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Direito Administrativo II - Resumos

Direito Administrativo (Universidade Portucalense Infante D. Henrique)

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Direito Administrativo II

I. Princípios administrativos

1. Princípio da prossecução do interesse público

Consagrado no art. 256.º número 1 da Constituição e no art. 4.º do CPA.

A Administração Pública visa a prossecução do interesse público, que se define


como o conjunto de necessidades coletivas cuja satisfação compete à
coletividade, através de serviços que esta cria e mantém. O interesse público
primário consiste no conjunto de valores básicos inerentes ao conceito de
sociedade, indispensáveis para a prossecução do bem comum enquanto que o
interesse público secundário se configura como um conjunto de interesses
públicos secundários necessários para a concretização dos primários.

É importante não confundir o interesse público com o interesse coletivo. As


necessidades coletivas são inerentes a todos nós, como o vestir. Todas as
necessidades públicas são coletivas mas o inverso não se verifica. As
necessidades coletivas são públicas quando cabe à Administração Pública
satisfazê-las, como a saúde ou o abastecimento de água.

2. Princípio da boa administração

Consagrado no art. 267.º número 1 da Constituição e no art. 5.º do CPA.

Implicado pelo princípio anteriormente referido e em conformidade com os


princípios da desburocratização e da aproximação dos serviços às populações,
determina que a Administração Pública deve ser organizada de modo a
aproximar os seus serviços das populações que visa servir e deve funcionar
segundo critérios de eficiência, economicidade e celeridade, optando pelas
soluções mais eficientes do ponto de vista administrativo na prossecução do
interesse público.

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3. Princípio da legalidade

Consagrado no art. 266.º número 2 da Constituição e no art. 3.º do CPA.

Oriundo da Revolução Francesa e do Liberalismo, no Estado Liberal de Direito,


a lei era vista como limite da atividade administrativa. Na passagem para o
Estado Social de Direito, a lei passou também a ser fundamento e pressuposto
da atividade administrativa.

Atualmente não este princípio não se sujeita apenas a normas legais em sentido
estrito, a Administração Pública encontra-se sim sujeita a um bloco normativo
legal (sujeição ao Direito Internacional, ao Direito Europeu, etc) pelo que agora se
denomina princípio da juridicidade. A Administração tem assim de prosseguir
o interesse público em obediência à lei, esta é vista como pressuposto e limite
da Administração Pública pelo que os órgãos e agentes administrativos só
podem agir se houver uma lei prévia que os autorize, com fundamento na lei e
dentro dos limites estabelecidos pela mesma. Este princípio tem assim um
sentido negativo, sendo que a Administração não pode praticar atos contrários à
lei, e um sentido positivo, havendo necessidade de habilitação legal para os atos
da Administração Pública.

4. Princípio da discricionariedade administrativa

Decorrente do princípio da legalidade, de forma a entender este princípio importa


perceber os dois tipos de atos que podem decorrer do princípio da legalidade:
os vinculados e os discricionários.

Os atos vinculados são aqueles que têm todo o seu conteúdo fixado na lei pelo
que a norma jurídica que lhe dá fundamento não confere à Administração
qualquer margem de conformação, qualquer liberdade.

Os atos discricionários são aqueles que a Administração emana utilizando


poderes que o legislador lhe confere através do texto da lei, concedendo-lhe
portanto margem de liberdade conformativa. A discricionariedade não significa
uma escolha total de conteúdo do ato mas apenas aquela escolha que a lei
permite, mais ou menos ampla. Este poder não é inato, como todo o poder

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administrativo deriva da lei, existindo apenas quando a lei o confere e na medida


em que a lei o confere.

Mesmo perante uma norma jurídica que confere um poder discricionário bastante
amplo à Administração, há sempre dois momentos desse ato discricionário que
são vinculados: (1) o fim que a Administração visa prosseguir e (2) a competência
uma vez que o ato apenas poderá ser praticado por um órgão competente por
lei.

Exemplo de ato vinculado: Pedido de licenciamento para construção de uma


moradia é indeferido quando viola um pdm.

Exemplo de ato discricionário: Pedido de licenciamento de uma operação


urbanística pode ser indeferido quando essa operação urbanística afetar o
património paisagístico/histórico/cultural.

4.1. Atribuição do poder discricionário à Administração pela lei

Tradicionalmente havia duas formas de atribuição de discricionariedade:

a) Utilização, na redação da norma, do verbo <poder=.

b) Indicação de várias alternativas possíveis, cabendo à Administração


escolher de entre elas a que melhor prossiga o interesse público no caso
concreto.

Para além destas formas tradicionais encontramos atualmente uma terceira:

c) Utilização de conceitos indeterminados tipo.

Nem todos os conceitos indeterminados incluídos na redação de uma


norma jurídica são atributivos de discricionariedade pelo que é necessário
diferenciar entre conceitos indeterminados classificatórios e conceitos
indeterminados tipo. De uma forma geral os conceitos jurídicos são
integrados por uma zona central/nuclear e por uma zona
periférica/marginal. Se na zona central não se colocam quaisquer dúvidas
interpretativas ou de aplicação do conceito, tal já não é assim quanto à
zona periférica. Os conceitos indeterminados têm uma zona periférica

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muito ampla pelo que cabe ao aplicador do conceito concretizar o seu


sentido e alcance.

Os conceitos indeterminados classificatórios acarretam um grau de


imprecisão que se resolve em sede de interpretação jurídica pelo que não
atribuem discricionariedade administrativa. Podem revestir três
modalidades:

(1) conceitos descritivo-empíricos – conceitos cujo conteúdo se


determinará recorrendo à experiência comum ou a conhecimentos
científicos ou técnicos

Exemplos: <dia=, <noite=, <verão=, <inverno= ou <ameaça de ruína=

(2) conceitos jurídicos – conceitos encontrados na norma jurídica e cujo


conteúdo poderá ser preenchido com elevado grau de objetividade por um
jurista

Exemplos: <proprietário=, <terceiro de boa fé= ou <possuidor=

(3) conceitos definíveis por referência ao local ou ao tempo – conceitos


imprecisos que através dos usos ou costumes do lugar ou do momento
histórico em que são adotados podem ser preenchidos com um grau de
precisão que afasta o poder discricionário da Administração

Os conceitos indeterminados tipo, referentes a um difuso de situações da


vida que não podem ser preenchidos em sede de interpretação jurídica e
que determinam que a Administração realize juízos de valor da sua própria
responsabilidade são suscetíveis de atribuir poder discricionário. Podem
revestir três modalidades:

(1) juízos de valor – conceitos que demandam à Administração a


realização de juízos sobre aptidões pessoais ou de avaliação técnica
especializada

Exemplos: <jurista de reconhecido mérito= ou <boa aptidão física=

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(2) juízos de prognose – conceitos indeterminados utilizados pelo


legislador que conduzem a Administração a realizar uma avaliação de
circunstâncias futuras e por vezes incertas

Exemplos: <possível comprometimento do trânsito= ou <sobrecarga


incomportável=

(3) conceitos subjetivos – conceitos indeterminados que pela sua vaguidão

demonstram que o legislador pretendeu atribuir determinadas faculdades


à Administração

Exemplo: <urgência de serviço=

4.2. Controlo jurisdicional do poder discricionário

Os tribunais dispõem de um controlo atenuado da atividade administrativa


realizada ao abrigo de poderes discricionários. No entanto, quando se depare
com atos discricionários, o tribunal poderá sempre controlar os dois momentos
vinculativos do ato:

a) Poderá verificar se o interesse público é prosseguido. Se o mesmo não


for aquele que a título principal a Administração tentou dar cumprimento,
o ato encontrar-se-á minado por um vício de desvio de poder que poderá
determinar a sua ilegalidade, o que poderá gerar a nulidade do ato quando
se verifique que o mesmo tentou prosseguir interesses privados.

b) Poderá verificar a competência do órgão administrativo autor do ato.


Se o ato tiver sido pratico por um órgão desprovido de competência para
o efeito, o ato encontrar-se-á minado por um vício de incompetência, que
poderá ser relativa u absoluta consoante o órgão tenha extravasado as
suas próprias competências ou se tenha imiscuído nas atribuições de
diferente pcp à que pertence, o que determinará a sua anulabilidade ou
nulidade, respetivamente.

O controle jurisdicional poderá ainda ocorrer (1) quando se verifique uma violação
dos princípios jurídicos que norteiam a atividade administrativa ou (2) quando o
ato discricionário tiver sido praticado baseado em factos inexistentes, falsos ou

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fundados numa má avaliação da realidade. Nestas situações é lícito ao juiz


anular o ato discricionário.

É também possível ao juiz conduzir um controlo da proporcionalidade das


medidas adotadas, isto é, analisar se a medida adotada é a adequada ou a mais
adequada ao fim visado, a que à luz da necessidade se revela como a menos
onerosa e à luz da proporcionalidade em sentido estrito revela ter vantagens
superiores às desvantagens.

5. Princípio da justiça

Consagrado no art. 266.º número 2 da Constituição e no art. 8.º do CPA.

a) Princípio da igualdade

Consagrado no art. 266.º número 2 da Constituição e no art. 6.º do CPA.

Este princípio impõe uma proibição de discriminação e uma obrigação de


diferenciação, devendo ser tratado de forma igual o que é juridicamente
igual e de forma diferente o que for juridicamente diferente, na medida
dessa diferença.

b) Princípio da proporcionalidade

Consagrado no art. 266.º número 2 da Constituição e no art. 7.º do CPA.

Impõe que as medidas do poder público não podem exceder o


estritamente necessário para a realização do interesse público e exige
que tal se verifique em três dimensões: (1) adequação, o meio tem de ser
adequado ao fim; (2) necessidade, a medida tem de ser a que menos
lesione o interesse dos particulares; (3) proporcionalidade em sentido
estrito, os benefícios da medida do poder público devem ser superiores
aos custos.

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c) Princípio da boa fé

Consagrado no art. 266.º número 2 da Constituição e no art. 10.º do CPA.

Determina a tutela de situações de confiança entre a Administração e os


administrados e procura assegurar uma conformidade material entre a
conduta da Administração e aquelas que foram as expectativas criadas
nos administrados por conta das suas interações com a Administração.

Encontra-se ligado ao princípio da transparência, da proteção da


confiança e da materialidade que impõe à Administração que privilegie a
tutela de situações previsíveis.

6. Princípio da imparcialidade

Consagrado no art. 266.º número 2 da Constituição e no art. 9.º do CPA.

Determina que os órgãos e agentes administrativos devem atuar de forma


imparcial, de forma isenta e equidistante aos interesses em jogo.

Este princípio apresenta uma vertente negativa em que, e na sequência da qual,


existe uma série de impedimentos dos titulares dos órgãos para intervir em
procedimentos ou atos de escusa e suspeição, enumerados nos art. 69.º e 76.º.

7. Princípio da colaboração da Administração com os particulares

Consagrado no art. 268.º número 1 da Constituição e no art. 11.º do CPA.

Concretizado no direito à informação do art. 82.º, deriva deste princípio que a


Administração Pública deve colaborar com os particulares na sua atuação,
procurando que estes participem no exercício da função administrativa. Deve
desta forma prestar aos particulares todas as informações e esclarecimentos que
estes precisem e requeriam e ainda apoiar e estimular a iniciativa privada através
do recolhimento de informações e sugestões que os particulares tenham.

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8. Princípio da participação

Consagrado no art. 267.º número 5 da Constituição e no art. 12.º do CPA.

Concretiza-se no direito de audiência prévia, art. 121.º e seguintes.

9. Princípio da decisão

Consagrado no art. 13.º do CPA.

De acordo com este princípio a Administração Pública tem um dever de


pronuncia e um dever de decisão. (1) No que respeita ao dever de pronuncia, os
órgãos administrativos têm o dever de se pronunciar sobre todos os assuntos da
sua competência que lhes sejam apresentados por particulares, bem como sobre
quaisquer petições, representações, reclamações ou queixas apresentadas em
defesa da Constituição, da lei ou do interesse público. (2) No que respeita ao
dever de decisão, este não existe quando um órgão competente tenha, há menos
de 2 anos contados a partir da data da apresentação do requerimento, praticado
um ato administrativo sobre o mesmo pedido, formulado pelo mesmo particular
e com os mesmos fundamentos.

Para tal pronuncia tem o prazo de 60 dias, art. 128.º. Caso a Administração não
emita uma decisão no prazo estipulado, nos termos do art. 129.º o particular
pode usar os meios administrativos, art. 184.º e seguintes, e os meios
jurisdicionais, art. 66.º e seguintes do CPTA, adequados.

A regra aplicada é a da reação pelo que o deferimento tácito apenas se aplica


nos casos expressamente previstos na lei.

10. Princípio da gratuitidade

Consagrado no art. 15.º do CPA.

O procedimento administrativo é tendencionalmente gratuito na medida em que,


um particular que prove que não tem meios económicos suficientes para cobrir
os custos de uma decisão da Administração será, total ou parcialmente, isentado

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de tal pagamento de acordo com as disposições da Lei n.º 34/2004 de 29 de


julho, Lei de Apoio Judiciário.

11. Princípio da tutela jurisdicional efetiva

Consagrado no art. 268.º números 4 e 5 da Constituição e no art. 12.º do CPA.

Aos particulares é garantida a tutela dos seus direitos e interesses legalmente


protegidos, assim como formas de reação mais eficazes perante atos lesivos
praticados pela Administração Pública.

II. Procedimento administrativo

A atividade administrativa é uma atividade procedimental, não se esgota na


tomada de decisões e há sempre um procedimento a seguir. O art. 267.º número
5 da Constituição impõe a existência de uma lei especial para regular a atuação
da Administração, o chamado Código de Procedimento Administrativo, CPA.

Consagrado no art. 1.º, o procedimento administrativo define-se como uma


sucessão juridicamente ordenada de atos e formalidades relativos à formação e
execução da vontade administrativa pelos órgãos da Administração Pública.

Importa não confundir o procedimento administrativo com o processo


administrativo. O número 2 do art. 1.º define processo administrativo como o
conjunto de documentos em que se traduzem os atos e formalidades que
integram o procedimento.

1. Objetivos do procedimento administrativo

Resultam do art. 267.º da Constituição os seguintes objetivos da regulamentação


jurídica do procedimento:

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a) Disciplinar da melhor forma possível o desenvolvimento da atividade


administrativa, procurando assegurar a racionalização dos meios a utilizar pela
Administração, evitando a burocratização e aproximando os serviços das
populações. (princípio da eficiência e da boa administração)

b) Salvaguardar os interesses legítimos e os direitos subjetivos dos particulares,


impondo à Administração todas as cautelas para que eles sejam respeitados ou,
quando tenham de ser sacrificados, o sejam de forma legal e não excessiva.
(princípio da proporcionalidade e da legalidade)

c) Esclarecer o melhor possível a vontade da Administração de modo a que


sejam sempre tomadas decisões legais e adequadas à luz do dever da
Administração prosseguir da melhor forma o interesse público. (princípio da
legalidade e da boa administração)

d) Assegurar a participação dos interessados na formação das decisões que lhes


ligam respeito e possibilitar a discussão de opiniões entre estes e a
Administração, contribuindo assim para uma decisão ponderada e devidamente
discutida.

2. Importância do procedimento administrativo

a) Necessidade de a Administração resolver os assuntos num tempo razoável,


respeitando os prazos impostos por lei nos termos dos art. 13.º, 128.º e 129.º.

b) Direito de resposta dos cidadãos aos requerimentos que apresentem junto da


Administração num prazo previsto na lei. O art. 13.º número 2 configura uma
exceção a este dever de decisão.

c) Direito de audiência dos cidadãos sobre as matérias que lhes digam respeito,
especialmente se a decisão lhes for desfavorável nos termos do art. 121.º e
seguintes.

d) Direito dos cidadãos de que o procedimento decorra dentro de certas regras


claras e adequadas.

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3. Intervenientes e Legitimidade

Podem ser sujeitos do procedimento, nos termos do art. 65.º:

a) os órgãos de entidades públicas ou de entidades privadas no exercício de


funções administrativas/poderes públicos previstos no art. 2.º número 1

b) os particulares legitimados nos termos do art. 68.º número 1

c) as pessoas singulares e coletivas de direito privado em defesa de interesses


coletivos previstas no art. 68.º números 2 e 3

d) os órgãos que exerçam funções administrativas previstos no art. 68.º número


4

Têm legitimidade para desencadear o procedimento os interessados


enumerados ao longo do art. 68.º.

4. Princípios inerentes ao procedimento administrativo

a) Caráter documental, art. 64.º

Em regra, o procedimento tem forma escrita ou eletrónica.

b) Simplificação do formalismo e princípio da adequação, art. 56.º

Um procedimento administrativa é menos formalista que um procedimento


judicial pelo que a lei traça linhas gerais de atuação para a Administração e
determina quais as formalidades essenciais mas tudo o resto varia consoante o
caso e a circunstância.

c) Princípio do inquisitório, art. 58.º

A Administração é ativa, goza do direito de iniciativa para promover a satisfação


dos interesses públicos postos por lei a seu cargo e não está condicionada pela
posição do particular, não está limitada pelo que é invocado por este no
procedimento inicial.

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d) Princípio da desburocratização e eficiência, art. 5.º

A Administração deve organizar-se de forma a promover a utilização racional dos


meios que tem ao seu dispor, simplificando o mais possível o procedimento e a
sua relação com os particulares. Traduz-se assim na eficácia da ação, em evitar
a desburocratização, em assegurar a celeridade, em aproximar os serviços das
populações e atuar o mais economicamente possível. O legislador tem apostado
na administração eletrónica dos art. 14.º e 61.º-63.º e também nas conferências
procedimentais do art. 77.º (reuniões de conferência, audição dos interessados) para
promover a eficácia.

e) Princípio da colaboração da Administração com os particulares, art. 11.º

A Administração dever atuar em estreita colaboração com os particulares,


prestando-lhes todas as informações e esclarecimentos que estes necessitem e
requeiram. Quando a Administração não atua de acordo com este princípio, é
duvidoso que tal possa conduzir à invalidade total do procedimento mas é seguro
que leva à responsabilidade civil.

f) Direito à informação, art. 82.º-85.º do CPA e art. 268.º número 1 da


Constituição

Os particulares têm o direito de ser informados pela Administração sobre o


andamento dos processos em que sejam diretamente interessados sempre que
o requeiram. Assim, para que exista este direito à informação é apenas
necessário (1) que o particular seja diretamente interessado no processo e (2)
que requeira a informação à Administração.

O direito à informação procedimental subdivide-se em três dimensões, (1) no


direito à prestação de informações, (2) no direito à consulta do processo e (3) no
direito à passagem de certidões.

g) Princípio da administração aberta, art. 17.º número 1 do CPA e art. 268.º


número 2 da Constituição

Independentemente de estar em curso um procedimento em que o particular seja


diretamente interessado, todas as pessoas têm o direito de aceder aos arquivos

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e registos administrativos. A matéria do direito à informação não procedimental


encontra-se regulada na Lei da LADA, na Lei n.º 26/2016 de 22 de agosto.

h) Princípio da participação, art. 12.º do CPA e art. 267.º número 5 da


Constituição

A lei impõe aos órgãos administrativos o dever de assegurar a participação dos


particulares na formação de decisões que lhes digam respeito, designadamente
através da respetiva audiência. Este direito genérico de participação manifesta-
se sob várias formas, tais como o direito de audiência prévia dos interessados,
o direito que os interessados têm de colocar questões e prestar informações à
Administração e o ónus dos interessados durante a fase da instrução do
procedimento.

i) Princípio da decisão, art. 13.º

A Administração tem o dever de se pronunciar e de decidir sobre todas as


pretensões formuladas pelos particulares no prazo imposto pelo art. 128.º.

j) Princípio da gratuitidade, art. 15.º

Um particular que prove que não tem meios económicos suficientes para cobrir
os custos de uma decisão da Administração será, total ou parcialmente, isentado
de tal pagamento.

k) Princípio da proteção dos dados pessoais, art. 18.º do CPA e Lei n.º 67/98
de 26 de outubro

A importância crescente da informação detida pela Administração e a


necessidade de a mesma circular pelos diferentes serviços justificam uma
preocupação com a segurança dessa mesma informação, daí a referência
expressa a este princípio.

l) Princípio da cooperação leal com a União Europeia, art. 19.º

Deriva deste princípio de cooperação leal que, sempre que o Direito da União
Europeia imponha à Administração a obrigação de prestar informações,

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apresentar propostas ou colaborar com as Administrações Públicas de outros


Estados-membros, ela deve fazê-lo.

5. Deveres gerais dos interessados

De acordo com o art. 60.º, os interessados têm o dever de não formular


pretensões ilegais e de não articular factos que sejam contrários à verdade ou
requerer diligências contraditórias com o único propósito de atrasar o
procedimento. Têm também um dever de colaboração com os órgãos da
Administração de forma a fixar rigorosamente os pressupostos de decisão e a
obter decisões legais e justas.

6. Tipos de procedimento administrativo

a) de iniciativa própria/pública vs de iniciativa particular/privada

O procedimento de iniciativa própria é aquele que a Administração toma a


iniciativa de desencadear. O procedimento de iniciativa particular é aquele
que é desencadeado por iniciativa dos particulares.

Exemplos de iniciativa própria: procedimento expropriativo; procedimento


disciplinar no âmbito do funcionalismo público

Exemplo de iniciativa particular: procedimento de licenciamento, através de


requerimento à Administração para que seja licenciada determinada obra de
construção

b) decisório vs executório/executivo

O procedimento decisório é aquele que tem por objeto preparar a prática de


um ato da Administração. Pode ser de 1.º grau, quando incide pela primeira vez
sobre determinada situação da vida, ou de 2.º grau, quando incide sobre uma

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decisão administrativa anteriormente tomada. O procedimento executório é


aquele que tem por objeto executar um ato da Administração.

Exemplo decisório de 1.º grau: procedimento de licenciamento

Exemplo decisório de 2.º grau: revogação

Exemplo executório: procedimento pelo qual a Administração promove, pelos


seus próprios meios, a demolição de um prédio que ameaça ruína

c) administrativo comum vs administrativo especial

O procedimento administrativo comum é aquele que é regulado pelo próprio


CPA, previsto no art. 2.º número 5. O procedimento administrativo especial é
aquele que é regulado por leis especiais. Sempre que não esteja regulado
determinado aspeto em lei especial deve ser aplicada a lei geral prevista no CPA.

Exemplo especial: procedimento de licenciamento

d) administrativo sancionatório vs administrativo não sancionatório

O procedimento administrativo sancionatório é aquele que pode dar lugar à


prática de um ato punitivo. O procedimento administrativo não sancionatório
é aquele cujo final não reveste em caso algum natureza sancionatória.

Exemplos sancionatório: procedimento disciplinar; procedimento


contraordenacional

7. Fases do procedimento administrativo

a) Fase inicial

É a fase em que se dá início ao procedimento.

De acordo com o art. 53.º pode ser desencadeada pela Administração Pública
ou por particulares interessados. Sendo iniciado pela Administração, determina
o art. 110.º número 1 que esta tem de comunicar que desencadeou o

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procedimento às pessoas cujos interesses e direitos legalmente protegidos


possam vir a ser lesados. Sendo iniciado por particular interessado, este deve
fazê-lo através da apresentação de um requerimento, formulado por escrito ou
enviado por correio eletrónico, do qual constem as diversas menções indicadas
no art. 102.º. Excecionalmente pode ser permitido pedido verbal.

Desta fase pode ainda fazer parte a tomada de medidas provisórias decorrentes
do art. 89.º, medidas que se aplicam no caso de haver receio que sem elas se
possa constituir uma situação de facto consumado ou uma situação em que
existam danos de difícil reparação. O mais comum é, havendo decisão definitiva,
as medidas caducarem nos termos do art. 90.º.

b) Fase da instrução

Fase que se destina a averiguar os factos que interessem à decisão final e a


recorrer provas que se mostrem necessárias, art. 115.º a 120.º.

Trata-se de uma fase largamente dominada pelo princípio do inquisitório do art.


58.º. Mesmo que o procedimento seja instaurado por um particular, a
Administração pode promover as medidas necessárias para uma decisão justa.

Nos termos do art. 55.º a direção do procedimento cabe ao órgão responsável


pela decisão final. No entanto, salvo situações em que a lei preveja o contrário,
o órgão competente para a decisão final deve delegar num subalterno o poder
de direção do procedimento.

O diretor pode determinar aos interessados a prestação de informações, a


apresentação de documentos a sujeição a inspeções ou mesmo a sua
colaboração noutros meios de prova nos termos do art. 117.º.

Sem prejuízo do dever de averiguação oficiosa dos factos relevantes por parte
da Administração, cabe ao interessado provar os factos que tenha alegado, art.
116.º número 1. Esta prova pode ser feita através de documentos, pareceres ou
requerimento de diligências de prova, art. 116.º número 3.

Nesta fase há ainda a possibilidade de serem pedidos pareceres. Há por vezes


matérias muito específicas em que é necessário recorrer a órgãos além dos que

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estão no procedimento de forma a que estes emitam um parecer, uma opinião,


sobre determinada situação. De acordo com o art. 91.º número 1 estes podem
ser (1) obrigatórios quando são exigidos por lei ou facultativos quando cabe ao
órgão administrativo a decisão e os pedir ou não, (2) vinculativos quando têm de
ser obrigatoriamente seguidos ou não vinculativos quando assim não for.
Determina o número 2 que, se a lei nada disser, consideram-se obrigatórios mas
não vinculativos.

c) Fase da audiência dos interessados [das mais importantes]

Fase que decorre do princípio da colaboração e princípio da participação dos


interessados, respetivamente explanados nos art. 11.º e 12.º do CPA, e do art.
267.º número 5 da Constituição. Encontra-se concretamente prevista nos art.
121.º a 125.º.

Nesta fase é assegurado aos interessados no procedimento o direito de


participarem na formação das decisões que lhes digam respeito.

Antes de tomada a decisão final os interessados devem ser notificados sobre o


final provável da mesma de modo a se poder pronunciar sobre todas as questões
com interesse para a decisão, art. 121.º número 2. Esta notificação deve ser
acompanhada de uma adequada fundamentação de forma aos interessados
serem capazes de, na audiência prévia, contra-argumentar eficazmente.

Pode a audiência dos interessados ser dispensada, nos termos do art. 124.º,
quando…

(1) a decisão seja urgente

(2) os interessados tenham solicitado o adiamento de audiência oral e, por


facto que lhes seja imputável, não tenha sido possível definir nova data

(3) seja razoavelmente de prever que certa diligência possa comprometer


a execução ou a utilidade da decisão

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(4) o número de interessados a ouvir seja de tal forma elevado que a


audiência se torne impraticável, devendo nesse caso proceder-se a
consulta pública, quando possível, de forma adequada

(5) os interessados já se tiverem pronunciado no procedimento sobre as


questões que importem à decisão e sobre as provas produzidas

(6) os elementos constantes do procedimento conduzirem a uma decisão


inteiramente favorável aos interessados

O art. 122.º número 1 prevê duas formas para a realização da audiência: escrita
e oral. Compete ao diretor do procedimento decidir, em cada caso, qual a forma
que a audiência deve observar. A lei não lhe fornece qualquer critério pelo que
goza de poder discricionário. Na audiência escrita, tanto a notificação dos
interessados como a resposta destes são efetuadas por escrito e o interessado
tem um prazo não inferior a 10 dias para responder. Optando por uma audiência
oral, esta será realizada presencialmente ou por teleconferência quando tal se
justificar e existirem os meios necessários para o efeito.

A falta de comparência do interessado não constitui motivo de adiamento da


audiência mas, quando apresentada justificação de falta até ao momento fixado
para a audiência, determina o art. 123.º número 2 que se deve proceder ao
adiamento da mesma.

Regra geral a falta de audiência faz com que o ato padeça de um vício de forma
e seja anulável nos termos do art. 163.º. Excecionalmente o ato pode padecer
de um vício formal e ser nulo nos termos do art. 161.º número 2 alínea d), quando
estejam em causa procedimentos sancionatórios, disciplinares e
contraordenacionais, art. 32.º número 10 e 69.º número 3 da Constituição.

d) Fase da preparação da decisão

Fase em que a Administração pondera adequadamente o quadro traçado na fase


inicial, os elementos que recolhidos na instrução e na própria audiência de forma
a levar o procedimento ao órgão decisório.

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O diretor pode aqui realizar novas diligências ou até solicitar novos pareceres se
chegar à conclusão de que a instrução foi insuficiente, art. 125.º.

O responsável pelo procedimento, se não for o mesmo órgão com competente


para decidir, tem de elaborar um relatório para formular uma proposta de
decisão, art. 126.º.

e) Fase da decisão [das mais importantes]

Fase que deriva do princípio da decisão do art. 13.º.

Usualmente o procedimento termina aqui com uma decisão mas pode terminar
com qualquer outro facto previsto no art. 93.º.

Sendo o procedimento de iniciativa particular, a decisão deve ser tomada no


prazo de 60 dias imposto pelo art. 128.º número 1. Não havendo decisão no
prazo estipulado, determina o art. 129.º que a Administração incorre em
incumprimento do dever de decisão e o particular pode recorrer aos meios de
tutela administrativa, art. 184.º e seguintes, ou aos meios de tutela jurisdicional,
art. 66.º e seguintes do CPTA, adequados.

Sendo o procedimento de iniciativa oficiosa passíveis de conduzir à emissão de


uma decisão com efeitos desfavoráveis para os interessados, determina o art.
128.º número 6 que caducam, na ausência de decisão, no prazo de 120 dias.

Para além da extinção por decisão final, o procedimento pode também extinguir-
se por…

(1) desistência ou renúncia por parte dos interessados, art. 131.º

(2) estar parado mais de 6 meses, art. 132.º

(3) falta de pagamento de taxas, art. 133.º

(4) impossibilidade ou inutilidade superveniente do procedimento, art. 95.º

(5) formação de deferimento tácito na falta de resposta da Administração,


nas situações previstas, art. 130.º

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O dever de fundamentação deriva do art. 152.º e impõe à Administração que


fundamente o ato, que enuncie as razões de facto e de direito que conduziram
àquela decisão. Muitas vezes a fundamentação é dada como em falta por ser
considerada incompleta, obscura ou insuficiente. A falta de fundamentação
resulta num vício de forma que conduz à invalidade do ato, art. 163.º. Os atos
enumerados no art. 152.º número 2 não carecem de fundamentação.

f) Fase complementar

Fase em que são praticados certos atos e formalidades posteriores à decisão


final e que visam conferir eficácia à mesma, tais como registos, arquivos de
documentos, sujeição a controlos internos ou a aprovação tutelar.

Os interessados devem ser notificados da decisão segundo o art. 114.º.

III. Ato administrativo

A Administração Pública tem três formas de atuação: (1) ato administrativo, (2)
regulamento administrativo e (3) contrato administrativo. Importa estudar a fundo
a primeira forma.

O art. 148.º estabelece a noção de ato administrativo, configurando-o como um


ato jurídico, como uma estatuição autoritária emanada por um órgão da
Administração Pública no exercício da função administrativa e que se destina a
produzir efeitos jurídicos externos sobre uma situação individual e concreta.

Configura-se como um ato jurídico unilateral uma vez que resulta da vontade do
autor do ato e não é necessária a anuência do destinatário para que o ato
produza efeitos. É um ato decisório uma vez que define uma situação jurídica,
constituindo-a, modificando-a ou extinguindo-a. Produz efeitos externos pelo que
é eficaz no ordenamento jurídico geral mas por referência a uma situação
individual e concreta.

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O facto de o ato administrativo ser uma forma de atividade unilateral e de recair


sobre uma situação individual e concreta faz com que este se possa distinguir
dos regulamentos e dos contratos administrativos. Quanto ao regulamento,
apesar de ambos configurarem formas unilaterais de atividade administrativa,
este tem a vocação de se aplicar a uma multiplicidade de situações jurídicas
através das normas gerais e abstratas que o compõem. Quanto ao contrato, este
tem uma configuração bilateral pelo que surge de acordos que a Administração
celebra com particulares

Têm legitimidade para praticar atos administrativos os sujeitos de direito


administrativo e os sujeitos privados com poderes públicos, isto é, a
Administração Pública e as entidades privadas no uso de poderes públicos.

1. Tipologia do ato administrativo

1.1. Atos primários ou atos de 1.º grau: aqueles que versam pela primeira
vez sobre determinada matéria.

Exemplos: nomeação de um funcionário público; licença a um particular;


expropriação por utilidade pública

1.1.1. Atos primários impositivos: aqueles que impõe ao destinatário a adoção


de uma conduta ou que colocam o destinatário numa situação de sujeição
relativamente a um ou mais efeitos jurídicos

a) Atos de comando: aqueles que impõe ao particular a adoção de uma


conduta positiva ou negativa, uma ordem ou uma proibição

Exemplo: restrição de circulação entre concelhos constitui uma proibição

b) Atos punitivos: aqueles que impõe uma sanção de natureza


administrativa

Exemplo: aplicação de uma sanção disciplinar a um funcionário

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c) Atos ablativos: aqueles que impõe uma extinção ou modificação do


conteúdo de um direito

Exemplos: expropriação por utilidade pública; servidão administrativa

d) Atos por juízo: aqueles que classificam coisas ou pessoas

Exemplo: classificação atribuída aos professores nos inquéritos


pedagógicos

1.1.2. Atos primários permissivos: aqueles que permitem a alguém o exercício


de um direito ou a adoção ou omissão de um comportamento que de outro modo
estariam vedados ao particular [a)-f) conferem vantagens; g)-h) reduzem encargos para
os particulares]

a) Autorização: ato pelo qual um órgão administrativo ou uma entidade


administrativa permite a alguém o exercício de um direito ou de uma
competência pré-existente

Exemplo: licença de construção

b) Licença: ato pelo qual um órgão da Administração atribui a alguém o


direito de exercer uma atividade privada que é relativamente proibida por
lei

Exemplos: licença de uso e porte de arma; licença para caçar

**nota importante: autorização ≠ licença; enquanto que na autorização o direito já existe na


esfera jurídica do particular e este apenas precisa de uma autorização para o exercer, na licença
a atividade é proibida por lei mas passa a ser permitida mediante uma licença **

c) Conceção: ato pelo qual um órgão da Administração transfere para um


particular o exercício de uma atividade pública que o particular
desempenhará por sua conta e risco

Exemplos: parquímetros; exploração de obras públicas; zonas balneares


para esplanadas

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d) Delegação, art. 44.º: ato pelo qual um órgão administrativo competente


em determinada matéria permite que outro órgão pratique atos sobre essa
mesma matéria

e) Admissão: ato pelo qual um particular é investido numa categoria legal


da qual decorrerá direitos e deveres

Exemplos: quando nos matriculamos na faculdade; quando damos


entrada no hospital; quando compramos um bilhete para visitar um museu

f) Subvenção: ato pelo qual um órgão administrativo atribui ao particular


uma quantia em dinheiro para suportar os custos inerentes à prossecução
de uma atividade de interesse público, os chamados <subsídios=

Exemplo: bolsas de estudos

g) Dispensa: ato pelo qual a Administração permite a alguém o não


cumprimento de uma obrigação legal

g1) Isenção: no sentido de se dispensar o destinatário do ato do


cumprimento de uma obrigação

Exemplo: isenções fiscais

g2) Escusa: concedidas por um órgão da Administração a outro


órgão para se conseguir uma certa imparcialidade

h) Renúncia: ato pelo qual o particular perde o exercício de um direito

1.2. Atos secundários ou de atos 2.º grau ou atos sobre atos: aqueles
que têm por objeto um ato administrativo primário anterior ou que versam
sobre uma situação já regulado por um ato primário anterior

Exemplo: revogação de um ato anteriormente praticado

1.2.1. Atos integrativos: aqueles que completam atos administrativos


anteriores, conferindo eficácia aos mesmos

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a) Aprovação: ato pelo qual um órgão da Administração exprime a sua


concordância com outro ato já praticado por outro órgão, conferindo-lhe
eficácia

**nota importante:
aprovação ≠ homologação; na homologação não há ato administrativo anterior, incide
normalmente sobre um parecer, opinião ou proposta que não são atos administrativos devido à
falta de conteúdo decisório
aprovação ≠ autorização; a aprovação é um ato secundário enquanto que a autorização é um
ato primário, um ato que careça de autorização e seja praticado sem a mesma é inválido
enquanto que um ato que careça de aprovação e seja praticado sem a mesma é válido mas
ineficaz**

b) Visto: ato pelo qual um órgão da Administração declara que tomou


conhecimento de um determinado documento mas não se pronuncia
sobre o conteúdo do mesmo ou declara não ter nada contra, do ponto de
vista de legalidade ou de mérito, e por isso confere eficácia ao ato

c) Ato confirmativo: ato pelo qual um órgão da Administração reitera e


mantém em vigor um ato administrativo anterior

d) Ratificação confirmativa: ato pelo qual um órgão competente em


determinada matéria exprime a sua concordância em circunstancias
obviamente excecionais relativamente a um ato praticado por um órgão
excecionalmente competente

1.2.2. Atos saneadores

1.2.3. Atos desintegrativos: atos secundários que visam fazer cessar os efeitos
de atos administrativos anteriormente praticados

a) Revogação [desenvolvido mais à frente, ponto 7]

b) Anulação [desenvolvido mais à frente, ponto 7]

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2. Estrutura do ato administrativo

Os elementos do ato administrativo definem-se como as realidades que integram


o ato, podem ser essenciais ou não essenciais.

2.1. Elementos subjetivos

Respeitam aos sujeitos da relação jurídica procedimental, ao autor do ato e ao


destinatário do mesmo. O autor do ato configura-se como o órgão competente
e o destinatário como o interessado.

Em regra o ato contrapõe duas partes, a Administração Pública e um particular.


Menos frequentemente pode contrapor duas entidades públicas ou, com mais
raridade ainda, duas entidades privadas.

2.2. Elementos objetivos

Respeitam ao conteúdo do ato e ao objeto do mesmo.

O conteúdo configura-se como a substância da decisão voluntária em que o ato


consiste. Deve respeitar os princípios da igualdade, da proporcionalidade, da
justiça e da boa fé. O conteúdo pode ser principal, permite identificar o ato e este
é inexistente na sua ausência, ou acessório/facultativo, elementos que a
Administração pode acrescentar aos principais. O conteúdo acessório é
introduzido no ato através de cláusulas acessórias tal como se encontram
tratadas no art. 149.º. Estas cláusulas podem ser (1) de termo, determinando que
os efeitos do ato se iniciem se forma um termo iniciativo ou se extingam a partir
de determinada data se for um termo extintivo, (2) de modo ou reserva, surgindo
um encargo ou uma obrigação num ato que cria vantagens para os particulares,
(3) de condição resolutiva, ficando a eficácia do ato dependente da verificação
de um acontecimento futuro e incerto que a extinguirá, ou (4) de condição
suspensiva, tornando-se o ato eficaz a partir de um evento futuro e incerto.

O objeto configura-se como a realidade exterior sobre a qual o ato vai incidir,
podendo esta ser uma coisa, uma pessoa ou um ato administrativo primário. É
exigido que este seja material e juridicamente possível, inteligível e legal.

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Exemplo: Decisão de expropriar um terreno privado para a construção de uma


estrada – conteúdo é a ação de expropriação, objeto é o terreno.

Exemplo: Determinado funcionário público comete uma infração disciplinar e o


seu superior hierárquico instaura uma sanção disciplinar com vista a puni-lo –
conteúdo é a aplicação da sanção, objeto é o funcionário público.

Exemplo: Revogação de um ato administrativo anteriormente praticado –


conteúdo é a decisão de revogação, objeto é o ato anteriormente praticado.

2.3. Elementos formais

Respeitam à forma e às formalidades do ato.

A forma configura-se como o modo pelo qual se exterioriza ou manifesta a


decisão voluntária em que o ato consiste. Os requisitos quanto à forma a
observar pelo ato administrativo decorrem dos art. 150.º e 151.º. A regra é a de
que os atos administrativos deverão assumir a forma escrita quando praticados
por órgãos singulares ou, quando a lei assim o determinar, por órgãos colegiais.
Os atos assumirão a forma oral quando praticados por órgãos colegais desde
que sejam consignados em ata, sob pena de não produzirem efeitos. O art. 151.º
número 1 estabelece as menções obrigatórias que o ato deverá observar. O
número 2 impõe que tais menções sejam enunciadas de forma clara, permitindo
a perceção do sentido e do alcance dos efeitos do ato administrativo.

As formalidades configuram-se como os trâmites que a lei manda observar na


elaboração de um ato administrativo, as chamadas formalidades procedimentais.
Em regra são essenciais as formalidades impostas por lei, padecendo o ato de
um vício de violação de formalidades quando não se verifiquem tais
formalidades.

2.4. Elementos funcionais

Respeitam à causa, aos motivos e ao fim do ato administrativo.

Há autores que consideram que a causa e os motivos do ato são a mesma coisa,
a regente da cadeira concorda, contudo é possível encontrar quem os distinga.

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A causa configura-se como o motivo típico e imediato de cada ato administrativo,


o porquê de este ser praticado.

Os motivos configuram-se como as razões que conduziram um órgão


administrativo a praticar um certo ato ou um ato com determinado conteúdo.
Estes motivos são o objeto é a exteriorização, através da consequente
fundamentação. A fundamentação encontra-se consagrada nos art. 152.º a 154.º
e consiste na declaração contida no ato dos fundamentos de facto e de direito
que justificam a decisão. Não pode ser obscura, contraditória ou insuficiente sob
pena de não esclarecer concretamente os motivos do ato. A fundamentação de
atos orais encontra-se regulada no art. 154.º. Por força do art. 152.º número 1
impõe-se uma obrigação de fundamentação relativamente aos seguintes atos,
com o seguinte conteúdo:

(1) atos administrativos que restringem ou afetem direitos ou interesses


dos particulares ou que imponham ou agravem deveres

(2) atos que decidam reclamações ou recursos

(3) atos que decidam em sentido contrário a uma pretensão que tenha
sido formulada por um interessado ou que discordem de parecer de
informação ou proposta final

(4) atos que decidam de modo diferente relativamente ao que vinha a ser
prática

(5) atos administrativos que acarretem uma declaração de nulidade, uma


anulação, uma revogação, uma modificação ou uma suspensão de um ato
administrativo anterior

Relacionado com os motivos do ato encontramos o dever de fundamentação do


art. 152.º segundo o qual, no conteúdo do ato, deve estar incluída a
fundamentação dos motivos por parte do órgão administrativo. Os requisitos da
fundamentação encontram-se no art. 153.º.

O fim configura-se como a finalidade ou o objetivo a prosseguir com a prática do


ato, o porquê daquela decisão. Por força do princípio da legalidade e da

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prossecução do interesse público, os atos administrativos devem prosseguir o


interesse público definido por lei.

3. Classificação do ato administrativo

3.1. Quanto aos elementos subjetivos: autor


a) Decisão vs deliberação

Chama-se decisão ao ato administrativo adotado por um órgão singular,


órgão composto por apenas um titular.

Chama-se deliberação ao ato administrativo adotado por um órgão


colegial, órgão composto por dois ou mais titulares.

b) Atos simples vs atos complexos

Um ato simples é aquele que pressupõe a intervenção de apenas um


órgão no procedimento que conduz à sua adoção.

Um ato complexo é aquele em que dois ou mais órgãos são chamados


a intervir no procedimento e a adotar o ato em conjunto.

3.2. Quanto aos elementos subjetivos: destinatário


a) Atos singulares vs atos coletivos vs atos plurais

O ato singular é aquele em que se verifica um destinatário


individualizado.

O ato coletivo é aquele que tem por destinatário um conjunto unificado


de pessoas, um grupo orgânico de pessoas.

O ato plural é aquele em que a Administração adota uma decisão


aplicável de igual forma a várias pessoas diferentes.

Exemplo de ato coletivo: ato de dissolução de um determinado órgão

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Exemplo de ato plural: decisão de nomeação de 10 funcionários para 20


vagas no âmbito daquele procedimento concursal

3.3. Quanto aos elementos objetivos: conteúdo


a) Atos administrativos de conteúdo de direito administrativo vs atos
administrativos de conteúdo privado vs atos administrativos de
conteúdo misto

O ato administrativo de conteúdo de direito administrativo é o mais


frequente e pressupõe a aplicação de normas de direito administrativo.

O ato administrativo de conteúdo privado é uma decisão que incorpora


atos ou contratos privados.

O ato administrativo de conteúdo misto é aquele em que se demanda


ao órgão administrativo competente que, para além de aplicar as normas
de direito administrativo, verifique no caso em concreto determinados
requisitos decorrentes do direito privado.

Exemplo de ato administrativo de conteúdo privado: emanação de uma


escritura pública relativa a um contrato regulado pelo direito privado

Exemplo de ato administrativo de conteúdo misto: perante uma licença de


construção, de forma ao órgão administrativo poder aplicar as normas de
direito administrativo que irão permitir aquela operação urbanística, tem
de aferir a legitimidade procedimental do interessado através da
verificação do direito real que o assiste para intervir naquele procedimento
e ser idóneo para suportar os efeitos daquele ato

3.4. Quanto aos elementos formais: localização no procedimento


a) Atos definitivos vs atos não definitivos

O ato definitivo pode sê-lo em sentido horizontal ou em sentido vertical.


Diz-se definitivo em sentido horizontal quando se trata do último ato do
procedimento administrativo e definitivo em sentido vertical quando não
se encontra sujeito a um recurso hierárquico necessário sendo que a regra
atualmente é a do recurso hierárquico ser facultativo, ou seja, diz-se

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definitivo em sentido vertical quando o ato for praticado pelo órgão no topo
da hierarquia, por um órgão independente ou por um subalterno no
exercício de uma competência que lhe é excluída.

O ato não definitivo é aquele que não põe fim ao procedimento ou do


qual cabe recurso hierárquico necessário.

3.5. Quanto aos elementos funcionais: efeitos


a) Atos de execução instantânea vs atos de execução continuada

O ato de execução instantânea é aquele cujo cumprimento se esgota


num único momento, ou seja, através da observância de um evento
isolado.

O ato de execução continuada é aquele cuja execução


permanece/perdura no tempo.

Exemplo de ato de execução continuada: autorização para o exercício de


uma atividade.

b) Atos positivos vs atos negativos

O ato positivo é aquele capaz de produzir uma alteração na ordem


jurídica.

O ato negativo é aquele que, por omissão/silêncio da Administração ou


através de indeferimento, há uma recusa por parte da Administração de
introduzir uma alteração na ordem jurídica existente.

c) Atos executórios vs atos não executórios

O ato executório é aquele que sendo eficaz é exequível por si mesmo,


isto é, que determina uma execução administrativa de caráter coercivo já
que tal efeito é permitido ou não está vedado por lei.

O ato não executório é aquele que não é eficaz ou sendo eficaz não é
exequível por si mesmo ou face ao qual a execução administrativa com
caráter coercivo não é permitida por lei.

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Exemplo de ato executório: ato administrativo que determina pela


Administração a demolição de um muro

Exemplo de ato não executório: ato administrativo de que resulta o


pagamento de uma quantia em dinheiro

4. Requisitos de validade e de eficácia do ato administrativo

A validade é a aptidão intrínseca do ato administrativo para produzir efeitos


jurídicos correspondentes ao tipo legal a que pertence. Se os requisitos
legalmente previstos de validade não se observarem, o ato será inválido.

A eficácia diz respeito à exteriorização do ato administrativo, à projeção na


realidade dos efeitos jurídicos que integram o conteúdo do ato. Se os requisitos
legalmente previstos de eficácia não se observarem, o ato será ineficaz.

Tal poderá significar a emergência de quatro situações possíveis, podemos estar


perante um ato administrativo (1) válido e eficaz, (2) válido e ineficaz, (3) inválido
e eficaz ou (4) inválido e ineficaz.

4.1. Requisitos de validade quanto ao elementos subjetivo: autor

a) O ato praticado tem de se inserir no âmbito das atribuições da pcp a que o


autor pertence. Quando tal não se verifique estaremos perante um vício de
competência absoluta e o ato será nulo nos termos do art. 161.º número 2 alínea
b).

b) O órgão autor do ato tem de dispor de competência para a sua prática, isto é,
o ato tem de se inserir no conjunto de poderes funcionais que são atribuídos
àquele órgão em específico. Quando tal não se verifique estaremos perante um
vício de incompetência relativa e o ato será anulável nos termos do art. 163.º.

c) O órgão autor do ato tem de se encontrar legitimado a praticar o ato, isto é,


tem de em concreto poder praticar a competência que abstratamente a lei lhe
atribui. Quando tal não se verifique estaremos perante um vício de violação de
lei e o ato em regra será anulável nos termos do art. 163.º. O exemplo mais

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paradigmático de falta de legitimação é a verificação do impedimento do órgão


ou do seu titular nos termos do art. 69.º número 1. Nesta situação a anulabilidade
do ato deriva dos art. 76.º número 1 e 163.º.

4.2. Requisitos de validade quanto ao elemento subjetivo:


destinatário

a) Exige-se que o ato identifique claramente o seu destinatário à luz do art. 151.º
número 1 alínea b) de forma a se poder determinar com segurança quem este
é. Quando tal não se verifique estaremos perante um vício de violação de lei e o
ato será anulável nos termos do art. 163.º.

b) Exige-se que o mesmo seja idóneo a suportar os efeitos decorrentes do ato


administrativo. Quando tal não se verificar estaremos perante um vício de
violação de lei e o ato será anulável nos termo do art. 163.º.

4.3. Requisitos de validade quanto aos elementos objetivos:


conteúdo e objeto

Tanto o conteúdo como o objeto do ato devem obedecer aos requisitos de


certeza, legalidade e possibilidade. O objeto tem de ser física e juridicamente
possível, tem de ser determinado e estar legitimado para suportar os efeitos do
conteúdo do ato. Da mesma forma o conteúdo tem de ser determinado, física e
juridicamente possível e lícito. Entre estes elementos tem ainda de existir uma
relação de idoneidade uma vez que o conteúdo tem de ser adequado ao objeto
visado. Quanto ao conteúdo há ainda um requisito extra especificamente
vocacionado aos atos certificativos, impondo-se que os factos consubstanciados
pelo conteúdo sejam verdadeiros e existentes. Se algum ou todos estes
requisitos não forem observados estaremos perante um vício de violação de lei
e em regra o ato será anulável nos termos do art. 163.º mas poderá ser nulo
numa das seguintes situações:

(1) quando o objeto ou o conteúdo seja impossível, inteligível ou


constitua/seja determinado pela prática de um crime, nos termos do art.
161.º número 2 alínea c)

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(2) quando o ato ofenda o conteúdo essencial de um direito fundamental,


nos termos do art. 161.º número 2 alínea d)

(3) quando estejamos perante um ato certificativo baseado em factos


inverídicos ou assente em factos inexistentes, nos termos do art. 161.º
número 2 alínea j)

Exemplo de ato certificativo: diploma que se obtém quando se termina a


licenciatura

4.4. Requisitos de validade quanto aos elementos objetivo: vontade


do autor

A vontade em que o ato se traduz deve ser livre e esclarecida, o que significa
que a vontade do autor não pode ser determinada por erro, dolo ou coação. Se
tal ocorrer, a vontade deixa de ser livre e esclarecida pelo que estamos perante
um vício da vontade e em regra o ato é anulável nos termos do art. 163.º mas
pode ser nulo, nos termos do art. 161.º número 2 alínea f), quando a vontade
tiver sido viciada por coação física ou moral.

4.5. Requisitos de validade quanto aos elementos objetivo: regime


das cláusulas acessórias

Nos termos do art. 149.º, as cláusulas acessórias ao ato administrativo têm de


ser conformes à lei, conformes ao fim que o ato visa atingir, de demonstrar uma
relação direta com o conteúdo do ato e respeitar os princípios jurídicos
aplicáveis. Se algum dos requisitos enunciados não for cumprido, as cláusulas
serão inválidas e devem dar-se por não escritas. Contudo, se as cláusulas
tiverem uma preponderância na prática do ato, estamos perante um vício de
violação de lei e em regra o ato é anulável nos termos do art. 163.º.

4.6. Requisitos de validade quanto ao elemento formal: formalidades

Em regra, todas as formalidades que a lei prescreve reputam-se como


essenciais. Quando não se verifiquem estaremos perante um vício de forma por
violação/preterição de formalidades essenciais e o ato será anulável nos termos
do art. 163.º, podendo ser nulo nos termos do art. 161.º número 1 alínea l)

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quando tenha sido praticado com preterição total do procedimento legalmente


exigido e não exigindo para o efeito um estado de necessidade.

Há contudo três exceções à caracterização das formalidades como essenciais:

(1) Formalidades que a lei determine serem dispensáveis no caso


concreto.

Exemplo: possibilidade de dispensa da audiência prévia

(2) Formalidades cuja omissão ou preterição não tenha impedido a


consecução do objetivo visado.

Exemplo: regra da notificação e da convocação dos órgãos colegais, o art.


28.º diz que se todos os membros do órgão aparecerem e nenhum alegar
a preterição então tal formalidade deixa de ser essencial porque se
conseguiu atingir o objetivo

(3) Formalidades meramente burocráticas, isto é, que sejam relevantes


apenas para os serviços internamente.

Exemplo: norma que estabeleça a forma de arquivamento de documentos


de um determinado procedimento

4.7. Requisitos de validade quanto ao elemento formal: forma

A regra é a de que os atos praticados por órgãos singulares devem observar a


forma escrita por força do art. 150.º número 1 enquanto que os atos praticados
por órgãos colegiais devem observar a forma oral embora a sua eficácia dependa
de se encontrarem consignados em ata por força do art. 150.º número 2, salvo
se a lei determinar o contrário. Quando tal forma não se verifique estaremos
perante um vício de forma e em regra o ato será anulável nos termos do art.
163.º. O ato pode ser nulo nos termos do art. 161.º número 2 alínea g) quando
se verifique em absoluto a inobservância da forma legalmente prevista, quando
a lei, por disposição especial, estabeleça uma forma solene para a prática do
ato.

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4.8. Requisitos de validade quanto ao elemento funcional: fim

A lei exige que o fim especificamente prosseguido pelo órgão administrativo no


ato administrativo praticado seja coincidente com o fim legalmente previsto pelo
legislador para a sua prática. Quando tal não for coincidente estaremos perante
um vício por desvio de poder e em regra o ato será anulável nos termos do art.
163.º, podendo ser nulo nos termos do art. 161.º número 2 alínea e) quando vise
prosseguir fins privados.

4.9. Requisitos de eficácia

Requisitos de eficácia são exigências que a lei faz para que um ato administrativo
possa produzir efeitos jurídicos após ser praticado. Por força do art. 155.º
número 1, a regrar é a de que o ato produz os seus efeitos desde o momento
em que é praticado. O ato considera-se praticado quando seja emitida uma
decisão com identificação do seu autor, do seu destinatário, do objeto do seu
conteúdo, se for o caso, nos termos do art. 155.º número 2. Exige-se ainda que
contenha todas as menções obrigatórias decorrentes do art. 151.º.

O ato pode contudo ter eficácia retroativa ou diferida/condicionada se a lei ou o


próprio ato assim o determinar. Os atos com eficácia retroativa, nos termos do
art. 156.º, são atos com suscetibilidade de produzir efeitos para o passado. Em
regra, diz o número 1 que apenas são dotados desta eficácia os atos aos quais
a lei expressamente a atribua ou os atos que se limitem a interpretar atos
anteriores. Deriva do número 2 que o autor do ato lhe pode conferir desta eficácia
(1) quando tal retroatividade seja favorável ao interessado e não prejudique
terceiros, (2) quando estejamos perante decisões revogatórias de atos
administrativos anteriores e (3) quando a retroatividade seja necessária para dar
cumprimento a deveres ou demais sujeições que se imponham à Administração,
nomeadamente em execução de decisões judiciais. Os atos com eficácia
diferida ou condicionada, nos termos do art. 157.º, são atos que produzem os
seus efeitos num momento posterior à data da sua prática, (1) ora porque
dependem de diligências subsequentes integrativas de eficácia, (2) ora porque
dependem de uma condição suspensiva, (3) ora porque dependem de um trâmite

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procedimental que não se prende com a própria validade mas sem o qual o ato
não é eficaz.

Relativamente à eficácia regra cabe ainda esclarecer que os atos constitutivos


de deveres ou encargos só produzirão os seus efeitos na esfera jurídica do
destinatário, sendo-lhe oponível, quando este for notificado do mesmo nos
termos dos art. 144.º e 160.º.

Exemplo de ato com eficácia diferida (1): aprovação

Exemplo de ato com eficácia diferida (3): ato sujeito a publicação obrigatória nos
termos dos art. 158.º e 159.º

5. Vícios que afetam o ato administrativo [tabela em pdf]

O ato administrativo pode estar ferido por mais que um vício. Havendo
acumulação de vícios aplica-se a cominação que se mostrar mais gravosa.

Exemplo: Procedimento disciplinar, aplicação de uma sanção disciplinar a um


funcionário público (1) sem que este tenha sido ouvido no procedimento, (2) sem
o ato estar fundamentado e (3) sem o órgão que aplica a sanção ser competente
para tal. Estamos perante (1) um vício de forma relativamente a uma formalidade
essencial ao ato, sendo este anulável; (2) um vício formal de preterição de
formalidades anteriores à prática do ato, sendo este nulo; (3) um vício de
incompetência relativa, sendo o ato anulável. Perante a acumulação de vícios e
cominações aplica-se a mais gravosa, a nulidade pelo vício (2).

5.1. Vícios orgânicos

Respeitam ao autor do ato.

Quando o autor do ato se ingere noutro poder do Estado de forma a praticar o


ato estamos perante um vício de usurpação de poderes cuja cominação será
a nulidade do art. 161.º número 2 alínea a).

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Exemplo: criação de um imposto por ato administrativo – ingerência da função


administrativa na função legislativa, impostos têm de ser criados por lei

Quando o autor do ato pratica atos estranhos às suas competências ou


prossegue os fins de uma pcp diferente daquela a que pertence estamos perante
um vício de incompetência. Esta incompetência será relativa quando o autor
não tiver competência para tal, isto é, quando o ato praticado for de competência
de outro órgão pertencente à mesma pcp e a cominação será a anulabilidade do
art. 163.º. Esta incompetência será absoluta quando o autor não tiver atribuições
para tal, isto é, quando o ato praticado for de competência de outro órgão
pertencente a diferente pcp e a cominação será a nulidade do art. 161.º número
2 alínea b).

Exemplo de incompetência relativa: Câmara Municipal pratica um ato da


competência da Assembleia Municipal

Exemplos de incompetência absoluta: Junta da Freguesia pratica um ato que é


da competência da Câmara Municipal; Ministério invade a esfera de outro
Ministério

Quando o autor do ato pratica um ato para o qual não se encontra legitimado, a
cominação será a anulabilidade, art. 76.º e 163.º. Quando o autor do ato pratica
um ato para o qual não se encontra autorizado, a cominação será a anulabilidade
do art. 163.º. Quando o autor do ato pratica um ato sem que se verifique o seu
quórum, a cominação será a nulidade do art. 161.º número 2 alínea h).

5.2. Vícios formais

Respeitam à forma e às formalidades do ato.

Quando a lei exija forma escrita para a prática do ato e este seja praticado
oralmente, ou vice-versa, estamos perante um vício de forma por carência
absoluta de forma e a cominação será a nulidade do art. 161.º número 2 alínea
g).

Quando a lei exija formalidades essenciais para a prática do ato e estas não se
verifiquem estamos perante um vício de forma por preterição de formalidades

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essenciais e a cominação será a anulabilidade do art. 163.º. Quando a


formalidade seja imposta pela Constituição, a cominação será a nulidade do art.
161.º número 2 alínea d). Quando o ato seja praticado com preterição total do
procedimento legalmente exigido, e não se enquadrando a situação num estado
de necessidade, a cominação será a nulidade do art. 161.º número 2 alínea l).
Quando a deliberação para a prática do ato seja tomada tumultuosamente ou
seja tomada sem a observância da maioria exigida por lei, a cominação será a
nulidade do art. 161.º número 2 alínea h).

5.3. Vícios materiais por violação de lei

Respeitam ao objeto, ao conteúdo, ao texto do ato e à vontade do autor.

Havendo uma desconformidade entre o conteúdo, o objeto e as respetivas


normas jurídicas aplicáveis estamos perante um vício por violação de lei. (o que
não for possível enquadrar em mais nenhum vício certamente enquadra aqui)

Quando o objeto sobre o qual recai o ato seja impossível ou ininteligível, a


cominação será a nulidade do art. 161.º número 2 alínea c). Quando o facto do
ato administrativo certificativo seja falso ou inexistente, a cominação será a
nulidade do art. 161.º número 2 alínea j).

Quando o ato praticado careça em absoluto de base legal, a cominação será a


nulidade. Quando o ato praticado crie obrigações pecuniárias não previstas na
lei, a cominação será a nulidade do art. 161.º número 2 alínea k). Quando o ato
seja praticado apesar de expressa proibição legal, a cominação é a nulidade.
Quando o objeto do ato praticado constitua um crime, a cominação é a nulidade
do art. 161.º número 2 alínea c). Quando o ato praticado ofenda o conteúdo
essencial de um direito fundamental, a cominação será a nulidade do art. 161.º
número 2 alínea d). Quando o ato praticado tenha por objeto a renúncia à
titularidade ou ao exercício de uma competência, a cominação será a nulidade
do art. 36.º número 2. Quando o ato praticado ofenda um caso julgado, a
cominação será a nulidade do art. 161.º número 2 alínea i). Os restantes vícios
relativos ao conteúdo do ato cominarão da anulabilidade do art. 163.º.

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A inobservância das menções obrigatórias dos art. 151.º e 155.º número 2


cominam na inexistência do ato praticado: falta de indicação do autor, falta de
identificação do destinatário, falta de indicação do conteúdo ou do sentido da
decisão e respetivo objeto, falta de assinatura.

A vontade do autor do ato deve ser esclarecida e livre, isto é, o autor deve atuar
sem erro, dolo ou coação. Quando atue em erro ou dolo, a cominação será a
anulabilidade do art. 163.º. Quando atue por coação, a cominação será a
nulidade do art. 161.º número 2 alínea f).

5.4. Vícios materiais por desvio de poder

Respeitam ao fim do ato.

Quando o órgão administrativo se serve da função administrativa para servir um


interesse diferente do previsto na lei estamos perante um vício por desvio de
poder cuja cominação dependerá do interesse prosseguido pelo ato. Se o ato
visar a prossecução de outros interesses públicos, a cominação é a anulabilidade
do art. 163.º. Se o ato visar a prossecução de interesses privados, a cominação
é a nulidade do art. 161.º número 2 alínea e).

6. Invalidades do ato administrativo

6.1. Nulidade

Consagrada nos art. 161.º e 162.º constitui a forma mais gravosa de invalidade.

Nos termos do art. 162.º número 1, sendo nulo o ato não produz efeitos,
independentemente do mesmo em que a nulidade é declarada. Deriva dos art.
58.º do CPTA e 162.º número 2 do CPA, que a nulidade é insanável pelo decurso
do tempo, um ato nulo pode ser impugnado judicialmente e administrativamente
a todo o tempo por qualquer interessado. A sentença declaratória de nulidade é
meramente declarativa uma vez que esta já existe e o tribunal apenas a declara.

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Segundo o número 3 do art. 162.º, há determinadas situações em que podem


decorrer determinados efeitos de atos nulos, de acordo com os princípios da boa
fé, da confiança, da proporcionalidade e outros princípios constitucionais.

Os atos nulos podem ser objeto de reforma ou de conversão de acordo com o


art. 164.º número 2.

É possível a um funcionário público desobedecer a uma ordem que se


consubstancia num ato nulo.

6.2. Anulabilidade

Consagrada no art. 163.º constitui a forma de invalidade menos gravosa.

Embora ilegal, de acordo com o art. 163.º número 2, o ato anulável produz efeitos
até ao momento em que é declarado anulado. Deriva do art. 58.º do CPTA que
a anulabilidade é sanável pelo decurso de tempo, dispondo de 1 ano para ser
invocada pelo Ministério Público e de 3 meses nos restantes casos. A
impugnação do ato é feita perante os tribunais administrativos. A sentença
declaratória da anulabilidade é constitutiva.

O efeito anulatório pode ser afastado nos casos previstos no art. 163.º número
5.

Os funcionários públicos são obrigados a cumprir as ordens que derivem de atos


anuláveis mas têm a possibilidade de deixar por escrito que discordam.

7. Anulação e revogação administrativas [tabela pdf]

A anulação administrativa configura-se como um ato administrativo de 2.º grau


que tem por alvo os efeitos de um ato administrativo anterior, determinando a
cessação desses mesmos efeitos por razões de invalidade.

A revogação administrativa configura-se como um ato administrativo de 2.º


grau que tem por alvo os efeitos de um ato administrativo anterior, determinando

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a cessação desses mesmos efeitos por razões de mérito, conveniência ou


oportunidade.

Nos termos do art. 166.º número 1 são insuscetíveis tanto de anulação como
de revogação (1) os atos nulos, (2) os atos anulados contenciosamente e (3) os
atos revogados com eficácia retroativa. Todos estes atos ou nunca produziram
efeitos ou já não os produzem pelo que não faz sentido usar figuras que têm
como objetivo a cessação de efeitos. O número 2 diz que é possível anular-
se/revogar-se com eficácia retroativa atos que já não produzam efeitos, seja por
terem caducado seja por se terem esgotado.

Deriva do art. 169.º número 1 que a iniciativa tanto para a anulação como
para a revogação pode ser (1) por retração, iniciativa dos órgãos competentes
ou (2) por iniciativa provocada, a pedido dos interessados mediante reclamação
ou recurso administrativo. O art. 168.º número 5 determina no entanto que, se o
ato se tornou inimpugnável judicialmente nos termos do art. 58.º do CPTA,
apenas pode ser anulado por iniciativa administrativa.

Tem competência para anular (1) o autor do ato, (2) o respetivo superior
hierárquico pelo art. 169.º número 3, (3) o delegante ou subdelegante em
situações de delegação ou subdelegação de poderes pelo art. 169.º número 4,
(4) o órgão com poderes de superintendência ou tutela nos casos expressamente

previstos na lei pelo art. 169.º número 5, (5) o órgão competente para a prática
do ato nos casos de usurpação de competências pelo art. 169.º número 6.

Tem competência para revogar (1) o autor do ato, (2) o respetivo superior
hierárquico desde que não se trate de um ato de competência exclusiva do
subalterno pelo art. 169.º número 2, (3) o delegante ou subdelegante em
situações de delegação ou subdelegação de poderes pelo art. 169.º número 4,
(4) o órgão com poderes de superintendência ou tutela nos casos expressamente

previstos na lei pelo art. 169.º número 5, (5) o órgão competente para a prática
do ato nos casos de usurpação de competências pelo art. 169.º número 6.

O ato de anulação/revogação deve revestir a forma prescrita para o ato


anulado/revogado nos termos do art. 170.º número 1. Na ausência de forma

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prescrita deve ser a forma utilizada na prática do ato anulado/revogado, diz o art.
170.º número 2. Temos aqui o princípio do paralelismo de formas.

O art. 170.º número 3 determina que, em regra, as formalidades são as mesmas


exigidas para a prática do ato anulado/revogado mas apenas as que revestirem
caráter essencial para a garantia do interesse público e dos direitos e interesses
legalmente protegidos dos interessados. As formalidades que forem
dispensáveis para a prática do ato primário serão também dispensáveis para a
prática do ato secundário.

Em regra os efeitos da anulação são retroativos, art. 171.º número 3 1ª parte.


O autor do ato de anulação pode atribuir-lhe eficácia para o futuro quando o ato
se tenha tornado impugnável por via judicial nos termos do art. 58.º do CPTA.
Em regra produz efeitos repristinatórios, só não produz se a lei ou o ato de
anulação expressamente o dispuserem, art. 171.º número 4 in fine.

Em regra os efeitos da revogação dispõem para o futuro, art. 171.º número 1


1ª parte. Pode-lhe ser atribuída eficácia retroativa quando tal seja favorável aos
interessados ou quando estes concordem expressamente com a retroatividade,
desde que não estejam em causa direitos indisponíveis, art. 171.º número 1 in
fine. Apenas produz efeitos repristinatórios se a lei ou o ato de revogação
expressamente o determinar, art. 171.º número 2.

No que respeita aos condicionalismos temporais da anulação verificam-se


quatro diferentes situações. (1) A anulação pode ser requerida no prazo de 6
meses contados do conhecimento pelo órgão competente da causa da
invalidade ou, em casos de invalidade resultantes de erro do agente, do
momento da cessação do erro. O art. 168.º número 1 prevê um limite de um
prazo absoluto de 5 anos contado da respetiva emissão para ambas as
situações. (2) Pode ser exercida no prazo de 1 ano a contar da respetiva emissão
quando respeite a atos constitutivos de direitos nos termos dos art. 167.º número
3 e 168.º número 2. (3) No prazo de 5 anos a contar da respetiva emissão para
as situações previstas no art. 168.º número 4. (4) Ou ainda até ao encerramento
da discussão da causa quando o ato tenha sido impugnado nos tribunais
administrativos, art. 168.º número 3.

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No que respeita aos condicionalismos temporais da revogação, em regra


esta pode ser exercida a todo o tempo nos termos do art. 167.º número 1 a
contrario sensu. Excecionalmente, a revogação de atos constitutivos de direitos
com fundamento previsto no art. 167.º número 2 alínea c) está sujeita a um prazo
de 1 ano a contar da data do conhecimento da superveniência ou da alteração
das circunstancias, podendo esse prazo ser prorrogável por mais 2 anos por
razões fundamentais nos termos do art. 167.º número 4.

No que respeita aos condicionalismos materiais da anulação, esta pode ter


por objeto qualquer ato administrativo exceto os previstos no art. 166.º.

No que respeita aos condicionalismos materiais da revogação, a regra é a de


que os atos administrativos são revogáveis a menos que a irrevogabilidade
resulte da lei ou quando resultem para a Administração obrigações legais ou
direitos irrenunciáveis. Excecionalmente, os atos constitutivos de direitos apenas
podem ser revogados em circunstancias favoráveis aos beneficiários, nas
circunstancias descritas no art. 167.º número 2.

Como principais consequências da anulação temos (1) dever de


reconstituição por parte da Administração Pública da situação atual hipotética e
cumprimento dos deveres que não tenham sido cumpridos com fundamento no
ato que se anula pelo art. 172.º número 1, (2) dever da Administração praticar
atos com eficácia retroativa pelo art. 172.º número 2 1ª parte, (3) dever da
Administração anular, reformar ou substituir os atos consequentes sem
dependência de prazo e (4) direito de indemnização dos beneficiários de boa fé
de atos consequentes praticados à mais de 1 ano pelo art. 172.º número 3.

Como principal consequência da revogação temos o direito à indemnização


pelo sacrifício resultante do art. 167.º número 5 quando a situação da revogação
seja a de um ato constitutivo de direitos com fundamento no art. 167.º número 2
alínea c).

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Remissões importantes

art. 11.º remete para art. 82.º

art. 12.º remete para art. 121.º e seguintes

art. 13.º remete para art. 128.º e seguintes

art. 15.º remete para Lei n.º 34/2004, Lei de Apoio Judiciário

art. 53.º <oficiosamente= para art. 110.º número 1 e <solicitação dos interessados=
para art. 102.º

art. 58.º remete para art. 115.º-117.º

art. 129.º <meios de tutela administrativa= remete para art. art. 184.º e seguintes
CPA e <jurisdicional= remete para art. 66.º e seguintes CPTA

art. 162.º número 2 remete para art. 58.º CPTA

art. 163.º remete para art. 58.º CPTA

art. 168.º número 2 <atos constitutivos de direitos= remete para art. 167.º número
3

art. 168.º número 5 <inimpugnável por via jurisdicional= remete para art. 58.º
CPTA

art. 169.º número 1 <reclamação= remete para art. 184.º e seguintes

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