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- Facto jurídico: negócio jurídico (tipos, quais as diferenças e caraterísticas, como se forma e
interpretam, patologias do negócio jurídico (vontade e divergência ))
- Regimes da nulidade
O QUE É? É aquilo sob que incide a relação juridica. Portanto, posso dizer que o objeto da
relação juridica é no fundo o objeto o direito subjetivo, ou seja, é aquilo sob que incidem os
poderes do titular ativo da relação juridica. Portanto, este objeto da relação juridica não se
confunde com o conteúdo da relação juridica porque este ultimo é composto pelo conjunto de
poderes do titular ativo e pelo conjunto de deveres do titular passivo. Da mesma maneira que o
objeto do direito subjetivo não se confunde com o conteúdo do direito subjetivo porque o conteúdo
é o conjunto de poderes.
Problema: os direitos potestativos têm ou não objeto? Este problema coloca-se porque
enquanto o direito subjetivo em sentido estrito é a faculdade de pretender de outro algo, o direito
potestativo é o poder ou a faculdade de produzir efeitos juridicos na outra esfera juridica, logo, é o
direito a produzir efeiros juridicos, poder de produzir uma modificação juridica, logo é difícil saber
em que incide o direito potestativo. Quanto muito os direitos potestativos modificativos e extintivos
poderiam ter um objeto que seria num fundo a relação juridica modificada ou extintiva, mas os
direitos potestativos construtivos não é possível de todo identificar o objeto. Alguns autores dizem
que o objeto seria o próprio efeito jurídico. Parece que a melhor posição são…
Muitas vezes faz-se a distinção entre objeto mediato (é aquele que não está diretamente
submetido aos poderes do titular de direito ) e imediato( é aquele que está diretamente submetido
aos poderes do titular do direito). Excise-se um elemento mediador. Esta distinção nem sempre
faz sentido, por exemplo, no direito de propriedade, só faz sentido nas coisas de prestação de
coisa séria (pode-se falar de um objeto mediato (caderno) e num objeto imediato (prestação)
porque só se pode exercer direitos sobre o caderno através de um comportamento mediador).
Quais são os possíveis objeto das relações jurídicas? Artigo 202º CC: definição de coisa.
Este artigo faz equivaler o objeto da relação juridica à coisa. Esta equiparação entre objeto e coisa
não é correta, portanto podemos criticar este artigo 202º porque há mais objetos das relação
juridica para além das coisas.
• As pessoas. Podem ser objeto de relações jurídicas. Têm direito como objeto as pessoas
os direitos funcionais (responsabilidades parentais). Estes servem para proteger as
pessoas.
• A própria pessoa pode ser objeto de relações jurídicas. Direitos de personalidade, isto não
significa que estamos a coisificar a pessoa nem que se torne escrava de si própria. Os
direitos de personalidade têm um determinado fundamento: a dignidade da pessoa
humana , logo, não posso invocar um direito que lá contra ela.
• As prestações. Os direitos de crédito
• As coisas. Direitos reais (coisas corpóreas), direitos de autor, direitos de propriedade
industrial (coisas incorpóreas).
Por fim, o conceito de coisas é muito amplo, por isso, durante largo tempo os animais
foram considerados coisas para o direito, o que não implicava qualquer mau tratamento para os
animais. Eram coisa porque o conceito de coisa era muito amplo. Recentemente o legislador tirou
os animais nos conceitos de coisas, mas não são sujeitos de relações jurídicas, são objeto de
relações jurídicas. Numa logica muito própria dos direitos de defesas dos animais. O artigo 202,a
define os animais mas aplica-se o regime das coisas. Portanto, não existem direitos dos animais
mas sim deveres que têm como objeto os animais e estes cumpre 3 objetivos: 1) a proteção da
própria humanidade; 2) a proteção dos interesses de alguns homens; 3) a salvaguarda dos bons
costumes.
• Direitos subjetivos podem ser objeto de relações jurídicas. Ou seja, podemos ter direitos
sob direitos, por exemplo, um penhor de um crédito, logo, temos um direito que tem como
objeto um outro direito subjetivo.
Património coletivo: temos um único património e vários sujeitos titulares. Por exemplo, a
comunhão conjugal.
03/03 (T)
1. Facto jurídico
É todo o facto humano ou todo o acontecimento natural produtor de efeitos jurídicos.
É o que faz desencadear a relação jurídica.
Negócio jurídico
É o facto jurídico voluntário ou ato jurídico cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais
declarações de vontade, tendentes à produção de determinados efeitos práticos que as partes
querem que sejam tutelados pelo direito. Há uma relação estabelecida entre a vontade que se
manifesta e os efeitos que se produzem.
A forma como se compreende esta relação levou ao surgimento de diversas teorias a propósito
desta noção:
a. Doutrina dos efeitos jurídicos — de acordo com esta, os efeitos que se produziriam pelo
negócio seriam sempre efeitos jurídicos perfeitamente correspondentes ao conteúdo da
vontade. Esta doutrina não pode ser aceite porque caso fosse, apenas um jurista com uma
formação completa poderia celebrar negócios jurídicos. Há efeitos que resultam de normas
supletivas e não das vontades específicas das partes, isto é, não correspondem totalmente à
vontade manifestada pelas partes.
b. Teoria dos efeitos práticos — de acordo com esta, as partes manifestam a vontade de
produzir efeitos práticos e o ordenamento jurídico faria corresponder a esses efeitos práticos
determinados efeitos jurídicos. Esta teoria não pode ser aceite, dado que, se aderirmos a esta
teoria, não conseguimos distinguir o negócio jurídico de outros acordos da vida social,
designadamente de figuras próximas ao mesmo, como os negócios de pura obsequiosidade
e acordos de cavalheiros (gentleman agreement).
Os negócios de pura obsequiosidade correspondem a promessas ou combinações da vida social
às quais é estranho o intuito/intenção de criar um vínculo jurídico (ex.: convite para jantar).
Os acordos de cavalheiros são combinações sobre matérias que normalmente são objeto de
negócios jurídicos mas, relativamente às quais, as partes não pretendem criar efeitos jurídicos.
c. Teoria dos efeitos prático-jurídicos — num negócio jurídico, os sujeitos manifestam a
vontade de produzir determinados efeitos práticos mas manifestam, também, a vontade de
que eles sejam juridicamente vinculantes.
Quanto à forma
1. Solenes ou Formais — aqueles que, para serem validamente celebrados, exigem uma
determinada forma. Esta pode ser um documento autêntico, um documento autenticado, um
documento particular ou o casamento.
2. Não solenes ou Consensuais — podem ser celebrados de qualquer forma ou, até, sem forma
(verbalmente). Constituem a maioria dos negócios (art. 219º CC — liberdade de forma). A
excepção é a exigência de forma. Se houver exigência e esta não for cumprida, o negócio é
nulo (art. 220º CC).
Quanto à constituição
1. Consensual — é a regra. Para que um negócio jurídico se considere celebrado, bastam as
declarações negociais.
2. Real — é a excepção. Só se consideram perfeitos se, para além das declarações negociais,
existir um ato material de entrega (ex.: penhor, comodato, depósito, mútuo).
A doutrina tem-se mostrado particularmente crítica desta configuração de alguns negócios como
reais quanto à constituição. Esta diz que há uma excepção em que se justifica esta configuração,
o penhor. À excepção deste, não há justificação para, nos outros casos, serem configurados
como negócios reais.
Para os autores, seria algo que restou do direito romano e não teria grande razão de ser.
Contratos unilaterais onerosos — há atribuições patrimoniais para ambas as partes, unidas por
um nexo de correspetividade, só gerando obrigações para uma das partes (ex.: mútuo —
contrato real quanto à constituição).
Aula 3 (online)
Elementos:
- Interno — vontade de ação, declaração e negocial;
- Externo.
Tipos de declaração negocial (art. 217º CC):
1. Expressas: feitas através de palavras, de forma direta
2. Tácitas: deduzidas através de um comportamento/ato
Qualquer uma delas tem o mesmo valor, embora haja determinados negócios jurídicos que só
podem ser celebrados mediante declarações expressas.
Por outro lado, o carácter formal da declaração não impede que seja emitida tacitamente os
termos da declaração (art. 217º/2).
Art. 218º do CC — silêncio
Para o direito, o silêncio é o nada dizer e o nada fazer (não se trata apenas de não falar, mas sim
de não atuar em nenhum sentido).
O silêncio não tem valor de declaração negocial, dado que se temia que o sujeito, sem se
pronunciar, se vinculasse a um negócio jurídico contra a sua vontade.
Excepções: o silêncio pode valer, desde que o valor seja atribuído por lei, por uso ou por
convenção.
- Uso — prática habitual, num determinado círculo social, estabelecido entre os contraentes. Ou
o valor do silêncio é recorrente naquele âmbito, ou os contraentes, na sua prática negocial, já
recorrem ao silêncio para a contração de um negócio. É um hábito.
- Lei — há uma norma que prevê o caso concreto em que o silêncio vale como declaração
negocial.
- Convenção — caso seja estipulado pelas partes. A e B acordam que, se nada for dito, o
silêncio terá valor de aceitação.
Declarações negociais:
1. Presumíveis — são as situações em que a lei liga um determinado comportamento do sujeito
a uma determinada vontade negocial. A lei diz que o comportamento deve ser entendido num
sentido específico, admitindo que esta presunção que se estabelece pode ser ilidida (art.
926º). Em caso de dúvida, presume-se que está em causa a venda a contento.
2. Ficta (art. 1054º) — se o contrato de arrendamento for celebrado por um determinado
período, vai renovar-se sucessivamente, excepto se houver uma vontade a opor-se à mesma.
À não manifestação é imposta esta condição. A lei não admite que seja ilidida a presunção.
A forma do negócio juridico é imposta, em termos excepcionais, e pode ser de duas formas:
1. Legal (imposta por lei)
2. Convencional — determinada pelas partes. A e B celebram um negócio, negócio
determinativo da forma, e, num segundo momento, temos o negócio propriamente dito. O
primeiro, determinativo da forma, só pode exigir uma forma que o legislador não exigia. Este
não pode determinar a submissão a uma forma menos exigente do que o legislador previu. Se
isso acontecesse, torná-lo-ia nulo (violação dos requisitos do art. 280º).
Nota:
Saber qual o âmbito da forma legal exigida? O que tem de constar da forma?
— A e B celebram um contrato de compra e venda de um imóvel e este é celebrado por escritura
pública. Aqui estabelecem um fracionamento do preço (não é pago todo ao mesmo tempo): uma
prestação paga-se no momento da escritura, outra ao fim de um ano. Se vale 100000€, pagar-se-
ia 50000€ por prestação. Quando A e B celebram este contrato, da escritura não consta este
acordo dos sujeitos relativamente à forma de pagamento.
Resta saber se esta cláusula acessória, que estabelece o modo de pagamento do preço, de deve
ser considerada válida. Quando se exige a E. Pública, deve estar tudo contido na mesma? (art.
221º CC).
Segundo o CC, há requisitos para que não seja nulo:
- Tem de ser uma estipulação verbal acessória: complementa o documento mas não o contraria;
- As razões determinantes da forma não lhe sejam aplicadas;
- Têm de corresponder à vontade do autor da declaração — no que diz respeito à prova, há
limitações (art. 394º): não é admitida a prova por testemunhas, restando a prova por confissão
ou prova por um documento (menos solene); quanto às estipulações posteriores à declaração
negocial (art. 394º/2), só são sujeitas à forma legal se as razões de exigência especial de forma
lhes forem aplicadas.
Não se exige a prova da correspondência à vontade do autor da declaração, porque se trata de
pactos modificativos/extintivos, estando em causa saber se as razões determinantes da forma se
aplicam ou não a estas situações.
• Se a forma não for cumprida, tratando-se de uma forma legal exigida, considera-se o negócio
nulo nos termos do art. 220º.
Saber se, em algumas situações, pode invocar-se o abuso do direito para impedir a arguição de
nulidade proveniente da nulição da forma, isto é, alegar as invalidades formais?
- A doutrina diverge. Mota Pinto diz que sim. Outros autores, como Antunes Varela, entende que
não.
A doutrina entende que só estamos diante de uma proposta quando ela é concreta, precisa,
quando revela inequivocamente a vontade de contratar e quando reveste a forma requerida.
• Posições subjetivistas
Problema da integração (art. 239º) — tentativa de resolução de problemas que não foram
pensados pelas partes.
Significa que, se as partes não previram um determinado problema, havendo uma lacuna no
negócio, há expedientes para tentar resolver essa lacuna.
1. Expedições legais — regulação ou não do contrato e aplicação de uma norma
2. Vontade hipotética-conjetural das partes — vontade que teriam tido se tivessem previsto o
problema
3. Ditames da boa fé — estes não surgem apenas em termos subsidiários.
A integração tem limites, ou seja, não se pode ir para além do circulo regulamentado pelas
partes.
As declarações negociais são compostas por dois elementos: interno (vontade) e externo.
O elemento interno tende a corresponder ao elemento externo. O negócio jurídico é um
instrumento de manifestação da autonomia da vontade.
Pode ocorrer uma divergência entre aquilo que se quis dizer e aquilo que se disse.
Quando isto ocorre, estamos perante um problema de divergência entre vontade e declaração:
1. Divergências intencionais — propositadas, desejadas.
2. Divergências não intencionais — não desejadas, potenciadas por algo que não depende da
vontade do sujeito, erro.
Quando temos de dar resposta ao problema de saber se o negócio deve ou não valer, temos de
ter em conta todos estes interesses. Ao longo do tempo, surgiram diversas teorias, harmonizando
estes interesses, dando uma resposta no sentido de saber se o negócio em que há divergência
de vontades, pode ou não ser considerado válido.
- Teoria da vontade: peso essencial dado à vontade. Defende a invalidade do negócio, porque o
que importa é a vontade do declarante.
- Teoria da culpa in contraendo: crítica à anterior, porque punha em causa os interesses de
ambos, desvinculando facilmente o negócio. Esta parte da teoria da vontade, dizendo que o
elemento principal do negócio é a vontade, tendo de ser considerado inválido, dado que não
há coincidência entre a vontade declarada e a vontade real. Considera que deve haver uma
obrigação de indemnização quando o negócio é inválido e haja dolo/culpa do declarante e boa
fé do declaratário. Há uma atenção especial aos interesses deste último. Esta doutrina foi
superada porque respondia aos interesses do declaratário, mas não totalmente, deixando-os à
mercê de uma possível desvinculação do negócio.
- Teoria da responsabilidade: nestas situações de dolo/culpa do declarante e boa fé do
declaratário, o negócio pode ser considerado válido. A tutela não é só negativa, mas passa a
ser positiva. O elemento primordial é a vontade.
- Teoria da declaração: o elemento importante é agora a declaração, porque esta teoria dá
primazia ao interesse do declaratário, da tutela da sua confiança.
Dentro desta, há várias posições:
a. Posição tradicional — o peso só se atende à declaração, sendo a ideia que o negócio seja
sempre válido, de acordo com a vontade declarada e não de acordo com a real/querida. Esta
posição era muito formalista, deixando de acautelar os interesses do declarante. Acabou por
ferir o sentido de justiça que perpassava o negócio jurídico.
b. Teoria da confiança — a divergência entre a vontade e declaração produz a invalidade se for
conhecida ou cognoscível pelo declaratário. Só assim corresponde à justiça a invalidação do
negócio, acautelando-se os interesses do mesmo.
c. Teoria da aparência eficaz — parte da última. Considera o negócio inválido pelos mesmos
motivos, considerando ainda que também haverá essa invalidade quando o negócio envolva
uma vontade que é querida pelo declarante, uma que é dita por este, e um terceiro sentido
entendido pelo declaratário. A emite uma proposta x, quer dizer y, B entende z. Há 3 sentidos,
existindo a falta de justificação para a confiança, num sentido que não corresponde nem há
vontade real nem à declarada.
Tendencialmente, aderimos à teoria da confiança, sendo esta acolhida pelo nosso legislador, nas
diversas soluções nesta problemática. Há algumas correções, podendo aceitar a teoria da
aparência eficaz.
Como sabemos, não há uma resposta unívoca para as divergências, tendo de atender aos
diversos regimes e disciplinas que o nosso legislador consagrou.
Modalidades da simulação:
- Absoluta (apenas um negócio jurídico)
- Relativa (dois negócios jurídicos: um simulado e um dissimulado). Nesta suscitam-se maiores
problemas, atendendo à validade ou invalidade do negócio dissimulado.
Dentro desta, podemos ter:
- Subjetiva (diz respeito aos sujeitos: interposição fictícia de pessoas — A finge doar a B. B doa
a C. Conluio entre A, B e C; não pode confundir-se com a interposição real, em que A vende a
B e depois vende a C, ou seja, não há conluio - atua por conta própria, na vontade de outro).
Acórdão do STJ - numa interposição real, estamos perante uma simulação.
- Objetiva (simulação cujo elemento ao qual diz respeito o dissídio entre a vontade e a
declaração localiza-se no âmbito de um elemento referente ao objeto/preço do negócio ou à
natureza/tipo do mesmo).
Valor do negócio dissimulado (art. 241º) — este pode ser válido ou inválido, dependendo do
tratamento que receberia se não tivesse sido simulado de forma escondida.
Ver se há causas de invalidade material ou se é invalido.
Se se tratar de um negócio formal, teremos de atender também à sua validade formal.
Nota:
Mesmo para os autores mais exigentes, sendo uma simulação relativa objetiva de preço,
entendem que não é preciso nenhuma contradeclaração, bastando a forma do negócio (art.
883º).
A doutrina entende que, em matéria de prova, quando exista um início de prova, é possível
depois presumir e inverter o ónus da prova. É possível recorrer às provas por presunção e
testemunhais. É necessário esse princípio de prova.
- Não podemos invocar contra terceiro de boa fé, sendo este quem desconhecia a simulação ao
tempo da aquisição do direito.
Há autores que entendem que a boa fé deve ser entendida num sentido psicológico-normativo,
havendo um desconhecimento sem culpa.
O art. 243º não é interpretado de forma unânime, havendo quem diga que deve ser invocado
mesmo quando o é por um terceiro. Nós entendemos que só é aplicável quando sejam os
simuladores ou um deles a invocar a nulidade do negócio simulado.
Para além destes, também podem invocar a nulidade os herdeiros legitimários: se for depois da
morte, podem invocar como sucessores (limitações); ou para se defenderem.
art. 242º/2: pode ser invocada a nulidade do negócio sempre que tenha sido feito com o intuito
de prejudicar (simulação fraudulenta).
Pode ainda invocar a nulidade a fazenda nacional, os preferentes, não sendo protegidos pelo art.
243º, servindo este para evitar um prejuízo mas não cria benefício, e os credores (art. 605º, rem.
394º/2 e 243º).
2. Reserva mental: divergência intencional entre a vontade e a declaração que tem como intuito
enganar o declaratário.
(na simulação exige-se o conluio e tem de haver intenção de prejudicar terceiros)
Há várias modalidades:
- Inocente: não envolverá a intenção de criar prejuízo ao declaratário. Há situações de reserva
mental em que há uma intenção benemérita.
- Fraudulenta: envolve, para além da intenção, a intenção de prejudicar.
- Absoluta: o declarante diz uma coisa, quer dizer o oposto.
- Relativa: o declarante diz que quer celebrar um negócio jurídico, querendo na verdade celebrar
outro.
- Unilateral: só um é que pretende enganar o outro.
- Bilateral: um engana outro na proposta, outro engana o primeiro na aceitação.
Regime da reserva mental (art. 244º)
Em regra, não tem qualquer efeito, continuando um negócio a ser considerado válido.
Se for conhecida do declaratário, tem os mesmos efeitos da simulação, sendo este considerado
nulo.
Há situações em que esta solução não chega: reserva mental inocente, em que é feita com a
intenção de gerar um determinado benefício para auxiliar o declaratário.
A tem um amigo, B, que tem uma depressão. Para ajudar, A resolve declarar que lhe vai doar o
seu barco. Na verdade, A era uma pessoa conhecida por ser sovina, fazendo isto apenas para o
tirar da situação, sem a verdadeira intenção de lhe doar o barco. Quando B recupera, exige a
entrega do barco. A contesta e diz que agiu em reserva mental, não valendo o negócio. B
contesta com o art. 244º.
B não conhecia a reserva, mas talvez lhe fosse exigível conhecer, dado que eram tão amigos e B
conhecia a personalidade de A. B poderia ter percebido.
Basta a cognoscibilidade para que o negócio seja considerado nulo (art. 244º rem. art. 286º).
3. Declarações não sérias (art. 245º): situação em que a declaração é emitida mas não
corresponde à vontade do declarante intencionalmente, não havendo porém vontade de enganar
nem um terceiro nem um declaratário. É emitida na esperança de que o declaratário se aperceba
da não seriedade da declaração.
Ex.: declarações num ciclo de amigos.
Se o declarante se apercebe que o declaratário não percebeu o carácter não sério da declaração,
tem a obrigação de o esclarecer.
2. Falta de consciência: o sujeito não tem vontade de declaração. Apesar de estar prevista no
mesmo artigo, não é uma situação tão grave. Não há falta de consciência.
A consequência é a nulidade.
Contradição com os art. 236º e 247º — o art. 246º dá mais valor à vontade do declarante do que
às expectativas do declaratário.
Nestas situações, o negócio é considerado anulável.
Os autores dizem que se A quer celebrar um negócio e não quer, afinal, fazê-lo, não tendo
consciência, este é nulo.
Se A diz que quer celebrar o negócio x, mas na verdade quer celebrar o y, e o faz por lapso, o
negócio é anulável, mediante condições: pode ficar vinculado a um negócio que não queria, em
termos que não queria, mas se há falta de consciência a vinculação fica afastada.
(Menezes Cordeiro)
- Quando a declaração não possa ser imputável ao declarante.
Quando é que o sujeito não tem consciência da declaração?
Não está consciente das formas/condições de declaração, por exemplo.
Aula 5 — online
Regime:
- O negócio é anulável, caso se verifique um pressuposto: o declaratário tinha de conhecer ou
não devia ignorar da essencialidade do elemento sobre o qual incide o erro.
Alguns autores dizem que o regime é demasiado permissivo. (Mota Pinto)
O erro pode ser culposo. O declarante pode ter culpa e isso não obsta que o negócio seja
anulado.
O facto de não exigir a desculpabilidade não quer dizer que a culpa não torne mais difícil a prova
do elemento na base do erro, em algumas situações.
Se houver culpa, o negócio é anulável, mas o que erra por culpa própria, pode ter de indemnizar
o outro (responsabilidade pré-contratual — art. 227º).
Situações excepcionais:
Art. 236º/2 — é de acordo com a vontade real que o negócio vai valer.
Art. 248º — se o declaratário aceitar o negócio como o declarante o queria, então o negócio vale
como este último o queria, não sendo anulado.
Erro de cálculo ou erro de escrita (art. 249º) — se o erro for detetável no próprio contexto da
declaração, nesse caso não haverá direito a anulabilidade, mas sim à retificação, valendo assim o
negócio.
Teoria da aparência eficaz — negócio anulável.
Art. 250º — erro na transmissão da declaração (se o lapso resulta da transmissão de um terceiro
ao negócio, este é anulado; se for devido a dolo deste intermediário, é sempre anulável, havendo
direito a indemnização).
— Vícios da vontade —
Nos vícios não há divergência entre o que se disse e o que se quis dizer, há sim um processo de
formação que está perturbado de alguma forma.
- Erro-vício
- Dolo
- Coação moral ou relativa
- Estado de necessidade
- Incapacidade acidental
Erro vício (enquanto vício da vontade)
É um vício da vontade, isto é, traduz-se na ignorância/desconhecimento/incorreta representação
da realidade que é determinante da vontade de celebrar um negócio.
Não há qualquer divergência entre o que se disse e o que se quis dizer.
Quando é que este erro revela? Com dois requisitos gerais (respeita a todas as modalidades de
erro vício):
1. Essencial (determinante da vontade de celebrar o negócio) — subjetivo. O seu oposto é o
erro irrelevante
2. Incidental (não é determinante da vontade, mas sim dos termos em que o negócio venha a
ser ou foi celebrado) — não dá lugar à anulabilidade do negócio. Determina, em regra, a
modificação do negócio.
Pode ser invalidado o negócio quando não se consegue determinar os exactos termos em que foi
celebrado o negócio.
3. Propriedade (o erro tem de ser próprio) — quando não incide sobre um requisito legal de
validade do negócio.
VS
Erro impróprio — incide sobre a questão da forma (requisito legal de validade do negócio).
Excepções:
Situações em que a contraparte não tem outra possibilidade para se desvincular do negócio se
não através deste erro.
Não se exige, por exemplo, que o erro seja desculpável. Pode ser culposo.
Para que o negócio seja anulável, serão necessários mais requisitos, respeitando cada uma das
modalidades de erro-vício:
Sobre a pessoa do declaratário (art. 251º rem. 287º e rem. art. 227º)): requisito do
conhecimento/cognoscibilidade do elemento sobre o qual incidiu o erro.
1. Sobre a identidade do declaratário
2. Sobre as características/qualidades do declaratário
Nota: parte da doutrina diz que o erro sobre a identidade muitas vezes se aproxima do erro-
obstáculo, qualificando-o assim mesmo. Para nós, o regime para os dois é o mesmo.
Se o erro for sobre os motivos, o art. 252º/1 diz que o erro só é causa de anulação se as partes
tiverem reconhecido por acordo a essencialidade do motivo. Não tem de ser expresso ou escrito.
O erro sobre os motivos diz respeito apenas ao declarante.
Aula 6 — online
Recentemente, esta posição doutrinária foi criticada: situações de indução negligente em erro —
o declaratário não tem intenção, mas o seu comportamento é negligente (violando deveres de
informação), fazendo o declarante incorrer em erro.
- Há autores que dizem que não é possível equiparar estas situações às situações de dolo,
porque este exigiria sempre o dolo enquanto forma de culpa. Acrescentam, a isto, que a
violação de deveres de informação é responsabilidade pré-contratual, havendo uma obrigação
de indemnizar. O primeiro remédio é sempre a reparação. Só se esta não for possível ou
excessivamente onerosa ou não for suficiente é que se passa à indemnização pecuniária. A
forma de reparação natural é a desvinculação do contrato. Em termos de regime, o prazo é um
ano a contar da cessação do vício e no caso da responsabilidade o prazo de prescrição é de 3
anos.
- Outros autores diz que, apesar de o dolo tradicional envolver o dolo enquanto forma de culpa,
temos de atender ao fundamento do regime. E este determina a anulabilidade do negócio,
dado que o dolo (do declaratário) implica que não haja expectativas dignas de tutela.
A diferença entre o erro e o dolo é que, neste último, há um desvalor acrescido no que diz
respeito ao declaratário, não havendo confiança digna de tutela.
Consequências — art. 256º (negócio anulável) rem. art. 287º (quem pode arguir é o coagido, no
prazo de um ano a contar do momento em que a ameaça cessou).
Se provier de terceiro, o mal com que o sujeito está a ser ameaçado tem de ser considerado
grave.
Requisitos:
- Situação de necessidade (dependência, fragilidade);
- Tem de haver exploração deste estado de necessidade;
- Desta exploração têm de resultar benefícios excessivos ou injustificáveis.
Situação especial: o sujeito aproveita-se do estado de necessidade para tirar benefícios
excessivos ou injustificados, numa situação em que tem o direito legal de agir — nulidade (art.
280º) — violação dos bons costumes.
Ex.: caso de um nadador salvador que só cumpre a sua função se a vítima lhe doar um bem.
Requisito:
- Que o facto seja notório ou conhecido do declaratário (conhecimento ou cognoscibilidade)
A saiu e bebeu demais, declarou que vendia o seu carro por 30€. B aceitou, enquanto estava
embriagado, não percebendo o estado de incapacidade do A (incapacidade bilateral).
Este negócio é anulável porque não basta o conhecimento, também é necessária
cognoscibilidade. (rem. art. 287º) — anulável pela pessoa que sofre da incapacidade, dentro do
prazo de um ano, a partir do momento em que recupera o domínio da sua vontade.
Aula prática (27/03)
2. A diz a B, por telemóvel, que vende a sua biblioteca por 300 000€. B responde “já digo
alguma coisa daqui a pouco”. No dia seguinte, B dirige-se a casa de A com o cheque
correspondente ao pagamento. Mas A já tinha vendido a sua biblioteca a C. Haverá alguma
forma de B reagir?
- Declaração tácita de B
- art. 228º — negócio entre presentes. Quanto tempo vai durar esta proposta? Nestas
condições, deixou de vincular.
- art. 226º/2 — ineficácia da proposta
Assim, B não tem como reagir a esta situação.
4. Por carta datada de novembro 2018, P propôs a R a venda de 2000 pares de sapatos por um
erro tipográfico, referiu um preço de 4,50€ por par, em vez de 5,04€ por par. Estará Pedro
vinculado?
- Erro na declaração — divergência entre o que se diz e o que se quer dizer. É um erro obstáculo
(art. 247º CC), dando lugar à anulabilidade, desde que R conheça ou devesse conhecer a
essencialidade do elemento de onde ocorreu o erro.
- R não tinha de saber o valor, apenas que o preço é um elemento essencial.
- Estamos perante um erro de escrita que tem de ser perceptível no contexto — regime do art.
249º — retificação da declaração..
- Se não for perceptível, segue-se o regime do art. 247º.
5. A e B estão a negociar a venda de um automóvel. Acordaram entre si que B teria de
responder à proposta no prazo de 15 dias sob pena de ela se dar por aceite. A contrata X para
sequestrar B durante 3 semanas. Face à ausência de resposta de B, o contrato deu-se por
celebrado. Estará B vinculado?
- Silêncio com valor de declaração negocial
- Coação física (não há vontade de ação)
- Consequência: inexistência (art. 246º)
6. A anuncia no jornal que tem vários ratos para vender. B, que precisava de ratos para as suas
experiências de laboratório, envia 150€ e encomenda 30 ratos. 10 dias depois, A entrega no
laboratório de B, 30 ratos de computador. Quid iuris?
- Convite a contratar
- O negócio tem como objeto ratos, enquanto animais.
- Não há consenso quanto ao objeto do contrato.
- Há um erro que envolve dissenso. O negócio é anulável
art. 247º — erro obstáculo
art. 251º
7. A telefona a B dizendo que quer comprar a mesa de pau santo exposta na montra à venda
por 4000€. B envia uma outra mesa, porque a que queria comprar foi escolhida com o único
propósito de alterar a decoração da montra. O preço era exatamente o mesmo. Quando recebe a
mesa em casa, A constata o engano e pretende reaver o dinheiro. B opõe-se. Quid iuris?
- Erro-obstáculo: diferença entre o que quer e o que diz que quer
- art. 251º
- É um negócio anulável desde que o declaratário conhecesse ou devesse conhecer a
essencialidade do elemento sobre o qual incidiu o erro.
- B pode aceitar o negócio tal como A o queria inicialmente. A queria anular, mas B troca em vez
de devolver o dinheiro. (art. 248º)
8. M vendeu a C em dezembro de 2016, por 10 000 €, um antigo faqueiro de prata, que julgava
ter sido fabricado no início do século XX.
a. Hoje, M descobriu que o faqueiro data do século XVIII. Poderá este desvincular-se?
Estamos perante um erro vício. Se soubesse que era uma peça de antiquário, jamais teria
vendido.
Requisitos: essencial (determinante da vontade de celebrar o negócio) e próprio.
Modalidade: erro sobre o objeto (art. 251º)
Quem pode arguir a anulabilidade? M, o errante, dentro do prazo de 1 ano a contar do momento
em que descobre o erro.
c. M tinha vendido a pensar que tinha sido fabricado no século XX, e tinha sido no século XVIII.
Depois de descoberto, vendia na mesma mas cobrava um preço muito superior por ele.
Erro sobre o objeto, incidental, não determinante da vontade de celebrar o negócio, mas
determinante dos termos em que o negócio tinha sido celebrado.
Dá direito à modificação dos termos do contrato, em regra.
Aula 7 (teórica)
A nossa posição:
- As partes tinham pensado nessa eventualidade: não sabiam qual era a alteração, mas
acautelaram-se nesse sentido. Apuseram ao contrato uma cláusula que resolve o problema.
Cláusula de hardship.
- Pode acontecer que as partes nada previram.
Outro problema do art. 437º: pode ou não ser aplicado a negócios aleatórios (partes submetem-
se a um risco de perder ou ganhar)? — ver contratos swap.
Não é viável, porque o risco de oscilação das taxas de juro é um dos riscos naturais deste tipo de
contratos. Mas isto não implica uma resposta generalista: se perguntarmos em geral, sim. O que
justifica a não aplicação não é o seu tipo, mas sim a análise da natureza do risco.
Representação legal — atua em nome do incapaz e os efeitos jurídicos vão-se produzir na esfera
jurídica do representado
Representação voluntária:
Implica sempre a atuação em nome de outrem;
Requisitos:
1. Atuação em nome de outrem;
2. O representante pode atuar no seu próprio interesse só é possível no âmbito desta
representação voluntária (e não legal) — há uma diferença fundamental com reflexo em
termos de regime.
A representação legal surge para suprir a necessidade do representado.
A representação voluntária surge como uma atuação em nome próprio.
A representação orgânica traduz-se em nome da pessoa coletiva.
A atuação por conta de outrem é específica do mandato, que não se confunde com a
representação.
Podemos ter mandato sem representação.
3. Legitimação representativa — atribuição de poderes de representação a um determinado
sujeito (se for a lei, temos representação legal; se for estatutos, é representação orgânica; se
for a vontade, temos representação voluntária). No último caso atribuem-se poderes através
de uma procuração (art. 262º)
Se os poderes de representação forem atribuídos através de uma procuração, esta legitimação
diz-se originária.
Se não se atribui poderes e esse alguém resolve agir em nome de outrem, este, sabendo desta
situação, concordo, ratifica o ato. Esta ratificação é outra via de atribuição de poderes
(superveniente - posterior à situação) — art. 268º.
A procuração é o negócio pelo qual alguém atribui poderes de representação, entendido como
um negócio jurídico unilateral. O destinatário é o terceiro com o procurador celebra o contrato.
Problemas:
Pode haver uma situação de responsabilidade do representante. Este, sem poderes, celebra o
negócio e leva à sua ineficácia, podendo ser responsabilizado em relação à contraparte:
- Responsável pelo interesse contratual negativo
b. Pode A desvincular-se?
Há uma situação de dolo (por parte do declaratário, o M), tendo de se considerar preenchidos os
requisitos para que o negócio seja anulável.
6. A e M celebram um contrato de arrendamento de um apartamento. M quis arrendar esse
apartamento porque julgou erradamente que a sua entidade patronal a tinha transferido para
Lisboa. Porém, nunca houve qualquer intenção da parte da empresa em que M trabalha de
deslocá-la profissionalmente. Descobrindo hoje que nunca tinha havido essa intenção da
parte da entidade patronal, M quer desvincular-se do negócio. Pode fazê-lo?
Estamos perante um erro vício sobre os motivos (art. 252º/1) propriamente ditos: este é um
motivo que diz única e exclusivamente respeito à M. Exige-se o reconhecimento por acordo da
essencialidade do motivo, ainda que seja tácito.
Objeto do negócio jurídico: não pode ser definido à priori. Podemos modelá-lo como o
queiramos definir, sendo este definido pelas partes.
A questão da impossibilidade superveniente está prevista nos arts. 790º, 792º (impossibilidade
temporária), 191º (impossibilidade subjectiva - relativa à pessoa do devedor) e 793º
(impossibilidade parcial).
Arts. 801º e 802º: impossibilidade imputada ao devedor.
- Licitude (art. 280º) - é nulo se for contrário à lei. O negócio jurídico não pode contrariar normas
imperativas.
Quanto ao fim do negócio jurídico (art. 281º): se apenas o fim for contrário à lei, o negócio é nulo
quando o fim é comum a ambas as partes.
Categorias a ter em conta:
- Negócio em fraude à lei — negócio que, para não contrariar abertamente uma norma
imperativa, tenta contornar essa proibição. Deve ser equiparado ao negócio contrário à lei.
Deve ser considerado nulo. Não afronta a proibição legal, mas tenta contorná-la.
Temos de ver se a lei, ao proibir um resultado, também proíbe os meios indiretos para o atingir:
se o fizer, o negócio é nulo.
Se apenas proibir um meio, ficando em aberto a possibilidade de se percorrer outras vias para o
mesmo resultado, então não deverá ser considerado nulo.
Não se confunde com o negócio indireto, isto é, falamos de um tipo contratual para prosseguir
um tipo contratual diverso. Este negócio é lícito, na medida que seja também o negócio que
diretamente permitiria atingir o mesmo resultado.
De acordo com o art. 280º, não pode contrariar os bons costumes. Esta noção de bons costumes
é complexa, em relação à qual não há unanimidade entre os autores: nas posições tradicionais,
estaria em causa a contrariedade as regras morais, para outros autores seria a consciência.
Atualmente, é difícil determinar o que são os bons costumes.
Menezes Cordeiro diz que configuram regras de comportamento relativos à dimensão familiar,
sexual, profissional, incorporando regras deontológicas.
Não podemos deixar de ter em conta a dimensão deontológica.
Violação de bons costumes no direito civil: negócios usurários, negócio que tenha por objeto a
comercialização de bens de personalidade, que prejudiquem as regras do mercado, que afrontem
as liberdades individuais.
- Cláusula da ordem pública - o objeto do negócio jurídico não pode ser contrário à ordem
pública. Esta é integrada pelos princípios fundamentais e subjacentes ao negócio jurídico
(remissão para uma dimensão ético-axiológica).
Ex.: situação de atentado direto à dignidade da pessoa humana, limitação da liberdade religiosa.
Podem ser causais (o evento é um facto alheio) ou potestativas (o evento futuro depende da
vontade dos contraentes).
Se for potestativa, pode ser arbitrária (o evento é insignificante) ou não arbitrária (é um facto que
assume determinada seriedade).
Podem ser potestativas à parte creditoris (o evento é do credor, dependendo da sua vontade) e à
parte devitoris (o evento futuro e incerto depende da vontade do contraente, o devedor).
As condições causais podem ser mistas: o evento futuro depende simultaneamente de um facto
alheio e de um facto concreto.
Condições impróprias: não reunem os três elementos essenciais (evento futuro, incerto e
subordinação dos efeitos da vontade dos contraentes e não da lei).
- Condições referidas ao passado: no momento da celebração, as partes condicionam a
verificação do negócio a um facto que já ocorreu, mas estas não sabem isso. Não diz respeito
a um evento futuro.
- Condições necessárias: condição de um terceiro morrer.
- Condições impossíveis: temos a certeza que o evento não irá ocorrer.
- Situações em que a lei define que determinados efeitos ficam dependentes da verificação de
determinados eventos: requisitos impostos pela lei e não pelas partes.
- Condição tácita (art. 435º): funde-se na lei e implica que haja a verificação de um fundamento,
previsto pelas partes ou pela lei, e redunda muitas vezes no incumprimento.
(art. 2230º)
Nota: muitas vezes podemos não saber se a condição vai ou não verificar-se. O CC dá regras
quanto à certeza da condição não se verificar (art. 275º/1).
Termo:
É uma cláusula acessório típica pela qual os efeitos de um negócio jurídico ficam dependentes de
um evento futuro e certo (e não incerto, como na condição). Pode ser inicial ou suspensivo (como
na condição) ou final ou resolutivo.
Há negócios que não são passíveis de ser celebrados a prazo: se for posto termo a um negócio
que não possa ter um prazo fixo, então o negócio será considerado nulo.
Haverá situações em que nem todo o negócio é nulo, mas apenas a cláusula (o termo) - art. 248º.
Para além de poder ser suspensivo ou resolutivo, pode ser certo (quanto à verificação) ou incerto
(quanto ao momento da sua verificação).
Termo vs Condição:
Desaparecem problemas atinentes às condições impossíveis, dado que o termo é sempre
possível.
Modo/cláusula modal:
É uma cláusula nos termos da qual, nos negócios gratuitos (doação) ou mortis causa
(testamento), o donatário ou herdeiro ficam sujeitos a um encargo.
Nota: o modo apenas pode existir em relação a negócios gratuitos ou mortis causa.
Modo impossível: apenas a cláusula é inválida, a não ser que o testados tenha determinado em
contrário.
Modo ilícito: a possibilidade não é dada ao testador. Apenas a cláusula modal é nula.
- C comprou ações do banco x acreditando que se tratava de uma instituição financeira sólida.
Passados 3 meses, C sente-se defraudada ao aperceber-se que o banco x tinha sido objeto de
uma medida de resolução por força de uma situação financeira particularmente dificil. Poderá
C reagir de algum modo?
Identificação do erro: erro-vício - incorreta representação da realidade que foi determinante da
vontade de celebrar aquele negócio. Tem de ser essencial (quando é determinante da vontade de
celebrar) e próprio (quando não incide sobre nenhum requisito legal de validade).
Qualificação da modalidade de erro: erro sobre o objeto (características intrínsecas).
O regime está previsto no art. 251º do CC - aplicação do regime 247º (negócio é anulável desde
que o declaratário conhecesse ou tivesse cognoscibillidade da essencialidade do elemento sobre
o qual incidiu esse erro).
C pode arguir a anulabilidade do negócio com o prazo de um ano a partir do momento em que
descobre que o negócio tinha sido formado com base num erro.
- J tentando evitar a insistência de P que lhe ligava várias vezes ao dia para lhe propor a venda
de um automóvel, declara, para o enganar, que lhe compra o seu veículo. Qual o valor do
negócio celebrado?
A falta de vontade traduz-se numa divergência entre a vontade e a declaração: reserva mental,
porque há vontade de enganar o declaratário.
Valor do negócio: se a reserva mental for conhecida do declaratário, o negócio é nulo; se não for
conhecida, é válido. Neste caso, o negócio é válido.
- P descobriu que F, seu devedor, tinha cometido adultério. Ameaça-o, então, de que se ele não
constituir a seu favor uma hipoteca sobre o seu apartamento, conta tudo o que sabe a T,
mulher de F. Hoje, divorciado, F pretende desvincular-se do negócio. Poderá fazê-lo?
Situação de coação moral: ele quer celebrar o negócio, apenas porque a sua vontade não foi
formada de um modo são. Apenas pretende remover um perigo com o qual é ameaçado.
É uma ameaça ilícita? Sim, porque o meio para se chegar ao fim é ilícito (expedientes da vida
privada).
- A, necessitando urgentemente de dinheiro para pagar uma dívida ao banco, pede emprestada
uma avultada quantia a M. Esta concorda mas pede o pagamento de um juro de 60% ao ano.
Quid iuris?
Estado de necessidade:
Regime — art. 282º CC, anulável desde que se verifiquem determinados pressupostos: situação
de necessidade, exploração dessa situação, obtenção de benefícios excessivos/injustificados.
Consequência — anulabilidade, arguida pelo A, dentro do prazo de um ano, a contar da
cessação do vício.
Modalidades de CEeLR:
- Responsabilidade extracontratual (art. 433º)
- Limitação e exclusão da responsabilidade contratual
- Limitação de responsabilidade através da limitação do fundamento
- Limitação de responsabilidade através do estabelecimento de um limite indeminizatório
Estas cláusulas suscitam diversas dúvidas, que resultam do teor do art. 809º CC:
Há autores que dizem que, entre os diversos direitos que assistem ao credor, em caso de
incumprimento ou morte, estas cláusulas são uma renúncia antecipada ao direito à
indemnização, considerando-as inválidas.
Nós discordamos. Temos de ter em conta a intencionalidade do preceito: impedir que uma
obrigação civil se transforme numa obrigação natural.
Cláusula penal:
Estipulação acessória típica em que as partes num contrato convencionam antecipadamente
uma determinada prestação, que o devedor terá de realizar a favor do credor em caso de
incumprimento, cumprimento defeituoso ou mora.
A ineficácia em sentido estrito pode ser absoluta (operando automaticamente, invocada por
qualquer interessado) ou relativa (só se verifica em relação a um determinado ou determinados
sujeitos).
Dentro da invalidade:
1. Nulidade - casos mais graves, tendo um regime mais gravoso. Pode ser invocada por
qualquer interessado e a qualquer tempo. É de conhecimento oficioso.
2. Anulabilidade - não é de conhecimento oficioso e há um determinado prazo para ser
invocada. Só pode ser por determinados sujeitos previstos por lei.
Na conversão do negócio jurídico, por seu turno, temos um negócio totalmente inválido. Depois
de ser declarado nulo, ainda é possível aproveitar os elementos desse negócio. Com estes,
podemos transformá-lo num outro, cujo efeito prático ainda consiga prosseguir os interesses
definidos pelas partes.
Problema: conversão de negócios ineficazes? A nossa jurisprudência entende que sim.
A conversão pode, ainda, ser imposta pela boa fé (art. 293º-art. 334º)
Há casos de inexistência - arts. 245º (declarações não sérias), 246º (coação física ou absoluta),
1628º e 1630º (matrimónio):
Não há produção de qualquer efeito jurídico.
Quando o negócio é celebrado de forma válida, pode vir a conhecer o seu fim. Este pode resultar
do cumprimento do negócio, como de outras:
- Resolução (forma de fazer cessar os efeitos de um negócio que se baseia num determinado
fundamento posterior, que pode resultar da lei ou convenção das partes) — eficácia retroativa,
nulidade e anulabilidade.
Excepções: se a retroatividade contrariar a vontade das partes.
- Revogação (não tem eficácia retroativa. É apenas um acordo das partes)
- Caducidade (resulta do decurso do tempo ou verificação de um determinado fim ou de outro
facto, como a morte, por exemplo)
- Denúncia (forma de extinção dos efeitos do contrato que, normalmente, surge associada a
contratos de duração indeterminada. Como o direito se opõe a vinculares perpétuas, este é o
expediente que põe fim a este contrato) — denúncia ad mutum.
Estas categorias nem sempre são estanques, assistindo-se a uma certa ambivalência