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O recurso de amparo constitucional no

sistema jurídico espanhol


» Danuta Rafaela Nogueira de Souza

INTRODUÇÃO

Pelo recurso de amparo constitucional, qualquer pessoa


pode, de forma direta, requerer um pronunciamento do
Tribunal ConstitucionalEspanhol – corte encarregada de
exercer a jurisdição constitucional naquele país - em caso
de violação a qualquer direito fundamental do cidadão
resguardado pela Constituição espanhola de 1978.

Assim, o recurso de amparo é uma ferramenta de proteção


dos direitos fundamentais ameaçados por ações ou
omissões do Legislativo, Executivo e Judiciário. Ou seja,
trata-se de poderoso instrumento constitucional que visa
assegurar a efetividade dos direitos fundamentais. 

A existência do recurso de amparo no direito espanhol se


justifica diante da necessidade de se afastar as
arbitrariedades típicas do regime ditatorial anterior à
Constituição de 1978. Assim, o Constituinte concedeu ao
Tribunal Constitucional a possibilidade de analisar o recurso
de amparo visando não apenas se reconhecer determinados
direitos como essenciais à vida humana, mas também para
garantir estes direitos a todos e protegê-los de qualquer tipo
de violação ou ameaça decorrente da ação ou omissão dos
poderes públicos.

O amparo constitucional espanhol, no entanto, surge como


uma garantia subsidiária, ou seja, somente poderá ser
utilizado quando for constatado que a jurisdição ordinária
não obteve êxito na proteção dos direitos fundamentais ou
ainda ou ainda quando perceber-se que a própria justiça
ordinária é responsável pela proteção indevida do direito
fundamental. 

O RECURSO DE AMPARO CONSTITUCIONAL

O recurso de amparo é dirigido diretamente para o Tribunal


Constitucional Espanhol, que é um órgão fora da estrutura
do Poder Judiciário, tendo por atribuição a de guardião da
Constituição Espanhola e de seus preceitos, além de ser
responsável pela proteção dos direitos fundamentais, do
controle das leis e da resolução dos conflitos de jurisdição.
Por ser um órgão de jurisdição especial, o Tribunal
Constitucional decide com supremacia em relação às
instâncias ordinária,  e vincula todos os órgãos do Poder
Judiciário.

No que diz respeito à sua disciplina, o recurso de amparo


tem previsão constitucional, sendo mencionado em diversas
passagens do texto da Constituição espanhola.

O art. 161, “b” da CE/1978 que trata do Tribunal


Constitucional, prevê como uma de suas competências:

Del recurso de amparo por


violación de los derechos y libertades
referidos en el artículo 53.2, de esta
Constitución, en los casos y formas que
la ley establezca.

O art. 53.2 que disciplina os direitos fundamentais assinala:

Cualquier ciudadano podrá recabar


la tutela de las libertades y derechos
reconocidos en el artículo 14 y la
Sección 1ª del Capítulo segundo ante
los Tribunales ordinarios por un
procedimiento basado en los principios
de preferencia y sumariedad y, en su
caso, a través del recurso de amparo
ante el Tribunal Constitucional. Este
último recurso será aplicable a la
objeción de conciencia reconocida en el
artículo 30.

Percebe-se, pois, que não são todos os direitos


fundamentais que possuem proteção via amparo
constitucional. Segundo o art.  41 da Lei Orgânica do
Tribunal Constitucional (LOTC), apenas os direitos e
liberdades reconhecidos do art. 14 ao art. 29 da
Constituição Espanhola, além do direito à objeção de
consciência relativo ao serviço militar obrigatório previsto no
art. 30.2 poderão ser objeto da proteção especial conferida
pelo recurso de amparo. Ficam de fora, por exemplo, os
direitos sociais constantes nos arts. 30 e seguintes da
CE/1978.

Registre-se, porém, que a jurisprudência do Tribunal


Constitucional Espanhol vem alargando a lista de direitos
fundamentais protegidos pelo recurso de amparo através da
aplicação do Principio da igualdade, afirmando que por
conta deste postulado outros direitos fundamentais
inicialmente excluídos da proteção por via do amparo
poderão ser por ele abrigados.

No que diz respeito aos atos dos particulares que ofendem


direitos fundamentais de outrem, em regra não ha que se
falar em proteção via recurso de amparo. Em tais situações,
cabe à jurisdição ordinária o restabelecimento do status quo
ante, determinando o abrigo dos direitos ofendidos. Ocorre
que, embora toda a construção do recursos de amparo parta
da concepção tradicional dos direitos fundamentais como
aqueles se dedicam a ser um marco na liberdade da pessoa
frente ao Estado, atualmente também na jurisprudência
espanhola já se levanta a possibilidade de manejo do
recurso de amparo em caso de ofensa a direito fundamental
perpetrada por particular, em evidente uso da teoria da
eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Ademais, o
Tribunal Constitucional sempre poderá ser instado a se
manifestar via recurso de amparo se a decisão judicial
proferida na ação ordinária ofender direito fundamental.
Nesse caso, como se trata de ofensa perpetrada por ato do
poder público (judiciário), será possível o manejo do
amparo.

São legitimados para propor o Amparo a pessoa afetada, o


Defensor do Povo e o Ministério Publico (art. 162. 1, a da
CE/1978). O Ministério Publico pode intervir em todos os
processos de amparo para defender a legalidade, os direitos
dos cidadãos e o interesse público tutelado. No que tange
às pessoas naturais, tanto o espanhol ou quanto o
estrangeiro podem apresentar recurso de amparo, desde
que apresente ao Tribunal a existência de uma violação a
um direito protegido pelo amparo.  

Com relação à sua tramitação, o rito do recurso de amparo


está previsto na Lei Orgânica do Tribunal Constitucional. Eis
o teor do art. 49 da LOTC, in verbis:

Uno. El recurso de amparo constitucional se iniciará


mediante demanda en la que se expondrán con claridad y
concisión los hechos que la fundamenten, se citarán los
preceptos constitucionales que se estimen infringidos y se
fijará con precisión el amparo que se solicita para preservar
o restablecer el derecho o libertad que se considere
vulnerado. En todo caso, la demanda justificará la especial
trascendencia constitucional del recurso.

Dos. Con la demanda se acompañarán:

a) El documento que acredite la representación del


solicitante del amparo.

b) En su caso, la copia, traslado o certificación de la


resolución recaída en el procedimiento judicial o
administrativo.

Tres. A la demanda se acompañarán también tantas copias


literales de la misma y de los documentos presentados
como partes en el previo proceso, si lo hubiere, y una más
para el Ministerio Fiscal.

Cuatro. De incumplirse cualquiera de los requisitos


establecidos en los apartados que anteceden, las
Secretarías de Justicia lo pondrán de manifiesto al
interesado en el plazo de 10 días, con el apercibimiento de
que, de no subsanarse el defecto, se acordará la inadmisión
del recurso.

Assim, o recurso de amparo deve ser iniciado através de


petição, que exponha com clareza os fatos ocorridos, com
indicação dos preceitos fundamentais ofendidos e menção
clara do amparo necessário para a preservação ou
restabelecimento do direito violado.

Da leitura da LOTC, percebe-se que para a admissão do


recurso de amparo é exigido não só a repercussão geral da
matéria, como também o prequestionamento da mesma,
bastando ao recorrente, no entanto, alegar algum assunto
que tenha conteúdo do direito fundamental tutelado por via
do amparo, sem haver a necessidade de se mencionar o
artigo específico da Constituição violado, tampouco
apresentar uma fundamentação mais aprofundada para que
o seu recurso seja recebido por aquele Tribunal.

O art. 50 da LOTC descreve que o recurso de amparo será


inadmitido quando tratar de direitos e liberdades não
tutelados pela via do amparo, quando não possuir conteúdo
que justifique uma decisão pelo Tribunal Constitucional,
quando versar sobre matéria substancialmente igual àquela
a que o Tribunal Constitucional já impediu a tramitação ou
quando não estiverem presentes os requisitos formais
previstos nos art. 41 a 46 e 49 da LOTC.

Segundo o art. 51 da LOTC, admitido o amparo, a Câmara


do Tribunal requererá ao órgão ou entidade de onde se
emanou o ato ou decisão impugnado ou ao juiz ou tribunal
que conheceu do procedimento, que remeta suas
informações em 10 dias. Ao enviar as informações, o órgão,
entidade, juiz ou tribunal poderão convocar todos aqueles
que foram parte no processo antecedente para que
compareçam também ao processo constitucional.
Recebidas as informações e feitas as convocações, a
Câmara dará vista ao solicitante, ao advogado do Estado e
ao Ministério Publico para que apresentem alegações finais
no prazo de 20 dias. Após este prazo, a Câmara prolatará
sentença no prazo máximo de 10 dias.

Conclui-se, pois, que através do manejo do recurso de


amparo, duas funções essenciais acabam por ser
cumpridas: a função subjetiva, na medida em que garante
direitos fundamentais dos indivíduos, afastando qualquer
violação iminente ou já perpetrada; e a função objetiva, pois
a partir do pedido de amparo dos direitos, permite-se ao
Tribunal Constitucional, intérprete da constituição,
uniformizar a interpretação acerca dos direitos
fundamentais.

BIBLIOGRAFIA

- TREMPS, Pabro Peres. Jornadas Españolas De Derecho


Constitucional. Madrid: Regional Extremadura, 2001.

- GARCIA, Maria; AMORIM, Jose Roberto Neves. Estudos


de Direito Constitucional Comparado. Rio de Janeiro:
Elsevier Editora, 2007.

- DO AMARAL, Karina Almeida. Algumas Considerações


sobre o Recurso de Amparo. Disponível em:

<http://www.verbojuridico.com/doutrina/2010/
karinaamaral_recursoamparo.pdf>. Acesso em: 14 de
dezembro de 2014.

-  <https://www.boe.es/buscar/act.php?id=BOE-A-1979-
23709> . Acesso em 13 de dezembro de 2014.

-
<http://www.senado.es/web/conocersenado/normas/constitu
cion/detalleconstitucioncompleta/index.html#t1c3>. Acesso
em 13 de dezembro de 2014.

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