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Direito da União Europeia II

Contencioso da União Europeia

Estrutura Jurisdicional da UE.

Tribunal de Justiça da União Europeia (art. 19º TUE)


É uma instituição com “dupla personalidade”, uma vez que é composta pois dois tribunais
distintos, a saber: o Tribunal de Justiça e o Tribunal Geral.

1) Tribunal de Justiça da UE:


Tem a sua sede no Luxemburgo.
Quanto à sua composição, há 28 juízes e 8 Advogados-Gerais no TJ e 28 juízes no TG a (um por
cada Estado-Membro).
Como missão, o TJ pretende interpretar o direito da União em colaboração com os Tribunais
Nacionais, controlar a atuação ilegal de órgãos e instituições comunitários e, por fim, controlar o
cumprimento do direito da UE pelas autoridades nacionais.
No seu objetivo de interpretação do Direito da União Europeia, o TJ tem sido uma grande fonte
de inovação, contribuindo, deste modo, para retirar novos sentidos e dar novos passos nas
liberdades europeias.
Não julga somente litígios. Pelo contrário, através da sua interpretação do direito, tem retirado
consequências originais do mesmo, que ultrapassam a letra do tratado.

2) Tribunal Geral1.
Foi criado em 1998, com o Ato Único Europeu. É composto por por 28 juízes (um por cada
Estado-Membro).
A razão de criação deste segundo tribunal assentou em dois factos muito claros: por um lado,
aliviar a carga de trabalho do TJ, sobretudo no que respeita o contencioso da função pública e,
por outro lado, deixar que o TJ se dedicasse à sua função primordial, a interpretação do direito
comunitário.

Em regra, intentamos uma ação para o TG, que caberá recurso para o TJ.
Como excepções, nos termos do art. 51º do ETJUE: as ações propostas por um Estado-Membro,
as ações propostas contra um Estado-Membro ou processo de reenvio prejudicial. Estas
propõem-se no TJ.

- O Tribunal da Função Pública da União Europeia:


O Tratado de Nice criou a possibilidade de se instituírem, por decisão do Conselho, câmaras
jurisdicionais especializadas, tratando matérias específicas.
O Tratado de Lisboa renomeou-as, passando agora a ser Tribunais Especializados (art. 257º
TFUE).
Das decisões destes tribunais, cabe recurso para o TG.

Até hoje, foi criada uma câmara jurisdicional: o Tribunal da Função Pública Europeia, com
competência exclusiva para os litígios entre os funcionários e a UE.

Nota: são tribunais comunitários todos os tribunais nacionais quando aplicam ou interpretam uma
qualquer norma de direito comunitário. Quando o faz, é institucional e estruturalmente um tribunal
de um Estado-Membro.
Assim, aplica não só o direito nacional, como também o direito da União.
Designamos os Tribunais Nacionais por “Tribunais Comuns de Direito Comunitário”.

Para que se garanta uma aplicação conforme do direito, contamos com um instituto que garante
que, mesmo em países com tradições jurídicas diversas, o direito é vocacionado como padrão
único. Trata-se do reenvio prejudicial:

1 Tribunal de Primeira Instância


Direito da União Europeia II
- Estamos perante uma relação não hierárquica entre juízes nacionais e juízes do TJ em sentido
estrito, tendo o juiz nacional, perante uma dúvida de interpretação ou validade de uma norma,
a possibilidade consultar o Tribunal sobre qual o valor a atribuir a essa norma, se esta ainda é
válida ou em que condições será válida.
Esta é uma questão prejudicial: o Tribunal esclarece a sobre a questão e não sobre o processo,
cabendo ao juiz nacional retirar as consequências para um processo que é seu.
Trata-se, portanto, de um processo de colaboração e não de subordinação, até porque a
aplicação do direito comunitário pelo juiz nacional não é posta em causa pelo juiz comunitário.

• Jurisdição do TJUE:

1. Atribuição: o Tribunal tem as atribuições que lhe forem conferidas pelos Tratados e não exclui
qualquer competência dos Tribunais Nacionais.
Não há relação de hierarquia entre Tribunais.
Das sentenças dos juízes nacionais, não cabe qualquer recurso para o TJUE. Do âmbito de um
litígio a decorrer num tribunal nacional, mesmo que aplicando o direito comunitário, a última (e
única) palavra é do juiz nacional).
O TJUE pode ser chamado a interpretar uma norma de direito comunitário, mas sob a forma de
questão prejudicial2 suscitada pelo juiz nacional a quo.
Assim, podemos concluir que o TJUE é totalmente desprovido de cariz federal: não tem qualquer
poder de reforma das decisões dos tribunais nacionais ou de anular atos das instituições
nacionais contrários aos Tratados.

Mesmo que um tribunal nacional aplique de forma incorreta o direito comunitário, ou não o
aplique de todo, não será possível ao TJUE recorrer: apenas a parte lesada o poderá fazer, para o
Tribunal Nacional de Recurso.
Em situação alguma o TJUE é passível de anular uma decisão nacional. Os tratados prevêem
meios para assegurar o cumprimento dos mesmos, sem recorrer a meios federais de controlo e
sem recorrer ao princípio da primazia da lei federal.

2. Jurisdição obrigatória: o TJUE distingue-se dos restantes tribunais (como o TIJ), porque
aqueles carecem de um ato dos Estados a submeter-se à sua jurisdição.
Assim, a jurisdição do TJUE é obrigatória e não carece que qualquer ato de submissão dos
Estados: estes submetem-se à sua jurisdição pela mera ratificação dos tratados.

3. Jurisdição exclusiva (art. 344º TFUE): com vista a uma aplicação uniforme do direito
comunitário, os Estado-Membros não podem dirimir os seus conflitos ou diferentes quando
aos tratados noutros tribunais.

4. Definitiva: para além dos recursos extraordinários, a jurisdição do TJ é insusceptível de


recurso ordinário.
De entre os recursos extraordinários, encontramos:
a. Acórdão proferido à revelia (art. 41º ETJUE);
b. Oposição de terceiro (art. 42º ETJUE);
c. Recurso de interpretação do acórdão (art. 34º ETJUE);
d. Recurso de revisão (art. 44º ETJC).
Estes recursos não prejudicam a natureza definitiva na jurisdição porque são decididos por
reapreciação do mesmo órgão.

• Composição do TJ:
Dentro do Tribunal de Justiça, temos três categorias de membros (art. 19º/2 TUE, arts. 252º e
253º TFUE): as duas principais categorias, compostas por juízes e advogados gerais, e uma
categoria acessória, composta por um secretário.

2 Como supramencionado.
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Quanto às duas primeiras, trata-se de uma magistratura dual (assim como ocorre no
ordenamento nacional, em que há magistratura judicial e magistratura do Ministério Público).
Quando ao secretário, trata-se de uma figura administrativa, designada por secretaria.

Quanto aos juízes, há um por cada Estado-Membro (art. 19º TUE). São nomeados de comum
acordo pelos Governos dos Estados.
Têm de ser personalidades que ofereçam todas as garantias de independência, reúnam todas as
condições, nos respetivos países, para as mais altas funções jurisdicionais ou sejam
jurisconsultos de reconhecida competência (art. 253º TFUE).
São mandatos de 6 anos e, de 3 em 3, metade deles são substituídos para assegurar
continuidade de jurisprudência, para que não haja alterações abruptas na mesma.

As duas magistraturas justificam-se porque os juízes podem revelar o seu sentido de voto,
embora a sentença seja proferida pela maioria.
Assim sendo, temos opiniões individuais, que concorrem no sentido da sentença, mas divergem
em qualquer ponto de argumentação e, por outro lado, temos operações dissidentes, em que o
sentido de voto é radicalmente diverso do defendido resultado normativo.

Posto isto, vigora no TJ um princípio do segredo (art. 35º ETJUE): todas as opiniões, reuniões e
atos do tribunal são secretos.
Este princípio existe para que seja transmitida uma jurisprudência una e sem controvérsia. O TJ
tem de aparecer como um foco de unidade.
Por outro lado, este princípio garante a imparcialidade do juízes. Se as suas opiniões ou decisões
fossem conhecidas, estes seriam alvos fáceis dos seus Estados ou mesmo da opinião pública.

Independentemente disto, o princípio do segredo tem inconvenientes: o Direito é lacunas e está


em constante evolução. Se não forem conhecidas as diferentes opiniões, não será possível
aperfeiçoar o sistema jurídico.
A jurisprudência é um campo privilegiado para o desenvolvimento dos ramos de direito, sendo
tanto mais rica quanto mais forem os argumentos em sentidos diversos.
De um modo geral, são mais facilmente aceites pelas partes as decisões desfavoráveis,
significando que as suas pretensões foram consideradas e analisadas. Havendo uma opinião
dissidente, estas ficam certas de que a sua posição foi outrora considerada. Esta questão ganha
algum relevo no seio europeu e internacional, uma vez que está em causa a soberania dos
Estados.

Assim sendo, coloca-se uma questão: será que o princípio do segredo compensa?
Acreditamos que sim, desde que exista a magistratura dual. Assim, o Advogado-Geral é um
magistrado que, num momento importante do processo, anterior à deliberação, propõe uma
solução adequada para o problema concreto que o tribunal está a apreciar. Esta proposta pode
ser radicalmente afastada.
De uma forma geral, os tribunais orientam-se pelas propostas apresentadas pelo AG, dado que a
experiência nos demonstra que há uma coincidência substancial entre a proposta e a decisão.
E, em situações em que isto não se verifique, o acórdão entra em diálogo com as conclusões
fundamentadas, respeitando-as.

• Competência consultiva do TJ:


Esta resulta do disposto no art. 218º do TFUE, que prevê a celebração de acordos internacionais
pela comunidde.
O TJ pode analisar todas as questões que possam originar uma situação de conflito com os
tratados.
Um parecer do TJ é facultativo e prévio e, por isso, este entendo que um pedido de parecer fica
sem objeto se, entretanto, o acordo for concluído.
Contudo, enquanto a UE não expressar o seu consentimento na vinculação pelo acordo, este é
apenas um “projeto de acordo”.

Questões objeto de parecer do TJ:


1. Pode estar em causa a competência da União para celebrar o acordo.
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Neste caso, o parecer pode ser solicitado mesmo que ainda não exista um projeto específico de
acordo.
2. Pode estar em análise a compatibilidade de determinado projeto de acordo com o direito da
União originário (como os tratados).
Neste caso, o TJ deve poder conhecer os elementos relativos ao conteúdo do acordo para
perceber se há ou não conformidade com os tratados.

• Competência contenciosa do TJ:


Aqui, o TJ trata litígios entre:
- Instituições, órgãos ou organismos da UE;
- Estados-Membros;
- Estados-Membros e instituições ou órgãos da UE;
- Particulares e instituições da UE.
Os mecanismos utilizados nesta competência são variados, mas há elementos de cariz geral:
assim, o Tratado de Lisboa consagra um sistema completo, assente em dois pilares (europeu e
nacional), que visa assegurar a proteção do princípio da tutela jurisdicional efetiva, reafirmando a
competência genérica do TJUE, para “garantir o respeito pelo direito na interpretação e aplicação
dos tratados” (art. 19º/2 TUE).
No seguimento da jurisprudência do TJUE, devolve aos Estados-Membros a obrigação de
assegurar uma tutela jurisdicional efetiva nos domínios abrangidos pelo direito da União, através
das vias de recurso necessárias.

A competência do TJ não é plena em algumas matérias:


- O artigo 275º TFUE dispõe que o Tribunal não tem competência no domínio da PESC;
- O artigo 276º TFUE, por outro lado, revela que, antes do Tratado de Lisboa, o controlo da
legalidade de atos adotados no quadro da cooperação judiciária e matéria penal e da
cooperação policial, estava submetido ao método intergovernamental.

Há, também, uma adaptabilidade das regras sobre o TJ e a repartição de competências entre as
diversas jurisdições:
- O art. 281º TFUE dispõe que o Estatuto do Tribunal, embora constitua parte integrante dos
tratados, como direito originário, pode, salvo no que toca a determinadas normas, ser alterado
por regulamento.

Assim, o Tratado de Lisboa reconhece ao Tribunal Geral a competência em primeira instância nos
recursos de anulação, ações para incumprimento, ações de responsabilidade contratual ou
extracontratual.
Excepção — recursos atribuídos em primeira instância a um tribunal especializado ou reservado
pata o TJ pelo respetivo estatuto.

• Intervenção do TJUE
No contexto do art. 270º do TFUE, a fiscalização da legalidade de atos da UE relativos aos
funcionários e agentes cabe ao primeiro tribunal especializado, o Tribunal da Função Pública.
Nos termos do art. 273º do TFUE, a competência do TJ não é obrigatória e depende de um
compromisso prévio entre os Estados-Membros em causa.
Este artigo não diz respeito ao incumprimento por parte de um Estado-Membro dado que, neste
caso, a competência do TJ é, pois, obrigatória e o procedimento a seguir é o constante do art.
258º TFUE.

• Regras processuais no TJUE

(1) Ação por incumprimento (arts. 258º e 260º TFUE)


É uma ação dirigida contra os Estados-Membros, e é sempre proposta no TJ.
Tem como objetivo primordial reagir contra os incumprimentos dos Estados-Membros.
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O seu processo é dividido, essencialmente, em duas fases:
- A primeira fase difere consoante o processo seja desencadeado pela Comissão (art. 258º
TFUE) ou por um Estado-Membro (art. 259º TFUE).
- A segunda fase é idêntica nas duas modalidades, nos termos do art. 260º TFUE.
O pressuposto essencial desta ação é que tenha havido um incumprimento do direito
comunitário, seja originário ou derivado, que pode ocorrer em duas formas: por ação ou por
omissão.
Trata-se de incumprimento por ação quando há a adoção de um ato jurídico contrário às regras
comunitárias: por exemplo, a adoção de uma lei que proíba a circulação de mercadorias entre
dois Estados-Membros; ou, por outro lado, quando são dotadas ações materiais violadoras da
legalidade comunitária: por exemplo, sem nenhum ato jurídico, proibição pelas autoridades
nacionais de circulação de pessoas na União.
Trata-se incumprimento por omissão quando se verifica a falta de adoção na ordem jurídica
interna de medidas, materiais ou jurídicas, impostas pela legalidade comunitária: por exemplo, a
não transposição de diretivas.

(2) Recurso de anulação (ou ação de anulação)


É um sistema de reação contra a atuação das instituições comunitárias e está disposto no art.
263º do TFUE.
Este surge como o mecanismo principal de controlo da atividade das instituições. Os restantes
mecanismos (excepção de ilegalidade, ação para incumprimento e reenvio prejudicial de
validade) apenas suprem as suas insuficiências.
O recurso de anulação pretende controlar a legalidade dos atos, sem que o Tribunal interfira no
conteúdo do ato. Este é o mecanismo que permite qualificar a UE como Comunidade de Direito,
isto é, o respeito conferido ao direito é tal que este primado impõe que se reconheça aos atos
jurídicos europeus a suscetibilidade de serem objeto de controlo de legalidade por órgãos
jurisdicionais.
O princípio da comunidade de direito impõe que estejam sujeitos ao controlo de legalidade todos
os atos que produzam efeitos jurídicos em relação a terceiros, independentemente da sua
designação, forma ou natureza. Assim, impõe que seja sindicáveis tanto os atos típicos como os
atos não tipificados.

Sendo que o TJ jamais pode fazer controlo de legalidade de atos interno, este é competência
exclusiva dos tribunais nacionais, podendo estes revogar ou anular normas ou atos ilegais.
O controlo de atos comunitários é competência exclusiva dos tribunais organicamente
comunitários.
Apenas o TJ e o TG podem controlar a legalidade dos atos comunitários. Em situação alguma se
admite que o tribunal nacional de um Estado-Membro pode revogar uma diretiva comunitária, por
exemplo, com fundamento na sua ilegalidade.
Daqui resulta que os atos comunitários gozam de uma presunção de legalidade que só os
tribunais organicamente comunitários podem infirmar.

Para que o TJ anule um ato comunitário, têm de estar cumpridos cinco pressupostos:
a. O ato tem de ser passível de recurso (art. 263º/1 TFUE): todos os atos europeus,
independentemente da sua forma ou designação, desde que produzam efeitos externos, para
fora do quadro orgânico da UE.
b. Tem de haver um sujeito com legitimidade passiva: são todos os órgãos ou instituições que
adoptam atos impugnáveis (Conselho, Conselho Europeu, Comissão, BCE, PE e outros
órgãos ou organismos da UE).
c. Tem de haver alguém com legitimidade ativa: recorrentes privilegiados (art. 263º/2 TFUE), isto
é, Estados-Membros, PE, Conselho e Comissão - são privilegiados porque não precisam de
provar um interesse para agir; recorrentes intermediários ou recorrentes interessados (art.
263º/3 TFUE), isto é, Tribunal de Contas, BCE e Comité das Regiões - não necessitam de
provar um interesse para agir, mas só podem recorrer contra casos que ponham em causa as
suas prerrogativas; e recorrentes comuns ou ordinários (art. 263º/4 TFUE), isto é, os
particulares em geral e todos os órgãos ou organismos que não integrem as outras
classificações - têm de provar interesse pessoal em agir e só podem recorrer de atos de que
sejam destinatários.
Acresce, quanto aos recorrentes ordinários:
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- só podem recorrer de atos que lhes são dirigidos e lhes digam direta e individualmente respeito
(não podendo recorrer de atos gerais, apenas contra atos que são materialmente decisões);
- A sua legitimidade para recorrer depende de uma afetação direta do ato, isto é, tem de lhe
dizer diretamente respeito, tendo por efeito imediato privá-lo de um direito ou impor uma
obrigação de tal modo que o coloca em situação análogo à que se acharia se fosse o
destinatário de uma decisão;
- Esta legitimidade depende também do facto de o ato lhe dizer individualmente respeito, isto é,
o recorrente só é atingido pelo ato em virtude de certas qualidades que lhe são próprias ou
devido a uma situação do facto que o caracteriza em reação a outra pessoa.
d. Tem de estar dentro do prazo (art. 263º último parágrafo): dois meses, desde o dia em que o
recorrente tomou conhecimento do caso. Pode haver dilações do prazo de, quando os atos
são publicados, o interessado não conheça o ato dentro do prazo. Pode ser uma dilação
geral por publicação, começando a contar 14 dias após a publicação, ou dilação pela
distância, sendo este prazo 10 dias.
e. Tem de haver um fundamento de anulação (art. 263º/2): tem de haver a violação de
formalidades essenciais, incompetência, violação de tratado ou desvio de poder.
A violação de formalidades essenciais consiste na não adoção do ato com respeito de todas as
formalidades previstas no tratado ou fundamentação insuficiente (arts. 269º e 297º TFUE).
A incompetência revela-se quando um órgão age em matéria que é competência de outro órgão
e pode ser parcial (o Conselho adota um ato que devia ser adotado em conjunto com o PE) ou
total (um órgão adota uma diretiva para a qual não tinha competência).
A violação do tratado equivale, no plano interno, ao fundamento da violação da lei ou da
violação da CRP. Acontece sempre que um ato de direito derivado viole o direito originário ou
sempre que um ato não legislativo europeu viole um ato legislativo europeu).
O desvio de poder acontece quando a autoridade comunitária prossegue fins diversos dos
invocados e visa tornear o processo especialmente previsto no tratado.

Se o recorrente reunir estes pressupostos cumulativamente, o tribunal dar-lhe-á provimento ao


recurso. Como efeitos decorrentes do recurso, temos:
i. Efeito anulatório (art. 264º TFUE):
O recurso é considerado procedente, significando que aquele ato comunitário é inválido. Tem
efeito ex nunc (retroativos) e erga omnes, impondo-se a toda a União.
Se o TJ entender que se justifica, pode ressalvar efeitos em duas modalidades: situações
constituídas ao abrigo de um ato inválido (exclusão da retroatividade da declaração da nulidade
de edifícios já construídos) ou manter a vigência do ato inválido (o tribunal diz que o ato é inválido
mas os Estados-Membros deslegalizaram-se, a nível nacional, significando que se mantém válido
até estes voltarem a adotar medidas de legislação nacional na área em causa).
Aplica-se, também, o art. 266º TFUE: anulado o ato, deve imediatamente tomar-se as medidas
necessárias para executar o acórdão. O tribunal não se pode substituir às instituições e praticar o
ato válido, mas limita a liberdade de ação das mesmas e cria a obrigação de estas praticarem os
atos necessários.
ii. Obrigação de execução:
Este efeito nem sempre existe, mas quando ocorre, não basta anular o ato inválido. A Comissão
tem de emitir uma nova decisão, num “prazo razoável”.

(3) Excepção de ilegalidade (art. 277º TFUE)


É um mecanismo que visa complementar os requisitos do art. 263º (prazo e falta de legitimidade
dos particulares).
É uma questão incidental de legalidade de um ato geral que permite, com fundamento nessa
ilegalidade, afastar a aplicação desse ato comunitário.
Numa questão que me mobilize determinado ato geral comunitário, pode invocar-se a sua
ilegalidade e afastar a sua aplicação.
Pode lançar-se mão dos fundamentos do art. 263º para arguir a legalidade, tornando-se
necessário inscrever o vício num dos quatro fundamentos de ilegalidade.
Este mecanismo só pode ser invocado num processo que ocorra num tribunal organicamente
comunitário (TG ou TJ). Pode ser utilizado por qualquer parte (órgão, instituição, Estado-Membro
ou particular).
Não está submetido a qualquer prazo.
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Só produz efeitos dentro do processo, ou seja, verificada a ilegalidade pelo TJUE. A única
consequência é a desaplicação, naquele processo, do ato ilegal.
Só pode ser invocado em via de excepção: é um expediente usado no quadro de uma outra ação
ou recurso, enquanto mecanismo ao dispor no seio de uma ação.
Apesar disto, não é fácil conjecturar situações em que possa ser utilizado.
Esta pode ter utilizado no quadro de uma ação de incumprimento ou no quadro de um recurso de
anulação em que haja legitimidade dos particulares.

(4) Medidas provisórias (arts. 278º e 279 TFUE)


Tem como principais características:
- Acessoriedade, isto é, é acessória de uma ação principal;
- Provisoriedade, ou seja, só produz efeitos até à decisão da questão principal;
- Conservatórias, isto é, asseguram apenas a proteção dos modelos de modo a impedir a
produção de lesões irreversíveis dos mesmos.

Há duas modalidades de medida provisória:


No art. 278º, encontramos as de suspensão de eficácia de um ato impugnado, sendo o
procedimento adequado para ser utilizado com o recurso de anulação.
Exige que o recurso tenha sido interposto previamente.
Já no art. 279º, temos a medida provisória não especificada, em relação às quais o tribunal pode
decretar as medidas que entender necessárias, podendo impor obrigações de fazer ou não fazer
até à decisão sobre a questão principal. Não raras vezes, o dever de controlar a execução do
despacho é atribuído à Comissão.
Neste caso, a ação principal já tem de estar proposta, independentemente do mecanismo judicial
em causa.

Como requisitos que o requerente tem de provar, destacam-se:


- Urgência: necessidade de evitar prejuízos irreparáveis
- Fumus bonus iuris: probabilidade séria de existência do direito
- Provisoriedade dos efeitos da medida: não pode requerer-se uma que cause efeitos ad
aeternum.

Estas medidas são decretadas pelo Presidente do Tribunal, por despacho. Trata-se de uma
excepção ao princípio da colegialidade.

(5) Responsabilidade civil da UE: contratual e extracontratual


Nos termos do art. 340º do TFUE, a “responsabilidade contratual da União é regulada pela lei
aplicável ao contrato em causa. Em matéria de responsabilidade extracontratual, a União deve
indemnizar, de acordo com os princípios gerais comuns aos direitos dos Estados membros, os
danos causados pelas suas instituições ou pelos seus agente no exercício das suas funções”.

Direito Material da União Europeia:

• Objetivos da construção comunitária vs união


O problema da reconstrução, estabilização e defesa da Europa tornou-se premente no pós-II
Guerra Mundial.
Assim sendo, após um discurso de Churchill apelando pela edificação de uns Estados Unidos da
Europa, deu-se o surgimento, em 1949, do Conselho da Europa.
Consistia isto numa organização internacional de vocação pan-europeia, tendo tido uma
influência inegável na construção das comunidades europeias.
Entre os principais objetivos, destacava-se:
- A redução do risco de guerra entre a França e a Alemanha;
- A consolidação da democracia e do Estado de Direito;
- A reconstrução económica;
- E o reforço do poder político e económico face às restantes potências mundiais.
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Assim, entendia-se que uma abordagem regional e centralizada destes problemas possibilitaria
economias de escala e uma maior eficiência, desse modo contribuindo para legitimar, junto dos
cidadãos, instituições e normas comunitárias.

• O sucessivo alargamento dos objetivos da integração europeia (Comunidades/União)


Foi em 1992, com a celebração do Tratado de Maastricht, que se registou um avanço na
integração europeia, tendo alargado a cooperação entre os Estados-Membros para além do
sistema das comunidades europeias.
Apontou-se, primeiramente, para a criação de uma União Económica e Monetária e, por isso, de
uma moeda única. De seguida, com vista a um aprofundamento da identidade europeia, foi
criado o conceito de cidadania europeia.
Para além disso, com o alargamento de competências da UE, nos domínios da educação,
formação, cultura, saúde pública, foi possível consolidar o acervo comunitário adquirido.
Por fim, no sentido da união política, cooperação em política externa e defesa e justiça e
administração, conseguiu erguer-se a UE sobre estes três pilares.

• A dimensão económica: os objetivos originais e os modelos de integração económica


Conhecemos dois modelos, com objetivos distintos, de integração económica.
Por um lado, um sistema de funcionalismo ou cooperação intergovernamental, procurando criar
uma Organização Internacional com o objetivo de gerir de forma cooperativa (e não competitiva)
recursos escassos e promovendo a prosperidade económica.
Esta, por funcionar através do mercado, tem a virtualidade de aprofundar a cooperação política e
construção jurídica em áreas que ultrapassam o domínio económico.
No entanto, há dificuldades que surgem: este tipo de integração económica em larga escala
exige maior integração institucional, política e jurídica e, para além disso, a regulação do
comércio entre Estados-Membros favorecerá a expansão dos poderes da UE.
Este modelo acabou por dominar áreas como a política agrícola comum e a PESC e justiça e
cooperação judicial.
Ainda assim, não responde à necessidade de integração e legitimidade política de uma UE que
desempenha um grande papel na vida dos seus cidadãos.
O segundo modelo, do supranacionalismo e federalismo, baseia-se numa ideia de primazia do
político sobre o económico, do exercício em comum de prerrogativas de soberania estadual e do
reforço de poderes das instituições supranacionais.
Sem chegar a níveis de integração, é evidente, neste modelo, o reforço de elementos federativos
no direito europeu. A sua grande resistência são os Estados-Nação, não lhes sendo possível que
um povo europeu possa chamar a si a titularidade do poder constituinte.
Este modelo conheceu uma nova perspetiva com a entrada do Euro e com a convocação de uma
convenção constitucional para a reforma política europeia.

• Do AUE ao Tratado de Maastricht, deste para Nice e Lisboa


O ato único europeu, consistindo num tratado de revisão, procurou acertar os principais pontos
que não resultaram com o tratado de Roma.
Tornou-se especialmente relevante no tocante ao desenvolvimento de uma política externa
comum (PEC), inaugurou no que respeita a regra de decisões por maioria (quase que abolindo a
unanimidade) e, por fim, com a extensão a uma política de segurança comum, afirmou-se a
primazia do Conselho Europeu.
O tratado de Maastricht, por sua vez, procurou inovar no que respeita a integração europeia. Para
além da moeda única, da cidadania europeia e do aprofundamento dos três pilares, verificou-se
uma enorme participação dos órgãos comunitários nas matérias que o AUE nos trouxeram: a
PESC, essencialmente, assim como a cooperação judicial e judiciária em matéria penal.
O tratado de Nice (2003), por sua vez, vem revelar a sua intenção: novas adesões e uma reforma
institucional. Com este, foram alargadas as matérias que eram objeto de maiorias qualificadas,
assim como se institucionalizou um reforço do procedimento de co-decisão (Conselho e PE),
tendendo o primeiro a funcionar como uma câmara parlamentar, na medida em que produzia a
verdadeira legislação europeia. A Comissão assumiu uma posição executiva.
Pretendia-se, com estas medidas, combater o défice democrático europeu.
É, também, no âmbito deste tratado e deste alargamento massivo que surge o Projeto de Tratado
Constitucional Europeu, procurando reforçar a respetiva legitimidade, unidade de ação e
credibilidade internacional. Na estrutura do mesmo, destacava-se o presidente do Conselho
Direito da União Europeia II
Europeu e um ministro de negócios estrangeiros. Procurava-se, em simultâneo, reforçar o
princípio democrático no seio da UE, em todas as suas acessões.
Previa-se uma junção da UE num único pilar. Este projeto foi abandonado em 2005.
Já o Tratado de Lisboa procura alcançar aquilo que não foi possível anteriormente e recupera
algumas partes relevantes do PTCE.
Neste, pretende-se que os símbolos e jogo de linguagem constitucional sejam afastados, e
introduz alterações no equilíbrio institucional antes proposto. Assim, o TCE passa a designar-se
de TFUE, dado que a UE sucesso às antigas comunidades.
Para além disto, acolheu-se a figura do Presidente do Conselho Europeu e o Ministro nos NE foi
substituído por um Alto Representante.
Procedeu-se, por fim, ao alargamento das competências da UE, mantendo-se o reforce da
democracia parlamentar, direta e representativa, colmatando isto num reforço das competências
do Parlamento Europeu ao nível legislativo, orçamental e do controlo.

• Cidadania na União
A cidadania europeia foi instituída com o Tratado de Maastricht e representa um enorme passo
naquilo que é a identidade europeia relativamente ao exterior.
Este conceito tem por base o direito de livre circulação e residência, assim como direito de
sufrágio ativo e passivo nas eleições municipais, no direito à proteção diplomática fora da UE por
qualquer Estado-Membro e no direito de petição e queixa perante os órgãos da UE.
A cidadania europeia fundamenta um estatuto de igualdade jurídica baseada no princípio da
proibição de discriminação em razão da nacionalidade.
É, por isso, uma cidadania complementar e de sobreposição, dependente das leis da
nacionalidade dos Estados-Membros, que não pretende substituir.

• União aduaneira
A união aduaneira foi criada pelo tratado de Roma, em 1957, prevendo-se a sua integração por
fases, progredindo para o estabelecimento de um mercado único, assente na livre circulação de
pessoas, mercadorias, capitais, serviço e no direito de estabelecimento.
Seguir-se-ia uma fase de união económica e monetária, de forma a que fosse possível um
desenvolvimento harmonioso e equilibrado das atividades económicas na comunidade.

Direito Material da União Europeia: as quatro liberdades

- A livre circulação de mercadorias


A liberdade de circulação de mercadorias pretende criar um espaço único de circulação de
produtos no espaço europeu. A pauta aduaneira comum é o Código Aduaneiro Comunitário3.
As receitas dos direitos aduaneiros, cobrados pela entrada de produtos provindos de Estados
terceiros na União constitui receita própria desta.
Com a liberdade de circulação de mercadorias, foram abolidos quaisquer obstáculos entre
Estados nas suas transações (arts. 28º, 30º a 32º, 34º e 35º TFUE):
- Proibição de direitos aduaneiros entre Estados-Membros, restrições quantitativas e de
encargos de efeito equivalente;
- Criação de uma pausa aduaneira comum, estabelecendo uma fronteira aduaneira comum em
relação ao exterior, garantindo, assim, que uma mercadoria de um Estado terceiro paga um
imposto aduaneiro comum para entrar no território comum e, a partir desse momento, circula
livremente.
São abrangidos pela liberdade de circulação todos os produtos (art. 28º/2 TFUE), quer aqueles
que são originários de Estados-Membros, quer aqueles que provêem de Estados terceiros, desde
que se encontrem em livre prática.
Os produtos vindos de Estados terceiros encontram-se em livre prática se cumpriram todas as
formalidades de importação, foram cobrados os direitos aduaneiros e não tenham beneficiado de
draubaque (art. 29º TFUE).

3 Aprovado pelo Regulamento (CE) nº450/2008 do PE e Conselho, de 23 de abril de 2008.


Direito da União Europeia II

Nota: o draubaque é um expediente do direito fiscal previsto na Convenção Internacional para a


Simplificação e Harmonização dos Regimes Aduaneiros.
Consiste no reembolso dos direitos aduaneiros de importação que foram pagos, desde que haja
importação para modificação e depois nova exportação.
Este expediente existe para facilitar as exportações dos produtos transformados.
Assim, produtos que beneficiaram de draubaque não estão em livre prática e foram exportados
para fora da União.
Caso voltem a ser comercializados na União, têm de pagar direitos aduaneiros.
Não interessa a proveniência dos produtos, quer sejam originários de Estados-Membros, quer
estejam em livre prática, aplica-se-lhes a liberdade de circulação.
O tratado faz uma total equiparação entre os produtos originários de Estados-Membros e os
provindos de Estados terceiros que estejam em livre prática.
Nos termos do art. 38º TFUE, inclui todos os produtos. No entanto, trata-se apenas de
mercadorias e não pessoas, capitais ou serviços.
Posto isto, segundo o TJ, são mercadorias “quaisquer produtos apreciáveis em dinheiro e
suscetíveis, como tais, de ser objeto de transações comerciais”.
A livre circulação de mercadorias implica a proibição de dois tipos de obstáculos: a proibição de
direitos aduaneiras entre Estados-Membros (art. 28º TFUE) e a proibição de restrições
quantitativas às importações (art. 35º TFUE).
Acresce que são direitos aduaneiros as imposições pecuniárias que incidem sobre os produtos
importados no momento de colocação no mercado nacional.
Estes direitos têm duas modalidades: ad valorem (uma percentagem do valor dos bens) ou
específicos (o montante é fixado em função das características do produto e não do seu valor).
Estas modalidades são ambas proibidas entre Estados-Membros, nos termos do art. 30º TFUE4.

Conhecem-se, no entanto, excepções à proibição:


- Impostos sobre o consumo, conquanto não discriminatórias (art. 110º TFUE);
- Encargos que correspondam à contraprestação de serviço;
- Encargos exigidos por normas da UE (quando exista norma especial);
- Encargos ao abrigo de medidas de salvaguarda.
- A circulação de pessoas na UE (não sai)
Os Estados membros, ao instituir a liberdade de circulação de pessoas e serviços, não o fizeram
de forma idêntica. assim, quando alguém circula na UE, importa saber se o faz:
(1) Para trabalhar
(2) Para prestar serviços ocasionais
(3) Para abrir uma empresa
(4) Para descansar

Cidadania e nacionalidade — definimos a cidadania como um complexo de direitos e,


eventualmente, de deveres. No caso da cidadania europeia, estão apenas previstos direitos (art.
20º TUE).

A cidadania resulta de um determinado vínculo a uma comunidade política. Este vínculo é a


nacionalidade.
No caso europeu, não há uma nacionalidade europeia. O vínculo estabelece-se entre o sujeito e
um dos Estados-Membros (art. 9º TUE).

A competência para definir os critérios de atribuição de nacionalidade de um Estado-Membro é


uma competência exclusiva dos Estados. No entanto, na verdade, mesmo no quadro dessas
competências exclusivas, eles têm de respeitas as exigências que possam ser colocadas pelo
direito da UE.

Acórdãos relevantes no que respeita a cidadania e livre circulação de pessoas na UE:


(1) No acórdão Zhu x Chen (C-200/02) — a Irlanda foi constrangida a alterar a sua lei da
nacionalidade. Está em causa uma cidadã chinesa que residia no Reino Unido e estava prestes a

4 Menção ao Acórdão Comissão/Dinamarca nº158/82, de 9 de novembro de 1983.


Direito da União Europeia II
ver terminado o seu visto de residência. Para alguém ter nacionalidade Irlandesa, na altura,
bastava ter nascido no território.
A filha desta cidadã nasceu na Irlanda, adquiriu esta nacionalidade, e depois regressaram ao
Reino Unido. Invocou a nacionalidade da filha para residir naquele território.
Deste acórdão resultou que, para ter nacionalidade irlandesa, não bastava o facto de nascer na
Irlanda. A nacionalidade afeta a cidadania da UE, mas o regime de cidadania da UE também tem
impacto sobre as regras da nacionalidade.
Este acórdão não apreciou a lei da nacionalidade da Irlanda. Na sequência deste acórdão, houve
pressão de natureza política sobre a Irlanda para alteração da sua lei.

(2) No acórdão Rottman (C-135/08) — a Alemanha retirou a nacionalidade a um sujeito. Este


cidadão ia tornar-se apátrida, era austríaco, adquiriu a nacionalidade alemã e houve um problema
nesse processo. Não podia ter ambas as nacionalidades, deixando de ser cidadão da UE.

(3) No acórdão Tjebbes (C-221/17) — este diz respeito a pessoas de dupla nacionalidade dos
Países Baixos e de Estados terceiros e como não residiam nos PB, iam retirar-lhes a cidadania.
Nestes casos, o TJUE veio afirmar que os EM, embora tenham competência para determinar
quem são e deixam de ser os seus nacionais, têm de respeitar o princípio da proporcionalidade,
atendendo a que o facto de retirarem a nacionalidade pode implicar a perda da cidadania
europeia.

- Livre circulação de trabalhadores (art. 45 a 48º TFUE)


O Tratado estabelece que quem quiser usufruir da liberdade de circulação de trabalhadores tem
direito:
a. Eliminação da discriminação em razão da nacionalidade — direito à não discriminação em
razão da nacionalidade
b. A responder a ofertas de emprego em toda a União — direito de circulação
c. A deslocar-se livremente no território da União — direito de circulação
d. A residir no Estado da União onde exerça a sua atividade — direito de residência
e. A permanecer no país onde trabalhou mesmo depois de terminar o seu trabalho — direito de
permanência.
Os direitos supramencionados são designados pelo TJ como os direitos fundamentais dos
cidadãos europeus.

Para efeitos de liberdade de circulação, o trabalhador é um sujeito humano que exerceu, exerce
ou pretende exercer uma atividade económica assalariada em benefício de outra pessoa ou sob a
sua direção.
Isto é, só interessa que seja alguém que pretenda trabalhar por conta de outrem e não por conta
própria.

Direito de circulação:
O direito de circulação prevê a liberdade de abandonar o Estado da nacionalidade e proíbe que
os Estados-Membros criem limitações à saída de trabalhadores. Confere, assim, o direito aos
trabalhadores europeus de abandonarem o Estado de origem sem necessidade de visto de saída,
e apenas com bilhete de identidade ou passaporte válido.
A liberdade de acesso a outros Estados-Membros, proíbe aos Estados criar entraves ao acesso
de trabalhadores de outros Estados e, posto isto, atribui o direito de acesso a qualquer Estado
sem necessidade de visto de entrada, apenas munido dos documentos essenciais.
Uma novidade vinda em 1968 é a do direito a transportar os familiares do trabalhador. Percebeu-
se que, sem este direito, os trabalhadores não eram verdadeiramente livres de circular, já que
teriam de deixar as suas famílias para trás.
A família que goza desta liberdade está definida na Diretiva nº37/20045.

Direito de residência:
O tratado confere aos trabalhadores um direito de residência.

5 Transposta em Portugal pela lei nº37/2006, de 9 de agosto


Direito da União Europeia II
Até três meses, pode fazê-lo sem qualquer formalidade, fazendo-se apenas acompanhar do BI
ou passaporte.
A partir do prazo de três meses, qualquer trabalhador da UE tem direito a uma carta de residente,
de modelo único, caso esteja a trabalhar. Esta é judicialmente exigível.
Se ainda não tiver encontrado trabalho, pode ser-lhe exigido que tenha recursos financeiros
suficientes e um seguro-doença, para evitar a sobrecarga do Estado de acolhimento.

Direito de permanência:
Depois de trabalhar num determinado Estado, o cidadão não é obrigado a retornar ao seu país de
origem.
Não perde, portanto, o estatuto de “trabalhador comunitário” se: estiver numa situação de
incapacidade temporária de trabalho, em virtude de uma doença ou acidente; estiver em situação
de desemprego involuntário, desde que tenha trabalhado mais de um ano e se encontre inscrito
no centro de emprego ou estiver aposentado.
Este regime não se estende a nacionais de Estados terceiros, ainda que sejam residentes num
determinado Estado-Membro.
A única excepção prevista (art. 46º TFUE) são os familiares de trabalhadores que não sejam
nacionais de nenhum Estado-Membro6.

Direito à não discriminação:


A circulação de trabalhadores assenta no princípio de não discriminação em razão da
nacionalidade.
Assim, não podem existir regras que diferenciem o acesso a uma profissão ou emprego por
causa da nacionalidade.7

Notas para a correta resolução de um caso prático - Liberdade de Circulação de Mercadorias

1. Verificar se a situação é abrangida pela liberdade de circulação de mercadorias nos arts.


28º e 29º do TFUE, isto é, ver se é uma mercadoria que goza desta liberdade.
Para esta noção, temos de considerar que não estão abrangidas todas as situações incluídas
noutras liberdades (nomeadamente a liberdade de circulação de capitais - se não tiver curso
legal, já não é meio de pagamento mas sim mercadoria).
Para que o produto goze desta liberdade, tem de ser ou originária da UE ou proveniente de
Estados terceiros mas que se encontra em livre prática.
Para que se encontre em livre prática, têm de já ter cumprido as formalidades a respeitar para a
importação, têm de ter pago os impostos aduaneiros e não podem ter beneficiado de draubaque
(instituto previsto em convenções que permite que uma determinada mercadoria sobre a qual
recaiu um tributo aduaneiro, esse seja devolvido quando a importação se destina a uma atividade
de transformação para nova exportação).
Se já tiver beneficiado de draubaque, a mercadoria não está em livre prática.
Quanto à dificuldade sobre a origem da mercadoria, conta o critério da última operação
substancial de transformação (art. 60º Código Aduaneiro): considerando os processos de
transformação de cada produto, o que importa é o local onde esse produto sofreu a última
alteração significativa, seja pela mudança das suas especificações, seja porque esta implica uma
alteração substancial do valor deste mesmo produto.
As mercadorias provenientes de Estados terceiros têm, obrigatoriamente, de pagar tributos
aduaneiros (previstos pelo Código Aduaneiro, isto é, pela pauta aduaneira comum dos Estados-
Membros da UE).

2. Verificar se estamos perante um obstáculo à livre circulação, proibido pelos Tratados.

6 A Diretiva nº38/2004 determina que os familiares de uma trabalhador com carta de residência
ficam automaticamente isentos de visto.
7 Arts. 3º a 9º do Regulamento (CE) 1612/68.
Direito da União Europeia II
Há duas dimensões: a questão dos direitos aduaneiros e encargos de efeito equivalente, prevista
no art. 30º TFUE e a proibição das restrições quantitativas e medidas de efeito equivalente (arts.
34º e 35º TFUE).
Quanto ao primeiro, a UE traduz-se numa união aduaneira: os tributos aduaneiros que os
produtos provenientes de Estados terceiros são fixados por uma pauta aduaneira comum. Estes
tributos constituem receitas próprias da UE (dimensão externa).
O direito aduaneiro é uma imposição pecuniária cobrado em virtude desse produto ser colocado
num determinado mercado de um território.
Aplica-se, para além desta noção, a noção de encargo de efeito equivalente: têm sido apontados
como qualquer imposição unilateral que se traduza num encargo de natureza pecuniária que é
devida de um produto transpor uma fronteira.
Quanto aos obstáculos que se traduzam em restrições quantitativas, são proibidas quer digam
respeito à importação de bens, quer à sua exportação. Traduzem-se no estabelecimento de um
contingente à importação ou exportação do produto.
São proibidas as ações de medidas de efeito equivalente às restrições quantitativas: fórmula
Dassonville (acórdão do TJ em sede de reenvio prejudicial) — afirma que eram proibidas todas as
medidas adoptadas por um Estado que direta ou indiretamente, atual ou potencialmente,
limitassem as correntes de troca entre os Estados.
Princípio do reconhecimento mútuo8: se uma determinada mercadoria é comercializada no
território de um Estado-Membro, então em princípio pode ser comercializado no território de um
outro Estado-Membro. Por este princípio, comercializa-se até produtos com características
diferentes, desde que cumpram as regras internas de cada país.
A liberdade de circulação de mercadorias tem adotado características, através de uma Diretiva,
passando as regras a ser muito similares.
Quando um Estado-Membro procura ou cria uma técnica nova, pode levantar problemas à
circulação de mercadorias. Por isto, a diretiva 1535/2015, impõe aos EM que comuniquem esse
projeto de técnica à Comissão, de modo a que esta não venha criar dificuldades acrescidas à
liberdade de circulação.
Em relação ao conhecimento mútuo, previsto na diretiva mencionada, prevê uma rede de
autoridades nacionais que permite uma comunicação mais simples quando um Estado quer
saber se um produto fabricado noutro Estado cumpre as especificações técnicas para ser
comercializado no Estado de origem.

3. Verificar se estamos perante um obstáculo aparente ou perante uma situação em que a


proibição de obstáculos possa ser derrogada.
No que respeita aos encargos de efeito equivalente aos tributos aduaneiros, está em causa a
aparência de um tributo e haver uma contraprestação de um serviço efetivamente prestado. É o
caso, por exemplo, das despesas de desalfandegamento. Este imposto não pode ser em função
do valor do produto, mas sim um preço imposto em função das características do próprio
produto.
Pode haver um encargo de efeito equivalente a tributo é se isso estiver proposto num
instrumento de direito internacional.
Há ainda a situação dos tributos internos, que podem gerar alguma confusão. Os nossos
impostos podem recair sobre mercadorias. Terão de respeitar as condições do art. 110º TFUE,
designadamente a ideia da não discriminação, isto é, ao prever os impostos internos, não se
pode prejudicar as mercadorias provenientes de outros Estados-Membros em virtude da sua
origem.
Relativamente às restrições quantitativas, o art. 36º estabelece a possibilidade de derrogar as
medidas dos arts. 34º e 35º, tanto quanto às importações como às exportações.
A restrição quantitativa ou medida de efeito equivalente tem de existir para servir um interesse
geral (art. 36º). Qualquer medida que vise um interesse geral compatível com os tratados, poderá
enquadrar-se nos fundamentos deste artigo.
O fundamento excluído deste artigo será o protecionismo económico. No entanto, não basta este
fundamento. A medida também não pode ser discriminatória, ou seja, fazer distinção entre
produtos originários desse Estado-Membro e produtos de outro território. Não pode ser feita em
função do critério de origem, nem com base num critério discriminatório.
A medida tem de ser proporcional, isto é, a limitação tem de ser adequada e tem de salvaguardar
os interesses.

8 Acórdão Cassis de Dijon


Direito da União Europeia II
Para que possa ser adotada, não deverá, ainda, haver harmonização da questão ao nível da UE.
Nota: arts. 346º a 348º - restrições à liberdade de circulação de mercadorias no caso de armas e
em casos em que haja ameaças graves à ordem interna dos Estados-Membros.

4. Escolher o meio de reação: efeito direto, responsabilidade civil do Estado por violação do
direito da UE ou ação por incumprimento.
Através do primeiro, impugnamos o problema através do ato junto dos tribunais do Estado-
Membro de origem.
Se houver danos, cumula-se a situação de resolução com um pedido de indemnização ao abrigo
da responsabilidade civil. Estes são os mecanismos que nos permitem resolver a situação
enquanto indivíduos que viram a sua situação prejudicada.
Por último, podemos recorrer à ação por incumprimento: procurando, por aqui, forçar o Estado a
passar a respeitar o DUE.

Política da concorrência da União Europeia

Para além das liberdades fundamentais, a UE prossegue os seus objetivos através de políticas
comunitárias. Encontramos intervenção da união em matérias concretas, matérias essas em que
os Estados escolheram atuar em comum, para garantir a efetivação do objetivo comunitário.
Estas políticas estão reguladas no direito originário, atribuindo às instituições poderes para agir.

Contextualização:
A união dispõe de uma política de concorrência para corretamente assegurar uma verdadeira
união económica e monetária:
- Não faria sentido proibir aos Estados a criação de restrições no acesso ao seu mercado, se as
empresas conseguissem o mesmo efeito. Sem esta política, as últimas conseguiriam tornar
não-livre a circulação de mercadorias, pessoas, serviços e capitais.
- Por outro lado, este mercado único comporta benefícios para o consumidor, dado que poderá
adquirir produtos e serviços com maior qualidade, a um preço menor.
- Por fim, prossegue o maior objetivo da união: ser um espaço de liberdade e segurança. Estas
só podem existir se não houver qualquer restrição.

Competência:
No âmbito da concorrência, a UE goza de competência exclusiva, nos termos do art. 3º do TFUE.
Esta define as regras de concorrência no respeitante à criação do mercado interno, isto é, às
quatro liberdades.
Vigora, como sabemos, o princípio da administração indireta, isto é, apesar de apenas a união
poder legislar neste domínio, são as autoridades nacionais que aplicam, interpretam e executam
as regras europeias.

Nota: se estiverem em causa liberdades fundamentais (e não apenas matéria decorrente da


concorrência europeia), o tratado não atribui competências à UE. Com isto concluímos que a
concorrência puramente interna é competência exclusiva dos Estados-Membros.

Sistema europeu de regulação do direito europeu de concorrência:


Numa primeira fase, a comissão ocupava um papel central, dispondo de poderes de polícia, de
procurar e de juiz, isto é, multava, inspecionava e sancionava. O controlo à sua ação era feito
através do recurso de anulação.
Mais tarde, é criada uma rede de autoridades da concorrência, passando a comissão a ocupar
um papel centrar, através da direção geral da concorrência. A sua ação é, então, complementada
pelas autoridades nacionais da concorrência, com poderes próprios, atribuídos pelo
Regulamento 1/2003.

(6)
Direito da União Europeia II
Quanto à relação entre os dois ordenamentos nesta matéria, há duas teses para a conciliação
entre a política comum da concorrência e o direito nacional da concorrência:
- Segundo a tese da barreira dupla, só são lícitos os comportamentos que respeitarem quer a
legislação comunitária, quer a legislação nacional9.
- Segundo a tese da barreia única/simples, não é possível aplicar os dois ordenamentos. Assim,
sempre que existam regras comunitárias, estas primam, dando origem a uma desaplicação das
regras nacionais.
O regulamento 1/2013 disciplina positivamente este problema através da aplicação da
jurisprudência do TJ. Assim, em regra, como dispõe o art. 3º/1 do diploma, há uma proibição de
coligação de empresas (art. 101º TFUE) e a proibição do abuso da posição dominante (art. 102º
TFUE). Quer isto significar que se aplica quer o direito nacional, quer o direito comunitário.
Como exceção a esta regra, aplica-se o art. 3º/2 e 3, que dispõem, respetivamente, que as
coligações de empresas permitidas pelo direito da união, não podem ser proibidas pelo direito
nacional (aplicando-se sempre o direito comunitário nestes casos) e, por último, que a demais
legislação nacional, em matéria de concorrência, com objetivos diferentes dos que constam dos
tratados, pode ser sempre aplicada.

O direito nacional, em matéria de concorrência, determina que a autoridade da concorrência é a


entidade competente para aplicar o direito comunitário nesta matéria, exercendo as
competências previamente atribuídas pelo Regulamento 1/2003.
Nos casos em que não seja aplicável o direito comunitário neste tópico, por não ser afetado p
comércio entre Estados-Membros, aplica-se o direito nacional, sendo este tendencialmente igual
ao primeiro.
A autoridade da concorrência é a entidade que aplica direito comunitário, nomeadamente as
sanções previstas pelo Regulamento 1/2003, mas também aplica o direito nacional da
concorrência.
Nota: quando já exista uma decisão da comissão, a autoridade da concorrência não pode tomar
qualquer decisão que entre em conflito com a decisão da primeira.

Em síntese:

Direito Europeu da Concorrência Direito Interno da Concorrência

Quem atua? A comissão e as autoridades A Autoridade da Concorrência.


nacionais da concorrência.
Nota: as decisões da última não
podem contradizer as da
comissão.
Quem controla? Os tribunais nacionais controlam Os tribunais nacionais controlam
a ação da AC e tornam as suas a ação da AC e tornam as suas
deliberações efetivas. deliberações efetivas.
O TJUE controla a ação da
comissão europeia.

Vetores da política de concorrência:

9 Acórdão Walt Wilhelm (1969): é possível aplicar os dois ordenamentos. Apenas quando isso se
revele impossível, por apontar em direções opostas, deve funcionar o princípio do primado e,
portanto, proceder-se-á à aplicação de normas europeias apenas.
Direito da União Europeia II
(1) Proibição de coligação de empresas;
Para que a coligação de empresas seja proibida, têm de se verificar cumulativamente três
pressupostos:
- Coligação de empresas — este requisito subdivide-se, ainda, em dois sub-requisitos, a saber:
(a) temos de estar perante duas ou mais empresas; (b) tem de haver um acordo entre as
empresas.
Para este requisito, não é relevante o comportamento individual das empresas, preocupando-nos
apenas os comportamentos coligados.
Para o direito da concorrência, uma empresa é uma unidade económica.10 Esta definição é
importante para compreendermos se lidamos com uma ou mais empresas em simultâneo.
Critérios de verificação:
— Critério dos riscos, usado pela Comissão: verificamos se cada uma das sociedades atua de
forma independente, assumindo os seus próprios riscos económicos, ou se os riscos são
assumidos pelo grupo (sociedade-mãe);
— Critério do controlo, usado pelo TJ: verificamos se as sociedades tomam as suas próprias
decisões ou se estão, pelo contrário, numa relação de subordinação, de controlo.
Segundo Gorjão Henriques, o critério do controlo é incoerente, dado que se duas empresas
forem de proprietários diferentes, não podem ter certos comportamentos porque se considera
uma coligação de empresas mas, se por outro lado, forem do mesmo proprietário, já podem,
porque se tem como uma única empresa.
Define-se coligação com uma manifestação de vontade comum, demonstrada por duas
empresas, de se comportar de uma forma determinada. É, portanto, um acordo informar ou uma
mera prática concertada.
Existe uma prática concertada quando o comportamento das empresas não é suscetível de
explicação económica, isto é, as empresas optam por substituir os riscos próprios da
concorrência por uma cooperação/coordenação.

- Afetação do comércio entre Estados-Membros — a política comum da concorrência constitui


uma competência exclusiva da união, isto é, os Estados não podem legislar.
Caso assim não fosse, aplicar-se-ia o direito nacional da concorrência a cada Estado.
Só há aplicação das regras comunitárias quando se afeta comércio da UE porque esta tem como
principal preocupação a abolição das barreiras à liberdade de circulação. É, aliás, esta a razão
pela qual os Estados a criaram. Apenas se houver comportamentos anti-concorrenciais é que se
justifica a sua atuação.
Para que este requisito seja preenchido, o acordo deve “vislumbrar com um grau de
probabilidade suficiente que possa exercer influência, direta ou indireta, atual ou potencial, sobre
as correntes de troca entre Estados-Membros”11.
Posto isto, basta que se possa considerar que o acordo é suscetível de prejudicar as correntes
de troca, para que se preencha o requisito.
Não precisa de se tratar de empresas de 2 ou mais Estados-Membros, isto é, podem ter sede em
Estados terceiros. Basta que o seu conluio dificulte a criação de um mercado comum e
prejudique o espaço de liberdade de circulação.
Se forem empresas de um mesmo Estado-Membro, pode desincentivar a compra de bens ou
serviços a empresas de outros Estados, dividido os mercados.

O requisito da afetação do comércio é o que determina a competência comunitária (art. 101º


TFUE). Mesmo que não se verifique, há intervenção da AC para aplicação do direito nacional da
concorrência.

- Restrição da concorrência.

10Ac. Wouters: “Qualquer entidade que exerça uma atividade económica (de prestação de bens
ou serviços), independentemente do seu estatuto jurídico e do modo de financiamento.”
11 Acórdão LTM/MBU (1966)
Direito da União Europeia II
Numa primeira fase, este contava com um critério da Comissão, que consistia em “cada
operador económico deve determinar de forma independente a política que pretende adotar no
mercado comum, incluindo a escolha das pessoas e empresas às quais faz ofertas ou vende”.
Sempre que isto não se verificasse, haveria uma restrição da concorrência.
Este critério acabou por ser considerado demasiado formalista, dado que todos os contratos,
pela sua natureza, restringem a forma como se atua, dado que vincula as partes e, por outro lado,
asfixiante, dado que só a Comissão podia isentar a proibição.

Numa fase posterior, como acontece atualmente, o TJ usa um critério material, admitindo que é
necessário analisar o acordo e verificar se “atendendo ao seu contexto económico e jurídico”, ele
restringe a concorrência entre as partes contratantes ou se apenas regula a competição entre si.
Para isto, é preciso:
— Identificar o mercado: quais os produtos e serviços que são objeto de acordo;
— Saber se o acordo é isolado ou se há um conjunto alargado de conluios;
— O rigor das cláusulas dos acordos: se podem ser violadas pelas partes; se admitem reserva,
se impedem a concorrência entre empresas.

O tratado dá uma lista não taxativa de acordos que são restritivos de concorrência:
a. Acordos que fixam, de forma direta ou indireta, preços dos serviços ou dos produtos;
b. Acordos que visam limitar ou controlar a produção, a distribuição, o desenvolvimento técnico
ou os investimentos;
c. Acordos que repartem os mercados ou as fontes de abastecimento;
d. Acordos que aplicam condições desiguais para os parceiros comerciais, violando a igualdade
concorrencial (práticas discriminatórias);
e. Acordos que subordinem a celebração de contratos à aceitação de prestações suplementares
sem conexão com o objeto do contrato (contratos acoplados).

(6) Proibição de abuso da posição dominante;


(7) Regime da concentração de empresas;
(8) Proibição dos auxílios dos Estados.

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