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Contencioso daniela[ 5757]

Introdução ao Direito (Universidade Portucalense Infante D. Henrique)

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Aula Teórica 11/02/2021

Tutela jurisdicional efetiva

Como a própria expressão indica, significa o controlo, segurança, realizada por tribunais ou por
entidades com poderes jurisdicionais, que permitem a efetivação dos direitos conferidos por
uma qualquer ordem jurídica, portanto, tutela jurisdicional efetiva significa a suscetibilidade de
buscar junto de tribunais, o reconhecimento, a declaração de direitos conferidos por uma
determinada ordem jurídica, assim sendo a união europeia uma ordem jurídica autónoma
também reconheceu enquanto união de direito, o papel de importância à tutela jurisdicional
efetiva, começando por proclamá-la através da jurisprudência do tribunal de justiça como um
principio geral de direito da união. Ora, esse reconhecimento acontece pela primeira vez no
acórdão Johnson, onde tal como os outros princípios que foram consagrados e contemplados, o
tribunal de justiça reconhece que emerge este princípio geral, quer das tradições constitucionais
comuns aos estados-membros, quer da proteção que já recebia no contexto internacional como
direito humano, nomeadamente, tal como estava consagrado na convenção europeia dos
direitos do homem. Portanto, o que acontece com este principio é que ele emerge como um
principio geral de direito da união e tal como outros princípios não tinha uma consagração
expressa nos tratados, o tribunal de justiça, deparado com a situação da senhora Johnson, acaba
por reconhecer este principio geral, porque era já acolhido nas tradições dos diversos estados
membros, isto acontece e resulta da nossa própria constituição, do artigo 20 da CRP e também
por conta de já ter sido prosseguido noutros contextos, neste sentido, é importante reter que
todos os estados membros da UE são partes da CEDH, concretamente nos artigos 6º e 13º da
CEDH.

No acórdão Johnson o tribunal de justiça a propósito da necessidade de conhecimento material


do litigio e da sua questão de fundo, que se prendia com a discriminação em razão de género,
explicou que os direitos conferidos pela ordem jurídica europeia tem de ser suscetíveis de
efetivação e de efetivo conhecimento pelo órgão jurisdicional nacional, não podendo uma
norma processual nacional afetar de forma absoluta esse direito emergente do princípio geral
da tutela jurisdicional efetiva, ora, o problema hoje já se coloca e este principio geral acabou
consagrado expressamente com o artigo 19º nº1 2º parágrafo do TUE, encontra-se a
consagração expressa deste principio onde ele aparece consagrado ao lado do principio da
autonomia processual dos estados membros, mas não se ficou por aqui, este principio geral foi
consagrado também como um direito fundamental nos termos do artigo 47º da Carta dos
direitos fundamentais da união europeia, neste artigo encontramos consagrados as várias
dimensões da tutela jurisdicional efetiva, se quisermos podemos classificar a tutela como um
direito fundamental <guarda-chuva=, porque vai se desdobrar numa série de dimensões, de
direitos fundamentais que a concretizam:

1ª dimensão – Direito à ação, ou seja, a suscetibilidade de iniciar um processo perante um


tribunal, artigo 47º 1º parágrafo;

2ª dimensão – Direitos de defesa, ou seja, a suscetibilidade de contraditarem juízo, portanto,


perante um tribunal os argumentos que foram contra si esgrimidos por quem exerceu o direito
à ação.

3ª dimensão – Direito a que o processo seja decidido por um tribunal independente, imparcial
e em prazo razoável, artigo 47º 2º parágrafo, ou seja, a carta dos direitos dos fundamentais
reconhece as prerrogativas constitucionais do poder judiciário conferindo-lhes na ordem
jurídica europeia, caráter constitucional e jusfundamental.

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4ª dimensão – Direito a ser representado em juízo, artigo 47º 2º parágrafo última parte, ou seja,
a suscetibilidade de qualquer das partes, qualquer dos litigantes poder procurar representação
judiciária, por advogado ou equivalente.

5ª dimensão – Direito a gozar de apoio judiciário em circunstâncias de carência económica, ou


seja, ninguém pode ver-se na posição de não aceder à justiça ou de exercer os seus direitos de
defesa por apresentar condições financeiras deficitárias, artigo 47º parágrafo 3º.A interpretação
deste artigo determinou inclusivamente um recuo da jurisprudência constitucional do tribunal
constitucional português, porque a legislação não conferia apoio judiciário a pessoas coletivas
com fins lucrativos enquanto o direito da união europeia entendia que não havia uma
justificação se as pessoas coletivas com fins lucrativos também se encontrassem numa situação
económica deficitária.

A partir do acórdão associação sindical dos juízes português (ASJP), este acórdão surgiu na
sequencia de um parecer de 2 académicos portugueses que apoiaram a ASJP e que deram
consubstanciaram a necessidade de um reenvio prejudicial para o tribunal de justiça, neste
acórdão colocava-se em termos fácticos a questão de saber se os cortes salariais impostos ao
juízes do tribunal de contas português no tempo da troika poderia contender com a
independência judiciária, portanto, afetar a tutela jurisdicional efetiva e o tribunal de justiça
chegou à conclusão que sim, este foi dos acórdãos mais paradigmáticos porque o tribunal de
justiça faz a construção dos seus argumentos à luz da tutela jurisdicional efetiva enquanto
principio geral de direito, explicitando que a independência judiciaria configurava uma das
dimensões do princípio geral de direito da união e especificamente fê-lo à luz do principio geral
para evitar as dificuldades metodológicas que poderiam resultar da sua avaliação à luz do
congénere direito fundamental, porque poderia esbarrar com o âmbito de aplicação da carta,
tal como se encontra previsto no artigo 51º da CDF, mas este acórdão foi também importante
porque legitimou jurisprudencialmente a ligação umbilical e instrumental da tutela jurisdicional
efetiva em relação ao principio da união de direito.

Logo a seguir, em 2018, partindo da mesma construção teórica e dogmática do acórdão ASJP o
tribunal de justiça emana o acórdão LM, e portanto, partindo dos mesmos argumentos,
esgrimidos a propósito da tutela jurisdicional efetiva como principio geral de direito, o tribunal
de justiça consubstancia a independência e a imparcialidade enquanto dimensão do direito
fundamental à tutela jurisdicional efetiva, com estes dois acórdãos seguidos o tribunal de justiça
reconhece o princípio geral e o direito fundamental como 2 faces da mesma moeda, embora se
compreenda que a perceção do principio geral tem uma abrangência maior do que o direito
fundamental.

Aula Prática 15/02/2021

O acórdão associação sindical dos juízes portugueses foi decidido através do princípio geral da
tutela jurisdicional efetiva para evitar as finitudes provenientes do âmbito de aplicação da carta
dos direitos fundamentais da união europeia, ou seja, forma a não esbarrar com as exigências
provenientes do artigo 51º CDFUE, porque se a carta é sempre aplicável perante as ações ou
omissões imputáveis ás instituições órgãos e organismos da união europeia apenas será
aplicável às ações ou omissões dos estados-membros, quando se esteja no âmbito de aplicação
do direito da união europeia, que poderá estabelecer-se mediante a existência de um ato
jurídico da união aplicável à situação concreta também por conta do acórdão siragusa poderá
aplicar-se quando seja demonstrada a existência de um nexo de ligação suficiente ou de certo
grau que no caso dos juízes do tribunal de contas poderia não ser tão fácil, mas logo a seguir é

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prolatado o acórdão LM em que partindo dos mesmos argumentos expendidos no acórdão


associação sindical o tribunal de justiça interpretou o artigo 47º da carta dos direitos
fundamentais, demonstrando a ligação embrionária entre o principio geral e o direito
fundamental, expondo jurisprudencialmente a complementaridade existente como duas faces
da mesma moeda, mais recentemente, no acórdão AK o tribunal de justiça através de um
reenvio prejudicial e interpretando novamente o direito a um tribunal independente e imparcial
como uma das dimensões do direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva concedeu ao
tribunal polaco de reenvio uma interpretação que lhe permitiu afastar uma norma nacional
aplicável à forma de designação e de jubilação dos juízes da ultima instancia nacional.

Princípio geral da autonomia processual dos estados-membros

A autonomia procedimental significa que o direito da união não vai dizer em primeira linha aos
estados-membros, como é que estes vão criar os procedimentos administrativos que correm
perante si, para esta cadeira, apenas tem relevância a autonomia processual dos estados-
membros, ou seja, cabe aos estados-membros criar as vias repercussórias efetivas para o
acautelamento da tutela jurisdicional efetiva.

Por força do artigo 19º nº1 2º paragrafo do TUE, o legislador originário da união europeia
consagrou expressamente o principio da autonomia processual dos estados-membros, que lhes
reconhece a suscetibilidade de criar as normas processuais que determinarão as formas como o
processo tramitará perante os tribunais nacionais, através das quais, os cidadãos poderão e
deverão poder valer os direitos que lhes são conferidos pela ordem jurídica europeia, ou seja,
serão as normas processuais nacionais e as vias internas de recurso que em primeira linha lhes
permitirão obter a tutela jurisdicional dos direitos que a ordem jurídica europeia lhes
reconhece, mas este princípio não confere aos estados-membros um poder absoluto, sob pena
de através dele os estados-membros criarem entraves à efetividade do direito da união e em
última analise encontrarem por essa via uma forma de ataviar a observância do principio do
primado do direito da união, o que determinou que a este principio geral da autonomia
processual dos estados-membros, viessem tutelados/associados dois princípios de teste, que
caso a caso, permitem testar as soluções processuais adotadas nos estados-membros e através
das quais as soluções jurídicas decorrentes da ordem europeia serão conhecidas e aplicadas aos
casos concretos. O primeiro teste, é o teste/princípio da equivalência e o 2º é o teste/princípio
da efetividade em sentido estrito. Através do primeiro, iremos testar se as normas processuais
nacionais serão <menos favoráveis=1 quando aplicadas a litígios que envolvem o direito da união
europeia, ou seja, as soluções processuais internas, quando aplicáveis a um litigio onde direito
da união é aplicável não podem ser menos favoráveis do que quando aplicadas a situações
similares de natureza interna, portanto, o teste da equivalência exige um juízo de
comparabilidade, bastando a comparação e não se exigindo uma identidade de situações, pois
só através da comparação é possível percecionar se o litígio decorrente do direito da união é
tratado de forma menos favorável, assim:

1) Se a norma jurídica acarretar tratamento menos favorável para litígio decorrente da


ordem jurídica europeia, quando comparado com situações similares de natureza interna, não
passa ao teste da equivalência, e, portanto, a norma jurídica interna tem de ser pelo menos
interpretada em conformidade à luz do direito da união europeia. Exemplo: Quando foi
desenvolvida o princípio da responsabilidade dos estados por violação do direito da união, já
existiam nos diversos estados-membros regimes materiais e jurídico-processuais de

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Expressão do tribunal de justiça

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responsabilidade do estado por atos ou omissões no exercício das suas funções. Exemplo: No
direito interno, temos processos simplificados de cobranças de créditos, como são as injunções,
como taxa de justiça reduzida, na ordem jurídica europeia, temos um procedimento igualmente
simplificado, que é o procedimento europeu de injunção de pagamento, o problema em
Portugal, é que se tratasse de uma injunção à luz do direito interno pagavam uma taxa de justiça
reduzida, se fosse europeu a taxa era muito superior, à luz do teste da equivalência havia um
tratamento menos favorável para o direito da união europeia.

Quando a comparabilidade não é possível dá-se por passado o teste da equivalência, mas é por
isso, que existe um outro teste, que é o teste da efetividade em sentido estrito, através do qual
as normas processuais nacionais não podem tornar impossível ou <excessivamente difícil=2 na
prática o exercício dos direitos decorrentes da ordem jurídica europeia. Este segundo teste é
mais complexo, mas também mais exigente, porque assenta desde logo num conceito
indeterminado. (ver acórdão olimpi club).

Iremos então agora explicar em quê que consiste a expressão impossível ou excessivamente
difícil na prática, ora, para o adequar ao caso concreto, aquele que o juiz nacional tem de decidir,
através das normas processuais, nacionais ele terá desde logo de ter em conta:

1) A posição que essa norma processual nacional ocupa no processo visto como um todo;
2) Atender ao lugar que a norma ocupa na tramitação do processo;
3) Atender às suas particularidades perante as várias instâncias nacionais.

Ainda assim se necessário, cabe atentar aos princípios que estão na base do sistema jurisdicional
nacional, como por exemplo, a proteção dos direitos de defesa, o principio da segurança jurídica,
ou a correta tramitação do processo, portanto, se existir uma razão desta natureza para norma
existir como existe considera-se passado o teste da efetividade, se estas razões conduzirem à
convicção que a norma processual nacional torna impossível ou excessivamente difícil o
conhecimento da união aplicável, então cai por terra e o estado à luz da autonomia processual
que o assiste terá de adotar uma norma que passe os testes da equivalência e da efetividade,
posto isto, a observância destes dois testes é cumulativa em sentido positivo, ou seja, se a
solução processual nacional ultrapassar o teste da equivalência, ora porque, não acarreta um
tratamento menos favorável, ora porque, não há uma situação interna de natureza similar com
a qual se possa estabelecer uma comparabilidade, cabe conduzir o teste da efetividade em
sentido estrito, no entanto, se a solução processual nacional soçobrar no teste da equivalência,
o teste da efetividade já não terá de ser verificado porque o estado membro não foi capaz de
exercer a sua autonomia processual à luz do direito da união, quando se trata de um principio
geral do direito da união.

Aula Prática 18/02/2021

Noção de contenciosa da UE

A noção de contencioso da UE tem de ser perspetivada, num sentido amplo, de forma a ser
capaz de contemplar quer a multiplicidade de mecanismos jurisdicionais criados ou viabilizados
pelo direito da união europeia, quer para acomodar as particularidades que esta ordem jurídica
também acarreta para o controlo jurisdicional e o entrosamento dos tribunais nacionais na
aplicação do direito da união e, posto isto, temos de compreender a noção à luz de 2 sentidos,

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Expressão do tribunal de justiça

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um sentido funcional ou orgânico e um sentido material. Na realidade e historicamente o


contencioso da união europeia definia-se como a disciplina jurídica que estuda as vias
processuais a organização e o funcionamento do tribunal de justiça da união europeia, no
entanto, essa perceção tradicional revelava-se limitada/finita, sobretudo para explicar as
interações reflexivas que se estabeleciam via reenvio prejudicial entre o tribunal de justiça e os
tribunais nacionais dos diversos estados-membros, aliás mecanismo este responsável pela
constante e crescente tendência da integração europeia, na medida em que foi através dos
acórdãos emanados neste contexto que o tribunal de justiça desenvolveu a sua jurisprudência
principiológica, promoveu o adensamento das dimensões inerentes ao mercado interno e
promoveu a proteção de direitos fundamentais e a emergência de uma cidadania europeia.
Posto isto, autores como o professor Fausto Quadros e Ana Maria Guerra Martins começaram
por ensaiar leituras mais amplas do objeto de estudo do contencioso da união europeia, ora,
estes autores começaram por incluir os tribunais nacionais, enquanto tribunais funcionalmente
europeus, na ideia de contencioso da união europeia.

Originariamente o sentido funcional ou orgânico da expressão contencioso da união europeia,


visava descrever o organograma dos tribunais organicamente europeus, ou seja, visava
apreender como tinha sido constituído, como funcionava e como se organizava o tribunal de
justiça da união europeia, no entanto, esta noção começou a ser objeto de uma necessidade de
ampliação, de modo, a também contemplar o estudo do papel dos tribunais nacionais enquanto
tribunais funcionalmente europeus, em virtude, de os impulsos judiciais no contexto da união
europeia resultarem de uma atuação conjunta e consertada, do tribunal de justiça com os
tribunais nacionais. Tal acontece, como nos ensina Timmermans, desde logo de um diálogo
formal, aquele que resulta de um reenvio prejudicial, tal como ele se encontra previsto no artigo
267º TFUE, mas a par e passo, surgiu uma outra dinâmica, que promove um entrosamento entre
o tribunal de justiça da união europeia e os tribunais nacionais, aquilo que Christian
Timmermans caraterizou como um diálogo informal. O diálogo informal pauta-se por uma
iniciativa, o tribunal de justiça da união europeia desenvolveu uma prática de promoção de
atividades vocacionadas, desde logo o tribunal de justiça passou a promover visitas aos tribunais
superiores e constitucionais dos estados-membros, de forma a, numa perspetiva de
proximidade, lhes permitir discutir questões que estivessem pendentes perante si e, que,
envolvessem potenciais problemas à luz do direito da união. O tribunal de justiça também
passou a promover sessões e visitas à sua sede no Luxemburgo de juízes dos diversos estados-
membros e independentemente da instância onde atuam, onde através de reuniões, através do
sistema de mesa-redonda, eles pudessem discutir os casos que tinham entre mãos com os seus
pares e com os próprios juízes do tribunal de justiça.

Contencioso em sentido material

Tradicionalmente, visava descrever e estudar o conjunto de normas e regras de processo


aplicáveis ao tribunal de justiça da união europeia, às normas de direito originário contempladas
nos artigos 251º e seguintes do TFUE e artigo 19º TUE, mas também as normas de processo
contempladas no estatuto do tribunal de justiça, no regulamento de processo do tribunal de
justiça e no regulamento do processo do tribunal geral. No entanto, se hoje é consensual que o
contencioso da união abarca, quer o tribunal de justiça da união europeia, quer os tribunais
nacionais, também a sua concetualização em sentido material, deve acompanhar essa
perspetiva ampla do conceito, porque determina que o contencioso da união europeia em
sentido material, seja atualmente capaz de agregar duas outras dimensões, primeira, o estudo
de normas processuais contidas em atos de direito derivado, nomeadamente, regulamentos e

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diretivas, que estabelecem tramitações processuais a serem observadas pelos tribunais


nacionais, por exemplo, o regulamento que estabelece o procedimento europeu de injunção de
pagamento, a diretiva recentíssima que cria mecanismos de ação coletiva de proteção dos
consumidores ou os regulamentos de obtenção transfronteiriça de prova, ou de promoção de
citações ou notificações. Para além disto, o contencioso da UE também agrega em situações
específicas o estuda da legislação nacional aplicável, ora porque, tais normas resultam da
transposição de diretivas, como ensinava Sophie Perez Fernandes, significa que estas normas
são nacionais, quanto à fonte, mas europeias quanto ao fim, ora porque, são normas processuais
nacionais, que por conta do principio da autonomia processual dos estados membros visam
prosseguir um propósito, o de assegurar a tutela jurisdicional dos direitos conferidos pela ordem
jurídica europeia, na nossa disciplina nós iremos abordar mecanismos jurisdicionais que correm
perante o tribunal de justiça, ou o tribunal geral, mas também olharemos para regimes a serem
observados pelos tribunais nacionais.

Aula Prática 22/02/2021

Arquitetura jurisdicional da União Europeia

Tendo em conta o sentido amplo, de CUE, numa perspetiva orgânica, cabe compreender a
organização, o funcionamento e composição do TJ da união europeia, que, é reputado como um
tribunal organicamente europeu, na medida em que institucionalmente é um tribunal que surge
na ordem jurídica da união e que é estabelecido enquanto instituição europeia nos termos do
artigo 13º nº 1 2º parágrafo do tratado da união europeia, devendo como qualquer instituição
europeia atuar dentro dos limites das atribuições que os tratados lhe conferem e, funcionando,
organizando-se e compondo-se nos termos determinados no artigo 19º do TUE e artigos 251º e
seguintes do tratado sobre o funcionamento da união europeia (artigo 19º remeter para o artigo
281º TFUE). Com o tratado de lisboa, operou-se uma alteração da própria designação/nome do
tribunal de justiça da união europeia, mudança essa propiciada pelo desaparecimento das
comunidades que lhe davam nome e o desaparecimento da estrutura pilarizada que
caraterizava a integração europeia até então, com isto, também se alargou o âmbito de atuação
do TJUE, estendendo-se a todo o direito da união, salvo nos casos em que os tratados
expressamente o excecionam. Por força do artigo 19º da TUE, o TJUE é suscetível de ser
composto por 3 jurisdições organicamente europeias, o tribunal de justiça, o tribunal geral,
abrindo ainda a porta à criação de tribunais especializados, ora, também o nome do tribunal
geral foi <inovado=, substituindo o antigo tribunal de primeira instancia, o qual tinha
eminentemente uma vocação contenciosa de natureza administrativa, ora, e tal é assim porque
o tribunal geral continua a ser o tribunal de primeira instancia para a maioria das decisões
tomadas pela comissão europeia e por outras instituições, órgãos ou organismos da EU. No
entanto, viu-se a necessidade de adotar uma nova designação mais coerente com a realidade,
porque dependendo do mecanismo jurisdicional em causa, o tribunal de justiça continua a ser
apenas e diretamente o competente para as conhecer. Por sua vez, o tribunal de justiça da união
europeia, ainda contou, com a atuação jurisdicional de um tribunal especializado, que era o
tribunal da função publica, que atuou desde 2004, até à cessação das suas funções a 1/09/2016,
tendo as suas competências sido transferidas para o tribunal geral, no entanto, tal cessação
deste tribunal especializado, não determinou uma alteração dos tratados, razão pela qual, o
artigo 19º do TUE e o artigo 257º TFUE continuarem a permitir que no futuro se possam criar
uma ou várias jurisdições especializadas no TJUE. E para o efeito, um tribunal especializado será
criado através do procedimento legislativo ordinário consagrado no artigo 294º do TFUE, os
tribunais especializados atuaram adstritos ao tribunal geral, mas passando a dispor de

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competências para conhecer recursos, em domínios específicos, podendo haver recurso das
decisões desse tribunal especializado para o tribunal geral, recurso esse em regra, adstrito a
questões de direito, mas excecionalmente podendo também incidir sobre questões de facto, tal
como resulta dos artigos 256º nº2 e 257º 3º paragrafo, portanto, atualmente a arquitetura
jurisdicional orgânica da UE, assenta em duas jurisdições operativas, o tribunal de justiça e o
tribunal geral, cuja natureza, composição, funcionamento e organização resultam de um regime
jurídico comum, decorrente de normas de direito originário e de direito derivado, as normas do
TUE e TFUE e do protocolo nº3 anexo aos tratados relativo ao estatuto da TJUE , estatuto esse
na versão que lhe foi dada a 1/05/2019 e depois o regime jurídico também resulta de normas
especificas, pensada para cada um destes tribunais, concretamente os regulamentos de
processo, do tribunal de justiça por um lado e do tribunal geral por outro. Quanto à composição
do tribunal, o tribunal de justiça, será composto por um juiz de cada estado-membro e será
assistido por advogados gerais, que inicialmente eram 8, número esse alterado em 2013, atenta
a decisão 25 de junho de 2013. Por sua vez o tribunal geral é composto por juízes, nos termos
do estatuto do TJUE, que poderão ser assistidos por advogados gerais, mas nos termos do artigo
3º nº3 do regulamento do processo do tribunal geral, qualquer juiz à exceção do seu presidente,
poderá desempenhar funções de advogado geral, num determinado processo. Sempre que o
regulamento do processo do tribunal geral, se refere a advogado geral, visa designar o juiz, que
no caso concreto, foi designado para atuar nessa qualidade, ou seja, na qualidade de advogado
geral, artigo 3º nº4 do regulamento do processo do tribunal gera. Mas como são escolhidos os
juízes e advogados gerais? Quer os juízes do TJ e do TG, quer os advogados gerais, são escolhidos
entre personalidades que ofereçam todas as garantias de independência e que reúnam
condições, indispensáveis ao exercício de funções jurisdicionais de elevado nível, nos termos do
artigo 253º 1º parágrafo e 254º 3º parágrafo do TFUE, em qualquer dos casos, os membros a
designar são sujeitos ao escrutínio do comité do artigo 255º do TFUE. Este comité é constituído
por personalidades de reconhecido mérito e excelência, mais concretamente 7 pessoas, entre
elas, designadamente estarão, antigos membros do tribunal, membros de tribunais superiores
nacionais e juristas de reconhecido mérito, sendo um deles designado pelo parlamento
europeu. O comité emitirá um parecer sobre a adequação dos candidatos ao exercício da
função, só depois, podendo os governos dos estados-membros, nomear tais pessoas, ora, a
independência é a característica mais relevante para o exercício de funções no TJUE, e há
algumas soluções que asseguram precisamente a observância dessa prerrogativa:

1º - A duração dos mandatos, limitada a 6 anos, passível de renovação, uma vez só podendo ser
terminada em casos de morte, de renúncia, nos termos do artigo 5º do estatuto do tribunal de
justiça da união europeia, ou demissão compulsiva, artigo 6º só estatuto. Para se operar uma
demissão, exige-se que a mesma se opere por decisão do tribunal, demandando-se que essa
decisão seja unanime a todos os juízes e advogados gerais do TJ, no caso, do TG, a decisão será
também ela tomada pelo tribunal de justiça, depois de ouvido o tribunal geral, essa decisão de
demissão é notificada, aos presidentes do parlamento europeu, à comissão europeia e ao
presidente do conselho, para que seja aberto um concurso para o preenchimento dessa vaga,
nos termos do artigo 6º do estatuto. Para evitar uma fragmentação da jurisprudência, a
renovação é feita de forma parcial, metade dos membros são renovados de 3 em 3 anos (artigo
253º e 254º do TFUE) e os restantes no período de 3 anos subsequentes.

2º - O regime remuneratório dos juízes e advogados gerais, é assegurada também, um apoio


pecuniário durante o período de 3 anos posterior à cessação de funções, igual a metade do
vencimento auferido aquando do exercício, quando, não tenham já adquirido o direito a uma
pensão de reforma.

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3º - Por último, os membros deste tribunal gozam de um regime de imunidade de jurisdição.

Dito isto, o TJUE pode reunir-se em secções, em grande secção e excecionalmente, em tribunal
pleno, se se tratar do TJ ou em sessão plenária se se tratar do tribunal geral, nos termos do
artigo 16º do ETJUE, os tribunais organicamente europeus, operaram em tribunal pleno ou
sessão plenária apenas quando, a questão em juízo for particularmente delicada ou revestir
especial importância. Por sua vez, atuaram em grande secção, sempre que um estado-membro,
ou uma instituição que seja parte no processo, o requeira e em ambos os tribunais a grande
secção será composta por 15 juízes, nos termos do artigo 16 do ETJ. Por último, as secções,
poderão operar com 3 ou 5 juízes e decidem as demais matérias, nos termos dos artigos 16º,
17º 2º parágrafo e 50º 1º paragrafo do ETJ.

Figura dos advogados gerais no TJ

Por força da alteração promovida em 2013, atualmente operam como advogados gerais 11
membros do TJ, tendo, o aumento sido faseado, a 1/6/2013, o TJ passou a contar com 9
advogados gerais e a partir de outubro de 2015, passou a contar com 11 advogados gerais e ao
advogado geral cabe publicamente apresentar com imparcialidade e independência conclusões
sobre os processos que exigem a sua intervenção, teologicamente, os advogados gerais existem
no TJ por 2 razões, para dar cumprimento à necessidade de oferecer ao TJ uma perspetiva neutra
de cada litigio, atuando no fundo, como uma plataforma introdutória e facilitadora do processo
de deliberação e por outro lado, para compensar a inexistência de votos de vencido em sede de
decisão europeia, pois, as conclusões do advogado geral constituem um ponto de referencia
para a evolução posterior da jurisprudência, sem comprometer a efetividade do direito da união,
é também uma forma de levar para o processo a perspetiva de um jurista liberto da pressão que
o exercício de função jurisdicional acarreta, podendo assim, introduzir elementos uteis que o
juízes poderão aproveitar e que por si próprios poderiam não ser capazes de recolher e que as
partes poderiam não ter prestado. Dentro dos advogados gerais existe a figura do advogado
geral, o qual é eleito dentro dos demais para um mandato de 3 anos, tendo de ser eleito por
maioria absoluta dos votos, sendo o seu nome publicado em jornal oficial.

Aula Teórica 25/02/2021

A língua de trabalho do TJ é o francês, no entanto, o tribunal de justiça na sua atividade respeita


a pluralidade linguística, caraterística da EU, razão pela qual admite que qualquer parte, se lhe
dirija na língua oficial do seu estado-membro, do mesmo modo, no âmbito dos reenvios
prejudiciais a língua do processo, será a língua do estado-membro onde o tribunal que faz o
reenvio prejudicial se localiza, embora, a língua de trabalho de TJ seja o Francês.

O papel político-institucional do TJUE

No quadro do artigo 13º nº1 do TUE, impede sobre o tribunal de justiça da UE, nas relações
mantidas com as outras instituições europeias, a obrigação de pautar a sua atuação por uma
cooperação leal recíproca, na medida em que, as instituições também têm de observar nas
relações interinstitucionais o princípio da lealdade europeia. Tendo em conta, que a UE se
construiu como uma união de direito e se consubstancia como uma união de direitos, é fácil
compreender a boa receção do ativismo judicial do TJ como um motor da integração europeia,
aliás profundamente desejado, pelo próprio legislador da união, sobretudo quando enfrentada
no procedimento legislativo, dificuldades em reunir consensos entre várias conceções
normativas mobilizáveis. É neste contexto que o TJ deve ter a última palavra quanto à
interpretação ou à validade do direito da união, de forma a que se possa assegurar a unidade

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do ordenamento jurídico europeu, porque só através da adoção desta voz única, se consegue
por um lado garantir a plena efetividade do direito da união e uma tendencial aplicação
uniforme ou pelo menos harmoniosa, como nos ensina Tesauro, do direito da união, garantindo-
se uma tutela jurisdicional efetiva dos direitos conferidos por esta ordem jurídica.

Tribunais funcionalmente europeus

A ordem jurídica da UE, está ao serviço de um processo de integração ou, como nos diz o artigo
1º do tratado da união europeia, está ao serviço da criação de uma união cada vez mais estreita
entre os povos da europa, portanto, não é difícil compreender que uma ordem jurídica que
engloba e mantém unidas 27 tradições constitucionais, culturais, normativas, doutrinais,
diferentes só poderá funcionar se as suas disposições forem objeto de uma interpretação e de
uma aplicação, senão uniforme pelo menos homogénea, como nos ensinou Joseph Tesauro.
Independentemente dos contextos nacionais, onde essas normas terão de ser aplicadas,
portanto, para que as normas europeias se apliquem de pleno direito ao mesmo tempo e com
idênticos efeitos, em todo o território da união, os tribunais nacionais foram entendidos como
os tribunais comuns da UE, como nos apelida o professor Nuno Piçarra, pois só assim não se
compromete a igualdade jurídica de todos os cidadãos europeus, tal como ela resulta do artigo
18º do TFUE e não se comprometa também a observância do principio da lealdade europeia, tal
como ele resulta do artigo 4º nº3 do TUE. A propósito da lealdade europeia, cabe à UE e aos
estados-membros, respeitarem-se e assistirem-se reciprocamente, para observarem as
obrigações decorrentes dos tratados, assim os estados-membros comprometem-se a adotar
todas as medidas legislativas, administrativas e judiciais para darem cumprimento aos objetivos
dos tratados. Por outro lado, obrigam-se a absterem-se de adotarem qualquer medida que
possa comprometer tais objetivos, por sua vez, a UE através da cooperação leal, compromete-
se a respeitar as identidades nacionais decorrentes das dinâmicas jurídico-constitucionais dos
estados-membros, compromete-se a respeitar as funções essenciais de cada estado. Se é assim,
deste princípio resulta para as autoridades nacionais, uma obrigação de concorrer para a
efetividade do direito da união, portanto, garantir o efeito útil de tais normas, tornando-se
particularmente visível, no exercício da função jurisdicional, exercida pelos tribunais nacionais.
Tal acontece porque a UE não dispõem de um aparelho judicial próprio difuso pelos diferentes
estados-membros, portanto, cabe aos tribunais nacionais zelar pela correta interpretação e
aplicação do direito da união nos litígios perante si serão dirimidos, é neste contexto que os
tribunais nacionais se vestem de tribunais funcionalmente europeus. Os tribunais nacionais
foram portanto mobilizados para atuarem como tribunais comuns da UE de forma a promover
a aplicação do direito da união numa ótica de proximidade, podendo os particulares dirigir-se
aos tribunais que lhe estão próximos, que estão próximos do próprio litigio ou dos próprios
factos que encerram o litigio, e é por isso que desde a década de 70 o TJ se tem afirmado que
na ausência de normas processuais europeias, cabe aos ordenamentos jurídicos nacionais
identificar os tribunais competentes, disponibilizar vias processuais e de recurso adequadas, de
forma a garantir o controlo e a salvaguarda dos direitos decorrentes da ordem jurídica europeia
e onde surge, o principio da autonomia processual dos estados-membros que como principio
geral do direito da união europeia, garante essa autonomia aos estados-membros, mas
vinculada funcionalmente a garantir os direitos decorrentes da UE, sob pena das normas
processuais nacionais, não se mostrarem adequadas a tal finalidade. Há portanto, uma aplicação
descentralizada do direito da união, pois são as autoridades nacionais que o aplicam, isto
encerra um risco de o sentido, o alcance das normas jurídicas europeias, ser divergente de
estado-membro para estado-membro e de tribunal para tribunal. É por isto, que o reenvio
prejudicial atua como um mecanismo ao serviço da efetividade do direito da união, sendo

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também um meio que autoriza o juiz nacional, a oferecer legitimidade às normas internas, já
que através do direito da união, o juiz nacional dispõe de competências europeias para:
Interpretar o direito interno em conformidade com o direito da união; Desaplicar normas
internas incompatíveis com o direito da união (primado efeito direto); Decretar providencias
cautelares, tendentes a suspender os efeitos e a aplicação do direito interno, enquanto se afere
da sua compatibilidade com o direito da união. Portanto, num sistema em que o juiz nacional é
também um juiz europeu, a efetividade da união também por aqui, não se operacionaliza por
uma tónica de hierarquia, porque o potencial conflito entre normas internas e normas de direito
da união será resolvido no caso concreto, pelo juiz nacional, pois, em último reduto é o juiz
nacional que afasta a norma interna incompatível com o direito da união. Portanto, ao serem
reputados como tribunais funcionalmente europeus, os tribunais nacionais vêm portanto, as
suas competências a serem estendidas, porque, por força do direito da união e, em nome da
sua efetividade estão autorizados a adotar por autoridade própria todas medidas necessárias
para afastar obstáculos criados pelo direito interno, resultando isto, em duas obrigações, uma
obrigação de abstenção (obrigação negativa) que se consubstancia na não aplicação de normas
internas incompatíveis com o direito da união, por outro lado, uma obrigação positiva, de ação,
de poder criar de novo as vias de direito adequadas a garantir a efetividade do direito da união,
como alias ficou patente no acórdão Peterbroeck.

Aula Teórica 01/03/2021

Reenvio prejudicial

O reenvio prejudicial é um mecanismo jurisdicional que demonstra e que está ao serviço das
especificidades de DUE, e da exigência que este coloca, que sejam os tribunais nacionais, que
apliquem, numa ótica de proximidade, o direito da união. Ora, Uma ordem jurídica como a
Europeia, que condensa tradições constitucionais, culturais, sociais, diferente demanda uma
homogeneidade na aplicação, na interpretação do Direito da União. O reenvio prejudicial, foi
assim, uma causa e um motivo para uma alteração de paradigma da atividade de todos os
operadores judiciários, porque se trata de um mecanismo ao dispor do juiz nacional que lhe
permite colocar as questões de interpretação, e de validade sobre o Direito da União, mas
determinou que, também os advogados e as partes que as representam tenham mudado a sua
atitude à luz do Direito da União. Falo em operados judiciários quad sensu (em sentido amplo),
porque apesar de ser o juiz nacional que goza de competência para fazer o reenvio prejudicial,
cabe aos advogados, sensibilizá-lo para esse efeito, podendo inclusivamente essa sensibilização
passar pelo oferecimento das questões prejudiciais, como ficou patente no acórdão Gomes
Valente, e, é neste contexto de alteração de paradigma que, se afirma que a norma nacional,
deixa de ser a referência fundamental, já que passa a existir um outro corpo jurídico europeu
que é necessário articular para a resolução do caso em concreto, o que revela a peculiar
particularidade da ordem jurídica europeia, que acaba por adjetivar como fundamental a
articulação reflexiva entre o juiz nacional e o TJ para permitir a própria sobrevivência da ordem
jurídica Europeia e, essa sobrevivência, é hoje particularmente relevante, porque em vários
domínios materiais é o direito da união que é capaz de oferecer direitos aos particulares, que
caberá aos tribunais nacionais reconhecer nas decisões dos casos concretos, ao reenvio
prejudicial, reconhecem-se atualmente, duas dimensões, em primeiro lugar, a dimensão
objetiva, que o carateriza como um diálogo formal entre juízes, nos termos que resultam claros
do artigo 267º do TFUE. Mas, leituras mais recentes do reenvio prejudicial reconhecem uma
dimensão subjetiva, pois perspetivam-no como um mecanismo ao serviço da tutela jurisdicional
efetiva, desde o acórdão kobler, que o TJ veio reconhecer que a ausência de um reenvio

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prejudicial compromete a tutela jurisdicional efetiva dos direitos conferidos aos particulares,
desde logo, podendo comprometer o direito à ação enquanto uma das dimensões da Tutela
jurisdicional efetiva ( remeter artigo 267º para o 93º a 118º Regulamento de processo do TJ e,
nesta circunstancia o reenvio é capaz de em qualquer processo judicial promover, uma
tendencial uniformidade do DUE aplicável, permitindo que a mesma norma jurídica, seja
aplicada de forma igual em todo o território da união.

O reenvio prejudicial é competência exclusiva dos tribunais nacionais, incidindo sobre estes,
pelo menos, uma faculdade ilimitada, de realizarem o reenvio prejudicial, independentemente
atuarem como uma ultima instancia, a qual se diz ilimitada porque não pode existir á luz do
direito interno dos estados ou da sua jurisprudência algo que impeça a sua realização no
momento em que o juiz nacional reputar adequado, esse reconhecimento já vem do acórdão de
Rheinmühlen-Düsseldorf mas foi concretizado mais recentemente no acórdão Mecanarte, que
foi recuperado pelo acórdão Melki Abdeli. Todos estes se prendiam com existência de norma
interna ou jurisprudência interna que impedia a realização de reenvio prejudicial e, em
complemento que lhe incumbe um dever de reenviar, de forma a atuar como um efetivo tribunal
funcionalmente europeu, que visa assegurar uma aplicação uniforme do direito da união. Tal
relaciona-se com o facto de o reenvio poder ser feito oficiosamente, ou seja, por própria
iniciativa do juiz e independentemente da alegação nesse sentido pelas partes, na medida em
que, o juiz nacional é que goza de competência para a sua realização.

Tipos de reenvio prejudicial

Podemos categorizar os reenvios prejudiciais, segundo dois tipos, reenvio de interpretação e


reenvio de validade.

O reenvio de interpretação, visa obter do TJ, o sentido material das disposições de direito da
união em causa, visa portanto, atingir/determinar, o sentido e o alcance dessas normas,
podendo o tribunal nacional solicitar ao tribunal de justiça a interpretação de normas de direito
originário, normas dos tratados ou da Carta dos direitos fundamentais, por força do artigo 6º
TUE ou a interpretação poderá também incidir sobre normas de direito derivado, produzidas ou
adotadas pelas instituições da UE. Por outro lado, o reenvio de validade, tem em vista obter do
TJ a apreciação da validade dos atos emitidos pelas instituições da UE, ou seja, para apreciar a
validade de direito derivado, ficando excluída do seu âmbito a análise de validade de normas de
direito originário.

Aula Teórica 04/03/2021

O reenvio de validade incide apenas sobre normas de direito derivado na medida em que o
tribunal de justiça para se pronunciar sobre a invalidade tem de encontrar no ordenamento
jurídico europeu, um corpo jurídico que sirva de referencial a esse juízo e é o direito originário
da UE, vertido no tratado da UE, no TFUE e por força do artigo 6º nº1 do TUE, a carta dos direitos
fundamentais da UE, que darão ao TJ, os elementos necessários a aferir a invalidade do ato de
direito derivado. E para isto, há um conjunto de vícios que determinaram a invalidade do ato,
os quais resultam da aplicação analógica do artigo 263º 2º paragrafo TFUE. O primeiro vício, é o
vício de incompetência, que pode ser interna ou externa, será um vício de incompetência interna
quando, a instituição que praticou o ato, viola as suas próprias competências imiscuindo-se em
áreas atribuídas à ação de outras instituições, órgãos ou organismos da UE. Já a incompetência
externa, resulta da violação das regras de distribuição de competências, entre a UE e os estados-
membros, tal como se encontram definidas nos artigos 2º e seguintes do TFUE. Um segundo
vício diz respeito à violação de formalidades essenciais que resulta sempre que, a tramitação

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determinada para a adoção do ato não tenha sido observada. O terceiro vicio prende-se com a
insuficiência de fundamentação, tal como esta é exigida no artigo 296º 2º parágrafo do TFUE. O
quarto vício é a violação do tratado ou de norma que o aplique, vicio este é entendido em
sentido amplo, de forma a também acomodar a violação de princípios gerais do direito da união,
tal como eles foram densificados e concretizados pela jurisprudência do TJ e que, constituem
um elemento jurídico imanente e material da ordem jurídica europeia. O 5º vício, é o desvio do
poder, que ocorre quando o ato é adotado, prosseguindo fins diversos daqueles que justificaram
a sua adoção e comumente estão previstos no próprio ato.

Nota: Apesar de falarmos comumente em invalidade do ato, a realidade é que na maioria dos
reenvios prejudiciais de validade, a invalidade é declarada não em relação a todo o ato, mas
muitos vezes circunscrita a um artigo, a um número ou a uma alínea, no entanto, recentemente,
o TJ, declarou a invalidade da diretiva 2006/24, relativa à conservação de meta dados nos EM
da união europeia, através do acórdão digital rights, de 2014, onde excecionalmente declarou a
invalidade da diretiva na sua globalidade.

O reenvio de validade a partir da jurisprudência Foto-Frost, confirmada pela jurisprudência IATA,


passou a configurar-se como obrigatório para todas as instancias jurisdicionais, ou seja, qualquer
juiz nacional, quer seja do tribunal de 1ª instancia, ou daquele que decide sem possibilidade de
recurso, está obrigado a realizar o reenvio prejudicial, o que se alinha com a teologia inerente à
criação do reenvio prejudicial, que é a de promover uma aplicação tendencialmente uniforme
do direito da união, na realidade, se o reenvio apenas se configurasse como obrigatório para as
ultimas instancias jurisdicionais, tal determinaria que, pudesse sedimentar-se a aplicação a
casos concretos de normas invalidas, porque nada garante que as partes vão exercer o seu
direito de recurso, já por outro lado e atenta a literalidade do artigo 267º do TFUE, serão
obrigatórios apenas para o tribunal que decide em última instancia, ou seja, de cuja decisão não
cabe recurso interno, configurando-se como facultativo para as outras instancias jurisdicionais,
tal como resulta do 3º parágrafo do artigo 267º do TFUE.

No âmbito da obrigatoriedade de reenvio prejudicial, de interpretação imposto ao tribunal que


decide em última instância, o artigo 267º 3º parágrafo, estabelece uma exceção a tal
obrigatoriedade que ficou conhecida e foi densificada jurisprudencialmente no acórdão CILFIT
de 1982 e que se carateriza como a doutrina do ato claro, que determina a possibilidade de o
juiz nacional que decide em ultima instancia e que estaria portanto, obrigado a reenviar poder
não o fazer se o ato em causa e a sua interpretação forem claros, portanto, quando o ato a
aplicar e o seu sentido e alcance sejam evidentes, já que se exige para um reenvio de
interpretação, que exista uma dúvida interpretativa razoável, ora, esta jurisprudência foi
concretizada pelo acórdão CIFIT II de 1984, onde o tribunal de justiça, neste acórdão, o TJ veio
esclarecer que para se auxiliar desta doutrina do ato claro, o tribunal nacional terá de
equacionar por um lado, os riscos de não reenviar e as particulares tendências de aplicação do
DUE, nomeadamente, comparando as diversas versões linguísticas disponíveis do ato a serem
interpretado, e portanto, o tribunal nacional para poder afirmar a clareza do ato, deverá aferir
se já existe jurisprudência nessa matéria, se há uma coincidência real entre tal jurisprudência e
a matéria do caso concreto que tem de decidir, se portanto, o sentido e o alcance que irá dar à
disposição de DUE aplicável se configura como inequívoco, ou seja, insuscetível de conduzir em
erro.

O TJ através do reenvio não se vai pronunciar sobre o direito interno dos EM, embora através
da interpretação do direito da união que realiza, acaba por transmitir, ao juiz nacional todos os
elementos que lhe serão úteis, para que este possa concluir, se há ou não conformidade do

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direito interno com o direito da união. Vigora, portanto, neste contexto, uma presunção de
pertinência do reenvio prejudicial, na medida em que o TJ, irá sempre presumir se o reenvio foi
feito é porque, a sua decisão será relevante, por vezes indispensável à boa decisão da causa,
esta presunção de pertinência, demonstra, portanto, a compreensão da indispensabilidade do
reenvio prejudicial tal como ficou patente nos acórdãos CARTESIO e ELCHINOV.

Há, no entanto, situações em que o TJ decidirá pela inadmissibilidade liminar do reenvio


prejudicial:

1ª situação - O litígio não tem relação com o DUE;

2ª situação – A questão prejudicial colocada não tem relação com o litígio nacional ou com o seu
objeto;

3ª situação – Quando o juiz nacional coloca questões hipotéticas e não reais, no entanto, por
conta da presunção de pertinência do reenvio prejudicial, ao TJ é reconhecida a faculdade de
reformular as questões judiciais, desde logo, poder converter um reenvio de interpretação num
reenvio de validade e vice-versa, mas ainda, pode reformular questões prejudiciais, por
exemplo, lhe pedem para se pronunciar sobre o direito interno, quando isso não é da sua
competência, ora no despacho de reenvio, portanto, no ato jurisdicional do juiz nacional que
determina que se fará o reenvio, o juiz nacional deverá elencar os factos que repute pertinentes,
deverá identificar o momento processual em que a ação se encontra e deverá identificar as
normas nacionais, potencialmente aplicáveis a esse litígio, este despacho pode ser emanado em
qualquer momento processual, embora, resulte das recomendações do TJ, que sejam preferível
que se realize depois de se ter realizado algum tipo de contraditório no processo nacional.

Tramitação processual do reenvio (estão 7 páginas no moodle ir ver)

O reenvio prejudicial aquando da sua receção pelo TJ pode tramitar através de uma tramitação
comum ou de uma tramitação especial, a tramitação especial desdobra-se em 2 tipos, na
tramitação prejudicial acelerada e na tramitação prejudicial urgente. As tramitações especiais
foram pensadas para que a decisão de reenvio seja mais celeremente prolatada.

Aula Prática 08/03/2021

Tramitação prejudicial comum

Esta resulta dos artigos 93º e seguintes do regulamento do processo do TJ e explica-se à luz de
um conjunto de fases. A fase escrita inaugura-se com a notificação a vários entes do reenvio
prejudicial, notificação essa realizada pela secretaria do TJ. São notificadas:

1- As partes no processo nacional,


2- Todos os estados-membros,
3- A comissão europeia, enquanto guardiã dos tratados,
4- A instituição ou instituições responsáveis pela adoção do ato, cuja interpretação ou
validade se coloca em questão através do reenvio prejudicial.

Feita esta notificação abre-se o prazo de dois meses para qualquer uma destas entidades,
querendo, se pronunciar através de observações escritas. Embora o facto de não apresentar
observações escritas, não preclude a suscetibilidade de vir a participar na fase oral subsequente,
artigo 96º, nº2 do regulamento do processo e 23º, 2º parágrafo do Estatuto do TJ.

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Segue-se então a fase oral que regra geral se pauta pela dispensabilidade da sua realização, salvo
nos casos em que uma parte o tenha requerido ou quando o TJ considere necessária à sua
realização. Ocorrendo a fase oral, teremos lugar a uma audiência de julgamento onde são
ouvidos os representantes das partes ou poderão ser ouvidas testemunhas e peritos, os últimos
muito comuns por conta da necessidade de compreensão técnica das disposições de direito da
união enquanto a audiência de testemunhas é residual. Em qualquer momento do processo,
pode o TJ pedir esclarecimentos nacionais ao TN, desde que oiça a propósito e anteriormente o
advogado geral, artigo 101º, do regulamento do processo do TJ. De acordo com os dados
disponibilizados no relatório anual de 2019 publicado em 2020 a duração media do processo de
tramitação comum era de 16 meses desde a entrada do reenvio até á sua decisão, se compadece
necessariamente com as necessidades de decisão em todas as línguas oficiais do TJ (relatório
relativo ao ano de 2018). Em 2017 o tempo medio era de 15,7.

No entanto há tramitações especiais pensadas para promover a celeridade processual e podem


ser por um lado a tramitação acelerada e por outro a tramitação urgente.

A tramitação acelerada resulta do artigo 23º-A do estatuto do TJ e do artigo 105 do regulamento


do processo e tem em vista abreviar o processo de reenvio prejudicial. Cabe, no entanto,
demonstrar que por forca do 105 do regulamento do processo esta tramitação será adotada a
pedido do TN só excecionalmente, poderá ser decretada oficiosamente pelo presidente do
Tribunal, desde que oiça o juiz relator e o advogado geral e chega á conclusão de que o processo
exige um tratamento em prazos curtos. Nesta circunstância verificamos uma compressão do
prazo para a presentação de observações escritas, praxo esse que noa poderá ser inferior a 15
dias, podendo ainda o TJ através do seu presidente convidar as partes a limitar os articulados
das suas observações às questões de direito essenciais suscitadas no reenvio. O primeiro caso
de reenvio prejudicial sob tramitação urgente é o acórdão jipes de 2001, que foi decidido em 6
meses e se prendia com a necessidade do processo principal de controlo da Febre aftosa.

Tramitação Prejudicial Urgente

A urgente resulta do artigo 23º-A e 107º do regulamento do processo do TJ. Pressupõe esta, a
demonstração de dois requisitos cumulativos. O 1º exige que a matéria do processo principal se
enquadre no espaço de liberdade, segurança e justiça, ou seja, que se enquadre nas matérias
referidas nos 67º do TFUE, concretamente, fronteiras, asilo e imigração, 77º e ss. A 2º matéria
e a cooperação judiciária em matéria civil, artigo 81º do TFUE. 3º cooperação judiciaria em
matéria penal, 82º e ss. Por último, cooperação policial, 87º e ss. Para alem desta exigência,
também se exige a demonstração de urgência na decisão do processo nacional e para o efeito,
por força do artigo 107º. Nº1 do regulamento do processo, caberá ao TN pedir a decretação
desta forma de tramitação. Cabendo-lhe expor por força do nº2 de facto e de direito, que
comprovam a urgência. E tem de indicar na medida do possível, a sua proposta de resposta as
questões prejudiciais. Na tramitação prejudicial urgente a sua decretação oficiosa pelo TJ para
alem de um carater excecional, também depende de um processo próprio que envolve o
presidente do tribunal e a secção do tribunal que está designada pelo período para decidir
processos em tramitação urgente. Por força do artigo 107º, nº 3 o presidente do tribunal ira
solicitar á designada secção seu processo pede a sua submissão á tramitação prejudicial urgente,
cabendo nos termos do 108º, nº 1 a essa secção decidir, mediante proposta do seu juiz relator
depois de ouvido o advogado geral.

No caso de o processo prejudicial ser submetido á tramitação urgente, a decisão que fixa o prazo
no qual podem ser apresentadas as observações escritas e a pp decisão poderá fixar as questões

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de direito que poderão ser tratadas nas observações, podendo inclusivamente à luz do 109º,
parte final, do regulamento do processo fixar uma extensão máxima dessas peças processuais.
Nesta circunstância poderemos ainda verificar que poderá ocorrer á luz do 111º do regulamento
do processo uma omissão da fase escrita, dos caos de extrema urgência, decidindo a secção
depois de ouvido o advogado geral, 112º. O 1º acórdão á luz da tramitação urgente, foi o
acórdão Rinau, de 2008, prolatado pelo juiz português Cunha Rodrigues, e este processo foi
decidido em 60 dias.

Em 2018 os processos urgentes demoraram em média 3,1 meses, o que sofreu um ligeiro
acréscimo em relação a 2017 em que a média era 2,9 meses.

Efeitos do reenvio

O efeito do acórdão de interpretação obriga o TN pois este está vinculado á interpretação de


direito da união que o TJ lhe apresenta, obrigando, alias, as demais instâncias jurisdicionais,
contactem com o processo ainda que superiores. No entanto, o objeto do reenvio prejudicial é
promover uma tendencial uniformidade do direito da união e todos os tribunais de todos os EM
passam a estar vinculados, por conta do p da procedente vinculativo, ao sentido e ao alcance
que aquele acórdão determinou. Alias, dos acórdãos Barber e Hag II o TJ esclareceu que apenas
ele pode mudar o sentido da sua interpretação, vinculada em acórdãos antecedentes na medida
em que o TJ também tem de ser capaz de adaptar a sua jurisprudência às mutações sociais. Por
outro lado, os efeitos de um acórdão de invalidade. Relativamente aos reenvios de validade, o
TJ vai fazer uma de duas coisas: ou vai declarar a invalidade ou vai pronunciar se no sentido de
que o ato jurídico europeu não se encontra minado de invalidade, através da demonstração. Por
sua vez quando o TJ emana uma declaração de invalidade a consequência que dai deriva é que
o juiz que fez o reenvio prejudicial não poderá aplicar na resolução do caso, o ato invalido, como
ficou estabelecido no acórdão Internacional Corporation.

Aula Teórica 12/03/2021

Efeitos temporais do reenvio

Estes constroem-se nos mesmos moldes, quer para os acórdãos, ou decisões geradas no âmbito
de reenvios quer de interpretação quer de validade. Os acórdãos emanados têm assim efeitos
retroativos, em regra, e sito tem impacto na configuração das normas e das relações jurídicas.
Se assim não fosse, estaríamos a promover a própria fragmentação do objeto da norma como
foi declarado pelo TJ Acórdão Richardson. No entanto no que respeita aos acórdãos de
declaração de invalidade, há decisões que devem ser realizadas, apesar de em regra, usarem de
efeitos retroativos, por força da aplicação analógica do 264.º, 2.º parágrafo do TFUE, o TJ poderá
identificar os efeitos do ato inválido que poderão continuar a produzir-se circunstância esta
explicada por conta da necessidade de assegurar o bom funcionamento do mercado interno e a
segurança jurídica das relações já encetadas.

Natureza processual do reenvio nos processos nacionais

Por força do acórdão Bosch o reenvio configura-se como um verdadeiro incidente processual no
âmbito do processo nacional. É um incidente despoletado pelo pp TN o que terá um impacto na
determinação das despesas que lhe estão associadas, cabendo ao TN a fixação desse mesmo
montante e é por isto que deve rejeitar-se o uso ainda que coloquial da expressão recurso
prejudicial, desde logo porque não são as partes que despoletam o reenvio prejudicial, por outro

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lado, tal atavia a compreensão do reenvio na acessão que este tem no processo nacional que o
tratara como um incidente processual.

Formas de decisão do reenvio prejudicial

Normalmente a decisão prejudicial observa a forma de um acórdão. Existem, no entanto,


circunstância que podem determinar diferentes formas de o tribunal se pronunciar. Um acórdão
pressupõe a intervenção do TJ sob uma das suas formações colegiais, intervindo em secção, em
formação mais alargada ou em tribunal pleno, na medida em que o acórdão verifica uma decisão
tomada em conjunto que determinou a participação ativa de mais do que um juiz apesar de
existir 1 com particular destaque, o juiz relator que foi responsável pela redação de uma
proposta de acórdão a partir da qual a formação colegiada delibera e assenta a versão final. No
entanto, por força do artigo 99º do Regulamento de processo do TJ este também pode decidir
por despacho fundamentado sempre que a questão submetida a título prejudicial se subsumir
a uma das seguintes situações:

1) For idêntica a uma situação em que o TJ já se tenha de pronunciar;


2) Quando a resposta a essa questão prejudicial poder ser deduzida claramente da sua
jurisprudência;
3) Quando a resposta á questão submetida a título prejudicial não suscitar nenhuma
duvida razoável.

Para que seja esta a forma decisória adotada, para alem de a questão prejudicial ter de se
incorporar numa destas situações, caberá ao tribunal antes de se pronunciar, atuar assim
mediante proposta do juiz relator e ouvido o advogado geral. Do artigo 99º também resulta uma
compreensão mais ampla desta forma decisória, na medida em que, o artigo 99º encerra em si
apenas uma faculdade, ou seja, uma opção conferida ao TJ tendo este inclusivamente já
esclarecido que nada o impedira de decidir por acórdão ainda que a situação pudesse ser
decidida por despacho fundamentado, Acórdão Feliz Swoboda. Por outro lado, as duas formas
decisórias distinguem-se ainda nos seguintes termos:

Enquanto os acórdãos implicam sempre uma apreciação de mérito, os despachos podem ser
proferidos tanto por um juiz singular, no caso dos despachos fundamentados, pelo juiz relator,
e não implicando uma apreciação do mérito da causa. O despacho dir-se-á fundamentado á luz
do 89º do regulamento do processo do TJ, o qual no seu nº2 exige que para alem das
informações contidas num despacho simples ainda devera detalhar os pedidos das partes, a
exposição sumaria dos factos e os fundamentos. O despacho fundamentado neste contexto é
também um despacho final, na medida em que o mesmo assume um carater executório. Ex de
dois acórdãos: Acórdão P c. M e p o Acórdão JS CONTRA Camara Municipal de Gondomar.

Prolatada a decisão em cede de reenvio prejudicial, a tramitação do reenvio ainda permite, á luz
do 104ºa possibilidade de os órgãos jurisdicionais nacionais, recebendo decisão prejudicial,
avaliarem se se encontram suficientemente esclarecido com a decisão ou se entendem ser
necessário recorrer de novo ao TJ permitindo-lhe obter esclarecimentos relativamente á decisão
obtida no reenvio prejudicial.

O primeiro acórdão é o Acórdão Club Tour, decorrente de um reenvio prejudicial português. No


caso em concreto havia um litígio de ao senhor Garrido, pelo facto de este não ter pago o
montante relativo a uma viajem que havia feito em família á Grécia, considerando 6º e seguintes

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do acórdão. O senhor invocava o não pagamento que quando chegou ao empreendedorismo,


que este se encontrava infestado com milhares de vespas e isso impossibilitou de eles usarem
plenamente das ferias e apesar de ter tentado junto da sua transferência para outro
empreendimento, o seu pedido não pude ser satisfeito na medida que não conseguirão dispor
de outra alternativa. Para sedimentar a sua posição juridicamente, invocou uma diretiva relativa
a viagens organizadas que tinha por objeto e finalidade proteger o consumir de serviços
turísticos, responsabilizando operadores e agências de viagens pelos danos causados pela
incorreta execução do contrato, considerando 10. Perante tais argumentos, o TJ da comarca do
porto, viu-se na contingência de tentar compreender o sentido e alcance da expressão contida
na diretiva <viagem organizada= e por outo lado compreender a expressão <combinação previa=
tendo para o feito realizado um reenvio prejudicial. No caso, o Tribunal de 1º instância, realizou
um reenvio de interpretação, auxiliando-se da sua faculdade ilimitada de proceder ao reenvio
prejudicial, não estando obrigado a realizá-la. Concretamente, ele visava compreender o
conceito de viagem organizada para perceber se viagens organizadas, normalmente designadas,
cm tudo incluído e promovida por uma agência, se inseria no âmbito daquele conceito
indeterminado, considerando o 11º. Visava compreender o alcance combinação previa para
perceber se incluía ou não, as combinações de serviços turísticos efetuadas no momento em
que o contrato e celebrado entre a agência e o consumidor, considerando 17º. O TJ respondendo
á 1º questão prejudicial, esclareceu que uma viagem organizada a acessão da diretiva, é um
conceito que se basta com a combinação de 2 ou mais serviços turísticos vendidos por uma
agência e desde que essa prestação exceda as 24h, não relevando para a fetação do conceito
que a agência tenha acolhido exigências especificas, feitas pelo consumidor, 13º e 14º do
acórdão. Relativamente á 2º questão, o TJ responde abrange também as situações em que a
combinação dos serviços turísticos resulta de exigências especificas feitas pelo consumidor e
expressas no contrato celebrado.

O acórdão McB que se prendia com matérias relativas a um potencial rapto parental, e a
responsabilidades parentais, por parte dos progenitores, o tribunal irlandês, requereu que o
reenvio prejudicial fosse sujeito a tramitação prejudicial urgente, tendo o TJ deferido essa
pretensão. Para o efeito preponderou o facto de o litígio dizer respeito a 3 menores que se
encontravam separados do pai á mais de um ano, o que poderia prejudicar gravemente a relação
dos filhos com o pai, considerando 28. Como a pateira transfronteiriça das responsabilidades
parentais, se insere no âmbito de liberdade, segura, e justiça e a urgência material foi detetada
que uma delonga processual causada pela tramitação comum do reenvio prejudicial não era
admissível. No caso o reenvio prejudicial foi decidido em 60 dias. O pedido entrou em 6 de
agosto e o acórdão foi proferido a 5 outubro. num processo cuja interpretação solicitada era
bastante exigente e trabalhosa.

Acórdão Comissão VS República Francesa é um acórdão resultante de uma ação por


incumprimento, mas cujos considerandos, 100 a 114, nos permitem, com algum graus e
densidade doutrinal compreender a obrigação de reenvio que se impõe aos órgãos jurisdicionais
cuja decisão não cabe recurso interno.

Aula Teórica 15/03/2021

No acórdão Comissão contra Francesa resulta uma ação de incumprimento movida pela
comissão europeia contra este Em mas releva para a precessão do que é um órgão jurisdicional
de cuja decisão não caiba recurso interno permitindo também apreender a teoria do ato claro
deve ser usada pelo tribunal nacional com especiais cautelas na medida em que uma
interpretação equivocada do direito da união aplicável, poderia ser corretamente apreendida

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através de um reenvio prejudicial poderá em ultima analise determinar a violação do direito da


união, por incumprimento da obrigação que o artigo 267º impõe aos estados membros. Para o
efeito, o TJ no considerando 106º, veio esclarecer que as obrigações de os EM de observarem
as disposições decorrentes dos tratados, se impõe a todas as suas autoridades, incluindo,
portanto, as autoridades jurisdicionais, ainda que estas á luz da constituição sejam
independentes. O TJ no considerando 108º, mais esclarece que em regra se impõe a um tribunal
que decide em última instância uma obrigação de colocar as suas questões interpretativas ao TJ
e tal obrigação foi concebida com o objetivo de evitar qualquer estado-membro estabelece
jurisprudência nacional contrária ao direito da união como resulta do considerando 109º. E no
110º o TJ esclarece a teoria do ato claro, demonstrando que esta obrigatoriedade pode não ter
de ser atendida quando não exista para o juiz nacional um duvida interpretativa razoável,
identificando as situações em que duvida não existirá. Primeiro, quando a disposição de direito
da união já foi objeto de interpretação por parte do TJ, ou quando a correta aplicação do direto
da união se impõe com tal evidencia que não levanta uma dúvida razoável, mas em qualquer
dos casos, tal circunstância deva ser avaliada:

1) Em função de caraterísticas próprias do direito da união;

2) Atendendo a dificuldade particulares que a interpretação pode revestir;

3) Quando possam surgir divergências jurisprudenciais no interior da própria união.

Atendendo ao facto de o conselho de estado francês se ter afastado da jurisprudência já


existente do TJ e de não ter feito reenvio prejudicial o ter conduzido a uma conclusão contraria
á interpretação que o TJ adotou demonstra que existia no cado em concreto, uma duvida
interpretativa razoável que o conselho de estado não podia ter afastado cabendo portanto a
obrigação de reenviar e não o tendo feito, conformou-se com o risco de uma interpretação
errada do direito da união tendo portanto violado a obrigação que lhe incumbia por força do
direito originário do direito da união, 113º e 114º.

Ação por incumprimento

Encontra-se regulada nos artigos 258º a 260º do TFUE e é um mecanismo jurisdicional, que foi
encontrado para no fundo lidar com as ações ou omissões impotáveis aos EM que pudessem
contender o cumprimento do direito da UE quer este seja direito originário do direito derivado.
Isto acontece porque a aplicação do direito da união esta na maior parte dos casos nas mãos
dos EM, o que determinou a criação de um mecanismo contencioso que fosse vigilante quanto
á conformação das ordens jurídicas nacionais com o direito da união europeia, assim, o objetivo
fundamental da ação por incumprimento é o que prosseguir os interesses da união em
detrimento das ações ou omissões perpetradas pelos EM e que colocam em causa a ordem
jurídica europeia.

Noção de incumprimento: nos termos dos 258º ou 259º não encontramos uma concretização
de incumprimento, noção esta que não resulta clara dos termos do pp tratado, tendo
competindo ao TJ adensá-la, hoje mais ampla do que a simples violação dos tratados, como nos
ensinam os professores Fausto de Quadros e Ana Maria Guerra Martins, em que o
incumprimento consiste na violação por parte das autoridades estaduais das regras, normas e
princípios do direito da união. Assim o ano de incumprimento engloba a noção de violação e por
violação para efeitos destes artigos, podemos considerar:

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1) Aprovação, adoção ou manutenção de medidas legislativas regulamentares por parte de um


EM que se reputam incompatíveis com o direito da união.

2) Inexação ou execução incompleta ou tardia de obrigações impostas aos EM pelo direito da


união, sendo que nesta segunda situação problema se agudiza, na medida em que os tratados
não preveem um prazo para a conformação do ordenamento jurídico interno tendo o TJ
introduzido os conceitos indeterminados de prazo razoável e de tempo útil para fixar um limite
temporal que há luz do princípio da proporcionalidade se mostre adequado e necessário a tal
conformação tardia.

A situação mais comum de incumprimento prende-se com a não transposição de diretivas no


prazo fixado para o efeito, tendo o TJ esclarecido no acórdão Comissão VS Itália 1970 que não
se considerara transposta uma diretiva quando o EM se limitou a adotar praticas administrativas
quem podem ser facilmente alteradas e que não tem de conhecer publicitação capaz, exigindo-
se que a violação seja real. Também por conta da exigência da efetividade do incumprimento,
foi emanado o acórdão "Code du Travail Maritime” e aqui o TJ veio esclarecer que mesmo
quando os atos adotados pelos EM não produzem efeitos obrigatórios, ainda assim poderão
consubstanciar o incumprimento desse Estado na medida em que são capazes de influenciar a
conduta dos operadores económicos, dos pp consumidores nesse EM contrariando o sentido e
o alcance do direito da união. Assim o incumprimento pode ter 2 naturezas: pode resultar de
um comportamento ativo, ou seja, de uma ação ou de um comportamento negativa, de uma
abstração ou omissão. No incumprimento por ação, podemos estar perante um ato interno
determinado ou um conjunto de atos de natureza legislativa, regulamentar ou administrativa
ou jurisprudencial que se repute incompatível com o direito da união e aqui o objeto processual
da ação por incumprimento serão esses atos, podendo o TJ declarar o incumprimento do estado
por violação do direito da união embora não vá declarar a invalidade ou inexistência desse
mesmo ato, porque sendo ordens distintas o afastamento dos atos internos é da competência
do EM que devera por conta do processo, sem demora, retificar a situação. Já o incumprimento
por omissão, pode basear-se em dois tipos de omissão: numa omissão por não densificação ou
omissão por inadequação das normas em vigor. A abstenção em causa pode consistir na omissão
impotável ao EM em observar os deveres ou as suas obrigações impostas pelo direito da união,
quer seja porque não densifica á luz dos seus poderes de estado o direito da união que o vincula,
por ex, não transposição de diretivas no prazo imposto para o efeito, ou então é uma omissão
por não afastar legislação interna, que entretanto se mostrou incompatível com o direito da
união, mantendo na sua ordem jurídico uma tendência de atuação que se mostrou com a
evolução temporal contrária ao direito da união.

Responsável pelo incumprimento

O incumprimento é impotável ao EM no seu conjunto, independentemente de qual tenha sido


o órgão ou a entidade responsável pela ação ou omissão contraria ao direito da união. alias,
ficou claro desde o acórdão Comissão VS Bélgica de 1986 também concretizado no acórdão
Comissão VS França de 2018, o incumprimento poderá ser imputável ao EM ainda que
concretamente ele tenha resultado de uma ação ou omissão impotável a um órgão
constitucionalmente independente, ou seja podendo o RM ser sujeito a um processo de
incumprimento por conta dos comportamento adotados pelos TN, quer porque estes se
recusem a suscitar uma questão prejudicial quando a isso estavam obrigados, quer porque nas
suas decisões não respeitaram um princípio geral de direito da união ou o sentido ou alcance da
norma de direito utilizada. Durante muito tempo a comissão europeia, uma das entidades com
legitimidade ativa a luz da ação por incumprimento, absteve-se de iniciar processos por

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incumprimento com base na violação pelos EM da obrigação de reenvio prejudicial tendo


optado por outros meios de percussão informais. Um ex, é o acórdão Comissão VS Itália 2003
onde o TJ se poderia ter pronunciado pelo incumprimento com base na inobservância da
obrigação de reenviar, decidindo antes pelo incumprimento fundado na omissão imputável ao
poder legislativo por não ter alterado a legislação interna. Isto foi objeto de mudança com o
acórdão Comissão VS Itália 2013 jurisprudência esta também continuada com o acórdão
Comissão vs. França 2018.

Tramitação processual

É diferente consoante a entidade que inicia a ação por incumprimento, ou seja, a tramitação
processual é diferente consoante a entidade com legitimidade ativa que despoleta o processo
gozam de legitimidade ativa a comissão europeia por um lado e outro EM por outro. Estas
diferentes entidades determinam diferentes tramitações embora em ambas existam 2 fases
processuais, a fase pré-contenciosa e a fase contenciosa.

Há casos expressamente previstos nos tratados que não seguem os tramites gerias dos 258º a
260º. A 1º destas situações é a do artigo 108º do TFUE onde se diz no seu nº 2 <a comissão
europeia depois de notificados os interessados para apresentarem as suas observações verificar
que o auxilio não é compatível com o bom funcionamento do mercado interno ou que o auxilio
de estado está a ser implementado de forma abusiva, decidirá que o estado deverá suprimir ou
modificar esse auxilio de estado e se no prazo fixado por si o estado não atuar em conformidade,
quer a comissão quer outro EM podem dirigir-se imediatamente ao TJ iniciando a fase
contenciosa imediatamente.

Aula Prática 18/03/2021

Ação por incumprimento – Tramitação processual

A ação por incumprimento pode ser despoletada/iniciada por um ou por uma das seguintes
entidades:

1) Comissão europeia;
2) Estados-membros.

Se a ação por incumprimento for iniciada pela comissão europeia, a sua tramitação ocorrerá à
luz dos artigos 258º e 260º do TFUE, por seu lado, se a ação por incumprimento for iniciada por
um estado-membro, a sua tramitação será determinada pelos artigos 259º e 260º do tratado
sobre o funcionamento da UE, do lado passivo, a entidade visava pela ação por incumprimento
e contra a qual esta é movida, será sempre um estado-membro ao qual se imputa o hipotético
incumprimento do direito da União. Vamos então atentar à tramitação processual da comissão
europeia contra um estado-membro, esta tramitação pauta-se por dois momentos:

1) Pela fase pré-contenciosa


2) Fase contenciosa

A fase pré-contenciosa, carateriza-se pela existência, por um lado de aproximações informais da


comissão europeia ao estado-membro pretensamente incumpridor e por dois momentos
formais: a carta de notificação e a imanação de parecer fundamentado. Antes da ação por
incumprimento ser propriamente iniciada, é comum que a comissão europeia contacte o EM
visado para tentar num primeiro momento que este suplante o incumprimento sem se recorrer
formalmente à ação por incumprimento. Para o efeito, troca com o EM correspondência

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informal, visando a solução consensual do incumprimento. Precisamente, o objetivo da fase pré-


contenciosa é o de dar aos EM a oportunidade de justificar a sua situação ou de lhe permitir
repor a legalidade violada, quando esta tentativa não granjeia o sucesso esperado, então, aí sim,
o EM é convidado formalmente a cumprir as obrigações atinentes ao direito da união,
inaugurando-se a ação por incumprimento, através da remessa da carta de notificação ao EM.
Afinal a condenação e a declaração de incumprimento de um EM no âmbito deste mecanismo
jurisdicional, representa alguma gravidade, sendo essencial assegurar ao EM ao qual se imputa
o incumprimento, as garantias processuais adequadas à sua defesa, nomeadamente para se
puder defender das ações ou das omissões que a comissão lhe imputa. A comissão chega ao
conhecimento do incumprimento por duas vias: ou através dos seus próprios trabalhos de
investigação ou porque lhe é apresentada uma queixa por particulares, figura esta que começou
a ganhar relevo a partir do momento em que a comissão europeia adotou uma política de
transparência através da qual se obrigou a acusar a receção das queixas e a no prazo máximo
de 1 ano transmitir ao queixoso se, a situação por si descrita se afigurava preliminarmente como
um potencial incumprimento da ordem jurídica europeia que determinaria a prossecução de
uma subsequente ação por incumprimento. Após as diligências e correspondências iniciais
informais CE dirige uma carta de notificação ao EM visado na qual incorpora imediatamente
pedido de esclarecimento, e a carta de notificação existe para dar cumprimento a dois objetivos:
de forma a promover a plena tutela jurisdicional efetiva do EM faltoso, vai-lhe permitir justificar-
se perante a comissão, tentando porventura convencê-la de que não incorreu em
incumprimento do direito da união, mas também concede ao EM uma oportunidade para ele se
consciencializar do incumprimento e em consequência de o suprir, conformando a ordem
jurídica nacional com a ordem jurídica europeia. A carta de notificação visa granjear uma
resolução amigável, tentando por fim ao potencial incumprimento verificado.

Quanto ao seu conteúdo a carta de notificação já tem de identificar a violação imputada ao EM,
identificando inclusivamente se se funda numa ação ou numa omissão, identificando
inclusivamente as normas de direito da união violadas, nessa carta de notificação também fixa
o prazo conferido ao EM para prestar os esclarecimentos, prazo esse que é normalmente de
dois meses. A carta de notificação serve também para circunscrever o objeto do litigio,
identificando de forma clara e precisa as obrigações decorrentes do direito da união que foram
violadas, no entanto, não se exige que, a carta de notificação inclua uma justificação jurídica
pormenorizada ou definitiva, na realidade se ao longo da sua prospeção investigativa a comissão
europeia concluir pela existência de outra violação pode enviar novas cartas de notificação,
abrindo no entanto novos prazos para o estado se pronunciar e portanto, para apresentar as
suas observações.

A carta de notificação também opera com uma condição de regularidade do própria processo
por incumprimento, ou seja, porque através dela o estado pode apresentar observações escritas
que consubstanciam a observância de uma garantia essencial do processo mesmo nos caos em
que os EM decidem não a usar e portanto as observações que o estado vai apresentar na
sequencia da cara apodem ter por consequência uma mudança ou reiteração á opinião da
Comissão europeia em relação ao incumprimento, portanto apresentadas as observações, a
comissão pode mudar a sua posição quanto á natureza do incumprimento, o que determina que
a carta de notificação seja importante para o estabelecimento do objeto do litigio.

Aula Prática 22/03/2021

Desde o 1º momento que se impõe aos EM a obrigação de facultar todas as informações que a
CE lhes facultar, observando o p. da cooperação entre as partes. Neste contexto é reconhecido

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a CE uma ampla discricionariedade que opera desde a decisão de desencadear a ação por
incumprimento até ao momento em que o pode realizar e inclusivamente a decidir se ira a
continuar a tramitar esse mesmo processo. Alias no acórdão comissão vs. Itália de 1968 o TJ
reconheceu essa ampla discricionariedade á comissão europeia, no caso o que podia ataviar
essa discricionariedade era o facto do parlamento italiano se encontrar em vésperas de ser
dissolvido e os EM invocava que tal circunstância deveria ser equacionada no âmbito do
seguimento do processo para a fase contenciosa que não foi objeto de acolhimento pelo TJ por
conta da ampla discricionariedade reconhecida á comissão. O parecer fundamentado tem 2
objetivos, primeiro expor as razoes de facto e de direito, em que a comissão consubstancia o
incumprimento que imputa ao estado e segundo comunicar ao EM infrator as medidas que a
comissão reputa adequadas para suprir o incumprimento. Ora por conta do parecer
fundamentado, delimita-se o objeto do processo e nele também se estabelece um prazo para o
EM adotas as medidas sugeridas, prazo esse que deve ser adequado ao conjunto de medidas e
á particular exigência ou não que as mesmas devem observar. Assim o prazo fixado no parecer
fundamentado, deve ser adequado á natureza da infração, e aos atos tendentes a eliminá-la e
alias, se esse prazo não for adequado e proporcional, o TJ rejeitará liminarmente a ação quando
a ele chegar na fase contenciosa. Há, portanto, uma ligação entre o parecer fundamentado e a
carta de notificação porque o primeiro deve basear-se nos mesmos pedidos e fundamentação
da carta de notificação. Embora se exija que no parecer fundamentado haja uma maior
densificação. Já terá de existir uma identidade completa entre os fundamentos do parecer
fundamentado e aqueles que aparecerão na petição inicial apresentada perante o TJ e que
iniciará a fase contenciosa por ação de incumprimento já que é com o parecer fundamentado
que o objeto do processo de sedimenta e, portanto, não pode na fase contenciosa a comissão
europeia inovarem sob pena de ter de cumprir todos os formalismos. No entanto a exigência de
coincidência entre a carta de notificação e o parecer fundamentado não é exigida na medida em
que no parecer fundamentado o objeto do processo pode ser restringido na medida em que
alguma das violações inicialmente imputadas através das cartas de notificação podem ficar
dirimidas pela justificação apresentada pelo EM. Do artigo 258º do TFUE parece resultar uma
obrigação para a comissão europeia de emitir o parecer fundamentado, na medida em que o
artigo no seu primeiro paragrafo usa a expressão <formulara=. Há, no entanto, uma parte da
doutrina que considera que a discricionariedade á comissão europeia, também se repercute na
sua faculdade ou não de emitir parecer fundamentado. No entanto apesar da redação do
tratado, o TJ desde sempre recusou a hipótese de jurisdicionalmente se impugnar a omissão
relativa á emissão de parecer fundamentado á luz da ação por omissão do 265º do TFUE. Do
mesmo modo também recusou a impugnação quanto á sua legalidade de pareceres
fundamentados emitidos pelo CE, e o ato em causa, como não é um ato obrigatório, não podia
ser objeto de escrutínio por Acão ou omissão por parte do tribunal organicamente europeu.

Estado-Membro VS Estado-Membro

A tramitação da fase pré-contenciosa difere quando o processo é despoletado por um EM contra


outro EM pretensamente incumprimento, tramitando á luz do 259º. Nestes termos, antes do
EM queixoso se dirigir ao TJ terá de despoletar uma fase pré contenciosa que correra com a
intervenção ou que suscitará a potencial intervenção da comissão europeia, por força do 2º
paragrafo do 259º. O EM queixoso, devera, portanto, começar por expor á CE os motivos que
considera estar na base do incumprimento que imputa ao outro EM, devendo deixar claro nessa
comunicação á CE que tem intenção de iniciar a fase contenciosa perante o TJ. Esta fase pré-
contenciosa, permite á CE tomar conhecimento do potencial incumprimento permitindo-lhe
também querendo, assumir a continuidade da ação por incumprimento. Permite também ao

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EM visado, apresentar as suas observações orais ou escritas, antes da CE querendo, emitir


parecer fundamentado, garantindo, desde este momento, o exercício dos direitos de defesa do
EM visado. Depois destas circunstâncias a CE goza da faculdade de emitir ou não parecer
fundamentado, e caso a CE não emita parecer fundamentado no prazo de 3 meses a contar da
data do pedido que lhe foi dirigido pelo EM queixoso, este poderá dar início á fase contenciosa
apresentando a sua petição inicial perante o TJ. Sendo apresentado o parecer fundamentado
por parte da CE, aos EM queixoso, colocam-se 3 hipóteses:

1) Acompanhar a CE na petição inicial que esta apresente perante o TJ;

2) Acompanhar a CE na parte dos fundamentos que esta aproveita da sua comunicação


podendo inovar relativamente aos demais fundamentos que lhe tenha comunicado e que não
tenham sido por ela aproveitados.

3) Confiar as diligencias posteriores á CE e já não acompanhando a fase contenciosa.

Caso a CE nada faça, o EM queixoso não fica prejudicado e decorridos os 3 meses impostos pelo
259º 4º paragrafo poderá ele pp despoletar a fase contenciosa perante o TJ.

Fase contenciosa

Quando o processo resulta entre a CE e um EM o incumprimento sedimenta-se no momento em


que o prazo determinado no parecer fundamentado decorre, o que significa que ainda que o
EM se coloque em cumprimento no decurso da fase contenciosa, o seu incumprimento será
declarado porque a decisão do TJ se reporta á situação que existia na data em que o prazo fixado
no parecer fundamentado passou. Apresentada por parte da CE ou do EM queixoso a petição
inicial é dada novamente a oportunidade de contraditório ao outo EM na média em que o
processo também na fase contenciosa tem de ser um processo onde os direitos de defesa são
amplamente observados. Findo esse contraditório o TJ emanara um acórdão onde o TJ declarara
em regra se o EM incumpriu ou não o direito da união.

A ação por incumprimento inicia e termina com um acórdão do TJ. Portanto se o incumprimento
declarado resultar de uma ação do EM incumpridor, o TJ não tem a faculdade de anular ou
eliminar esse ato da ordem jurídica do EM pois o seu afastamento cabe ao EM , no entanto a
declaração de incumprimento, quando proferida sob pena de conduzir a um incumprimento
reiterado, acaba pro ter um efeito anulatório da ação nacional, porque as autoridades publicas
desse EM deixam de poder aplicar esse ato sob pena de reiterarem a violação do direito da
união, por sua vez quando o incumprimento resulte de uma omissão, será esta a ser declarada
em desconformidade com a ordem jurídica europeia, sendo declarada a obrigação do EM de
suprir aquela omissão, cabendo lhe adotar medidas necessárias, á execução do acórdão do TJ.
O acórdão nomeadamente em sede de omissão indica de forma abstrata várias medidas que o
EM poderá adotar de forma que poderá suplantar o incumprimento e apesar de ter a partida
um efeito meramente declarativo, por vezes acaba por identificar medidas que o EM deverá
adotar, sendo que este, por força do artigo 260º, nº1 tem de tomar as medidas necessárias á
execução do acórdão emanado. O artigo 269º não estabelece um prazo dentro do qual o EM
tem de cumprir o acórdão, tendo o TJ já se pronunciado, e esclarecido que um acórdão por si
proferido devera começar a ser executado por um EM imediatamente e o processo devera estar
concluído no mais breve prazo possível. O acórdão que declara o incumprimento terá efeitos
retroativos que se reproduzem desde o momento em que a violação do direito da união se terá

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iniciado. Por último, perante a obrigação imposta ao EM pelo artigo 260º, nº1, o EM poderá ou
cumprir o acórdão, ainda que tardiamente, ou, não executar voluntariamente os termos do
acórdão.

Aula Teórica 25/03/2021

Flexibilização do caráter

A decisão de uma ação por incumprimento, apresenta normalmente e a título principal uma
configuração declarativa, através da qual o TJ declara o incumprimento imputável ao EM,
vocação essa que resultou desde o momento histórico em que a ação por incumprimento foi
consagrada, no entanto, este caráter declarativo foi sendo pontuado nas várias revisões dos
tratados, formas de o tornar mais operativo, imprimindo-lhe um caráter de maior coercibilidade
através da introdução da figura da condenação ao pagamento de sanções pecuniárias.
Inicialmente tal caráter condenatório foi introduzido nas ações que tinham por objeto o
incumprimento reiterado do estado-membro, ou seja, quando o EM visado não cumpria
voluntariamente um primeiro acórdão declarativo de incumprimento., isto sucede no âmbito de
uma 2ª ação por incumprimento e, pela tramitação mais célere da fase pré-contenciosa e da
apresentação do incumprimento reiterado ao TJ. Neste contexto as sanções pecuniárias a
aplicar poderão assumir o caráter de quantia fixa ou progressiva, sanção essa que poderá ser
requerida pela comissão na sua petição inicial, embora neste caso, o TJ tenha autonomia para
condenar o EM ao pagamento de uma sanção diferente ou mais elevada daquela que foi
requerida. Estas alterações que datam do tratado de Maastricht determinaram uma alteração
da própria configuração do processo por incumprimento, que passou de um contencioso de
declaração, para um contencioso de plena jurisdição. A sanção pecuniária progressiva é aferida
normalmente numa base diária, embora o TJ já tenha condenado em sanção progressiva anual.
Por sua vez, apesar da literalidade do artigo 260 nº2 do TFUE que explica à adoção de sanção
pecuniária fixa ou, sanção pecuniária compulsória. No acórdão comissão contra França de 2005
o TJ aplicou cumulativamente sanção pecuniária progressiva e sanção de montante fixo,
consubstanciando essa cumulação que era a resposta mais adequada à inexecução do acórdão
anterior e à situação de incumprimento gerada e, alguns autores, nomeadamente o professor
Fausto Quadro e Ana Maria Guerra Martins consideraram que o TJ extrapolou a letra do tratado
que estabelece uma alternativa e não uma cumulação. Com o tratado de Lisboa nova alteração
foi introduzida asseverando o caráter de contencioso de plena jurisdição inerente a este
mecanismo jurisdicional. Na medida em que se introduziu no nº3 do artigo 260º do TFUE, a
possibilidade de logo na primeira ação por incumprimento ser possível a condenação do EM em
ação pecuniária fixa ou progressiva nos casos em que o estado-membro não cumpriu a
obrigação de comunicar as medidas de transposição de uma diretiva adotada. Ou seja, tendo se
compreendido que grande parte dos processos por incumprimento derivarem de problemas
associados à transposição das diretivas, o legislador originário da união europeia, incluiu uma
solução para esse problema. No entanto, aqui, o TJ fica limitado ao exercício do dispositivo pela
comissão europeia, ou seja, o TJ poderá condenar o EM infrator no limite de montante
peticionado pela comissão europeia, como resulta do artigo 260º nº3 2º parágrafo do TFUE.

Acórdão comissão VS Portugal de 2007 (c-665/15)

No caso temos uma circunstância de um artigo de uma diretiva que determinava que os sistemas
relativos ás cartas de condução dos diversos EM se encontrassem interligados através de um
sistema tecnológico designado de RESPER impondo aos EM a sua adoção pela ligação dos
registos nacionais a este registo transnacional e permitia a intercomunicabilidade a

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interoperabilidade, a norma visava evitar comportamentos fraudulentos de renovação ou


pedido de emissão de carta de condução noutro EM quando a mesma tivesse sido retirada pelas
autoridades de concessão em virtude de infrações reiteradas .

Em Agosto de 2013 a comissão europeia fez aproximações informais quanto ao estado de ligação
do sistema nacional de cartas de condução à RESPER na medida em que ligação deveria ter sido
assegurada a partir do momento em que a RESPER estivesse operacional que aconteceu em
janeiro de 2013 e, até agosto Portugal não tinha procedido à ligação, Portugal responde dizendo
que os trabalhos estavam a ser feitos e que a ligação estava para breve em Julho de 2014, a
comissão europeia envia a Portugal a carta de notificação indicando que Portugal tinha 2 meses
para apresentar observações pelo incumprimento que lhe imputava que era o da violação do
artigo que determinava a obrigatoriedade da ligação, artigo 7º alínea d) dessa diretiva. Portugal
responde que, efetivamente ainda não estava ligado, mas argumentou que tinha em curso
diligências para implementar a ligação, estimava que ela estivesse concluída em março de 2015.

A comissão europeia em fevereiro de 2015 dirige a Portugal o sue parecer fundamentado,


determinando que Portugal não estava ligado à RESPER e, indicou-lhe medidas adequadas a
adotar para suplantar o incumprimento, tendo lhe dado 2 meses para o efeito. Portugal
responde dizendo que a ligação estava a ser feita e que, eventualmente estaria pronta em março
de 2016. Perante isto a comissão europeia decidiu iniciar a fase contenciosa. Perante o TJ,
Portugal alegou dificuldades internas, nomeadamente, restruturações internas dos serviços da
administração central e também algumas dificuldades financeiras e, foi ainda invocar que na
sequência da lei do orçamento do estado que entrou em vigor em março de 2016 pode lançar o
concurso público para fazer a ligação.

O TJ esclareceu que, a existência de um incumprimento deve ser apreciada em função da


situação do EM, tal como ela se apresentava no termo do prazo fixado no parecer
fundamentado, considerando 13. É esse o momento que estabiliza o incumprimento para
efeitos de pronúncia por parte do TJUE, acresce que , quanto ás dificuldades invocadas por
Portugal quanto ao atraso, na ligação à RESPER, o TJ no considerando 15 esclareceu que um EM
não pode invocar disposições práticas nem situações da sua ordem jurídica interna, para
justificar o incumprimento de obrigações e de prazos resultantes do direitos da união, tendo
portanto o TJ concluído pelo incumprimento da disposição da diretiva que estabelecia a
obrigação de ligação. Neste caso, apesar do problema se colocar em relação a uma diretiva e à
falta de comunicação das medidas inerentes à sua transposição, a comissão europeia não
requereu a condenação e sanção pecuniária, não tendo também o TJ amplitude para proceder
a essa condenação nos termos do artigo 260 nº3 2º parágrafo.

Aula prática 29/03/2021

Controlo jurisdicional de legalidade

Por referencia ao acórdão os verdes, o TJ esclareceu que os atos ou omissões das instituições,
órgãos e organismos da UE se encontram vinculados a um p da legalidade que permitiu
caraterizar a eu como uma união de direito e portanto o sistema de tutela jurisdicional acabou
por permitir aos interessados reagir contra comportamentos ilegais no quadro institucional da
União europeia, quer esse comportamento se traduza numa ação ou numa omissão do dever
de agir que incumbia á instituição, órgão ou organismo. E aos interessados são dadas três vias
de reação: recurso de anulação, tendente a reagir a atos ilegais praticados pelas instituições
órgãos e organismos da união. O segundo mecanismo é o controlo da legalidade que a todo o
tempo pode ser deduzida perante o TJ como um meio de defesa contra regulamentos da

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comissão, regulamentos do conselho ou do parlamento europeu e do conselho que sejam


violadores da legalidade no quadro da união e por ultimo encontramos a ação por omissão que
é instaurada perante o TJ contra o parlamento europeu e o concelho europeu contra o conselho
contra a comissão ou contra o banco central europeu, para obviar a recusa ilegal, por parte de
qualquer destas instituições da adoção de um comportamento que o direito da união lhe
imponha que adotasse, e estas vias de reação jurisdicional existem porque de acordo com o
artigo 278º do TFUE, os atos da união gozam de uma presunção de legalidade, o que implica que
continuem a produzir os seus efeitos enquanto não forem objeto de afastamento por decisão
do TJ.

Recurso de anulação

Artigos 263º e 264º do TFUE

Este visa permitir aos interessados obter a anulação de um ato ou de uma disposição desse ato
adotado por uma instituição, órgão ou organismo da união europeia que se encontra inquinado
por um dos vícios decorrentes do artigo 263º, 2º paragrafo, determinam que o ato á luz da se
repute como ilegal. A primeira coisa a analisar são as condições de admissibilidade do recurso
de anulação. A admissibilidade depende da verificação de certas condições que podem ser
agrupadas em 3 tipos

1) Condições quanto á natureza do ato litigioso porque tem de se tratar de um ato da


união europeia suscetível de impugnação jurisdicional;
2) Condições relativas á pessoa do recorrente, porque cabe analisar se quem interpõe
o recurso goza de uma legitimidade ampla ou restrita para poder contestar da validade
do ato em questão;
3) Condições relativas ao prazo para a interposição do recurso.
Quaisquer destas condições podem ser invocadas por qualquer das partes, mas são também de
conhecimento oficioso pelo que o Tribunal poderá delas conhecer independentemente
nenhuma parte ter invocado uma condição que pela ausência determina a inadmissibilidade do
recurso.

O 263º, 1º paragrafo e 5º paragrafo, o TJ da União Europeia, fiscaliza a legalidade dos seguintes


atos:

1) Atos legislativos, ou seja, atos jurídicos vinculativos, regulamentos, diretivas e


decisões, adotados de acordo com o procedimento legislativo, 288º, 2889º e 294º.
2) Atos do conselho, da comissão, ou do banco central europeu que não sejam
pareceres nem recomendações. Isto porque não sendo atos vinculativos, não podem
produzir efeitos jurídicos obrigatórios que é um dos pressupostos da admissibilidade do
recurso, recurso de anulação que podem incidir sobre atos vinculativos.
3) Atos do parlamento europeu ou do conselho europeu destinados a produzir efeitos
jurídicos em terceiros
4) Atos dos órgãos e organismos da união europeia, destinados a produzir efeitos
jurídicos em relação a terceiros.
Natureza do ato em si:

Tem de se tratar de um ato jurídico da união europeia, não podendo dimanar de autoridades
nacionais. O ato a anular tem de ser indicado com precisão na petição inicial por parte do
recorrente, porque de acoro com o 21 do ETJ devera haver uma comprovação do chamado
ato passível de recurso e alias, por conta do acórdão Star Fruit vs. Comissão Europeia 1989
a sua não identificação correta configurará uma causa de inadmissibilidade do recurso,

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portanto, um ato recorrível é um ato da união por força do acórdão Recueil 1971 esclareceu
que o recurso de anulação pode ser interposto de todas as medidas adotadas pelas
instituições, quaisquer que sejam a sua natureza ou forma, desde que se destinem a
produzir efeitos jurídicos, quer revistam ou não natureza legislativa, por força do acórdão
ERA de 2008e depois de ter sido imanado o acórdão os verdes, é possível concluir que
também no âmbito do recurso de anulação se trate de qualquer ato que imane de um órgão
ou organismo da União e que se destine a produzir efeitos jurídicos relativamente a 3º.

Noção de ato recorrível, pode ser precisado segundo 2 prismas: por um lado em relação aos
recorrentes privilegiados e por outro lado em relação aos recorrentes não privilegiados
(particulares). Na acessão do artigo 263º do TFUE são atos recorríveis todas as disposições
adotadas pelas instituições europeias, órgãos e organismos, visando produzir efeitos
vinculativos, como resulta do acórdão Deustche Post 2011 mas em relação aos particulares
e por força do 263º 4º parágrafo constituem atos suscetíveis de anulação quaisquer medidas
adotadas no quadro institucional europeu, capazes de produzir efeitos jurídicos vinculativos,
suscetíveis de afetar os interesses do recorrente alterando de forma caraterizada a sua
situação. Isto significa que o recurso de anulação demanda que os particulares demonstrem
um interesse em agir, ou seja, que da anulação do ato, resulte um benefício para o
recorrente, tendo esse interesse em agir de ser efetivo e atual, qualidades essas relativas no
momento da interposição de recurso.

Condições relativas á pessoa do recorrente: começamos por analisar a legitimidade ativa,


ou seja, a suscetibilidade de interpor recurso de anulação. Quanto aos recorrentes podemos
distinguir 3 categorias:

1) Recorrentes institucionais ou privilegiados


2) Recorrentes institucionais sem privilegiados
3) Recorrentes não institucionais não privilegiados (particulares)
Os 1ºs são a comissão europeia, o conselho, o parlamento europeu e os estados-membros
(263º, 2º paragrafo in fine porque gozam de um direito de recurso praticamente incondicionado,
na medida em que estão legitimados a impugnar qualquer ato passível de recurso, não tendo
de fazer prova do seu interesse em agir ou recorrer, podendo socorrer-se em apoio á sua
impugnação de todos os motivos de invalidade constantes nos tratados. O tribunal geral
intervém neste âmbito para conhecer dos recursos interpostos por particulares e por força dos
55º e 56º do estatuto do TJUE estas instituições também gozam do direito de recurso para o TJ
das decisões do tribunal geral em sede de recurso de anulação. Tal recurso vai cingir-se a
questões de direito, mas por conta de serem recorrentes privilegiados, o recurso para o TJ
poderá ser interposto por eles, independentemente de terem ou não intervindo no litígio que
correu perante o Tribunal geral.

Os 2º recorrentes, são o tribunal de contas, o banco central europeu e o comité das regiões,
263º, 3º paragrafo TFUE. E dizem-se assim porque apesar de serem recorrentes, surgem no
contexto do quadro institucional europeu, serão semiprivilegiados porque a sua legitimidade
ativa está limitada á salvaguarda das respetivas prerrogativas, não tendo propriamente de
demonstrar um interesse em agir, mas tendo de alegar que a impugnação de tal ato se enquadra
e visa promover os objetivos que estão na base da criação de tais instituições e organismos, ou
seja, nem todas as instituições,

Os Recorrentes não institucionais ou ordinários, encontramos os particulares. Estes gozam de


legitimada ativa não privilegiada de acordo com o 263º, 4º paragrafo e são não privilegiados

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porque tem de demonstrar o seu interesse em agir, de forma a interpor recurso perante o
tribunal feral e por força do artigo os particulares podem recorrer:

1) Dos atos que lhe sejam dirigidos, ou seja, dos atos que o particular recorrente é
destinatário
2) Embora dirigidos a outros destinatários, o particular consiga demonstrar que o ato
lhe diz direta e individualmente respeito, que se prende com o critério cumulativo da
afetação direta e individual, por ex, o ato não me é dirigido a mim, mas eu consigo
demonstrar que o ato me afeta.
Com o tratado de lisboa foi introduzia uma alteração dos critérios que podem ser demonstrados
pelo particular para sedimentar o seu interesse em agir, diz respeito á possibilidade de interpor
recurso de anulação de atos regulamentares desde que demonstre a afetação direta e o ato
regulamentar em causa não necessitar de medidas de execução.

Aula Teórica 01/04/2021

Legitimidade passiva ou sobre as pessoas dos recorridos

Aqui a LP diz respeito às entidades contra as quais o recurso pode ser interposto e esta
legitimidade passiva está intrinsecamente relacionada com o ato que é objeto do recurso e,
portanto, podemos ter do lado passivo:

1º O conselho, a comissão ou o banco central europeu, em recursos que visem a anulação de


qualquer ato vinculativo pelo qual uma destas entidades seja responsável;

2º Parlamento europeu e o conselho quando o recurso incida sobre um ato legislativo adotado
por ambas as instituições através do procedimento legislativo ordinário, ou que tenha sido
adotado através de um procedimento legislativo especial, mas que implicou a adoção do ato por
uma destas instituições com a participação da outra;

3º Parlamento europeu ou o conselho europeu, sempre que o recurso vise impugnar atos
adotados por uma dessas instituições e que se destinem a produzir efeitos jurídicos vinculativos,
em relação a terceiros;

4º Qualquer órgão ou organismo da união, em que o recurso tem por objeto um ato destinado
a produzir efeitos jurídicos vinculativos em relação a terceiros.

Condição de admissibilidade relativa ao prazo de interposição do recurso

O artigo 263º último parágrafo TFUE, fixa um prazo de 2 meses para a interposição de um
recurso, esse prazo vai ser contado de um de dois eventos:

1ª situação – Da publicação do ato, por força dos nºs 1 e 2 do artigo 297º do TFUE, estão sujeitos
a publicação no jornal oficial da união europeia, primeiro, os atos legislativos, nos termos do
artigo 297 nº1 3 º paragrafo, por sua vez também estão sujeitos a publicação no jornal oficial da
eu, os atos não legislativos adotados sobre a forma de regulamento, diretiva ou decisão, que
sejam de alcance geral, ou seja, nos quais não seja identificado um destinatário, nos termos do
artigo 297º nº2 do TFUE. Isto vai ter uma incidência na contagem do prazo, porque o prazo de 2
meses começará a contar-se a partir do termo do décimo quarto dia subsequente àquele em
que foi publicado, com resulta do artigo 81º nº1 do regulamento do processo do TJ e artigo 102º
nº1 do regulamento de processo do tribunal geral e, a este prazo acresce uma dilação de 10 dias
em razão da distância, em todos os casos, o que significa, que o prazo perentório é de 2 meses,

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mas este só se começa a contar decorridos 14 dias da publicação e depois a esse prazo acresce
uma dilação.

2ª situação – Da sua notificação ao recorrente, ou em caso de ausência dessa notificação, 2


meses contados da data em que o recorrente tomou conhecimento do ato.

Acesso direto dos particulares ao TJ no âmbito do recurso de anulação

O tratado de lisboa, introduziu a dicotomia, atos legislativos e atos não legislativos, que acabou
por ter consequências no âmbito do recurso de anulação, nomeadamente, com a solução
plasmada na última parte do artigo 263º 4º paragrafo, onde o tratado determina a possibilidade
de os particulares recorrerem:

1) Contra atos regulamentares;


2) Que lhes digam diretamente respeito;
3) Que não necessitem de medidas de execução.

Os atos regulamentares, são atos não legislativos de alcance geral normalmente emitidos pela
comissão europeia, no exercício da sua função normativa secundária, quer sejam atos
regulamentares delegados, quer sejam atos de execução e que podem ser atacados através do
recurso de anulação, desde que:

1º - Digam diretamente respeito ao recorrente, isto significa que a lesão decorra do próprio ato,
ou seja, o ato em si priva o particular do exercício de um direito, ou impõem-lhe uma obrigação;

2º - Não pode necessitar de medidas de execução, o que significa que o ato em si, tem de ser
exequível em si mesmo, ou seja, não podendo depender de outro ato nacional ou europeu que
o venha a concretizar.

Aula Prática 05/04/2021

Acórdão Codorniu (Afetação direta e individual)

Este é um acórdão que interpreta a afetação direta e individual, especificamente a individual. O


acórdão Codorniu surge no âmbito de um recurso de anulação, artigo 263º e 264º do TFUE,
podendo gozar de legitimidade ativa os particulares, ou porque são destinatários do ato, ou
porque são capazes de demonstrar a sua afetação direta e individual, ou seja, são capazes de
demonstrar que o ato lhes diz direta e individualmente respeito, ou em 3º lugar e depois das
alterações introduzidas pelo tratado de Lisboa, face a atos regulamentares e que sejam capazes
de afetar diretamente o recorrente. No acórdão Codorniu tentava-se a impugnação/anulação
de um regulamento que reservava a designação Crèmant aos vinhos produzidos em França e no
Luxemburgo, por conta da redução significativa das vendas, de outros operadores económicos
que não podiam mais utilizar aquela designação, por não se encontrarem sediados naqueles
estados membros, onde se incluía a Codorniu, que dá nome ao acórdão, que era uma sociedade
espanhola que produzia e comercializava vinho com a designação de Crèmant à longos anos,
aliás, segundo o considerando 10, era o principal produtor de vinhos com esta designação, em
toda a comunidade europeia, portanto, a Codorniu era o recorrente neste processo, que, como
não era destinatária do ato tinha de demonstrar o seu interesse em agir, enquanto recorrente
não privilegiado, ou ordinário, sob pena do recurso por si interposto ser julgado inadmissível.
Perante o TJ o concelho alegava a sua inadmissibilidade tentado demonstrar que a Codorniu era
afetada com qualquer outro produtor, que utilizava a designação Crèmant, em situação de
identidade com qualquer outro, pelo que, não estava preenchido o seu critério de afetação

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individual, tal qual resulta dos considerandos 14º e 15º. A Codorniu por seu lado, para
demonstrar a sua afetação individual, questionava as delimitações geográficas decorrentes do
regulamento que tinha sido adotado, afirmando que, a designação Crèmant deveria ter em
conta o método de produção adotado e não a proveniência geográfica das uvas ou do vinho.

Por seu lado, a Codorniu também alega que o ato normativo que visava anular um regulamento,
era na realidade, uma decisão tomada sob a forma de regulamento, já que, apenas afetava um
grupo de produtores, bem delimitado, e que, os prejuízos causados pela sua adoção a
individualizavam em relação aos demais produtores, considerando 16º.

O TJ veio pronunciar-se quanto à inadmissibilidade que, a Codorniu tinha sido capaz de fazer
prova do seu interesse em agir, na medida em que foi capaz de demonstrar como o ato
impugnado em causa, a afetava diretamente e, a individualizava, tal como resulta dos
considerados 18º e 20º a 22º, na medida, em que, para além da Codorniu ser capaz de
demonstrar pelos prejuízos sofridos, a sua afetação direta, também se mostrou a sua
individualização, porque era a mais antiga produtora na europa a usar aquela designação e,
porque, os prejuízos sofridos, eram também mais avultados do que os outros agentes
económicos que potencialmente poderiam ser afetados por aquele regulamento, portanto, por
aquele ato de alcance geral, quanto ao mérito, o TJ anulou a disposição do regulamento em
causa, por violação do principio da igualdade, considerandos 34º e 35º, na medida em que
reconheceu, que a designação Crèmant é essencialmente atribuída, com base num método de
fabrico de produtos e não por conta da proveniência desses mesmos produtos e afinal, como os
vinhos produzidos pelo Codorniu preenchiam os requisitos de produção, o regulamento tratava
de modo diferente situações idênticas, sem que para tal, existissem razões objetivas, que o
justificassem, sobretudo quando a menção Crèmant era usada pela Codorniu, em Espanha,
muito antes de ser utilizada em França ou no Luxemburgo, considerandos 28º, 31º e 32º. Assim,
com este acórdão, o tribunal admitiu que um particular pode ser afetado por um ato jurídico de
alcance geral, de forma individualizada, ou seja, ainda que o regulamento visasse aplicar-se à
generalidade dos operadores económicos, ele foi capaz de afetar individualmente alguns deles,
podendo portanto, um particular, ser individualmente afetado por um ato de alcance geral, em
função de certas qualidades próprias do particular, ou por causa, de uma situação de facto, que
o individualiza, em relação a qualquer outro particular. A partir daqui pode esclarecer-se quando
existe uma afetação individual, que é quando o ato jurídico impugnado atinge o recorrente de
maneira análoga a um destinatário e diferentemente em relação a todos os outros, portanto, o
recorrente não sendo destinatário do ato, este ato projeta-se na sua esfera jurídica, como se de
um destinatário se tratasse, ou seja, como se o ato tivesse sido adotado para o atingir, cabendo
ao recorrente fazer prova disso.

O regulamento impugnado, havia sido adotado pelo concelho, pelo que, o concelho era neste
mecanismo jurisdicional o recorrido e, o ato objeto de recurso era o regulamento em causa e
especificamente uma alínea do regulamento em causa, o qual se encontra devidamente
identificado no recurso de anulação.

Acórdão Regione siciliana VS Comissão europeia (processo C15/06 P)

Neste caso, no processo primeiramente decidido pelo tribunal de primeira instancia, atual
tribunal geral, a comissão europeia invocou que a decisão objeto de recurso de anulação, apesar
de dizer individualmente respeito à recorrente, não era suscetível de a afetar direitamente, já
me sede de recurso, por conta de questões de direito e, perante o TJ a comissão europeia, voltou
a invocar a inadmissibilidade, porque considerou que a decisão do tribunal geral partia de uma

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premissa errada, que a decisão de concessão colocava a região siciliana diretamente numa
situação de credora, da contribuição concedida, enquanto que 2º a comissão para que esta
região pudesse receber a contribuição, cabia à republica italiana fazer essa escolha
autonomamente, o TJ no seu considerando 29, começou por esclarecer que uma entidade local
ou regional pode interpor recurso de anulação, desde que dotada de personalidade jurídica ao
abrigo do direito nacional, podendo fazê-lo relativamente aos atos de que era destinatária ou
dos atos que lhe dissessem diretamente respeito e, portanto no considerando 31º, o TJ vem
esclarecer que existirá afetação direta quando a medida europeia impugnada, produza efeitos
diretos na situação jurídica do recorrente, não deixando margem de apreciação aos seus
destinatários encarregados da sua implementação, já que a medida em causa, apresentava um
caráter puramente automático, não dependendo de medidas intermédias, sendo portanto
capaz de afetar diretamente aquele recorrente.

Acórdão Woonlinie

Este vai-se prender com um novo critério, introduzido pelo tratado de Lisboa que diz respeito a
um ato regulamentar que não necessita de medidas de execução e suscetível de afetar
diretamente o recorrente. Neste caso, a Woonlinie interpôs um recurso de anulação de uma
decisão adotada pela comissão europeia, a propósito dos compromissos assumidos entre as
autoridades neerlandesas para com cooperativas de habitação, chamas <WOCOS= no acórdão,
relativamente a um determinado auxílio de estado. Perante o Tribunal geral, a comissão começa
por invocar que o recurso era indemissível porque a decisão da comissão em causa no que ao
auxílio de estado dizia respeito não afetava diretamente a recorrente, tal como resultada do
considerando 5. Por sua vez, a recorrente invoca para demonstrar a sua afetação individual, que
já tinha sido beneficiária do auxílio de estado em questão antes, deste ser alterado pela decisão
da comissão que agora se impugnava, demonstrando que era, individualmente afetada,
considerando 20. O tribunal geral entendeu que, a recorrente não tinha sido capaz de
demonstrar a sua afetação individual, mas como o TJ veio a demonstrar em recurso
subsequente, incorreu num erro de julgamento, porque ao julgar inadmissível o recurso limitou-
se a analisar se o mesmo, em primeiro lugar, tinha como destinatário o recorrente e, em
segundo lugar, não o tendo como destinatário se o ato o afetava direta e individualmente, não
tendo analisado o caso à luz do requisito menos estrito constante do artigo 263º 4º paragrafo
3ª parte, como resulta dos considerandos 33 e 34.

No caso em concreto, o TJ veio esclarecer como se aprecia se um ato regulamentar precisa ou


não de medida de execução, e, par ao efeito nos considerandos 40 e 41, esclarece, primeiro: à
posição da pessoa que invoca o direito de recurso apresenta, em segundo lugar, atender
exclusivamente ao objeto do recurso, esclarecendo que, no caso como a decisão da comissão
não estabelecia as consequências especificas e concretas, para a atividade da recorrente, essas
consequências teriam de resultar de atos de execução, nomeadamente, através da adoção de
uma nova lei de habitação, constituindo enquanto tal, medidas de execução, não se
preenchendo assim, o requisito de inadmissibilidade introduzido pelo tratado de lisboa. No
entanto, o TJ também analisa a qualidade dos recorrentes afim de compreender se a decisão
impugnada lhes dizia individualmente respeito, para o efeito começa por esclarecer, que o
destinatário da decisão são os países baixos, enquanto estado membro da união, considerando
43, oque significa que a Woonlinie é um 3º e não um destinatário, pelo que, só pode alegar que
o ato lhe diz individualmente respeito, quando lhe é aplicável, devido a certas qualidades que
lhe são próprias, ou a uma situação de facto que as carateriza, face a qualquer outro 3º, e que
assim a individualiza, de modo análogo ao destinatário, considerando 44. Desta forma, quando

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o ato impugnado diz respeito a um grupo de entidades que estão identificadas, ou que são
identificáveis quando o ato foi adotado, o ato pode dizer-lhes diretamente respeito,
considerandos 45 e 46. Daqui se conclui que a Woonlinie como outras entidades, integravam
um circuito fechado e individualizado, pelo que a decisão da comissão europeia, dizia
individualmente respeito a esta recorrente, tendo, portanto, o tribunal geral cometido um erro
de direito. Por sua vez, também foram capazes de demonstrar a sua afetação direta, ao
demonstrarem serem titulares de um interesse legítimo na anulação, da parte da decisão,
relativa ao auxílio de estado, na medida em que a mesma acarretou a produção direta de efeitos
jurídicos, no caso negativos, ou de refração de direitos da recorrente, considerandos 57 a 61.
Concluiu então o TJ que o recurso de anulação interposto pela Woonlinie era admissível
remetendo portando o processo novamente ao Tribunal geral, para o conhecimento do mérito
da decisão.

Aula Teórica 08/04/2021

Recurso por omissão

265º e 266º do TFUE

Prede-se com um mecanismo adotado de forma a promover que a legalidade europeia seja
observada e não seja posta em equação por conta de uma omissão imputável a um dos entes
com legitimidade passiva, identificados no 265º. Trata.se de um meio contencioso que permite
reagir contra a inercia das instituições europeias e bem assim, por força da última parte do 1º
parágrafo do 265º, face a omissões verificadas e imputáveis a órgãos ou organismos da união
europeia. A inercia ou omissão é aferida por referência á existência de uma obrigação ou de um
dever de agir, que se impõe á instituição ou instituições visadas por este mecanismo jurisdicional.
Com a sua decisão o TJ não se substitui á instituição, órgão ou organismo da união europeia sobre
o qual impendia o dever ou obrigação de agir, obtendo-se sim uma declaração judicial da violação
omissiva da legalidade europeia, decorrente da abstenção da prática do ato que deveria ter sido
adotada e que com isso se promoveu um prejuízo noutras instituições, órgãos ou organismos,
num ou em vários EM ou aos particulares. Ora, este mecanismo também veio veicular que as
omissões das instituições, órgãos e organismos da união europeia, afetam o p da legalidade que
esta na base de a união europeia se poder reputar como uma união de direito e, portanto, o
sistema instituído á luz deste mecanismo, reagir contra abstenções das instituições, promovendo
também aqui a observância de uma tutela jurisdicional mais efetiva. Mas também iremos ver que
o recurso por omissão vai atuar sobre a existência de uma recusa obvia por parte de uma
instituição órgão ou organismo da união, de adotar um comportamento que o st da união lhe
imponha neste contexto vamos começar por estabelecer a legitimidade. Quanto á legitimidade
passiva, ou seja, aquela que determina a suscetibilidade de ver contra si movido um recurso de
anulação pode caraterizar as seguintes entidades contra as quias o recurso por omissão, poderá
ser interposto: o parlamento europeu, o conselho europeu a comissão europeia, o conselho e o
banco central europeu, nos termos do artigo 265º, 1º parte esta circunstância verificou-se um
alargamento da legitimidade passiva de forma a também conhecer as omissões imputáveis, aos
órgãos e organismos da união europeia, sempre que estes se tenham abstido de pronunciar. Por
outro lado, em termos de legitimidade ativa, ou seja, a suscetibilidade de interpor um recurso
por omissão, vamos fazer a distinção de dois grupos de entes com legitimidade. Encontramos por
um lado os recorrentes privilegiados e por outro lado os recorrentes privilegiados encontramos
os EM, as instituições europeias e os órgãos e organismos da união europeia perante abstenções
imputáveis a outras instituições, órgãos e organismos da união europeia, e tal abstenção tem de
surgir da existência de uma obrigação ou dever legal de atuação na medida em que as omissões

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decorrentes da não utilização de uma faculdade não são suscetíveis de questionamento á luz
deste mecanismos jurisdicional. Por outro lado, os recorrentes não privilegiados, são qualquer
pessoa singular ou coletiva, mas dizendo-se não privilegiados na medida em que terá de
demonstrar o seu interesse em agir no âmbito do recurso por omissão, sob pena de o mesmo ser
considerado inadmissível sem conhecimento quanto ao fundo material do recurso, ou seja, sem
conhecimento da omissão e se a mesma se configura violadora da legalidade europeia. Deste
modo os recorrentes não privilegiados irão propor a ação ou recurso perante o TG e poderão
interpô-lo em uma de 2 situações, primeiro porque a omissão diz respeito a um ato do qual estes
seriam destinatários, portanto, uma instituição, órgão ou organismo, tinha de lhes ter dirigido um
determinado ato. mas o mesmo não foi imanado e portanto não os visou como destinatários
como seria espectável. No entanto o ato omitido, tinha de se tratar de um ato vinculativo, ou
seja, o ato em falta, não poderia ser uma recomendação ou um parecer, na medida em que estes
são atos não vinculativos juridicamente. A segunda situação prende-se com a aplicação analógica
da afetação direta e individual decorrente do recurso de anulação para os casos em que o ato
omitido não tendo os recorrentes como destinatários, seja possível demonstrar que a sua
omissão afetou os particulares de forma direta ou seja, produzindo na esfera jurídica dos mesmos
uma afetação, ou seja, que a medida europeia omitida produza efeitos diretos na situação jurídica
do particular que de outra forma não se verificaria, mas o particular tem também de demonstrar
a sua afetação individual, ou seja, que a omissão em causa, objeto deste recurso, atinge o
recorrente, de maneira análoga aquela que atinge o seu destinatário cabendo ao recorrente,
demonstra que apesar de não ser destinatário do ato omitido, tal omissão se projeta na sua esfera
jurídica como se ele fosse destinatário ou seja, como se a omissão tivesse ocorrido para o atingir
a prova da afetação direta e individual cabe ao recorrente não privilegiado.

Tramitação processual do recurso por omissão

O processo no âmbito do recurso por omissão comporta duas fases distintas, uma pré-
contenciosa e uma contenciosa. A 1º pauta-se pelo disposto no 265º, 2º parágrafo do TFUE
demandando-se que nesta fase o recorrente seja ele privilegiado ou não privilegiado tiver
conduzido á instituição, órgão ou organismo em causa e em falta, um convite para agir, dispondo
a instituição faltosa de um prazo de 2 meses a contar da data do convite para tomar uma posição.
Com esta fase, visam-se duas finalidades: Primeiro, sedimentar a omissão imputável ao potencial
recorrido, serve para convidar a instituição que não atuou, a agir, ou então a manter e a reiterar
a omissão que lhe é imputada. Por outro lado, visa uma tentativa de resolução informal para a
omissão que é detetada. Dando-se assim a possibilidade de a instituição faltosa adotar o ato
embora se imponha que o faça num prazo relativamente curto e perentoriamente previsto na
letra dos tratados. Se decorrido o prazo de 2 meses para a instituição agir e esta não o tiver feito,
mantendo a omissão, o recorrente dispõe de um novo prazo de dois meses, para a interposição
de recurso perante o TJ da união europeia. Como o desfecho desta fase nos podemos ter 3
situações: 1) o potencial recorrido adota o ato omitido, não havendo necessidade de introduzir o
recurso por omissão perante o TJ. 2) a instituição faltosa nada diz no prazo de dois meses que lhe
é conferido, situação em que a omissão se sedimenta e no prazo subsequente de 2 meses é
possível ao recorrente iniciar o recurso por omissão. 3) a instituição faltosa, não adota o ato
visado, mas pronuncia-se recusando explicitamente a sua adoção. Neste caso, a omissão objeto
deste mecanismo jurisdicional, não se verifica nem se sedimenta na medida em que a instituição
visada acaba por tomar uma posição, interrompendo comportamento omissivo que a
caraterizava. Como a instituição visada interrompeu a omissão para expressamente recusar a
adoção do ato promovido, os recorrentes deixam de ter objeto para o recurso para anulação por
omissão, tendo outro mecanismo jurisdicional á sua disposição, concretamente o recurso de

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anulação que serve precisamente para questionar a atuação vinculativa de uma instituição, órgão
ou organismo da união europeia, violadora da legalidade europeia.

Fase contenciosa

Esta esta neste caso, sujeita a duas obrigações para ser despoletada, primeiro que o recurso
interposto perante o TJ da união europeia observe o prazo perentório de 2 meses que resulta do
265º, 2º parágrafo, e em segundo lugar, sob pena de inadmissibilidade de recurso que se
demostre na peça processual que o indicie, o objeto desse recurso, ou seja, a existência da
omissão reiterada do recorrido ou dos recorridos. Coloca-se uma terceira exigência de
admissibilidade, na medida em que estes terão sempre perante o TG de demonstrar o seu
interesse em agir, seja porque seriam destinatários do ato em falta, seja porque não o sendo,
terão de provar que a omissão os afeta de forma direta e individual.

O TJ da união europeia ira declarar a violação do direito da união europeia por abstenção
imputável ao recorrido, embora não se substitua a esta instituição, ou o seu acórdão tenha
carater condenatório, no entanto por força do artigo 266º da União europeia impõem-se á
instituição, órgão ou organismo cuja abstenção tenha sido declarada, contraria á legalidade
europeia que esta devera adotar as medidas necessárias á execução do acórdão imanado pelo
TJ, 266º, 1º parágrafo. Ora, nesta circunstância por força do próprio direito originário da união
europeia, imerge uma obrigação para o recorrido ao qual a omissão é imputável, determinando-
se do 2º parágrafo do 266º que independentemente do cumprimento de tal obrigação, a
instituição em falta poderá determinar que a união europeia indemnize os danos causados por
aquela no exercício das suas funções, 340º, 2º. O 3º parágrafo é aplicável nos casos em que a
omissão seja imputável ao banco central europeu, ou aos seus agentes no ex das suas funções,
mas cabendo a esta pp instituição, o dever de indemnizar no âmbito da responsabilidade
extracontratual.

Aula prática 12/04/2021

Acórdão Bionorica SE e Diapharm vs Comissão Europeia 2017, C-596/15 P C-597/15 P.

Estamos perante um recurso por omissão interposto por duas empresas contra a comissão
europeia, imputando-lhe uma abstenção de agir. Por conta de um regulamento, incumbe á
comissão europeia, encetar comunicações com a autoridade europeia de saúde a propósito da
catalogação de determinados alimentos importando a estas empresas á comissão europeia que
tal articulação não incidiu sobre todos os alimentos que tinham sido objeto de comunicação ao
longo do tempo. Acresce que a autoridade europeia competente, adotou um regime transitório
relativamente a determinados produtos, não tendo incluindo outros porque a comunicação que
se impunha comissão europeia, não tinha sido realizada. As entidades em causa, despoletando o
recurso de omissão, do artigo 265º, do TFUE, deram início á sua fase pré-contenciosa, com a
comissão o diálogo formal imputando a omissão em causa e identificando a sua intenção
relativamente a esta instituição praticar o ato em falta. Na sequência, a comissão europeia
responde por simples carta informando que o peticionado demorava o seu tempo, mas não
dando conta de uma possibilidade quanto ao cumprimento e á ação legalmente exigida. Perante
isto, foi despoletada a fase contenciosa, e o tribunal geral por simples despacho intendeu por um
lado que a comissão já não estava em situação de omissão, porque se tinha pronunciado por
carta e por outro lado, analisando o interesse em agir de ambas as recorrentes na medida em
que a não adoção da lista de produtos por falta de comunicação da comissão europeia ao
organismo em causa, não afetava direta e individualmente, cada uma das recorrentes. Decidiu

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por despacho tendo sido interposto recurso. O TJ fez a seguinte apreciação, começou por
esclarecer que o recurso por omissão só será admissível se a instituição em falta tiver sido
previamente convidada a agir, nos termos do 51º, esclarecendo que a omissão em causa, pode
dizer respeito a um ato que produz efeitos jurídicos obrigatórios, como a falha de adoção de um
ato preparatório que se repute necessário á tramitação de um processo que deve terminar com
um ato que produza tais efeitos obrigatórios, 53º. Por outro lado, esclarece que o convite dirigido
á instituição omissiva deve ser explicito e suficientemente preciso para lhe permitir conhecer o
conteúdo do ato em falta devendo esse convite também incidir e salientar que com ele se
pretende compelir a instituição a agir. Posto isto a carta imanada pela comissão na sequencia do
convite para agir que lhe foi dirigido, tem de ser analisada de forma a perceber se a mesma poe
termo á omissão que lhe é imputada, tendo o TJ considerado que por um lado nem a comissão
fez a comunicação á autoridade, como lhe foi pedido pelas recorrentes, nem através das suas
cartas, quando procederia a tal comunicação, pelo que por tal ato a comissão não pôs termo á
sua omissão, não sendo com base em tal fundamento o recurso por omissão inadmissível, 55º a
60º. No entanto o TG, também entendeu que as recorrentes não tinham sido capazes de no seu
recurso que iniciou a fase contenciosa, demonstrar o seu interesse em agir por conta de não
terem sido capazes de demonstrar que da comunicação que visavam que a comissão fizesse,
poderiam retirar algum benefício. O TJ começou por esclarecer que cabe ao recorrente fazer
prova do seu interesse em agir, que configura uma condição previa e fundamental para
despoletar a fase contenciosa, 83º. O interesse em agir, tem de ser existente e atual, ou seja, diz-
se existente porque ele tem de existir no momento em que o recurso é interposto, sob pena de
inadmissibilidade e perdurar até a prolação da decisão sob pena de o mérito não ser conhecido
e tem de ser atual porque não pode dizer respeito a uma situação futura e hipotética. No caso
em concreto o TG considerou que existindo um ato transitório, os interesses das recorrentes
estavam assegurados para considerar a não demonstração do seu interesse em agir, face a isto o
TJ DISCURDOU de tal fundamentação intendendo que uma constatação de equivalência entre um
regime transitório e um regime definitivo não podia ser aceite na medida em que as categorias
sobre a quais incidia o ato adotado, eram diferentes das categorias da comunicação não havia
ocorrido, 87º. Tendo portanto compreendido que também este fundamento adotado pelo TG
não colhia no processo em causa, tendo declarado a anulação do despacho do TG com os devidas
repercussões e a necessidade de nova analise do pp processo.

Aula Teórica 15/04/2021

Exceção de ilegalidade

Está prevista no 277º do TFUE. Determina que mesmo que depois de decorrido o prazo do 163º
qualquer parte pode recorrer aos meios previstos no 2ºpr do 263º, para arguir perante o TJ a
inaplicabilidade de um ato de alcance geral adotado por uma instituição, órgão ou organismo da
união europeia. Da literalidade deste artigo conseguimos derivar porque e que alguns
doutrinários se referem a este mecanismo como mecanismo de inaplicabilidade de atos e não de
ilegalidade, no entanto, atendendo também á literalidade do 277º, conseguimos compreender
que o mesmo se auxilia de todas as causas de invalidade como estão mencionados no 2º
parágrafo do 263º. Assim, a exceção de ilegalidade constitui uma via processual acessória que
permite a invocação da ilegalidade ou invalidade de um ato no âmbito de um processo que já
corra em qualquer das instâncias orgânicas do TJ visando a sua não aplicação naquele processo
em concreto. Trata-se portanto e um mecanismo contencioso incidental que foi pensado
explicando-se porque tem em vista dar observância quer ao p da legalidade que pauta a ordem
jurídica europeia para dar observância dos tribunal organicamente europeus, à tutela
jurisdicional efetiva, sendo um mecanismo sobretudo operante para aqueles que se qualificariam

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como recorrentes ordinários, quer no âmbito do recurso de anulação, quer no âmbito do recurso
por omissão, mas que em concreto não gozariam de legitimidade ativa para autonomamente ou
impugnar o ato à luz do recurso de anulação, ora para reagir quanto à omissão, através do recurso
por omissão, na medida em que se lhe colocariam, particulares dificuldades na demonstração no
seu interesse em agir. Quanto ao seu objeto, a exceção pode ser deduzida contra qualquer ato
de alcance legal adotado por uma instituição, órgão ou organismo da união europeia que
continue em vigor nesta ordem jurídica. Esta redação, configura um avanço jurisdicional elevado
em relação ao que acontecia antes da entrada em vigor do tratado de lisboa e das alterações por
este introduzidas. Na realidade, á luz da anterior redação, a exceção apenas podia ser deduzida
face aos regulamentos adotados em conjunto pelo parlamento europeu e pelo conselho e eu
relação aos regulamentos adotados pelo conselho, pela comissão ou pelo banco central europeu.
A jurisprudência previa a esta nova redação, passou também a reconhecer a possibilidade de
dedução da exceção contra atos de carater análogo ao de um regulamento, mas deixava de fora
um conjunto muito vasto de atos de alcance geral, desde logo as diretivas. Com a atual redação
que encontramos no 277º, tornou-se claro que a exceção de legalidade também pode ser
suscitada relativamente a diretivas e mesmo em relação a decisões desde que estas tenham a
suscetibilidade de apresentar alcance geral. A exceção de ilegalidade como incidente processual
que é, apenas pode ser deduzida num processo que corra perante os tribunal da união ao abrigo
de uma das vias processuais previstas no Tratado, mas é mais habitualmente utilizada no âmbito
de recursos de anulação, embora também possa ser suscitada no âmbito de um recurso por
omissão, só que como mecanismo incidental, a inadmissibilidade da ação principal resultara
automaticamente da inadmissibilidade a exceção de ilegalidade, no entanto, não pode ser
utilizada no decurso de um processo que corre perante os TN, na medida em que nestes, já existe
um outro mecanismo de carater incidental vocacionado a aferir da invalidade ou não invalidade
de uma disposição de direito da união mobilizável, que é o reenvio prejudicial. Por sua vez, para
que a exceção de ilegalidade seja admissível tem de se verificar a existência de uma conceção
relevante entre o objeto da ação principal e o ato de alcance geral cuja ilegalidade é suscitada,
quer porque o ato de alcance geral cuja ilegalidade é suscitada configura a base legal do ato que
esta a ser questionado no contexto de ação principal, quer porque o ato cuja ilegalidade esta a
ser suscitada não configurando a base jurídica do que esta a ser questionado é aplicável direta ou
indiretamente no caso concreto.

Ex: no âmbito de um recurso de anulação é questionada a validade e peticionada a anulação de


uma decisão adotada pela comissão europeia. No amito deste recurso é deduzida uma exceção
de ilegalidade que visa a desaplicação do regulamento que fundamentou a decisão da comissão
europeia por este violar uma qualquer disposição do tratado, ou de outro modo, se encontrar
inquinado por um dos vícios mencionados no 263º, 2º pr.

Quanto à segunda situação, uma exceção de ilegalidade, poderá ser suscitada contra orientações
aprovadas pela comissão europeia sobre o método de calculo das coimas a aplicar por violação
de regras da competência no contexto de um recurso de anulação que visa anular uma decisão
da comissão que aplicou uma coima. Nos termos do 277º, a exceção pode ser invocada por
qualquer parte num processo que corre termos no tribunal da união, podendo, pois, ser suscitada
por um estado-membro, uma instituição, órgão ou organismo da união europeia ou por um
particular, quer intervenham na qualidade de demandante, quer de mandado.

A exceção de ilegalidade assume particular relevo, para os recorrentes não privilegiados ou


ordinários para os quais o acesso ao recurso de anulação é limitado, podendo, portanto, a
exceção de ilegalidade surgir como um meio indireto para os particulares se defenderem de atos
ilegais que não poderiam autonomamente impugnar á luz do 263º, 4º parágrafo por conta das

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exigências inerentes á invocação e prova do seu interesse em agir. A invocação da exceção de


ilegalidade pelos EM e pelas instituições europeias foi no passado suscetível de muita
controvérsia doutrinal, na realidade, tratando-se de recorrentes privilegiados dispunham de
legalidade irrestrita para recorrer de qualquer ato suscetível de produzir efeitos jurídicos
vinculativos, sobretudo porque quando estes recorrentes privilegiados tivessem tido a
oportunidade de recorrer e tivessem optado por não o fazer, a utilização da exceção de
ilegalidade poderia por em causa o próprio princípio da segurança jurídica. Ora, em principio a
exceção de ilegalidade deve ser suscitada por uma das partes no processo principal, no entanto,
excecionalmente os tribunais da união europeia poderão apreciar oficiosamente a legalidade ou
ilegalidade de um ato que esteja na base do ato que esta a ser questionado na ação principal,
sobretudo nas circunstância de ilegalidade mais evidente, ou seja, por verificação de
incompetência da instituição que o adotou ou por se verificar que se violaram formalidades
essenciais. No âmbito da exceção de ilegalidade, podem ser invocados como determina o próprio
artigo 277º, todos os vícios que podem ser esgrimidos no âmbito do recurso de anulação, a
incompetência, a violação de formalidades essenciais, a violação de normas de direito primário,
secundário dou de princípios gerias do direito da união ou ainda por desvio de poder, sendo que
o controlo jurisdicional do ato questionado, será exercido em moldes idênticos ao que ocorre no
recurso de anulação ou na ação por omissão. No entanto, tratando-se de uma via processual
acessória a consequência imediata da verificação da ilegalidade do ato será a sua desaplicação
no caso concreto e consequentemente no processo principal. Tal determinará que o ato
declarado ilegal, não será automaticamente ilimitado da ordem jurídica europeia, cabendo á
instituição, órgão ou organismo que o adotou, extrair as consequências de tal declaração de
ilegalidade e designadamente ou proceder á sua alteração ou proceder á sua revogação. A
manutenção do ato, na ordem jurídica europeia, poderá conduzir á emergência de
responsabilidade extracontratual da união nos termos do 340.º, 2.º parágrafo do TFUE, no
entanto, se o ato declarado ilegal tiver sido adotado pelo banco central europeu e este não
retirando as necessárias consequências de tal declaração de ilegalidade constante na decisão do
TJ será à luz da responsabilidade extracontratual a pp instituição banco central europeu que
deverá indemnizar os danos causados por si ou pelos seus agentes no exercício das suas funções.

Aula Prática 19 abril 2021

Caso Mowi ASA vs Comissão processo c-10/18 P

Recurso da decisão do tribunal geral, foi utilizada a exceção da mobilidade no âmbito do recurso
e anulação, especificamente, foi invocado o mecanismo da exceção de ilegalidade, consagrado
no 277º do TFUE, para invocar a ilegalidade de uma disposição de um regulamento que visava
precisamente uma avaliação de desconformidade desta disposição, de forma a evitar o regime
sancionatório que a comissão havia aplicado à recorrente, no entanto, a exceção de ilegalidade
apenas foi aduzida no âmbito da audiência de julgamento do recurso da decisão do TG,
entendendo a comissão que tal fundamento no momento em que era invocado, seria
inadmissível, na medida em que, tal mecanismo incidental não havia sido deduzido perante o
TG, órgão jurisdicional competente, para conhecer em primeira instancia o recurso de anulação,
tendo o TJ esclarecido os considerandos 124º a 128º que permitir a uma parte uma invocação
de um argumento que nunca havia sigo esgrimido anteriormente, permitir-lhe submeter ao TJ
que nesta matéria tem competência em segunda instancia e normalmente limitada a questões
de direito, a submissão de um objeto processual mais amplo do que aquele que havia sido
discutido perante o TG, no âmbito de um recurso que tem por base apenas recorrer da decisão

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do TG, a competência do TJ encontra-se obviamente limitada a apreciar a solução jurídica que o


TG deu com base nos fundamentos que este próprio teve suscetibilidade de conhecer, nunca
tendo sido perante ele invocada a ilegalidade do regulamento em causa.

Acórdão comissão europeia contra um conjunto de cidadãos de estados terceiros, o


parlamento europeu e o conselho, e o parlamento europeu.

Processos apensos C 119/19P e o processo C 126/19P, 2020

Exceção de ilegalidade neste contexto é invocada e o TJ vem fazer as seguintes considerações:


quando se esteja perante um litígio que ponha em causa uma ato de alcance geral adotado de
uma instituição, um órgão ou organismo da EU, é possível utilizar com os mesmos fundamentos
previstos no artigo 263º 2º paragrafo, a exceção de ilegalidade, na medida em que, dá
cumprimento à tutela jurisdicional efetiva, assegurando através de um incidente processual, a
possibilidade de impugnar um ato de alcance geral, que tenha uma afetação na decisão que se
está a contestar, considerando os 66º e 67º. No considerando 68º deste acórdão, o TJ esclarece
que o ato cuja ilegalidade é suscitada através deste mecanismo jurisdicional, tem de se
demonstrar que esse ato é aplicável direta ou indiretamente ao caso concreto e que está a ser
objeto do recurso e é por isto que, no âmbito de recursos de anulação, interpostos de decisões
individuais, o TJ veio a admitir que podem validamente ser objeto de uma exceção de ilegalidade
as disposições de alcance geral que estejam na base de tais decisões, no entanto, essa exceção
de ilegalidade já não poderá ser realizada quando não tem qualquer relação com o processo no
qual ela é levantado. Nesta circunstancia o TJ esclareceu que especificamente, a exceção de
ilegalidade incidida sobre uma disposição que não tinha qualquer relação com o objeto da ação
principal, que eram recursos de anulação, nem de forma direta, ou seja, a medida que estava a
ser sujeita a anulação tinha sido influenciada pelo ato dito ilegal, ou porque indiretamente, o
ato refutado como ilegal afetava de alguma forma a execução dessa decisão, não sendo
portanto, procedente a exceção de ilegalidade congregando necessariamente a inaplicabilidade
a medida de direito de união em causa.

Acórdão Credito fondiário SpA 2020, processo C-69/19P

este processo prendia-se com um recurso de anulação, tendo por base a união económica e
monetária, prendendo-se com a resolução de instituições de credito e empresas e investimento,
também é uma demonstração da inadmissibilidade manifesta da exceção de ilegalidade, no caso
em concreto estamos perante um recurso da decisão do TG, tendo o recorrente invocado 5
fundamentos que estão na base do seu recurso. No FUNDO O recorrente invocava que as
decisões de que decorria apenas tinham sido conhecidas mais tarde, o que determinava que a
contagem do prazo do recurso de anulação não tinha ainda decorrido aquando da sua
apresentação, tendo o TG entendido que esse requisito de admissibilidade não estava cumprido,
mas tinha também deduzido no recurso de anulação perante o TG, uma exceção de ilegalidade
à luz do 277º, tendo entendido que no caso havia uma especificidade quanto ao processo do
recurso do anulação decorrente do 135º do regulamento do processo e nesta circunstancia
invocava que a ilegalidade por si invocada perante o TG tinha de ser admitida, o TJ começou por
esclarecer que o direito à ação resultante do 277º do TFUE, não constitui um direito de ação
autónoma e não pode ser exercido na falta de um direito na ação principal, na medida em que,
o recorrente invocado a ilegalidade de um regulamente, tendo em conta que não tinha
legitimidade para que através do recurso de anulação, o impugnar pq não era destinatário do
ato e não tinha sido capaz de demonstrar a sua afetação direta e individual e portanto, tinha

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optado por não o fazer, de deduzindo uma exceção de ilegalidade. O TG entendeu que este
pedido tinha implícito um objetivo de obter uma declaração de ilegalidade, na medida em que,
incidia também diretamente sobre o tal regulamento, o TJ confrontado com este fundamento,
o considerando 64, entendeu que o TG tinha analisado a circunstancia de forma coerente, na
medida em que, a exceção de ilegalidade invocada não tinha uma relação direta com as decisões
controvertidas que o recorrente estava a tentar anular, não podendo configurar-se como um
mecanismo autónomo,, sobretudo quando havia uma inadmissibilidade do recurso de anulação,
ora, se o recurso, ou seja, a ação principal é inadmissível, o incidente que nela corre, também
será inadmissível porque, se deixamos de ter processo na ação principal, o incidente também
deixa de ter processo face ao qual corre, determinando que a inadmissibilidade de recurso de
anulação, determinava a inadmissibilidade da exceção de ilegalidade.

Regime da responsabilidade dos estados por violação do direito da união:

Acórdão GunterFUB 2010

No caso em concreto tínhamos um senhor que era sapador bombeiro do lande, que funcionava
como empregador do senhor, e esse senhor tinha trabalhado cerca de 54h semanais durante
um período largo de tempo, quando existia uma diretiva no DUE que estabelecia o limite
máximo de trabalho semanal a 48h incluindo horas extraordinárias por um período de 7 dias. A
referida diretiva não tinha sido objeto de transposição, tendo expirado o prazo para o efeito,
considerandos 21 a 29, 31 e 36. O senhor gunterfub propõe uma ação de responsabilidade do
estado por violação do direito da EU. Para o efeito cabia, antes de mais, esclarecer que a
disposição em causa gozava de efeito direto, na medida em que, era uma norma que conferia
direitos ao senhor, fazia-o de forma clara, precisa e incondicionada, já tinha decorrido o prazo
de transposição e a disposição era invocada gozando de efeito direto vertical, ou seja, particular
contra estado. Nesta circunstancia, o principio da responsabilidade do estado é um principio
inerente ao sistema dos tratados, corolário da lealdade europeia, considerando 45, que veio
impor aos estados-membros uma obrigação de repararem os danos causados na esfera jurídica
dos particulares, por conta de uma ação ou de uma omissão imputada aos estados-membros,
violadora do direito da união europeia, considerando 46. Segundo jurisprudência constante do
TJ, são 3 as condições cumulativas para que haja a responsabilidade de um estado-membro: 1º-
que a norma de direito da união violada confira direitos; 2º- que a violação tem de ser
suficientemente caracterizada; 3º- que exista um nexo de causalidade entre a violação imputada
ao estado e o dano sofrido pelo particular, considerando 47. E o tj, a propósito do senhor,
verificou se estas condições estavam ou não preenchidas, a primeira estava preenchida, quanto
aos+ segundo pressuposto, tem na sua base um conceito indeterminado, o que é uma violação
suficientemente caracterizada? E o Tj no considerando 51 veio esclarecer que os requisitos para
aferir se uma violação era suficiente caracterizada são 2: 1º- atender ao grau de clareza e de
precisão da norma violada; 2º- verificar se tal norma confere maior ou menor margem de
discricionariedade às autoridades nacionais, assim, quanto maior for o grau de clareza e de
precisão da norma e quanto menor for o grau da margem de discricionariedade deixada às
autoridades nacionais, mais facilmente a violação se reputa como suficientemente
caracterizada.

Quanto ao terceiro critério, o TJ também parece inclinar-se no sentido do seu preenchimento,


considerandos 59 e 60. Uma ultima nota: a ação de responsabilidade do estado por violação do
direito da união será proposta perante os tribunais nacionais, razão que justifica que o acórdão
gunterfub surja no âmbito de um reenvio prejudicial, por outro lado, também para facilitar a
propositura desta ação perante os tribunais funcionalmente europeus, o TJ esclareceu que a

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ação pode ser proposta quer contra a entidade publica nacional que concretamente está na
origem do dano, como contra o estado sendo que, em ambas as situações, a ação se considerará
bem proposta, não há limitação da legitimidade passiva, resulta do considerando 61. E esta
solução favorece a tutela jurisdicional efetiva, na medida em que, garante a existência em
qualquer circunstancia de uma entidade civilmente responsável perante os particulares, para
alem de os dispensar de apreender o sentido dos esquemas eventualmente complexos de
repartição interna de competências, o que poderia limitar a sua tutela jurisdicional efetiva.

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