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DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA- 1º TESTE

‣ A Uniã o Europeia rege-se pelo Princípio da Uniã o de Direito. Isto é, todos os atos do poder
pú blico europeu devem conformar-se formal e materialmente com as disposiçõ es dos
tratados constitutivos, podendo os atos das instituiçõ es europeias que nã o lhes sejam
conformes ser anulados pelo TJUE. A base jurídica deste princípio encontra-se,
precisamente, nos tratados constitutivos, os quais estabelecem um sistema completo de
vias de recurso e procedimentos destinados a fiscalizar os atos das instituiçõ es europeias.
Ademais, foi o TJUE que deduziu jurisprudencialmente este princípio, no Acórdão Os Verdes
de 1986 quando decidiu que toda a atuaçã o das instituiçõ es europeias está subordinada ao
direito. Para este efeito, Uniã o Europeia é dotada de instituiçõ es pró prias, processos para
emitir e interpretar as normas europeias e mecanismos para sancionar a sua eventual
violaçã o.

Jurisprudência aplicá vel:


Acó rdã o Melki
Acó rdã o Carbonati Apuani
Acó rdã o Associaçã o Sindical dos Juízes Portugueses
Acó rdã o Wittgenstein
Acó rdã o os Verdes VS Parlamento

‣ A partir do princípio da Uniã o Europeia, ressalta o Princípio da Lealdade (art. 4º TUE),


segundo o qual os Estados Membros estã o obrigados a adotar as medidas necessá rias ao
cumprimento dos objetivos dos tratados e, por sua vez, a UE tem a obrigaçã o de respeitar a
igualdade dos Estados Membros, bem como as suas identidades constitucionais e as suas
funçõ es essenciais. É a partir deste princípio que o TJUE decompô s uma série de outros
princípios que densificam a lealdade e se revelam indispensá veis à pró pria sobrevivência
do sistema federativo europeu:

o Princípio do primado do direito da União Europeia sobre o direito nacional: Implica a nã o


aplicaçã o do direito nacional incompatível com o Direito da Uniã o Europeia e a obrigaçã o de os
Estados Membros fazerem respeitar o Direito da Uniã o Europeia

o Princípio do efeito direto das normas europeias: Autoriza os particulares a invocarem as normas
europeias que imponham deveres ou reconheçam direitos de forma suficientemente clara e
incondicionada, inclusive contra normas nacionais violadoras do Direito da Uniã o Europeia

o Princípio da efetividade do Direito da União Europeia: Postula que as autoridades nacionais


devem garantir o efeito ú til das disposiçõ es europeias
o Princípio da equivalência: Postula que as autoridades nacionais devem assegurar que as
pretensõ es decorrentes do Direito da Uniã o resultam tã o protegidas quanto as pretensõ es
decorrentes do direito nacional

o Princípio da interpretação conforme: Postula que o intérprete e aplicador do direito nacional deve
atribuir às disposiçõ es nacionais um sentido conforme ou compatível com o Direito da Uniã o

o Princípio da responsabilidade do Estado por violação das obrigações europeias: Impõ e a


indemnizaçã o dos particulares afetados e inclui todos os seus ó rgã os e instituiçõ es

o Princípio da tutela jurisdicional efetiva: Postula que a efetividade do Direito da Uniã o Europeia
depende da garantia judicial das suas normas; integra o direito de acesso à justiça, a um processo
equitativo e a um recurso efetivo; e implica a aplicaçã o de providências cautelares pelo juiz nacional
tendentes a evitar danos irrepará veis nos direitos dos particulares decorrentes do Direito da Uniã o
Europeia, mesmo que tais providências nã o estejam previstas ou sejam proibidas pelo direito
nacional

Jurisprudência aplicável:
Acó rdã o Carbonati Apuani

‣ O Princípio do Primado do Direito da Uniã o foi a soluçã o encontrada para resolver os


conflitos de sobreposiçã o legislativa entre o direito nacional e o direito da UE, ao
estabelecer que existe uma preferência pela aplicabilidade do DUE. Desta forma, o primado
contribui para a homogeneidade da atuaçã o legislativa da Uniã o Europeia nos EM. E quem
irá assegurar a prevalência das normas europeias sobre as nacionais sã o a Administraçã o
Publica e o juiz nacional (do EM), pois a garantia da efetividade do DUE é uma das
obrigaçõ es concretas para os EM que decorrem do princípio da lealdade. Adicionalmente,
foi no Acordao Costa/Enel que se iniciou a evoluçã o jurisprudencial do princípio do
primado, no qual ficaram assentes as bases da prevalência das normas europeias sobre as
normas nacionais.

Jurisprudência aplicável:
Acó rdã o COSTA ENEL

‣ Perante a necessidade de identificar qual o ato jurídico vinculativo europeu em questã o,


existem apenas três: se é um regulamento, se é uma diretiva, ou ainda uma decisã o (artigo
288º TFUE).

o Regulamento: é geral e abstrato e tem aplicabilidade direta em todos os Sem,


produzindo os mesmos efeitos em todos eles ao mesmo tempo.
o Diretiva: estabelece qual é o fim a atingir, mas oferece discricionariedade ao EM
para definir os meios e a forma de atingir esse objetivo. Nã o gozam de aplicabilidade
direta, mas algumas disposiçõ es de diretivas gozam de efeito direto: suscetibilidade
de invocaçã o de uma norma de DUE, por parte daquele a quem a norma atribui
direitos e obrigaçõ es, num tribunal nacional ou perante qualquer autoridade
pú blica, quer a norma tenha sido transposta ou nã o pelo Estado e desde que
cumpridos os requisitos de clareza, precisã o e incondicionalidade da norma. O TJ,
considerou esta situaçã o em 1991, com o acó rdã o “Francovich”. Num contexto de
falta de transposiçã o, transposiçã o incompleta ou transposiçã o errada, conduz-se ao
princípio da cooperaçã o leal (4.º/3 TFUE) e aos seus corolá rios, em especifico ao
efeito direto.

o Decisão: é um instrumento normativo para a realizaçã o de funçõ es administrativas


ou executivas da UE; tem ará ter geral ou individual: Estados, instituiçõ es ou
particulares; obrigató ria em todos os seus elementos: impõ e o resultado, fim a ser
atingido, mas também as modalidades de execuçã o para esse resultado.

‣ O Princípio da Interpretaçã o Conforme princípio postula que o intérprete e aplicador do


direito nacional (o juiz e a administraçã o) devem atribuir à s disposiçõ es nacionais um
sentido conforme ou compatível com as disposiçõ es europeias (combo do art. 4º/3 do TUE
com o art. 288º/3º do TFUE). Assim, todas as disposiçõ es nacionais que, de alguma forma,
se relacionem com disposiçõ es europeias devem ser interpretadas à luz das ú ltimas
(interpretaçã o conforme). Mas se tal interpretaçã o nã o for suficiente para salvaguardar um
direito que a ordem jurídica europeia confere ao particular e que tenha sido invocado em
juízo (efeito direto), o juiz nacional deve aplicar o Direito da Uniã o Europeia e afastar o
direito nacional que lhe é incompatível (primado).

o Limites da Interpretaçã o Conforme:

 Se conduzir a uma interpretaçã o contra legem

 Ou leva ao incumprimento de princípios gerais de direito interno

Jurisprudência aplicável:
Acó rdã o Poplawski, C-573/17

‣ O TJUE tem decidido que só se a interpretaçã o conforme nã o for possível (limites) é que se
parte para o segundo princípio de aná lise – Princípio Do Efeito Direto. O princípio do efeito
direto prende-se com a suscetibilidade de invocaçã o de uma disposiçã o europeia por parte
daquele a quem confere direitos ou obrigaçõ es, ou seja, serve para que o particular possa
invocar uma disposição europeia junto das autoridades nacionais para questionar o
incumprimento do DUE por parte das autoridades nacionais. No entanto, há critérios a
preencher para que a disposiçã o europeia goze de efeito direto:
o Deve ser suficientemente clara ou precisa
o E apta para produzir os seus efeitos de forma incondicionada (ou seja, nã o sujeita a
termo, prazo ou medida complementar)

O efeito direto vertical verifica-se nas relaçõ es entre Particular-Estado e o efeito direito
horizontal entre Particular-Particular, sendo o efeito vertical proibido (Acó rdã o
Berlusconi), pois o Estado nã o pode beneficiar do seu pró prio erro em nã o ter transposto a
diretiva, ou em tê-la transposto incorretamente.

Normalmente, diretivas nunca podem ser sujeitas de efeito direito horizontal, por serem
dirigidas aos Estados e nã o aos particulares, mas se alguma disposiçã o da diretiva estiver a
concretizar algum princípio geral ou fundamental da UE (CDFUE), esta pode ser invocada
pelo particular.

Jurisprudência aplicável:
Acó rdã o Maria Pupino
Acó rdã o Marshall
Acó rdã o Maribel Dominguez
Acó rdã o Silvio Berusconi

‣ Se ambas falharem, quer a Interpretaçã o Conforme quer o Efeito Direto, entã o temos uma
reaçã o, que se debate com o Princípio da Responsabilidade do Estado por Violaçã o do
Direito da Uniã o Europeia, quer tenha sido por omissã o quer por açã o (Acó rdã o Ferreira da
Silva e Acó rdã o Gunter Fub). Existem pressupostos cumulativos para concluir se o Estado
pode ser responsabilizado por violaçã o do DUE ou nã o:

o 1) a norma jurídica violada confira direitos aos particulares (esta exigência nã o


implica que a norma seja provida de efeito direito ou aplicabilidade direta);

o 2) a violaçã o seja suficientemente caracterizada;

o 3) e exista um nexo de causalidade entre a violaçã o da obrigaçã o que incumbe ao


Estado e o dano sofrido pelo particular.

Esta açã o de responsabilizaçã o do Estado é movida nos Tribunais Nacionais e pode ser
proposta contra qualquer autoridade pú blica, nã o exigindo que quem a invoca tenha
conhecimento sobre o quadro organizató rio legal, além de que se parte do pressuposto
que todas as açõ es e propostas estã o bem elaboradas. Entã o, se os pressupostos
estiverem preenchidos, o TJUE devolve ao Tribunal Nacional o processo judicial e o
lesado prova o dano perante o Tribunal Nacional, e nã o perante o TJUE.

Jurisprudência aplicável:
Acó rdã o Ferreira da Silva
Acó rdã o Gunter Fub

‣ Por fim, temos o Princípio da Tutela Jurisdicional Efetiva (Acó rdã o LM e AK e Acó rdã o
ASJP), diz respeito à suscetibilidade de acautelar, perante um Tribunal Nacional, um direito
conferido por uma norma DUE. “Tutela” significa proteçã o, “Jurisdicional” significa
Tribunal, e “Efetiva” significa justiça bem conseguida. Este princípio é caracterizado pelo
direito à açã o, pelo direito a iniciar o procedimento judicial, artigo 19/1/2º pará grafo TUE,
e vem acompanhado de uma dimensã o dos direitos de defesa (ou seja, suscetibilidade de,
em juízo, poder contrariar os argumentos deduzidos), mas esta tutela só faz sentido se o
Tribunal for (pressupostos) independente (1), imparcial (2) e que decida dentro de um
prazo razoá vel (3), longe da influência dos interesses das partes e sem sofrer pressã o
exterior. Além disso é preciso assegurar que as partes têm acesso ao Direito e acesso ao
apoio judicial, a um processo equitativo e recurso efetivo, implica a aplicaçã o de
providências cautelares pelo juiz nacional tendentes a evitar danos irrepará veis nos
direitos dos particulares decorrentes do Direito da Uniã o Europeia, mesmo que tais
providencias nã o estejam previstas pelo direito nacional, até que o ó rgã o jurisdicional
competente se pronuncie sobre a conformidade das disposiçõ es internas com o Direito da
Uniã o.

Jurisprudência aplicável:
Acó rdã o LM
Acó rdã o AK
Acó rdã o ASJP

‣ O reenvio prejudicial previsto no art. 267.º do TFUE permite que a uniformidade da


interpretaçã o das disposiçõ es e da validade dos atos jurídicos de DUE sejam garantida pelo
TJUE, sempre que surja alguma dú vida sobre tal num processo a decorrer perante tribunais
nacionais. Na sua dimensã o subjetiva, o reenvio é um mecanismo ao serviço da tutela
efetiva (Acó rdã o Kö bler). Na sua dimensã o objetiva, o reenvio estabelece um dialogo
formal e informal entre tribunais nacionais e tribunais europeus. Existem dois tipos de
objetos de reenvio:

o Reenvio de interpretaçã o (facultativo, exceto em ultima instâ ncia): Quando o juiz


tem dú vida sobre a correta aplicaçã o de uma norma de Direito da Uniã o Europeia,
originá rio ou derivado.

o Reenvio de validade (obrigató rio): Quando o juiz nacional questiona a validade de


uma norma europeia, pois acha que vai contra uma outra norma de Direito da Uniã o
Europeia.

Efeitos materiais de acórdãos de validade: o TJ pronuncia-se pela invalidade ou nã o


invalidade + Se for invá lido, o juiz nacional que reenviou nã o poderá aplicar o ato

Efeitos temporais: produz efeitos retroativos quer para reenvios de validade/interpretaçã o


+ Existe uma exceçã o para reenvios de validade em que o TJ pode indicar que o ato
declarado invalido possa produzir ainda certos efeitos durante um determinado período de
tempo – aplicaçã o analó gica do art. 264º2

O TJ pode considerar o reenvio inadmissível quando: O litígio nã o tiver relaçã o com o DUE +
Quando a questã o prejudicial nada tenha a ver com o litígio ou com o seu objeto + Se o juiz
formular questõ es hipotéticas

Doutrina do ato claro (Acórdão Cilfit) – o tribunal obrigado a reenviar pode abster-se só se:
a disposiçã o é tao claro e evidente que nã o deixa lugar para qualquer dú vida razoá vel + O
TJUE já resolveu a questã o de Direito e causa em jurisprudência consolidada

Jurisprudência aplicável:
Acó rdã o Gomes Valente
Acó rdã o Club Tour
Acó rdã o McB
Acó rdã o Comissã o vs. Repú blica Francesa
Acó rdã o Kö bler
Acó rdã o Catasio
Acó rdã o Elchinov
Acó rdã o Foto-Frost
Acó rdã o Rheinmuhlen-Dusseldorf

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