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Processo C-447/19
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Disponível em:
https://eur-lex.europa.eu/summary/glossary/accession_criteria_copenhague.html?locale=pt
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Disponível em: https://www.dgae.gov.pt/servicos/assuntos-europeus/instituicoes-europeias.aspx
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especial relevância para o caso em análise, uma vez que a UE se baseia no
Estado de direito, ou seja, todas as ações da União assentam em Tratados
acordados voluntária e democraticamente pelos países que a constituem.3
No caso a desenvolver de seguida, é submetido o princípio do primado
do Direito Europeu (DE), e segundo este, o direito europeu tem um valor
superior ao dos direitos nacionais dos Estados-Membros e é aplicado a
todos os atos europeus com força vinculativa. Assim, os Estados-Membros
não podem aplicar uma regra nacional contrária a este direito.
Este princípio garante a superioridade do DE sobre os direitos
nacionais, sendo um princípio fundamental do DE, no entanto, não está
consignado nos Tratados, tendo sim sido consagrado pelo próprio Tribunal
de Justiça da União Europeia (TJUE).
O TJUE consagrou o princípio do primado no acórdão Costa Enel de
15 de julho de 1964. Neste acórdão, o Tribunal declara que o direito
proveniente das instituições europeias se integra nos sistemas jurídicos dos
Estados-Membros, sendo estes obrigados a respeitá-lo, tendo desta
maneira o DE o primado sobre os direitos nacionais, garantindo assim uma
proteção uniforme dos cidadãos em todo o território da UE, através do DE.
Deste modo, se uma regra nacional for contrária a uma disposição
europeia, as autoridades dos Estados-Membros devem aplicar a disposição
consagrada. O direito nacional não é anulado, nem alterado, mas a sua força
vinculativa é suspensa.
O primado é absoluto, e assim, todos os atos europeus com força
vinculativa beneficiam do mesmo, quer sejam provenientes do direito
primário ou do direito derivado. De igual modo, todos os atos nacionais estão
sujeitos a este princípio, seja qual for a sua natureza, bem como também o
poder judicial.
O Tribunal de Justiça considerou que as constituições nacionais estão
também sujeitas a este princípio, e compete assim ao juiz nacional não
aplicar as disposições de uma constituição contrária ao DE.4
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Disponível em: https://european-union.europa.eu/principles-countries-history/principles-and-
values/aims-and-values_pt
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Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=LEGISSUM%3Al14548
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Neste caso concreto, trata-se de uma disputa entre um órgão da UE,
nomeadamente a Comissão, e um Estado-membro, sendo um dos Estados
discriminados no artigo 52.º TUE, nomeadamente, a República Atlântida.
Em 2017, este membro adotou um novo regime disciplinar para os
juízes dos tribunais atlânticos através da Lei Justitia Atlantis.
Segundo esta lei, foi criada uma nova secção no Supremo Tribunal Atlântico,
denominada de Sad Atlantida.
O artigo 4.º da mesma lei dispõe que “são da competência da Sad
Atlantida os processos disciplinares relativos a juízes do Supremo Tribunal
e tribunais comuns.” Processo este que nunca ocorre em tribunais, mas sim
em conselhos superiores.
Desta maneira, a República Atlântida viola o princípio da
independência judicial, disposto no artigo 19.º, nº1 do TUE. Dado que,
segundo a Comissão, o conceito de “tutela jurisdicional efetiva” mencionada
no segundo parágrafo deste, deve ser interpretado tendo em conta o
conteúdo do artigo 47.º da Carta Dos Direitos Fundamentais da UE e,
nomeadamente, as garantias inerentes ao direito a uma ação efetiva
consagrado nesta disposição. A primeira destas disposições, implica que
deve ser garantida a preservação da independência de instâncias, como os
tribunais comuns da República Atlântida, aos quais é, nomeadamente,
confiada a tarefa de interpretar e aplicar o direito da UE.
Por conseguinte, para decidir sobre a presente alegação, há que
examinar se a República Atlântida não cumpriu as obrigações que lhe
incumbem por força do artigo já mencionado.
Apoiando-se, em particular, no Acórdão de 27 de fevereiro de 2018,
Associação Sindical dos Juízes Portugueses (C-64/16, EU:C:2018:117), a
Comissão sustenta que, para cumprir a obrigação que lhe impõe o artigo
19.º, nº1, segundo parágrafo, TUE, de prever um sistema de vias de recurso
que assegure uma tutela jurisdicional efetiva nos domínios abrangidos pelo
direito da UE.
A República Atlântida é obrigada, nomeadamente, a garantir que
instâncias nacionais que, tal como os tribunais comuns da Atlântida, são
suscetíveis de se pronunciar sobre questões relativas à aplicação ou
interpretação desse direito, satisfazendo a exigência da independência dos
magistrados, uma vez que esta se insere no conteúdo essencial do direito
fundamental a um processo equitativo, conforme resulta, nomeadamente,
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do artigo 47.º, segundo parágrafo, da Carta Dos Direitos Fundamentais da
UE5, equiparando-se esta situação ao caso da República da Polónia.
O artigo 6.º da Lei Justitia Atlantis determina que “os membros da Sad
Atlantida são eleitos por maioria pelos deputados da Assembleia da
República Atlântida.”, sendo outra violação por parte da República, uma vez
que, os membros são eleitos por mérito e não por maioria pelos deputados
da Assembleia da República Atlântida.
Já o artigo 8.º da mesma lei, determina que “a Sad Atlantida poderá
levantar a imunidade dos juízes com vista à instauração de processos
penais ou deter os mesmos, suspendê-los temporariamente do exercício de
funções ou reduzir o seu salário.” Violando ainda desta forma o princípio da
igualdade disposto no artigo 2º do TUE.
Tendo em consideração todo o fundamento mencionado sobre a Lei
Justitia Atlantis, em 04/04/2018, a Comissão notificou a Atlântida de que o
novo regime violava as obrigações decorrentes do TUE e do TFUE.
Em 06/05/2019, a Comissão intentou uma ação contra a Atlântida, no
TJUE, invocando que o novo regime disciplinar não garantia a
independência e imparcialidade da Sad Atlântida, cujos juízes-membros
eram nomeados pelo Parlamento Atlântico.
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Disponível em: https://curia.europa.eu/juris/liste.jsf?language=PT&num=C-192/18
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proteger os valores comuns. Estes mecanismos não poderão ser acionados
sem que a Comissão dê cumprimento às três fases:
Neste caso, o artigo 7.º não poderá ser acionado, pois, mesmo que a
República Atlântida não tenha alterado o que infringira durante o prazo entre
a notificação e o intento da ação judicial por parte da Comissão, o órgão da
UE, não cumpriu o procedimento do artigo referido. A Comissão apenas se
limitou a notificar a República Atlântida, falhando no diálogo exigido entre o
Conselho e o Estado-Membro de maneira a chegar a um consenso de
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ambas as partes (uma recomendação por parte do Conselho e uma
solicitação de explicação por parte da República Atlântida).
Por conta da falha da Comissão, já não se aplica o artigo 7.º, porém, num
caso hipotético de este ter sido cumprido, este artigo ainda contém os
instrumentos de resposta: um com dimensões preventivas, e outro com
dimensões mais severas, isto é, com medidas sancionatórias.6
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Disponível em:
http://repositorio.uportu.pt/jspui/bitstream/11328/2860/1/Do%20artigo%207.%C2%BA%20do%20tratado
%20da%20Uniao%20Europeia%20na%20situa%C3%A7ao%20da%20Polonia.pdf
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Disponível em: https://www.europarl.europa.eu/news/pt/headlines/eu-
affairs/20180222STO98434/respeito-do-estado-de-direito-na-ue-o-procedimento-do-artigo-7-o-passo-a-
passo
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Junto ao não cumprimento do procedimento do artigo 7.º do TUE, a
Comissão viola o artigo 258.º do TFUE, que diz:
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Disponível em: file:///C:/Users/arian/Desktop/10432-Texto%20do%20Trabalho-38269-1-10-
20170801.pdf
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Passados 2 anos e 2 meses, o Tribunal Constitucional Atlântico
deliberou que o direito da UE colide com a Constituição Atlântida, sendo
incompatível com a mesma, e concluiu que “a UE não tem competência para
avaliar a Justiça Atlântida e o seu funcionamento”, rejeitando desta forma as
exigências de Bruxelas sobre a abolição da reforma judicial operada pela
Lei Justitia Atlantis, o que é perfeitamente legítimo porque o direito do
Estado-membro tem obrigatoriamente que coincidir com o direito da UE,
caso contrário não seria um membro.
Conclusões
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Para mais pormenores sobre o caso de Wightman aceder: https://eur-lex.europa.eu/legal-
content/pt/TXT/?uri=CELEX:62018CJ0621