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Teoria Geral DO Direito Civil II

Teoria Geral do Direito Civil II (Universidade Portucalense Infante D. Henrique)

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL II


15 de setembro de 2020
ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA
 sujeitos – arts. 66º a 201º
 objeto – arts.202º a 216º
 facto jurídico – arts.217º a 333º
 garantia – art.334º e ss

TEORIA GERAL DO OBJETO DA RELAÇÃO


JURÍDICA
GENERALIDADES
OBJETO DA RELAÇÃO JURÍDICA (arts. 202º a 216º CC)
O objeto da relação jurídica é o objeto do direito subjetivo
propriamente dito, ou seja, sobre que incidem os poderes do titular
ativo da relação. O direito subjetivo consiste no poder atribuído pela
ordem jurídica a uma de pessoa de exigir de outrem um determinado
comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão).
O objeto do direito subjetivo, é o quid, ou seja, é o bem, é
aquilo que sobre incide o poder do titular ativo da relação
jurídica.
p.ex. A vende a B um automóvel por 5.000 euros, temos aqui
uma relação jurídica. Os elementos são: A como vendedor e B
como comprador (sujeitos). O contrato de compra e venda é o
facto jurídico. O objeto da relação jurídica é o objeto do direito
subjetivo, neste caso temos um negócio jurídico bilateral. O
primeiro objeto do vendedor é a entrega do dinheiro e o objeto
do comprador é de receber o automóvel. Quando falamos em
objeto de relação jurídica, temos que ter este cuidado de ver
quais os direitos que cada um tem. Se B não pagar, pomos aí
um problema de garantia, ele pode tentar pela via extrajudicial,
ou dar-lhe um prazo, ou então ir para tribunal.

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p.ex. Num contrato de prestação de serviços o prestador tem o


direito de exigir o valor da refeição e o cliente tem o direito de
exigir a feijoada.
p.ex. Se chamarmos um uber é um contrato de transporte, ou
seja, uma prestação de serviços. A prestação de serviços é o
transporte, o objeto aqui é uma prestação, é que o taxista
conduza com segurança até ao local e para o taxista seria o
dinheiro.
Os direitos potestativos não têm objeto. Isto porque, o exercício
destes direitos não se traduz na incidência de nenhum poder sobre
um bem.

Nas obrigações de coisa certa e determinada podemos classificar o


objeto em dois tipos, como sejam:
 O objeto imediato do direito do credor é o comportamento do
próprio devedor, isto é, a prestação, o ato de entrega da coisa.
É o comportamento do próprio devedor, isto é, a prestação, o
ato da entrega da coisa (passivo).
 O objeto mediato é a própria coisa que deve ser entregue ao
credor. É a própria coisa que deve ser entregue ao credor
(ativo).
p.ex. Relação jurídica entre A e B, sendo que o primeiro venderá um
automóvel ao segundo. Os sujeitos são então A e B. O objeto mediato
é o automóvel. O facto jurídico, ou seja, o negócio que desencadeia a
relação jurídica é o contrato de compra e venda. Por fim temos a
garantia, ou seja, um conjunto de providencias que o ordenamento
jurídico põe à disposição do credor.

22 de setembro de 2020
O QUE PODE SER OBJETO DE UMA RELAÇÃO JURÍDICA
Coisas corpóreas e coisas incorpóreas:
 Coisas corpóreas são as coisas físicas, materiais. São aquelas
que são apreensíveis pelos sentidos.

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 Coisas incorpóreas é uma coisa imaterial que não é


apreensível pelos sentidos. O direito subjetivo propriamente
dito pode incidir sobre uma coisa incorpórea
p.ex. direitos de autor (propriedade intelectual – a criação);
propriedade industrial
Animais (art.1305º- A)
 Os animais não são coisas, mas são objeto de proteção e
objetos num sentido de direito de propriedade.

Pessoas
 As pessoas podem ser objeto de uma relação jurídica na
medida dos seus poderes-deveres ou também denominados de
poderes funcionais exercidos sobre a pessoa de outrem –
ideologia do professor Pinto Monteiro e da professora Fernanda
Rebelo. O professor Horster não concorda.
São direitos que conferem poderes destinados a habilitarem os
pais ou o tutor ao cumprimento dos seus direitos para com o
filho ou o pupilo, podendo os titulares de tais direitos ser
sancionados se não exercerem e não cumprirem os deveres aos
quais estão legalmente obrigados.
Se são poderes-deveres não são direitos subjetivos
propriamente ditos! Em nenhum caso se torna a criança num
objeto.
p.ex. Poderes paternais, que podem ser retirados aos pais,
sendo certo que aqui o “objeto” é a criança.
Própria Pessoa

 A nossa lei utilizando a expressão “direitos de personalidade”


protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça
de ofensa à sua personalidade física ou moral (art.70º). Desta
forma, sustenta-se a existência de um direito sobre a própria
pessoa

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 A própria pessoa pode ser objeto de uma relação jurídica: os


direitos de personalidade, o direito à vida, direito à integridade
física, etc.
Prestação

 Na prestação, o objeto da relação é o comportamento do


devedor, ou seja, consiste na conduta ou ato humano.
 Nas prestações de coisas a prestação é o objeto imediato e a
própria coisa será o objeto mediato. Noutros casos, como nas
prestações de facto positivo ou negativo, a prestação é o objeto
da relação não sendo necessário fazer a distinção entre objeto
mediato e imediato.
p.ex. abstenção nas prestações de facto negativo, art. 829º CC.

Na prestação de facto/de serviço esta implica uma determinada


atividade.
Facto positivo: obrigação de fazer.
Direitos subjetivos
Facto negativo: obrigação de não fazer.
 Podem ser objetos os direitos sobre direitos.
p.ex. penhor de direitos – art. 679º.
p.ex. usufruto de direitos de crédito – art. 1439º, 1446º e
1463º.
p.ex. usufruto de ações ou partes sociais – art. 1467º.
p.ex. hipoteca de um direito de superfície – art. 688º nº1 c).
p.ex. hipoteca de um usufruto – art. 688º nº1 e).

O art.202º, nº1 diz “Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de
relações jurídicas.”
Os animais, as prestações, os direitos subjetivos e as pessoas podem
ser objeto de relações jurídicas, mas não são coisas. Para Mota Pinto
esta noção jurídica de coisa é pouco rigorosa e só poderá ser
entendida num sentido muito amplo.
Já o nº2 diz “Consideram-se, porém, fora do comércio todas as coisas
que não podem ser objeto de direitos privados, tais como as que se
encontram no domínio público e as que são, por sua natureza,

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insuscetíveis de apropriação individual.” Por exemplo uma praia, um


chafariz no meio de uma praça, um rio ... são coisas públicas e não
podem ser objeto de direitos privados. Por sua vez, uma coisa
insuscetível de apropriação individual devido á sua natureza é p.ex. a
lua, as estrelas, um grão de areia, uma gota de água.
ATENÇÃO: as praias podem ser exploradas através de uma concessão.

AS COISAS E O PATRIMÓNIO
O PATRIMÓNIO PODE SER OBJETO DE UMA RELAÇÃO JURÍDICA?
O património é um conceito transversal no direito.
Património Global/geral
 É formado pelo conjunto das relações jurídicas patrimoniais, isto
é, avaliáveis em dinheiro, ativas e passivas – art.2030º, nº2 (a
palavra património deve ser interpretada num sentido amplo).
(são relações jurídicas pessoais: casamento, filiação, adoção, ...)
Relações jurídicas ativas é o mesmo que direito subjetivo
Relações jurídicas passivas é o mesmo que obrigação
p.ex. Se eu for ao banco pedir um empréstimo de 2000€ surge uma
relação jurídica entre eu e o banco. Neste caso, eu relação passiva e o
banco relação ativa.
Património Ilíquido/Bruto
 É a soma dos direitos, avaliáveis em dinheiro, que pertencem a
uma pessoa abstraindo das dividas de uma pessoa. Nesta
situação, só se soma os direitos.
O património bruto é a garantia dos credores (art.601º)
Património Líquido
 É a soma dos direitos avaliáveis em dinheiro, depois de
deduzido o montante as divida, ou seja, é a diferença entre o
património ativo e o património passivo. Apura-se o saldo
patrimonial.
Património autónomo/ separado (art.2070º e 2071º)
 Critério da responsabilidade por dívidas, ou seja, uma pessoa
será titular deste património autónomo ao qual acresce o seu
património próprio.
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p.ex. A morre e o seu herdeiro é B. O B terá o seu património


próprio, mais património da herança. B tem credores.
Nesta situação a herança:
o Mantém-se como património separado até que as dividas
do “de cuius” estejam pagas, de modo a que os credores
de B não executem o património da herança.
o Se a herança não chegar para satisfazer as dívidas de A,
os seus credores não poderão executar o património
próprio de B.
Depois de pagas as dívidas de A, desaparece o património
autónomo e o remanescente da herança transfere-se para o
património próprio de B.
Património coletivo
 Várias pessoas são titulares do mesmo património. Acontece no
caso do casamento em que os cônjuges casam em regime de
comunhão de bens ou de adquiridos – nestes dois regimes há
um património coletivo.
p.ex. comunhão conjugal
O direito de cada co-titular do património coletivo é um direito
sobre a totalidade do património coletivo.

29 de setembro de 2020
Qual é a diferença entre património coletivo e
compropriedade?
A figura do património coletivo em surge quando um único património
tem vários sujeitos, ou seja, duas ou mais pessoas possuem, cada
uma, o seu património que lhes pertence globalmente. Este
património pertence em bloco, globalmente, ao conjunto de pessoas
correspondente e nenhum dos sujeitos tem direito, individualmente, a
qualquer quota ou fração.

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Na compropriedade, ou propriedade em comum, estamos perante


uma comunhão de quotas ideais, ou seja, cada comproprietário (ou
consorte) tem direito a uma quota ideal ou fração do objeto comum.
Daí que o comproprietário tenha liberdade para dispor de toda a sua
quota (art.1408º) e que, por sua vez, não seja obrigado a permanecer
na indivisão podendo exigir a divisão da coisa comum (art.1412º).

TEORIA GERAL DO FACTO JURÍDICO


DOS FACTOS JURIDICOS EM GERAL
CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES
NOÇÃO DE FACTOS JURÍDICOS
Um facto jurídico é todo um ato humano ou evento social
juridicamente relevante. Esta relevância jurídica traduz-se na
produção de efeitos jurídicos.
p.ex. nascimento, a morte, contrato de compra e venda
Há factos humanos/sociais/naturais que não são factos jurídicos, ou
seja, são desprovidos de qualquer eficácia jurídica. São factos
materiais, ajurídicos, neutrais do ponto de vista do ordenamento
jurídico. p.ex. convite para jantar.
Logo, nem todos os factos reais ou sociais são factos jurídicos.

CLASSIFICAÇÃO DOS FACTOS JURÍDICOS


Os factos jurídicos podem ser voluntários (atos jurídicos) ou
involuntários (naturais):
 Factos jurídicos voluntários/ atos jurídicos resultam da vontade
humana, ou seja, são manifestações ou atuações de uma
vontade.
o Negócios jurídicos (art.217º) são factos jurídicos
voluntários cujo núcleo essencial é integrado por uma ou
mais declarações de vontade a que o ordenamento
jurídico atribui efeitos jurídicos concordantes com o

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conteúdo da vontade das partes. Os efeitos dos negócios


jurídicos produzem-se ex voluntate.
p.ex. testamento (N.J unilateral), contratos (N.J
bilaterais), contrato de doação (N.J bilateral), mútuo
(art.1142º)
o Simples atos jurídicos são factos voluntários cujos efeitos
se produzem, mesmo que não tenham sido previstos ou
queridos pelos seus autores, embora muitas vezes haja
concordância entre a vontade destes e os referidos
efeitos. Os efeitos dos simples atos jurídicos produzem-se
ex lege.
p.ex. interpelação do devedor (art.805º, nº1),
gestão de negócios (art.464º), enriquecimento sem
causa (art.473º)
o Lícitos são conformes á ordem jurídica e por ela
consentidos.
o Ilícitos são contrários á ordem jurídica e por ela
reprovados e, como tal, há uma sanção para o seu autor.
 Factos jurídicos involuntários não dependem da vontade e
portanto, ocorrem independentemente da vontade.
p.ex. decurso do tempo; nascimento; morte.

6 de outubro de 2020

AQUISIÇÃO, MODIFICAÇÃO E EXTINSÃO


RERELAÇÕES JURÍDICAS
Os factos jurídicos desencadeiam determinados efeitos.
Esses efeitos jurídicos consistem fundamentalmente numa
aquisição, numa modificação ou numa extinção de relações
jurídicas.

A AQUISIÇÃO DE DIREITOS
A aquisição de direitos é a ligação de um direito a um sujeito.

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Portanto, quando uma pessoa adquire um direito passa a ser


titular do mesmo e ele pertence-lhe.
CONSTITUIÇÃO vs AQUISIÇÃO
O conceito de aquisição de direitos é distinto da constituição de
direitos.
A constituição de um direito é o seu surgimento, é a criação de um
direito que não existia anteriormente. Estão muito próximos um do
outro na medida em que quando se constitui um direito esse direito
tem que ter um titular e, por isso, a constituição de um direito não
pode ocorrer sem a aquisição do direito.
Diferentemente, pode haver aquisição de direitos sem constituição
em todos os casos em que o direito que se adquire já existia no
momento em que é adquirido.
Podemos afirmar que toda a constituição de um direito implica a sua
aquisição, mas nem toda a aquisição de direitos implica a constituição
de esse direito.
p.ex. se uma pessoa escrever um romance e é proposto a uma
editora para ser editado em livro e posteriormente ser
distribuído. Ora, no momento em que alguém cria algo essa
pessoa adquire um direito (direito de autor) sobre o romance
que acabou de escrever. Esse direito de autor não existia antes.
 Direito de autor constituído e adquirido pelo autor
 Constituição de direitos de propriedade sobre os
exemplares adquiridos pela editora
p.ex. compro um livro na FNAC para oferecer ao meu sobrinho –
o meu sobrinho adquire a propriedade gratuitamente.
NOTA: não há aquisição de obrigações, só há aquisição de direitos,
porque as obrigações não se adquirem, mas sim assumem-se.

Os dois tipos fundamentais de aquisição de direitos são a aquisição


originária e a aquisição derivada:
 Aquisição originária:

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O direito adquirido não depende da existência nem da extensão de


um direito anterior que poderá nem existir. Quando o direito anterior
existia, o direito não foi adquirido por causa deste, mas apesar dele.
p.ex. direitos de autor, ocupação de coisas móveis e a
usucapião.
Pode haver aquisição originária de um direito que não é novo é o caso
da usucapião. Nesta situação, o direito do proprietário anterior
extingue-se e surge um direito ex novo naquele que adquire por
usucapião.
Esta aquisição tem uma caraterística: não há transmissão de direitos.

 Aquisição derivada:
O direito adquirido funda-se ou filia-se na existência de um direito na
titularidade de outra pessoa. A aquisição derivada só existe por causa
da anterior existência do direito, ou seja, esta aquisição assenta na
transmissão do direito.
p.ex. se eu for á FNAC comprar o livro eu adquiro o direito de
propriedade que antes pertencia á FNAC – aquisição de um
direito de propriedade por força de um contrato.
Aquisição derivada translativa: há apenas uma transmissão do direito
e o direito adquirido é igual ao direito que existia na esfera jurídica do
transmitente!!!!!!
p.ex. compra e venda, doação ou sucessão mortis causa
Aquisição derivada constitutiva: acontece sempre que o direito
constitutivo se funde num direito mais amplo do anterior titular. O
direito depende do anterior, ou seja, forma-se à custa dele limitando-
o ou comprimindo-o.
p.ex. todas as situações de direitos reais limitados como por
exemplo o usufruto (art.1439º e ss); servidão legal de
passagem.
Aquisição derivada restitutiva: põe a possibilidade de o titular de um
direito real limitado se demitir dele, unilateralmente ou
contratualmente (a título gratuito ou oneroso), recuperando assim

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ipso facto o proprietário a plenitude dos seus poderes, em virtude da


elasticidade do direito de propriedade.

PORQUE É QUE É IMPORTANTE DISTINGUIR AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA DE


AQUISIÇÃO DERIVADA?
Na aquisição originária a extensão do direito depende apenas do
facto ou título aquisitivo.
Na aquisição derivada a extensão do direito do adquirente depende
do conteúdo do facto aquisitivo, mas dependa ainda da amplitude do
direito do transmitente, não podendo em regra ser maior que a deste
direito: nemo plus iuris.
Não obstante, existem exceções ao princípio do nemo plus iuris. Estas
exceções significam que em certas hipóteses, o adquirente, não
obstante a aquisição ser derivada, pode obter um direito que não
pertencia ao transmitente ou é mais amplo do que aqueles que
pertenciam a este.
Ninguém pode transmitir direitos que não tem ou mais direitos do
que os que têm.

13 de outubro de 2020
EXCEÇÕES À REGRA GERAL DA AQUISIÇÃO DERIVADA –
exceções ao nemo plus iuris

a) INSTITUTOS DO REGISTO predial, do registo automóvel e


registos similares (aeronaves, navios, partes sociais).
Por força destes institutos devem ser inscritos, com o fim de lhes dar
publicidade, os diversos atos inerentes a bens imoveis, a veículos
automóveis e aos restantes bens acima indicados.
O registo não é meio de aquisição de direitos, sendo o ato
plenamente eficaz inter partes. A consequência da falta de registo
é a ineficácia do ato em relação a terceiros.
Assim, é necessário saber quem são os terceiros para efeitos de
registo predial.

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Manuel de Andrade definia terceiros para efeitos de registo predial


como sendo as pessoas que do mesmo autor ou transmitente
adquiriram direitos incompatíveis (total ou parcialmente) sobre o
mesmo prédio. Ora, o registo não dá direitos, apenas os conserva.
Nesta exceção são importantes os seguintes artigos do código do
registo predial:
 Art.1º o registo predial destina-se essencialmente a dar
publicidade à situação dos prédios.
 Art.4º os factos sujeitos a registo, ainda que não registados,
podem ser invocados entre as próprias partes ou seus
herdeiros, ou seja, têm eficácia inter partes.
 Art.5º prevê a oponibilidade do direito adquirido em relação a
terceiros.
Terceiros para efeitos do registo são aqueles que tenham
adquirido de um autor comum direitos incompatíveis entre si.
 Art.6º
 Art.7º
Vamos imaginar que A transmite a B um automóvel e B não regista.
Posteriormente, A vende o mesmo automóvel a C.
Claro que há má fé de A, mas não é isso que neste momento
importa! Se aplicarmos o direito civil, o direito passa a ser de B
porque A transmitiu o direito a B. Mas como C registou a
aquisição primeiro teremos de dar prioridade ao direito
registado (art.5º código do registo predial). Como A agiu de má
fé, B pode exigir não apenas o montante que pagou pelo
automóvel (efeito restitutivo) mas também uma indemnização
com base na nulidade do negócio nos termos do art.227º)
teremos também que aplicar o art.289º que prevê os efeitos da
invalidade negocial) ou se B conseguir provar que C está de má
fé B conseguirá ficar com a propriedade.
A aquisição de C é a non domino porque C adquiriu o
automóvel de alguém (A) que não tinha a o direito de
propriedade.

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Qual é a diferença entre o art.291º CC e o art.5º, nº4 código do


registo predial?
Este artigo foca-se na proteção de terceiros de boa fé. Este
conceito de terceiros de boa fé não é equivalente ao conceito
de terceiro de boa fé para efeitos de registo.
Na doutrina de Pinto Monteiro para terceiros para efeitos registo os
conceitos de boa fé ou má fé não relevam porque o que de facto
releva é o registo, ou seja, o art.5º, nº4 do código do registo predial
deve ser interpretado á letra. Se a outra parte (B) conseguir provar
que C sabia da transmissão da propriedade, Pinto Monteiro defende a
aplicação do art.334º sempre que alguém exerce um direito
excedendo os limites impostos pela boa fé (esta é a posição adotada
quando não se consegue fazer a prova da má fé de quem registou).
No entanto, há autores como o prof. Horster que defendem que o
terceiro para efeitos de registo tem de estar de boa fé, para o prof. o
facto de o C saber que o B adquiriu o direito o registo não pode dar
nenhuma proteção ao C.
Conclui-se assim que apesar de interpretarem a situação por
caminhos diferentes, tanto para Pinto Monteiro como para o prof.
Horster a proteção de terceiros para efeitos do registo tem como
pressuposto a boa fé.

b) Eventual inoponibilidade das nulidades e anulabilidades


a terceiros de boa fé (art.291º)
Esta exceção tem vida própria e, por isso, temos de fazer um “reset”
do que foi dito até agora.
O art.291º estabelece uma proteção especial a terceiros de boa fé. O
conceito de terceiro do art.291º é ele próprio diferente do art.5º, nº4
do código do registo predial.
Esta norma insere-se no regime das invalidades do negócio (que se
inicia no art.285º até ao art.294º). O art.291º é uma exceção ao
art.289º.

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Ora, o art.289º prevê que tanto a declaração de nulidade como a


anulação do negócio têm efeito retroativo, devendo ser restituído o
que foi prestado, ou se a restituição não for possível o valor
correspondente. Quando o tribunal declara por sentença que aquela
nulidade tem eficácia retroativa, os interessados ficam cientes que o
direito não se transmitiu.
Se o negócio for nulo, o negócio não produziu efeitos deste o início e,
por isso, o direito não se transmitiu de A para B.
Se o negócio for anulável (p.ex. devido á menoridade), o negócio
produz efeitos provisórios que podem se tornar definitivos por
confirmação, nos termos do art.286º, ou podem se tornar definitivos
por decurso do prazo (art.287º).
Quando o tribunal declara que o negócio é nulo ou que o negócio é
anulável a consequência será a mesma: o efeito retroativo (art.289º).

O art.291º constitui uma exceção ao art.289º na medida em que a


declaração de nulidade e a declaração de anulabilidade não
prejudicam direitos adquiridos por terceiros, em certas circunstâncias,
sendo estes terceiros sub-adquirentes que estão numa cadeia de
transmissões que são prejudicados pela sentença judicial.
O terceiro (C) é quem não intervém no primeiro negócio nulo ou
anulável.
p.ex. A transmite a B um direito através de um negócio nulo ou
anulável, posteriormente B transmite o mesmo direito a C.
O negócio entre A e B tem que ser declarado nulo ou anulável
porque tem um vício. Ora, se o primeiro negócio for declarado nulo
ou anulável o segundo também o será e, consequentemente, C
teria de restituir o bem.
Esta norma pretende impedir, em alguns casos, os efeitos do
art.289º.

c) Da inoponibilidade da simulação a terceiros de boa fé

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os negócios simulados são nulos e, como tal, não produzem quaisquer


efeitos. Se o simulador adquirente de um prédio, porem, vender ou
doar, por ato verdadeiro, o mesmo prédio a um terceiro e este ignorar
a simulação, o terceiro adquire validamente o prédio (art.243º).
2 CASO PRÁTICO
2º exceção ao princípio Nemo plus iuris (art.291º)
Em maio de 2017, A doou um automóvel a B, pessoa com
quem mantinha uma relação extraconjugal, sem o
conhecimento de C, sua mulher. B registou a sua aquisição.
Passados 2 anos, A e B terminaram a sua relação
extraconjugal e B de imediato vendeu o mesmo automóvel a
D, que registou a aquisição do automóvel e que não sabia da
relação havida entre A e B.
Em agosto de 2020, B soube de tudo o que se passara e
pretende impugnar os negócios realizados e reaver o
automóvel.

a) Quid iuris?
 Estamos perante uma situação de indisponibilidade
relativa e nos termos do art.953º aplica-se ás doações o
regime do art.2196º, nº1 e, desta forma, a doação é nula.
Como tal, á luz do art.286º ... e tem como efeitos 289º.
Desta forma, com a nulidade do negócio o automóvel
nunca pertenceu a B mas sim a A. D está de boa fé
porque não sabia que no negócio anterior B não tinha
adquirido coisa nenhuma. Ora, D é terceiro sub-
adquirente nos termos do art.291º.
D pode ficar com o automóvel se se verificarem os
pressupostos cumulativos do art.291º: houve uma
declaração de nulidade respeitante a um bem móvel
sujeito a registo, adquiriu a título oneroso, D estava de
boa fé (art.291º, nº3) D e registou a aquisição antes da
ação.

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Art.291º, nº2 a ação tem que ser proposta 3 anos após a


celebração do negócio! passaram mais de 3 anos, e por
isso, D está protegido pelo art.291º e ainda que C intente
a ação de nulidade não conseguirá tirar o automóvel de
D.
b) Suponha agora que B soube de tudo em março de 2020 e
logo intentou ação judicial. A resposta seria a mesma da
alínea anterior?
 D não fica protegido pelo art.291º, porque ainda não passaram
3 anos após a celebração do negócio nulo (art.291º, nº2).
20 de outubro de 2020
CONTINUAÇÃO DO CASO PRÁTICO
c) O que mudaria na sua resposta à alínea b) se B e D
fossem grandes amigos de infância e sempre tivessem
mantido estreita convivência?
 Nesta situação, pressupõe-se que D sabia que B era concubina
de A e por isso estava de má fé e por isso não merecia
proteção nos termos do art.291º, nº3.

MODIFICAÇÃO DE DIREITOS
Ela ocorre quando altera um elemento do direito/obrigação
permanecendo a identidade do direito/obrigação.
A modificação pode ser:
 Subjetiva quando o elemento que muda é o titular do direito ou
da obrigação.
Sucedendo no lato ativo, do direito, pode acontecer p.ex.
cessão de créditos prevista no art.577º e ss e o credor pode
ceder esse direito a outra pessoa. Aqui muda o credor.
p.ex. O credor A tem um direito de crédito sobre B mas A
pode ceder o seu crédito a C.
Isto também pode suceder no lado passivo, ou seja, no lado da
obrigação como p.ex. na situação de transmissão singular de
dividas pode ocorrer nos termos dos art.595º e ss. O devedor

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pode transmitir a divida que tem a outra pessoa. aqui muda o


devedor
 Objetiva o que muda é o conteúdo ou o objeto do direito ou da
obrigação.
p.ex. direito de crédito que A tem de exigir o pagamento em
90 dias. Pode acontecer que o credor prorrogue esse prazo
para 120 dias, ou seja, nesta situação o credor altera
objetivamente o seu direito de crédito.

EXTINÇÃO DE DIREITOS
A extinção de um direito tem lugar quando um direito ou uma
obrigação deixa de existir na esfera jurídica de uma pessoa.
p.ex. sucessão mortis causa
p.ex. A é proprietário de uma bicicleta velhinha e por isso já
não a usa. A deita-a ao lixo. Destruindo-se a bicicleta, o direito
de propriedade extinguiu-se.
A extinção de direitos traduzir-se-á numa extinção subjetiva ou perda
de direitos, se o direito sobrevive em si, apenas mudando o seu
titular.
 Subjetiva ou perda de interesse verifica-se sempre que tem
lugar uma sucessão na titularidade dos direitos.
 Objetiva verifica-se quando o direito desaparece deixando de
existir para o seu titular ou a qualquer outra pessoa.
Ora, pode acontecer que o direito extingue-se por não ter sido
exercido durante um certo tempo:
 Prescrição – arts.300º e ss (por regra doutrinal aplica-se aos
direitos subjetivos propriamente ditos)
 Caducidade – art.328º e ss (por regra doutrinal aplica-se aos
direitos potestativos)
O critério legal está previsto no art.298º, nº2 e, segundo este artigo,
quando um direito tem que ser exercido num determinado prazo são
aplicáveis as regras da caducidade, a menos que a lei refira

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expressamente à prescrição. Quer uma figura quer outra leva á


extinção de direitos.

27 de outubro de 2020

DO NEGÓCIO JURÍDICO E DO SIMPLES ATO


JURÍDICO
CONCEITO E ELEMENTOS
CONCEITO E IMPORTÂNCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO
Os negócios jurídicos são atos jurídicos constituídos por uma ou mais
declarações de vontade, dirigidas à realização de certos efeitos
práticos, com intenção de os alcançar sob tutela do direito,
determinando o ordenamento jurídico a produção dos efeitos jurídicos
conformes à intenção manifestada pelo declarante ou declarantes.

RELAÇÃO ENTRE A VONTADE EXTERIORIZADA NA DECLARAÇÃO


NEGOCIAL E OS EFEITOS JURÍDICOS DO NEGÓCIO
Ora, é necessário estabelecer relações entre a vontade exteriorizada
e os efeitos do NJ. Sobre estas relações á três teorias.
 Teoria dos efeitos jurídicos
Teoria de Savigny. Os efeitos jurídicos dos negócios correspondem à
vontade das partes, ou seja, as partes quando celebram negócios
jurídicos querem aqueles efeitos jurídicos.
Critica: as pessoas quando celebram NJ não podem conhecer todos
os efeitos jurídicos que a lei atribuiu às suas declarações de vontade.
 Teoria dos efeitos práticos
As partes quando manifestam uma vontade, fazem-no querendo que
sejam produzidos efeitos práticos, efeitos sociais ou efeitos
económicos.
Critica: na verdade se as pessoas quando celebram NJ só
pretendessem a produção de efeitos práticos não haveria distinção
entre um NJ e uma simples convenção negocial.
 Teoria dos efeitos prático-jurídicos

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As partes visam certos resultados práticos que querem realizados em


conformidade com os efeitos jurídicos previstos da lei, ou seja,
quando as partes celebram um NJ têm em vista que os efeitos
práticos gozem a tutela jurídica do direito. Esta teoria é que nós
aplicamos.
Por falta de intenção de efeitos jurídicos distinguem-se os negócios
jurídicos dos chamados negócios de pura obsequiosidade. Nestes
casos temos acordos ou compromissos, mas não tem a tutela do
direito porque as partes não querem atribuir a tutela jurídica ao
negócio (p.ex. o convite para um passeio) fazendo assim uma
convenção social. Não há por parte dos sujeitos que fazem o acordo,
porque só há vontade de efeitos práticos.

A falta de vontade de efeitos jurídicos distingue ainda os negócios


jurídicos dos chamados gentlemns agreemnets (um acordo de
cavalheiros. Estas convenções são combinações sobre matéria que é
normalmente objeto de negócios jurídicos, mas que,
excecionalmente, estão desprovidas de intenção de efeitos jurídicos.
É o caso de um empréstimo de honra ou de uma disposição de bens
para depois da morte, em que o disponente confia pura e
simplesmente na honorabilidade dos herdeiros a quem cumpre
executar a disposição. São compromisso sem força jurídica.

ELEMENTOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS


São três elementos:
 Essenciais (são os mais importantes)
São os requisitos ou as condições gerais de validade de um negócio.
Quais são os elementos essenciais de qualquer negócio?
1. capacidade das partes, a legitimidade das partes quando a sua
falta implique invalidade e não apenas ineficácia,

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2. a declaração de vontade sem anomalias e


3. a idoneidade do objeto (art.280º).

As declarações negociais sem anomalias ou perfeitas. Se faltar um


destes há uma invalidade o negócio é nulo ou anulável. Pode
acontecer que haja negócios essências para além destes a forma.
p.ex. compra e venda de um terreno.

 Naturais
São os resultantes das normas supletivas. Uma norma supletiva é
uma norma legal que supre a falta de manifestação de falta de
vontade das partes art.772º.Não é necessário que as partes
configurem qualquer cláusula para a produção destes efeitos,
podendo, todavia, ser excluídos por estipulação formulada pelas
partes . O art.777º também é uma norma supletiva, que é o prazo.
Quando não há uma dada regulamentação, as partes foram omissas
nesses aspetos, aplica-se a norma supletiva. Faz parte do contrato a
norma supletiva, o seu conteúdo.

 Acidentais
São as cláusulas acessórias dos negócios jurídicos. Trata-se das
estipulações que não caracterizam o tipo negocial em abstrato, mas
se tornam imprescindíveis para que o negócio concreto produza os
efeitos a que eles tendem.
p.ex. a cláusula de juro num contrato de mútuo é um elemento
acidental. Uma cláusula de juros é acidental.

CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS


NEGÓCIOS JURIDICOS UNILATERAIS E NEGÓCIOS JURIDICOS
BILATERAIS (CONTRATOS)
Negócios jurídicos unilaterais é um negócio formado por uma só
declaração de vontade ou várias declarações, mas paralelas,
formando um só grupo. Neste caso se temos uma declaração de

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vontade p.ex. o testamento, a procuração (art.262º), a promessa


pública, (art.459º ). Há negócios unilaterais, os que há estão previstos
na lei.
p.ex. promessa pública o cão pode ter mais do que um dono,
mas é só uma declaração, porque elas são paralelas. É
unilateral porque são declarações iguais.
Os NJ unilaterais tê, fundamentalmente, três características:
 Vigora o princípio da tipicidade (numerus clausus) cfr. art.457º
 É desnecessária a anuência do adversário, ou seja, a declaração
negocial não necessita de ser aceite pela pessoa a que essa
declaração se dirige.
 Os negócios jurídicos podem ser reptícios e não receptícos:
o NJ receptícios, são aqueles que só produzem efeitos e se
quando for conhecido do destinatário (p.ex. procuração)
o NJ não receptício é aquele que produz efeitos
independentemente de ter sido levado ao conhecimento
pela outra parte (p.ex. testamento).

Negócio jurídico bilateral/contrato são negócios formados por duas ou


mais declarações de vontade, de conteúdo oposto, mas convergente,
ajuntando-se na sua comum pretensão de produzir um resultado
jurídico unitário. Têm sempre dois lados ou parte. Havendo proposta e
aceitação temos duas declarações em sentido oposto (uma é vendo e
a outro é compro), mas convergem para que haja a transmissão do
direito de propriedade.
p.ex. eu posso ter o vendedor A e o comprador B e C. Tendo
três pessoas. Tenho dois compradores, mas eles formam só um
lado que é o da compra.

Ainda acerca dos contratos ...


 Contratos unilaterais estes contratos geram obrigações apenas
para uma das partes (p.ex. doação).

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 Os contratos bilaterais (sinalagmáticos) geram obrigações por


ambas as partes, obrigações ligadas entre si por um nexo de
causalidade nos termos do art.563º.
p.ex. compra e venda, alocação, etc

NEGÓCIOS ENTRE VISOS E NEGÓCIOS “MORTIS CAUSA”


Os negócios entre vivos produzem efeitos em vida das partes.
Os negócios mortis causa produzem efeitos depois da morte da
respetiva parte. Na nossa lei só existe um negócio que produz efeitos
depois da morte que é o testamento. O testamento é um ato
revogável pelo testador nos termos do art.2179º.

NEGÓCIOS CONSENSUAIS (NÃO SOLENES) E NEGÓCIOS


FORMAIS (SOLENES)
Os negócios formais (solenes) são aqueles para os quais a lei
prescreve a necessidade da observância de determinada forma ou de
determinadas solenidades.
Os negócios consensuais (não solenes) são os que podem ser
celebrados por quaisquer meios declarativos aptos a exteriorizar a
vontade negocial porque a lei não impõe uma determinada roupagem
exterior para o negócio.
p.ex. nos termos do art.219º para a compra e venda de um
bem móvel a lei não exige forma.

NEGÓCIOS CONSENSUAIS E NEGÓCIOS REAIS


Os negócios reais são aqueles em que se exige, além das declarações
de vontade das partes, a pratica anterior ou simultânea de um ato
material.
p.ex. comodato

3 novembro de 2020

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NEGÓCIOS CAUSAS E NEGÓCIOS ABSTRATOS


Os negócios causais são os negócios que têm uma causa função
económica, isto significa que são negócios que desempenham uma
certa função com interesse para a sociedade e com interesse para a
economia.
p.ex. nos termos da lei, os contratos que têm esta possibilidade
esta causa função da transferência real, têm consequências ao
nível da transferência do risco. a doação também tem a sua
causa função temos por base a intenção de fazer um sacrifico
patrimonial sem contrapartida, art.940º do CC. a lei pensou
nesses contratos e estabeleceu para eles uma certa base
dentro da qual podem ser realizados, se as partes afastarem
esta causa função, o negócio é fraudulento, indireto.
p.ex. alguém vende e um terreno que vale cem mil euros, por
cinco euros. O comprador declara comprado (isto é uma
doação), trata-se de um valor simbólico. Não há uma
observância da função da doação. Quer a doação, quer a
compra e venda são negócios causais.
Os negócios abstratos é raro existirem. Existe no direito comercial, é
utilizado nos títulos de crédito (cheque, a letra, livrança). Quando se
preenche um cheque estamos a realizar um negócio jurídico unilateral
que é considerado abstrato, não é específica, não tem uma causa
própria.

NEGÓCIOS ONEROSOS E NEGÓCIOS GRATUITOS


Os negócios onerosos pressupõem atribuições patrimoniais a ambas
as partes, existindo, segundo a perspetiva destas, um nexo ou relação
de correspectividade entre as referidas atribuições patrimoniais.
Os negócios gratuitos caraterizam-se pela intervenção de uma
intenção liberal. Uma parte tem a intenção de efetuar uma atribuição
patrimonial a favor da outra, sem contrapartida. A outra parte
procede com a consciência e vontade de receber essa vantagem sem
um sacrifício correspondente.

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CONTRATOS ALEATÓRIOS E CONTRATOS COMULATIVOS


São uma subdivisão dos contratos onerosos!
Os contratos aleatórios são contratos em que há uma aléa (risco).
Nenhuma das partes sabe se vai ganhar ou se vai perder. Sendo que
uma vai ganhar e a outra vai perder, mas no momento em que o
contrato se faz é aleatório. É oneroso (p.ex. apostas, raspadinhas
etc).
Nos contratos comutativos não há risco. A pessoa já sabe quanto é
que ganha ou quanto é que perde.

NEGÓCIOS PARCIÁRIOS
Os negócios parciários são uma subespécie de negócios onerosos.
Caraterizam-se pelo facto de uma pessoa prometer certa prestação
em troca de uma qualquer participação nos proventos que a
contraparte obtenha por força daquela prestação.
p.ex. parceria pecuária (art.1121º)

NEGÓCIOS DE MERA ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE


DISPOSIÇÃO
Os negócios de mera administração são aqueles em que se visa a
frutificação do património ou a sua conservação.
p.ex. imaginemos que alguém tem uma casa desabitada e faz
um contrato de arrendamento, a pessoa que está a administrar
o bem alheio, está a fazer um negócio de mera administração. A
palavra frutificação significa tirar rendimentos de uma coisa.
Pelo que os negócios de disposição são todos os outros. Alteram a
essência do património e não a sua mera conservação.
p.ex. o administrador tem dez mil euros na conta e invés de os
por a render compra um terreno, o administrador alterou a sua
essência.

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ELEMENTOS ESSENCIAIS DO NEGÓCIO


JURÍDICO
DECLARAÇÃO NEGOCIAL (ART.217º)
A declaração negocial é o elemento constitutivo da estrutura do
negócio
A declaração negocial constitui um elemento do NJ.
É de tal maneira constitutivo que com a sua falta, provoca
inexistência material do negocio

A declaração é o comportamento que exteriormente observado


cria a aparência de exteriorização de um certo conteúdo de
vontade negocial
Expressa a vontade real do individuo ; é o meio de
exteriorização da vontade

É uma declaração de vontade cujo valor deve ser analisado do ponto


de vista de quem recebe (declaratário).

Os problemas decisivos para o efeito de determinar o conceito de


declaração negocial são o da divergência entre a vontade e a
declaração, o dos vícios da vontade, o da interpretação negocial,
etc.
Tais problemas têm subjacente um conflito entre os interesses do
declarante e os do declaratário e do comércio jurídico.
Visto isto, o direito civil põe na primeira linha a proteção das
expectativas dos declaratários e da segurança do comercio
jurídico.

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Esta assenta na teoria objetivista da declaração negocial. Nesta


noção dá-se prevalência ao comportamento declarativo, àquilo que é
exteriorizado em detrimento da vontade real ou elemento interior
psicológico da declaração (a declaração negocial tem um elemento
externo que é o comportamento declarativo, e tem um elemento
interno que é a chamada vontade), esta diferença entre o elemento
externo e interno é muito relevante para a matéria das patologias do
art.240º. Optamos pela objetivista porque queremos proteger as
expectativas do declaratário e a segurança do comércio jurídico.

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA DECLARAÇÃO NEGOCIAL


1. Declaração propriamente dita (elemento externo) consiste no
comportamento declarativo.
 É externa
 Consiste na exteriorização da nossa vontade real “ eu
quero comprar isto “
p.ex. exteriorizar uma proposta de venda de um
automóvel com certas características.

2. Vontade
(elemento interno) consiste no querer, na realidade volitiva que
normalmente existirá e coincidirá com o sentido objetivo da
declaração.
A nossa consciência de saber que queremos realmente
comprar algo e exteriorizamos essa vontade através da
declaração negocial
p.ex. não preciso do carro, portanto decidi mentalmente
querer vendê-lo, através da Internet. Eu pensei (elemento
interno) e depois exteriorizei o meu pensamento
(elemento externo).
O elemento interno tem três subelementos:

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a) a vontade da ação, ou seja, o comportamento declarativo


tem que ser voluntário.
É a vontade de ter aquele comportamento declarativo e
pressupõe uma intenção de agir, uma intenção ou
consciência de ação e esta vontade de ação é o mínimo dos
mínimos que deve verificar-se para podermos falar
verdadeiramente de vontade.
p.ex. uma pessoa que está num leilão e nos leilões as
pessoas que estão interessadas nas peças que estão a ser
apresentadas participam pondo o braço no ar e isto
significa que aquela pessoa quer licitar aquela peça que
está a ser leiloada. Imaginemos que temos entre a
assistência está um individuo que tem um tique nervoso
de levantar o braço, e estava a assistir ao leilão e não
queria nenhuma peça e mais ninguém levantou o braço e
como ele tinha esse tique levantou o braço. O leiloeiro
considera a peça vendida a esta mesma pessoa.
Ele exteriorizou um comportamento, mas a sua
vontade não existe, não tem vontade de comprar
aquela peça, não tem sequer aquele mínimo de vontade
que se tem de ter, vontade de agir e esta pessoa teve um
ato de reflexo infeliz, não tinha qualquer vontade de agir,
era apenas um tique nervoso. Então afirmamos que falta
vontade de ação, ato de reflexo desprovida de ter
vontade, é um gesto tido como sendo um comportamento
declarativo de aceitação daquela proposta apresentada no
leilão. Falta a vontade de ação.
p.ex. a mesma pessoa ou outra e por coação física
alguém a força a levantar o braço, é uma circunstância
que revela uma vontade objetivamente, mas na verdade
não tem vontade de o fazer, o que aconteceu é que por
coação física alguém empurrou o braço para cima, não do
próprio individuo, mas de alguém que está a coagir

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fisicamente o nosso individuo, falta aqui também uma


vontade mínima.

b) vontade da declaração: o declarante atribuir ao


comportamento querido o significado de uma declaração
negocial. Consiste em o declarante ter consciência, a
consciência e a vontade de que o seu comportamento produza
efeitos jurídicos, é a vontade de emitir uma declaração negocial
com efeitos jurídicos. Ora, esta vontade, pode faltar, e falta
quando nós aceitamos algo pensando que estamos a aceitar um
compromisso social, um convite para uma cerimónia,
casamento, passeio e pensando que estamos a aceitar um
compromisso social acabamos por aceitar um negócio jurídico,
celebrar um negócio jurídico sem ter vontade de celebrar esse
negócio.
p.ex. o mesmo exemplo do leilão, temos uma pessoa que
está sentada a assistir ao leilão e entra dentro da sala o
seu amigo, e nesse momento, quem esta sentado a
assistir ao leilão e levanta o braço para o cumprimentar,
mas no leilão tem o significado de aceitar a peça que está
em venda, tem o significado de cumprimento para o
próprio ou o outro de declaração, mas no contexto tem o
significado de uma declaração negocial da peça que está
em leilão. Temos então um comportamento declarativo,
mas falta a vontade da declaração, apesar de haver
vontade de ação porque ele quis levantar o braço, mas
não de fazer negócio com a peça, sendo que não tem
vontade nem consciência que o seu comportamento
produza esses efeitos.
c) a vontade negocial, vontade do conteúdo da declaração
ou intenção do resultado consiste na vontade de celebrar
um NJ de conteúdo coincidente com o significado exterior da

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declaração. É uma vontade efetiva correspondente ao negócio


concreto que apareceu exteriormente declarado.
Pode haver um desvio da vontade negocial no caso de o
declarante ter atribuído aos termos da declaração um sentido
diverso do sentido que exteriormente é captado.
p.ex. A quer comprar a Quinta do Mosteiro e declara que
quer comprar a Quinta da Capela por julgar erradamente
que a Quinta do Mosteiro se chama Quinta da Capela.
Deve coincidir o que nós queremos internamente e aquilo que
declaramos externamente.
p.ex. se eu quero vender o meu automóvel por 1000 euros eu
disse o que pensava e o que queria exteriormente. Caso isso,
não aconteça não interessa o que interiormente eu queria, mas
sim o que eu disse (exteriormente) daí a teoria objetivista. Na
verdade, pode em certos casos aplicar a vontade real da
pessoa, nessa circunstância é a teoria subjetivista que se vai
aplicar. Tem aqui de prevalecer a vontade real nos termos do
art.236º, nº2 elemento subjetivo.
Nos termos do art.295º (atos jurídicos) - os atos jurídicos que não
sejam negócios jurídicos, são aplicáveis na medida em que a analogia
das situações o justifique. Os negócios jurídicos aos factos jurídicos
voluntários e os simples atos jurídicos também são voluntários,
portanto têm uma declaração negocial.

10 novembro de 2020
(continuação da aula anterior)
Isto aconteceu porquê? Como acontecem estes desvios? Muitas vezes
por ignorância ou desconhecimento, portanto, esta situação em que
se encontra o nosso licitador é uma situação que ele não quer. Pode
faltar a vontade da declaração, falta quando alguém não tem
consciência que está a fazer uma declaração negocial, esta última é a
vontade de celebrar um negócio jurídico e tenha efeitos jurídicos.

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No 1º exemplo, temos de saber se ele vai realmente comprar a peça,


visto que faltava a vontade de ação. Temos um negócio jurídico, uma
declaração negocial, mas não há vontade. Artigo 246º, quando a
pessoa é coagida por força física falta a vontade de ação, a lei diz que
não produz qualquer efeito da declaração, tem como consequência
esta mesma, mas a doutrina e alguma jurisprudência considera que
estamos perante uma inexistência jurídica.
No 2º exemplo, saber se é válido este negócio? Vontade de ação não
faltou, apenas faltou a consciente da declaração. Ora, não tem
consciência nem vontade de fazer o negócio, logo a lei diz que se
falta estas a declaração não produz qualquer efeito, artigo 246º, fala-
nos quer da coação física, mas também da consciência da declaração.
A doutrina entende que a coação física é mais grave, mas o legislador
entende as duas como inexistência jurídica.
No 3º exemplo, temos outro problema, qual é o valor deste negócio
jurídico, a vontade negócio do individuo não era comprar a peça y,
mas sim a x. temos aqui a falta de vontade de ação, vontade de
declaração ou quer haja o desvio da vontade negocial, pode ser um
negócio jurídico inexistente se faltar a vontade de ação, pode não
produzir efeitos ou ser nulo se faltar a vontade de declaração e pode
ser anulável se houver desvio da vontade negocial. Artigo 247º, erro
na declaração (erro obstáculo), é um exemplo de desvio da vontade
negocial, de acordo com este artigo o legislador diz que a declaração
negocial produz os efeitos pretendidos mas podem a vir ser declarado
anulados com eficácia retroativa, atenção, o negocio existe e produz
efeitos mas os negócios podem a ser vir destruídos ou não.

DECLARAÇÃO NEGOCIAL EXPRESSA E DECLARAÇÃO NEGOCIAL


TÁCITA
O art.217º diz que a declaração negocial pode ser:
 Expressa é a declaração feita por palavras, por escrito ou
qualquer outro meio direito de expressão da vontade.

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p.ex. vou a uma farmácia, quero comprar um


medicamento, digo que quero comprar uma caixa de BEN-
U-RON, estou a fazer uma declaração expressa por
palavras ditas, forma verbal ou oral, mas também posso
fazer um negócio jurídico fazendo um papel escrito, estas
declarações negociais são palavras, só que escritas.
p.ex. pode acontecer um meio direto de vontade, de uma
pessoa dizer ou escrever uma palavra, exemplo: estou
num restaurante e servem-me comida e perguntam
“precisa de mais azeite e vinagre?” eu não digo que sim e
nem escrevo apenas abano a cabeça, estou a fazer uma
declaração expressa através de um meio direto de
vontade.
 Tácita quando do seu conteúdo direito se infere um outro, ou
seja, quando se destina a um certo fim mas implica e torna
cognoscível um auto-regulamento sobre outro ponto –
declaração indireta.
p.ex. “emprestas-me o telemóvel”, mas eu entrego o
telemóvel, então ele pensou que ele lhe emprestava o
telemóvel, mas o outro disse que só emprestava naquele
momento, o que pediu o telemóvel deduziu que o outro
lhe emprestava. É uma declaração que se deduz de factos
com toda a probabilidade que se revelem.
No art.219º encontra-se consagrada a liberdade de forma.

O VALOR DO SILÊNCIO COMO MEIO DECLARATIVO


Encontra-se previsto no art.218p e este em princípio não tem valor
declarativo, salvo se esse valor lhe for atribuído por lei, uso ou
convenção. O silencio é o “nada fazer”, o nada dizer, é uma
inatividade, este silêncio só pode ter valor de negócio jurídico se tal
resultar da lei ou resultar das vontades das partes, ou dos usos. O
art.1163º, é uma situação me que a lei atribui relevância ao silencio.
Normalmente, não se pode ter esse valor (silêncio).

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Lei de defesa de consumidor, envio de bens não solicitado, nos


termos da respetiva Lei 24/96, art,9º, um desses números do artigo, o
envio de bens não solicitado não obriga ao pagamento dos mesmos e
nem à conservação do mesmo, é vido como oferta, aliás é
considerado como uma oferta porque não houve acordo nos termos
do negócio.
p.ex. recebia uma carta com uma máscara para amostra e que
dizia que vendia aquelas máscaras e se aceitar mandam uma
caixa de máscara e depois vê as cores, testa e se gosta do
tamanho e no caso que queira ficar com elas, resolvemos isso
depois, caso contrário devolve-as. Eu digo que aceito, aqui à
uma convenção, não se enquadra na lei anterior.

PRESUNÇÃO
Conceito de presunção (arts.349º, 350º, nº2 e 351º)
 Presunção relativa (iuris tantum) –admitem prova em
contrário e nos termos do art.350º, nº1, as presunções em
princípio podem ser ilididas mediante prova em contrário. Esta
é a regra da nossa lei.
 Presunção absoluta (iuris et de iure) –não admitem prova
em contrário.

DECLARAÇÃO NEGOCIAL PRESUMIDA E DECLARAÇÃO


NEGOCIAL FICTA
As declarações negociais podem ser presumidas ou fictas:
 Declaração negocial presumida
Tem lugar quando a lei liga a um determinado comportamento com o
significado de exprimir um certo significado negocial. É uma
presunção legal, que admite prova em contrário, a única
especificidade é que apenas se refere a uma declaração negocial.

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p.ex. art.926º, esta presunção representa uma declaração


negocial presumida porque o legislador considera que as partes
na dúvida se presume que tenham adotado a primeira.
Nos termos do art.350º, nº2 só a declaração negocial, ou qualquer
presunção só é absoluta quando a própria lei o refere, portanto, a
presunção absoluta tem de resultar da própria lei.
 Declaração negocial ficta
É uma declaração absoluta, é uma declaração em que a lei não
admite prova em contrário. É aquela em que há um comportamento,
e é atribuído um significado legal fictizado previsto na lei sem prova
em contrário.
p.ex. art.923º, nº2 a lei presume e não admite prova em
contrário, presume uma declaração de aceitação, este também
é um exemplo em que o silêncio vale como uma declaração
negocial.
O regime-regra é o de as prestações legais poderem ser ilididas
mediante prova em contrário, só deixando de o ser quando a lei o
proibir (art.350º, nº2).

PROTESTO E RESERVA
Há uma declaração negocial que se chama protesto, é um termo
técnico que se aplica a uma declaração de vontade. Consiste numa
contradeclaração que visa impedir que o declaratário atribua um
certo significado à respetiva declaração, procura esclarecer a
declaração feita, embora se diga que visa impedir esse
esclarecimento ou que o declaratário atribua um certo sentido à
declaração. Esta é muito usada nos negócios jurídicos e tem ainda um
nome de reserva, quando consiste na declaração de que um certo
comportamento não significa a renúncia a um direito próprio ou
reconhecimento de um direito alheio.
p.ex. num contrato de arrendamento pode acontecer,
imaginemos que o senhorio tem direito a uma renda de 500€
mensal, mas o inquilino num determinado mês não consegue

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pagar a renda na totalidade, dirige-se ao senhorio e entrega-lhe


apenas 300€ e explica-lhe o motivo e pergunta se ele aceita, e
o senhorio diz que aceita, o senhorio fica por aqui ou terá
necessidade de fazer aqui um protesto ou melhor, uma reserva?
Se o senhorio acautelar e esclarecer, isto chama-se reserva, ele
não renuncia aos 200€ em falta, portanto, neste caso a reserva
visa esclarecer o inquilino no sentido em que o senhorio não
está a renunciar a um direito que tem de receber a renda por
inteiro. A reserva não é obrigatória que seja por escrito, mas
depois é preciso provar.

FORMA DA DECLARAÇÃO NEGOCIAL


 Forma convencional
Liberdade de forma – art. 219º e 220º.
 Formalidades substanciais ou ad substantiam
São insubstituíveis por outro meio de prova, a sua falta gera a
nulidade do negócio, art. 220º .
 Formalidades não essenciais/ formalidades probatórias
ou ad probationem
Servem apenas como meio de prova, não geram a nulidade.
p.ex. A vende a B o seu automóvel no cais de Gaia, como é que
o comprador consegue registar o automóvel a seu favor? No
caso de contrato de compra e venda de automóveis a lei não
exige documento autenticado, pode ser feito verbalmente, mas
no caso dos automóveis tem de ser feita uma declaração de
venda, é uma formalidade não para o automóvel, mas para o
registo.

17 de novembro de 2020
A PERFEIÇÃO DA DECLARAÇÃO NEGOCIAL
A declaração negocial com um destinatário ganha eficácia loque que
chegue ao seu poder ou é dele conhecida. As declarações não

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receptícias tornam-se eficazes logo que a vontade se manifesta na


forma adequada.
Da doutrina, decorre do art.224º, nº1 que para os contratos a nossa
lei optou pela receção quanto ao momento da sua conclusão, ou seja,
o contrato está perfeito quando a resposta, a aceitação, chega à
esfera de ação do proponente.
Nos termos do art.224º, nº2 é considerada eficaz a declaração que
por culpa do destinatário não foi por ele recebida. Porém, nos termos
do art.224º, nº3 é ineficaz a declaração recebida pelo destinatário em
condições de, sem culpa sua, não poder ser conhecida.

INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DOS NEGÓCIOS


JURÍDICOS
A INTERPRETAÇÃO DO NJ
Pela interpretação pretende-se obter o sentido e alcance decisivo do
negócio jurídico. Trata-se de determinar o conteúdo das declarações
de vontade e, consequentemente, os efeitos que o negócio jurídico
visa produzir em conformidade com a declaração. Em última instância
quem interpreta o NJ é o juiz.
A hermenêutica jurídica (art.236º, 237º e 238º) aplica-se,
naturalmente, porque são as regras que visam dar orientações ao juiz
para interpretar o NJ.
A regra é a do art.236º, nº1 1ºparte. Ora, nos termos deste artigo a
declaração negocial vale com o sentido de um declaratário normal
(mediano), colocado na posição do real declaratário, possa deduzir do
comportamento do declarante, salvo se este não puder
razoavelmente contar com ele. O declaratário normal varia tendo em
consideração o declaratário real, ou seja, o declaratário normal terá
que ter as mesmas carateristicas p.ex. idade, sexo, escolaridade,
experiência e profissão que o declaratário real.
Surgem, nesta situação posições objetivistas e posições subjetivistas:
 As posições subjetivistas na interpretação do NJ são aquelas
que se baseiam na chamada teoria da vontade. Esta teoria

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procura apurar a vontade real do declarante, ou seja, o negócio


valerá de acordo com a vontade do declarante.
 As posições objetivistas são aquelas que procurarem obter o
sentido objetivo/ exteriorizado da declaração negocial através
daquilo que é possível conhecer do ponto de vista do
declaratário, ou seja, olham para a declaração propriamente
dita.
Esta doutrina tem várias correntes, sendo a que nos importa a
teoria objetivista da impressão do destinatário esta
doutrina é importante porque é a prevista no art.236º, nº1 1º
parte.
A exceção encontra-se prevista no nº2 do art.236º e sempre que o
declaratário conheça a vontade real do declarante, é de acordo com
ela que vale a declaração emitida – posição subjetivista.
Nos termos do art.237º em caso de dúvida prevalece nos negócios
gratuitos o menos gravoso para o disponente (p.ex. o testador, o
doador) e, nos negócios onerosos, o que conduzir ao maior equilíbrio
das prestações, ou seja, divide-se a gravidade por ambas as partes
(meio termo).
À luz do art.238º, nº1 nos negócios formais não pode a declaração
valer com um sentido que não tenha um mínimo de correspondência
no texto do respetivo documento, ainda que imperfeitamente
expresso, isto é, se tivermos a falar de um negócio formal p.ex. uma
EP surge um problema estes critérios não podem conduzir um
resultado que não tenha, no texto, um mínimo de correspondência é o
respeito pelo que está escrito.

A INTEGRAÇÃO DO NJ (art.239º)
Agora trata-se de esclarecer as lacunas dos NJ.
A função das normas supletivas é de suprir a lacuna do NJ. O
problema é que as normas supletivas não são suficientes para todas
as lacunas do NJ e, na falta destas, a lacuna deve ser integrada de
harmonia com a vontade que as partes teriam tido se houvessem

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previsto o ponto omisso (de acordo com a vontade hipotética ou


conjetural das partes), ou de acordo com os ditames da boa fé,
quando outra seja a solução por eles imposta.

AS DIVERGENCIAS ENTRE A VONTADE E A


DECLARAÇÃO
Divergência entre o lado interno e externo da declaração negocial.
( DIVERGÊNCIA ENTRE DECLARAÇÃO NEGOCIAL E VONTADE )

Existem três divergência INTENCIONAIS e três divergências


NÃO INTENCIONAIS.

Divergências intencionais são:


 Simulação (arts.240º a 243º)
 Reserva mental (art.244º)
 Declarações não sérias (art.245º)
Divergências não intencionais:
 Falta de consciência da declaração (art.246º)
 Coação física (art.246º)
 Erro na declaração ou erro obstáculo (arts.247º a 250º)—queria
comprar x mas acabo por declarar que quero comprar y ou
compro y

AS DIVERGENCIAS INTENCIONAIS:
A SIMULAÇÃO
No art.240º, nº1 encontram-se os elementos integradores do
conceito de simulação:
a) Intencionalidade da divergência entre a vontade e a
declaração;

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b) Acordo simulatório entre o declarante e o declaratário;


c) Intuito de enganar terceiros

MODALIDADES DA SIMULAÇÃO
Uma primeira distinção a fazer-se é entre:
Esta distinção está aludida no art.242º, nº1, in fine.

1. SIMULAÇÃO FRAUDULENTA
a simulação é fraudulenta se houver o intuito de prejudicar
terceiros ilicitamente ou de contornar qualquer norma legal.

2. SIMULAÇÃO INOCENTE
A simulação é inocente se houve o mero intuito de enganar
terceiros sem os prejudicar,

2ª distinção:
1. SIMULAÇAO ABSOLUTA
as partes fingem celebrar um NJ e na realidade não querem nenhum
NJ. Há apenas um negócio simulado e, por detrás dele, nada mais.

2. SIMULAÇAO RELATIVA
Na simulação relativa as partes fingem celebrar um certo NJ e na
realidade querem outro NJ de tipo ou conteúdo diverso. Neste caso,
por detrás do negócio simulado (aparente) há um negócio
dissimulado (o negócio real).

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O negócio simulado é nulo e na simulação absoluta não há mais


nenhum problema. Porém,

PROBLEMA NA SIMULAÇAO RELATIVA

Na simulação relativa surge o problema do TRATAMENTO A DAR AO


NEGÓCIO DISSIMULADO que fica a descoberto com a nulidade do
negócio simulado.

p.ex. imaginemos que A tem uma dívida de 10,000.00€,


consequentemente, credores dessa divida e possui, no seu
património, um automóvel clássico no valor de mercado de
20,000.00€. A tem um gosto enorme pelo automóvel e, por isso,
não o quer perder. A combina com B, seu familiar em que
confia, e diz-lhe que lhe vai fazer uma declaração de venda do
automóvel e ele terá de declarar que compra, mas isto é
apenas para fingirem o NJ de transmissão da propriedade e
posteriormente B tinha que registar – isto para que os credores
de A não lhe pudessem penhorar judicialmente o automóvel.

EFEITOS DA SIMULAÇÃO RELATIVA


A simulação importa a nulidade do negócio simulado (art.240º,
nº2). Neste caso, só os interesses de terceiros de boa fé que tenham
confiado na validade do negócio simulado exigem ponderação, mas o
tratamento daqueles interesses não exige mais do que a
inoponibilidade em relação aos seus titulares (art.243º).
Nos termos do art.286º qualquer interessado pode invocar a
nulidade do NJ e o tribunal pode declará-la oficiosamente.
 A invalidade dos NJ simulados pode ser invocada a todo o
tempo quer o negócio não esteja cumprida quer tinha havido lugar o
cumprimento.

PROPRIOS SIMULADORES PODEM ARGUIR NULIDADE DA SIMULAÇAO

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No art.242º prevê-se o reconhecimento aos próprios simuladores


da legitimidade para arguir a nulidade do ato simulado, ainda que a
simulação seja fraudulenta.

MODALIDADES DA SIMULAÇÃO RELATIVA


No art.241º encontra-se a simulação relativa. Segundo este artigo,
quando sob o negócio simulado exista um outro que as partes
quiseram realizar é aplicável ao negocio dissimulado o regime
que lhe corresponderia se fosse concluído sem dissimulação,
não sendo a sua validade prejudicada pela nulidade do negócio
simulado.
Ora, a simulação relativa pode ser objetiva ou subjetiva:
A SIMULAÇAO RELATIVA PODE SER :
 1. Simulação relativa objetiva: surge quando estamos
perante uma simulação sobre a conteúdo do negócio
p.ex. Imaginemos que A casada tem uma relação
extraconjugal e quer dar o automóvel clássico a B seu
amante. Se a A doar a B a lei diz que a doação é nula
(art.953º e 2196º) e, por isso, A simula vender o
automóvel a B. Neste caso, existe um negócio simulado e
um segundo negócio que as partes quiseram esconder (a
doação) – estamos perante uma simulação relativa
objetiva sobre a natureza do negócio nos termos do
art.241º, nº1 e, nos termos desse artigo, o negócio
simulado é nulo e o negócio dissimulado também é nulo
nos termos do arts.953º e 2196º.

A simulação objetiva ou sobre o conteúdo do NJ pode ser:


o Simulação de valor

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p.ex. imaginemos que A quer vender por


20,000.00€ o carro a B. B compra pelo valor de
20,000.00€ mas apenas declaram 10,000.00€.
o Simulação sobre a natureza do negócio
p.ex. finge-se uma venda e quer-se uma doação

 2. Simulação relativa subjetiva: surge quando perante uma


interposição fictícia de pessoa.  recorre se a isto para
contornar uma norma legal

p.ex. imaginemos que A e B (amantes) tem um amigo, C,


em que confiam. Para não haver a simulação entre A e B,
A doa a C para que C doe a B. Neste caso, temos dois
negócios simulados A-C C-B, na realidade A doou a B.
Continua a ser uma simulação relativa subjetiva por
interposição fictícia de pessoa (C).

EFEITOS DA SIMULAÇÃO RELATIVA


No art.242º encontra-se prevista a legitimidade para arguir a
simulação.
têm legitimidade para arguir a nulidade do negócio simulado:
1. os próprios simuladores entre si (ainda que a simulação seja
fraudulenta)
2. e os herdeiros legitimários que pretendem agir em vida do autor da
sucessão contra os negócios por ele simuladamente feitos com o
intuito de os prejudicar.
Este artigo deve ser articulado com o art.286º.

No art.243º encontra-se a terceira exceção ao princípio do nemo plus


iuris:

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Caso seja arguida a simulação pelos próprios simuladores , a nulidade


do negocio não é inoponivel ao terceiro de boa fe , para o qual
mantem-se valido o negocio e continua com o bem que adquiriu
mesmo que tenha sido fruto de um negocio que era anteriormente
invalido .
Segundo este artigo, a nulidade proveniente da simulação não pode
ser arguida pelo simulador contra terceiro de boa fé.
p.ex. A casada tem uma relação extraconjugal e quer dar o
automóvel clássico a B seu amante. Se a A doar a B a lei diz que
a doação é nula (art.953º e 2196º) e, por isso, A simula vender
o automóvel a B. A faz uma doa á sua amente B o carro. Finge
vender, mas na verdade doa. Posteriormente, A e B zangam-se
e por isso B vende a C o automóvel. C não sabe que B adquiriu
de A e não sabe da relação extraconjugal e está de boa fé.

No art.241º, nº1 encontra-se prevista a simulação relativa e, neste


caso, temos uma dupla situação: temos um negócio simulado e outro
negócio dissimulado (o negócio que as partes querem realmente
realizar).
NEGóCIO SIMULADO
Em primeiro lugar, temos que atentar que o negócio simulado é nulo
(art.240º, nº2).

NEGOCIO DISSIMULADO ( o que queriam na realidade celebrar)


Quanto ao negócio dissimulado temos que olhar para ele como se
ele tivesse sido realizado ás claras e por isso temos de
verificar se os pressupostos legais de validade, ou seja, se os
elementos essenciais do NJ correspondem às exigências da lei.
É conforme à lei? é valido. Não é conforme? é inválido.
p.ex. A quer doar um relógio valioso a B mas não quer que a
sua família fique contra ele por esta doação, combina com B a
venda do negócio.

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Ora, aqui temos uma venda simulada. Simulação relativa,


objetiva sobre a natureza do negócio, mas que tem uma
solução enquadrada unicamente no nº1 do art.241º. É valida a
doação? Depende!
A doação do relógio não está sujeita a forma
O nº2 do art.241º diz que se o negócio dissimulado for de natureza
formal, só é valida se tiver sido observada a forma legal exigida.
Imaginemos que estamos perante um negócio simulado, a venda, é
nula. Quanto á doação, o negócio dissimulado, aplicamos a este
negócio o regime que seria aplicado se ele não tivesse sido realizado
de uma forma oculta, ou seja, o negócio dissimulado tem que
respeitar a forma sob pena de nulidade. O negócio dissimulado formal
deve obedecer á forma que a lei prevê – esta é a interpretação do
prof. Horster.
Para o prof. Pinto Monteiro, se o negócio dissimulado tiver natureza
formal e a forma desse negócio tiver sido observada no negócio
simulado aproveita-se a forma do negócio dissimulado para a forma
do negócio dissimulado. O aproveitamento da forma só pode
acontecer se não houver nenhum vício se não o vício de forma.
A legitimidade para arguir a simulação encontra-se prevista no
art.242º.

PROVA DA SIMULAÇÃO – quando vao arguir a simulação


Por terceiros:
A prova do acordo simulatório e do NJ dissimulado por terceiros é livre
podendo ser feita por qualquer um dos meios previstos na lei.
Pelos simuladores:
Quanto à prova da simulação pelos próprios simuladores a lei
estabelece que não é admissível o recurso à prova testemunhal e,
consequentemente, também estão excluídas as presunções judiciais
(art.351º).
Só pode ser provado através de confissão ou prova documental

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RESERVA MENTAL
Encontra-se prevista no art.244º. Na reserva mental o declarante
emite uma declaração não coincidente com a sua vontade real, sem
qualquer conluio com o declaratário, visando precisamente enganar
este.
p.ex. A declara a B fazer-lhe uma doação ou um empréstimo
sem que na realidade tenha essa intenção, pois visa dissuadir B
do suicídio, que este, em virtude da sua situação económica,
afirma ter em mente.
Nos termos do art.244º, nº2 a declaração negocial emitida pelo
declarante, com reserva, ocultada ao declaratário, não é, em
princípio, nula. Deixará de ser assim, ou seja, o negócio é nulo se o
declaratário tiver conhecimento da reserva.

DECLARANÇÃO NÃO SÉRIA


Prevista no art.245º. Na declaração não séria o declarante emite uma
declaração não coincidente com a sua vontade real, mas sem o
intuído de enganar qualquer outra pessoa. Neste caso, o autor da
declaração está convencido de que o declaratário se apercebe do
carater não sério da declaração.
Em princípio, a declaração carece de qualquer efeito (art.245º). Se o
declaratário conhecia a falta de seriedade da declaração ou ela era
exteriormente percetível parece nem chegar a haver uma verdadeira
declaração negocial.

AS DIVERGÊNCIAS NÃO
INTENCIONAIS:
1. COAÇÃO

COAÇÃO FÍSICA OU COAÇÃO ABSOLUTA (art.246º)


Coação física

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Na coação física ou coação absoluta o coagido tem a liberdade de


ação totalmente excluída,
A coação física importa, à luz do art.246º, a ineficácia da declaração
negocial. Não há qualquer dever de indemnização ao cargo do
“declarante”.

Coação moral
enquanto na coação moral a liberdade está cerceada, mas não
está excluída (o coato pode optar por outro comportamento, como
sofrer o mal ou combatê-lo).

2. FALTA DE CONSCIÊNCIA NA DECLARAÇÃO (art.246º)


Estatui-se que o negócio não produz qualquer feito, mesmo que a
falta de consciência da declaração não seja conhecida ou cognoscível
do declaratário. Trata-se de um caso de nulidade, salvo na hipótese
de falta de vontade da ação onde estamos perante um caso de
inexistência da declaração.

3. ERRO NA DECLARAÇÃO OU ERRO OBSTÁCULO


(arts.247º a 250º)
No erro-obstáculo, há uma divergência inconsciente entre a
vontade e a declaração, mas há um comportamento
declarativo do errante.
O erro-obstáculo surge quando há um desvio na vontade de ação
(um erro mecânico) ou um desvio na vontade negocial (erro de
juízo).

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Nestas hipóteses, o declarante tem a consciência de emitir uma


declaração negocial, mas, por lapso, não se apercebe de que
a declaração tem um conteúdo diferente da sua vontade real.
Por isso, fala-se para estes casos de um “erro sobre o conteúdo da
declaração”.

O declarante quer emitir uma declaração negocial


mas por lapso percebe que o que resultou na
declaração não correspondia a sua vontade real

Por exemplo A compra. B um terreno que tem uma nascente e parece


lhe que a nascente tem um bom caudal , contudo depois A repara que
não tem assim um caudal tao forte e pretende anular o negocio
Estamos perante um erro na declaração na medida em que A queria
comprar efetivamente o terreno mas só que verifica -se uma
divergência entre a vontade real e a vontade hipotética , ou seja ele
enganou-se
Pois ele queria comprar o terreno isso é certo mas queria comprar um
que tivesse o caudal grande e não aconteceu
Por isso existe um erro na declaração que não resultou nem exprimiu
a real vontade do declarante .
Assim segundo o art 247 o negocio é anulável , se o declarante provar
que o declaratario conhecia ou não devesse ignorar a essencialidade
sobre o que incidiu o erro .
O erro é essencial pois incide em algo que foi determinante da
vontade , isto é se A soubesse que o caudal era fraco demais não
teria emitido aquela declaração de vontade.

O princípio regulador desta hipótese consta no art.247º exigindo-


se para a anulação do negócio que o “declaratário conhecesse
ou não devesse ignorar a essencialidade, para o declarante,
do elemento sobre que incidiu o erro”.

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p.ex. A queria comprar o prédio onde nasceu (nº10) e compra-o


a B. Na verdade, o prédio que A comprou é o nº20 e, por isso, o
comprador (A) poderá anular o negócio desde que prove que o
vendedor conhecia ou não devia ignorar que só interessava ao
outro contraente o prédio onde nasceu.

Nesta situação, parece não ser razoável facultar ao comprador


a anulação só porque prova eu a casa comprada não é a casa
onde nasceu e que o vendedor conhecia ou não devia de
ignorar o motivo que o levou a fazer a compra. Devia exigir-se
ao errante a prova de que o declaratário sabia ou devia saber
que a casa vendida não era a do seu nascimento.

Reação do declaratario:
Nos casos em que a aplicação do art.247º lese com extrema injustiça
os interesses do declaratário, só se poderá obstar à anulação por
força do princípio do art.334º (abuso do direito de anular).
Existem, porém, certos casos especiais:
1. Se o declaratário se apercebeu do dissídio entre a vontade real
e a declarada e se conheceu a vontade real do declarante, o
negócio valerá de acordo com a vontade real (art.236º, nº2).
2. Se o declaratário conheceu, ou devia de ter conhecido, o
próprio erro, o regime aplicável é o da anulabilidade e não a
nulidade verdadeira e própria.
3. Se o declaratário aceitar o negócio como o declarante queria, o
negocio valida -se e já não é anulado (art.248º).
4. O erro de cálculo ou erro de escrita revelados no contexto da
declaração não dão lugar à anulabilidade do negócio apenas à sua
ratificação (art.249º).

5. Se o declaratário compreendeu um terceiro sentido que não


coincide com o querido do declarante, nem com o declarado.

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p.ex. o contrato consta de um documento, assinado por


ambas as partes, onde o preço está objetivamente cifrado
em dólares dos EUA; o vendedor entende-o, porém, em
dólares canadianos e o comprador em dólares de Hong
Kong.
Nestes casos, o art.247º não pode permitir a anulabilidade pois
o destinatário da declaração pode não saber nem dever saber
do erro. O negócio deve, todavia, ser anulado pois nada justifica
faze-lo valer como um sentido objetivo em que nenhuma das
partes confiou.

ERRO NA TRANSMISSÇÃO DA DECLARAÇÃO (art.250º)


O erro na transmissão da declaração não tem relevância autónoma
visto que a sua disciplina é a mesma do erro-obstáculo.
Desencadeará apenas o efeito anulatório nos termos do art.247º.
Há, porém, uma exceção a este regime prevista no nº2 do art.250º:
admite-se a anulação sempre que o intermediário emite
intencionalmente (com dolo) uma declaração diversa da vontade do
dominus negotti. O declarante suporta o risco de transmissão
defeituosa, de uma deturpação ocorrida enquanto a declaração não
chega à esfera do declaratário; uma adulteração dolosa deve
considerar-se como extravasando o círculo normal de risco a cargo do
declarante.

28 de novembro de 2020

VICÍOS DA VONTADE
1. ERRO-VÍCIO: art.251º e 252º.
O erro-vício traduz-se numa representação inexata ou na ignorância
de uma qualquer circunstância de facto ou de direito quer foi
determinante na decisão de efetuar o negócio.

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Se estivesse esclarecido acerca dessa circunstância o


declarante não teria realizado qualquer negócio ou não teria
realizado o negócio nos termos em que o celebrou.
ELE SO TEVE AQUELA VONTADE PORQUE ACHOU QUE CERTA COISA
ERA DE CERTA FORMA, MAS DEPOIS VE QUE NÃO É BEM ASSIM
Trata-se de um erro nos motivos determinantes da
vontade.

É um erro na formação da vontade, do elemento interno da


declaração, que leva a que a vontade se forme de uma maneira
que não se formaria se não fosse afetada por esse erro.

SITUAÇOES EM QUE O ERRO É RELEVANTE E MOTIVO DE


ANULABILIDADE?
A doutrina, com base na lei, considera que o erro é um engano, e
para poder ter relevância jurídica, para poder ser causa de
anulabilidade, tem de ser:

1. Essencial: é essencial o erro que levou o errante a


celebrar o negócio em si mesmo e não nos termos em que ele foi
concluído. O erro essencial é o erro determinante e que induziu
o declarante em erro
 Se não fosse o erro, não teria celebrado o negócio ou se
celebrasse celebrava um outro negócio outra pessoa.
 Isto vale para o erro sobre o objeto, para o erro sobre a
pessoa, e para o erro sobre os motivos.

2. Próprio: é aquele que não incide sobre qualquer


requisito/elemento/condição de relevância/de validade do negócio.

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 NÃO INCIDE SOBRE A VALIDADE E FORMA DO


NEGóCIO
 MAS SIM SOBRE CARACTERISTICAS DO NEGóCIO
p.ex. se alguém errar sobre a forma do negócio, não
pode invocar a anulabilidade do negócio com fundamento
no erro. Nestes casos, diz-se que o erro é impróprio.
Estas são as condições gerais de relevância do erro e na lei
encontramos as condições especiais de relevância do erro, que
variam conforme a modalidade do erro.

ATENÇAO: o erro-vício é um erro na formação da


vontade pelo que o erro-obstáculo ou erro na
declaração é um erro na formulação da vontade.

p.ex. o erro sobre a pessoa ou objeto tem uma condição


especial prevista no art.247º, ou seja, para o negócio ser
anulável o declaratário tem de conhecer ou não deve ignorar a
essencialidade, para o declarante, do elemento sobre que
incidiu o erro. Assim, o erro sobre a pessoa ou objeto do
art.251º, só é anulável se se verificar esta condição do art.247º.
p.ex. Imaginemos que alguém quer contratar alguém para um
cargo de engenheiro informática, bastando a licenciatura. O
candidato tem um curso em informática, mas não é uma
licenciatura em engenharia informática, ou seja, não é
engenheiro. Sucede que o entrevistador se convence que o
candidato é engenheiro informático, porque no anúncio que ele
publicitou estava dito que era preciso um engenheiro
informático e, então, na entrevista o entrevistador não lhe
perguntou se ele tinha a licenciatura em engenharia informática
porque partiu do princípio que sim. Assim sendo, o empregador
contratou o candidato. O trabalhador fez o contrato e começou
a trabalhar e o patrão diz que falta o currículo e pede-lhe que o
envie para os recursos humanos. Quando o empregador vê que

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o trabalhador não é engenheiro vê que se equivocou à cerca da


pessoa do declaratário.

Equivocou a cerca das características do declaratario pois


pensava que ele era engenheiro

Portanto, há um erro sobre a pessoa do declaratário, que no caso é o


trabalhador. Este erro pode ser sobre a identidade ou sobre as
qualidades do declaratário, e neste caso, é sobre as qualidades do
declaratário. Este erro tem de ser essencial e próprio e tem de
obedecer ao requisito do art. 247º CC. O erro é próprio e essencial e
agora falta ver se obedece ao art. 247º CC. O trabalhador sabia que
era essencial ter uma licenciatura em engenharia informática porque
estava expresso no anúncio, mas candidatou-se na mesma. Portanto,
o empregador pode anular o contrato de trabalho com fundamento
em erro-vicio sobre as qualidades do declaratário.
Temos 4 tipos de erro:

 Erro sobre o objeto (art. 251º)


Pode incidir sobre o objeto mediato (identidade ou qualidades) ou
sobre o objeto imediato (natureza do negócio). O negócio será
anulável nos termos previstos no art.247º para o erro-obstáculo, isto
é, “desde que o declaratário conhecesse ou não devesse ignorar a
essencialidade, para o declarante, do elemento sobre que incidiu o
erro”.
 Erro sobre a pessoa (art. 251º)

Pode incidir sobre a identidade da pessoa ou sobre as suas


qualidades. Cabe-lhe o regime correspondente no art.247º do erro na
declaração.

 Erro sobre os motivos (art. 252º nº1)

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Este erro não se refere à pessoa do declaratário nem ao objeto do


negócio, trata-se de um erro acerca da causa. Tudo o que é erro
que não seja do objeto ou da pessoa cai neste erro sobre os motivos.
Portanto, este erro é residual. Nos termos do art.252º, nº1, o erro
sobre os motivos só é causa de anulação se as partes houverem
reconhecido por acordo a essencialidade do motivo. Portanto, este
erro que seja essencial e próprio, para ser anulável, tem ainda de se
verificar o acordo sobre a essencialidade do motivo. Sem este acordo
o negócio é válido – erro vício residual na medida em que aqui cabem
todas as situações de erro-vicio com exceção das previstas no
art.151º e no art252º, nº2.

5 de dezembro de 2020

Erro sobre a base do negócio (art. 252º nº2)


Se o erro recair sobre as circunstâncias que constituem a base do
negócio, é aplicável ao erro do declarante o disposto sobre a
resolução ou modificação do contrato por alteração das
circunstâncias vigentes no momento em que o negócio foi concluído,
ou seja, circunstâncias passadas ou contemporâneas da base

do negócio – remeter para o art.437º, nº1 in fine. Consequência

é a anulabilidade.
Coisas que podem se alterar , desde o momento da pratica do
negocio e depois para diante
p.ex. a crise financeira de 2008
p.ex. uma decisão da CM sobre um PDM que tem influência na
distribuição das zonas numa determinada área. Se uma pessoa
quiser vender um terreno vai a CM e pergunta qual é a viabilidade
de construção daquele terreno. Pode existir um negócio baseado
numa representação das partes de que naquele local é possível

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construir edifícios para a habitação porque é essa a previsão do


PDM. Se este NJ for edificado, com base na ideia de ambas as
partes que é possível fazer construção em altura, este terreno
valerá muito mais do que p.ex. um terreno para a agricultura. Pode
acontecer que, posteriormente, a CM tinha previsto que naquele
local ia ser edificado um nó da autoestrada. Com isto, a parte
lesada (o comprador) poderá resolver o contrato.
O art.437º, nº1 in fine aplica-se ao erro diz-nos que se as
circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de
contratar tiverem sofrido uma alteração anormal e posterior à
celebração do NJ, tem a parte lesada direito à resolução do
contrato ou à modificação, desde que a exigência das
obrigações por ela assumidas afete gravemente os princípios
da boa fé e não esteja coberta pelos riscos próprios do
contrato (estes pressupostos são subjetivos e terão que ser
analisados pelo tribunal.

Aqui, as partes celebram o NJ na pressuposição de que a base


do NJ não irá sofrer uma alteração e, por isso, fazem o negócio a
prever uma estabilidade uma manutenção de um certo estado de
coisas. Aqui a consequência será resolução do contrato ou a
sua modificação.

p.ex. “Coronation cases”


p.ex. Imaginemos que A tem um terreno para venda e estando
localizado numa zona onde era possível edificar ele estava
convencido que era possível. Pôs o terreno à venda por um
valor aceitável. É contactado por B que lhe diz expressamente
que quer comprar o terreno para fazer um edifício com maior
número de andares. O preço fixado e elevadíssimo, mas o
comprador esta convencido que pode comprar o terreno

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baseando a sua decisão na ideia de que irá conseguir


rentabilizar o investimento.
O vendedor quer naturalmente tirar o maior lucro possível e
sabe que ira conseguir vender por aquele preço porque tem a
convicção de que o destino do bem é a edificação urbana.
Imaginemos que celebram o NJ, o montante é pago. Após a
celebração do NJ o comprador submete a CM um pedido de
contração do edifício. A CM rejeita o pedido dizendo que
naquele local não é possível fazer construção urbana desde à 5
anos pois é uma zona verde.
Aqui verificou-se um erro sobre a circunstância de naquele
terreno fazer uma edificação urbana e este é um erro comum
porque quer o comprador quer o vendedor basearam o NJ no
facto de, para eles, ser possível edificar. Havendo um erro como
B não conseguirá construir o prédio pretende de A desfaça o
negócio. Neste caso, aplicamos o regime do art.252º, nº2.

2. DOLO (art.253º e 254º)


O dolo existe quando se verifique o emprego de qualquer sugestão ou
artificio com a intenção de induzir em erro o autor da declaração,
art.253º. Temos uma atuação dolosa através da indução em erro, mas
também podemos ter uma atuação dolosa através de uma
manutenção em erro.
 Dolus bonus e dolus malus
O dolo pode ser positivo ou negativo. O dolo negativo, dolus malus é
o único que é relevante, como fundamento de anulabilidade e de
responsabilidade.
No art.252º, nº2 temos o dolo lícito ou dolus bonus. São sugestões
consideradas normais no comércio jurídico, são aquelas situações em
o comprador diligente não acredita piamente nelas.

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 Dolo inocente e dolo fraudulento


No dolo inocente há um mero intuito enganatório, enquanto que no
dolo fraudulento há o intuito ou a consciência de prejudicar.

CONDIÇÕES DE RELEVÂNCIA DO DOLO DO DECLARATÁRIO COMO


MOTIVO DE ANULAÇÃO
o Deve tratar-se de um dolus malus, art.253º nº2
o Deve ser essencial ou determinante
o Existência no deceptor da intenção ou consciência de induzir ou
manter em erro
o Não é necessário que o dolo seja unilateral, isto é, o próprio
dolo bilateral ou recíproco pode ser invocado como fundamento
de anulação.

CONDIÇÕES DE RELEVANCIA DO DOLO DE TERCIERO encontra-se


previsto no art.254º, nº2 e, para além dos requisitos anteriores, há
que fazer a seguinte distinção:

o Se o declaratário conheceu ou lhe foi cognoscível o dolo de


terceiro o negócio será totalmente anulável.
o Se o declaratário não conheceu nem devia de conhecer o dolo
de terceiro o negócio só será anulável se ao terceiro deceptor
adveio por força do negócio algum direito.

1. COAÇÃO MORAL (art.255º)


Encontra-se no art.255º, nº1 e consiste “no receio de um mal de que
o declarante foi ilicitamente ameaçado com o fim de obter a
declaração”. Há uma vontade perturbada por uma ameaça ilícita. Na
coação moral ou relativa a pessoa que é coagida tem medo, mas
ainda pode escolher entre sujeitar-se à coação ou celebrar o
NJ. Não basta um simples medo ou receio e, por isso, a lei exclui o
“temor reverencial” (art.255º, nº2).
A coação tem que ser essencial para ser relevante como motivo e
tem que haver uma ilicitude da ameaça. Para além disso, é

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necessário haver uma intenção de extorquir a declaração. Nos termos


do art.256º, verificando-se os três pressupostos acima enunciados, a
declaração é anulável (arts.287º e 227º).
Uma vez que cesse a ameaça o coagido poderá requerer a anulação
do negócio.

15 de dezembro de 2020
2. ESTADO DE NECESSIDADE (art.282º)
Os negócios usurários são regulados especialmente nos art.282º e
283º. O estado de necessidade é uma perturbação da vontade
que consiste numa situação de receio ou temor gerada por um
grave perigo que determina o necessitado a celebrar um
negócio para superar o perigo em que se encontra.

Pode haver confusão entre o estado de necessidade ocasionado por


facto humano e a coação moral (arts.255º e 256º). Estamos perante
o estado de necessidade quando a situação de perigo não for criada
com a intenção de extorquir um negócio (falta a intenção de
coagir).
A diferença entre o estado de necessidade e a coação moral
é que no estado de a situação de fragilidade em que a pessoa se
encontra não é criada por quem explora a situação, ainda que
decorra de facto humano não é uma situação causada por aquele
que se aproveita da situação. Por outro lado, na coação moral há
uma ameaça que constitui um mal de que o coagido receia, mas
essa ameaça visa obter do coagido a declaração, portanto, o coator
No art.292º temos requisitos objetivos e subjetivos para que numa
situação enquadrável neste artigo possa ser anulável.

REQUISITOS SUBJETIVOS E OBJETIVOS


É preciso que alguém explore, aproveitando-se da situação mais
frágil de outrem, para obter para si ou terceiro (requisito subjetivo)
a promessa ou a concessão de benefícios excessivos ou injustificados
(requisitos objetivos). Estes negócios são anuláveis, nos termos do

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art.282º, nº1. Mas a lei permite a modificação do negócio em lugar da


anulação, conforme o art.283º. A modificação mantém o negócio,
apenas altera os termos do negócio. Pode acontecer que uma pessoa
se encontre em estado de necessidade e não possamos aplicar o
regime do art.282º.
p.ex. Uma pessoa precisa de vender a sua casa que vale 1
milhão, porque vai emigrar, mas nos tempos que correm não é
fácil devido à crise. É razoável que quando uma pessoa quer
vender alguma coisa com muita pressa aconteça que a pessoa
baixe o preço porque não é uma altura boa. Portanto, se alguém
põe à venda uma casa de 1 milhão por 600.000€ e põe uma
condição que para que esse negócio seja por aquele preço tem
de ser feito nas próximas 48h, isto é um negócio usurário? Não,
porque neste caso não há benefícios excessivos ou
injustificados.
(Remeter para os arts. 282º e 283º CC no fim dos vícios da vontade)
Tem-se entendido que estes negócios usurários cuja consequência é a
anulabilidade ou, consoante o necessitado entender, a modificação
segundo juízos de equidade pode haver uma terceira via, que é a
aplicação do regime do art.280º e 281º na medida em que há
negócios que são nulos por serem contrários à ordem pública ou
ofensivo dos bons costumes. Este art.280º, nº2 pode-se aplicar numa
situação de estado de necessidade nas situações em que esta é de tal
ordem condenável do ponto de vista dos bons costumes e da ordem
publica que não basta que o negócio seja modificado ou anulável, o
negócio deve também poder ser nulo porque está em causa a
celebração de um negócio que ofende os bons costumes.
p.ex. sempre que a pessoa se aproveita do estado de
necessidade tem o dever jurídico de prestar auxílio,
p.ex. porque fez um contrato ou resulta da própria lei, é o caso
dos médicos, um medico que ajude um toxicodependente a
enfrentar o seu problema convence ou propõe ao
toxicodependente, que sabe ser uma pessoa com várias

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pinturas muito valiosas, que lhe compra uma pintura valiosa por
um valor 5 vezes inferior ao valor que o quadro vale na
realidade. O médico sabe que o toxicodependente vai aceitar tal
negócio de forma descuidada e por qualquer preço porque
precisa do dinheiro para comprar droga.
Neste caso, a ofensa aos bons costumes e à ordem pública está
na pessoa que está a aproveitar-se da situação do
toxicodependente pois essa pessoa por lei tem de ajudar e não
se aproveitar de tal situação, e neste caso o negócio será nulo e
aplicamos o art.280º, nº2 e o regime do art.86º.

3. INCAPACIDADE ACIDENTAL (art.257º)


A incapacidade acidental não se trata de uma situação permanente
do individuo, mas antes de um desvio no processo formativo da
vontade em relação às circunstâncias normais do seu
processo deliberativo.
Estes negócios são anuláveis desde que se verifique, para além da
incapacidade acidental, a notoriedade ou conhecimento da
perturbação psíquica.

REPRESENTAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (art.258º a


269º)
A representação traduz-se na prática de um ato jurídico em nome de
outrem, para na esfera desse outrem se produzirem os respetivos
efeitos.
O art.258º, contém quase tudo o que precisamos de saber sobre a
representação. Aqui falamos da representação voluntária na qual é
o representado com plena capacidade de gozo e exercício que pode
escolher que uma outra pessoa o represente. Portanto, esta
representação depende da vontade do representado, mas é claro que
o representante também tem de aceitar, isto é, tem que ratificar.
A representação é, de acordo com o art.258º, uma atuação em
nome de outrem, é a prática de atos jurídicos/negócios, jurídicos em
nome do representado. O representado pode escolher o
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representante para, em seu nome, celebrar um negócio. Para isto é


necessário que a atuação do representante seja conforme os limites
que lhe competem. Estes poderes são conferidos através de uma
procuração (art.262º) que tem de ter a forma escrita porque o
negócio que falamos é um negócio sujeito a forma. Se atuar com
abuso de representação aplica-se o art.268º.
Quando o representante atua sem poderes a sanção é a ineficácia do
negócio perante o representado, ou seja, não produz efeitos em
relação ao representado, mas produz em relação ao representante, a
não ser que o representado ratifique o negócio, conforme o art.268º,
nº1. A ratificação consiste numa aprovação posterior à celebração do
negócio, os poderes são conferidos depois do ato ser praticado,
acontece uma confirmação à posteriori. Isto é importante porque se o
representado ratificar o negócio é como se este tiver sido feito com
poderes, enquanto que a procuração atribui poderes antes da
celebração do ato.
O terceiro elemento da representação é que toda a atuação do
representante com poderes repercute-se na esfera jurídica do
representante, art.258º.
O regime do mandato com representação e sem representação
decorre dos art.1057º e ss.

OBJETO DO NEGÓCIO JURÍDICO


Em primeiro lugar é necessário distinguir:
 Objeto imediato ou conteúdo – efeitos jurídicos a que o negócio
tende.
 Objeto mediato ou objeto stricto sensu – consiste no quid sobre
que incidem os efeitos do negócio.
Os requisitos do objeto negocial estão formulados no art. 280º:
 Possibilidade física ou legal
 Não contrário à lei
 Determinável
 Não contrário à ordem pública

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 Conforme com os bons costumes

A não observância dos requisitos a que deve obedecer o objeto


negocial implica a nulidade do negócio jurídico. Esta consequência
terá lugar, independentemente de as partes conhecerem ou deverem
conhecer o vício que que padece o objeto negocial.
Também poderá ter lugar, verificados os requisitos do art.227º, a
responsabilidade civil pré-negocial da parte culpada (remeter para os
arts.286º e 227º).

ELEMENTOS ACIDENTAIS DOS NEGÓCIOS


JURÍDICOS
CONDIÇÃO (art.270º a 277º)

A condição é a subordinação pelas partes a um acontecimento futuro


e incerto, ou da produção dos efeitos do negócio (condição
suspensiva) ou da resolução dos efeitos do negócio (condição
resolutiva). A condição tem um regime especial na doação, art.967º
CC, e no testamento, art.2230º (remeter do 270º para 967º e 2230º).

TERMO (art.278º e 279º)

O termo é um prazo, é uma cláusula acessória típica pela qual a


existência ou a excitabilidade dos efeitos de um negócio são postas
na dependência de um acontecimento futuro, mas certo, de tal modo
que os efeitos só começam ou se tornam exercitáveis a partir de certo
momento.
O termo estabelece um prazo que pode ser inicial ou final, pode ser
suspensivo ou resolutivo, pode ser certo ou incerto.

MODO, ENCARGO OU CLÁUSULA MODAL (art.932º


e 2244º)
É uma cláusula acessória típica, pela qual, nas doações e
liberalidades testamentárias, o disponente impõe ao beneficiário da
liberalidade um encargo, isto é, a obrigação de adotar um certo

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comportamento no interesse do disponente, de terceiro ou do próprio


beneficiário.
No direito português, liberalidades são as doações (art.963º) ou as
disposições testamentárias (art.2224º). Portanto, o modo só pode ser
inserido nas doações e nas disposições testamentárias (remeter do
art.963º para o 2224º e vice-versa).

CLÁUSULA PENAL (art.810º e ss)


A cláusula penal é a estipulação em que as partes convencionam
antecipadamente uma determinada prestação, normalmente uma
quantia em dinheiro, que o devedor terá que satisfazer ao credor em
caso de não cumprimento, ou de não cumprimento perfeito da
obrigação. Pode revestir duas modalidades:
 Compensatória – situação de não cumprimento da obrigação
 Moratória – situação de mora do devedor
Pode ainda referir-se a uma hipótese de cumprimento defeituoso
da prestação.

CLÁUSULAS MILITATIVAS E DE EXCLUSÃO DE


RESPONSABILIDADE CIVIL
As cláusulas limitativas de responsabilidade são estipulações
através das quais os contraentes, no momento da celebração do
contrato – ou posteriormente – acordam em militar, de alguma forma,
a responsabilidade do devedor pelo não cumprimento, mora ou
cumprimento defeituoso
Só encontramos isto na lei no art.800º, nº2. A responsabilidade pode
ser limitada ou excluída em certas situações, mas não pode estar em
causa a violação de normas de interesse e ordem pública.
As cláusulas de exclusão de responsabilidade civil, em
princípio, são proibidas, nos termos do art.809º. Aqui o legislador
considera que em princípio, o credor não pode renunciar, exceto no

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caso do art.800º, nº2, antecipadamente a uma indemnização em caso


de mora, cumprimento defeituoso ou incumprimento definitivo.

O PROBLEMA DA PRESSUPOSIÇÃO OU DA
ALTERÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS QUE
FUNDARAM A DECISÃO DE CONTRATAR
A alteração das circunstâncias do negócio implica a não verificação
de uma circunstância pressupostos ou de uma presunção, sempre
que a evolução do circunstancialismo não foi considerada pelo
declarante.
As partes – ou apenas uma delas – tiveram como certa a verificação
de um dado acontecimento ou estado de coisas e, por isso,
contrataram. Se lhes ocorresse a possibilidade de falhar tal
circunstância pressuposta, não teriam contratado sem inserir p.ex.
uma cláusula condicional.
A alteração das circunstâncias deve, pois, ser uma alteração anormal
e com consequência tais que a exigência do cumprimento inalterado
implicaria, cumulativamente, uma ofensa ao princípio da boa fé e a
imposição de uma situação que não corresponderia aos riscos
próprios do contrato.
Verificados os requisitos do art.437º a parte lesada tem direito à
resolução do contrato ou à sua modificação segundo juízos de
equidade. Requerida a resolução a parte contraria também pode, nos
termos do art.437º, nº2, opor-se ao pedido desde que ceite a
recondução do conteúdo contratual aos termos correspondentes
àqueles juízos de equidade.
ATENÇÃO: Pode sair para comparar o erro com a alteração das
circunstâncias.

INEFICÁCIA E INVALIDADE DOS NEGÓCIOS


JURÍDICOS
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Como invalidades temos (art.285º e ss.):


 a nulidade: o negócio nulo não produz, desde o início, por força
da falta ou vício de um elemento interno ou formativo, os
efeitos que tendia.
 a anulabilidade: não obstante a falta dou vício de um
elemento interno ou formativo, produz os seus efeitos e é
tratado como válido, enquanto não for julgada procedente uma
ação de anulação. Quando a ação é julgada procedente os
efeitos do negócio são retroativamente destruídos.
Temos 4 formas de cessação dos efeitos do negócio para além da
invalidade:
1. Revogação
Tem como consequência a extinção dos efeitos do negócio para o
futuro (ex nunc), portanto, não opera retroativamente.
2. Resolução (art.433º e ss)
Declaração unilateral de uma parte à outra e que tem o efeito de
extinguir os efeitos do negócio, em regra, tem efeitos retroativos.
3. Denúncia
É uma declaração unilateral sem motivo em que uma das partes diz à
outra que o contrato entre elas cessará daqui a um determinado
período de tempo. É exigido um aviso prévio.
4. Caducidade
Quando o contrato cessa por razoes inerentes a ele próprio.
p.ex. um contrato de arrendamento por 5 anos, ao fim dos 5
anos o contrato caduca.

REDUÇÃO E CONVERSÃO (art.292º e 293º)


A redução acontece quando o NJ é válido numa parte e inválido
noutra parte. Nestas situações, aplica-se o critério da vontade
hipotética ou conjetural das partes, ou seja, terá que se averiguar
aquilo que as partes teriam querido provavelmente, se soubessem
que o negócio se opunha parcialmente a alguma disposição legal e

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não pudessem realiza-lo em termos de ser válido na sua


integralidade. Podem suceder duas coisas:
 Se se admitir que as partes, nessa hipótese, prefiram não
realizar o negócio deve concluir-se pela invalidade total.
 Se se concluir que as partes, provavelmente, sempre o teriam
realizado na parte não diretamente atingida pela
invalidade, deve haver lugar a uma redução do negócio.
A conversão acontece quando o negócio é declarado totalmente
nulo ou anulado. Trata-se de saber se, declarado nulo ou anulado
totalmente um negócio, este não produzirá quaisquer efeitos
negociais ou se, dados certos requisitos, não poderá reconstituir-se
com os materiais do negócio totalmente inválido um outro negócio,
cujo resultado final económico-jurídico se aproxime do tido em vista
pelas partes com a celebração do contrato totalmente inválido. Aqui
deve atender-se ao sentido da vontade das partes e às suas
representações sobre os interesses respetivos.

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