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2) Tribunal Geral1.
Foi criado em 1998, com o Ato Único Europeu. É composto por por 28 juízes (um por cada
Estado-Membro).
A razão de criação deste segundo tribunal assentou em dois factos muito claros: por um lado,
aliviar a carga de trabalho do TJ, sobretudo no que respeita o contencioso da função pública e,
por outro lado, deixar que o TJ se dedicasse à sua função primordial, a interpretação do direito
comunitário.
Em regra, intentamos uma ação para o TG, que caberá recurso para o TJ.
Como excepções, nos termos do art. 51º do ETJUE: as ações propostas por um Estado-Membro,
as ações propostas contra um Estado-Membro ou processo de reenvio prejudicial. Estas
propõem-se no TJ.
Até hoje, foi criada uma câmara jurisdicional: o Tribunal da Função Pública Europeia, com
competência exclusiva para os litígios entre os funcionários e a UE.
Nota: são tribunais comunitários todos os tribunais nacionais quando aplicam ou interpretam uma
qualquer norma de direito comunitário. Quando o faz, é institucional e estruturalmente um tribunal
de um Estado-Membro.
Assim, aplica não só o direito nacional, como também o direito da União.
Designamos os Tribunais Nacionais por “Tribunais Comuns de Direito Comunitário”.
Para que se garanta uma aplicação conforme do direito, contamos com um instituto que garante
que, mesmo em países com tradições jurídicas diversas, o direito é vocacionado como padrão
único. Trata-se do reenvio prejudicial:
• Jurisdição do TJUE:
1. Atribuição: o Tribunal tem as atribuições que lhe forem conferidas pelos Tratados e não exclui
qualquer competência dos Tribunais Nacionais.
Não há relação de hierarquia entre Tribunais.
Das sentenças dos juízes nacionais, não cabe qualquer recurso para o TJUE. Do âmbito de um
litígio a decorrer num tribunal nacional, mesmo que aplicando o direito comunitário, a última (e
única) palavra é do juiz nacional).
O TJUE pode ser chamado a interpretar uma norma de direito comunitário, mas sob a forma de
questão prejudicial2 suscitada pelo juiz nacional a quo.
Assim, podemos concluir que o TJUE é totalmente desprovido de cariz federal: não tem qualquer
poder de reforma das decisões dos tribunais nacionais ou de anular atos das instituições
nacionais contrários aos Tratados.
Mesmo que um tribunal nacional aplique de forma incorreta o direito comunitário, ou não o
aplique de todo, não será possível ao TJUE recorrer: apenas a parte lesada o poderá fazer, para o
Tribunal Nacional de Recurso.
Em situação alguma o TJUE é passível de anular uma decisão nacional. Os tratados prevêem
meios para assegurar o cumprimento dos mesmos, sem recorrer a meios federais de controlo e
sem recorrer ao princípio da primazia da lei federal.
2. Jurisdição obrigatória: o TJUE distingue-se dos restantes tribunais (como o TIJ), porque
aqueles carecem de um ato dos Estados a submeter-se à sua jurisdição.
Assim, a jurisdição do TJUE é obrigatória e não carece que qualquer ato de submissão dos
Estados: estes submetem-se à sua jurisdição pela mera ratificação dos tratados.
3. Jurisdição exclusiva (art. 344º TFUE): com vista a uma aplicação uniforme do direito
comunitário, os Estado-Membros não podem dirimir os seus conflitos ou diferentes quando
aos tratados noutros tribunais.
• Composição do TJ:
Dentro do Tribunal de Justiça, temos três categorias de membros (art. 19º/2 TUE, arts. 252º e
253º TFUE): as duas principais categorias, compostas por juízes e advogados gerais, e uma
categoria acessória, composta por um secretário.
2 Como supramencionado.
Direito da União Europeia II
Quanto às duas primeiras, trata-se de uma magistratura dual (assim como ocorre no
ordenamento nacional, em que há magistratura judicial e magistratura do Ministério Público).
Quando ao secretário, trata-se de uma figura administrativa, designada por secretaria.
Quanto aos juízes, há um por cada Estado-Membro (art. 19º TUE). São nomeados de comum
acordo pelos Governos dos Estados.
Têm de ser personalidades que ofereçam todas as garantias de independência, reúnam todas as
condições, nos respetivos países, para as mais altas funções jurisdicionais ou sejam
jurisconsultos de reconhecida competência (art. 253º TFUE).
São mandatos de 6 anos e, de 3 em 3, metade deles são substituídos para assegurar
continuidade de jurisprudência, para que não haja alterações abruptas na mesma.
As duas magistraturas justificam-se porque os juízes podem revelar o seu sentido de voto,
embora a sentença seja proferida pela maioria.
Assim sendo, temos opiniões individuais, que concorrem no sentido da sentença, mas divergem
em qualquer ponto de argumentação e, por outro lado, temos operações dissidentes, em que o
sentido de voto é radicalmente diverso do defendido resultado normativo.
Posto isto, vigora no TJ um princípio do segredo (art. 35º ETJUE): todas as opiniões, reuniões e
atos do tribunal são secretos.
Este princípio existe para que seja transmitida uma jurisprudência una e sem controvérsia. O TJ
tem de aparecer como um foco de unidade.
Por outro lado, este princípio garante a imparcialidade do juízes. Se as suas opiniões ou decisões
fossem conhecidas, estes seriam alvos fáceis dos seus Estados ou mesmo da opinião pública.
Assim sendo, coloca-se uma questão: será que o princípio do segredo compensa?
Acreditamos que sim, desde que exista a magistratura dual. Assim, o Advogado-Geral é um
magistrado que, num momento importante do processo, anterior à deliberação, propõe uma
solução adequada para o problema concreto que o tribunal está a apreciar. Esta proposta pode
ser radicalmente afastada.
De uma forma geral, os tribunais orientam-se pelas propostas apresentadas pelo AG, dado que a
experiência nos demonstra que há uma coincidência substancial entre a proposta e a decisão.
E, em situações em que isto não se verifique, o acórdão entra em diálogo com as conclusões
fundamentadas, respeitando-as.
Há, também, uma adaptabilidade das regras sobre o TJ e a repartição de competências entre as
diversas jurisdições:
- O art. 281º TFUE dispõe que o Estatuto do Tribunal, embora constitua parte integrante dos
tratados, como direito originário, pode, salvo no que toca a determinadas normas, ser alterado
por regulamento.
Assim, o Tratado de Lisboa reconhece ao Tribunal Geral a competência em primeira instância nos
recursos de anulação, ações para incumprimento, ações de responsabilidade contratual ou
extracontratual.
Excepção — recursos atribuídos em primeira instância a um tribunal especializado ou reservado
pata o TJ pelo respetivo estatuto.
• Intervenção do TJUE
No contexto do art. 270º do TFUE, a fiscalização da legalidade de atos da UE relativos aos
funcionários e agentes cabe ao primeiro tribunal especializado, o Tribunal da Função Pública.
Nos termos do art. 273º do TFUE, a competência do TJ não é obrigatória e depende de um
compromisso prévio entre os Estados-Membros em causa.
Este artigo não diz respeito ao incumprimento por parte de um Estado-Membro dado que, neste
caso, a competência do TJ é, pois, obrigatória e o procedimento a seguir é o constante do art.
258º TFUE.
Sendo que o TJ jamais pode fazer controlo de legalidade de atos interno, este é competência
exclusiva dos tribunais nacionais, podendo estes revogar ou anular normas ou atos ilegais.
O controlo de atos comunitários é competência exclusiva dos tribunais organicamente
comunitários.
Apenas o TJ e o TG podem controlar a legalidade dos atos comunitários. Em situação alguma se
admite que o tribunal nacional de um Estado-Membro pode revogar uma diretiva comunitária, por
exemplo, com fundamento na sua ilegalidade.
Daqui resulta que os atos comunitários gozam de uma presunção de legalidade que só os
tribunais organicamente comunitários podem infirmar.
Para que o TJ anule um ato comunitário, têm de estar cumpridos cinco pressupostos:
a. O ato tem de ser passível de recurso (art. 263º/1 TFUE): todos os atos europeus,
independentemente da sua forma ou designação, desde que produzam efeitos externos, para
fora do quadro orgânico da UE.
b. Tem de haver um sujeito com legitimidade passiva: são todos os órgãos ou instituições que
adoptam atos impugnáveis (Conselho, Conselho Europeu, Comissão, BCE, PE e outros
órgãos ou organismos da UE).
c. Tem de haver alguém com legitimidade ativa: recorrentes privilegiados (art. 263º/2 TFUE), isto
é, Estados-Membros, PE, Conselho e Comissão - são privilegiados porque não precisam de
provar um interesse para agir; recorrentes intermediários ou recorrentes interessados (art.
263º/3 TFUE), isto é, Tribunal de Contas, BCE e Comité das Regiões - não necessitam de
provar um interesse para agir, mas só podem recorrer contra casos que ponham em causa as
suas prerrogativas; e recorrentes comuns ou ordinários (art. 263º/4 TFUE), isto é, os
particulares em geral e todos os órgãos ou organismos que não integrem as outras
classificações - têm de provar interesse pessoal em agir e só podem recorrer de atos de que
sejam destinatários.
Acresce, quanto aos recorrentes ordinários:
Direito da União Europeia II
- só podem recorrer de atos que lhes são dirigidos e lhes digam direta e individualmente respeito
(não podendo recorrer de atos gerais, apenas contra atos que são materialmente decisões);
- A sua legitimidade para recorrer depende de uma afetação direta do ato, isto é, tem de lhe
dizer diretamente respeito, tendo por efeito imediato privá-lo de um direito ou impor uma
obrigação de tal modo que o coloca em situação análogo à que se acharia se fosse o
destinatário de uma decisão;
- Esta legitimidade depende também do facto de o ato lhe dizer individualmente respeito, isto é,
o recorrente só é atingido pelo ato em virtude de certas qualidades que lhe são próprias ou
devido a uma situação do facto que o caracteriza em reação a outra pessoa.
d. Tem de estar dentro do prazo (art. 263º último parágrafo): dois meses, desde o dia em que o
recorrente tomou conhecimento do caso. Pode haver dilações do prazo de, quando os atos
são publicados, o interessado não conheça o ato dentro do prazo. Pode ser uma dilação
geral por publicação, começando a contar 14 dias após a publicação, ou dilação pela
distância, sendo este prazo 10 dias.
e. Tem de haver um fundamento de anulação (art. 263º/2): tem de haver a violação de
formalidades essenciais, incompetência, violação de tratado ou desvio de poder.
A violação de formalidades essenciais consiste na não adoção do ato com respeito de todas as
formalidades previstas no tratado ou fundamentação insuficiente (arts. 269º e 297º TFUE).
A incompetência revela-se quando um órgão age em matéria que é competência de outro órgão
e pode ser parcial (o Conselho adota um ato que devia ser adotado em conjunto com o PE) ou
total (um órgão adota uma diretiva para a qual não tinha competência).
A violação do tratado equivale, no plano interno, ao fundamento da violação da lei ou da
violação da CRP. Acontece sempre que um ato de direito derivado viole o direito originário ou
sempre que um ato não legislativo europeu viole um ato legislativo europeu).
O desvio de poder acontece quando a autoridade comunitária prossegue fins diversos dos
invocados e visa tornear o processo especialmente previsto no tratado.
Estas medidas são decretadas pelo Presidente do Tribunal, por despacho. Trata-se de uma
excepção ao princípio da colegialidade.
• Cidadania na União
A cidadania europeia foi instituída com o Tratado de Maastricht e representa um enorme passo
naquilo que é a identidade europeia relativamente ao exterior.
Este conceito tem por base o direito de livre circulação e residência, assim como direito de
sufrágio ativo e passivo nas eleições municipais, no direito à proteção diplomática fora da UE por
qualquer Estado-Membro e no direito de petição e queixa perante os órgãos da UE.
A cidadania europeia fundamenta um estatuto de igualdade jurídica baseada no princípio da
proibição de discriminação em razão da nacionalidade.
É, por isso, uma cidadania complementar e de sobreposição, dependente das leis da
nacionalidade dos Estados-Membros, que não pretende substituir.
• União aduaneira
A união aduaneira foi criada pelo tratado de Roma, em 1957, prevendo-se a sua integração por
fases, progredindo para o estabelecimento de um mercado único, assente na livre circulação de
pessoas, mercadorias, capitais, serviço e no direito de estabelecimento.
Seguir-se-ia uma fase de união económica e monetária, de forma a que fosse possível um
desenvolvimento harmonioso e equilibrado das atividades económicas na comunidade.
(3) No acórdão Tjebbes (C-221/17) — este diz respeito a pessoas de dupla nacionalidade dos
Países Baixos e de Estados terceiros e como não residiam nos PB, iam retirar-lhes a cidadania.
Nestes casos, o TJUE veio afirmar que os EM, embora tenham competência para determinar
quem são e deixam de ser os seus nacionais, têm de respeitar o princípio da proporcionalidade,
atendendo a que o facto de retirarem a nacionalidade pode implicar a perda da cidadania
europeia.
Para efeitos de liberdade de circulação, o trabalhador é um sujeito humano que exerceu, exerce
ou pretende exercer uma atividade económica assalariada em benefício de outra pessoa ou sob a
sua direção.
Isto é, só interessa que seja alguém que pretenda trabalhar por conta de outrem e não por conta
própria.
Direito de circulação:
O direito de circulação prevê a liberdade de abandonar o Estado da nacionalidade e proíbe que
os Estados-Membros criem limitações à saída de trabalhadores. Confere, assim, o direito aos
trabalhadores europeus de abandonarem o Estado de origem sem necessidade de visto de saída,
e apenas com bilhete de identidade ou passaporte válido.
A liberdade de acesso a outros Estados-Membros, proíbe aos Estados criar entraves ao acesso
de trabalhadores de outros Estados e, posto isto, atribui o direito de acesso a qualquer Estado
sem necessidade de visto de entrada, apenas munido dos documentos essenciais.
Uma novidade vinda em 1968 é a do direito a transportar os familiares do trabalhador. Percebeu-
se que, sem este direito, os trabalhadores não eram verdadeiramente livres de circular, já que
teriam de deixar as suas famílias para trás.
A família que goza desta liberdade está definida na Diretiva nº37/20045.
Direito de residência:
O tratado confere aos trabalhadores um direito de residência.
Direito de permanência:
Depois de trabalhar num determinado Estado, o cidadão não é obrigado a retornar ao seu país de
origem.
Não perde, portanto, o estatuto de “trabalhador comunitário” se: estiver numa situação de
incapacidade temporária de trabalho, em virtude de uma doença ou acidente; estiver em situação
de desemprego involuntário, desde que tenha trabalhado mais de um ano e se encontre inscrito
no centro de emprego ou estiver aposentado.
Este regime não se estende a nacionais de Estados terceiros, ainda que sejam residentes num
determinado Estado-Membro.
A única excepção prevista (art. 46º TFUE) são os familiares de trabalhadores que não sejam
nacionais de nenhum Estado-Membro6.
6 A Diretiva nº38/2004 determina que os familiares de uma trabalhador com carta de residência
ficam automaticamente isentos de visto.
7 Arts. 3º a 9º do Regulamento (CE) 1612/68.
Direito da União Europeia II
Há duas dimensões: a questão dos direitos aduaneiros e encargos de efeito equivalente, prevista
no art. 30º TFUE e a proibição das restrições quantitativas e medidas de efeito equivalente (arts.
34º e 35º TFUE).
Quanto ao primeiro, a UE traduz-se numa união aduaneira: os tributos aduaneiros que os
produtos provenientes de Estados terceiros são fixados por uma pauta aduaneira comum. Estes
tributos constituem receitas próprias da UE (dimensão externa).
O direito aduaneiro é uma imposição pecuniária cobrado em virtude desse produto ser colocado
num determinado mercado de um território.
Aplica-se, para além desta noção, a noção de encargo de efeito equivalente: têm sido apontados
como qualquer imposição unilateral que se traduza num encargo de natureza pecuniária que é
devida de um produto transpor uma fronteira.
Quanto aos obstáculos que se traduzam em restrições quantitativas, são proibidas quer digam
respeito à importação de bens, quer à sua exportação. Traduzem-se no estabelecimento de um
contingente à importação ou exportação do produto.
São proibidas as ações de medidas de efeito equivalente às restrições quantitativas: fórmula
Dassonville (acórdão do TJ em sede de reenvio prejudicial) — afirma que eram proibidas todas as
medidas adoptadas por um Estado que direta ou indiretamente, atual ou potencialmente,
limitassem as correntes de troca entre os Estados.
Princípio do reconhecimento mútuo8: se uma determinada mercadoria é comercializada no
território de um Estado-Membro, então em princípio pode ser comercializado no território de um
outro Estado-Membro. Por este princípio, comercializa-se até produtos com características
diferentes, desde que cumpram as regras internas de cada país.
A liberdade de circulação de mercadorias tem adotado características, através de uma Diretiva,
passando as regras a ser muito similares.
Quando um Estado-Membro procura ou cria uma técnica nova, pode levantar problemas à
circulação de mercadorias. Por isto, a diretiva 1535/2015, impõe aos EM que comuniquem esse
projeto de técnica à Comissão, de modo a que esta não venha criar dificuldades acrescidas à
liberdade de circulação.
Em relação ao conhecimento mútuo, previsto na diretiva mencionada, prevê uma rede de
autoridades nacionais que permite uma comunicação mais simples quando um Estado quer
saber se um produto fabricado noutro Estado cumpre as especificações técnicas para ser
comercializado no Estado de origem.
4. Escolher o meio de reação: efeito direto, responsabilidade civil do Estado por violação do
direito da UE ou ação por incumprimento.
Através do primeiro, impugnamos o problema através do ato junto dos tribunais do Estado-
Membro de origem.
Se houver danos, cumula-se a situação de resolução com um pedido de indemnização ao abrigo
da responsabilidade civil. Estes são os mecanismos que nos permitem resolver a situação
enquanto indivíduos que viram a sua situação prejudicada.
Por último, podemos recorrer à ação por incumprimento: procurando, por aqui, forçar o Estado a
passar a respeitar o DUE.
Para além das liberdades fundamentais, a UE prossegue os seus objetivos através de políticas
comunitárias. Encontramos intervenção da união em matérias concretas, matérias essas em que
os Estados escolheram atuar em comum, para garantir a efetivação do objetivo comunitário.
Estas políticas estão reguladas no direito originário, atribuindo às instituições poderes para agir.
Contextualização:
A união dispõe de uma política de concorrência para corretamente assegurar uma verdadeira
união económica e monetária:
- Não faria sentido proibir aos Estados a criação de restrições no acesso ao seu mercado, se as
empresas conseguissem o mesmo efeito. Sem esta política, as últimas conseguiriam tornar
não-livre a circulação de mercadorias, pessoas, serviços e capitais.
- Por outro lado, este mercado único comporta benefícios para o consumidor, dado que poderá
adquirir produtos e serviços com maior qualidade, a um preço menor.
- Por fim, prossegue o maior objetivo da união: ser um espaço de liberdade e segurança. Estas
só podem existir se não houver qualquer restrição.
Competência:
No âmbito da concorrência, a UE goza de competência exclusiva, nos termos do art. 3º do TFUE.
Esta define as regras de concorrência no respeitante à criação do mercado interno, isto é, às
quatro liberdades.
Vigora, como sabemos, o princípio da administração indireta, isto é, apesar de apenas a união
poder legislar neste domínio, são as autoridades nacionais que aplicam, interpretam e executam
as regras europeias.
(6)
Direito da União Europeia II
Quanto à relação entre os dois ordenamentos nesta matéria, há duas teses para a conciliação
entre a política comum da concorrência e o direito nacional da concorrência:
- Segundo a tese da barreira dupla, só são lícitos os comportamentos que respeitarem quer a
legislação comunitária, quer a legislação nacional9.
- Segundo a tese da barreia única/simples, não é possível aplicar os dois ordenamentos. Assim,
sempre que existam regras comunitárias, estas primam, dando origem a uma desaplicação das
regras nacionais.
O regulamento 1/2013 disciplina positivamente este problema através da aplicação da
jurisprudência do TJ. Assim, em regra, como dispõe o art. 3º/1 do diploma, há uma proibição de
coligação de empresas (art. 101º TFUE) e a proibição do abuso da posição dominante (art. 102º
TFUE). Quer isto significar que se aplica quer o direito nacional, quer o direito comunitário.
Como exceção a esta regra, aplica-se o art. 3º/2 e 3, que dispõem, respetivamente, que as
coligações de empresas permitidas pelo direito da união, não podem ser proibidas pelo direito
nacional (aplicando-se sempre o direito comunitário nestes casos) e, por último, que a demais
legislação nacional, em matéria de concorrência, com objetivos diferentes dos que constam dos
tratados, pode ser sempre aplicada.
Em síntese:
9 Acórdão Walt Wilhelm (1969): é possível aplicar os dois ordenamentos. Apenas quando isso se
revele impossível, por apontar em direções opostas, deve funcionar o princípio do primado e,
portanto, proceder-se-á à aplicação de normas europeias apenas.
Direito da União Europeia II
(1) Proibição de coligação de empresas;
Para que a coligação de empresas seja proibida, têm de se verificar cumulativamente três
pressupostos:
- Coligação de empresas — este requisito subdivide-se, ainda, em dois sub-requisitos, a saber:
(a) temos de estar perante duas ou mais empresas; (b) tem de haver um acordo entre as
empresas.
Para este requisito, não é relevante o comportamento individual das empresas, preocupando-nos
apenas os comportamentos coligados.
Para o direito da concorrência, uma empresa é uma unidade económica.10 Esta definição é
importante para compreendermos se lidamos com uma ou mais empresas em simultâneo.
Critérios de verificação:
— Critério dos riscos, usado pela Comissão: verificamos se cada uma das sociedades atua de
forma independente, assumindo os seus próprios riscos económicos, ou se os riscos são
assumidos pelo grupo (sociedade-mãe);
— Critério do controlo, usado pelo TJ: verificamos se as sociedades tomam as suas próprias
decisões ou se estão, pelo contrário, numa relação de subordinação, de controlo.
Segundo Gorjão Henriques, o critério do controlo é incoerente, dado que se duas empresas
forem de proprietários diferentes, não podem ter certos comportamentos porque se considera
uma coligação de empresas mas, se por outro lado, forem do mesmo proprietário, já podem,
porque se tem como uma única empresa.
Define-se coligação com uma manifestação de vontade comum, demonstrada por duas
empresas, de se comportar de uma forma determinada. É, portanto, um acordo informar ou uma
mera prática concertada.
Existe uma prática concertada quando o comportamento das empresas não é suscetível de
explicação económica, isto é, as empresas optam por substituir os riscos próprios da
concorrência por uma cooperação/coordenação.
- Restrição da concorrência.
10Ac. Wouters: “Qualquer entidade que exerça uma atividade económica (de prestação de bens
ou serviços), independentemente do seu estatuto jurídico e do modo de financiamento.”
11 Acórdão LTM/MBU (1966)
Direito da União Europeia II
Numa primeira fase, este contava com um critério da Comissão, que consistia em “cada
operador económico deve determinar de forma independente a política que pretende adotar no
mercado comum, incluindo a escolha das pessoas e empresas às quais faz ofertas ou vende”.
Sempre que isto não se verificasse, haveria uma restrição da concorrência.
Este critério acabou por ser considerado demasiado formalista, dado que todos os contratos,
pela sua natureza, restringem a forma como se atua, dado que vincula as partes e, por outro lado,
asfixiante, dado que só a Comissão podia isentar a proibição.
Numa fase posterior, como acontece atualmente, o TJ usa um critério material, admitindo que é
necessário analisar o acordo e verificar se “atendendo ao seu contexto económico e jurídico”, ele
restringe a concorrência entre as partes contratantes ou se apenas regula a competição entre si.
Para isto, é preciso:
— Identificar o mercado: quais os produtos e serviços que são objeto de acordo;
— Saber se o acordo é isolado ou se há um conjunto alargado de conluios;
— O rigor das cláusulas dos acordos: se podem ser violadas pelas partes; se admitem reserva,
se impedem a concorrência entre empresas.
O tratado dá uma lista não taxativa de acordos que são restritivos de concorrência:
a. Acordos que fixam, de forma direta ou indireta, preços dos serviços ou dos produtos;
b. Acordos que visam limitar ou controlar a produção, a distribuição, o desenvolvimento técnico
ou os investimentos;
c. Acordos que repartem os mercados ou as fontes de abastecimento;
d. Acordos que aplicam condições desiguais para os parceiros comerciais, violando a igualdade
concorrencial (práticas discriminatórias);
e. Acordos que subordinem a celebração de contratos à aceitação de prestações suplementares
sem conexão com o objeto do contrato (contratos acoplados).