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BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de Direito Constitucional.

Rio de Janeiro: Forense,


2018. ISBN N 978-85-309-8011-5.

Gabriel José Barradas Mota1

RESUMO

O texto em questão presente no livro Curso de Direito Constitucional, de Ana Paula de


Barcellos, aborda o controle difuso e incidental - Introduzido na primeira constituição
republicana do Brasil em 1891 - e suas características, o conceituando como o poder que
qualquer juiz no exercício de sua função tem de declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou
ato jurídico normativo, uma vez que o mesmo for necessário para a decisão do caso concreto
posto pelas partes. Ademais, pode o Juiz declarar a inconstitucionalidade de ofício, sem ser
provocado por uma das partes, entretanto, não pode as mesmas ajuizarem ações cujo o pedido
seja a declaração em tese da inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, pois isso
compete somente ao STF e TJs através de mecanismos de controle concentrado e abstrato
previstos na constituição. Desta forma, o controle difuso e incidental se justifica na medida em
que este é necessário para a decisão em lides reais, não se admitindo seu uso para fins de se
obter indiretamente uma decisão típica de controle concentrado e abstrato.
Em seguida a autora aborda a regra da reserva de plenário para a declaração de
inconstitucionalidade de uma lei por parte dos Tribunais, que está vigente desde a Constituição de
1934 e hoje em dia se encontra no artigo 97 da Constituição Federal de 1988. Deste modo, destaca-se o
fato de que juízes de primeiro grau podem livremente, e até mesmo de ofício, declarar a
inconstitucionalidade de uma norma, enquanto que no caso dos Tribunais há uma série de detalhes e
critérios a serem atendidos. Nesse sentido, segundo a Carta Magna os Tribunais somente poderão
declarar a inconstitucionalidade de uma lei após ter a maioria absoluta dos votos de seus membros. Em
se tratando de um órgão fracionário entendendo que uma lei é constitucional, pode o mesmo decidir
diretamente o caso, por outro lado, caso entenda que a lei em questão seja inconstitucional, não poderá
decidir o caso diretamente, devendo remetê-lo à votação em Plenário ou Órgão Especial do Tribunal,
resguardando assim a exigência constitucional da reserva de plenário, o que a propósito pode acontecer,

1
Discente regularmente matriculado na graduação em direito na Universidade Federal do Pará/ICJ/FAD, sob o
número de matrícula 202206140058
por exemplo, em uma arguição de inconstitucionalidade da qual tratam os artigos 948 e 949 do Código
de Processo Civil.
No entanto, como exceção da regra geral, pode Órgão Fracionário declarar a
inconstitucionalidade de uma lei e ato normativo diretamente e julgar o feito caso já exista uma decisão
anterior do STF ou do próprio Plenário ou Órgão Especial sobre a mesma matéria, valendo destacar
que não se aplica a reserva de plenário no caso de eventualmente haver reconhecimento da revogação
ou não recepção de leis anteriores a 5 de outubro de 1988 pela nova Constituição. Com tudo isso
posto, na relação entre o Órgão Fracionário e o Plenário ou Órgão Especial o que ocorre é que o
primeiro ao entender a inconstitucionalidade de uma norma, remete o caso ao segundo que decide a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade da mesma, e após isso o processo retorna ao primeiro que
fundamentado nessa decisão, irá julgar o caso. Além disso, o descumprimento de tal exigência
constitucional resulta na nulidade do acórdão, sendo que segundo o texto da Súmula Vinculante nº 10:
”Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de
Tribunal que embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte”.
Outro assunto que o texto aborda é o Recurso Extraordinário como uma forma de discutir as
questões jurídicas que envolvem o caso concreto ao julgar uma decisão recorrida, a fim de, para além
de realizar a justiça no mesmo, vir a uniformizar a interpretação das normas jurídicas, desde que haja
respeito aquilo que está disposto no artigo 102, III da Constituição Federal e o caso se encaixe em
alguma de suas hipóteses. Nesse sentido, tal recurso pode somente ser dirigido a contra decisões
judiciais proferidas em última instância ou instância única, a rigor por qualquer órgão judicial, caso
contrário o recurso não será possível. E enquanto isso, cabe somente o uso de recursos ordinários para
que o Órgão revisor reveja as premissas fáticas adotadas como verdadeiras, portanto o recurso
extraordinário não altera nada em relação aos fatos, mantendo a decisão recorrida como final nesse
quesito.
A rigor, o RE também é cabível quando uma lei federal ou tratado seja julgado(a)
constitucional e o recorrente os considera inconstitucionais e que por isso, a decisão contraria a
Constituição. O mesmo à luz da alínea a, vale para leis locais que são julgadas inconstitucionais, Sendo
que após a EC 45/2004, atribuí-se ao STF a competência para, por meio do RE a decisão entre a
colisão e disputa de lei locais e leis federais e disputas entre atos infralegais e a legislação federal.
Outrossim, em se tratando de Recurso Extraordinário, há a exigência do prequestionamento
determinando que a legitimidade do uso do RE depende da prévia e efetiva discussão da matéria
constitucional da decisão recorrida. Com isso, o Supremo Tribunal Federal pode manter a uniformidade
do sentido e o alcance das disposições constitucionais, e caso não haja efetivamente qualquer
interpretação ou aplicação relevante da Constituição, tendo o caso sido decidido a partir de outros
elementos, isto é, elementos infraconstitucionais, o uso do Recurso Extraordinário não se justifica.
E além do que já foi exposto, após a EC 45/2004, o §3 do artigo 102 da Constituição Federal
faz mais uma exigência, a repercussão geral, diz o texto:

No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das


questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o
Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela
manifestação de dois terços de seus membros.

É importante observar que isso é complementado pelo que está disposto no artigo
1035, §1, CPC:

Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões


relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem
os interesses subjetivos do processo.

Nesse sentido deve à parte recorrente, em preliminar, satisfazer tal exigência, o que
pode acontecer por exemplo em caso de acórdão recorrido declarar a inconstitucionalidade de
uma lei em incidente de inconstitucionalidade. Ademais, em se tratando de repercussão geral,
qualquer decisão sobre ela afetará todos aqueles que tenham uma disputa em curso no Poder
Judiciário na qual o tema constitucional em questão seja debatido, cabendo possivelmente a
participação de Amicus Curiae como um aspecto da objetivação do poder difuso e incidental e
da grande relevância das decisões do STF acerca da repercussão geral, auxiliando no
entendimento de aceitação ou não do RE, pois como uma decisão sobre a repercussão geral
tem efeitos amplíssimos afetando terceiros, nada mais próprio de que os mesmos possam se
manifestar e trazer suas razões nesse contexto.
Por fim, a autora chama atenção para a função da Súmula Vinculante nos termos do
artigo 103-A, §1 da Constituição após a EC 45/2004, que define que:

A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas


determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou
entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e
relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
Portanto, trata-se de um enunciado que definirá a validade de uma norma analisando se
ela é ou não constitucional, sua interpretação, seu alcance e sentido, sua eficácia, que efeitos
ela produz, o que pode ser exigido com fundamento nela e em que termos tal definição será
feita.

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