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CAPÍTULO I
O objeto é aquilo sobre que recaem os poderes do titular do direito (do sujeito
ativo da Relação Jurídica). Logo, o objeto da relação jurídica é o objeto de direitos
subjetivos, é todo o quid, todo o ente, todo o bem sobre que podem recair direitos
subjetivos.
DISTINÇÃO:
O objeto imediato pressupõe aquilo que está diretamente submetido aos poderes
ideais que integram um direito subjetivo e o objeto mediato engloba aquilo que só de uma
forma mediata ou indireta – id est, através de um elemento mediador -, está submetido
aos poderes ideais que integram um direito subjetivo.
No entanto, esta distinção nem sempre se verifica – por exemplo, nos direitos reais
não há um intermediário entre o titular do direito e a coisa, pelo que o proprietário, o
usufrutuário, etc, está em contacto direto com o objeto do seu direito.
Num sentido corrente e amplo, coisa é tudo o que pode ser pensado, ainda que não
tenha existência real e presente. Num sentido físico, coisa é tudo o que tem existência
corpórea.
têm de apresentar (1) existência autónoma; (2) possibilidade de apropriação exclusiva por
alguém (contrariamente à luz solar, por exemplo); (3) aptidão para satisfazer necessidades
humanas. Não é, assim, necessário serem bens de natureza corpórea, permutáveis ou
efetivamente apropriados.
NOÇÃO DE PATRIMÓNIO:
Noção de facto jurídico: Facto jurídico +e todo o ato humano ou acontecimento natural
juridicamente relevante, sendo que essa relevância jurídica se traduz, principalmente
senão mesmo necessariamente, na produção de efeitos.
distinção assentará precisamente no critério da relação que intercede entre a vontade das
partes dirigida a um resultado e os efeitos jurídicos produzidos.
Os negócios jurídicos são fatos voluntários, cujo núcleo é constituído por uma ou
mais declarações de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui efeitos jurídicos
concordantes com o conteúdo da vontade das partes, tal como este é objetivamente
apercebido. Produzem-se efeitos ex voluntate e não apenas ex lege, dado que os negócios
jurídicos são, como já foi dito, atos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações
de vontade, dirigidos à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar
sob tutela do direito.
Já os simples atos jurídicos são fatos voluntários cujos efeitos se produzem mesmo
que não tenham sido previstos ou queridos pelos seus autores (embora muitas vezes haja
concordância entre a vontade destes e os referidos efeitos). Os efeitos dos simples atos
jurídicos (ou atos jurídicos stricto sensu), produzem-se, diz-se comummente, ex lege e
não ex voluntate. Dentro dos simples atos jurídicos é usual fazer-se a distinção entre quase
negócios jurídicos - traduzem-se na manifestação exterior de uma vontade -, (caso da
interpelação do devedor) e atos reais ou operações jurídicas – traduzem-se na efetivação
ou realização de um resultado material ou factual a que a lei liga determinados efeitos
jurídicos (caso da acessão industrial) -.
Um direito é adquirido por uma pessoa quando esta se torna titular dele. Aquisição
de direitos é, pois, a ligação de um direito a uma pessoa.
AQUISIÇÃO:
Devem ser registados os atos inerentes a bens imóveis e a alguns bens móveis (ou por
escritura pública ou por documento particular autenticado). O registo não é um meio de
aquisição de direitos nem precisa de o ser, dado que o ato de que resulte a aquisição de
direitos é plenamente eficaz inter partes, o que quer dizer que mesmo na falta de registo
há aquisição de direitos.
Assim, o registo não dá direitos, apenas os conserva, isto é, não pretende assegurar a
existência efetiva do direito da pessoa a favor de quem está registado o bem, mas só que,
a ter ele existido, ainda se conserva. A consequência da falta de registo é a ineficácia do
ato em relação a terceiros. Mas o que são terceiros (adquirentes) para efeitos de registo
predial? Para Manuel de Andrade são “as pessoas que do mesmo autor ou
transmitente adquiram direitos incompatíveis (total ou parcialmente) sobre o
mesmo objeto”. Por fim, note-se que, segundo a nova redação do artigo 5.º/4 do
Código do Registo Predial, “terceiros, para efeitos de registo, são aqueles que
tenham adquirido de um autor comum direitos incompatíveis entre si”.
A, uma vez que cometeu um ato ilícito (não tendo legitimidade para vender o bem
“y” – vendeu um bem alheio), pode ser responsabilizado por tal, nomeadamente através
de uma indemnização a B (artigo 892.º Código Civil). No entanto, B não registou e,
relembra-se, o registo, apesar de não dar direitos, conserva-os -, sendo que a falta de
legitimidade é o único vício que o registo cobre. Assim sendo, C é terceiro para efeitos
de registo e beneficia da exceção ao princípio nemo plus iuris.
Por força do princípio nemo plus juris, se A transmitiu, por negócio nulo ou anulável,
um prédio a B e este, por sua vez, o transmitiu a C, declarado nulo ou anulado o primeiro
ato, o segundo seria também nulo e, consequentemente, C devia restituir o prédio – isto
porque as nulidades e as anulações operam em face de terceiros e não só em face da
contraparte (operam in rem e não apenas in personam).
É uma solução semelhante à que se estabelece no artigo 243.º para a simulação, como
se verá de seguida, embora conferindo uma proteção menos completa ao terceiro de boa-
fé: Para os efeitos do artigo 291.º, é considerado de boa-fé o terceiro adquirente que,
no momento da aquisição, desconhecia, sem culpa, o vício do negócio nulo ou
anulável.
Sabemos que os negócios simulados são nulos e, como tal, não produzem quaisquer
efeitos.
Exemplo: A vende um prédio a B, que regista, e pouco depois o doa a C, que também
regista. A pretender arguir a nulidade do primeiro negócio, por motivo de simulação. Quid
iuris?
Ora, neste caso, se o simulado adquirente de um prédio vender ou doar, por acto
verdadeiro, o mesmo prédio a um terceiro e este ignorar a simulação, o terceiro adquire
validamente esse objeto – artigo 243.º Código Civil (Já não se verifica o pressuposto do
artigo. 291.º, previsto para a generalidade dos casos, mas sim o artigo 243.º, previsto
especialmente para as situações de simulação).
Assim, dado que o vendedor ou doador (B) tinha adquirido a propriedade por ato
simulado e, portanto, um ato nulo, o que era de esperar é que o terceiro (C) não pudesse
adquirir de quem não era, efetivamente, proprietário. No entanto, o terceiro adquire, pela
proteção prevista no artigo 243.º, de quem não era proprietário, ao invés do que prescreve
o princípio nemo plus iuris.
Este regime especial, previsto no art. 243.º, dispensa alguns dos requisitos previstos
no regime geral do artigo 291.º - sendo, por isso, aquele mais exigente que este último -.
Assim sendo, inclui aquisições a título oneroso ou gratuito – “quaisquer terceiros de boa-
fé” -, não exige o registo da aquisição, é aplicável também a aquisições de bens móveis
não sujeitos a registo, dispensa o decurso do prazo de três anos referido no artigo 291.º/3
e protege, também, os terceiros que, embora culposamente, desconheciam a simulação
(exige-se que o terceiro esteja de boa-fé, mesmo que essa boa-fé seja uma “boa-fé”
negligente, isto é, mesmo que o terceiro, dadas as circunstâncias, deva conhecer da
existência do vício, mas não conheça).
MODIFICAÇÃO DE DIREITOS:
A prescrição que importará nesta sede, claro está, será a prescrição extintiva ou
negativa (diferente da prescrição aquisitiva ou positiva, através da qual se adquirem
direitos reais).
Negócios jurídicos: São atos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações
de vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar,
sob tutela do direito, determinando o ordenamento jurídico a produção dos efeitos
jurídicos conformes à intenção manifestada pelo declarante ou declarantes. Estamos
perante o instrumento principal de realização do princípio da autonomia privada.
paradigmático da compra e venda). Note-se, portanto, que não são integrados por dois
negócios unilaterais, antes, cada uma das declarações (proposta e aceitação) é emitida em
vista do acordo.
Negócios entre vivos e negócios mortis causa: Os negócios entre vivos destinam-se a
produzir efeitos em vida das partes, já os segundos destinam-se só a produzir efeitos
depois da morte da respetiva parte ou de alguma delas (por exemplo, o testamento, À
primeira categoria pertencem quase todos os negócios jurídicos e a sua disciplina tem
grande importância. Os negócios da segunda categoria são negócios fora do comércio
jurídico.
Assim, note-se que, nesta sede, o princípio geral do CCivil de 1966 em matéria de
formalismo negocial é o princípio da liberdade declarativa ou liberdade de forma
(artigo 219.º Civil). Quando, nos casos excecionais em que a lei prescrever uma certa
forma (embora sejam casos excecionais são numerosos e frequentes), e a forma não for
observada a declaração negocial é nula (art. 220.º CCivil).
Negócios consensuais e negócios reais: Os negócios reais são aqueles negócios em que
se exige, além das declarações de vontade das partes, formalizadas ou não, a prática
anterior ou simultânea de um certo ato material (depósito, comodato, mútuo e penhor).
O direito civil conhece hoje um estádio de evolução que põe na primeira linha a
proteção das expetativas dos declaratários e do comércio jurídico, dando prevalência à
aparência e à exigência de cognoscibilidade, em detrimento da vontade real e psicológica.
Assim, não faz mais sentido definir o negócio jurídico, nos termos tradicionais,
como declaração ou manifestação de vontade – tal definição não capta a essência do
fenómeno negocial, pois faz crer numa omnipotência da vontade individual no campo da
autonomia privada. O Código Civil não toma partido, diretamente, nesta questão
dogmática no entanto é manifesto o intuito do legislador de se não comprometer com as
conceções voluntarísticas, pois não emprega a expressão declaração de vontade mas sim
declaração negocial. Também através de determinadas soluções expressas no Código
Civil (por exemplo, uma vez provada uma divergência entre sentido objetivo da
declaração e a vontade psicológica, o negócio não é nulo mas apenas anulável e só se se
verificarem certos requisitos de transparência exterior do vício – art. 247.º Código Civil),
se demonstra que a essência do negócio não está numa intenção psicológica mas num
comportamento objetivo, exterior, social (o que não se confunde com um formalismo
ritual).
lei tem o cuidado de frisar que um certo negócio pode ter lugar por declaração
tácita (art. 288.º/3 CCivil), o que, aliás, já resultaria do art. 217.º. Daí a
necessidade de definir o critério diferenciador dos dois tipos de declarações, esse
critério está consagrado na lei, no artigo 217.º CCivil e é proposto pela teoria
subjetiva. A declaração é expressa quando for feita por palavras, escrito ou
quaisquer outros meios diretos, frontais, imediatos de expressão da vontade e é
tácita quando do seu conteúdo direto se infere um outro conteúdo, isto é, quando
se destina a um certo fim, mas implica e torna cognoscível um autorregulamento
sobre outro ponto – em via oblíqua, imediata e literal (basta que a formulação legal
resulte dê lugar com toda a probabilidade à dedução, não se exigindo que a
dedução seja forçosa ou necessária,, no sentido do autorregulamento tacitamente
expresso). A declaração tácita pode ter como facto concludente uma declaração
expressa, exteriorizando diretamente outro conteúdo negocial.
Desde já, atente-se que uma declaração negocial compreende, como já vimos, dois
comportamentos: um externo (a declaração propriamente dita, que consiste num
comportamento declarativo) e um interno (que é a vontade, que deverá coincidir com o
sentido objetivo atribuído à declaração). Por outro lado, a declaração pode ser expressa
(art. 957.º e 731.º CCivil), quando é feita por palavras, escrito ou quaisquer outros
instrumentos respeitantes à manifestação de vontade, e é tácita quando do seu conteúdo
direto se infere um outro (por exemplo, art. 2056.º CCivil).
Trata-se de saber se o silêncio entendido não apenas como um “nada dizer” mas
como um “nada fazer”, uma total omissão, se pode considerar um facto concludente (uma
declaração tácita) no sentido de aceitação de propostas negociais. Quando estamos
perante casos de silêncio eloquente, isto é, casos em que o calar pode ser uma forma de
declaração como o falar ou o escrever?
O Código Civil trata diretamente esta problemática, dispondo no art. 218.º CCivil
que o silêncio não vale enquanto terceira modalidade de manifestação declarativa (as
outras duas são, pois, a declaração expressa e a declaração tácita), só lhe cabendo tal
significado havendo norma legal, ou convenção das partes nesse sentido, bem como na
hipótese de um uso prevalente em certo círculo social (lei, uso ou convenção).
O curso entende, também, ser esta a solução mais razoável já que não teria sentido
fazer valer o preceito “quem cala consente”, tão comum no Direito Canónico. O silêncio
per se é perfeitamente insignificante e irrelevante, sem querer dizer sim nem não.
(podendo ilidir-se tal presunção mediante prova em contrário, presunção tantum juris) –
exemplo, disposições testamentárias a uma generalidade de pessoas.
com as formalidades legais, pelas autoridades públicas, nos limites da sua competência,
ou, dentro do círculo de atividades que lhe foi atribuído, pelo notário ou outro oficial
público provido de fé pública, sendo documentos particulares todos os restantes (artigos
373.º e seguintes), podendo estes, todavia, ser autenticados (art. 363.º/2,3).
O formalismo exigível para um certo negócio pode ser imposto por lei (forma
legal) ou resultar de uma estipulação ou negócio jurídico das partes (forma convencional),
como acontece quando durante as negociações prévias as partes convencionam que os
negócios futuros deverão revestir determinada forma. O problema da legitimidade da
forma convencional é debatido na doutrina, mas o Código resolveu-o no sentido da
admissibilidade e eficácia dos negócios determinativos da forma (art. 223.º) – forma
convencional -, sendo óbvio, porém, que os particulares não podem afastar, por acordo,
as normas legais que exigem requisitos formais para certos atos, pois essas normas são
normas imperativas, podendo exigir determinados requisitos para um ato pertencente a
um tipo negocial que a lei regula como não formal ou que a lei sujeita a um formalismo
menos solene.
Tem-se, ainda, que o negócio dirigido à fixação de uma forma especial para
ulterior negócio não está sujeito a formalidades – o pacto sobre a forma cairá dentro de
campo de aplicação do princípio da liberdade de forma (art. 219.º CCivil).
No que diz respeito à forma legal, problema amplamente discutido na doutrina foi
o de saber quais as cláusulas ou estipulações negociais a que a forma legal é aplicável, ou
seja, abrangerá apenas as cláusulas essenciais do negócio jurídico ou também as
estipulações acessórias, típicas ou atípicas? MANUEL DE ANDRADE defendeu que a forma
seria aplicável não só às cláusulas essenciais, mas também às acessórias, mesmo que
atípicas, independentemente de serem contemporâneas ou posteriores ao negócio, tendo
sido este o entendimento do Código Civil no art. 221.º, sob pena de nulidade do negócio
jurídico, se essas estipulações acessórias não revestirem a forma exigida pela lei para o
ato. Admitem-se , contudo, algumas limitações a esta regra, ao reconhecer-se a validade
de estipulações verbais anteriores ao documento exigido para a declaração negocial ou
contemporâneas dele, desde que se tratem de cláusulas acessórias que não sejam
abrangidas pela razão de ser da exigência do documento e que se prove que correspondem
à vontade das partes. Da coordenação do antigo 221.º com artigo 394.º resulta que as
estipulações adicionais não formalizadas anteriores ou contemporâneas do documento,
não abrangidas pela razão determinante da forma, só produzirão efeitos se tiver lugar a
confissão ou se forem provadas por documento.
A nulidade deixará de ser a sanção para inobservância da forma legal sempre que,
em casos particulares, a lei determine outra consequência (art. 220.º CCivil).
MOTA PINTO adverte, assim, que, em regra, na grande maioria dos casos, a não
observância das exigências de forma dará lugar à nulidade do negócio jurídico, sob pena
de uma solução contrária vir colocar em causa a segurança do comércio jurídico e o
próprio interesse público. Todavia, tal não pode significar que tais regras, imperativas
decerto, sejam aplicadas fazendo-se tábua rasa de princípios verdadeiramente
estruturantes do nosso ordenamento jurídico, como é o princípio da boa-fé, que subjaz ao
Instituto de abuso do direito. Assim, o intérprete tem legitimidade de, nos casos
excecionais do artigo 334.º CCivil, afastar a aplicação daquelas normas, em obediência
ao princípio da boa-fé e à própria realização da justiça. Metodologicamente, poderemos
falar aqui de uma verdadeira redução teleológica dos preceitos relativos à forma, levando
o intérprete a excluir da previsão legal casos que formalmente estejam abrangidos por
em, mas materialmente não estão.
Há que ter em conta, todavia, que a solução com base no abuso de direito poderá
não ser viável ou adequada, pois a exigência legal de forma serve também interesses
públicos pelo que a nulidade pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal. Nesses
casos, restará ao lesado exigir o ressarcimento dos danos sofridos, com fundamento em
responsabilidade pré-contratual da outra parte.
1.º Interpretação:
NOÇÃO DE INTERPRETAÇÃO:
Deste modo, a teoria da interpretação dos negócios jurídicos tem dado lugar à
formulação de conceções opostas, bastando que se conheça das duas mais importantes:
as posições subjetivistas e as posições objetivistas.
Atente-se que, seguindo esta vertente defendida por Manuel de Andrade, podem
ser forjadas regras não explícitas diretamente na nossa lei tais como a de uma
interpretação de boa fé consagrada nos Códigos alemão e italiano ou a necessidade
de atender à globalidade do contrato, à totalidade do comportamento das partes, à
particularização das expressões gerais, ao princípio da conservação dos atos e à
primazia do fim do contrato. Por conseguinte, um declaratário normal, enquanto figura
normativamente fixada, responderia a todas estas exigências.
Em nossa opinião, a posição a adotar, sem grandes dúvidas, e que, de mais a mais,
encontra consolidação legal no Código Civil, é a tese objetivista pura. De facto, segundo
o artigo 236.º/1, a “declaração vale com o sentido que um declaratário normal, colocado
na posição do real declaratário, possa deduzir do comportamento do declarante”.
De todo o modo, deve ter-se em conta, no entanto, uma limitação que, partilhando
a o opinião de LARENZ E FERRER CORREIA, o art. 236.º encontra na sua parte final
(“…salvo se este não puder razoavelmente contar com ele”.), já que o sentido
correspondente à impressão do destinatário só tem validade se puder ser imputável ao
declarante, caso contrário a sanção parece ser a nulidade do negócio). A Escola de Lisboa
critica esta posição alarmista de LARENZ, afirmando que o princípio da imputabilidade do
significado da interpretação deve valer para ambas as partes.
O artigo 236.º/2, sem prejuízo do artigo 236.º/1, estabelece que sempre que o
declaratário conheça a vontade real do declarante, é de acordo com essa vontade que
vale a declaração emitida – assim, o sentido querido realmente pelo declarante releva se
o declaratário conhecer este sentido, mesmo quando a formulação seja ambígua: a
ambiguidade ou até inexatidão da expressão externa não impedem a relevância da
vontade real, se o destinatário a conheceu. Houve coincidência de sentidos, entre o
sentido querido e o sentido compreendido, pelo que este é o sentido decisivo.
declaração negocial se falta a vontade ação – art. 246.º. A mesma disposição legal
considera que não se produz qualquer efeito se falta a consciência da declaração.
A doutrina alemã discute muito a questão de saber se se exige, para que uma
declaração negocial exista juridicamente, a consciência da declaração ou basta a
imputabilidade de declaração: o que revelará, claro está, uma vez que se se exigir a
consciência da declaração, o declarante pode invocar a invalidade do negócio, faltando
esta; se não for necessária a consciência da declaração, bastando a imputabilidade desta
ao declarante, o declarante só pode arguir a anulabilidade se se verificarem os
pressupostos de relevância do erro na declaração.
Entre nós, existe norma própria, pelo que a falta de consciência da declaração
releva sempre nos termos do artigo 246.º “A declaração não produz qualquer efeito, se o
declarante não tiver consciência de fazer uma declaração negocial ou for coagido pela
força física a emiti-la; mas se a falta de consciência da declaração foi devida a culpa,
fica o declarante obrigado a indemnizar o declaratário” – O declarante não está sujeito
ao regime mais rigoroso de invocação do erro na declaração (artigo 247.º).
DESVIOS:
Assim, e na pesquisa por essa vontade do testador, por aquilo que o testador quis
dizer, é admitido o recurso à chamada prova complementar, isto é, elementos estranhos
aos termos do testamento. Esta possibilidade é expressamente conferida pelo artigo
2187.º/2, recorrendo-se a todas as circunstâncias aptas a permitir concluir qual o
sentido da vontade real do testador, e não só àquelas que possam ser conhecidas de
determinadas pessoas.
Por último, mas não menos importante, dizer que o princípio subjetivista em
matéria de interpretação do testamento se justifica, também, através de considerações de
respeito semirreligioso pela vontade dos mortos e de conveniência social transcendente
em que essa mesma vontade seja cumprida, para além do facto do testamento (um negócio
fora do comércio jurídico) ter permanecido estranho à evolução conhecida, sobretudo no
séc. XX, do subjetivismo para o objetivismo.
2. Integração
Na falta de disposição supletiva que possa aplicar-se, o artigo 239.º CCivil remete
para a vontade hipotética ou conjetural das partes. Assim, o Código Civil considera que
a integração deve ser determinada para cada negócio e não genericamente. Deste modo,
considerar-se-ão as circunstâncias que deram ao contrato concretamente celebrado
individualidade e não as caraterísticas gerais, de tipo contratual.
A integração, então, para além das normas supletivas, é necessária nos casos em
que o contrato não está plena e completamente tipicizado ou se afasta dos tipificados em
pontos que a regulamentação legal não se adapta ao contrato.
Pode, contudo, verificar-se, por causas diversas, uma divergência entre esses dois
elementos da declaração negocial. Este dissídio ou divergência entre a vontade real e a
declaração pode ser intencional ou não intencional. Estamos perante uma divergência
(subadquirentes, credores, etc). Para além destes interesses individuais relevam também
os interesses gerais do comércio jurídico, a reclamarem um regime que assegure a
segurança, a fluência e a celeridade da contratação. A validade do negócio e a produção
dos efeitos correspondentes ao sentido objetivo da declaração são as soluções mais
favoráveis a estes interesses gerais.
Não é possível a opção rígida por um dos lados da dicotomia (teoria da vontade –
teoria da declaração) ou por qualquer outra das teorias enunciadas. Proceder desse modo
seria um regresso ao conceitualismo. Assim, não serão idênticas as soluções específicas
de cada uma das várias formas de divergência entre o “querido” e o “declarado”, pelo que
SIMULAÇÃO:
O declarante emite uma declaração não coincidente com a sua vontade real, por
força de um conluio (acordo realizado com o objetivo de prejudicar outrem) com o
declaratário, com a intenção de enganar terceiros. Por exemplo, A finge vender um prédio
a B, por conluio a este, a fim de prejudicar os seus credores.
Assim sendo, diz-se que um negócio é simulado quando “… por acordo entre
declarante e declaratário, e no intuito de enganar terceiros, houver divergência entre a
declaração negocial e a vontade real do declaratário” – artigo 240.º/1 CCivil. Mais
detalhadamente, verifica-se que o art.º 240.º, n.º1 do Código Civil exige a verificação de
três requisitos para que o negócio possa ser considerado como celebrado sob simulação:
A simulação pode ser deduzida tanto por via da ação como por via da exceção
(dado que quaisquer nulidades ou anulabilidade, pelo art. 287.º/2 pode ser deduzidas por
ambas as vias).
Como todas as nulidades, a invalidade dos negócios simulados pode ser arguida a
todo o tempo (art. 286.º), quer o negócio não esteja cumprido quer tenha tido lugar o
cumprimento.
Nota: Sabemos que apesar de não existir um prazo de caducidade para a ação
tendente à declaração de nulidade, na hipótese da nulidade, os efeitos práticos da
invalidade, mais concretamente a restituição de qualquer objeto alienado, são precludidos
pelos efeitos da usucapião. No entanto, no caso particular da simulação não poderá, em
regra, haver lugar para a usucapião uma vez que o simulado adquirente é possuidor em
nome alheio (ou detentor precário – artigo 1253.º, al.c) CCivil), não podendo adquirir por
meio de negócio simulado (salvo se se achar invertido o título da posse – artigo 1290.º
CCivil).
SIMULAÇÃO RELATIVA:
A simulação relativa põe, ainda, um problema específico que não surgia no caso
de simulação absoluta. Quid iuris, quanto ao negócio disfarçado ou dissimulado? A este
propósito, o art. 241.º, n.º1 Código Civil, dispõe de uma regra da maior importância,
segundo a qual a simulação não prejudica a validade do negócio dissimulado, ou seja, o
negócio real ou dissimulado será objeto do tratamento jurídico que lhe caberia se tivesse
sido concluído sem dissimulação (art. 241.º CCivil). Destarte, o negócio real/dissimulado
pode ser plenamente válido e eficaz ou, por outro lado, inválido – tudo isto dependerá das
consequências que teriam tido lugar se o negócio dissimulado tivesse sido abertamente
concluído -.
Mas e se não existir uma contradeclaração mas é certo que o formalismo exigido
para o negócio dissimulado foi observado, embora do documento conste o negócio
simulado e não o negócio dissimulado? O legislador procura responder a esta mesma
questão com o artigo 241.º/2 afirmando que se deve procurar saber se o negócio
dissimulado observou a forma exigida pela lei. No entanto a doutrina diverge,
especialmente no que diz respeito à dissimulação de uma doação de imóveis sob uma
venda, e vice-versa: (1) Maior parte entende que o negócio dissimulado é nulo por vício
de forma se não existir uma contradeclaração com a forma legalmente exigida; (2) Outros
autores consideram ser a venda ou a doação ocultas válidas formalmente, apesar de
apenas constarem do documento autêntico a doação ou a venda aparentes, respetivamente
dispensando, assim, a existência de uma contradeclaração formalmente bastante.
Assento de 23 de Julho de 1952. Repudia esta solução, então, a solução sustentada por
MANUEL DE ANDRADE, segundo a qual o negócio dissimulado não deveria ser nulo se as
razões que estivessem na base da exigência da sua forma ficassem satisfeitas com a
observância das solenidades próprias do negócio simulado.
A doutrina exposta vale quer para a simulação objetiva quer para a simulação
subjetiva. Apenas no que diz respeito à simulação de preço, quer o preço seja maior, quer
o preço seja menor, não há nenhum obstáculo de natureza formal para que a venda seja
eficaz, pelo preço efetivamente convencionado entre as partes.
Note-se, no entanto, que a interpretação da lei ao deve ser tomada à letra, pelo que
é de aceitar que, caso a simulação já tenha sido tornada verosímil por um começo de prova
por escrito, a prova testemunhal poderá, excecionalmente, ter lugar.
Simulação e terceiros:
A nulidade do negócio simulado pode, como todas as nulidades, ser invocada por
qualquer interessado e declarada ex officio pelo tribunal (artigo 286.º, ressalvado no
artigo 242.º/1).
É, então, neste sentido que o Código Civil permite que os herdeiros legitimários
intervenham nos atos simulados do autor da sucessão, em vida deste, mas somente nos
casos em que os atos forem práticos com a “intenção de os prejudicar” – art. 242.º/2/in
fine. Atente-se, no entanto, que esta disposição legal não será de todo incoerente, claro
está, com a (eventual) arguição dos atos simulados, por herdeiros legitimários já depois
da morte do simular alienante (agora de cujus).
O art. 242.º/2 referida não deve ser aplicada por analogia à hipótese de o ato
simulado, embora sendo fonte de graves prejuízos, não ter sido praticado com o intuito
de lesar os herdeiros legítimos.
Por último, mas não menos importante, merece especial atenção o caso dos
credores – os terceiros aqui em causa são os credores do simulado alienante. Estes têm
enorme importância no estudo da simulação, já que são os principais interessados em
demonstrar o vício de um ato, que motivou uma aparente saída de um bem do património
do seu devedor (para que possam, obviamente, fazer valer o seu crédito sobre esse
património). A dúvida que se coloca na nossa doutrina era o problema de saber se para
que o credor pudesse arguir a simulação, seria indispensável a insolvência do devedor
(simulado alienante) ao tempo da ação destinada à declaração de nulidade. A doutrina
tradicional tendia para exigir esse requisito, mas MANUEL DE ANDRADE entendia que esta
solução não era razoável, afirmando que os credores podiam arguir a nulidade, desde que
tivessem nisso “algum outro interesse sério”. Esta solução deve considerar-se consagrada
no atual Código Civil, mesmo pelo próprio art. 286.º onde se pode ler “qualquer
interessado”. Para além disso, existe uma norma, o artigo 605.º, que reconhece aos
credores legitimidade para invocar a nulidade de atos praticados pelo devedor, quer
anteriores, quer posteriores à constituição do crédito, desde que tenham interesse na
declaração da nulidade.
Como se sabe, o regime geral dos efeitos face a terceiros encontra-se cristalizado
no art. 289.º CCivil (oponibilidade a terceiros). Este artigo preceitua que, sendo declarada
a nulidade ou anulabilidade de um negócio, tais efeitos se produzem, de imediato, na
esfera de terceiros.
Outra questão também ela muito importante tem que ver com o facto de a natureza
especial da inoponibilidade, a terceiros de boa fé, da nulidade proveniente de simulação
parecer, segundo a sua letra, aplicável apenas à arguição pelo simulador. Tal interpretação
do artigo 243.º/1 é controvertida no entanto, apesar das justificadas dúvidas que a questão
suscita, no entanto tendemos a considerar que a proteção conferida pelo artigo 243.º se
restringe ás situações em que a nulidade da simulação é invocada pelos simuladores ou
por quem ocupe a sua posição (nomeadamente, os herdeiros, salvo quando intervenham
como terceiros). Além da letra da lei, tem-se que esta proteção especial só se constitui
como justificada precisamente quando for invocada pelos simuladores, que
intencionalmente criaram a situação que agora pretendem destruir. Assim sendo, nos
outros casos em que a nulidade seja invocada por terceiros parece que a proteção do
terceiro adquirente só deverá proceder nos termos gerais do artigo 291.º - deixa de se
justificar a proteção especial do artigo 243.º. Esta situação, vem, claramente restringir,
ainda mais, o âmbito do artigo 243.º!
Uma outra dúvida reside em saber se o art. 243.º afetará apenas as pessoas a quem
o negócio simulado prejudica ou, a contario, também atenderá àqueles que beneficiem
da sua validade. O artigo 243.º/1 não faz qualquer restrição, ao contrário do que era
proposto no anteprojeto respetivo, ou seja, um intérprete estritamente agarrado à letra da
lei concluiria que a nulidade resultante da simulação era oponível a quaisquer terceiros
(mesmo os que, com isso, conseguiriam um lugar de evitarem um prejuízo). No entanto,
o curso, atentando no elemento racional do preceito legal, conclui de forma diferente. O
art. 243.º tem como premissa fundamental evitar situações de injustiça traduzidas na
circunstância de uma invalidação de ato simulado poder atentar contra direitos adquiridos
por terceiros, com fundada convicção na sua bondade. O mesmo será dizer que, visando
este preceito proteger a confiança dos terceiros, a solução mais acertada é a que impede
que a invocação da simulação possa causar prejuízos, contudo, já não terão abrigo legal
os casos em que o terceiro saia somente beneficiado da validade do negócio simulado.
(Assim, feita uma venda por 100 e tendo-se declarado simuladamente um preço de 30,
um preferente não pode invocar a sua qualidade de terceiro de boa fé, para preferir pelo
preço declarado - 30, sendo-lhe oponível a nulidade do negócio simulado, preferindo-se
pelo preço real - 100).
Por outro lado, é importante deixar bem claro que o fato do negócio simulado ser
inoponível a terceiro de boa fé, não significa que ele deixe de ser nulo ipso sensu.
Prova da simulação:
Estas hipóteses são abrangidas pelo art. 246.º, onde se estatui que o negócio não
produz qualquer efeito, mesmo que a falta de consciência seja conhecida ou cognoscível
do declaratário – trata-se de um caso de nulidade. Excetuam-se as situações de falta de
vontade de ação, em que parece estar-se perante um caso de verdadeira inexistência da
declaração, dado que, quando falta a vontade de ação, não há um comportamento humano
consciente, há um comportamento inconsciente.
Assim sendo, mesmo que se verifique a imputabilidade da falta de consciência da
declaração ao autor do comportamento, o negócio não produz efeitos.
Temos, assim, que os interesses do autor do comportamento são tutelados em
primeira linha, em detrimento do interesse na proteção da confiança do declaratário. Se o
declarante for, porém culpado da falta de consciência da declaração (se lhe for imputável
essa falta), o declaratário tem direito a ser indemnizado do dano coberto pela chamada
responsabilidade pré-negocial.
➢ Erro na declaração ou erro-obstáculo: No erro obstáculo, há uma
divergência inconsciente entre a vontade e a declaração, mas há um comportamento
declarativo do errante, diferindo, portanto, das declarações sob o nome de outrem, onde
não há qualquer comportamento por parte do sujeito a quem a declaração é atribuída (se
A se faz passar por B, falsificando a assinatura de B, o documento não foi emitido por B
mas sim por A). Assim, o declarante emite a declaração divergente da vontade real, sem
ter consciência dessa falta de coincidência. É o caso que se nos apresenta quando o
declarante incorre num lapsos linguae, isto é, através de um erro cometido por distração
ao falar; num lapsos calami, isto é, através de um erro que escapa a quem escreve – erro
ortográfico -, ou quando o declarante está equivocado sobre o verdadeiro nome de um
objeto, dando-lhe uma denominação que, na realidade, corresponde a outro objeto.
No que diz respeito às causas e efeitos quando estamos perante erro sobre o
conteúdo da declaração, ou seja, erros através de lapsos linguae ou lapsus calami – erro
ortográfico -, ou por atribuição às palavras de um significado diverso do seu sentido
objetivo, temos o seguinte: o princípio geral regulador destas hipóteses consta do artigo
247.º, exigindo-se a anulação do negócio nos casos em que o declaratário conhecesse ou
não devesse ignorar a essencialidade, para o declarante, do elemento sobre que incidiu o
erro. Assim, embora a solução pareça criticável por sacrificar demasiadamente os
interesses do declaratário e do comércio jurídico, não se vai mais longe e se exige a
cognoscibilidade do erro (o reconhecimento ou reconhecibilidade do erro), bastando que
efeito anulatório apenas nos termos do artigo 247.º. Atente-se porém ao disposto no n.º2
do artigo 250.º, admitindo-se a anulação sempre que o intermediário emita
intencionalmente (como dolo) uma declaração diversa da vontade do dominus negotii
(“senhor do negócio”).
Entre nós, os vícios da vontade com relevância autónoma são o erro-vício, o dolo,
a coação moral, a incapacidade acidental (art. 257.º); igualmente o estado de necessidade,
previsto e regulado, ao lado de outras circunstâncias subjetivas, no artigo 282.º,
O regime da lesão no novo Código Civil: O Código de 1867 deixou de considerar a lesão
(grave desequilíbrio entre as prestações, nos contratos onerosos comutativos) motivo
autónomo de invalidade dos negócios jurídicos, só implicando a lesão anulabilidade do
negócio quando envolvesse erro, dolo ou coação. No Código de 1966, a lesão, agora sob
a designação de usura, disciplinada no artigo 282.º, como fundamento de anulação ou
modificação dos negócios, não consiste apenas, como consistia no antigo direito, numa
certa desproporção de prestações mas sim, igualmente, numa exploração da situação da
outra parte, em casos em que terá havido uma adulteração do modo de sã formação da
vontade. Com efeito, emprega-se, para definir a figura, a liberdade de apreciação judicial,
cujos elementos subjetivos passarão, por um lado, pela aferição da presença ou não de
uma situação de necessidade, inexperiência, ligeireza, etc; e, por outro, pela avaliação do
grau de exploração dessas situações.
Assim sendo, a remissão que é feita no artigo 252.º/2 para o artigo 437.º tem apenas
o sentido de indicar os pressupostos ou requisitos necessários para a relevância do erro
sobre as circunstâncias que constituam a base do negócio e não a forma que revesta essa
mesma relevância (anulabilidade ou resolução?).
manutenção do conteúdo contratual contrarie a boa-fé e não esteja coberta pelos riscos
próprios do contrato.
Modalidades: Com a substituição do Código Seabra pelo Código Civil vigente, podem
referir-se três modalidades do erro: erro sobre a pessoa do declaratário (erro sobre a
identidade, que será quase sempre um erro-obstáculo, e erro sobre as qualidades); erro
sobre o objeto do negócio (pode incidir sobre o objeto mediato, isto é, sobre a identidade
ou qualidades do objeto negocial, ou sobre o objeto imediato, e aqui tomará o nome de
erro sobre a natureza do negócio; erro sobre os motivos não referentes à pessoa do
declaratário nem ao objeto do negócio – art. 252.º CCivil -, corresponde ao erro acerca
da causa de direito ou de fato ou, ainda, ao erro sobre a pessoa de terceiro.
O problema da exclusão prévia da anulação por erro: A anulação por erro parece
poder ser excluída por acordo contratual prévio relativamente à deteção do erro. Apesar
de este problema e de esta conclusão não serem pacíficos na generalidade da doutrina,
estamos perante matéria de caráter dispositivo, não se vendo razão para a subtrair à
disponibilidade das partes.
é o erro sem o qual o errante, embora noutros termos, sempre celebraria o mesmo negócio,
mantendo-se o mesmo tipo negocial, objeto e sujeitos. O erro incidental, para o curso,
não será, todavia, irrelevante: deverá fazer-se valer nos termos em que teria sido
concluído sem o erro (para este efeito, deverá aplicar-se analogicamente o art. 911.º do
Código Civil). Quando estes termos em que teria sido concluído o negócio não puderem
ser ajuizados com segurança ou, pelo menos, com bastante probabilidade e, ainda, quando
se prove que a outra parte não teria acolhido esses termos, terá lugar a anulabilidade em
sede de erro incidental (art. 292.º). Com efeito o erro, para relevar, deve atingir os motivos
determinantes da vontade (art. 251.º e 252.º).
Erro sobre os motivos: Nesta categoria, inserem-se os casos em que o erro não se
refere nem à pessoa do declaratário nem ao objeto do negócio. Corresponde, esta noção
de erro sobre os motivos, ao erro acerca da causa (erro de direito ou erro de facto) – por
exemplo, um funcionário que arrenda ou compra um andar num prédio numa cidade por
crer, erradamente, ter sido transferido para lá. Para casos deste tipo, para além de o erro
ter que recair sobre os motivos determinantes da vontade, deverá também haver um
acordo por ambas as partes que reconheça a essencialidade do erro. Por acordo
subentende-se uma cláusula, expressa ou não, que ressalve a ideia de que a validade do
negócio depende da circunstância sobre que recai o erro. Esta cláusula é totalmente
coerente com a segurança das partes na liberdade de contratar, visto que seria irrazoável
anular o negócio apenas com base na convicção, conhecimento ou simples
cognoscibilidade da contraparte do erro em causa – tal daria lugar a enormes litígios e
querelas. Assim, este n.º1 do art. 252.º vem excluir a relevância do erro sobre os motivos,
para além do condicionalismo lá prescrito.
O Código Civil fala em erro sobre os motivos, dado que a terminologia erro
acerca da causa pode ser equívoca, dado que a palavra causa tem no vocabulário jurídico
um sentido técnico e um sentido comum. Não se estabelece, também, qualquer distinção
entre erro de direito sobre os motivos determinantes e erro de facto (cabe a ambas as
modalidades o mesmo regime).
Como já foi referido várias vezes, volta-se, mais uma vez, à questão de saber qual
o sentido que se pode retirar da remissão do artigo 252.º/2 para os artigos 437.º e 439.º
(resolução ou modificação do contrato por alteração das circunstâncias). Relembra-se
que para Mota Pinto, Menezes Cordeiro e Oliveira Ascensão, entre outros, o erro sobre a
base negocial arrastará, incomensuravelmente, a anulabilidade do negócio, pelo que a
hipótese prevista no artigo 252.º/2 deverá considerar-se um “vício genético”. Assim, a
remissão para o regime desses artigos serve apenas para indicar os requisitos especiais de
anulabilidade, também aplicáveis no caso de erros sobre a base negocial. Estes requisitos
são três: haver uma alteração anormal das circunstâncias; que a exigência do
cumprimento das obrigações assumidas pelo lesado afete gravemente os princípios da
boa-fé; que o cumprimento das respetivas obrigações a ele impostas não esteja coberta
pelos riscos próprios do contrato. Assim, a remissão destaca apenas os pressupostos da
relevância e não a resolução diretamente disposta no artigo 437.º/1. Na verdade, estando
um contrato em processo de execução, não seria coreto atingi-lo no passado e na sua
totalidade, dado que as partes poderiam ter realizado enormes investimentos na
expetativa/garantia do seu cumprimento. Assim, no erro sobre a base do negócio há que
aplicar-se o regime comum do erro: a anulabilidade, ainda que sujeita à observância dos
requisitos do arts. 437.º e 439.º CCivil. (ou seja, no erro sobre a base negocial, para saber
se a anulabilidade poderá ou não ter lugar, há-que averiguar-se da existência no erro do
requisito da essencialidade, da propriedade mas também dos requisitos dos artigos 437.º
e 439.º CCivil).
Erro sobre o objeto do negócio: Está previsto no artigo 251.º, quer na hipótese de
erro sobre a identidade (na medida em que seja um erro-vício e não um erro na
declaração), quer na do erro sobre as qualidades do objeto do negócio. O negócio será
anulável nos termos previstos no artigo 247.º para o erro-obstáculo, isto é, “desde que o
declaratário conhecesse ou não devesse ignorar a essencialidade, para o declarante, do
elemento sobre que incidiu o erro” (a este propósito, o curso, à semelhança do
preconizado em sede de erro na declaração, entende que fosse mais razoável ter-se
exigido o conhecimento ou a cognoscibilidade do erro.
A lei não faz qualquer delimitação das qualidades do objeto, cuja suposição errada
integre a hipótese do artigo 247.º, falando, apenas, de “erro que atinja os motivos
É certo que o comprador não vem a dar à coisa adquirida o destino que declarara
dar-lhe, destino esse pode ter sido decisivo para o vendedor, de tal modo que se este
soubesse que o comprador viria a dar à coisa outro destino, ele não teria contratado. No
entanto, o vendedor não incorreu em erro algum – o comprador é que não agiu de
acordo com aquilo que o vendedor esperava dele. Mas não se desconhece a realidade nem
se faz dela uma falsa ou deficiente representação – e só nesse caso é que poderia haver
erro, só nesse caso a vontade estaria viciada.
Assim sendo, e como as coisas se passaram como passaram, poderá dizer-se que
se “erra”, sim, quanto ao futuro, não sendo isso um erro em sentido próprio, mas sim uma
falha na previsão, uma falsa ou deficiente previsão, cujo enquadramento adequado é,
trazendo mais uma vez a alteração das circunstâncias supervenientes à colação, o artigo
437.º CCivil. Deste modo, uma deficiente previsão do evoluir das circunstâncias revela
se e na medida em que se verificarem os requisitos do artigo 437.º (não é um caso de erro
nem tem autonomia em face desta norma).
Como quer que seja, para se concluir, insiste-se, ainda, que se afigura de capital
importância determinar, à partida, o sentido da declaração sobre o destino do bem, o que
assumirá, também, relevo em sede de interpretação e integração do negócio (artigos
236.º e 239.º).
Modalidades: No direito atual prevêem-se cinco modalidades de dolo. (1) dolo positivo
ou dolo negativo, cuja distinção já foi acima caracterizada e consta do artigo 253.º Nesta
sede, tem-se que o dolo negativo não existe em todos os casos de silêncio perante o erro
em que versa o declarante – a omissão do esclarecimento só constituirá dolo ilícito quando
exista um dever de elucidar, por força da lei ou de estipulação negocial ou das conceções
dominantes no comércio jurídico – 2.º parte, artigo 253.º/2; (2) dolo essencial e dolo
incidental, sendo que no dolo essencial, tal como no erro essencial, o enganado foi
induzido pelo dolo de tal forma, que, sem a presença deste último, provavelmente o
negócio não teria sido efetuado de todo. Já no dolo incidental, o enganado foi somente
objeto de influência ou sugestão na sua decisão, pelo que o negócio, caso o dolo não se
verificasse, teria toda a probabilidade de vir a ser realizado, embora noutros termos. O
dolo incidental não conduz, desde logo, necessariamente, à anulação, nos termos já
indicados a propósito do erro; (3) dolo bom e dolo mau (bonus e malus), só o dolo mau
constituirá fundamento de anulabilidade e de responsabilidade, ou seja, o dolo bom –
simples artifícios considerados usuais e legítimos segundo as conceções dominantes no
comércio jurídico (art. 253.º/2) – não será punível; (4) dolo proveniente de declaratário
e dolo proveniente de terceiro: são exigidas certas condições suplementares para a
relevância do dolo de terceiro, que devem acrescer às do dolo do declaratário, e o seu
efeito é mais restrito. Assim, existirá não apenas dolo de terceiro mas também dolo do
declaratário, se este for cúmplice daquele ou conhecer a atuação de terceiros – art. 254.º/2;
(5) dolo inocente e dolo fraudulento, sendo que no dolo inocente há mero intuito
enganatório e no dolo fraudulento há o intuito ou a consciência de prejudicar. Esta
distinção não tem grande relevo prático, dado que ambos implicam os mesmos efeitos.
Condições de relevância do dolo como motivo de anulação: Ora, tal como preceitua o
artigo 254.º/1 CCivil, ao dolo corresponde, via de regra, o regime da anulabilidade. Em
todo o caso, tal não será o seu único efeito, pois haverá, inclusivamente, lugar à
responsabilidade pré-negocial daquele que pratica o dolo, na medida em que motivou a
invalidade do negócio durante o seu período de formação, atentando contra todos os
princípios de boa-fé exigidos e exigíveis no tráfico jurídico.
Por outro lado, uma caraterística primordial do dolo, que, aliás, o distingue, no
domínio dos vícios da vontade, do erro (em situações de culpa), é, justamente, o facto do
autor da declaração não ser tido como responsável, já que é visto como “vítima”, ou,
segundo alguns autores, como “alvo” de um comportamento atentatório das regras básicas
da boa-fé.
Deste modo, a responsabilidade daquele que pratica o dolo terá que ser protetora
do tráfico jurídico, daí ser uma responsabilidade pelo interesse contratual negativo,
segundo a qual, o enganado terá dito a repor, tanto quanto possível, a situação,
talqualmente ela figurava antes do dolo, sendo, paralelamente, indemnizado pelos dano
sofridos, por força de ter acreditado na validade do negócio e na boa fé dos seus
intervenientes.
Confronto entre as condições de relevância do dolo e as do erro: Por último, mas não
menos importante, afigura-se de relevo notar que as condições de relevância do dolo são
menos exigentes que as do erro sobre os motivos, dado que não se exige para o dolo o
estreito condicionamento imposto pelo artigo 252.º. Já os requisitos especiais do erro
sobre a pessoa do declaratário ou sobre o objeto do negócio, porém, não constituem uma
exigência mais gravosa para o errante que pretende anular o negócio do que a
representada pelos requisitos do conceito de dolo: aqueles primeiros exigem o
conhecimento ou cognoscibilidade, pela outra parte, da essencialidade do elemento sobre
que incidiu o erro, mas, para a relevância do erro provocado por dolo, exige-se mesmo a
intenção ou consciência de induzir ou manter em erro a contraparte.
O dolo, por outro lado, é um facto ilícito que origina uma responsabilidade pré-
negocial do deceptor (autor do dolo) a favor do deceptus (parte lesada), enquanto o
errante, pelo meno