enquanto vício da vontade, não se confunde. A este corresponde necessariamente o dolo em
forma de culpa, para a doutrina.

Recentemente, esta posição doutrinária foi criticada: situações de indução negligente em erro —
o declaratário não tem intenção, mas o seu comportamento é negligente (violando deveres de
informação), fazendo o declarante incorrer em erro.
- Há autores que dizem que não é possível equiparar estas situações às situações de dolo,
porque este exigiria sempre o dolo enquanto forma de culpa. Acrescentam, a isto, que a
violação de deveres de informação é responsabilidade pré-contratual, havendo uma obrigação
de indemnizar. O primeiro remédio é sempre a reparação. Só se esta não for possível ou
excessivamente onerosa ou não for suficiente é que se passa à indemnização pecuniária. A
forma de reparação natural é a desvinculação do contrato. Em termos de regime, o prazo é um
ano a contar da cessação do vício e no caso da responsabilidade o prazo de prescrição é de 3
anos.
- Outros autores diz que, apesar de o dolo tradicional envolver o dolo enquanto forma de culpa,
temos de atender ao fundamento do regime. E este determina a anulabilidade do negócio,
dado que o dolo (do declaratário) implica que não haja expectativas dignas de tutela.

Art. 253º CC: o que não constitui dolo ilícito.


Só há dolo por omissão quando exista o dever de esclarecer/ilucidar.
Dolo bom (dolus bonus) vs dolo mau (dolus malus) — é dolo bom as sugestões ou artifícios
consideradas usuais (critério da normalidade); é dolo mau

Espaço de relevância do dolus bonus — relações entre profissionais em que os deveres de


informação não são tão intensos.

Dolo inocente vs dolo fraudulento:


O dolo inocente não tem intenção de prejudicar, o dolo fraudulento terá essa intenção.
Em termos de regime, importa saber que o dolo pode ser do declaratário ou de terceiro.
Pode, ainda, ser essencial (essencial na determinação da vontade) ou incidental (não
determinante da vontade de celebrar o negócio, apenas dos termos em que o negócio é
celebrado). No caso do dolo, a contraparte não pode provar que nos novos termos jamais
celebraria este negócio (não se pode contrapor à modificação do negócio).
- art. 254º/1 CC rem. art. 287º CC
O negócio pode ser anulado por quem foi enganado, dentro de 1 ano a contar do momento em
que descobre que foi enganado.

Dolo de terceiro — segue o regime que consta do art. 254º/2.


O declaratário tinha ou devia ter o conhecimento deste dolo do terceiro.
Ou o declaratário não conhece nem é exigível que conheça o dolo, o negócio não é anulável. Mas
se alguém tiver adquirido algum direito através deste, este é anulável — anulabilidade parcial.

A diferença entre o erro e o dolo é que, neste último, há um desvalor acrescido no que diz
respeito ao declaratário, não havendo confiança digna de tutela.

Coação moral ou coação relativa (art. 255º CC)


Traduz-se no receio do mal com que o declarante é ilicitamente ameaçado com vista a extorquir
dele uma declaração negocial.
Não se confunde com a coação física (ou coação absoluta). Ao nível desta última, há uma
divergência entre a vontade e a declaração porque o sujeito nem tem uma vontade de
declaração, transformando-se num autómato. (inexistência)

Na coação moral, há um sujeito a ser ameaçado, com vista a extorqui-lo.


Emite a declaração que coincide com a sua vontade, estando esta perturbada, dado que só a
tem para remover esta ameaça.

Há, no entanto, situações em que os autores não conseguem encontrar um consenso:


- Há autores que acham que, se A ameaça B com uma pistola para assinar uma declaração de
doação de um bem, é uma situação de coação física.
- Outros autores, entendem que está em causa uma coação moral. Apesar da vontade do sujeito
estar tolhida, ainda mantém uma margem mínima de liberdade. Ainda há opção de resistir, e
quase ninguém o faria, mostrando isto que a vontade está viciada.
Pode ser principal ou incidental:
Os termos de distinguem são os mesmos do erro incidental ou do erro principal.

Pode ser dirigida ao declaratário ou por um terceiro.

Pode ainda ser dirigida à pessoa, à honra ou à fazenda (dimensão patrimonial).

Requisitos para relevância da coação moral:


- Ameaça
- Esta tem de visar extorquir a declaração negocial
- Tem de ser ilícita (quando os meios utilizados para extorquir a declaração são ilegítimos em si
mesmo ou resulta da ilegitimidade de se prosseguir um determinado fim com aquele meio)
- A coação tem de ser principal
- O sujeito não pode estar a exercer um direito: o comportamento de quem ameaça não pode
corresponder ao exercício de um direito.

Consequências — art. 256º (negócio anulável) rem. art. 287º (quem pode arguir é o coagido, no
prazo de um ano a contar do momento em que a ameaça cessou).
Se provier de terceiro, o mal com que o sujeito está a ser ameaçado tem de ser considerado
grave.

Estado de necessidade (art. 282º):


Quando emite uma determinada declaração para afastar o receio de um mal/perigo que existe e
pode ser removido com a celebração de um determinado negócio.
A grande diferença entre a coação moral e o estado de necessidade: na primeira o perigo
resultava da ameaça; enquanto que nesta o perigo é pré-existente e o declarante emite a
declaração para afastar esse perigo.
O negócio é inválido porque o declaratário aproveita-se desse estado de necessidade para
recolher benefícios que não teria de outro modo. (rem. art. 287º CC)
Quem pode arguir a anulabilidade é o sujeito em estado de necessidade, no prazo de um ano a
partir do momento em que este estado cessa.

Requisitos:
- Situação de necessidade (dependência, fragilidade);
- Tem de haver exploração deste estado de necessidade;
- Desta exploração têm de resultar benefícios excessivos ou injustificáveis.
Situação especial: o sujeito aproveita-se do estado de necessidade para tirar benefícios
excessivos ou injustificados, numa situação em que tem o direito legal de agir — nulidade (art.
280º) — violação dos bons costumes.
Ex.: caso de um nadador salvador que só cumpre a sua função se a vítima lhe doar um bem.

Incapacidade acidental (art. 257º):


Situações em que o sujeito não é capaz de entender e/ou querer o sentido da sua declaração.
Não tem controlo ou do intelecto ou da vontade.

Requisito:
- Que o facto seja notório ou conhecido do declaratário (conhecimento ou cognoscibilidade)

A saiu e bebeu demais, declarou que vendia o seu carro por 30€. B aceitou, enquanto estava
embriagado, não percebendo o estado de incapacidade do A (incapacidade bilateral).
Este negócio é anulável porque não basta o conhecimento, também é necessária
cognoscibilidade. (rem. art. 287º) — anulável pela pessoa que sofre da incapacidade, dentro do
prazo de um ano, a partir do momento em que recupera o domínio da sua vontade.
Aula prática (27/03)

1. A publica um anúncio no jornal, dizendo: “vendo apartamento com 4 assoalhadas, 3 wcs e


uma cozinha, por 250 000€”. B, amigo de A, telefona-lhe e diz “compro a tua casa por esse
valor”. A já tinha vendido a casa a C. Quis iuris?
- C/V: proposta e aceitação
- Há um convite a contratar (anúncio): não é uma proposta. É uma declaração emitida a um
leque indeterminado de pessoas, sendo que o sujeito reserva para si a última palavra em
matéria de contratação.
- C celebrou o contrato, e não B. Quando o último envia a proposta, o negócio já tinha sido
celebrado com C.

2. A diz a B, por telemóvel, que vende a sua biblioteca por 300 000€. B responde “já digo
alguma coisa daqui a pouco”. No dia seguinte, B dirige-se a casa de A com o cheque
correspondente ao pagamento. Mas A já tinha vendido a sua biblioteca a C. Haverá alguma
forma de B reagir?
- Declaração tácita de B
- art. 228º — negócio entre presentes. Quanto tempo vai durar esta proposta? Nestas
condições, deixou de vincular.
- art. 226º/2 — ineficácia da proposta
Assim, B não tem como reagir a esta situação.

3. C vendeu a P, filho da sua mulher F, um apartamento e um automóvel. Sabendo que estes


eram os únicos bens que integravam o seu património, diga se os filhos de C podem reagir
contra o negócio, tendo em conta que nunca teve intenção de receber dinheiro de P, e apenas
pretendeu ocultar uma doação.
- Negócio simulado: C declara que quer vender, P declara que quer comprar, mas C apenas doa.
- Requisitos: divergência intencional entre vontade e declaração, acordada entre ambos com
vista a enganar terceiros.
- Simulação relativa: há um negócio real/dissimulado por trás
- O negócio simulado é sempre nulo.
- O negócio dissimulado pode ser válido ou inválido, dependendo do valor que teria se não
tivesse sido encoberto.
- Podem ou não reagir? Os herdeiros legitimários não têm o suficiente para reagir, a não ser que
provem que há intenção de prejudicar (nº2).

4. Por carta datada de novembro 2018, P propôs a R a venda de 2000 pares de sapatos por um
erro tipográfico, referiu um preço de 4,50€ por par, em vez de 5,04€ por par. Estará Pedro
vinculado?
- Erro na declaração — divergência entre o que se diz e o que se quer dizer. É um erro obstáculo
(art. 247º CC), dando lugar à anulabilidade, desde que R conheça ou devesse conhecer a
essencialidade do elemento de onde ocorreu o erro.
- R não tinha de saber o valor, apenas que o preço é um elemento essencial.
- Estamos perante um erro de escrita que tem de ser perceptível no contexto — regime do art.
249º — retificação da declaração..
- Se não for perceptível, segue-se o regime do art. 247º.
5. A e B estão a negociar a venda de um automóvel. Acordaram entre si que B teria de
responder à proposta no prazo de 15 dias sob pena de ela se dar por aceite. A contrata X para
sequestrar B durante 3 semanas. Face à ausência de resposta de B, o contrato deu-se por
celebrado. Estará B vinculado?
- Silêncio com valor de declaração negocial
- Coação física (não há vontade de ação)
- Consequência: inexistência (art. 246º)
6. A anuncia no jornal que tem vários ratos para vender. B, que precisava de ratos para as suas
experiências de laboratório, envia 150€ e encomenda 30 ratos. 10 dias depois, A entrega no
laboratório de B, 30 ratos de computador. Quid iuris?
- Convite a contratar
- O negócio tem como objeto ratos, enquanto animais.
- Não há consenso quanto ao objeto do contrato.
- Há um erro que envolve dissenso. O negócio é anulável
art. 247º — erro obstáculo
art. 251º

7. A telefona a B dizendo que quer comprar a mesa de pau santo exposta na montra à venda
por 4000€. B envia uma outra mesa, porque a que queria comprar foi escolhida com o único
propósito de alterar a decoração da montra. O preço era exatamente o mesmo. Quando recebe a
mesa em casa, A constata o engano e pretende reaver o dinheiro. B opõe-se. Quid iuris?
- Erro-obstáculo: diferença entre o que quer e o que diz que quer
- art. 251º
- É um negócio anulável desde que o declaratário conhecesse ou devesse conhecer a
essencialidade do elemento sobre o qual incidiu o erro.
- B pode aceitar o negócio tal como A o queria inicialmente. A queria anular, mas B troca em vez
de devolver o dinheiro. (art. 248º)

8. M vendeu a C em dezembro de 2016, por 10 000 €, um antigo faqueiro de prata, que julgava
ter sido fabricado no início do século XX.
a. Hoje, M descobriu que o faqueiro data do século XVIII. Poderá este desvincular-se?
Estamos perante um erro vício. Se soubesse que era uma peça de antiquário, jamais teria
vendido.
Requisitos: essencial (determinante da vontade de celebrar o negócio) e próprio.
Modalidade: erro sobre o objeto (art. 251º)
Quem pode arguir a anulabilidade? M, o errante, dentro do prazo de 1 ano a contar do momento
em que descobre o erro.

b. A solução seria a mesma se M tivesse calculado corretamente a data de fabrico do faqueiro


mas tivesse verificado depois da venda que o valor daquele era pelo menos 3x superior ao
preço acordado?
Erro sobre o valor, característica externa do objeto.
Não havia possibilidade de arguir a anulabilidade.

c. M tinha vendido a pensar que tinha sido fabricado no século XX, e tinha sido no século XVIII.
Depois de descoberto, vendia na mesma mas cobrava um preço muito superior por ele.
Erro sobre o objeto, incidental, não determinante da vontade de celebrar o negócio, mas
determinante dos termos em que o negócio tinha sido celebrado.
Dá direito à modificação dos termos do contrato, em regra.

Aula 7 (teórica)

Alteração superveniente das circunstâncias:


art. 252º/2 rem. art. 447º
Diz respeito ao futuro, ao momento posterior da celebração do negócio.

Este problema surge porque no momento em que é celebrado, as partes pressupõem


circunstâncias. Estas podem alterar-se de um momento para o outro. (contratos de duração
prolongada, por exemplo)
As novas circunstâncias fazem com que o equilíbrio contratual se altere de forma a que sejam
afrontadas as regras.
Este problema da alteração (pressuposição) diz respeito ao futuro.
O contrato envolve sempre um risco, devendo ser visto como um instrumento de gestão do risco,
porque nem tudo é controlável para o futuro.

Há uma ideia forte de que é necessário garantir a segurança e a certeza do direito.

Duas posições extremas:


(1) devemos rejeitar. Refere-se à pacta sunt servanta, isto é, os pactos devem ser cumpridos.
Devemos rejeitar porque é uma posição formalista, exige que o contrato seja pontualmente/
integralmente cumprido, mesmo que haja uma alteração relevante. Não tem em conta um dos
pontos principais da alteração das circunstâncias.
(2) Posição que afirma a cláusula rebus sic stantibus. Qualquer alteração deve ser relevante,
levando algumas à extinção do negócio. É um subjetivismo liberal muito forte, demasiado,
que não tem em conta os outros vetores já falados (ideia de segurança e certeza nem a ideia
de risco inerente ao negócio).

A primeira forma de resolver é que as partes se acautelem para a hipótese de se alterarem


algumas circunstâncias, colocando no contrato uma cláusula que preveja isso,
autoresponsavelmente assumindo o risco. Só deixam de o assumir quando o contrato é agora
outro.

A nossa posição:
- As partes tinham pensado nessa eventualidade: não sabiam qual era a alteração, mas
acautelaram-se nesse sentido. Apuseram ao contrato uma cláusula que resolve o problema.
Cláusula de hardship.
- Pode acontecer que as partes nada previram.

Teorias para dar resposta:


1. Teoria da imprevisão — se o contexto económico, social ou político se alterar de uma forma
radical ou imprevisível, o contrato deve ser extinto.
Não podemos aceitar porque não tem em conta que as partes podem ter previsto o problema,
podem ter dado uma solução ou podem ter previsto este risco e aceitá-lo; esta doutrina facilita
demasiado a extinção do contrato (não tem em conta a segurança e certeza do negócio nem a
ideia de que cada um assume um risco).
2. Teoria da pressuposição — cada contrato tem dentro de si uma condição não desenvolvida.
Uma condição é uma cláusula que faz depender a eficácia do contrato de um evento futuro e
incerto. Esta condição seria a pressuposição, isto é, cada declaração dos contraentes
pressuporia um status quo, constituindo a condição de eficácia do negócio. Em caso de
alteração ou não verificação da condição, poder-se-ia extinguir o contrato. — exigia-se a
cognoscibilidade.
Críticas: sujeição do contrato que pode não ser conhecida pela contraparte; facilita demasiado a
desvinculação do negócio.
3. Teoria da base do negócio — numa primeira versão, diz que se a alteração do contrato
decorre-se na base do negócio, poder-se-ia extingui-lo. Essa base seria a representação das
partes sobre a existência de determinadas circunstâncias, desde que a contraparte aceitasse
as circunstâncias como sendo realmente importantes. Numa segunda versão, a alteração só
seria relevante se a pressuposição que configura esta base de negócio fosse conhecida ou
cognoscível da outra parte no momento de celebração do negócio. Numa terceira versão,
aceita-se esta posição e não se exige apenas o conhecimento/cognoscibilidade. Entende-se
que, se a contraparte não tivesse esse conhecimento mas se a boa fé exigisse que tivesse em
conta essas circunstâncias quando colocadas à sua consideração, relevaria esta base do
negócio (base do negócio objetiva vs subjectiva). — art. 437º CC
assim, consagra a teoria da base do negócio e apresenta requisitos: (1) alteração tem de ser na
base do negócio (conjunto de circunstâncias representadas pelas partes, conhecidas como
importantes pelas duas (ou, caso não o tenham sido, a outra parte não poderia deixar de ter em
conta); (2) a alteração tem de ser anormal, que não fosse expectável; (3) não pode estar coberta
pelos riscos próprios do contrato; (4) tem de ficar afetada a exigência das obrigações à luz da
boa fé.
Consequência: modificação do contrato ou resolução do contrato (traduz-se numa forma de
extinção).
Este artigo coloca problemas: aplica-se a contratos não cumpridos ou pode aplicar-se a
contratos já cumpridos? A resposta parece ser a primeira opção.
Este dado suscita alguns problemas de compatibilização com o regime do risco (art. 796º).
É necessário saber sobre quem recai o risco.

Há autores que dizem que deve permanecer o regime do risco. (nossa)


Há, outros, que afirmaram que o que estava em causa eram problemas de alteração
superveniente das circunstâncias.

Outro problema do art. 437º: pode ou não ser aplicado a negócios aleatórios (partes submetem-
se a um risco de perder ou ganhar)? — ver contratos swap.
Não é viável, porque o risco de oscilação das taxas de juro é um dos riscos naturais deste tipo de
contratos. Mas isto não implica uma resposta generalista: se perguntarmos em geral, sim. O que
justifica a não aplicação não é o seu tipo, mas sim a análise da natureza do risco.

Este é um problema premente porque a alteração das circunstâncias implicará um agravamento


circunstancial de alguma das partes.

Aula 8 (teórica) — 31/03

Representação legal — atua em nome do incapaz e os efeitos jurídicos vão-se produzir na esfera
jurídica do representado

- Situações em que alguém atua em nome de outrem.

Representação voluntária:
Implica sempre a atuação em nome de outrem;

Requisitos:
1. Atuação em nome de outrem;
2. O representante pode atuar no seu próprio interesse só é possível no âmbito desta
representação voluntária (e não legal) — há uma diferença fundamental com reflexo em
termos de regime.
A representação legal surge para suprir a necessidade do representado.
A representação voluntária surge como uma atuação em nome próprio.
A representação orgânica traduz-se em nome da pessoa coletiva.

A atuação por conta de outrem é específica do mandato, que não se confunde com a
representação.
Podemos ter mandato sem representação.
3. Legitimação representativa — atribuição de poderes de representação a um determinado
sujeito (se for a lei, temos representação legal; se for estatutos, é representação orgânica; se
for a vontade, temos representação voluntária). No último caso atribuem-se poderes através
de uma procuração (art. 262º)
Se os poderes de representação forem atribuídos através de uma procuração, esta legitimação
diz-se originária.
Se não se atribui poderes e esse alguém resolve agir em nome de outrem, este, sabendo desta
situação, concordo, ratifica o ato. Esta ratificação é outra via de atribuição de poderes
(superveniente - posterior à situação) — art. 268º.
A procuração é o negócio pelo qual alguém atribui poderes de representação, entendido como
um negócio jurídico unilateral. O destinatário é o terceiro com o procurador celebra o contrato.

Problemas:

- Quem pode ser procurador? (art. 263º)


Não tem de ter capacidade plena. Só tem de entender e querer o alcance do negócio celebrado
em nome alheio.
Procurador vs núncio
O procurador celebra o negócio em nome de alguém. O núncio limita-se a transmitir a
declaração, tendo uma capacidade ainda menor.

- Qual é a forma exigida para a procuração? (art. 262º/2)


De forma escrita. — art. 260º
Pode haver necessidade de justificar os poderes de procuração ao terceiro.
(isto nem sempre é exigido)

Quid iuris se o representante atuar sem que tenha poderes de representação?


Representação sem poderes — art. 268º
Ineficácia se não for ratificado (art. 268º/2) pelo terceiro representado sem autorização.
O negócio é válido, mas é ineficaz para o representado, não ficando vinculado por aquele
negócio.

Pode haver uma situação de responsabilidade do representante. Este, sem poderes, celebra o
negócio e leva à sua ineficácia, podendo ser responsabilizado em relação à contraparte:
- Responsável pelo interesse contratual negativo

Aula 9 (prática) — 03/04

1. A vendeu a 7/07 de 2015 um apartamento a B. O dinheiro da aquisição do imóvel que B


pagou foi-lhe dado pela sua mulher C. Para evitar que o imóvel fosse transmitido para a
titularidade os filhos de C, a escritura foi feita em nome de B, com quem estava casada em
separação de bens. A desconhecia totalmente esta situação.
a. Haverá alguma forma de os filhos de C reagirem? — Acórdão 3/02/2015 STJ
Há um negócio de c/v entre A-B.
Pedem a nulidade do negócio com base na simulação. No entanto, falta um dos requisitos para
que possamos considerar isto uma simulação: não há conluio entre declarante e declaratário
porque A não conhecia esta situação. Falta o pacto simulatório.
Assim, o negócio é válido, porque falta o conluio. O que aconteceu foi um mandato celebrado por
B.
Os filhos de C poderiam exigir o cumprimento do tratado de mandato, quando C morresse, B
transmitiria o bem para a esfera dos herdeiros da mesma.

2. O comerciante de selos J encarregou o empregado C de apresentar a um antigo cliente A


uma coleção de selos que tinha à venda. C assim fez mas não apresentou ao cliente a lista de
preços entregue por J. Antes, comunicou preços mais baixos por ter J na conta de um
homem ganancioso. A telefonou a J, declarando comprar toda a coleção, e nem fez
referência ao preço.
a. Estará J vinculado?
Está em causa um erro na transmissão da declaração. J quer dizer uma coisa e diz outra, porque
o seu intermediário disse algo contrário ao que tinha sido determinado. Segundo o seu regime
(art. 250º CC), pode ser anulado nos termos do art. 247º CC, aplicando-se o regime do erro da
declaração. Este exige que haja conhecimento ou cognoscibilidade da essencialidade do
elemento sobre o qual incide o erro por parte do declaratário.
Neste caso, a inexatidão da transmissão é intencional, havendo dolo por parte do intermediário
(aplica-se o nº2 do art. 250º CC). Assim sendo, o negócio é sempre anulável, independentemente
de qualquer requisito.
b. Terá A direito a alguma indemnização? Se sim, quem teria de o indemnizar?
A tem direito a ser indemnizado por todos os danos sofridos pelo intermediário que usou o dolo.

3. Em maio de 2018, M convenceu N a fazer, a favor de O, sua namorada, um seguro de vida.


Para tanto, fez O passar-se por uma amiga de infância de N, a quem este devia grandes
favores, por tudo o que os pais dela tinham feito pela sua educação. O sabia que M a fez
passar, aos olhos de N, por outra pessoa, mas não reagiu. Hoje, N descobre toda a verdade e
pretende desvincular-se do negócio. Pode fazê-lo?
Há uma situação de dolo.
Negócio: contrato de seguro de vida
Partes do negócio: N e seguradora
Beneficiaria: O
Terceiro que induz em erro: M
M engana o N, significando que este último tem a efetiva vontade de celebrar o contrato. Não há
divergência entre o contrato e a declaração.
O erro é induzido pelo M: temos uma situação de dolo, com uma intenção de induzir ou manter
em erro o declarante. Para ser relevante, tem de ser um dolo essencial, tem de ser dolus malus.
Tendo estas características, o negócio é anulável. Neste caso, no entanto, o dolo provém de um
terceiro. Assim, o regime aplicável é o do art. 254º/2 CC. O declaratário (companhia de seguros)
não tinha conhecimento do dolo. O negócio vai ser anulável em relação ao beneficiário. O
negócio é parcialmente anulável, em relação ao benefício que o terceiro obtém. No caso
concreto, redunda numa anulabilidade geral, dada a característica do negócio.

4. Em março de 2018, C escreveu a D, seu amigo e dono de uma empresa de aluguer de


automóveis, pedindo que pusesse à sua disposição uma viatura familiar durante 15 dias no
mês de maio. Ao escrever a D, C apenas teve em mente a hipótese de aquele lhe dispensar
gratuitamente o automóvel, pelo que nem fez referência a um aluguer. Em maio de 2018, um
funcionário de D entregou a C um mercedes classe E, tendo C devolvido o mesmo no dia 15.
Uma semana depois, C recebeu a fatura com o preço do aluguer do automóvel. Recusa-se a
pagar com o argumento de que não sabia que tinha celebrado um contrato de aluguer e, se
tivesse conhecimento da realidade, jamais teria celebrado o negócio. Pode D exigir a C o
pagamento?
Estamos perante um erro-vício, inexata representação da realidade. É necessário que o erro seja
essencial (determinante da vontade de celebrar o negócio) e próprio (quando não incide sobre um
requisito legal de validade do negócio). A essencialidade do erro determina-se tendo em conta a
intenção do sujeito, sendo esta verificação subjetiva.
Temos um erro sobre o objeto (a natureza do negócio): pensa que está a celebrar um negócio
(comodato, gratuito), quando o que está a ser celebrado é outro (aluguer, oneroso). Aplica-se o
art. 251º do CC, remetendo para o art. 247º: o negócio é anulável desde que o declaratário
conhecesse ou não devesse ignorar a essencialidade do elemento sobre a qual incide o erro.
Só C poderia arguir a anulabilidade, dentro do prazo de 1 ano desde a cessação do vício (no final
de maio de 2018). Hoje, não poderia invocar a anulabilidade do negócio.

5. A coloca à venda um lote de ações da sociedade x. M pretende comprá-las, para se tornar


sócio maioritário. Sabendo porém que A nunca lhas venderia, combina com P, para que este
adquira as ações e depois as transmita a M. Para tanto, entrega-lhe uma avultada quantia em
dinheiro. A descobre que hoje as ações são propriedade de M e este, por seu turno,
arrepende-se do negócio celebrado.
a. Pode M desvincular-se?
Não pode desvincular-se, apenas poderia se o negócio envolve-se uma simulação. Estamos
perante uma interposição real de pessoas (há um declaratário e um declarante sem qualquer
acordo). Assim, o negócio não é nulo.
O mandato foi celebrado entre M e P, tendo este de transmitir as ações para M.

b. Pode A desvincular-se?
Há uma situação de dolo (por parte do declaratário, o M), tendo de se considerar preenchidos os
requisitos para que o negócio seja anulável.
6. A e M celebram um contrato de arrendamento de um apartamento. M quis arrendar esse
apartamento porque julgou erradamente que a sua entidade patronal a tinha transferido para
Lisboa. Porém, nunca houve qualquer intenção da parte da empresa em que M trabalha de
deslocá-la profissionalmente. Descobrindo hoje que nunca tinha havido essa intenção da
parte da entidade patronal, M quer desvincular-se do negócio. Pode fazê-lo?
Estamos perante um erro vício sobre os motivos (art. 252º/1) propriamente ditos: este é um
motivo que diz única e exclusivamente respeito à M. Exige-se o reconhecimento por acordo da
essencialidade do motivo, ainda que seja tácito.

7. E morreu em 2018 tendo deixado como únicos herdeiros os filhos F e M. Em fevereiro de


2019, estes partilharam extra-judicialmente a herança de E pensando que a mesma valia 300
000€. F ficou com um automóvel, alguns bens móveis e o dinheiro das contas bancárias. M
recebeu um terreno. Em janeiro de 2020, M descobre que desde 2016 o terreno já valia muito
menos pois estava prevista a sua expropriação. Pode hoje M impugnar a partilha?
É um erro sobre a base do negócio, sobre determinadas circunstâncias que têm de ser
pressupostas por ambas das partes.
Se está aferido sobre um erro na sua base, aplica-se o art. 252º/2, remetendo para o art. 437º do
CC (remissão parcial) - saber o que é a base do negócio.
A consequência será a anulabilidade do negócio e não a resolução (forma de por fim a um
negócio que é válido).

Aula teórica (14/04)

Objeto do negócio jurídico: não pode ser definido à priori. Podemos modelá-lo como o
queiramos definir, sendo este definido pelas partes.

Há, no entanto, determinadas limitações (art. 280º).


Requisitos a que o objeto do negócio jurídico deve obedecer:
- Possibilidade (tem de ser possível): física ou legalmente. É fisicamente possível se existir (art.
401º/3). É legalmente possível se estiver conforme a lei, isto é, não pode implicar um efeito
jurídico que não seja permitido.
Da impossibilidade no momento da celebração do negócio (originária), resulta a nulidade do
mesmo (quando seja objetiva) - nulidade do negócio. Se for parcial, poderá originar a invalidade
parcial do mesmo. Se apenas disser respeito à prestação principal, continuará a produzir os seus
efeitos no que diz respeito a outras prestações.
Se apenas surgir depois da celebração do negócio, será uma impossibilidade superveniente
cujas consequências serão diferentes - se esta impossibilidade for imputável ao devedor, a
consequência será a responsabilidade contratual; se não for imputável ao devedor, a
consequência será a extinção da obrigação.

A questão da impossibilidade superveniente está prevista nos arts. 790º, 792º (impossibilidade
temporária), 191º (impossibilidade subjectiva - relativa à pessoa do devedor) e 793º
(impossibilidade parcial).
Arts. 801º e 802º: impossibilidade imputada ao devedor.

Há situações em que a doutrina equipara a hipóteses de impossibilidade superveniente:


impossibilidade moral e impossibilidade prática.
Na impossibilidade moral, o objeto do negócio seria possível mas, de acordo com a boa fé, seria
demasiado oneroso. A boa fé impõe que não se exija o cumprimento da prestação.
Na impossibilidade prática, a prestação não é impossível, mas a sua realização é demasiado
onerosa para o devedor, também com base no princípio da boa fé, tendo em conta uma grave
desproporção entre o interesse do credor e o esforço realizado pelo devedor para a conseguir
executar.
- Determinabilidade (art. 280º) - tem de ser determinável. Não implica isto que já esteja
determinado no momento da celebração do contrato.
Art. 400º rem. art. 401º/1.

- Licitude (art. 280º) - é nulo se for contrário à lei. O negócio jurídico não pode contrariar normas
imperativas.

Quanto ao fim do negócio jurídico (art. 281º): se apenas o fim for contrário à lei, o negócio é nulo
quando o fim é comum a ambas as partes.
Categorias a ter em conta:
- Negócio em fraude à lei — negócio que, para não contrariar abertamente uma norma
imperativa, tenta contornar essa proibição. Deve ser equiparado ao negócio contrário à lei.
Deve ser considerado nulo. Não afronta a proibição legal, mas tenta contorná-la.
Temos de ver se a lei, ao proibir um resultado, também proíbe os meios indiretos para o atingir:
se o fizer, o negócio é nulo.
Se apenas proibir um meio, ficando em aberto a possibilidade de se percorrer outras vias para o
mesmo resultado, então não deverá ser considerado nulo.

Não se confunde com o negócio indireto, isto é, falamos de um tipo contratual para prosseguir
um tipo contratual diverso. Este negócio é lícito, na medida que seja também o negócio que
diretamente permitiria atingir o mesmo resultado.
De acordo com o art. 280º, não pode contrariar os bons costumes. Esta noção de bons costumes
é complexa, em relação à qual não há unanimidade entre os autores: nas posições tradicionais,
estaria em causa a contrariedade as regras morais, para outros autores seria a consciência.
Atualmente, é difícil determinar o que são os bons costumes.
Menezes Cordeiro diz que configuram regras de comportamento relativos à dimensão familiar,
sexual, profissional, incorporando regras deontológicas.
Não podemos deixar de ter em conta a dimensão deontológica.
Violação de bons costumes no direito civil: negócios usurários, negócio que tenha por objeto a
comercialização de bens de personalidade, que prejudiquem as regras do mercado, que afrontem
as liberdades individuais.

Não se confunde com a cláusula da ordem pública.

- Cláusula da ordem pública - o objeto do negócio jurídico não pode ser contrário à ordem
pública. Esta é integrada pelos princípios fundamentais e subjacentes ao negócio jurídico
(remissão para uma dimensão ético-axiológica).
Ex.: situação de atentado direto à dignidade da pessoa humana, limitação da liberdade religiosa.

Delimitação do objeto do negócio: não pode ir para além destes limites.


Não obstante não ser possível definir de forma genérica, podemos olhar para algumas cláusulas
que usualmente surgem no âmbito do negócio jurídico: clausulas acessórias típicas.
São acessórias porque não são essenciais para a realização dos negócios, mas são típicas
porque são frequentes nos mesmos:
- Condição
- Termo
- Modo
- Cláusulas de exclusão e limitação da responsabilidade
- Cláusula penal.
Condição (enquanto uma das cláusulas acessórias típicas) — art. 270º CC
Cláusula nos termos da qual a eficácia fica dependente de um evento futuro e incerto. Tem de
haver a submissão dos efeitos do negócio jurídico a um qualquer evento. Esta submissão tem de
ficar dependente das partes.
Duas modalidades de condição:
- Suspensiva: quando os efeitos do negócio só se produzem depois de verificado o evento.
- Resolutiva (?): quando os efeitos se produzem logo no início e deixam de se produzir a partir
do momento em que acontece esse evento.

Podem ser causais (o evento é um facto alheio) ou potestativas (o evento futuro depende da
vontade dos contraentes).
Se for potestativa, pode ser arbitrária (o evento é insignificante) ou não arbitrária (é um facto que
assume determinada seriedade).
Podem ser potestativas à parte creditoris (o evento é do credor, dependendo da sua vontade) e à
parte devitoris (o evento futuro e incerto depende da vontade do contraente, o devedor).
As condições causais podem ser mistas: o evento futuro depende simultaneamente de um facto
alheio e de um facto concreto.

Nota: nos contratos bilaterais, a condição nunca será verdadeiramente arbitrária.

Condições impróprias: não reunem os três elementos essenciais (evento futuro, incerto e
subordinação dos efeitos da vontade dos contraentes e não da lei).
- Condições referidas ao passado: no momento da celebração, as partes condicionam a
verificação do negócio a um facto que já ocorreu, mas estas não sabem isso. Não diz respeito
a um evento futuro.
- Condições necessárias: condição de um terceiro morrer.
- Condições impossíveis: temos a certeza que o evento não irá ocorrer.
- Situações em que a lei define que determinados efeitos ficam dependentes da verificação de
determinados eventos: requisitos impostos pela lei e não pelas partes.
- Condição tácita (art. 435º): funde-se na lei e implica que haja a verificação de um fundamento,
previsto pelas partes ou pela lei, e redunda muitas vezes no incumprimento.

Requisitos para a condição:


Em regra, é sempre possível. Isto resulta do princípio da liberdade contratual.
Há, no entanto, negócio incondicionáveis: negócios unilaterais, compensação.

Consequência se os contraentes apuserem uma condição a um destes negócios?


1. Nulidade (art. 371º rem. art. 284º) — regra
2. Casamento: apenas a condição é nula, não afetando a validade de todo o negócio.
3. Sanção específica: ineficácia.

Consequência de apor uma condição mas esta ser impossível:


- Nulidade (art. 280º) — requisitos aplicam-se a estas cláusulas acessórias típicas
No caso de aplicação das condições ilícitas:
- Nulidade (art. 361º) - distinção entre as condições suspensiva, é nula; se for resolutiva, a
consequência é a nulidade da própria condição.
O testamento é o único negócio unilateral em que é possível apor uma condição.

(art. 2230º)

Regime geral em que a condição é válida:


Sendo suspensiva, o negócio não produz efeitos até à verificação da condição. O credor não tem
um direito exercitável, mas sim uma mera expectativa (art. 273º).
Verificada a condição, os efeitos retroagem à data da conclusão do negócio.
Excepções à retroatividade (art. 277º).
Se a condição for resolutiva, produz logo os seus efeitos, deixando de os produzir quando
ocorrer este evento.
Excepções (art. 277º/1): regime do art. 424º - contratos de execução continuada.

Nota: muitas vezes podemos não saber se a condição vai ou não verificar-se. O CC dá regras
quanto à certeza da condição não se verificar (art. 275º/1).

Termo:
É uma cláusula acessório típica pela qual os efeitos de um negócio jurídico ficam dependentes de
um evento futuro e certo (e não incerto, como na condição). Pode ser inicial ou suspensivo (como
na condição) ou final ou resolutivo.
Há negócios que não são passíveis de ser celebrados a prazo: se for posto termo a um negócio
que não possa ter um prazo fixo, então o negócio será considerado nulo.
Haverá situações em que nem todo o negócio é nulo, mas apenas a cláusula (o termo) - art. 248º.

Para além de poder ser suspensivo ou resolutivo, pode ser certo (quanto à verificação) ou incerto
(quanto ao momento da sua verificação).

Pode ser próprio/expresso ou tácito (imposto por lei).


Pode ser essencial (a prestação deve ser efetuada até à data estipulada pelas partes e se for
ultrapassada a data, o não cumprimento é equiparada à impossibilidade da prestação) ou não
essencial (uma vez ultrapassado o prazo, não acarreta a impossibilidade, podendo o devedor
fixar um elemento essencial).

Termo vs Condição:
Desaparecem problemas atinentes às condições impossíveis, dado que o termo é sempre
possível.

Modo/cláusula modal:
É uma cláusula nos termos da qual, nos negócios gratuitos (doação) ou mortis causa
(testamento), o donatário ou herdeiro ficam sujeitos a um encargo.
Nota: o modo apenas pode existir em relação a negócios gratuitos ou mortis causa.

Art. 967º — em matéria testamentária, rem. art. 2245º

Modo impossível: apenas a cláusula é inválida, a não ser que o testados tenha determinado em
contrário.
Modo ilícito: a possibilidade não é dada ao testador. Apenas a cláusula modal é nula.

Implica o cumprimento de um encargo ou obrigação — problema do seu incumprimento:


- Não cumprimento não culposo: extingue-se o encargo (art. 790º e 792º)
- Não cumprimento culposo: art. 965º - exigência judicial do cumprimento.
Solução da doação — art. 966º — o direito tem de ser conferido pelo contrato.
rem. art. 2248º

Testamento: o direito não precisa de ser expressamente atribuído pelo contrato.

Nota: art. 963º/2

Aula prática (17/04)

- C comprou ações do banco x acreditando que se tratava de uma instituição financeira sólida.
Passados 3 meses, C sente-se defraudada ao aperceber-se que o banco x tinha sido objeto de
uma medida de resolução por força de uma situação financeira particularmente dificil. Poderá
C reagir de algum modo?
Identificação do erro: erro-vício - incorreta representação da realidade que foi determinante da
vontade de celebrar aquele negócio. Tem de ser essencial (quando é determinante da vontade de
celebrar) e próprio (quando não incide sobre nenhum requisito legal de validade).
Qualificação da modalidade de erro: erro sobre o objeto (características intrínsecas).
O regime está previsto no art. 251º do CC - aplicação do regime 247º (negócio é anulável desde
que o declaratário conhecesse ou tivesse cognoscibillidade da essencialidade do elemento sobre
o qual incidiu esse erro).
C pode arguir a anulabilidade do negócio com o prazo de um ano a partir do momento em que
descobre que o negócio tinha sido formado com base num erro.

- C vendeu um automóvel a M. Quando M perguntou se o automóvel nunca tinha sofrido


qualquer acidente, C sem confirmar, disse que não. Descobrindo que em 2014 o automóvel
tinha sofrido um acidente, diga se M pode reagir.
O negócio é inválido, podemos considerar a existência de dolo eventual. Aplica-se o regime do
dolo.

- J tentando evitar a insistência de P que lhe ligava várias vezes ao dia para lhe propor a venda
de um automóvel, declara, para o enganar, que lhe compra o seu veículo. Qual o valor do
negócio celebrado?
A falta de vontade traduz-se numa divergência entre a vontade e a declaração: reserva mental,
porque há vontade de enganar o declaratário.
Valor do negócio: se a reserva mental for conhecida do declaratário, o negócio é nulo; se não for
conhecida, é válido. Neste caso, o negócio é válido.

- P descobriu que F, seu devedor, tinha cometido adultério. Ameaça-o, então, de que se ele não
constituir a seu favor uma hipoteca sobre o seu apartamento, conta tudo o que sabe a T,
mulher de F. Hoje, divorciado, F pretende desvincular-se do negócio. Poderá fazê-lo?
Situação de coação moral: ele quer celebrar o negócio, apenas porque a sua vontade não foi
formada de um modo são. Apenas pretende remover um perigo com o qual é ameaçado.
É uma ameaça ilícita? Sim, porque o meio para se chegar ao fim é ilícito (expedientes da vida
privada).

- A, necessitando urgentemente de dinheiro para pagar uma dívida ao banco, pede emprestada
uma avultada quantia a M. Esta concorda mas pede o pagamento de um juro de 60% ao ano.
Quid iuris?
Estado de necessidade:
Regime — art. 282º CC, anulável desde que se verifiquem determinados pressupostos: situação
de necessidade, exploração dessa situação, obtenção de benefícios excessivos/injustificados.
Consequência — anulabilidade, arguida pelo A, dentro do prazo de um ano, a contar da
cessação do vício.

- C e J celebraram um contrato de compra e venda de um imóvel.


• Dois dias antes do contrato ser celebrado há um incêndio.
O objeto do negócio já não existe, sendo o objeto impossível (art. 280º CC). O negócio é nulo.
• Quid iuris se o incêndio tivesse ocorrido dois dias depois da outorga da escritura pública?
Regime do risco (art. 796º): perecimento da coisa depois da celebração do negócio. O risco corre
por conta do adquirente.
- T vendeu a X um quadro, pensando tratar-se de uma pintura vulgar por 30 000€. Mais tarde,
descobriu que se tratava de um quadro de Picasso e pretende invalidar o negócio. Sabendo
que o estado dos conhecimento da arte não permitiam, no momento da celebração do
negócio, identificar aquela pintura, pergunta-se se terá êxito a sua pretensão.
Problema: erro sobre o objeto. Saber se este erro pode ou não relevar?
Havendo um erro sobre as qualidades do objeto, do vendedor, pode invalidar-se o negócio?
A doutrina entende que só é possível a invalidação do negócio quando o erro possa ser detetável
no momento de celebração do negócio.
Neste caso concreto, não pode relevar como fundamento para a invalidação do negócio. O risco
numa nova descoberta deve ser por conta do alienante e não por conta do adquirente.

Aula teórica (17/04)

Cláusulas de exclusão e limitação de responsabilidade:


Estipulações nos termos das quais as partes de um contrato excluem ou limitam a
responsabilidade em que incorreriam em caso de não cumprimento, cumprimento defeituoso ou
mora do contrato, ou no âmbito da responsabilidade extra-contratual.

Quando estamos perante esta cláusula, a responsabilidade continua a existir.


Exclui-se o dever de indemnizar.

Modalidades de CEeLR:
- Responsabilidade extracontratual (art. 433º)
- Limitação e exclusão da responsabilidade contratual
- Limitação de responsabilidade através da limitação do fundamento
- Limitação de responsabilidade através do estabelecimento de um limite indeminizatório
Estas cláusulas suscitam diversas dúvidas, que resultam do teor do art. 809º CC:
Há autores que dizem que, entre os diversos direitos que assistem ao credor, em caso de
incumprimento ou morte, estas cláusulas são uma renúncia antecipada ao direito à
indemnização, considerando-as inválidas.
Nós discordamos. Temos de ter em conta a intencionalidade do preceito: impedir que uma
obrigação civil se transforme numa obrigação natural.

Ao excluir ou limitar a obrigação de indemnizar, a surgir no âmbito do incumprimento ou


cumprimento defeituoso, o credor está apenas a condicionar o seu direito à verificação de
determinados pressupostos.
Concluímos que são apenas inválidas as cláusulas de limitação ou exclusão da responsabilidade
motivadas por dolo.

Art. 18º do DL 446/85 — cláusulas contratuais gerais


Considera que são nulas as cláusulas que excluam ou limitem, direta ou indiretamente, a
responsabilidade de incumprimento, mora ou cumprimento defeituoso, ou a responsabilidade de
atos em caso de dolo ou culpa grave.

Se o legislador permite a validade no âmbito de um contrato de adesão, entendemos que o


ordenamento jurídico o permite no âmbito de um contrato negocial.

Porém, no caso das cláusulas de limitação ou exclusão da responsabilidade de representantes


ou auxiliares independentes, devem ser sempre consideradas válidas, mesmo que excluam a
responsabilidade por dolo ou culpa grave. São auxiliares independentes.

Excepções: situações em que se considera estas cláusulas inválidas


- Integridade da própria pessoa (física, saúde)
- Proteção dos consumidores
- Auxiliares independentes: contratos negociais
No caso das CEeLR extra contratual, devem ser válidas no caso de se limitarem à culpa leve; no
caso de excluirem a responsabilidade por dolo ou culpa grave, consideramos inválidas (nulas).

Responsabilidade por culpa leve — art. 810º


Posição da cláusula penal.

Cláusula penal:
Estipulação acessória típica em que as partes num contrato convencionam antecipadamente
uma determinada prestação, que o devedor terá de realizar a favor do credor em caso de
incumprimento, cumprimento defeituoso ou mora.

Dentro da cláusula penal:


- Cláusula de fixação antecipada de indemnização: a pena prevista substitui a indemnização
porque a própria é determinada à priori pelas partes (arts. 810º a 812º). A pena pode funcionar
como uma limitação da responsabilidade ou como um agravamento desta.
Notas: com a existência desta cláusula, o credor não tem de provar o dano. O devedor pode
provar que não existia dano (não havendo direito a exigir a pena). O credor não pode optar por
indemnização ou pena, tem de exigir sempre esta última.
- Cláusula penal puramente compulsória: a intenção é de forçar o devedor a cumprir. A pena
acresce à execução do contrato ou à indemnização. Acresce à indemnização. A doutrina
entende que o art. 812º se aplica a esta cláusula. Esta exige a culpa.
- Cláusula penal em sentido estrito: a pena substitui a indemnização, não porque seja a própria
indemnização, mas porque satisfaz por outra via o interesse do credor. Neste caso, pode optar
pela pena ou pela indemnização. Como esta é substituída, pode-se exigir esta pena mesmo
que não haja dano.

Ineficácia em sentido amplo:


O negócio jurídico não produz, por um impedimento decorrente do ordenamento jurídico, os
efeitos.
Esta pode ser em sentido estrito (não produz efeitos por alguma circunstância extrínseca) ou
invalidade (o negócio não produz os seus efeitos por uma falta ou irregularidade de um elemento
interno do negócio, essencial para a formação do mesmo)

A ineficácia em sentido estrito pode ser absoluta (operando automaticamente, invocada por
qualquer interessado) ou relativa (só se verifica em relação a um determinado ou determinados
sujeitos).

Dentro da invalidade:
1. Nulidade - casos mais graves, tendo um regime mais gravoso. Pode ser invocada por
qualquer interessado e a qualquer tempo. É de conhecimento oficioso.
2. Anulabilidade - não é de conhecimento oficioso e há um determinado prazo para ser
invocada. Só pode ser por determinados sujeitos previstos por lei.

Nota: confirmação — negócio jurídico unilateral não recetício.

A nulidade e anulabilidade confluem nos mesmos efeitos — art. 289º CC.


- Operam retroativamente
- Destrói-se tudo quanto tiver sido produzido
- Restituição do que tinha sido prestado em cumprimento de obrigações
Relação liquidatória — nova relação jurídica, com base na restituição.

Art. 289º/3: sujeito considerado possuidor de boa fé em matéria de frutos e benfeitorias.


Durante o período em que não é declarado nulo ou a anulabilidade, não teria de restituir nada.

Inexistência — consequências mais graves que a nulidade.


Nem todos os autores a aceitam.
Apesar de ter sido pensada em França no quadro do direito matrimonial, nós aceitamos a
inexistência como uma categoria autónoma.
Há situações em que não se verifica o corpus mínimo que permite falar de um negócio jurídico.
Não há materialidade subjacente ao mesmo, não fazendo sentido admitir determinados efeitos
jurídicos.

Efeitos que um negócio nulo ou anulável pode produzir:


- Efeitos do art. 291º e da proteção de terceiros
- Eficácia que resulta da redução ou conversão de um negócio
A redução do negócio jurídico (art. 292º) consiste em situações em que a invalidade do negócio
só diz respeito a uma parte do mesmo, havendo uma outra parte sem nenhuma perturbação. É
um aproveitamento da parte do negócio jurídico que é válida.
- Princípio da conservação do negócio jurídico: a regra é a da redução do negócio.
Há situações em que a redução é obrigatória, por exemplo imposta pela boa fé.
Nota: redução teleológica —verifica-se quando a invalidade resulta da violação de uma norma
destinada a proteger uma das partes.

Na conversão do negócio jurídico, por seu turno, temos um negócio totalmente inválido. Depois
de ser declarado nulo, ainda é possível aproveitar os elementos desse negócio. Com estes,
podemos transformá-lo num outro, cujo efeito prático ainda consiga prosseguir os interesses
definidos pelas partes.
Problema: conversão de negócios ineficazes? A nossa jurisprudência entende que sim.

Requisitos para a conversão:


- Negócio inválido tem de conter todos os elementos necessários para a validade do negócio
sucedâneo
- A vontade hipotético-conjetural das partes não pode ser oposta à conversão
- O negócio em que o primitivo negócio vai ser transformado tem de manter-se no mesmo
domínio negocial.

A conversão pode, ainda, ser imposta pela boa fé (art. 293º-art. 334º)

Há casos de inexistência - arts. 245º (declarações não sérias), 246º (coação física ou absoluta),
1628º e 1630º (matrimónio):
Não há produção de qualquer efeito jurídico.

Quando o negócio é celebrado de forma válida, pode vir a conhecer o seu fim. Este pode resultar
do cumprimento do negócio, como de outras:
- Resolução (forma de fazer cessar os efeitos de um negócio que se baseia num determinado
fundamento posterior, que pode resultar da lei ou convenção das partes) — eficácia retroativa,
nulidade e anulabilidade.
Excepções: se a retroatividade contrariar a vontade das partes.
- Revogação (não tem eficácia retroativa. É apenas um acordo das partes)
- Caducidade (resulta do decurso do tempo ou verificação de um determinado fim ou de outro
facto, como a morte, por exemplo)
- Denúncia (forma de extinção dos efeitos do contrato que, normalmente, surge associada a
contratos de duração indeterminada. Como o direito se opõe a vinculares perpétuas, este é o
expediente que põe fim a este contrato) — denúncia ad mutum.

Estas categorias nem sempre são estanques, assistindo-se a uma certa ambivalência

Você também pode gostar