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Direito

Processual
Civil II

Professor Doutor Gustavo Jorge Gramaxo Rozeira


17/02/2022
Amanhã vamos concluir o pressuposto processual da competência que sairá na
prova. Depois vamos iniciar o programa do segundo semestre: ação do processo civil
(dimensão estática e dimensão dinâmica).
O melhor método para contactar o professor é através de mensagem no moodle.
Bibliografia está na ficha da unidade curricular:
- Lebre de Freitas: ação declarativa comum
- Paulo Pimenta: Processo civil declarativo
- Wadimir Brito Teoria geral do processo
O professor não segue nenhum manual, estes são apenas sugestões. Vão ser
colocados sumários desenvolvidos no moodle.
Avaliação: 2 frequências (cada 50%)
1ª Frequência: 12 de Maio

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18/02/2022
Competência - pressuposto processual típico, relativo ás partes (tribunal) de
conhecimento oficioso ou não.
Jurisdição – relaciona-se com a função jurisdicional que está reservada aos
tribunais por força do artigo 204º CRP (+ artigo 202º CRP e artigo 2º, nº3 LOSJ).
Resulta da CRP que existem diferentes tribunais, significa que a função jurisdicional
que está, no seu todo confiada aos tribunais, significa que há uma repartição dos
tribunais. A jurisdição é a segmentação da função jurisdicional pelas diferentes ordens
jurisdicionais (tribunais comuns/judiciais (artigo 211º nº1 CRP), administrativos e
fiscais (artigo 212º CRP), económico financeira (artigo 214º CRP), constitucional
(artigo 221º CRP) e a ordem jurisdicional dos tribunais militares).
Todos os litígios cíveis e criminais devem cair na jurisdição comum (pode haver
exceções) – artigo 211º, nº1 CRP. Há ainda uma função residual que permite que os
tribunais comuns possam julgar crimes que não caibam a nenhuma outra jurisdição.
Neste âmbito, podem acontecer por vezes conflitos de jurisdição que são
resolvidos através de mecanismos processuais que não estudaremos agora – conflito
positivo. Podendo também existir conflitos negativos de jurisdição. Estes litígio podem
ser resolvidos por um tribunal ad hoc – tribunal dos conflitos.
A CRP prevê que existam vários tribunais judiciais, mas estes tribunais estão
segmentados – competência.
A competência é a parcela da jurisdição que cabe a cada concreto tribunal
exercer. A competência é o corolário da existência de uma pluralidade de tribunais
comuns dentro de uma ordem jurisdicional, o que obriga a que haja uma repartição a
jurisdição comum por cada um desses tribunais.
Para aferir a competência usamos diferentes critérios de aferição da
competência: competência em razão da matéria, hierarquia, em razão da forma do
processo e valor da ação, em razão do território e a competência internacional.
Competência abstrata vrs. competência concreta: competência em abstrato parte
do ponto de vista de um determinado tribunal (ex.: o tribunal Y julga ações do tipo X).
A competência em concreto parte da perspetiva daquela ação (ex.: esta ação relativa a X
é da competência do tribunal Y).
Regra geral, para cada ação há um tribunal competente. No entanto, existem
situações pontuais em que o ordenamento jurídico dá a alternativa a dois possíveis
tribunais ao autor para propor a ação (ex.: foro territorial para o cumprimento das
obrigações). Excecionalmente o foro jurídico pode atribuir a competência concreta ao
foro de um tribunal permitindo ao autor que escolha o foro onde quer propor a ação.
Princípio do juiz natural (proibição de desaforamento – artigo 39º LOSJ) –
nenhuma causa pode ser deslocada do tribunal competente. Se um litígio é da
competência de um determinado tribunal não pode ser deslocado para outro tribunal, ou
seja, tem de ser julgado pelo tribunal que, de acordo com a lei tem competência para o
julgar. Este princípio tem uma origem constitucional no princípio do juiz natural (artigo

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32º, nº9 CRP) - este principio, enquanto principio constitucional não se aplica ao
processo civil, mas o artigo 39º da LOSJ tem aplicação a todos os ramos de direito
processual, mas é um principio ordinário e por isso a qualquer altura o legislador pode
revoga-lo.
Se no tribunal competente para julgar o processo houver mais do que um juiz
em funções como é que determinamos qual o juiz que vai julgar aquele processo? Isso
faz-se através da distribuição – a processual através do qual se designa o juiz que,
dentro de um mesmo tribunal, ficará encarregue daquele processo.
A primeira etapa que temos de enfrentar a propósito da competência é a
competência internacional, mas isto só acontece se estivermos perante um litígio que
tenha contornos transfronteiriços. Se isso não acontecer, então o problema da
competência internacional não se coloca, mas se naquele litígio tivermos uma conexão
com outros ordenamentos jurídicos temos sempre de saber se os tribunais portugueses
são competentes para julgar daquela causa. A competência internacional é aferida aos
tribunais portugueses no seu conjunto.
A competência internacional é regulada pelo artigo 59º CPC, que exceciona a
aplicabilidade de tratados europeus ou de tratados internacionais. Há vários tratados
internacionais de que Portugal é parte e que dizem respeito a esta matéria, mas não
vamos estudar nenhum, mas há os regulamentos europeus que tem sempre prevalência
face aos tratados internacionais.
Quando aferimos a competência internacional não é relevante saber em que
tribunal foi proposta a ação. Estes podem ser:
- Litígios transfronteiriços puros: há conexão, nem que seja com um único
ordenamento jurídico, que está fora da União Europeia
- Litígios intracomunitários: tem conexão apenas com ordenamentos jurídicos
de Estados de União europeia, o que obriga á aplicação de uma legislação especifica. O
artigo 59º CPC ressalva que existe um regulamento europeu quanto a esta matéria, por
isso, quando se trata de litígios intracomunitários não se aplicam as regras do CPC.
A competência internacional resulta da aplicação dos princípios da coincidência,
causalidade, necessidade e consensualidade, sendo que os 3 primeiros estão previstos no
artigo 62º CPC:
a.) Princípio da coincidência - competência interna em razão do território. Quando
por aplicação exclusiva das regras internas de competência em razão do
território resultar a competência de um tribunal português, então todos os
tribunais portugueses são competências como um todo.
b.) Princípio da causalidade: se o facto que serve de fundamento á propositura da
ação tiver ocorrido em território português ou, tratando-se de uma causa de pedir
complexa que envolve vários factos, se tiver sido praticado em território
português o facto que serve de causa de pedir na ação, então os tribunais
portugueses serão internacionalmente competentes.
c.) Princípio da necessidade: quando o direito que se quer ver tutelado se pode
tornar efetivo apenas se ação vier a ser proposta num tribunal português ou se

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verifique para o autor uma dificuldade apreciável na propositura da ação no
estrangeiro. Só se aplica se existir um elemento entre o objeto apreciável da
propositura da ação e a ordem juridica portuguesa, sendo que essa condição
ponderosa pode ser pessoal ou real, isto é, pode dizer respeito a pessoa ou a
coisa,
Princípio da consensualidade (artigo94º CPC): as partes podem convencionar qual a
jurisdição competente para dirimir qualquer litígio emergente de uma relação juridica
que tem – Pacto privativo e atributivo de jurisdição. No entanto, este pacto privativo de
jurisdição, que se impõe os tribunais portugueses, que o reconhecem para se tornarem
internacionalmente competentes ou para determinar a sua incompetência internacional.
Os pactos privativos de jurisdição têm requisitos que são aqueles que estão previstos
nos nº2 e 3 do artigo 94º CPC:
- Têm de estar em causa direitos disponíveis
- O Estado cujos tribunais foram escolhidos tem de aceitar essa escolha.
- A escolha tem de ser justificada por um interesse sério de ambas as partes, isto é,
não pode ser feita uma escolha que não tenha uma relação de conveniência com as
partes e com o litígio que está em causa. (ex.: uma empresa portuguesa tem negócios
com uma empresa chinesa de onde resulta um litígio. A empresa portuguesa pode alegar
que a jurisdição chinesa é um entrave porque não se consegue mexer bem no
ordenamento jurídico chinês)
- Há um conjunto de matérias que a lei portuguesa diz que só pode ser dirimida por
tribunais portugueses – artigo 63º CPC
- Tem de ser escrito, ou seja, tem de resultar de acordo escrito entre as partes ou
confirmado por escrito, desde que nele se mencione a legislação competente.
Quando as partes celebram validamente um pacto atributivo de jurisdição ele é
reconhecido pelo ordenamento jurídico português, isto significa que ele vale tanto pela
positiva como pela negativa. Se a ação for proposta num tribunal português este aceitará
a sua competência por força do artigo 94º CPC. Se vier a ser interposta num tribunal
português uma ação o tribunal português exerce a sua competência negativa rejeitando
conhecer do litígio por não ser da sua competência atribuída pelo artigo 94º CPC.

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24/02/2022
Sabemos que no âmbito dos litígios intracomunitários não aplicamos as regras
do CPC – artigo 59º CPC. existe um elenco deles, mas vamos centrar-nos no estudo do
Regulamento 1215/2012, de 12 de dezembro, cujo artigo 4º regula a competência
internacional dos litígios intracomunitários.
Sempre que tivermos um litígio intracomunitário a competência para dirimir
esse litígio pertencerá ao Estado-membro de residência ou domicílio do demandado, o
que quer dizer que os tribunais dos outros Estados-membros não tem competência
internacional. Esta é uma norma geral, como tal, existem regimes especiais que se
aplicam como derrogação desta norma:
- Artigo 7º, nº1, a) do Regulamento 1215/2012
- Artigo 7º, nº2 do Regulamento 1215/2012
- Artigo 7º, nº3 do Regulamento 1215/2012
- Artigo 18º + artigo 17º do Regulamento 1215/2012
- Artigo 24º do Regulamento 1215/2012
Competência interna - LOSJ
O território nacional está dividido em circunscrições judiciais, que não
correspondem às circunscrições administrativas. Está assim divido em: circunscrições
de tribunal da relação e comarcas. Esta organização territorial está nos anexos 1 e 2 da
LOSJ.
Cada comarca corresponde a um dos antigos distritos administrativos, no
entanto, há algumas exceções, como é o caso do Porto em que há duas comarcas:
Porto e Porto Este. Em lisboa existem 3 comarcas: Lisboa, Lisboa Norte e Lisboa Oeste.
Nas regiões autónomas não há distritos administrativos, por isso, cada região
autónoma corresponde a uma comarca.
A organização de tribunais compreende uma estrutura verticalizada em que no
topo temos o STJ (artigo 209º, nº1, a) CRP e artigo 45º LOSJ), a nível intermédio temos
os tribunais da relação (artigo 67º, nº1 LOSJ), seguem-se os tribunais judiciais de
primeira instância (artigo 209º, nº1, a) CRP + artigo 79º LOSJ).
A reforma de 2014, além de ter reorganizado as comarcas, veio estabelecer que
os tribunais judiciais de primeira instância seriam os tribunais da comarca (artigo 79º
LOSJ).
O legislador criou ainda os tribunais judiciais de primeira instância de
competência territorial alargada (artigo 83º LOSJ). Além dos tribunais de comarca
existem 3 outros tribunais de competência territorial alargada que exercem em
matéria cível: tribunal da propriedade intelectual, tribunal a concorrência, regulação e
supervisão e o tribunal marítimo.

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Os tribunais de comarca têm ainda uma organização interna: os tribunais de
comarca estão desdobrados em juízos de competência genérica ou de competência
especializada (artigo 81º LOSJ).
A competência funcional tem a ver com a composição dos tribunais (quantos
membros compõe o tribunal em cada concreto julgamento). No processo penal é
muito importante a formação coletiva, o mesmo não acontece no processo civil – essas
distinção também existia no processo cível (existiam tribunais coletivos e tribunais
singulares) – artigo 599º CPC (Regra de abolição da colegialidade) – não tribunais
coletivos no processo cível, mas existem certos sub-ramos em que podem existir
tribunais coletivos, por exemplo, em litígios que tem a ver com menores.
A colegialidade existe, no entanto em relação a juízes conselheiros e juízes
desembargadores - Artigo 56º, nº1 LOSJ e artigo 74º, nº1 LOSJ (relação e STJ).
Regras da competência:
Competência em razão da matéria – art.64º CPC:
Corresponde á operação que visa determinar em função da matéria de cada
concreto litígio o tribunal/juízo que seja materialmente competente para conhecer
daquele litígio.
Para aplicar este critério temos de ter por parâmetro o critério do pedido: é em
função do pedido que o autor faz no processo e em função da causa de pedir que
vamos determinar o tribunal competente em razão da matéria. Os problemas de
mérito da ação não interferem nos problemas da competência em razão da matéria.
Sabemos que é possível cumular pedidos e, nestes casos, pode acontecer que
esses pedidos pretensão á competência de diferentes tribunais. Quando assim sucede
temos de aplicar duas regras que estão no CPC: artigo 555º, nº1 CPC;
Os artigos 111º, nº1 LOSJ, o artigo 112º, nº 3 e 4 LOSJ e o artigo 113º LOSJ
referem-se as tribunais de competência territorial alargada, nomeadamente, o
Tribunal da propriedade intelectual, o Tribunal da concorrência, regulação e
supervisão e, o Tribunal marítimo, respetivamente.
Nota: Artigo 111º, nº1, b) CPC: propriedade industrial não se relaciona com
propriedade de edifícios para fins industriais. Propriedade industrial relaciona-se com
patentes, modelos de utilidade, marcas registadas, etc. A concorrência desleal também
é uma figura do direito de propriedade industrial que está regulado no artigo 311º do
CPI (código da propriedade industrial). O direito da concorrência e a concorrência
desleal são coisas diferentes.
Competência material dos diferentes juízos em que se podem desdobrar os
tribunais de comarca - artigo 122º, 126º, nº1 e 129º LOSJ, nomeadamente, os juízos de
família e menores, os juízos do trabalho e os juízos de execução, respetivamente.

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Nota: Os direitos sociais de uma sociedade são os direitos dos sócios de uma
sociedade, ou seja, são direitos que alguém detém como sócio de uma sociedade. A
alínea c) e d) do artigo 128º LOSJ deve ser interpretada restritivamente, ou seja,
deverá apenas ser aplicada para sociedades comerciais.
Nota: O estado civil a que se refere no artigo 122 LOSJ tem a ver por exemplo
com ações de paternidade, não é o estado civil do tipo casado, solteiro, etc.
Todos os litígios cíveis que não caibam na competência dos tribunais de
competência alargada recaem na competência dos juízos centrais cíveis ou dos juízos
locais cíveis.
A única coisa que distingue os juízos centrais cíveis e os juízos locais cíveis em
relação á competência em razão da matéria é o critério do valor da causa – artigo 117º
LOSJ.
Competência em razão da hierarquia
Os tribunais não devem obediência uns aos outros em razão do princípio da
independência dos tribunais.
A competência em razão da hierarquia vem dizer-nos em que tribunal a ação
deve ser proposta. A regra geral é a de que os tribunais de primeira instancia são
competentes em razão da hierárquica para reconhecer de todas as decisões em
primeiro grau, mas há exceções em que certas ações são propostas em primeiro grau
de decisão em tribunais de segunda instancia, como é o caso de uma revisão de
sentença estrangeira ou de revisão de uma sentença arbitral. Existem casos em que
uma ação civil se poe em primeiro grau de decisão no STJ que é o caso de ações de
indemnização contra juízes conselheiros e contra juízes desembargadores.
Os tribunais de segunda instância e os supremos tem competência para
conhecer de recursos. Podem, ainda, existir casos em que uma sentença de primeira
instância recorre logo para o STJ – revista per salto.
Competência em razão do território – art.70º CPC
O artigo 70º, nº1 CPC prevê a regra dos foros reais, que se relaciona com
direitos reais. O tribunal da situação dos bens é o tribunal onde de onde se localizam
os bens.
A regra do foro obrigacional encontra-se no artigo 71º, nº1 CPC: o credor pode
interpor a ação no tribunal do domicilio do réu ou optar pelo lugar correspondente ao
cumprimento da obrigação desde que o réu seja uma pessoa coletiva ou, caso do
domicilio se situar na mesma área metropolitana de Lisboa ou Porto, o réu tenha
residência na mesma área.
Regra do foro delitual (artigo 71º, nº2 CPC) é para as ações de responsabilidade
civil extracontratual, em que o que interessa é o que se vai pedir, a regra é a do lugar
onde o facto ocorreu.

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O artigo 72º CPC prevê a regra do foro do autor que é exclusiva para as ações
de separação de pessoas e bens e que nos vem dizer que a ação deve ser interposta no
lugar do domicílio do autor.
O artigo 72º-A traz-nos a regra em matéria sucessória.
A regra geral é a do artigo 80º CPC, que nos diz que o tribunal competente é
aquele do domicílio do réu, mas quando não se conhece o domicílio do réu, a regra é a
do tribunal correspondente ao domicílio do autor. Pode, ainda, acontecer que o reu
tenha domicílio no estrangeiro, admitindo que os tribunais são territorialmente
competentes, então nada impede de colocar a ação nos tribunais portugueses.
Artigo 81º CPC é relativo a pessoas coletivas.
É possível as partes desviarem as regras da competência territorial dispostas no
CPC de acordo com o artigo 95º CPC – convenções de competência. As partes podem
acordar desde que esteja em causa afastar regras de competência territorial não
abrangidas pelo artigo 104º CPC. O acordo deve respeitar a forma do contrato, mas em
toda a e qualquer situação deve ser escrito; deve designar as questões abrangidas pelo
acordo e deve indicar o critério de determinação do tribunal.
As regras da competência territorial têm alguns desvios no caso da cumulação
de pedidos. Quando se cumulem pedidos a que correspondam foros de competência
territorial distintos – artigo 82º, nº1 CPC, mas há exceções, como é o caso do artigo
104º, o próprio artigo 82º, nº3 CPC também apresenta uma exceção.
Vamos ver a extensão da competência na próxima aula.

Como é que coordenamos todas estas regras de competência para encontrar


o tribunal e juízo competente para julgar uma causa?
1º - Competência internacional, mas se estivermos perante um caso que não
tem qualquer ligação com outra ordem jurídica, podemos apenas dizer que o caso não
oferece nenhum ponto de contacto com a ordem jurídica estrangeira, pelo que não se
justifica apreciar a competência internacional.
2º - Aplicação das regras de competência em razão da hierarquia. Esta é uma
das situações raríssimas em que a ação se interpõe em primeiro grau de decisão no STJ
ou no tribunal da relação ou aplica-se a regra geral? Se for um dos casos em que se
coloca a ação em primeiro grau da decisão na relação só nos resta perceber qual das
relações.
3º - No caso de a ação ter de ser interposta num tribunal de primeira instância,
então temos de aplicar as regras de competência em razão do território, temos de
identificar o município que seja o fator de conexão territorial.
4º - Averiguar, em relação a esse município, quais os tribunais e quais os juízos
que na sua área territorial abrangem esse município. Isto faz com que tenhamos que

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consultar o mapa 3 do DL nº 49/2014, onde temos de ver quais os juízos que abrange
esse município e quais os tribunais de competência territorial alargada que abrangem
esse município.
5º - Aplicação das regras de competência em razão da matéria. Se chegarmos à
conclusão de que não está no âmbito de nenhum tribunal de competência alargada,
nem nenhum juízo de competência especializada, então caberá á competência dos
juízos centrais ou locais, mediante o valor da ação.
Caso prático:
A, residente em Matosinhos, na qualidade de acionista da sociedade MBX, S.A.,
sedeada no Porto, pretende impugnar a deliberação de distribuição de dividendos
adotada pela assembleia geral desta sociedade, peticionando a respetiva anulação.
Qual o tribunal e juízo competente para conhecer desta ação?
Resposta:
Na situação em análise não se justifica a analise da competência internacional,
uma vez que não existe contacto com nenhuma ordem jurídica estrangeira.
Em razão da hierarquia, uma vez que a matéria em causa não é da competência
do STJ nem dos tribunais da relação (artigos 52º, 53º, 54º, 55º e artigo 72º e 73º LOSJ),
então, de acordo com o artigo 80º, nº1 LOSJ é da competência dos tribunais judiciais
de primeira instância.
O fator de conexão territorial aplicável a esta ação é aplicável a regra do foro
geral do artigo 80º, nº1 + 81º, nº2 CPC. (NOTA: a administração principal não é a
mesma coisa do que a cede da empresa – aquilo que interessa é o lugar da
administração). O fator de conexão territorial é o município do Porto.
No âmbito da competência territorial temos como tribunais competentes:
- Tribunal da propriedade intelectual
- Tribunal marítimo
- Tribunal da concorrência, regulação e supervisão
- Tribunal judicial da comarca do Porto
- Juízo central cível do porto
- Juízo local cível do Porto
- Juízo do trabalho do Porto
- Juízo de família e menires do Porto
- Juízo de comercio de Vila Nova de Gaia

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Aplicando as regras da competência em razão da matéria, concluímos que por
aplicação do artigo 128º, nº1 d) LOSJ a competência de juízos de comercio de Vila
Nova de Gaia do Tribunal Judicial da Comarca do Porto.

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25/02/2022
Caso prático:
(por agora, só o primeiro paragrafo do caso e criar um segundo caso apenas
com o terceiro paragrafo, trocando “reconvenção” por “ação”)
1. A Sociedade “Bentex, transporte marítimo de mercadorias, Lda.”, com sede
e administração principal em Aveiro propôs uma ação contra António , divorciado e
com um filho, residente no município de Vila Nova de Gaia, peticionando a
condenação deste a pagar-lhe a quantia de 3500€, alegando que António, artista de
street art, incumpria a obrigação de pintar um grafito artístico no armazém que aquela
sociedade possui no Porto de Leixões, no município de Matosinhos, a que António se
tinha obrigado mediante contrato celebrado verbalmente entre ambos em maio de
2021 na cidade de lisboa.
Diga qual o tribunal e o juízo competente para tecer destas ações.
2. Y veio deduzir ação contra Z pedindo a condenação deste no pagamento de
uma indemnização, no montante de 2500€, que alegou resultar da circunstância de,
quando se encontrava a pilotar o seu barco de recreio no canal de acesso ao Porto de
Leixões, um cabo do navio Imperial, propriedade de Z, se ter soltado da amarra por
negligencia no cumprimento dos procedimentos de segurança e ter sido projetado na
direção da embarcação propriedade de Y, acertando nesta e causando amolgadelas
que determinaram a necessidade de realização de trabalhos de reparação no
montante de 2500€.
Diga qual o tribunal e o juízo competente para tecer destas ações.
Resolução:
1. Uma vez que não temos qualquer referência a ordens jurídicas estrangeiras
não se justifica a analise da competência internacional, pelo que, os tribunais
portugueses são competentes para reconhecer desta ação.
Em razão da hierarquia, uma vez que a matéria em causa não é da competência
do STJ nem dos tribunais da relação (artigos 52º, 53º, 54º, 55º e artigo 72º e 73º LOSJ),
então, de acordo com o artigo 80º, nº1 LOSJ é da competência dos tribunais judiciais
de primeira instância.
Relativamente às regras da competência territorial deverá aplicar-se a regra do
foro obrigacional, a que se refere o artigo 71º, nº1 CPC, ou seja, a regra é a do
domicilio do réu e se credor e réu tiverem domicilio na área metropolitana de Lisboa
ou Porto poderá ser no tribunal de uma destas áreas metropolitanas. Não se aplica a
segunda parte do artigo 70º, nº1 CPC porque o réu não é uma pessoa coletiva e autor
e réu não se situam na mesma área metropolitana (a Bentex situa-se em Aveiro).
Assim, o fator territorial situa-se em Vila Nova de Gaia.

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Os tribunais que tem competência territorial da área de Vila nova de Famalicão
são:
- Tribunal da propriedade intelectual
- Tribunal da regulação e supervisão
- Tribunal marítimo
- Tribunal Judicial da Comarca do Porto
- Juízo de comercio de gaia
- Juízo de trabalho de gaia
- Juízo de família e menores de gaia
- Juízo local cível
- Juízo central cível
A competência pertence ao juízo local cível em conformidade com o artigo 117º
LOSJ assim, o tribunal competente é o juízo local cível de vila nova de gaia do
tribunal judicial da comarca do porto.

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03/03/2022
Resolução do caso-prático da aula passada:
2. Y veio deduzir ação contra Z pedindo a condenação deste no pagamento de
uma indemnização, no montante de 2500€, que alegou resultar da circunstância de,
quando se encontrava a pilotar o seu barco de recreio no canal de acesso ao Porto de
Leixões, um cabo do navio Imperial, propriedade de Z, se ter soltado da amarra por
negligencia no cumprimento dos procedimentos de segurança e ter sido projetado na
direção da embarcação propriedade de Y, acertando nesta e causando amolgadelas
que determinaram a necessidade de realização de trabalhos de reparação no
montante de 2500€.
Diga qual o tribunal e o juízo competente para tecer destas ações.
Resolução:
Competência internacional: não há nenhum indício de conexão com
ordenamentos jurídicos estrangeiros que justifique aprofundar esta questão
Competência em razão da hierarquia: em regra as ações cíveis interpõem-se em
primeiro grau de decisão nos tribunais de primeira instância.
Competência em razão do território: está em causa uma indemnização por
danos provocados, ou seja, por isso está em causa uma indemnização por danos
emergentes de um facto ilícito, por isso aplica-se a regra do foro delitual, ou seja, o
local onde ocorreu o facto ilícito.
Por aplicação do artigo 113º, nº1 a) LOSJ concluímos que esta ação cabe a um
tribunal de competência alargada: o tribunal marítimo.
Assim, o tribunal marítimo é o tribunal competente para conhecer desta ação.

Extensão das regras de competência:


O tribunal pode, em certas situações, ser competente para conhecer de mais
matérias do que aquelas a que está atribuída a sua competência. Para isso
encontramos várias regras no CPC:
- Artigo 91º CPC: o tribunal competente para a ação também é competente
para conhecer dos incidentes que dela se levantarem e das questões que o reu suscite
como meio de defesa. Isto é, durante o processo podem resultar várias questões
incidentas (ex.: questões relativas á validade de um contrato, veracidade de um
documento, etc.), invocadas estas questões autonomamente, muitas vezes, essas
questões não seriam da competência daquele tribunal. Porém, o nº2 vem estabelecer
um limite que é o facto de a decisão das questões incidentais apenas produzirem
efeitos no âmbito daquela ação.

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Se o tribunal já seria aquele competente em função das regras da competência
internacional, matéria e hierárquica, ainda que não fosse competente em relação ás
regras da competência territorial e da competência em razão do valor, as partes
podem pedir que aquela questão seja decidida com força extra-processual.
Não resulta desta norma, mas podemos incluir nas questões incidentais os
incidentes de inconstitucionalidade normativa (quando é necessário conhecer da
constitucionalidade de uma norma – artigo 204º CRP). Sempre que tiverem de aplicar
uma norma os tribunais são competentes para conhecerem da constitucionalidade de
uma norma no caso concreto.
- Artigo 92º CPC – por exemplo, temos um processo cível em que é importante
saber se uma determinada licença administrativa é válida ou não e está pendente no
tribunal administrativo uma ação em que se discute essa mesma validade. O artigo 92º
CPC vem dizer-nos que o tribunal cível deve aguardar a decisão do tribunal
administrativo – REGRA GERAL.
Estas são questões prejudiciais que tem de estar decidias primeiro para que
depois possam ser decidias no processo cível. Mas o nº2 (é uma regra de extensão da
competência) em dizer-nos que a suspensão fica sem efeito se a ação penal ou
administrativa não for deduzida em 1 mês ou se o respetivo processo estiver parado,
por negligencia das partes, por mais de um mês, então o juiz da causa adquire a
competência para decidir a questão prejudicial. Só que a decisão que o tribunal cível
vai produzir só produz efeitos dentro do processo cível, não vinculando a decisão dos
outros tribunais.
- Artigo 93º CPC – é uma regra de extensão de competência nos casos de
pedido reconvencional (quando o réu na mesma ação enxerta um pedido dirigido
contra o autor). Seria uma coincidência muito grande que a reconvenção caísse no
mesmo tribunal em juízo, por isso, se condicionássemos os pedidos reconvencionais á
competência do tribunal onde são deduzidos então evitaríamos fortemente a
capacidade de o reu deduzir pedidos reconvencionais: o tribunal de ação é
competente para as questões deduzidas por via da ação – se é competente para o
pedido principal também é competente para a reconvenção. No entanto esta regra
apenas permite que sejam derrogadas as regras de competência em razão do
território. Se o tribunal não tiver competência internacional, em razão da matéria ou
em razão da hierarquia então o autor reconvindo é absolvido da instância
reconvencional, pois o tribunal não tem competência para reconhecer daquele pedido
reconvencional.
Ex.: numa ação de um juízo local cível do porto é deduzido um pedido
reconvencional que seria da competência do tribunal marítimo, então o tribunal local
cível do porto já não terá competência para aferir da reconvenção.
Ex.: o reu em reconvenção vem pedir que seja reconhecida, revista e
confirmada uma sentença de um tribunal brasileiro, então estamos perante um

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problema de desrespeito á competência em razão da hierarquia, pelo que haveria
absolvição da instância reconvencional.
O nº2 vem tratar do problema que se pode suscitar relativamente á
competência em razão do valor da causa – este critério apenas permite distinguir se a
ação deve ser colocada em juízo centra ou juízo local. O pedido reconvencional soma-
se ao valor da causa, por isso, se o tribunal deixar de ser competente em razão da
alteração do valor da causa, então o juiz remete o processo para o tribunal
competente, mas o inverso (quando o valor da causa não diminui) não acontece.
O tribunal fixa o valor da causa no despacho saneador – artigo 309º CPC. Pode
acontecer que a parte indicou um valor á causa, por isso, no artigo 310º CPC quando o
valor da causa é alterado e excede o valor da competência do tribunal então o
processo deve ser remetido para o tribunal competente.
No nº3 do artigo 310º há uma norma de extensão da competência pata o
tribuna que não seria competente para reconhecer da ação em razão das regras de
competência em razão do valor passa a ser competente, isto é, se o valor da causa
atribuído por iniciativa do juiz for menos que o valor que as partes estabeleceram,
então o tribunal passa a ser competente.
- Artigo 82º, nº2 e 3 CPC – se o autor cumular pedidos que são da competência
de diversos tribunais, então pode escolher propor a ação em qualquer um deles, desde
que esteja em causa apenas regras de competência territorial.
Quando o segundo pedido esta dependente da procedência do primeiro ou se
houverem pedidos que apenas são apreciados se o pedido principal for julgado
procedente, então isto já não poderá acontecer.
Na cumulação de pedidos apenas está em causa a derrogação das regras de
competência territorial.

Regras da incompetência:
A competência só é apreciada num momento posterior á propositura da ação e
é o autor quem tem de fazer a primeira aferição da aplicação das regras da
competência aquele litigio e, muitas vezes acontece que o autor erra e por isso é
necessário aferir da competência. Uma vez proposta a ação em qualquer tribunal ela
vai começar a ser tramitada naquele tribunal – a ação está naquele tribunal, mas esse
não é o tribunal competente, por isso é necessário extrair consequências dessa
incompetência.
A lei estabelece 2 regimes jurídicos para os efeitos da violação das regras da
competência:
- Incompetência absoluta – regime mais rigoroso – quando está em causa
regras da competência que o legislador entende que merece uma tutela maior.

16
Quando haja incompetência resultante de ter sido infringida as regras da
competência em razão da matéria e da hierarquia, bem como das regras da
competência internacional, bem como quando há preterição de tribunal arbitral (artigo
96º CPC) isso gera incompetência absoluta.
Há preterição de tribunal arbitral, por exemplo, quando as partes celebram
convenção de arbitragem, se uma das partes se dirige ao tribunal estadual está a
preterir a arbitragem voluntária. Também existem casos em que há obrigação de
dirimir um litígio através de um tribunal arbitral.
Artigo 97º - a incompetência absoluta pode ser invocada por qualquer uma das
partes, pois o bem jurídico da incompetência é de tal modo importante para o
legislador, o que faz com que ele admita que o próprio autor possa arguir a
incompetência. É de conhecimento oficioso do tribunal, mas há situações em que só as
partes podem arguir a incompetência absoluta que são as situações dos pactos
privativos de jurisdição ou de preterição de tribunal arbitral voluntário.
Pode ser arguida incompetência absoluta enquanto não houver transito em
julgado da decisão que conhece o fundo do litígio. No entanto, o nº2 do artigo 97ºCPC
constitui uma exceção a esta regra: se o fundamento da incompetência absoluta for
violação da incompetência em razão da matéria que diga respeito aos tribunais só
pode ser arguida pelas partes e o tribunal só pode dela conhecer até ser proferido
despacho saneador ou, se este não existir, até ao início da audiência final, posto isto
fica sanado. Se estivermos a falar de tribunais de jurisdição diferente então o nº2 já
não pode ser aplicado.
O efeito da incompetência absoluta pode ser encontrado no artigo 99º CPC – a
consequência normal é a absolvição do reu da instância sem que se dirima o litígio. A
absolvição da instância não impede o autor de voltar a propor uma nova ação com o
mesmo pedido e a mesma causa de pedir no tribunal competente. No entanto, no nº2
do artigo 99º CPC o legislador mitigou um pouco este efeito que é o facto de os atos
processuais poderem ser aproveitados – isto não é automático, depende de apreciação
casuística.
A decisão sobre a incompetência absoluta só vale no processo em que for
proferido (artigo 100º CPC) – a decisão que o tribunal profere sobre a sua
incompetência absoluta não vincula nenhum outro tribunal. No entanto o artigo 101º,
nº 1 e 2 CPC apresenta-nos exceções ao artigo 100º CPC, que são o facto de as
decisões do STJ serem vinculativas. A decisão do tribunal dos conflitos também é
vinculativa consoante o nº3 CPC.
- Incompetência relativa – regime mais flexível – quando o legislador entende
que estão em causa situações que não merecem uma tutela tão intensa por parte do
ordenamento jurisdicional.
De acordo com o artigo 102º CPC a incompetência relativa verifica-se de acordo
com a infração das regras do valor da causa e da competência em razão do território.

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Na incompetência relativa só pode ser arguida pelo Reu, mas só o pode fazer
no prazo fixado para a contestação, oposição ou resposta, de acordo com o artigo 103º
CPC.
Se o reu invocar a incompetência relativa na contestação o autor pode
responder a esta questão no articulado seguinte se houver lugar a ele (chamamos a
isto exceção do reu), não houver lugar a replica o autor pode responder em articulado
de contestação no prazo de 10 dias.
A regra geral é de que a incompetência relativa depende da arguição pelo reu,
mas há certas situações em que a incompetência relativa é de conhecimento oficioso,
desde logo a incompetência em razão do valor da causa, a incompetência em razão do
território quanto estiver em causa as regras do foro real, quando seja violada a ideia da
ação que tem de ser proposta no lugar do domicilio do reu, ação de responsabilidade
civil extracontratual – artigo 104º CPC (remete para o artigo 70º, para a primeira parte
do nº1 e o nº2 do artigo 71º CPC).
Todas as outras regras de competência territorial não são de conhecimento
oficioso. A arguição pelas partes e o conhecimento oficioso tem de acontecer até ao
despacho saneador. Se o juiz não conhecer da incompetência relativa até ao despacho
saneador fica sanado - artigo 104º CPC.
Na incompetência relativa o tribunal decide forma dupla, ou seja, decide a sua
própria competência e decide o juiz que será competente para dirimir do litígio e, esta
decisão, uma vez transitada em julgado, resolve definitivamente a questão da
competência mesmo que não tenha transitado em julgado. A decisão é vinculativa
porque o processo não morreu, continuou, isto é, há remessa do processo para o
tribunal competente – artigo 105º nº3 CPC.
A decisão que aprecia a incompetência relativa não admite recurso, mas admite
uma reclamação com efeito suspensivo para o presidente da relação que decide
definitivamente a questão- nº 4 do artigo 105º CPC.
Conflitos de jurisdição e de competência:
Conflitos de competência – estamos no domínio da mesma jurisdição
Conflitos de jurisdição – estamos no domínio de diferentes jurisdições
Conflitos positivos – dois ou mais tribunais dizem que são competentes para
julgar um mesmo litígio
Conflitos negativos – dois ou mais tribunais dizem ser incompetentes para
julgar do mesmo litígio.
Os conflitos de jurisdição são resolvidos por um tribunal ad hoc – nº1 do artigo
110º CPC. os conflitos de competência são resolvidos pelo presidente do tribunal de
menor categoria que exerça jurisdição sobre as autoridades em conflito.

Caso julgado e litispendência:

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O caso julgado e a litispendência são dois pressupostos processuais que são
distintos, mas andam sempre ligados. São pressupostos relativos ao objeto da
instância. Na sua base quer o caso julgado, quer a litispendência, tem de evitar que a
mesma causa de possa repetir em dois tribunais: são pressupostos processuais típicos,
nominados, de conhecimentos oficioso e negativos, ou seja, verificam-se pela negativa,
isto é, verificam-se se não houver caso julgado e se não houver litispendência.
Há litispendência ou caso julgado quando uma causa é repetida – artigo 580º
CPC. Se a causa se repete estando a anterior já em curso há lugar a litispendência. Se a
causa se repete quando a outra já não está em curso há lugar a caso julgado, isto é,
temos casos julgado quando há uma repetição de causas, mas a causa repetida já foi
julgada por uma causa que já não admite caso julgado.
Tanto a exceção de litispendência como a de caso julgado têm por base evitar
que dois tribunais se pronunciem acerca da mesma situação, evitando um dispêndio
de recurso evitando a economia processual, bem como evitar que os dois tribunais se
contradigam.
Só há caso julgado e litispendência se houver repetição de uma causa, ou seja,
quando duas ações tem os mesmos sujeitos, o mesmo pedido e a mesma causa de
pedir, ou seja, identidade de sujeitos e identidade de objetos – artigo 581º CPC.
Do ponto de vista da qualidade jurídica os autores nas duas ações são os
mesmos: A reivindica a B que é dono do prédio e, noutra causa os filhos de A
reivindicam a B que são donos do prédio. – Artigo 581º, nº2 CPC
O pedido não tem de ser exatamente o mesmo, desde que tenham em vista os
mesmos efeitos jurídicos: A interpõe uma ação contra B pedindo a propriedade de um
imóvel e, noutra ação pede que se condene B a entregar o imóvel – os pedidos são
diferentes mas ambos tem por vista o mesmo efeito jurídico que é o reconhecimento
de propriedade. – Artigo 581º, nº3 CPC
Há identidade da causa de pedir quando os factos jurídicos invocados como
fundamento dos pedidos são os mesmos. - Artigo 581º, nº4 CPC. Ex.: Se num caso
invocar que sou proprietário porque comprei há 10 anos um imóvel a Z e, noutra ação
peço que seja reconhecido que sou eu o proprietário do imóvel, mas como causa de
pedir invoco usucapião. Nas ações de anulação considera-se que a causa de pedir é a
mesma quando tenho duas ações e invoco como causa da anulação a mesma causa de
pedir. Ex.: se interpuser uma ação de anulação por ter celebrado o contrato quando
era menor de idade e, se interpuser outra ação invocando que fui induzido em erro
aquando da celebração do contrato, então a causa de pedir é distinta.
Estes requisitos são cumulativos.
Na apreciação da litispendência e do caso julgado não se te em consideração
causas que estejam pendentes em jurisdições estrangeiras, a não ser que esteja
expressamente previsto num instrumento internacional. Ex.: se na Índia tenho uma

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ação a decorrer sobre a validade de um contrato e em Portugal coloco uma ação sobre
a mesma coisa, então não há litispendência.
Se a litispendência e o caso julgado pressupõem a repetição de uma causa,
naturalmente que só se vai verificar em relação à ação proposta em segundo lugar, ou
seja, a ação para a qual o reu foi citado posteriormente – artigo 582º CPC. se ambas as
ações forem citadas no mesmo dia usa-se a ordem de entrada como critério – nº3 do
artigo 582º CPC.
Segundo o artigo 578º CPC, a incompetência relativa, as exceções dilatórias
(aquela que nos interessa é a referida no artigo 577º, i) CPC, ou seja, a litispendência
ou o caso julgado) têm de ser oficialmente reconhecidas pelo Tribunal. O mesmo não
acontece relativamente a incompetência absoluta decorrente de pacto privativo de
jurisdição ou da preterição do tribunal arbitral voluntário e da incompetência relativa a
casos não abrangidos pelo artigo 104º CPC.
Artigo 576º - verificada a existência de litispendência ou de caso julgado o
tribunal poe fim ao processo.

Caso prático:
A sociedade “Farmácia Antunes Lda.”, com sede e administração principal no
Porto, e Carlos, residente em Penafiel e comerciante estabelecido no Mercado
Municipal de Vila Nova de Gaia, celebraram verbalmente, em Vila do Conde, um
contrato mediante o qual aquela Farmácia se comprometeu a fornecer a este 7.500
máscaras cirúrgicas pelo preço de 7.500€ (IVA incluído), ficando ajustado que as
máscaras seriam entregues 05/02/2021 na bancada de Carlos no Mercado Municipal e
o preço colocado a pagamento em 10/02/2021 mediante cheque entregue ao balcão
da Farmácia.
Apesar de efetuada a entrega das mercadorias, Carlos não colocou o preço a
pagamento na data prevista nem em qualquer outro momento. Inconformada, a
farmácia Antunes Lda. constituiu Diogo como seu advogado, o qual propôs em nome
da sua constituinte uma ação judicial com vista á condenação de Carlos a pagar-lhe a
quantia em dívida.
Proposta a referida ação, a secretaria do tribunal procedeu á citação de Carlos
mediante carta expedida por via postal registada com aviso de receção no dia
14/04/2021 e dirigida á residência de Carlos, tendo sido aí recebida em 19/04/2021
pelo seu filho Eduardo, que assinou o aviso de receção e declarou estar em condições
de entregar o expediente a seu pai.
Carlos constituiu Francisco como seu advogado, o qual apresentou contestação
dentro do prazo legal. Na sua contestação, Francisco alegou que Carlos pagará o preço
por transferência bancária da sua conta para a conta da Farmácia Antunes Lda.
Por despacho de 26/05/2021 o juiz do processo ordenou a Carlos que juntasse
o documento comprovativo da realização da transferência. Este despacho foi

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notificado a Francisco mediante aviso expedido por intermédio da plataforma Citius
em 28/05/2021 e recebido por Francisco nessa mesma data.
Entretanto, em 31/05/2021, Diogo morreu de enfarte do miocárdio, desse facto
sendo informado o processo logo no dia 01/06/2021. Depois de reunir com vários
advogados, a Farmácia Antunes Lda. constituiu Henrique como seu novo mandatário,
mediante procuração forense outorgada a 07/06/2021, e remetida por Henrique ao
tribunal através da plataforma Citius, com conhecimento a Francisco, no dia
09/06/2021.
Responda fundamentadamente e com a invocação de todas as normas
aplicáveis.
a.) Indique a espécie e tipo de ação a propor pela Farmácia Antunes Lda. e qual
a forma processual que a mesma deve observar.
b.) Indique com precisão qual o tribunal e/ou juízo competente para conhecer
da referida ação.
Resolução da b):
Competência internacional: uma vez que não se verídica conexão com nenhum
ordenamento jurídico estrangeiro não há necessidade de aprofundar este ponto, pelo
que o tribunal português é competente para reconhecer do litígio.
Competência em razão da hierarquia: de acordo com o artigo 67º CPC este
litígio é da competência dos tribunais de primeira instância.
Competência em razão do território: nesta situação opera a regra do foro
obrigacional do artigo 71º CPC, pelo que, é competente o tribunal do domicílio do reu.
Competência em razão da matéria: relativamente as regras da competência em
razão da matéria, os tribunais judiciais são os tribunais competentes
Competência em razão do valor: e acordo com o artigo 117º LOSJ, é
competente o juízo local ao invés do juízo central.
Assim, é competente para aferir do litígio o juízo local cível do tribunal de
Penafiel da comarca de Porto Este.

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04/03/2021
Caso prático:
Empresa residente em Vila nova de gaia e Carlos, residente em vila do conde e
comerciante estabelecido no Mercado Municipal da Povoa do Varzim, celebraram
verbalmente, na Povoa do Varzim, um contrato mediante o qual aquela Farmácia se
comprometeu a fornecer a este 7.500 máscaras cirúrgicas pelo preço de 7.500€ (IVA
incluído), ficando ajustado que as máscaras seriam entregues 05/02/2021 na bancada
de Carlos no Mercado Municipal e o preço colocado a pagamento em 10/02/2021
mediante cheque entregue ao balcão da Farmácia
A farmácia propôs ação com vista á cobrança desse montante no juízo local
cível de Vila Nova de Gaia.
1.) Pronuncie-se quanto á competência do tribunal. Em caso de incompetência, que
meios tem ao seu alcance Carlos para invocar?
Competência internacional: Não se verifica a conexão com nenhum
ordenamento jurídico estrageiro, pelo que os tribunais portugueses são competentes
para reconhecer do litígio.
Competência em razão da hierarquia: com base no artigo 67º CPC este litígio
compete aos tribunais de primeira instância, pois não se trata de ações de revisão de
sentença estrangeira, nem de ações contra juízes.
Competência em razão do território: nesta situação aplica-se a regra do foro
obrigacional do artigo 71º, nº1 CPC, pelo que a ação deve ser interposta no tribunal do
domicílio do réu, podendo o credor optar pelo tribunal do lugar onde a obrigação
devera ser cumprida, quando o réu seja pessoa coletiva ou quando, situando-se o
domicílio do credor na área metropolitana de Lisboa ou Porto, o réu tenha domicílio na
mesma área metropolitana.
Desta forma, a demandante tem residência em Vila Nova de Gaia e o réu tem
domicílio em Vila do Conde, pelo que segundo a regra do foro obrigacional seria Vila
do Conde o município de conexão, podendo optar pelo tribunal do lugar em que a
obrigação deveria ser cumprida, ou seja, por Póvoa do Varzim. Assim, existe 2 fatores
de conexão territorial. Como temos dois fatores de conexão territorial temos dois
tribunais possíveis.
Competência em razão da matéria: de acordo com as regras da competência
em razão da matéria do artigo 64º CPC, os tribunais judiciais são os tribunais
competentes para reconhecer do litígio.
Competência em razão do valor da causa: cabe ao tribunal local de acordo com
o artigo 117º CPC.
Assim, é competente para aferir do litígio o juízo local cível de Vila do Conde do
Tribunal Judicial da Comarca do Porto ou o Juízo local Cível do tribunal judicial da

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comarca do porto, ficando á opção do autor a escolha do juízo competente. Sendo
uma pessoa singular releva o lugar do domicílio independentemente da atividade
profissional que exerce.
Como a ação foi proposta no juízo local cível de Vila nova de Gaia, pelo que este
não é competente para conhecer desta causa, pelo que se verifica uma situação de
incompetência (explicar os tipos de competência). Trata-se de incompetência relativa
porque, com base no artigo 102º CPC, há uma infração das regras de competência em
razão do território.
Assim, a incompetência em razão do território não é de conhecimento oficioso,
mas há exceções previstas no artigo 104º CPC, que são a violação da regra do foro real,
foro delitual e quando não há lugar em relação á opção do foro obrigacional, ou seja, o
tribunal não pode conhecer oficiosamente desta incompetência, ou seja, se Carlos
nada fizer o tribunal pode conhecer desta ação, mas Carlos pode arguir essa
incompetência no prazo que a lei prevê para apresentação de contestação desta ação
(30 dias – contestação de ação declarativa comum).
Uma vez arguida a incompetência relativa o tribunal tem de a julgar procedente
e remete o processo para o tribunal competente onde prosseguirá o processo, de
acordo com o artigo 105º, nº3 CPC.
Nota: as vezes pode acontecer que são infringidas diferentes regras de
incompetências, por exemplo, regras de competência em razão do território e regras
de competência em razão da matéria, neste caso dá-se prevalência á que determine a
forma de incompetência mais severa, ou seja, iria prevalecer a incompetência
absoluta.

23
10/03/2022
Dimensão estática da ação:
A primeira grande distinção que temos de fazer a suma divisio (grande divisão
que se faz entre o direito publico e o direito privado – em processo civil vai ser usado
com outro propósito) entre 2 tipos de ação: ação declarativa e ação executiva – artigo
10º CPC
Ações executivas – artigo 10º, nº4 CPC – são ações que tem por características
por um lado já estar reconhecido, judicialmente ou extrajudicialmente, um direito de
crédito (emergente de uma obrigação) que não foi pontualmente satisfeito e que se
pretende que seja realizado coercivamente. Tem por base o título executivo, título que
serve de base jurídica a obrigação que se quer ver realizado coercivamente. Esse título
executivo pode ser judicial (sentença ou decisão judicial de condenação – título
executivo ideal. Pode ser de um tribunal judicial como de um tribunal arbitral) ou
extrajudicial (habilita o credor a dirigir-se logo á ação executiva sem necessidade de
interpor uma ação declarativa porque esse já é título bastante para interpor ação
executiva – cheque, letra, livrança, documento autêntico, documento autenticado). –
Serão estudadas melhor no próximo ano.
Ações declarativas – ações que tem por fim dirimir o litígio entre as partes
através da declaração do direito aplicável á relação material controvertida, por isso são
ações em que se pretende do tribunal que determine qual o direito aplicável ao litígio.
O artigo 10º, nº3 CPC apresenta-nos diferentes ações declarativas:
a) Ações declarativas de simples apreciação: a única providencia peticionada
pelo autor ao tribunal é que reconheça a existência de um direito ou de um facto. Ex.:
tribunal declarar que sou autora de um terreno; o tribunal declarar que determinada
divida não foi cumprida ou que ocorreu determinado evento.
Estas ações podem ser desdobradas em duas modalidades
- Simples apreciação positiva: pretende-se a declaração de existência de
um direito ou da verificação de um facto
- Simples apreciação negativa: pretende-se a declaração da inexistência
de um direito ou de não verificação de um facto. (Ex.: o reu comprometeu-se a demolir
um muro e quero que o tribunal reconheça que ele não o demoliu.) No artigo 343º,
nº1 CC faz-se uma inversão do ónus da prova, em que quem tem o ónus da prova é o
réu. É muto difícil fazer a prova negativa (provar que um direito não existe ou que um
facto não se verificou), por isso o legislador atribui ao réu o ónus da prova.
b.) Ações declarativas de condenação – ações em que pressupondo ou
prevendo a violação de direitos destinam-se a exigir a prestação de uma coisa ou de
um facto, ou seja, está implícita as apreciações da existência de um direito, por isso,
em certa medida, consomem a função que estava reservada às ações de simples
apreciação. O que não quer dizer que não seja possível que se possa, em primeiro

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lugar interpor uma ação de simples apreciação, que não posso executar, depois
interpor uma ação de condenação. Deste modo, são etapas desnecessárias, mas não é
proibido.
Podem -se desdobrar:
- Prestação de uma coisa
- Prestação de facto
- Positivo – pretendo a condenação do reu a realizar, por
exemplo uma obra ou a prestar o seu consentimento
- Negativo – pretendo a condenação do reu a abster-se de uma
conduta. Ex.: quero a condenação do réu a não entrar no meu imóvel.
c.) Ações declarativas constitutivas – quando se pretende obter uma sentença
que sirva de titulo jurídico para operar uma modificação na ordem jurídica, ou seja,
pretendo obter uma sentença que seja ela própria o titulo jurídico que vai alterar a
ordem jurídica.
As ações declarativas constitutivas podem ser:
- Ações constitutivas propriamente ditas – pretende-se uma ação
judicial para criar um título executivo (Ex.: ação para servidão predial; ações de
reconhecimento de paternidade ou maternidade).
- Ações constitutivas modificativas – visam operar a modificação de
uma relação jurídica pré-existente. A relação jurídica já existia, mas o autor pretende
uma ação de modo a modificar. (Ex.: ação de separação de bens; ação de modificação
de contratos com base na alteração superveniente das circunstâncias das partes na
vontade de contratar).
- Ações constitutivas extintivas – pretende-se obter uma sentença que
sirva de título jurídico para extinguir uma relação jurídica pré-existente á propositura
da ação. (Ex.: ação de divorcio; ação de anulação de um negócio jurídico).
As ações constitutivas extintivas podem ainda classificar-se em
- Ações constitutivas extintivas necessárias – o título jurídico só
pode ser obtido por via judicial (ex.: ações de impugnação de
paternidade)
- Ações constitutivas extintivas facultativas – o título jurídico
que se pretende obter pode ser obtido por via extrajudicial. (ex.:
divorcio por mútuo consentimento)
A classificação das ações declarativas afere-se em função das pretensões
deduzidas pelo autor e, as suas classificações não são mutuamente exclusivas. Ex.: uma
ação em que peço a declaração de pretensão de nulidade de um contrato (ação de
simples apreciação – se pedir anulação de um contrato estou no âmbito das ações

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constitutivas extintivas) e peço a restituição das prestações que realizei ao abrigo
desse contrato (ação declarativa de condenação) – isto não interfere na tramitação da
causa porque é apenas uma classificação doutrinária.
Processos de jurisdição litigiosa e processos de jurisdição voluntária:
Por razões de ordem pratica ou histórica o legislador atribui aos tribunais o
exercício de competência de matérias de ordem administrativa, no entanto estas
competências não são materialmente jurisdicionais.
Processos de jurisdição litigiosa - todos aqueles processos em que vai
implicado pelo tribunal o exercício de poderes próprio da função jurisdicional.
Processos de jurisdição voluntária - O tribunal é chamado a exercer
competências de natureza administrativa, ou seja, são competências que o legislador
conferiu ao tribunal, mas que poderiam ser de um órgão administrativo. Isto não é
inconstitucional, mas o contrário seria – artigo 201º, nº2 CRP. Está em causa o
aproveitamento da imagem publica de imparcialidade dos tribunais, pois trata-se de
ações materialmente administrativas, mas formalmente judiciais.
Características dos processos de jurisdição voluntária - Artigo 986º e seguintes:
- O tribunal não decide segundo critérios de legalidade estrita, pode tomar a
decisão por aplicação de critérios de conveniência ou de oportunidade.
- As decisões dos tribunais não são sentenças, são resoluções. Nas resoluções,
ao contrário do que acontece com as sentenças, podem ser alteradas com fundamento
em circunstâncias supervenientes que justifiquem a alteração das circunstâncias.
- Os poderes do tribunal são limitados em termos de tramitação do processual
– principio do dispositivo na dimensão de disponibilidade sobre os factos – a regra no
processo civil é que as partes tem disponibilidade sobre os factos essenciais que
constituem o objeto da instancia, o que não acontece nos processos de jurisdição
vluntária. O tribunal não pode reconhecer de factos essenciais que não tenham sido
alegados pelas partes, mas isto não se aplica nos processos de jurisdição voluntária.
Aqui há aplicação do princípio do inquisitório também em relação aos factos porque o
tribunal pode apurar por sua própria iniciativa os factos importantes sobre a questão
que tem a decidir, não estando vinculado aos factos alegados pelas partes.
- Não é obrigatória a constituição de advogado independentemente do valor da
causa ou de ser ou não amissível recurso. No recurso já é obrigatória a constituição de
advogado.
Exemplos: Nos artigos 989º e no artigo 993º CC encontramos exemplos de
processos de jurisdição voluntária. No artigo 994º CC é um exemplo paradigmático de
um processo de jurisdição voluntária em que não há nenhum litígio, nem é uma
questão jurisdicional, por isso é que o legislador permite que isto seja obtido junto de
uma conservatória de registo civil. Processos de suprimento de consentimento;
processos de autorização para a prática de atos voluntários. – Alguns destes processos,

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em bom rigor é difícil aceitar a sua qualificação como processos de jurisdição
voluntária, porque em alguns deles parece haver verdadeiramente um litígio.
Os verdadeiros processos de jurisdição voluntária, por serem aqueles em que
não está aplicado o exercício de poderes jurisdicionais, são processos que o legislador
pode tirar da competência dos tribunais e entregá-las a entidades administrativas (ex.:
DL 272/2001).
Formas processuais:
Artigo 546º CPC – a ação declarativa pode ser tramitada na forma comum ou na
forma especial. Esta distinção diz respeito á sequencia da tramitação processual:
diferentes fases, atos processuais que tem de ser aplicados, etc.
O processo especial (nº2 do artigo 546º CPC) aplica-se aos casos expressamente
designados na lei, aplicando-se o processo comum a todos os outros, ou seja, o
processo comum tem uma natureza residual.
Como sabemos se está prevista uma forma de processo especial? Através do
critério do pedido. É através do pedido que concretamente foi pedido pelo autor que
vamos determinar a forma do processo aplicável. Se para aquele tipo de pedidos
estiver expressamente na lei uma forma de processo especial então recai na forma de
processo especial.
Pode acontecer que se cumulem pedidos e, com isso, esses pedidos cumulados
correspondam diferentes formas de processo. Os artigos 555º com remissão para o
artigo 37º, nº1 CPC vem regular esta questão, dizendo que não posso cumular pedidos
na mesma ação se a estes corresponderem formas de processo distintas. No entanto,
o nº2 do artigo 37º apresenta-nos uma exceção, que permite que o juiz autorize a
cumulação mediante uma apreciação casuística do tribunal. Assim, regra geral, a
cumulação é possível desde que não correspondam formas de processo diferentes aos
pedidos cumulados.
No CPC anterior o processo comum desdobrava-se em 3 formas processuais:
ordinária, sumária e sumaríssima, consoante o tipo de pretensões e o valor da causa. O
código atual veio abolir esse desdobramento e indicar que o processo comum segue
forma única (artigo 548º CPC), como isso foi alvo de muitas críticas o legislador criou
uma especificidade para ações de pequeno montante (artigo 597º CPC) – nas ações de
valor não superior a 15.000,00€ há um aligeiramento da tramitação, pois justifica-se
que o julgador possa aligeirar a tramitação processual, mas não está obrigado a fazê-
lo. O legislador não quis criar uma forma processual própria para ações de pequeno
valor como existia no CPC anterior, quis apenas criar uma permissão ao tribunal para
aligeirar a tramitação mediante uma apreciação casuística.
O artigo 549º CPC diz-nos qual é a disciplina jurídica das diferentes formas
processuais. O processo comum é disciplinado pelas normas do CPC, mas os processos
especiais regulam-se pelas disposições que lhe são próprias, ou seja, o CPC prevê
algumas normas relativas ao processo especial, mas que são pouco extensivas, por isso

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regula-se também pelas disposições gerais e comum (princípios gerais e pressupostos
processuais e, em tudo o que não esteja estabelecido pela aplicação subjetiva da
disciplina do processo comum.
Algumas formas de processo especiais:
- Artigo 878º CPC – tutela da personalidade: consiste na obtenção de
providencias de natureza urgente. São providencias que se destinam a evitar a
consumação de uma ameaça ilícita e direta à personalidade física ou moral de ser
humano ou a atenuar, ou a fazer cessar, os efeitos de ofensa já cometida. Só está em
causa a proteção de seres humanos, o que significa que esta forma de processo não
pode ser empregue para obter pretensões destinadas a pessoas jurídicas ou coletivas,
também só pode estar em causa a tutela da integridade física e da integridade moral,
não podendo socorrer deste processo para tutelar o património de alguém
- Processo especial de acompanhamento de maiores- processos através dos
quais se obtém o acompanhamento de maiores
- Processos especial de divisão de coisa comum
- Processo especial de divorcio e separação sem consentimento do outro
conjugue
- Processo especial de reforma de autos – quando se extraviam autos e são
necessários reconstituir
- Processo especial de revisão de sentença estrangeira
- Processo especial de inventário – corresponde às partilhas litigiosas, que se
aplica quer nas situações de sucessão hereditária ou quando o casamento em regime
de comunhão é dissolvido e por isso é necessário partilhar a comunhão conjugar. Este
processo tem uma característica particular que é a de que grande parte das
competências não jurisdicionais foram descentralizadas nos notários
- Processos de jurisdição voluntária
Ex.: ação de despejo em que temos um pedido de resolução do contrato de
arrendamento, condenação de entrega do imóvel locado e pagamento de
indemnização- trata-se uma ação declarativa constitutiva extintiva de condenação em
relação á resolução do contrato de arrendamento, uma ação de entrega do imóvel e
pagamento de quantia certa (confirmar!!!)
DL 269/98 – RADEPI – Este diploma prevê duas figuras:
- Ação declarativa especial para o cumprimento de obrigações emergente de
contratos: é uma verdadeira ação declarativa de processo especial de ação declarativa.
Podia estar no CPC, mas está em legislação avulsa. No entanto, não deixa de ser um
processo especial

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- Procedimento de injunção: não é um processo jurisdicional. É um
procedimento puramente administrativo. Não está implicado o exercício de poderes
jurisdicionais, mas de competências administrativas, mas como vem regulado no
mesmo diploma estudamos em processo civil porque pode ter incidências em processo
civil. Não vai a juiz. é conduzido por um funcionário da secretaria judicial.
Ação declarativa especial:
Artigo 1º parte preambular do RADEPI - aplica-se apenas quando estejam em
causa pretensões destinadas a exigir o cumprimento de obrigações. Aplica-se quando
estejam em causa pretensões de condenação, no caso, uma prestação de facto. Se
estiverem em causa pretensões que não sejam de condenação não cabe neste tipo de
processo, mas não é qualquer pretensão do tipo condenatório, é necessário que sejam
pretensões destinadas ao cumprimento de obrigações, ou seja, obrigação pecuniária
emergente de um contrato, isto é, quem tem uma fonte contratual.
Assim, se quiser uma prestação de facto positivo ou negativo não posso
empregar este meio processual.
Deste modo, ficam excluídas deste meio processual, obrigações pecuniárias
derivadas da responsabilidade civil.
Este diploma é previsto para os litígios de massas, que eram os litígios que
andavam a afundar os tribunais na década de 90, que são ações que entupiam os
tribunais e que normalmente são ações de decisão muito simples. O legislador quis
criar mecanismos que permitissem aliviar os tribunais deste volume que os entupia.
Relativamente ao valor não superior a 15.000,00€ a letra da lei é um pouco
inequívoca. A interpretação consensual é de que é o valor da obrigação pecuniária que
quero ver cumprida.
Tramitação da ação declarativa especial:
Tem uma tramitação muito simplificada em relação á ação declarativa comum,
mas isto poderá ser renovado na nova legislatura.
Assim, uma principal característica desta ação declarativa especial é o efeito
cominatório quase pleno – artigo 2º do anexo 1 do RADEPI. O efeito cominatório é a
falta da intervenção do réu no processo: ficta contestatitio e ficta confecio. Na ação
declarativa especial, se o reu não contestar o juiz vai limitar-se a conferir força
executiva á petição, ou seja, limita-se a condenar o réu no pedido do autor, sem mais.
Porém, é “quase pleno” porque há duas válvulas de escape do artigo 2º do anexo 1 do
RADEPI:
- O juiz não de condenar o reu se se verificarem exceções dilatórias (falta de
pressupostos processuais), nesse caso o réu é absolvido da instância;
- Se o pedido for manifestamente improcedente, então o juiz absolve o réu do
pedido;

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No artigo 1º, nº1 do anexo ao RADEPI está presente uma ideia se síntese. O
prazo de contestação varia consoante o valor da ação, por isso, se a ação for de 5 mil €
ou menos o prazo de contestação é de 15 dias; se a ação exceder a alçado do tribunal
de primeira instância o prazo é de 20 dias.
De acordo com o artigo 4º do diploma preambular os prazos previstos no
RADEPI contam-se de acordo com os prazos de processo civil, mas sem qualquer
dilação.
O artigo 3º, nº1 do RADEPI resulta uma tramitação abreviada. Assim, dá-se ao
juiz o poder de proferir logo sentença sem que haja audiência (decidir o mérito da
causa) ou decidir logo alguma exceção dilatória ou alguma nulidade processual – esta
norma tem sido interpretada no sentido de dispensar o princípio do contraditório.
No artigo 3º, nº 4 e 5, vem dizer que se o processo não puder ser logo decido
por sentença prossegue para audiência de julgamento, ou seja, as testemunhas não
são notificadas pelo tribunal, o que significa que são as partes que tem de garantir que
elas apareçam. Há um limite máximo de testemunhas: 3 testemunhas se o valor da
ação não exceder o valor da alçada do tribunal de primeira instância e 5 testemunhas
no restantes casos.
Nota: na ação de processo comum o limite de testemunhas é de 10.
No artigo 5º é dada a possibilidade de os depoimentos das testemunhas serem
apresentados por escrito em casos em que a testemunha vai depor acerca de factos
que tomou conhecimento no exercício das suas funções profissionais (ex.: bancário
que negociou com o cliente). Assim, estas testemunham declaram por escrito, sem ir á
audiência, o seu depoimento e este fica assim junto ao processo. Mas, claro, que o juiz
pode determinar a convocação da testemunha para vir depor pessoalmente. Porem
isto torna muito vantajoso este processo.

A audiência de julgamento que se realiza nesta ação está prevista no artigo 3º,
onde o legislador impõe grande celeridade. O tribunal pode marcar uma data sem
saber da disponibilidade dos advogados.
O artigo 4º vem dizer-nos que a audiência não pode ser adiada pela falta das
partes e, as ações de valor inferior a 5 mil euros realizam-se mesmo com a falta de
advogado.
Uma última manifestação da ideia de celeridade está presente no artigo 4º, nº
6 e 7, que se referem às alegações orais no fim da audiência. No processo comum no
anterior código não existiam alegações orais, estas eram feitas por escrito depois da
audiência, mas agora já existem alegações orais.
A sentença devidamente fundamentada é logo ditada para a ata, ou seja, a
sentença é proferida verbalmente por escrito – isto tem por objetivo que o juiz profira

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a sentença mais rapidamente. Claro que se as questões forem complicadas o juiz pode
sempre fazer um expediente.
No artigo 4º nº5 diz que se por acaso, durante a audiência, ao tribunal parecer
que é necessário a realização de outras audiências probatórias, então o tribunal pode
suspender as audiências para fazer essas diligencias. No entanto há limites: a
suspensão não pode exceder os 30 dias e, na ação declarativa especial a prova pericial
é realizada por apenas um perito.
Procedimento de injunção
Inicialmente tinha o mesmo âmbito de aplicação que a ação declarativa
especial (artigo 1º do diploma preambular), porem o legislador veio alargar o seu
âmbito de aplicação e acrescentar o cumprimento de obrigações emergentes de
transações comerciais – artigo 7º RADEPI.
Um contrato de transação é um contrato típico e previsto no CC quando as
partes decidem terminar um litígio entre elas mediante recíprocas conceções, mas isto
é o sentido jurídico.
O procedimento de injunção tem, assim, um âmbito de aplicação mais vasto:
obter o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato e, obter o
cumprimento de obrigações emergentes de transações comerciais.
Artigo 3º do DL 62/2013- uma transação comercial é uma operação de
fornecimento de bens ou de prestação de serviços remunerada, mas não é apenas
isso, pois tem de ser entre empresas ou entre empresas e autoridades publicas, o que
exclui operações realizadas com o consumidor.
Empresa pode ser uma pessoa coletiva que desenvolve uma atividade
autónoma, mas pode ser uma pessoa singular desde que exerça uma atividade
profissional autónoma. A pessoa singular que não se enquadra nisto não é uma
empresa, mas por exemplo o advogado ou o arquiteto que tem escritório montado são
considerados empresas para este efeito.
Na segunda dimensão do artigo 7º o procedimento de injunção pode ser
utilizado quer se trate de uma obrigação pecuniária independentemente do valor, ou
seja, pode requerer uma injunção de qualquer valor desde que se trate de uma
pretensão dirigida ao cumprimento de uma obrigação pecuniária emergente de uma
obrigação pecuniária, o que significa que o procedimento de injunção pode ser
utilizado independentemente do valor.

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11/03/2022
Se forem obrigações pecuniárias emergentes de transações comerciais
sabemos que não há valor máximo, por isso, podemos aplicar o procedimento de
injunção.
A injunção consiste na apresentação de um requerimento injuntivo ou
requerimento de injunção num tribunal ou numa secretaria judicial, que depois terá
uma sequência.
O artigo 8º RADEPI diz-nos que é apresentado á escolha do credor na secretaria
judicial do cumprimento da obrigação ou na secretaria do tribunal do domicílio do
devedor. Porem o nº4 do RADEPI vem dizer que podem ser criadas secretarias judiciais
especificas que só tratem de injunções pela administração.
Balcão nacional de injunções – todos os procedimentos de injunção,
independentemente do domicílio do credor ou do lugar de cumprimento de obrigação
são enviadas para o Balcão Nacional de Injunções situado no Porto, isto tornou ineficaz
o nº1 porque todas as injunções são aqui apresentadas.
Segundo o artigo 10º RADEPI o requerimento tem de satisfazer uma série de
requisitos, dos quais vamos analisar o da alínea d), e), g) e l).
Apresentado o requerimento, a secretaria faz uma apreciação meramente
formal e recusá-lo-á se não preencher os requisitos do artigo 11º RADEPI.
Da recusa cabe reclamação para o juiz, que no caso será o juiz do tribunal
competente para os atos subsequentes á injunção.
Os fundamentos de recusa são puramente formais, por isso, o artigo 12º
RADEPI vem dizer que o secretário judicial notifica o requerido (devedor) por carta
registada com aviso de receção para em 15 dias pagar ao requerente ou para deduzir
oposição à pretensão.
Expedida a notificação pode acontecer que o requerido receba a notificação e
começasse a contar o prazo ou este não recebe. No caso de se frustrar a citação, o
artigo 10º, nº1, j) RADEPI vem dizer que o requerente indica no processo injuntivo se
quer que seja apresentada a distribuição ou não. No caso de o requerido ter sido
notificado tem a opção de pagou de deduzir oposição, podendo também nada dizer, e
nesta situação, o artigo 14º RADEPI prevê que o requerimento de pagamento poderá
ser convertido num título executivo que o requerente pode apresentar para interpor
uma ação executiva – este titulo executivo atualmente tem uma força equiparada á de
uma sentença judicial.
Isto é muito vantajoso para os processos de massa, o que permite que sejam
resolvidos de forma mais célere/rápida.

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Não é o funcionário judicial que transforma o procedimento de injunção no
título executivo. Atualmente a jurisprudência entende que o título executivo resulta da
vontade do legislador, por isso não há nenhum exercício de função jurisdicional por um
funcionário da administração publica.
Se o requerido apresentar oposição passamos a ter um litígio, por isso, já não
pode ser um funcionário de justiça a decidir, já é invocado o exercício da função
jurisdicional. Assim, o procedimento administrativo é convolado num processo
jurisdicional e reenviado para um tribunal de modo a que este faça uma distribuição
como é convolado na forma de ação declarativa especial (artigo 16º RADEPI), sendo
remetido para o tribunal competente indicado consoante o artigo 10º, j) RADEPI.
Mas daqui poderá surgir um problema: a ação declarativa especial tem como
âmbito de aplicação ações até 15.000€, por isso, tendo um procedimento de injunção
com valor de 1 milhão de € não pode ser distribuído como ação declarativa especial.
Por isso, o DL 62/2013, no artigo 10º, nº2, vem dizer-nos que se houver oposição á
injunção e os autos foram apresentados á execução quando esteja em causa
procedimentos de injunção que tenha por objeto valores superiores a 15.000€ então
estaremos no âmbito da ação declarativa comum o nº4 vem dizer o contrario, ou seja,
se a pretensão do procedimento injuntivo for uma pretensão procedente do
cumprimento de transações comerciais…
O mesmo acontece se a notificação se frustrar, ou seja, neste caso o artigo 13º
a) e o artigo 16º RADEPI, como não há notificação do requerido não se pode interpor
uma forma executória, por isso, o procedimento de injunção é convolado num
processo jurisdicional e é convolado para a forma de processo comum ou especial,
com a diferença de que o requerente pode indicar que não quer que seja apresentada
distribuição.
Se, a notificação se realizou e o requerido deduziu oposição então o processo
vai mesmo ser convolado e apresentado á distribuição.
Tenho uma pretensão emergente de uma pessoa que tem uma divida
emergente de um contrato de 10 mil euros, o que posso fazer? O processo comum só
se aplica quando não há processo especial previsto para aquela pretensão. Sendo a
ação declarativa especial um processo especial, por isso não se pode cair no âmbito do
processo comum. assim, tenho de deduzir a pretensão sobre a forma de ação
declarativa especial, sob pena de termos uma nulidade processual – erro na forma do
processo.
Já o procedimento de injunção pode ser uma alternativa à ação declarativa
especial ou a ação declarativa de processo comum. Aqui, a lei não estabelece nenhuma
ordem de preferência porque o procedimento de injunção é um procedimento
administrativo. O procedimento de injunção trata-se de uma opção estratégica do
credor, pois se o devedor não deduzir oposição fica com um título de credito em 15
dias.

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Não há alternatividade entre a ação declarativa de processo comum e a
especial

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17/03/2022
Julgados de paz
Um outro meio de resolução de litígios que é alternativo em relação ao
processo comum dos tribunais judiciais.
Os julgados de paz são verdadeiros tribunais, mas não fazem parte da
hierarquia dos tribunais judiciais. São um modelo de tribunais que existe á
parte do sistema comum de tribunais. Estão previstos no artigo 209º, nº2 CRP.
A CRP dá ao legislador a possibilidade de instituir tribunais fora das
jurisdições previstas no nº1. O legislador permitiu a existência de tribunais
arbitrais e, ao abrigo desta norma e de um outro diploma veio criar julgados de
paz.
Em Portugal existe um tribunal marítimo, mas o tribunal marítimo que
atualmente existe é um tribunal judicial de 1º instância, por isso foi criado no
âmbito da alínea a) do nº1 do artigo 209º CRP.
Lei 78/2001 (Lei dos Julgados de Paz)
Os julgados de paz são uma figura que já existia historicamente entre
nós. Trata-se de tribunais de vizinhança (ex.: litígios de terrenos, etc.) que
visam dirimir litígios de pequena importância. Trabalha-se numa base menos
solene e menos formal do que nos tribunais judiciais, ou seja, existe uma logica
de maior informalidade e de menor informalidade.
A lei 78/2001 teve como logica instituir uma rede experimental de
julgados de paz com o objetivo de que essa rede se viesse a alargar a todo o
território nacional, sendo que inicialmente começaria a existir apenas em
relação a alguns conselhos. Atualmente, os poucos julgados de paz que
existem abrangem vários conselhos.
A ideia de justiça de proximidade que era a ideia que presidia á
instituição dos julgados de paz é uma ideia que hoje em dia está frustrada
porque, primeiro nem todo o território nacional está abrangido e, mesmo na
solução que o legislador encontrou em criar conselhos não foi a mais feliz.
Assim, a rede de julgados de paz 20 anos depois é ainda muito
incipiente/reduzida.
Os princípios que presidem na logica dos julgados de paz são
proximidade, informalidade (é um processo muito flexível) e celeridade
(precisamente porque estão em causa pequenos litígios há a ideia de que se
pode julgar de uma forma mais célere).
Que litígios podem ser julgados nos julgados de paz? Lei 78/2001 (LJP)
Competência em razão do tipo de pretensão – artigo 6º LJP: os julgados
e paz não podem executar coercivamente as suas próprias decisões tal como
os tribunais arbitrais. Não podem julgar ações que consistam em pretensões do
tipo executivo.
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Se o julgado de paz condena o demandado a pagar 5 mil euros ao
demandante e este não cumpre, então a sentença do julgado de paz pode ser
executada coercivamente propondo uma ação executiva no tribunal judicial.
Competência em razão do valor – artigo 8º LJP: se não exceder 15 mil
euros os julgados de paz são competentes. Para calcular o valor da causa
aplicam-se as regas do CC.
Competência em razão da matéria – artigo 9º LJP:
(1) Ações reais incluindo questões relativas a condomínios – alíneas b),
c), d), e) e f) – relativas a direitos de propriedade ou outros direitos reais,
incluindo questões relativas ao condomínio, embora haja algumas exceções.
(2) Ações de responsabilidade contratual – tem a ver com o
cumprimento de contratos ou com a responsabilização pelo incumprimento de
contratos – alíneas a), g), h), i) e j).
(3) Ações de responsabilidade extracontratual – 2º parte da alínea h) e
nº2 do artigo 9º LJP.
Competência em razão do território – artigo 10º a 14º LJP: existem 3
regras de foro:
(1) Regra do foro da situação dos bens – artigo 11º LJP
(2) Regra alternativa – artigo 12º LJP
(3) Regra geral supletiva – artigo 13º LJP
Em matéria de competência em razão do território temos de ter em conta
que nem todo o país está abrangido por julgados de paz, por isso, temos de ver
se o fator de conexão em razão do território está abrangido por um julgado de
paz. Se as regras de conexão territorial criarem um fator de conexo alternativo,
então podemos optar entre um ou outro, devendo optar pelo julgado de paz
para que seja possível interpor a ação num julgado de paz.
Tem-se colocado a questão de saber se a competência dos julgados de
paz para dirimir estes litígios é uma competência exclusiva ou se é uma
competência alternativa/concorrencial. A doutrina discutiu bastante esta
questão, mas veio a ser uniformizada por um acórdão de uniformização de
jurisprudência do STJ, que concluiu que a competência dos julgados de paz é
alternativa relativamente aos tribunais judiciais competentes.
Algumas regras processuais nos julgados de paz:
- Artigo 38º LJP – não é obrigatório o patrocínio forense, ou seja, as
partes têm capacidade postulatória nos julgados de paz. Se tiver uma ação de
10 il euros não tenho de constituir advogado, mas se tiver uma ação de 10 mil
euros num tribunal judicial é obrigatório o patrocínio forense. Mas exitem casos
de inferioridade em que é obrigatória a constituição de advogado. A
constituição de advogado nos julgados de paz é obrigatória em fase de
recurso.
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- Artigo 41º-A LJP – tutela cautelar nos processos de julgados de paz.
Introduziu a tutela cautelar de forma muito limitada.
Quanto á tramitação propriamente dita:
- Tramitação processual extremamente simples (artigo 43º, artigo 47º
LJP). A ação pode ser interposta verbalmente ou por escrito, sendo que o
mesmo vale para a condenação. Também se podem dirigir os dois em
simultâneo ao julgado de paz e apresentarem rapidamente o requerimento e a
contestação.
- Em regra, não se admite reconvenção (artigo 48º, nº1 LJP). Poderia
colocar-se o problema de, havendo reconvenção, exceder-se os 15 mil euros,
por isso podem separar-se os pedidos, podendo a ação no limite chegar aos 30
mil euros.
- Existência de uma fase de pré-mediação à qual depois se pode gerar
uma fase de mediação (artigo 49º e 50º LJP). A fase de pré-mediação é
obrigatória desde que nenhuma das partes se tenha oposto.
- Obrigação de comparência pessoal das partes (artigo 58º LJP). As
partes têm de comparecer pessoalmente. Caso o demandante não compareça
pessoalmente considera-se como desistência do pedido, enquanto se for o
demandado se consideram os factos como provados desde que este não tenha
apresentado contestação
- As testemunhas são apresentadas pelas partes (artigo 59º, nº2 LJP)
- A perícia é realizada perante o tribunal judicial (artigo 59º, nº3 LJP)
- A sentença é proferida no fim do julgamento oralmente (artigo 60º LJP),
mas claro que o juiz não está impedido de suspender a audiência.
- As sentenças dos julgados de paz têm a mesma força executiva que as
sentenças dos tribunais judiciais de 1º instância e, se não forem prontamente
executadas podem ser executadas nos mesmos termos dos tribunais de
primeira instância como decorre do artigo 6º, nº2 LJP (artigo 61º LJP).
- As sentenças proferidas nos julgados de paz são, via de regra, a
solução definitiva daquele litígio, em virtude do princípio da celeridade. No
entanto, as decisões podem ser impugnadas quando o valor do processo
exceda 2500€ há lugar a recurso para o juízo competente da comarca em que
esteja sediado o julgado de paz (artigo 62º LJP)
A lei não nos diz qual é a forma aplicável a este recurso, mas ao ver do
professor devemos tratar desta ação por uma ação declarativa de processo
comum, por isso deve-se julgar num tribunal de comarca. O artigo 38º, nº3 LJP
obriga à constituição de advogado. Se estivermos perante um recuso de um
processo de 2500€ então é obrigatória a constituição e advogado, mas se essa
ação tivesse sido interposta em primeiro grau de decisão num tribunal judicial
não era obrigatória a constituição de advogado.

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Em teoria podemos ter 4 meios de resolução do litígio: ação declarativa
comum, processo de injunção, julgado de paz, ação declarativa especial.
Sabemos que nunca é obrigatória a utilização do julgado de paz. O
mesmo acontece relativamente ao procedimento de injunção que é sempre
alternativo. O autor ponderará se deduz um procedimento de injunção, uma
ação no julgado de paz. Mas entre a ação declarativa especial e a ação
declarativa comum não há alternatividade porque a ação declarativa comum só
deve ser aplicada quando não se aplica a ação declarativa especial.

Instância:
A instância é a relação jurídico processual que se manifesta na
circunstancia de ser uma relação tripartida, em que temos no plano infra-
ordenado as partes e ni plano supra-ordenado o tribunal.
A instância tem 2 elementos jurídicos essenciais: elemento objetivo
(sujeitos) e o elemento objetivo (objeto).
No elemento subjetivo, em relação aos sujeitos da instancia temos de
os desdobrar em duas categorias: tribunal (revestido de ius-imperium, sujeito
processual desinteressado e equidistante, profere decisões vinculativas e
obrigatórias para as partes) e as partes (tem um interesse direto no desfecho
da causa – assim não sucede com o tribunal).
Podemos desdobrar as partes de acordo com diversas classificações:
- De acordo com o interesse: demandante (autor) e demandado
(requerido, réu, contra quem é interposta a pretensão).
- Reconvenção: é possível ao demandado que ele próprio deduza uma
pretensão contra o demandante passando o reu a assumir a posição de réu
reconvindo e o autor de autor reconvindo, sendo que na reconvenção o sujeito
passivo é o autor reconvindo.
- De acordo com o tipo de interesses que as partes pretendem fazer
valer na causa: partes principiais (fazem valer um interesse próprio na causa e
conduzem autonomamente o seu interesse processual – autor e réu e
intervenientes principais) e partes acessórias (fazem valer na ação um
interesse subordinado ao interesse das partes principais – não tem uma
atuação autónoma, tem uma atuação subordinada ao da partes principal a que
estão associadas – intervenientes acessórios e assistentes). O MP pode ter
uma intervenção como interveniente acessório, mas neste casos tem uma
atação autonoma, não estando associado a outra parte.
As partes acessórias, por via de regra só podem intervir no processo
depois da ação estar proposta, mas há uma exceção que é a intervenção do
MP.
As partes principais podem ter uma intervenção originária, como podem
ser chamadas a intervir no decorrer do processo.

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- Partes originárias (figuravam nessa qualidade da relação jurídica
processual aquando da constituição da instância) e partes supervenientes (são
chamadas a intervir na relação jurídico processual durante a sua pendencia –
ex.: acidente de intervenção de terceiros, aditamento de uma nova parte).
A qualidade de parte é uma qualidade iminentemente formal, não está
diretamente relacionada com a relação material controvertida. É parte quem o
autor indicou ao interpor a ação.
Este carater formal depois é mitigado no decorrer do processo através
da legitimidade processual. Se o autor ou o réu não tiver legitimidade
processual absolve-se o reu da instância. Quando avaliamos a legitimidade das
partes fazemo-lo á luz da configuração que o autor dá da relação material
controvertida na petição inicial, podendo depois vir a ser ou não verdade.
Em relação às partes supervenientes, a sua admissão depende de uma
prévia apreciação do tribunal- primeiro há uma avaliação da sua legitimidade e
só depois é que são admitidas no processo.
Quem não é tribunal e quem não é parte é um terceiro no que diz
respeito á relação material controvertida:
- Intervenientes acidentais - testemunhas, peritos, artigo 494º e pessoas
coletivas ou singulares nos termos do artigo 436º - tem uma intervenção
periódica e pontual.
- Auxiliares acidentais – tem uma intervenção de prestar auxilio ao
tribunal ou ás próprias partes – MP quando atua como partes (amicus curiae),
funcionários judiciais, agentes de execução, agentes das forças de segurança;
mandatário, representante da parte incapaz, assistente técnico previsto no
artigo 50º que pode prestar auxilio ao próprio mandatário.
- Terceiros quase partes – são terceiros que vão ao processo sustentar
um interesse próprio, mas que ainda não tem a qualidade de partes estando
em vista adquiri-la oi não. É o caso dos terceiros se estão a aguardar a decisão
de se vão ou não assumir a qualidade de partes. Artigo 631º CPC a
possibilidade de quem não é parte vir a interpor…; opoente por embargos de
terceiro não é parte mas tem uma posição quase de parte.
O objeto desdobra-se em 2 grandes dimensões: pedido (concreta
pretensão que é deduzida pelo autor e que se manifesta numa providencia
concreta e determinada que o autor quer ver adotada pelo tribunal no confronto
daquele réu) e a causa de pedir (fundamentação fáctico jurídica do pedido, que
delimita a relação jurídica processual que fundamenta aquele pedido com
fundamento naquela concreta causa de pedir).
Durante muito tempo discutiu-se na doutrina a natureza da causa de
pedir. Mas a reforma de 95/96 decidiu a favor da teoria da substanciação (o
autor tem de expor a petição inicial os factos concretos que preenchem a
previsão normativa das normas em que ele faz assentar a sua pretensão –
artigo 552º, nº1, d) CPC). No entanto, do CPC anterior ara o atual houve uma

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diferença: exigia-se do autor que invocasse todos os factos necessários ao
preenchimento do direito que ele queria ver tutelado e, o novo código não é tão
exaustivo, pois existe apenas a invocação dos factos essenciais.
No entanto é preciso ter presente que a factualidade invocada como
causa de pedir não tem de ser procedente, ou seja, para que exista causa de
pedir devidamente invocada não é necessário que isso corresponda á verdade,
pois é algo que tem a ver com o fundamento daqueles factos. Do ponto de vista
da instância o que interessa é que a causa de pedir invocada pelo autor seja
logico formalmente idónea, pois se isso não acontecer temos um vicio
processual chamado ineptidão da petição inicial. A causa de pedir tem de ser
logico-formalmente adequada á condução do desenvolvimento pedido pelo
autor.
Nos termos do artigo 259º CPC a instância inicia-se com a propositura
da ação. Não é a data de entrada da petição na secretaria, mas a data em que
for remetida á secretaria. A constituição da instância só acontece no momento
da citação do réu, pois é o momento em que é eficaz em relação a este.
Com a citação do réu verifica-se um outro importante momento
processual – princípio da estabilidade da instância (artigo 260º CPC). Citado o
réu, os elementos da instância (sujeitos e objeto) passam a ser definitivos.
No entanto, podem ainda haver modificações nos elementos da
instância após a citação do reu: modificação objetivas da instancia (dizem
respeito ao objeto da instancia – modificação do pedido ou da causa de pedir)
e modificações subjetivas da instancia (dizem respeito aos elementos
subjetivos da instancia – modificam-se as parte sou o tribunal).
Modificações da instância:
- Modificações objetivas: podemos distinguir 2 espécies e 3 tipologias.
Em relação às espécies podem dizer respeito relativamente ao pedido ou
relativamente à causa de pedir. Em relação às tipologias podemos ter 3:
modificação por alteração, modificação por ampliação e modificação por
redução. Podemos ter ainda 2 modalidades: unilateral (parte da vontade de
uma das partes) ou bilateral/por acordo (parte da vontade de todas as partes)
O artigo 264º CPC diz-nos que com o acordo das partes tanto se pode
modificar o pedido como a causa de pedir. Havendo acordo das partes o
pedido ou a causa de pedir podem ser ampliados ou alterados em qualquer
altura, exceto em recurso de revista do STJ, exceto se o tribunal chegar á
conclusão que a alteração tão radical que vai causar um grande transtorno na
condução do processo – trata-se de uma dimensão do principio do dispositivo
na modalidade de disponibilidade das partes sobre a instancia. Já a redução do
pedido e da causa de pedir é sempre possível unilateralmente.
Não havendo acordo das partes, a modificação objetiva pode ainda
assim realizar-se unilateralmente por vontade do autor se estiver em causa o

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pedido principal ou por vontade do reu reconvindo se estiver em causa o
pedido reconvencional.
O artigo 265º CPC distingue várias das espécies e tipologias de
modificação objetiva:
- nº1 – ampliação ou alteração unilateral da causa de pedir. Se o réu
confessar factos, o autor pode, na sequência dessa confissão, e dentro do
prazo de 10 dias alterar ou ampliar a causa de pedir (atualmente esta é a única
circunstância em que isso é pedido).
- nº2 – a redução de pedido é possível a qualquer momento. A
ampliação do pedido é bastante mais limitada, pois apenas pode ser feito até
ao termo da discussão em primeira instância e só pode ampliar o pedido se a
ampliação do pedido for o desenvolvimento ou a consequência do pedido
primitivo (ex.: é possível pedir juros de mora que sejam consequência do
pedido primitivo)
- nº5 - a alteração do pedido é possível.
- nº6 - Durante muito tempo, na vigência do CPC anterior discutiu-se se
era possível proceder simultaneamente e unilateralmente á alteração do pedido
e da causa de pedir, mas agora sabe-se que é possível desde que tal não
implique passarmos de um litígio para outro.
Também tem sido discutido se é possível fazer a alteração simultâneo
do pedido e da causa de pedir de um articulado superveniente.
A reconvenção corresponde á formulação de um pedido por parte do réu
que tem o autor por destinatário, por isso, corresponde a uma espécie de
contra-ação que o réu tem contra o autor. Também é uma modificação
unilateral do objeto que parte da iniciativa do réu. O objeto da causa alarga-se,
passando a ser muito mais abrangente.
Uma outra figura próxima que não corresponde bem a uma modificação
objetiva é a apensação de ações. Mecanismo de economia processual que
permite que duas ações autónomas e independentes entre si possam ser
tramitadas e decididas conjuntamente. A apensação tem o sentido literal de
que os processos são realmente apensados (unidos por uma linha um ao
outro). no entanto, é necessário que se verifiquem os requisitos do artigo 267º
CPC. o que importa reter é a ideia de que o mecanismo de apensação de
ações não é um mecanismo de modificação da instância.
Modificações subjetivas: diz respeito aos sujeitos da instância (tribunal e
partes).
No que diz respeito ao tribunal podemos ter a sua codificação quando
um tribunal é substituído por outro: incompetência relativa (artigo 105º, nº3
CPC), se o quadro legal de competências for alterado (artigo 61º CPC + 38º,
nº2 LOSJ), casos de reconvenção em que se altera o valor da causa e o
tribunal deixa de ser competente para reconhecer daquela ação em razão do

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valor (artigo 83º, nº2 CPC); remessa do processo ao tribunal competente em
razão da fixação definitiva do valor da causa pelo juiz (artigo 310º, nº1 CPC).

As modificações subjetivas da instância podem dizer respeito às partes:


substituição de uma parte por um terceiro (incidente de habilitação de terceiros)
ou por aditamento de um terceiro que é chamado ou admitido a assumir a
posição de parte na ação (incidente da intervenção de terceiros).

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18/03/2022
Suspensão da instância:
   A relação jurídica processual pára no tempo porque se
verificam determinadas circunstâncias/causas que determinam a paragem
da relação jurídica processual, mas NÃO SE EXTINGUE com o
entendimento de que será retomada mais adiante, quando cessarem as razões
que determinaram a necessidade de suspender a instância.
   Verifica-se quando ocorrem um conjunto limitado de causas, são 4 causas
previstas no art. 269º ss CPC:
— Suspensão da instância por morte ou extinção de uma parte – alínea a).
   A suspensão da instância por morte ou extinção de uma parte decorre como
um efeito da superveniente falta do pressuposto processual da
personalidade judiciária sendo uma consequência da cessação da
personalidade jurídica da parte falecida ou extinta.
   Determina, portanto, a suspensão da instância a morte ou extinção da parte
(art. 269º, nº1, al. a)); assim não sucederá no caso de transformação ou fusão
de pessoa coletiva ou sociedade, situação em que a causa prosseguirá com a
sociedade ou pessoa coletiva sucessora (art. 269º nº2) ou nos casos de
extinção de sociedades comerciais abrangidos pelo disposto no art. 162º CSC
[art. 269º, nº1, al. a), in fine]. Ou seja, quando uma sociedade comercial
(regulada pelo código das sociedades comerciais, não se suspende a instância
nem é necessário habilitar os sucessores, é substituída pelos sócios da
sociedade que se extinguiu e representados pelos liquidatários da sociedade.
   Ainda outra exceção é o nº3 do art. 269º que diz em que casos a morte de
alguém extingue a ação e isso acontece quando a morte daquela parte torna
inútil prosseguir a ação. Por exemplo, uma ação de divórcio por mútuo
consentimento. Se um dos cônjuges morrer na pendencia da causa, o efeito
jurídico visado vai ser inútil porque o casamento já está dissolvido por morte de
um dos cônjuges.
   O regime processual aplicável será então o seguinte:
— A suspensão apenas terá início com o conhecimento judicial do facto que
a determina. Porém se a audiência final já se tiver iniciado concluir-se-ão
os seus trabalhos e a suspensão será decretada apenas após a prolação
da sentença (art. 270º, nº1, 2ª parte).
   É obrigação de qualquer uma das partes sobrevivas dar pronto conhecimento
ao tribunal da morte ou extinção do seu comparte ou da parte contrária,
juntando prova documental desse facto (art. 270º, nº2).
— A suspensão da instância cessa após a notificação às demais partes
processuais da decisão que julgue habilitado o sucessor da parte falecida
ou extinta (art. 276º, nº1, al. a).
— Os atos praticados no processo anteriormente à suspensão da instância,
mas após a data da morte ou da extinção da parte, serão nulos se em
relação a eles houvesse lugar ao exercício do contraditório pela parte falecida

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ou extinta (art. 270º, nº3), salvo se os sucessores desta, depois de habilitados,
os vierem a ratificar (art. 270º, nº4). Ou seja, o tribunal pode ter conhecimento
da morte ou extinção de uma das partes muito tardiamente porque ninguém o
informou e quando toma conhecimento a parte já pode ter falecido há um mês
e o nº3 acautela que se não for exercido o contraditório relativamente a atos
que o admitam (a parte tinha morrido e por isso não o exerceu), então esses
são nulos, a não ser se os atos forem ratificados pelos sucessores da parte
falecida ou extinta.
— Suspensão da instância por morte ou impossibilidade absoluta do
mandatário de uma das partes – alínea b):
   Nos processos em que é obrigatório constituir advogado, a instância
suspende-se se o advogado morrer ou se ficar absolutamente impossibilitado
de exercer o mandato porque nesse caso o pressuposto processual deixa de
se verificar e por isso sem pressuposto processual não pode continuar a
instância e é preciso sustar a instância para permitir à parte constituir novo
advogado.
   A suspensão tem início assim que seja feita no processo prova do facto
que lhe dá causa. Porém, se o processo já estiver concluso para sentença,
aguardar-se-á a sua prolação, suspendendo-se a instância imediatamente
de seguida – art. 271º, nº1. Ou seja, se a audiência final já terminou e o juiz já
está a trabalhar na sentença, o legislador diz que não há nada que o advogado
pudesse fazer. Mas se morrer durante a audiência final há imediatamente a
suspensão porque o advogado é imprescindível para a audiência.
   A suspensão termina com a notificação às demais partes no processo (nos
dizeres da lei, «tiver conhecimento judicial») de que foi constituído novo
advogado ou de que cessou o impedimento que determinara a suspensão da
instância – art. 276º, nº1, al. b).
   Se a parte demorar a constituir novo advogado, pode qualquer outra parte
requerer ao tribunal que fixe prazo para que constitua novo advogado; se
dentro do prazo fixado não o vier a fazer, aplica-se o regime previsto para a
falta de constituição inicial de mandatário – art. 276º, nº4.
— Suspensão da instância por morte ou impossibilidade absoluta do
representante judiciário de uma das partes – alínea b):
   Tem lugar nos processos em que não seja obrigatória a constituição de
advogado e, por um lado, morra ou fique absolutamente impossibilitado o
representante judiciário da parte incapaz e, por outro lado, não haja mandatário
forense constituído.
   Os traços essenciais do regime processual aplicável são em tudo
semelhantes aos atrás referidos para os casos de morte ou impossibilidade do
mandatário. A única especialidade encontra-se prevista no art. 276º nº4: se
houver demora na nomeação de novo representante legal ao incapaz,
pode ser requerida a notificação do Ministério Público para promover a
respetiva nomeação. Se ainda assim perdurar a demora, cessa a suspensão
e a representação judiciária da parte incapaz passará a ser assegurada
pelo Ministério Público

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24/03/2022
- Suspensão da instância por determinação do tribunal – quando o
próprio tribunal toma a decisão, por sua própria iniciativa ou por requerimento
de alguma das partes. Pode verificar-se em 3 situações distintas (artigo 272º e
273º CPC):
Nº 1. Quando existe a causa prejudicial, ou seja, quando ara decidir
aquele processo é necessário que se decida primeiro outro. no entanto, nem
sempre é assim, pois se o tribunal tiver a convicção de que aquilo não passa
de um expediente para atrasar o decorrer do processo, então o juiz não
decretará a suspensão da instância e, também não o fará se a causa
dependente estiver adiantada.
Nº 1. Quando existir outro motivo justificado – trata-se de uma clausula
aberta a ser preenchida casuisticamente
O artigo 273º CPC vem dizer-nos que em qualquer momento da causa,
o juiz pode remeter as partes para mediação. Porem, este poder do juiz
comporta uma limitação significativa que se encontra na parte final do nº1 do
artigo 273º. Basicamente, o tribunal pode suspender a instância e remeter as
partes para mediação sem que elas concordem, mas se uma delas se opuser
expressamente, então já não o pode fazer.
O nº2 do artigo 273º CPC corresponde a uma suspensão da instância
por acordo das partes.
De acordo com o nº5 as partes celebram um contrato de transação que
será posteriormente sujeito a amolgação.
Esta suspensão determinada pelo tribunal inicia-se com o despacho do
juiz a ordenar a suspensão da instância consoantes a causa que lhe dá origem.
Quando é cessa a suspensão? No caso das causas prejudiciais - Artigo
276º, nº1, c) CPC – quando a ação que levou á suspensão da instância estiver
efetivamente julgada por sentença transitada em julgado. No 272º, nº2 CPC
diz-se que quando o juiz suspenda a instância tem de fixar um prazo de
suspensão no despacho e nesse caso a suspensão da instância cessa
automaticamente por decurso do prazo. Já a suspensão da instância para
mediação cessa nos termos do artigo 273º CPC.
A possibilidade que as partes têm de, por sua própria vontade,
suspender a causa é uma manifestação do princípio do dispositivo na sua
vertente de disponibilidade sobre a instância. O acordo das partes para a
suspensão da instância, não é consensual na doutrina, mas há a ideia de que o
acordo das partes quanto á suspensão da instância tem de ser notificado ao
tribunal, por isso o professor considera que se trata de um despacho
meramente declarativo (não constitutivo).
O novo CPC veio limitar ainda mais significativamente a possibilidade de
suspensão da instância por acordo das partes, pois, no anterior código a

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instancia poderia ser suspendida por 6 meses e a doutrina entendia que o
poderiam fazer várias vezes. Por outro lado, a suspensão da instância com a
ideia de que as partes pretendiam chegar a um acordo sem estarem na
pendencia do processo no tribunal. No entanto, este instituto muitas vezes era
acionado por uma questão de conveniência do mandatário, mas isso às vezes
era um bocado abusado, por isso o legislador veio interpor alguns requisitos
para a suspensão da instância:
- Não pode exceder 3 meses durante a vida do processo
- Não pode determinar o adiamento da audiência final
A suspensão da instância por acordo das partes inicia com o próprio
acordo das partes, mas naturalmente esse acordo tem de ser comunicado ao
tribunal que faz um despacho, mas o que suspende a instância é o acordo das
partes e não o despacho do tribunal. Quando as partes acórdão a suspensão
da instância fixam um prazo de suspensão.
Regime do processo durante a suspensão da instância – artigo
275ºCPC:
De acordo com o artigo 275ºCPC, não é possível praticar naquele
processo nenhum ato processual, isto vale para as partes, para o tribunal, para
a secretaria e para quaisquer outros intervenientes acidentais. No entanto há 3
exceções a esta regra:
- Artigo 275º, nº1 CPC: Atos urgentes destinados a evitar danos
irreparáveis. Ex.: inquirição de uma testemunha que está quase a morrer;
perícia de um objeto que se estraga; citação de alguém que estava com
paradeiro desconhecido. Pode acontecer que a suspensão da instância tenha
sido motivada pela circunstância de uma parte ter morrido e não ter sido
substituída pelos seus sucessores, incapaz que não tem representante legal ou
advogado, então essa parte ficaria impedida, por isso, nesses casos essa parte
ficaria representada pelo Ministério Publico.
- Artigo 275º, nº3 CPC: possibilidade de serem praticados atos
conducentes á extinção da instância – durante a suspensão da instância. As
partes podem, durante a suspensão da instância, fazer negócios extintivos da
instância: desistir da instância ou pedido, confessar o pedido ou fazer contratos
de transação. Isto só não será possível se a razão que implicou a suspensão
da instância o impedir.
A suspensão da instância acarreta limitações quanto á contagem de
prazos. De acordo com o artigo 275º CPC, os prazos da instância ficam
suspensos durante a suspensão da instância, ou seja, o prazo suspende a sua
contagem com o início da suspensão da instância e retoma a sua contagem
quando cessar a suspensão da instância. A cotagem dos prazos é retomada
sem inutilizar o prazo já utilizado, completando o regime em falta.
O artigo 275º nº2 CPC diz-nos que a suspensão da instância determina
a interrupção dos prazos que estiverem a decorrer quando a suspensão de

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instância, então o prazo recomeça a contar do zero após esse tempo.
Relativamente aos prazos respeitantes a factos referentes no artigo 269º CPC
então a suspensão inutiliza a parte do prazo que já decorrido
A suspensão e prazos é a paragem da contagem de um prazo, mas sem
inutilizar o período que já decorreu. Interrupção de um prazo significa que se
para a contagem de um prazo inutiliza-se o período já decorrido e quando
termina o facto que originou a suspensão da instância o prazo recomeça a
contar de início.
Extinção da instância – artigo 277º CPC
O julgamento (decisão do litígio) é a causa que corresponde à causa
mais desejável de extinção da instância. Por julgamento entende-se uma
decisão judicial da causa, trata-se de uma decisão que tem natureza
substancial/substantiva (por oposição a uma decisão meramente formal), é
uma decisão que conhece do pedido, que aprecia as posições das partes e que
dirime o litígio decidido se os pedidos e as pretensões são ou não procedentes.
Assim, a decisão pode ser julgada procedente ou improcedente. Pode
ser de 3 tipos:
- Condenação do pedido – o pedido é julgado procedente e o réu é
condenado no pedido
- Absolvição do réu do pedido –
- Decisão de condenação e absolvição do pedido – pode verificar-se
quer nos casos em que há cumulação e pedidos, em que o autor deduz vários
pedidos diferentes. Pode também ser em relação á medida de um pedido (ex.:
peço ao reu para pagar 50 mil euros, mas o tribunal entende que deve pagar
apenas 10mil) ou no caso de pedidos reconvencionais.
O tribunal não faz justiça do caso concreto, apenas se pronuncia quanto
às pretensões.
A decisão de julgamento tem força de caso julgado material, ou seja,
define definitivamente aquele litígio em relação àquelas partes, por isso, tem
um valor jurídico extra-processual e impede que aquelas partes possam voltar
a discutir aquele processo num outro processo (pois isso implicaria a não
verificação de um pressuposto processual – caso julgado).
No entanto, o julgamento não é único modo de extinção da instância, há
outros modos previsto no artigo 277º CPC e há ainda um outro modo previsto
no 278º CPC:
1. Absolvição da instância (artigo 278º CPC): a absolvição do reu da
instância é uma decisão puramente formal em que o tribunal extingue a
instância sem conhecer do pedido, sem apreciar o mérito da causa, sem
apreciar a questão de fundo. Esta decisão de absolvição da instância
determina o fim do processo

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A absolvição da instância não inibe o autor de deduzir uma outra ação
sobre o mesmo objeto, por isso, a absolvição do reu da instância extingue
aquela ação, mas não tem valor fora daquele processo.
Em certas situações limite há doutrina que fala da autoridade do caso
julgado que extrai efeitos extra-processuais da absolvição da instância, mas
depois falaremos destas exceções.
O artigo 279º, nº2 CPC vem dizer que se houver lugar á absolvição da
instância, se o autor voltar a propor uma nova ação contra o mesmo rei e o
mesmo objeto no prazo de 30 dias, os efeitos civis (especialmente quanto á
contagem de prazos, etc.) da primeira ação mantem-se na segunda ação.
O nº3 do artigo 279º CPC vem permitir que as provas produzidas
venham a ser admitidas no novo processo.
Fundamentos da absolvição da instância: Há lugar a absolvição da
instância, segundo o artigo 278º CPC e correspondem essencialmente á falta
de verificação dos pressupostos processuais, com uma exceção. Assim, salvo
um caso, o que determina a extinção da instancia é a falta de verificação de
pressuposto processuais, ou seja, o artigo 278º nº 1 CPC elenca os
pressupostos: (a) incompetência absoluta do tribunal (não pode ser
incompetência relativa porque nesses casos há a modificação subjetiva do
sujeito tribunal da instancia, ou seja, a remessa do processo para outro
tribunal); (c) falta de personalidade judiciária, incapacidade judiciária não
suprida; (d) ilegitimidade; (e) exceção dilatória corresponde, grosso modo, á
ausência de pressupostos processuais, com uma única ressalva, que é a
situação da alínea b) de quando se verifica a nulidade de todo o processo;
ilegitimidade ativa e passiva; preterição do litisconsórcio.
A lei estabelece algumas exceções a este regime de que a falta de um
pressuposto processual conduz á extinção da instância:
- Artigo 278º, nº2 CPC (corresponde ao regime da incompetência
relativa)
- Se a falta do pressuposto processual tiver sido sanada. As sanações
das exceções dilatórias são sempre possíveis nos termos do nº3 do artigo 278º
CPC. A incompetência absoluta e a falta de personalidade judiciária não são
sanáveis. Manda-se aplicar aqui o dever de o tribunal sanar as exceções
dilatórias (artigo 6º, nº2 CPC), evitando uma extinção formal da instância. O juiz
deve convidar as partes a adotarem as medidas que levem á sanação da
instância.
No artigo 278º, nº3 o CPC fala-nos da degradação da eficácia
absolutória da exceção dilatória: uma exceção dilatória, mesmo que não tenha
sido sanada, não dará lugar á extinção da instância, se esse pressuposto
processual se destine á tutela de uma das partes, nenhum outro motivo obste,
no momento de apreciação da exceção, a que se conheça do mérito da causa
e a decisão deva ser integralmente favorável a essa parte.

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Quando o motivo da absolvição da instância é decorrente da preterição
do litisconsórcio necessário (artigo 261º CPC – salvação in extremis da
instância). Enquanto a decisão não transitar em julgado é possível salvar a
instância quando se sanar o pressuposto processual.

2. Compromisso arbitral – artigo 280º CPC:


É uma convenção de arbitragem que se dirige a um litígio atual (artigo
1º, nº3 LAV). O compromisso arbitral pode dizer respeito a um litigo que ainda
não é objeto de uma ação num tribunal estadual ou a um litígio que já é objeto
de uma ação num tribunal estadual. Sendo que nesta segunda hipótese as
partes lavram no próprio processo o compromisso arbitral ou fazem-no
separadamente e juntam-no ao processo. As partes ao decidirem cometer a
decisão daquele litígio a árbitros extinguem a instância. Trata-se de uma
manifestação do princípio do dispositivo na modalidade de disponibilidade
sobre a instância.
3. Deserção da instância – artigo 281º, nº1 CPC:
A deserção da instância tem lugar quando o processo esteja parado por
mais de 6 meses por motivos imputáveis á negligencia das partes. Se o
processo estiver parado por mais de 6 meses por causa do tribunal, da
secretaria do tribunal ou de algum perito, não será determinada a deserção da
instância.
Relativamente ao nº4 a doutrina diverge sobre se a instância de extingue
findo o prazo de 6 meses e o juiz tem um despacho meramente declarativa ou
ou constitutiva, se o despacho do juiz tem efeitos constitutivos, ou seja, é o
despacho que determina a extinção da instância. O professor apoia a hipótese
de que o despacho é meramente declarativo. Também há uma posição que
nos diz que só há deserção da instância se o tribunal fizer advertência às
partes e que os 6 meses só se contam a partir dessa advertência – apesar
desta ser a doutrina maioritária, o professor não concorda.
O nº3 do artigo 281º CPC diz-nos quais as duas causas de deserção da
instância
Ex.: Pode determinar a deserção da instância a morte de uma das
partes. A morte do autor determina a suspensão do processo, mas é
necessário que alguém requeira o incidente de habilitação e que este seja
julgado.
4. Desistência, confissão e transação:
Negócios de composição do objeto do litígio e que se refletem a
sobrevivência da instância. São negócios jurídicos de direito substantivo cujos
efeitos se projetam no próprio processo e, na relação jurídica processual. são
negócios que se distinguem consoante a sua origem. A desistência provém do

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autor, a confissão provém do reu e a transação é bilateral porque provem de
todas as partes do processo.
O artigo 283º CPC diz-nos que a desistência, confissão e transação são
livres.
A transação é u contrato através do qual as partes fazer recíprocas
conceções para pôr fim ao pedido.
Porem, já sabemos que (artigo 289º, nº1 CPC) não é permitida a
confissão, desistência ou transação em que estejam em causa direto
indisponíveis. Ex.: ação de reconhecimento da paternidade. Mas o legislador
faz uma exceção no nº2 do artigo 289º CPC, em que consagra o princípio do
favor matrimoni, que é relativo á estabilidade das relações embora o direito ao
divorcio seja um direito indisponível.
A desistência da instância é um negócio unilateral apenas relativo á
relação jurídico processual (artigo 285º, nº2 CPC) – trata-se de ter o autor a
dizer que quer desistir daquele processo, mas não do direito que queria tutelar
através daquele processo. Se o réu já apresentou contestação já investiu
naquele processo, por isso já tem tempo e dinheiro investido no processo, daí
que neste caso a desistência da instância tem de resultar também da aceitação
do reu. Enquanto não for aprestada contestação a desistência da instância é
livre (artigo 286º CPC).
A desistência da instância não impede o autor de voltar a interpor uma
ação com o mesmo objeto contra o mesmo réu.
A desistência do pedido corresponde á renuncia do autor da própria
situação jurídica que queria fazer valer em tribunal, dai que a desistência do
pedido tenha efeito extra-processuais, impedindo o autor de interpor uma ação
com o mesmo objeto contra o mesmo réu.
O artigo 286º, nº2 CPC diz-nos que a desistência do pedido é livre,
porem, se tiver havido reconvenção, a desistência do pedido não afeta a
reconvenção por isso, o processo vai prosseguir com o seu objeto restrito á
apreciação do pedido reconvencional. Só não será assim se o pedido
reconvencional for dependente do pedido desistido.
Quer a desistência do pedido, quer a confissão do pedido podem ser
parciais.
A condição do pedido (artigo 283º CPC) distingue-se da confissão de
factos, que corresponde á aceitação de factos por uma das partes, por isso
pode provir quer do reu quer do autor. A confissão do pedido só pode provir do
reu ou do autor reconvinte em relação ao pedido reconvencional, pois
corresponde á aceitação do pedido.
A transação é um contrato típico e nominado previsto no artigo 1248º
CC e 283º CPC. uma vez celebrada a transação extingue-se o processo.

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a desistência do pedido, confissão do pedido, transação e desistência da
instância podem ser celebrados processualmente ou extra-processualmente
(artigo 290º CPC). A lei processual exige que estes negócios sejam feitos por
escrito (documento autêntico ou simples documento particular), mas se a
transação implica reconhecer ou dispor de direitos reais sobre imoveis temos
de respeitar da lei substantiva, ou seja, devemos optar por documento
particular autenticado ou por escritura publica. Isto também pode ser feito
processualmente, ou seja, o negócio é celebrado no próprio processo (por
termo no processo), pode ser feito no decurso de uma diligencia (em ata);
verbalmente no decurso de uma diligencia, casos em que fica registado na ata.
Se for feita extrajudicialmente, o documento tem de ser junto ao
processo e, feito isto, diz o nº3 do artigo 290º CPC se é válido e se assim o for
absolve o réu do pedido.
Se a transação tive sido feita em ata o juiz profere a absolvição
oralmente.
A esta intervenção do tribunal é a homologação – estes negócios só
produzem efeitos processuais depois de homologados. A homologação tem a
força jurídica de uma sentença, ou seja, vale como uma sentença.
Pode acontecer que tenhamos uma pluralidade de partes na ação e que
a confissão, desistência ou transação não envolva todas as partes:
- Litisconsórcio necessário: a lei exige a intervenção de todas as partes.
Neste caso, há uma simples acumulação de ações (temos uma só relação
jurídica processual mas que tem uma pluralidade de partes).
- Litisconsórcio voluntário: a lei não exige a intervenção de todas as
partes mas consente que possam intervir. Há várias relações jurídicas
processuais que estão concentradas numa só ação, mas casa uma delas tem a
sua autonomia.
O artigo 288º CPC diz-nos que no caso do litisconsórcio voluntário é livre
a confissão, desistência ou transação, limitada ao interesse de cada uma das
partes. Mas no litisconsórcio necessário não é bem assim, pois só será
admissível se envolver todas as partes da relação jurídica processual, caso
contrário só irá produzir efeito quanto a custas do processo, o processo não
finda.
O artigo 287º CPC diz respeito á desistência, confissão ou transação
das pessoas coletivas. Estas são negócios jurídicos de direito substantivo, ou
seja, regulados pelas disposições do direito civil, mas que tem manifestações
no próprio processo. Por isso, enquanto negócios jurídicos estão sujeitos as
regras de validade dos negócios jurídicos (artigo 291º CPC). esta é a regra
geral, porem o caso da representação sem poderes (quando alguém age em
nome de outrem sem ter poderes para vincular essa pessoa e, se alguém
celebrar em nome de outrem um negócio para o qual não tem poderes, então
esse negócio é ineficaz, por isso para que ele seja eficaz em relação a si o

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representado tem de ratificar o negócio). Se ao fim de um período de tempo o
negócio não for ratificado será nulo – esta é uma posição consensual na
doutrina.
Neste caso a lei prevê um regime mais flexível (artigo 291º CPC),
dizendo que se o negócio provier do mandatário judicial (artigo 44º, nº1 + 45º,
nº2 CPC). Assim, se o mandatário não tiver poderes especiais, então está a
celebrar um negócio de desistência, confissão e transação sem ter poderes
para o efeito, por isso se aplicássemos as regras do direito civil a consequência
seria a anulidade, mas o nº3 do artigo 291º CPC diz-nos que será proferida
sentença homologatória que é notificada pessoalmente ao mandante, fixando
prazo para ratificar e suprir a anulidade e se nada fizer então o silencio terá um
valor jurídico positivo (artigo 291º, nº3 CPC).
Se declarar que não ratifica o ato do mandatário então o ato não produz
nenhum efeito em relação ao representando, por isso, o negócio de
desistência, transação e confissão é nulo, a sentença homologada perde os
seus efeitos e o processo prossegue.
5. inutilidade ou impossibilidade superveniente da lide:
Esta tem de ser uma inutilidade ou uma impossibilidade que ocorre na
pendencia do processo (tornando-a supervenientemente impossível ou
supervenientemente inútil), o que faz com que ela não possa prosseguir.
A impossibilidade da ação dá-se quando o seu objeto se torna física e
legalmente impossível na pendencia da ação. Ex: o autor interpor uma ação
para entrega de um objeto e de repente sai uma lei que diz que todos aqueles
objetos são de autoridade publica.
A inutilidade dá-se quando o sue objeto deixa de existir. Ex.: ação em
que peço ao réu para me entregar um carro com uma certa matrícula e o carro
fica destruído num acidente de viação.
Renovação da instância:
O legislador prevê algumas circunstâncias em que permite que a relação
extinta possa ser ressuscitada.
Causa de renovação da instância:
- Artigo 261º, nº2 CPC - chamamento do terceiro em falta depois de
extinta a instância
- Artigo 282º, nº1 CPC – obrigação de alimentos – admite-se que possa
haver a cessação ou alteração da obrigação alimentar fixada. Ex.: quem
beneficiava dos alimentos ganha o Euromilhões; o pedido pode ser deduzido
no mesmo processo em que lhe foram decididos os alimentos fixados por
sentença judicial, renovando a instância
- Artigo 282º, nº2 CPC – obrigações duradouras que possam ser
alteradas em função de circunstâncias supervenientes.

53
Caso prático:
A sociedade “Farmácia Antunes Lda.”, com sede e administração
principal no Porto, e Carlos, residente em Penafiel e comerciante estabelecido
no Mercado Municipal de Vila Nova de Gaia, celebraram verbalmente, em Vila
do Conde, um contrato mediante o qual aquela Farmácia se comprometeu a
fornecer a este 7.500 máscaras cirúrgicas pelo preço de 7.500€ (IVA incluído),
ficando ajustado que as máscaras seriam entregues 05/02/2021 na bancada de
Carlos no Mercado Municipal e o preço colocado a pagamento em 10/02/2021
mediante cheque entregue ao balcão da Farmácia.
Apesar de efetuada a entrega das mercadorias, Carlos não colocou o
preço a pagamento na data prevista nem em qualquer outro momento.
Inconformada, a farmácia Antunes Lda. constituiu Diogo como seu advogado, o
qual propôs em nome da sua constituinte uma ação judicial com vista á
condenação de Carlos a pagar-lhe a quantia em dívida.
Proposta a referida ação, a secretaria do tribunal procedeu á citação de
Carlos mediante carta expedida por via postal registada com aviso de receção
no dia 14/04/2021 e dirigida á residência de Carlos, tendo sido aí recebida em
19/04/2021 pelo seu filho Eduardo, que assinou o aviso de receção e declarou
estar em condições de entregar o expediente a seu pai.
Carlos constituiu Francisco como seu advogado, o qual apresentou
contestação dentro do prazo legal. Na sua contestação, Francisco alegou que
Carlos pagará o preço por transferência bancária da sua conta para a conta da
Farmácia Antunes Lda.
Por despacho de 26/05/2021 o juiz do processo ordenou a Carlos que
juntasse o documento comprovativo da realização da transferência. Este
despacho foi notificado a Francisco mediante aviso expedido por intermédio da
plataforma Citius em 28/05/2021 e recebido por Francisco nessa mesma data.
Entretanto, em 31/05/2021, Diogo morreu de enfarte do miocárdio, desse
facto sendo informado o processo logo no dia 01/06/2021. Depois de reunir
com vários advogados, a Farmácia Antunes Lda. constituiu Henrique como seu
novo mandatário, mediante procuração forense outorgada a 07/06/2021, e
remetida por Henrique ao tribunal através da plataforma Citius, com
conhecimento a Francisco, no dia 09/06/2021.
Responda fundamentadamente e com a invocação de todas as normas
legais aplicáveis:
a) indique a espécie e tipo de ação a propor pela farmácia Antunes Lda.
E qual a forma processual que a mesma deve observar?
Resposta:
Distinguir ações declarativa e executivas e distinguir esta ação como
uma ação declarativa.

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É em função do pedido que vamos determinar o tipo de ação de
condenação (explicar os tipos de ação declarativas que conhecemos). Estas
podem ser ações declarativas de prestação de coisa (infungível) ou prestação
de facto, sendo que aqui está em causa uma prestação de coisa.
É pelo pedido que vamos determinar a forma processual aplicável. Se o
pedido que o autor deduz cair no âmbito de aplicação de uma forma de
processo especial então é essa a forma do processo aplicável, caso isso não
aconteça então aplicamos a forma de processo comum. Isto cai no âmbito da
ação declarativa especial apara o cumprimento de obrigações emergentes de
contratos prevista no REDEPI.
No entanto, alternativamente o autor poderia propor um procedimento de
injunção porque se trata de uma transação comercial, mas mesmo que não o
fosse cairia no âmbito do procedimento de injunção por força do artigo 1º do
diploma preambular do RADEPI.
Também seria possível optar pelos julgados de paz, se existisse algum
julgado de paz competente para reconhecer deste litígio.

Podemos levar para o teste o mapa dos julgados de paz.

Caso prático:
António, solteiro, residente no município de Vila Nova de Gaia, propôs,
por intermédio do advogado por si constituído, Eduardo, uma ação declarativa
de processo comum contra “Bentex, Transportes Internacionais de Mercadorias
Lda.”, com sede e administração principal no município de Aveiro,
peticionando à condenação desta sociedade a pagar-lhe uma indemnização de
2.500€, alegando que quando António se encontrava a pilotar o seu barco de
recreio no canal de acesso ao Porto de Leixões, sito no município de
Matosinhos, um cabo do navio Imperial, propriedade de Bentex, soltou-se da
amarra e foi projetado na direção de António, acertando-lhe e causando neste
diversos ferimentos que determinaram um impedimento para o trabalho com a
duração de 20 dias e a necessidade de realização de tratamentos médico-
cirúrgicos.
A Bentex foi regularmente citada, vindo a apresentar contestação em
29/03/2019. Na sua contestação, além de se defender em relação ao pedido de
António, a Bentex deduziu reconvenção peticionando a condenação de António
a pagar-lhe 2.600€ referente ao preço da prestação de serviços de transporte
de um contentor que Bentex prestara a António em 2018, divida essa que ainda
estava por pagar.

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A contestação foi notificada pela secretaria a Eduardo através de
comunicação expedida por via postal registada em 9/04/2019, uma vez que o
sistema Citius se encontrava indisponível naquela data.
Entretanto, Eduardo morreu a 30/04/209, facto que foi comunicado ao
tribunal logo no próprio dia, tendo António constituído novo mandatário,
Francisco, através de procuração forense que foi junta ao processo através de
requerimento apresentado via Citius nesse meso dia.
Entretanto, numa reunião que tiveram em finais desse mês de maio,
Francisco sugeriu a António que desistisse do pedido formulado nessa ação e
que intentasse contra a Bentex um procedimento de injunção, a peticionar a
mesma quantia com base nos mesmos factos porque, segundo Francisco,
estes procedimentos são bastante mais céleres do que uma ação de processo
comum e, normalmente, estão decididos em poucos meses, com muito mais
vantagem para António.
a.) Indique, com rigor e precisão, qual o tribunal competente para
conhecer da ação proposta por António.

d.) Pronuncie-se acerca da sugestão de Francisco.


Resposta:
Nos termos do artigo 285º, nº1 CPC, a desistência do pedido extingue o
direito de que o autor se queria fazer valer, por isso tem uma eficácia extra-
processual, impedindo o autor de realizar uma pretensão contra o mesmo reu
pelo mesmo objeto. Diferente disto seria se ele tivesse aconselhado a
desistência da instância, mas ai já seria necessária a aceitação do réu.
Nos termos do artigo 286º, n2 CPC a desistência do pedido não põe fim
reconvenção.
Como não estamos perante uma transação comercial nem uma
obrigação pecuniária emergente de contrato não pode ser interposta um
procedimento de injunção. Temos aqui uma obrigação pecuniária emergente
de responsabilidade civil extra-contratual por isso não pode ser deduzida sob a
forma de procedimento de injunção e se o fosse o procedimento deveria ser
indeferido ou deduzida oposição.

e.) Qual a consequência processual da morte de Eduardo?


Resposta:
O advogado do autor morreu, por isso, por força do artigo 269º, nº1, b)
CPC + 270º CPC, por isso, por aplicação das regras do artigo 40º CPC, como
esta ação tem de valor 2500€ não é admissível recurso ordinário nos termos do
artigo 629º, nº1 CPC, por isso não é obrigatória a constituição de advogado.
Assim, a morte do mandatário não determina a extinção da instância.
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57
25/03/2022
Incidentes da instância:
São os meios processuais através dos quais se opera uma modificação
da instância.
Com a citação do reu, além de se dar início à instância, opera o princípio
da estabilidade da instância. Portanto, os elementos objetivo e subjetivo
cristalizam-se. Porem, esta estabilização não é absoluta e a lei consente em
várias alterações a esses elementos (modificações subjetivas ou objetivas).
Essas modificações são operadas através dos incidentes da instância.
Esta modificação dos elementos da instância pode ser:
- Direta: quando se opera uma modificação efetiva dos elementos (ex.:
mudança de uma das partes ou mudança do tribunal, mudança do pedido ou
da causa de pedir.
- Indireta: quando formalmente não há nenhuma modificação dos
elementos da instância, mas há uma introdução nos elementos da instância de
uma mudança quanto á sua substância. Ex.: Incidentes de impedimentos,
escusas e suspeição dos juízes (formalmente não conduz a uma modificação
dos sujeitos da instância, pois o sujeito continua a ser o tribunal); incidente de
verificação do valor da causa (meio processual através do qual o tribunal vai
fixar o valor da causa, não opera de per si uma modificação formal dos
elementos da causa, mas opera uma modificação que vai influenciar o pedido e
as suas implicações noutros elementos).
Incidente processual – é um conceito afim de incidente da instância. A lei
não nos dá uma definição, mas podemos encontrar um conceito afim no artigo
7º, nº8 RCP que se refere a incidentes anómalos (trata-se de um conceito,
sobretudo, tributário). O processo tem um ritualismo próprio, mas este caminho
muitas vezes encontra desvios que não estão previstos neste ritualismo, por
isso todas as ocorrências estranhas ao desenvolvimento normal da lide, todos
os desvios ao ritualismo processual constituem incidentes processuais. Ex.: a
parte vem dizer que as páginas X a Y foram apresentadas fora de prazo e por
isso juiz vem dizer se é para desentranhar ou não.
Assim, os incidentes processuais são todos os desvios ao ritualismo
processual. Assim, o incidente da instância é também um desvio ao ritualismo
processual. o artigo 260º CPC diz-nos que citado o reu, os elementos têm de
se manter os mesmos. Dentro dos incidentes processuais, encontramos uma
espécie mais pequena que são os incidentes da instância.
Alguns incidentes da instância em especial:
- Incidente de verificação do valor da causa (artigo 296º e seguintes
CPC) – quem indica o valor provisório da causa é o autor na petição inicial e,
esse será o valor provisório enquanto o juiz não fixar o definitivo. O réu pode
impugnar o valor da causa desde que proponha um valor de substituição. O juiz

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decide nos termos do artigo 305º e 306º CPC. tem este alcance que é pôr-se
em causa o valor indicado pelo autor.
- Incidentes de intervenção de terceiro - meio processual através do qual
se opera o chamamento de terceiro para vir á ação ocupar a posição de parte.
- Incidente de habilitação – meio processual através do qual há a
substituição de uma parte
- Incidentes de liquidação – incidente através do qual se concretiza o
pedido. em certas circunstâncias o autor pode deduzir um pedido genérico (em
vez de deduzir um pedido concreto), por isso o artigo 358º CPC cria um meio
processual através do qual o autor líquida o pedido genérico. (Liquidação é o
ato através do qual a administração fiscal qualifica a obrigação tributária. Aqui
acontece o mesmo: em algum momento os pedidos genéricos têm de ser
concretizados, ou seja, tem de passar do abstrato para o concreto). Ex.:
indemnização no valor a liquidar.
- Incidente de incompetência relativa – artigo 105º, nº3 CPC – quando o
tribunal não tem competência para julgar aquela ação e a sua incompetência
resulta das regras do território.
- Incidentes e suspeição, impedimento e escusa.
Os artigos 292º a 295º CPC tem algumas normas a propósito da
tramitação dos incidentes da instância.
Estudo de alguns incidentes em particular:
1. Incidentes de habilitação – artigo 351º e seguintes CPC:
É o meio processual através do qual se opera a substituição de uma
parte. Quem figurava como parte deixa de ser parte e há um terceiro que vai
assumir a posição de parte.
O artigo 351º CPC distingue 2 grandes regimes: (1) quando está em
causa a habilitação com fundamento na morte ou extinção de alguma das
partes e, (2) a tramitação quando está em causa a cessão da coisa em direito
ou litígio.
O tribunal não pode, por sua própria iniciativa, iniciar um incidente de
intervenção, por isso é um dos casos em que o tribunal fica á espera que
desencadeiem o incidente de intervenção, com a possível consequência da
deserção da instância.
O artigo 351º CPC diz-nos quem tem capacidade para requerer o
incidente de habilitação. Qualquer uma das partes sobrevivas (contrapartes e
compartes), bem como, qualquer um dos sucessores que a parte que morreu.
O incidente de intervenção deve ser requerido contra todas as partes
sobrevivas e contra os sucessores da parte que morreu e que não deduziram
incidente de intervenção.

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O artigo 351º, nº2 CPC regula um caso especial que é o de a morte do
réu ter ocorrido antes da citação. Em bom rigor, ainda não temos uma instância
consolidada e ainda não ocorreu o principio da estabilidade da instancia porque
o reu ainda não foi citado, por isso a melhor solução seria dizer que o reu não
tem personalidade judiciária por usso extinguir-se-ia a instancia, mas o
legislador achou que isto seria muito desvantajoso, por isso permite que se
faça uma habilitação dos sucessores da parte que morreu.
O artigo 355º CPC regula a habilitação no caso de se desconhecer que
são os sucessores do réu falecido. Assim, se os sucessores forem incertos são
citados por edital porque não se conhece a sua identidade. Mas se a herança
tiver personalidade judiciária (herança jacente – herança que ainda não foi
aceite) poderá ser esta habilitada.
O CPC regula duas regras de tramitação dos incidentes de intervenção:
- Tramitação por apenso (artigo 352º, nº1 CPC) - a secretaria judicial vai
abrir um novo dossiê separado do processo principal para tramitar apenas esse
incidente e, esse dossiê ficara apensado ao do processo principal. Habilitação
motivada pela extinção de uma pessoa coletiva é sempre tramitada por apenso
(artigo 353º, nº3 CPC).
A habilitação de sucessores de pessoas singulares é tramitada
diretamente por apenso (artigo 352º, nº2 CPC) se a legitimidade dos
sucessores não estiver reconhecida (artigo 353º, nº1 CPC):
- Se estiver pendente processo de inventário (partilhas litigiosas)
o artigo 353º, nº2 CPC diz-nos que este título do processo de
intervenção é vinculativo.
O artigo 352º diz-nos que independentemente da forma de habilitação,
os requeridos (aqueles contra quem o incidente foi requerido) são citados para
o incidente de intervenção, exceto se já tiverem sido citados para a causa.

60
31/03/2022
A tramitação por apenso dá-se quando não está ainda reconhecida a
legitimidade dos sucessores fora do processo (noutro processo ou
notarialmente) ou quando esteja em causa extinção de uma pessoa coletiva
(artigo 352º, nº2; artigo 353, nº1 e 4º CPC)
A habilitação pode ainda dar-se num caso distinto daquele que temos
estado a falar (quando se dá a morte de uma parte): a habilitação pode ainda
se dar para colmatar não uma situação de superveniente perda de
personalidade judiciária, mas uma situação de superveniente perda de
legitimidade processual (legitimidade singular):
Quando por motivo da cessão ou transmissão da coisa que é objeto do
litígio uma das partes deixa de ter legitimidade na causa – cessão ou
transmissão da coisa ou direito em litígio (artigo 263º, nº1 e 3 CPC). O código
vem fazer uma ficção, determinando que mantem a legitimidade enquanto o
adquirente dessa coisa ou direito em litígio não tem legitimidade para tomar o
seu lugar.
Ex.: proponho uma ação no tribunal em que invoco que a propriedade de
um terreno é meu em relação a um réu R, mas esse Réu vende o terreno a C.
a partir do momento em que o réu vende e entrega o prédio a terceiro deixa de
retirar uma vantagem direta imediata da pendencia da causa. Quer o autor quer
o réu podem transmitir a coisa em litígio.
A habilitação é sempre admitida quando haja acordo das partes,
deixando de ser admitida se a transmissão só teve como finalidade dificultar a
vida da outra parte no processo.
O nº3 do artigo 263º CPC suscita uma situação de duvidosa
constitucionalidade: mesmo que não tenha havido habilitação o adquirente é
vinculado pela sentença, mesmo que não tenha havido habilitação no
processo.
Este incidente de habilitação regulação pelo artigo 356º CPC: a
legitimidade ativa para deduzir este incidente é do transmitente ou cedente, …
Pode ser tramitada por apenso (artigo 356º, nº1, a) CPC) e, se o tribunal
verificar se a coisa em litigio foi transmitida então o adquirente passa a assumir
a posição de parte, mas isto não acontecer se ficar provada a finalidade
simulada de dificultar a vida da outra parte no processo (artigo 356, nº1, b)
CPC).
Incidente de intervenção de terceiros:
É o instituto processual através do qual se permite operara a intervenção
de um terceiro que não é parte na ação a vir á ação assumir a posição de
parte.

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Na habilitação há a substituição de uma das partes por um terceiro, mas
na intervenção de terceiros mantem-se as partes originárias na causa e é
adicionada uma nova parte que não o era originalmente na causa.
Os institutos de intervenção de terceiros aceita em 3 grandes linhas
processuais:
- Princípio da economia de processo - tentar resolver num só processo o
maior número possível de litígios, evitando que várias ações sejam propostas
para tratar do mesmo assunto ou de assuntos muito próximos uns dos outros.
- Aproveitamento de atos processuais – pretende-se evitar que não haja
lugar á repetição de perícias, testemunhos, etc.
- Princípio Pro actione – o principio da prevalência da decisão de mérito
aplica-se sobretudo quando está em causa suprir a ilegitimidade decorrente da
preterição do litisconsórcio necessário.
- Preservar a utilidade da decisão judicial – vale sobretudo para os
incidentes de oposição.
Modalidades de incidentes de intervenção:
Incidentes de intervenção principal vrs. incidentes de intervenção
acessória consoante se destinem a chamar um terceiro a assumir na causa a
posição de parte principal ou a posição de parte acessória.
Incidentes de intervenção espontânea vrs incidente de intervenção
provocada: distingue-se conforme quem toma a iniciativa de deduzir o
incidente. É de intervenção espontânea quando é o próprio terceiro a deduzir o
incidente solicitando a sua admissão como parte. É intervenção provocada
quando é alguma das partes originárias que vem solicitar o chamamento de
terceiro que será ou não admitido no processo independentemente da sua
vontade.
Podemos ter várias espécies de incidentes de intervenção:
- Intervenção principal espontânea
- Intervenção principal provocada
- Intervenção acessória provocada
- Assistência
- Intervenção acessória do Ministério publico – imposta por lei
- Oposição espontânea
- Oposição provocada
- Oposição por embargo de terceiros – é uma figura muito usada no
processo executivo, mas na opinião do professor não é um verdadeiro
incidente de intervenção. Permite a um terceiro, que invoque ser titular de um

62
direito real, ir ao tribunal dizer que o bem é dele. O terceiro que deduz
embargos de terceiro nunca vai ser parte no processo, vai ser sempre um
terceiro que vai dizer “levantem essa decisão porque o bem é meu”. O terceiro
é um embargante, nunca assumirá a posição de parte.
Incidente de intervenção principal espontânea:
É um incidente dirigido á admissão de um terceiro como parte principal
no processo, que parte da iniciativa do terceiro. O terceiro vem a processo
solicitar consociar-se com o autor ou com o reu consoante o interesse que tem
na causa.
O artigo 311º CPC vem dizer-nos que um terceiro que tive um interesse
igual ao interesse do autor ou do réu, nos termos que regulam o litisconsórcio
voluntário ou não voluntário pode vir ao processo dizer que quer ser parte.
Consoante o tipo de intervenção que o terceiro quer fazer, o regime
processual é distinto. Se quiser intervir mediante a apresentação de um
articulado próprio, então essa matéria é regulada no artigo 314º CPC. Se
apresentar o seu articulado próprio, primeiro o juiz faz uma apreciação liminar
(artigo 315º CPC). se não houver motivo de rejeição liminar, então o juiz vai
ordenar a notificação das partes primitivas para responder. O nº2 do artigo 315º
CPC vem dizer que os articulados que o terceiro apresentou podem ter de ter
respostas.
Na situação em que o terceiro adere ao articulado já apresentado pelas
partes (artigo 313º CPC). A admissibilidade do incidente de intervenção
espontânea por mera adesão é sempre possível até à causa estar efetivamente
julgada e faz-se por simples requerimento. Se for admitido, o interveniente
aceita o processo tal como ele está, ou seja, não pode corrigir nada para trás
(nº3).
Não será admitida a intervenção de um terceiro se a parte contrária
alegar fundamente se o terceiro vem requerer intervenção quando o estudo de
processo já não lhe permite fazer defesa pessoal. Ex.: A adere a petição de B,
pois é cocredor. No entanto é crédito que A tem em relação ao réu já
prescreveu (artigo 313º, nº4 CPC).
O estatuto processual do interveniente (artigo 312º CPC)
Incidente de intervenção principal provocada:
Destina-se a chamar ou admitir um terceiro como parte principal na
causa, mas a iniciativa do chamamento do terceiro parte de alguma das partes
originárias.
Pode surgir com 3 fundamentos distintos:
- Objetivo de suprir a preterição do litisconsórcio necessário – pode ser
da iniciativa do autor como do réu.

63
- Há um conjunto de circunstâncias em que pode ser requerido apenas
pelo autor
- Há um conjunto de outras circunstâncias em que apenas pode ser
requerido pelo reu.
O artigo 316º CPC diz-nos que, ocorrendo preterição do litisconsórcio
necessário (leal, convencional, conjugal), qualquer uma das partes pode
requerer o chamamento do interessado que tem legitimidade para intervir na
causa, seja como seu associado, seja como associado da parte contrária.
Qualquer uma das partes pode requerer o chamamento do terceiro seja para
ser admitido como seu comparte, seja para ser admitido como comparte da
parte oposta.
O artigo 318, nº1, a) CPC vem dizer-nos que há 2 timings para a
oportunidade de chamamento:
1) até á fase dos articulados
2) no artigo 261º CPC – salvação in extremis da instância – apenas
permite que o incidente seja deduzido pelo autor.
Estes são os 2 momentos que a lei refere, mas se a norma fosse
interpretada assim literalmente, seria um pouco abstruso. Se assim fosse,
haveriam várias inutilidades no processo, por isso temos de ler esta norma de
acordo com o artigo 6º, nº2 CPC, que nos diz que se o juiz vir que há a falta de
um pressuposto processual e que não depende dele a sanação desse
pressuposto, então o juiz convidará as partes a deduzir esse incidente.
Teríamos aqui uma impossibilidade, por isso, se houver um convite do juiz, vai
ter de ser possível á parte deduzir um incidente de intervenção acessória
principal após o termos dos articulados e antes da decisão final.
Questiona-se na doutrina se é possível deduzir um incidente de
intervenção acessória principal na petição inicial. A jurisprudência tem vindo a
aceitar que o autor que já sabe que tem de interpor a ação em conjunto com
outras pessoas e que essas pessoas não tem a legitimidade, por isso o autor já
pode deduzir um incidente de intervenção principal de terceiros na petição
inicial. Isto é possível devido a questões de ordem pragmática.
O incidente de intervenção principal provocada pode ainda ser deduzido
por iniciativa do autor nos casos de litisconsórcio voluntário (artigo 316º, nº2
CPC). Apenas o autor pode requerer a intervenção de terceiro para aquelas
situações em que não haja demandado inicialmente ou quando queira
demandar um terceiro para dirigir um pedido de litisconsórcio subsidiário, em
que pretende dirigir um pedido contra um terceiro que venha a assumir a
posição de réu.
Nos casos do artigo 316º, nº2 CPC o pedido de intervenção principal
provocada pode ser deduzido até ao termo da fase dos articulados (artigo 318º,
nº1, b) CPC).

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O incidente de intervenção principal provocada pode ser deduzido por
iniciativa do réu (artigo 316º, nº3 CPC) quando tenha um interesse atendível
(ex.: chamar outros devedores para assumirem a posição de réu na causa, de
modo a que possam ser todos condenados de uma só vez) ou para provocar a
intervenção de outros possíveis contitulares do direito invocado pelo autor (ex.:
há 3 credores mas só um é que interpôs a ação, por isso vai-se chamar os
outros para garantir que não vai ter 3 ações sobre o mesmo).
O artigo 317º CPC apresenta-nos casos especiais em que o réu pode
deduzir o incidente de intervenção provocada, como é o caso da efetivação do
direito de regresso em que a prestação a exigida a algum dos condevedores
solidários e, por isso o chamamento pode ter por objetivo o reconhecimento e a
condenação do direito de regresso que lhe possa vir a assistir, no caso de
realizar a totalidade da prestação. Sendo que (de acordo com o nº2 CPC) se
apenas for impugnada a solidariedade da divida e a pretensão do autor puder
de imediato ser julgada procedente, é o primitivo réu logo condenado no pedido
no despacho saneador, prosseguindo a causa entre o autor do chamamento e
o chamado, circunscrita á questão do direito de regresso.
Requerido o incidente, diz o nº2 do artigo 318º CPC que é ouvida a parte
que não suscitou o incidente. A lei não diz qual é o prazo para ouvir a parte
contrária (artigo 149º CPC). o juiz decide o chamamento, indeferindo-o ou
admitindo o chamamento.
Em principio, o terceiro desconhece que está a decorrer um processo
em que ele é parte, por isso, se for admitido chamamento, tem de ser chamado
a intervir no processo por intermédio da citação (artigo 319º CPC), quer venha
a assumir na causa a posição de réu, quer venha a assumir na causa a posição
de autor.
De acordo com o artigo 319º, nº4 CPC, o interveniente citado pode
assumir uma petição inicial ou uma contestação (consoante esteja do lado ativo
ou passivo) ou aderir aos articulados do autor ou do réu. Para isto ele tem de
decidir se o vai fazer no prazo de contestação. Se nada disser a ação procede
sem a sua intervenção, aceitando como seus os articulados que foram
apresentados pela parte a que está associado.
O artigo 320º CPC diz-nos que o terceiro que tem a intervenção como
parte também será vinculado pela sentença, mesmo que não tenha qualquer
participação na causa.
Incidente de intervenção acessória:
O objetivo é chamar um terceiro a intervir na causa como parte
acessória.
Temos 3 incidentes:
1 - Incidente de intervenção espontânea – incidente de assistência –
há um terceiro que solicita ser admitido como parte acessória. O terceiro, se
admitido, assume a posição processual de assistente (artigo 326º, nº1 CPC – o

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assistente é o terceiro que vem pedir ao tribunal para intervir como parte para
auxiliar uma parte).
Para ser assistente, tem de ser alguém que tenha um interesse
juridicamente relevante em que a decisão da ação seja favorável a uma das
partes (autor ou réu). O nº2 do artigo 326º CPC diz-nos que ter um interesse
jurídico que depende em alguma medida da posição que o assistido está a
sustentar no processo. Não basta invocar um interesse moral ou um interesse
de identificação ou simpatia numa das partes do processo para se poder ser
assistente. É preciso haver uma consistência jurídica e económica na posição
do assistente.
Ex.: é parte na ação uma sociedade comercial em que este reivindica
2mil euros e um acionista reivindica o interesse. Ele tem um interesse jurídico,
porque a consistência pratica e económica da sua posição jurídica na
sociedade, por isso ele tem interesse jurídico para se constituir como
assistente. Este não é um exemplo consensual na doutrina.
O artigo 327º, nº1 CPC diz-nos que o incidente de intervenção
espontânea pode ser deduzido a todo o tempo, mas o assistente tem de aceitar
o processo no estado em que está e a sua intervenção é requerida mediante
requerimento especial, articulado que ele quer assistir não apresentou ou
alegação que o assistido tivesse em tempo de oferecer.
Se o juiz entender que não estão reunidos os pressupostos da
assistência, então pode ser indeferida liminarmente, haja ou não oposição o
juiz decide imediatamente se a assistência é legitima (artigo 327º CPC)
Se a assistência for admitida então o assistente passa a ser parte
acessória no processo (artigo 328º CPC) – o assistente é uma figura auxiliar,
porque está lá para prosseguir um interesse próprio, mas um interesse
subordinado á posição das partes. Se existirem 3 réus, o assistente pode ser
de apenas um deles. Assim, a posição de assistente é uma posição de
subordinação processual, assim, não podem praticar atos que a parte principal
já tenha sido impedida de praticar, nem assumir atitude que está em oposição
com o assistido. Havendo divergência insanável entre a posição da parte
principal e do assistente, prevalece a posição do assistido.
O artigo 329º CPC permite que o assistente se substitua
processualmente em relação ao assistido em casos de revelia. Assim, o
assistente pode assumir provisoriamente a posição do assistido no processo.
O artigo 332º CPC vem dizer que a sentença na causa constitui caso
julgado em relação ao assistente, por isso, este fica vinculado pela sentença
proferida no processo e está obrigado aceitar aquela sentença em ações em qu
seja interveniente. As exceções da alínea a) e da alínea b) podem ser
invocadas em causas posteriores.

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2 - Incidente de intervenção provocada – é uma das partes que
suscita a intervenção de um terceiro para vir á ação assumir a intervenção
como parte acessória. O artigo 321º CPC diz-nos que este é um incidente de
iniciativa exclusiva do réu e que esta funcionalizado a uma única
funcionalidade: admitir o terceiro a uma funcionalidade do réu sempre que este
invoque que…
O réu quer já vincular o terceiro ao que se tiver discutido naquela ação
ara uma eventual ação de regresso. Assim, o incidente de intervenção
acessória provocada é deduzido nos termos do 322º, nº1 na contestação ou
em requerimento autónomo no prazo que este interpõe para contestação.
O juiz ouve a pare contrária e aprecia em decisão irrecorrível (artigo
322º, nº2 CPC). O juiz indeferirá o chamamento se se convencer que a
intervenção perturba indevidamente o normal funcionamento do processo e
face às razões invocadas, acredite na inviabilidade da ação de regresso e da
sua efetiva independência das questões a decidir da causa principal.
O artigo 323º, nº1 CPC diz-nos qual é a posição processual do terceiro a
intervir na ação principal, dizendo-nos que este passa a ter a posição de
assistente, aplicando-se com as necessárias adaptações as disposições do
artigo 328º CPC.
Admitindo o chamamento do terceiro como parte acessória, este é citado
para intervir como parte acessória na causa, podendo apresentar a sua própria
contestação.
O artigo 323º, nº3 CPC permite que se ele próprio tiver ação de regresso
contra outrem poderá chamá-lo. Assim, o terceiro admitido que foi citado para
contestar chamando um assistente próprio – sub-incidente de intervenção
acessória provocada.
Porem o papel que a parte acessória tem na ação limita-se á discussões
relativas á ação de regresso invocada como fundamento (artigo 321º CPC).
A sentença proferida na ação constitui caso julgado para o chamado
mas apenas no que diz respeito para as ações que relevem para uma eventual
ação de regresso (artigo 323º, nº4 CPC).
O artigo 324º CPC vem dizer que ao fim de 60 dias pode-se impor uma
limitação, mostrando que os que já forem citados veem o seu prazo terminado,
não podendo haver mais citações de terceiros.
3 - Incidente de intervenção acessória – a lei suscita a intervenção o
do Ministério publico como parte na causa.
O MP pode ter no processo cível intervenções a vários títulos:
- Como parte
- Como parte principal:

67
- Representante judiciário de uma parte judicial
(representante de incapazes);
- Representante do Estado;
- Representante dos incertos
- Representação de ausentes
- Autor publico
- Autor popular
- Como parte acessória – artigo 10º, nº2 EMP
- Como interveniente acidental:
- Amicus curiae – dá um parecer/opinião relativamente ao interesse
das partes.

O que vamos agora estudar é a intervenção do MP como parte


acessória - artigo 10º, nº2 EMP (Estatuto do Ministério Publico). O MP intervém
acessoriamente quando não seja interveniente como parte principal ou quando
estão interesses na causa das regiões autónomas, autarquias locais, pessoas
coletivas publicas, pessoas coletivas de utilidade publica (ex.. IPSS,
Misericórdia, associação desportiva), incapazes ou ausentes (que não esteja já
representado pelo MP). Em todas estas circunstâncias o MP intervém como
parte acessória, desde que este não possa intervir como parte principal.
O que cabe ao MP fazer como parte acessória? Zelar pelos interesses
da parte que ele está a associar (artigo 10º, nº2 EMP).
A intervenção acessória do MP está regulada no CPC no artigo 325º
CPC. Como inicio da instancia o MP é notificado oficiosamente para intervir
oficiosamente (esta é uma operação que depende de secretaria). Por isso é
que este incidente não é um incidente de intervenção acessória, nem é um
incidente de intervenção provocada. O MP intervém na causa como assistente
promovendo o que tiver por conveniente os interesses da parte assistida (artigo
325º CPC), mas diferentemente dos assistente, o MP não está subordinado ao
assistido, tendo legitimidade para recorrer mesmo que o assistido não queira
(artigo 325º, nº3 CPC), podendo praticar no interesses da partes assistida
aquilo que considera importante, mesmo que isso não sejam os interesses da
parte assistida.
O artigo 24º, nº2 CPC diz-nos que em situações em que estão em causa
bens ou direitos do estado, mas que estão na administração ou fricção de
entidades autónomas, estas podem constituir advogado. Havendo divergência
prevalece o MP. Este é um incidente de intervenção acessória oficiosa, pois
decorre da lei que a entidade que esteja a usar ou fruir direitos do estado

68
Incidente de oposição:
O opoente é um terceiro que tem a posição de parte mas que pretende
fazer valer um direito que se opõe ao do autor e ao do réu. (artigo 333º CPC)
A oposição provocada (artigo 338º CPC) acontece, por exemplo quando:
A interpõe contra B uma ação peticionando 50 mil euros, mas B sabe que há
outro individuo que diz que a peça é dele. Assim, pode-se solicitar o
chamamento do terceiro para ocupar a posição de opoente fazendo com que o
tribunal decida a quem B tem de pagar.

Atos processuais:
São todos os atos que tem de ser praticados no processo e que dizem
respeito á sua tramitação, ou então, atos externos ao processo mas cujos
efeitos se produzem também no processo.
Atos praticados pelas partes, tribunal, auxiliares, intervenientes das
partes, relatórios de peritos, diligencias realizadas pelas forças de segurança,
etc.
Os atos processuais não precisam de projetar todos os seus efeitos
exclusivamente no processo, basta que produzam efeitos no processo: petição
inicial, decisão de uma questão prejudicial, contrato de transação celebrado
extra-processualmente, desistência do pedido extra-processualmente.
O código trata dos atos processuais em vários momentos:
Atos processuais em geral: (artigo 131º, nº1 CPC)
O artigo 131º, nº1 CPC estabelece o princípio da simplicidade dos atos
processuais.
O princípio do idioma (artigo 133º CPC) também é muito importante
relativamente aos atos processuais. É obrigatório o uso de língua portuguesa,
no entanto há uma exceção no nº2 do artigo 133º CPC que é o facto de um
estrangeiro que não saiba a língua portuguesa poder exprimir-se na sua língua
(esta intermediação é exigida). No entanto esta norma tem um problema: “os
estrangeiros” – nem todos os portugueses tem de saber falar português, por
isso, deve ser feita uma interpretação extensiva, pois também se deve aplicar
aos portugueses que não dominem a língua portuguesa.
No caso de documentos que sejam redigidos em língua estrageira, o
artigo134º CPC diz-nos que deve ser junta a tradução, não sendo obrigatória
que a tradução seja certificada e, também não é obrigatório que se junte a
tradução (ex.: castelhano ou inglês coloquial).
Relativamente tramitação de atos processuais, atualmente, existe a
tramitação eletrónica do processo imposta pelo artigo 132º CPC.

69
Quanto ao lugar da prática dos atos (artigo 143º CPC). os atos em
princípio devem ser praticados no tribunal, mas devem ser praticados no lugar
onde sejam mais uteis. Mas hoje a maioria dos atos é praticada em casa e
posteriormente registados na plataforma Citius.
O artigo 130º CPC diz-nos que não é licita praticar atos processuais que
não tenham um fim útil para o processo.
Atos processuais dos magistrados:
Por magistrados entendemos 2 categorias:
- Juízes – magistratura judicial
- Magistrados do MP – magistratura do
MP
Os atos do tribunal podem assumir uma de 3 formas possíveis:
despacho, sentença (artigo 152º, nº2 CPC) ou acórdão.
A sentença é o ato processual que decide uma causa ou um incidente
com uma estrutura semelhante a uma causa.
Acórdãos são as decisões dos tribunais colegiais (artigo 152º, nº3). Em
primeira instância não há tribunais coletivos (artigo 589º CPC).
Despachos são todos os atos que o tribunal profere que não sejam
sentenças nem acórdãos (artigo 152º CPC). os despachos não admitem
recurso. São dividis em 2 categorias:
- Despachos de mero expediente: destinam-se a regular a
tramitação burocrática da causa e não afetam os direitos ou poderes
processuais na causa das partes (artigo 152º, nº4 CPC).
- Despachos proferidos no uso legal de poderes discricionários.
Os atos dos magistrados estão sujeitos a requisitos formais:
- Artigos 154º CPC- tem de ser fundamentados, o que traduz o dever de
fundamentação dos atos dos tribunais (artigo 205º CRP)
- Artigo 153º, nº1 CPC – atos datilografados
- Artigo 153º, nº33 CPC – os atos devem ser transcritos na ata da
audiência, podendo ser gravadas. Em princípio todos os requerimentos e todos
os despachos ficam preenchidos na gravação da audiência (artigo 155º CPC).
- Artigo 153º, nº4 – registo das sentenças.
A lei da especial atenção a 2 tipos de atos:
1 - Ato que agenda a audiência:

70
Antes de marcar a audiência o juiz deve combinar uma data com os
advogados das partes – artigo 151º CPC. Exceção: Artigo 3º RADEPI – nas
ações de valor inferior a metade da alçada dos tribunais de primeira instância.
Se o juiz não cumprir o artigo 151º aplica-se o artigo 153º CPC.
O nº4 do artigo 151º CPC diz que o tribunal deve evitar situações de
embaraço para a justiça dando logo pronto conhecimento das impossibilidades
do tribunal.
2 - Atos relativos á ordem da audiência:
O artigo 150º CPC diz-nos que o tribunal tem um poder de manter a
ordem e interpor a providencias necessária contra quem perturbar a ordem
(artigo 150º CPC). Devemos consultar o artigo 27º do regulamento das custas
processuais relativamente às multas. Estas são sanções processuais, que não
afastam a responsabilidade civil que aquela causa invocar.
De acordo com o nº7 o tribunal pode requerer forças de segurança para
estarem presentes na audiência, ficando nessa altura subordinadas aos
poderes do juiz.
O artigo 156º CPC regula o prazo supletivo para a prática de atos
processuais pelos magistrados. Sempre que não houver norma especifica a
regular o prazo é de 10 dias, salvo nos casos do nº3 do artigo 156º CPC.

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01/04/2022
Atos processuais das partes:
Estão regulados no artigo 144º e seguintes CPC. são atos processuais
das partes todos aqueles atos que as partes praticam no processo.
No entanto, a lei distingue, no artigo 147º, nº1 CPC os articulados que
são as peças em que as partes fundamentam a defesa e formulam os pedidos
correspondentes. A importância desta classificação resulta do nº2, que nos diz
que se houver mandatário constituído ser obrigatória a dedução por artigos dos
factos que interessam à fundamentação do pedido ou à defesa.
Assim cada facto tem de ser especificado num artigo próprio, sob a
forma de artigo. A lei apenas exige isto no caso dos factos, não o exige para a
matéria de direito, ou seja, não é obrigatório alegar os elementos jurídicos sob
a forma de artigos, mas é muito comum na prática forense de que assim seja.
Os atos processuais praticados pelas partes, são obrigatoriamente, nos
termos do artigo 144º CPC praticados através da plataforma Citius, valendo
como data da prática de um facto a data da respetiva expedição. Isto abrange
não apenas os atos processuais, mas também os elementos que os
acompanhem que devem ser digitalizados e remetidos remotamente. Não é
necessário juntar os documentos originais, mas o tribunal pode determinar que
estes sejam juntos de acordo com o nº5 do artigo 144º CPC.
Quando não é obrigatória a constituição de advogado e quando não há
advogado constituído a parte não tem acesso á credencial no Citius e por isso
não pode mandar as peças através desta forma, por isso, nos termos do nº7 do
artigo 144º CPC, as partes podem estregar as peças de outras formas:
- Entrega na secretaria judicial
- Entrega por via eletrónica (isto ainda não tem aplicação prática) –
basicamente criam-se credenciais de acesso ao Citius para particulares através
da chave move digital.
- Envio através de telecópia (FAX) – a jurisprudência veio entender que
se conta a data em que se desligou a chamada telefónica
- Remessa pelo correio sob registo (não é preciso aviso de receção) –
vale como data aquela em que a carta foi entregue ao correio. Deve-se guardar
o envelope da correspondência, pois é esse que conta como data da prática do
ato.
O nº8 permite a utilização dos meios previstos no nº7 quando haja justo
impedimento na utilização da plataforma Citius. A lei não é clara se abrange só
as situações em que a plataforma está em baixo ou se abrange também as
situações em que há uma dificuldade do mandatário em aceder á interneyt ou
algo do género. Assim, deve ser feita uma interpretação extensiva.

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O nº9 regula a apresentação de peças processuais pelos peritos e
outros intervenientes processuais não representados por mandatários.
O artigo 145º CPC diz-nos que quando o ato processual está sujeito ao
pagamento de taxa de justiça, então deve ser comprovado o pagamento da
taxa de justiça. hoje em dia basta indicar o nº de referencia da taxa e justiça
que o sistema deteta se ela está ou não paga. Se tiver isenção da taxa de
justiça terá de provar essa isenção.
O pagamento inferior a taxa de justiça é equivalente ao seu não
pagamento. Isso terá consequência que depois veremos.
De acordo com o artigo 146º CPC, quando existem erros meramente
formais, que não tem a ver com a substancia da peça, esses podem ser
retificados sem qualquer necessidade de despacho do tribunal.
O nº2 do artigo146º CPC vem permitir que possa haver lugar à correção
formal de situações que não implicam mudar o conteúdo substancial da peça,
mas que vão um bocadinho além de erros de calculo ou de escrita.
Os vícios substanciais não podem ser corrigidos ou retificados exceto
em termos muito limitados, como veremos mais adiante.
O artigo 149º CPC regula o prazo geral supletivo para a pratica de atos
pelas partes. Esse prazo é de 10 dias, não havendo norma reguladora da
matéria para aquele concreto tipo de ato. Também é de 10 dias o prazo para a
parte responder ao que foi enviado pela parte contrária. É a partir do dia em
que se considera notificado um determinado ato que começa a correr o prazo
para a sua resposta.
Atos da secretaria – artigo 157º e seguintes:
A secretaria não é o tribunal – é a repartição administrativa que dá apoio
ao tribunal.
A secretaria tem como função assegurar todos os aspetos burocráticos
associados ao processo (nº1) e executar os despachos judiciais e o
cumprimento das orientações do juiz (nº2). A secretaria deve ser proativa.
Apesar de a secretaria ser um departamento administrativo no âmbito de
cada processo, a secretaria e os funcionários judiciais estão dependentes dos
juízes titulares do processo – há uma relação de dependência no âmbito de
cada processo, ou seja, os funcionários podem receber ordens dos juízes.
O artigo 157º, nº6 traz uma salvaguarda dos direitos das partes e, nesse
sentido o nº5 diz-nos que há sempre reclamação para o juiz dos atos
praticados pela secretaria.
O artigo 162º CPC é uma norma de prazo geral supletivo para a prática
dos atos da secretaria – o prazo é de 5 dias. Porem, nos processos urgentes e
em relação a outros atos elencados no nº2, a secretaria deve praticar o ato no
próprio dia, sendo possível.

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A secretaria comunica os atos processuais ás partes ou a terceiros
através de vários instrumentos (artigo 172º, nº1 CPC):
- Carta precatória ou rogatória – dependendo se é para tribunal
português ou estrangeiro
- Mandado – quando a comunicação se dirige a um serviço ou entidade
que está funcionalmente subordinada ao tribunal. (ex.: mandado de
comparência sobre custódia).
- Citações e Notificações – falaremos com mais detalhe na próxima
semana
Atos processuais em especial:
- Distribuição (artigo 203º e seguintes CPC) – nos tribunais, secções ou
instâncias em que haja mais do que um juiz é através deste ato processual
qual o juiz que vai ficar encarregue daquele processo. Portanto é o ato que tem
o objetivo de repartir com igualdade o serviço.
O critério de igualdade que aqui está é meramente quantitativo, não é
qualitativo.
Antigamente, a distribuição era uma operação muito complexa, mas
atualmente é feita diariamente de forma eletrónica. É o primeiro ato processual
pelo qual passa o processo após ser apresentada a petição inicial.
Permite saber qual a unidade da secretaria e qua o funcionário que vai
acompanhar o…

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07/04/2022
Citações – artigo 219º CPC:
A citação normalmente é estudada no capítulo da ação declarativa, pois
é o que se segue á petição inicial. Não estamos a tratá-la nesse contexto
porque a citação é um ato processual geral que se pode verificar em qualquer
forma processual.
Artigo 219º, nº1 CPC – a citação é o ato pelo qual se dá conhecimento
ao réu de que foi proposta contra ele determinada ação e se chama ao
processo para se defender. Esta é a função principal da citação, uma função de
convocatória e uma função de ciência. A função de ciência é dar conhecimento
ao reu de que foi proposta contra ele uma determinada ação. A função de
convocatória serve para chamá-lo ao processo para se defender, ou seja, serve
para convocar o réu pra vir ao processo defender-se da pretensão que foi
deduzida contra ele.
A citação tem uma função complementar porque não se esgota no
chamamento e conhecimento do réu de que foi proposta contra ele uma ação,
também se aplica aos incidentes de intervenção provocada de terceiros, bem
como nos incidentes de habilitação quanto aos requeridos que ainda não sejam
parte na causa.
Embora a citação seja um ato primordialmente dirigido ao reu, também
pode servir a chamar ao processo pela primeira vez alguma pessoa interessa
na causa.
Notificações – artigo 219º CPC:
Emprega-se a notificação para chamar alguém a juízo em qualquer outro
caso que não se deva empregar a citação (ex.: convocar uma testemunha para
ir depor; convocar um perito para ir a tribunal; etc.).
Aa notificação serve, ainda, para dar conhecimento a alguém de um
facto processual. Isto abrange uma variedade de situações processuais (ex.:
dar conhecimento de um despacho; dar conhecimento de que uma parte
acrescentou um documento no processo; etc.)
No CPC o legislador tem um conjunto de normas reguladoras em geral
das citações e das notificações no artigo 219º, nº3 CPC. Qualquer citação e
qualquer notificação tem de ser completa – princípio da completude – tem de
ser acompanhada de todos os documentos necessários á notificação dos atos
e, bem assim, acompanhadas de todos os documentos.
O artigo 224º CPC tem duas normas gerais relativas á citação e á
notificação que dizem respeito ao lugar da sua realização – não há um lugar
fixo, qualquer lugar é valido, mas existem algumas exceções: templos
(religiosos) ou em ato de serviço publico que não possa ser interrompido (ex.:
cirurgião que está no hospital a fazer uma cirurgia).
Citações em especial:

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Regra da oficiosidade da citação – artigo 226º, nº1 CPC: opõe-se á
regra do despacho prévio que vigorava no código anterior antes da reforma de
95/96. Agora, é a secretaria que promove as diligencias para a citação do réu,
sem que seja necessária uma ordem do juiz para a citação do réu.
Se a secretaria encontrar dificuldades para a realização da citação, a
secretaria deve oficiosamente procurar a resolução dessas situações, sem que
seja necessária a intervenção do juiz.
O CPC manteve situações de exceções a esta regra, no nº4 do artigo
226º CPC – as citações com despacho prévio.
Na alínea c) do nº4 do artigo 226º CPC – há certas ações em que a lei
nada que seja publicado um anuncio para qualquer interessado poder intervir
na causa, por exemplo, nas ações populares para defesa de interesses difusos.
Alínea d.) – incidentes de intervenção voluntária e incidentes de
habilitação (ex.: artigo 352º, nº1 CPC).
O artigo 590º, nº1 CPC diz-nos que a petição é indeferida quando se
tratar de uma das situações em que a citação tem de ser precedida de
despacho limitar, quando se tratam de situações em que o pedido seja
manifestamente imprudente, quando se manifeste de forma evidente a uma
exceção dilatória insuprível e de conhecimento oficioso (grosso modo: falta de
um pressuposto processual). Isto só ocorre nos casos em que, por força da lei,
a citação deva ser precedida de despacho do juiz. Quando assim seja, o juiz
profere o despacho liminar em que ordena a realização da citação ou em que
profere despacho liminar.
Se o juiz ordenar a realização da citação, o artigo 226º, nº5 CPC vem
dizer que isto não impede que mais tarde se possa conhecer das questões que
deveriam ter levado ao despacho liminar. Ocorre absolvição do pedido quando
o pedido é improcedente e, ocorre absolvição da instância quando acontecem
exceções dilatória insupríveis de conhecimento oficiosos (artigo 590º, nº1
CPC).
No artigo 225º, nº1 CPC a lei distingue 2 espécies de citação:
- Pessoal: realizada na própria pessoa do citando (não é
necessariamente um réu, pode ser um requerido) ou quando a lei equipara á
realização na própria pessoa do citando
- Edital: é realizada pela afixação de editais, por isso, o próprio legislador
dá como adquirido que o citando não tomou efetivo conhecimento da citação,
por isso, há uma preferência pela citação pessoal.
O artigo 227º CPC indica-nos um conjunto de requisitos e documentos
que devem estar preenchidos quando se apresenta uma citação.
O artigo 239º CPC regula a situação da citação de residentes no
estrangeiro. Suscita sempre problema adicionais porque em relação a eles o
tribunal não tem o seu ius imperium. Assim, o artigo 239º CPC manda em

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primeiro lugar o observar o que se diz nos tratados ou convenções
internacionais, bem como regulamentos europeus.
Na falta disso, a citação faz-se por carta registada com aviso de
receção, aplicando-se as determinações do regulamento local dos serviços
postais.
Se o citando for português pode-se usar o consulado português mais
próximo da sua residência. Mas não sendo português a citação realiza-se por
parta rogatória (solicita-se ao tribunal de residência que esse utilize o seu ius
imperium fazendo ele a citação).
Se soubermos que o citando esta ausente no estrageiro em parte incerta
procedemos á citação edital.
O artigo 222º CPC regula a citação de agentes diplomáticos.
Citação de pessoas singulares – artigo 225º, nº2 CPC:
A lei prevê 3 modalidades que ainda não estão a ser todas aplicadas
(nomeadamente o contacto pessoal). A via postal é a mais frequente e, a
transmissão eletrónica de dados foi incluída neste CPC mas que ainda não tem
uma intervenção pratica, mas que se vai tornando mais prática.
A citação pessoal ocorre na própria pessoa do citando, ou seja, é por ele
recebida. Mas a lei acrescenta duas outras citações em que a citação se
considera pessoal mesmo que a pessoa não tenha sido efetivamente citada
(artigo 225º, nº5 CPC); e nos casos do nº4 do artigo 225º CPC, sendo esta a
citação quase pessoal – desde que se verifiquem 2 requisitos: realizado, não
na pessoa do citando mas noutra pessoa, nos casos expressamente previstos
na lei, mas que essa pessoa ficou encarregue de apresentar os factos ao
citando.
Coloca-se um problema especial quando se tenta citar incapazes –
artigo 223º CPC: os incapazes, precisamente porque não tem plena
capacidade de exercício, são citados na pessoa dos seus legais representantes
– se tiverem mais do que um representante legal basta um deles, exceto se
estes forem os progenitores e ambos estiverem no exercício das suas
responsabilidades parentais (artigo 16º CPC)
Citação de pessoa singular por via postal – artigo 228º CPC: a
citação por via postal é feita por carta registada com aviso de receção remetida
para a residência ou para o local de trabalho. O nº2 vem permitir que, embora o
desejável seja recebida pelo citando, esta possa ser entregue a qualquer
pessoa que se encontre na sua residência ou local de trabalho e se declare em
condições de lhe entregar (ex.: se for um prédio com 20 empresas e tiver um
porteiro no rés-do-chão, então esse porteiro não faz parte do local de trabalho).
Acontece com muita frequência que o carteiro toque á campainha e
ninguém atenda, por isso o nº5 CPC vem estabelecer que fica um aviso para ir
levantar a correspondência a estação dos correios.

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Também não invulgar que o citando receba a carta mas se recuse a
assinar o aviso de receção ou que esteja lá mas se recuse a receber a carta.
Se isso acontecer, o carteiro deve fazer nota da ocorrência e devolver o
expediente ao tribunal.
Nº9 - Se a impossibilidade de deixar aviso se dever á ausência do
citando no endereço (ter mudado de endereço), a secretaria deve enviar a
carta para o novo endereço.
O artigo 230º CPC diz-nos que data é que é relevante para a realização
da citação. Esta data vai ser importante para vários momentos como a data em
que e considera a propositura da causa, bem como a estabilidade da instancia
(principio da estabilidade da instancia).
O artigo 229º CPC permite ainda que a citação seja realizada em
domicílio convencionado: em obrigações pecuniárias de contrato reduzido a
escrito em que as partes tenham convencionado domicílio. As particularidades
deste regime:
- nº3 - a citação considera-se realizada no dia em que ele recusou
receber a carta ou assinar o aviso de receção.
- nº 4 e 5 - a citação vai ser considerada na data em que a carta foi
colocada na caixa do correio
Citação por contacto pessoal – artigo 231º CPC:
Era a forma de citação de um mundo ideal, mas apenas se emprega se
a citação por via postal se frustrar. Esta citação é feita através do agente de
execução (profissão jurídica que auxilia o tribunal, sobretudo no processo
executivo, mas também no processo declarativo. Trata-se de um profissional
independente que pratica uma serie de atos no processo executivo (realizar
penhoras) e no processo declarativo (realizar citações)), mas permite que seja
feito por um funcionário da secretaria, no entanto os custos são mais altos.
Se o citando se recusar a assinar ou a receber a citação, o nº4 vem
dizer-nos que o agente de execução apenas o informa de que este estará á
sua disposição na secretaria do tribunal.
O nº10 vem dizer que o citando pode ser convocado para comparecer
na secretaria judicial a fim de se efetuar a citação por carta registada.
Citação com hora certa - artigo 232º CPC
A citação considera-se realizada com a colaboração de terceiros (nº1 e 2
do artigo 232º CPC), mas não sendo possível obter a colaboração de terceiros
(nº4) a citação considera-se realizada mediante afixação.
O artigo 234º CPC é um problema que podemos colocar – incapacidade
de facto do citando: isto acontece quando o citando não é incapaz, nem menor
de idade, mas está de momento afetado de alguma anomalia psíquica notória
ou de outra incapacidade de facto (ex.: estar em coma no hospital).

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Reconhecida a incapacidade é nomeado um curador ad litem e a citação
é realizada na pessoa do curador.
Pode verificar-se que o citando está ausente mas em parte certa –
artigo 235º CPC: aguarda-se o regresso para se repetir as tentativas de citação
ou procede-se á citação para onde ele esteja.
Artigo 236º CPC - ausência do citando em parte incerta: é necessário
que o juiz profira um despacho judicial. A secretaria vai as bases de dados e vê
quais as moradas que o individuo tem, podendo pedir às autoridades judiciais
que façam “uma busca de paradeiro”, fazendo em seguida um relatório que
envia para o tribunal.
Se a secretaria apurar uma morada onde ainda não se tentou citar, cita-
se para essa morada.
Se o próprio autor indica que não sabe o paradeiro do reu, logicamente
que vamos aplicar logo o artigo 236º CPC apurando as moradas que constam
nas bases de dados oficiais para tentar fazer a citação do reu por via postal e
depois por contacto pessoal.
Citação edital:
Tem lugar quando citando esteja em parte incerta. É a derradeira
alternativa. Não há conhecimento do paradeiro do citando. Se soubermos o
paradeiro dele mas não o conseguirmos encontrar a lei tem outros
mecanismos.
Temos de chegar a citação edital nos termos do artigo 236º CPC ou
quando sejam incertas as pessoas a citar, ou seja, os casos em que a ação foi
proposta contra incertos (artigo 22º CPC).
Quando ação é proposta contra desconhecidos, não se sabe a
identidade dos citando, avançam-se todas as etapas e passa-se logo para a
citação edital.
O CPC divide a citação edital consoante ela seja motivada pelo
desconhecimento das pessoas a citar ou pela incerteza do lugar (artigo 240º
CPC)
A citação por incerteza do lugar consiste em duas etapas:
(1) fixação de um edital na porta da casa a última residência ou sede
que o citando teve no país
(2) publica-se um anúncio numa página informática (site do Ministério da
Justiça).
O edital e os anúncios têm o conteúdo previsto no artigo 241º CPC. O
edital deve cumprir os requisitos no artigo 241º CPC.
Quando a citação edital se faça por incerteza de pessoas (artigo 22º
CPC), quando o autor não tenha possibilidade de identificar os interessados na

79
ação podem interpor contra desconhecidos. O artigo 25º, nº6 CPC diz-nos que
a citação edital se faz imediatamente (artigo 243º CPC).
Artigo 242º CPC- a citação edital considera-se realizada no dia da
publicação do anuncio (publicado no sites do Ministério da justiça).
Citação de pessoas coletivas – artigo 246º CPC:
Trata-se de um regime equiparado ao da citação em domicílio quase
convencionado. Para as pessoas coletivas o legislador ficciona um domicílio
convencionado porque as pessoas coletivas têm de ter uma sede e essa sede
tem de estar registada.
O nº1 d artigo 246º CPC diz-nos que se aplica á citação das pessoas
coletiva as regras de pessoas singulares em tudo o que não estiver regulado
no artigo 246º CPC.
A citação de pessoas coletivas deve ser feita por carta registada. Se a
pessoa se recusar a assinar ou a receber a carta então considera-se feita a
citação.
O nº3 vem dizer que se não estiver ninguém para receber a carta tenta-
se uma nova citação e, depois disso, aplicam-se as regras estudadas
anteriormente.
O artigo 223º CPC também vale para as pessoas coletivas. A citação é
postal, mas também pode ser feita por contacto pessoal, assim tem de se citar
a pessoa coletiva na pessoa do seu legal representante. Se a pessoa coletiva
tiver vários administradores basta citar um deles para que a pessoa coletiva se
considere citada.
Com a realização da citação começa a contagem do prazo de defesa
que varia consoante a forma de processo. (ex.: artigo 1º do RADEPI)
A citação pode ser realizada com diferentes modalidades – umas que
são maior garantia de conhecimento efetivo do que outras, por isso o legislador
acrescentou no artigo 245º CPC uma dilação do prazo de defesa, pois
considera que podem haver 2 factos que influenciam a data da citação: a
citação ser feita numa localidade e o processo estar a decorrer noutra ou uma
receção tardia por parte do citando quando quem recebe a citação não é o
próprio citando. A lei reconhece uma dilação de 5 dias nestes casos.
Se o reu tiver sido citado nas regiões autónomas e ação está pendente
noutra ilha da região autónoma ou no continente tem direito a uma dilação de
15 dias e vice-versa.
Se a citação se tiver realizado no estrangeiro, se tiver sido edital ou tiver
sido em domicílio convencionado com deposito da carta em caixa postal, a
dilação é de 30 dias.

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A dilação da alínea a) é cumulativa com a dilação da alínea b), do nº2 ou
do nº3 do artigo 245º CPC. Mas não se pode cumular as dilações da alínea b)
com as do nº2 ou do nº3 CPC.
Porem há uma especificidade no diploma preambular do RADEPI –
artigo 4º: não se aplicam dilações. Nos processos cautelares (artigo 266º, nº3
CPC)a dilação nunca pode exceder a duração de 10 dias.

Notificações
A lei distingue 2 regimes:
- Notificações feitas pela secretaria ás partes e a outros intervenientes:
- Notificações a partes que constituíram mandatário – artigo 247º
CPC
- Notificações a partes que não constituíram mandatário
- Notificações a outros intervenientes no processo
- Notificações feitas pelas próprias partes/notificações entre mandatários

Notificações a partes que constituíram mandatário


Todas as notificações que sejam dirigidas as partes que tem mandatário
devem ser feitas ao mandatário, mas quando a notificação tem por objetivo
convocar a parte para praticar um ato pessoal (ex.: prestar depoimento)
notifica-se o mandatário e notifica-se a parte por correio registado.
Se a parte tiver vários advogados e solicitadores constituídos, a
notificação realiza-se na pessoa do solicitador.
Como se faz a notificação? Artigo 248º CPC - os mandatários são
notificados através do Citius. As notificações pressupõem-se como realizada no
3º dia seguinte ao do envio da notificação ou no primeiro dia útil seguinte ao 3º
dia posterior ao envio da notificação (nº1).
A norma do artigo 248º CPC não vale para as citações, apenas para as
notificações.
O artigo 248º, nº2 CPC diz-nos que não se pode afastar a presunção
para dizer que o mandatário tomou conhecimento daquela notificação numa
data anterior á definida, mas é possível ilidir a favor do advogado, sendo que o
ónus da prova recai a favor do mandatário.
O artigo 250º CPC fala-nos da Notificação pessoal das partes: quando
a lei impõe a notificação pessoal das partes, o artigo 250º CPC vem dizer-nos
que esta se realiza aplicando as regras da citação pessoal. Nestes casos não
há citação edital.

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Notificações às partes que não constituíram mandatário: o artigo
249º CPC diz-nos que as notificações são feitas nos termos do artigo 219º, nº5
CPC, que ainda não está em aplicação. Ou então, por carta registada dirigida
para a residência ou para o domicílio escolhido para as receber. Aplicam-se as
regras da presunção, mas agora não em relação á notificação eletrónica, mas
ao registo postal.
Porem, as partes que não constituírem mandatário não são notificadas
se estiverem em revelia absoluta (artigo 249º, nº5 CPC)
Notificações de intervenientes acidentais (artigo 251º CPC): não há
presunção de notificação porque não são partes no processo. Vai apenas uma
carta registada sem aviso de receção.
As notificações ao MP (nº2), independentemente da forma como ele
participa no processo são efetuadas através do Citius.
Há decisões que são obrigatoriamente notificadas ao MP mesmo que ele
não tenha tido intervenção no processo (artigo 252º CPC): decisões finais;
quaisquer decisões, ainda que não sejam finais, que possam suscitar recursos
obrigatórios para o MP por força da lei (Recursos no âmbito de processos de
fiscalização concreta da constitucionalidade).
Notificações em diligencias judiciais (artigo 254º CPC): são
notificações que ficam documentadas em auto ou ata. O registo em ata vale
como notificação.
Notificações entre mandatários (artigo 221º CPC): obriga a que o
advogado que apresenta um requerimento tem de notificar que efetuou esse
requerimento aos outros advogados do processo. Inicialmente isso fazia-se
através de Fax, mas atualmente isso é feito através do sistema Citius (artigo
255º CPC), que gera automaticamente uma notificação às outras partes
quando alguém envia um processo para tribunal. Esta obrigação só existe a
partir do momento em que a contestação do réu tiver sido notificada ao
advogado do autor, pois é aí que o advogado do autor sabe quem é o
advogado do réu.

Prazos processuais:
São os prazos dirigidos á pratica de atos processuais. No artigo 139º
CPC a lei distingue:
- Prazos dilatórios – (nº2) difere (passa para momento posterior) o
início da contagem de outro prazo.
- Prazos perentórios – (nº3) o decurso extingue o direito a praticar o
ato. É um prazo dirigido ao direito processual de praticar um ato processual e o
seu decurso implica que esse direito se extingue. (ex.: se deixar de passar o

82
prazo de contestação, o direito que tenho para apresentar a contestação
extingue-se).
- Prazos meramente ordenadores ou prazos disciplinares – o
decurso não extingue o direito á pratica do ato, mas cujo incumprimento se
reflete negativamente sobre o agente. são prazo indicativos que a lei não
refere, mas se forem incumpridos geram responsabilidade disciplinar para
quem os incumpriu (prazos da secretaria, prazos do tribunal: prazo para
proferis sentença). O incumprimento do prazo não tem nenhuma consequência
processual, pois o ato pode ser praticado fora do prazo.
Contagem de prazos – artigo 138º CPC:
O prazo é continuo, ou seja, conta-se em dias corridos, mas suspende-
se durante as férias judiciais (artigo 28º LOSJ). Mas há uma exceção a esta
exceção: processos urgentes ou prazos superiores a 6 meses.
Para a contagem de prazos temos de ter em conta 2 modalidades:
- Dias a quo – dia inicial da contagem do prazo, dia em que ocorre o
evento que determina o início da contagem do prazo. Não é contabilizado na
contagem do prazo (artigo 279º, b) CC).
- Dias ad quem – dia final da contagem do prazo. Artigo 238º, nº2 – o
termo do prazo que normalmente recairia num dia que não é útil reporta-se
para o dia útil seguinte.
O artigo 142º CPC vem dizer quando um prazo perentório se seguir a
um prazo dilatório (ex.: do artigo 245º CPC) os dois prazos contam-se como
um só – soma-se a sua duração para evitar situações em que tenhamos um
prazo dilatório que termina a um dia não útil e por isso tem de ser estendido,
podendo o mesmo acontecer com um prazo perentório.
Os prazos previsto na lei podem ser prorrogados nos casos
expressamente previstos na lei (artigo 141º CPC) – estudaremos depois esses
articulados. O nº2 acrescenta que qualquer prazo processual pode ser
prorrogado por uma única vez e por igual período por acordo das partes. Só se
pode prorrogar um prazo se este ainda estiver em curso.

Calendário forense 2022- trazer. Levar para o teste.

83
08/04/2022
O prazo para a propositura de ações é um prazo substantivo que se
encontra no CC.
O legislador admite que um ato processual possa ser praticado fora do
prazo perentório em duas circunstâncias:
- Situações de justo impedimento (artigo 140º, nº1) – evento não
imputável ás partes ou aos seus mandatários e que impeça a pratica d ato
dentro do prazo. As regras do 139º, nº4 e do artigo 140º CPC ajudam a
perceber esta questão do justo impedimento. O artigo 140º, nº2 CPC diz-nos
que o justo impedimento deve ser alegado mal este termine. A parte contraria é
ouvida quanto á questão do justo impedimento e o tribunal profere uma
declaração expressa. Este regime não se aplica a eventos que conduzem facto
notório (ex.: tremor de terra)
- Pagamento de multa (artigo 139º, nº5 CPC) – permite que sejam
praticados até 3 dias uteis após o prazo. A multa varia consoante o dia de
atraso e consoante o valor da causa (nº5 do artigo 139º CPC). se o ato for
praticado por mandatário judicial, este tem de proceder logo ao pagamento da
multa e se não o fizer, o ato não é rejeitado mas tem de pagar uma penalidade
para além da multa. Se o ato for praticado por uma parte, a parte pratica o ato
mas é depois remetida a multa pela secretaria. Pode ser pedido ao tribunal a
redução ou a dispensa da multa.
FIM DO CAPITULO DOS PRAZOS PROCESSUAIS

Caso prático:
A propôs uma ação declarativa especial contra B pedindo a condenação
de B a pagar aquantia de 10 mil euros correspondente a uma divida de um
contrato de mútuo. A ação foi proposta no tribunal judicial da comarca do porto,
juiz local cível do porto, no dia 31 de março de 2022. A 4 de abril de 2022 a
secretaria expediu por via postal registada com aviso de receção a citação
dirigida para o local de trabalho do réu, em Guimarães, tendo sido recebida no
dia 7 de abril por C rececionista da empresa onde o réu trabalha.
B contestou no prazo legal por intermédio do seu mandatário D que se
esqueceu de juntar procuração forense. A 11 de julho de 2022 o tribunal
proferiu um despacho a ordenar ao réu que juntasse a procuração forense em
falta. Esse despacho foi notificado pela secretaria ao mandatário do réu
mediante aviso eletrónico expedido através da plataforma Citius no dia 12 de
julho.
1.) diga os dias exatos correspondentes ao termo do prazo de
contestação do réu e ao termo do prazo para juntar a procuração forense.
Resposta:

84
Os prazos de contestação do réu são de 20 dias (artigo 1º, anexo 1 do
RADEPI + artigo 44º, nº1 LOSJ). Este prazo vai começar a correr com a
citação do réu, a citação considera-se realizada no dia em que se considere
realizada a citação (artigo 230º CPC).
Aplica-se uma dilação de 5 dias pela citação ter sido recebida por
pessoa diversa (dilações da alínea a) e da alínea b) do artigo 245º CPC). Mas
nos prazos do RADEPI não há dilações (artigo 4º diploma preambular do
RADEPI). Se fosse uma ação declarativa de processo comum aplicar-se-ia o
artigo 142º CPC.
O dia a quo é o dia 7 de abril mas não é computado na contagem dia
prazo. O dia ad quem é o dia 6 de maio. Porem, o ato processual (contestação)
pode ainda ser praticada fora de prazo mediante pagamento de multa nos 3
dias uteis seguintes (artigo 139º, nº5 CPC). O prazo para contestar termina a 6
de maio de 2022.
O outro prazo era a notificação de um despacho para juntar a
procuração, aplica-se o prazo geral do artigo 139º, nº1 CPC – prazo geral de
10 dias. Artigo 149º, nº2 CPC – esta notificação foi realizada considera-se
realizada no 3º dia posterior ao da notificação (dia 15).
O dia a quo é o dia 15 de julho, como o prazo suspende em férias
judiciais, por isso o primeiro dia do prazo é o dia 1 de setembro. Assim o ultimo
dia do prazo seria o dia 10 de setembro, mas como é fim de semana, passa
para o dia útil seguinte, dia 12 de setembro. Porem, o ato processual
(contestação) pode ainda ser praticada fora de prazo mediante pagamento de
multa nos 3 dias uteis seguintes (artigo 139º, nº5 CPC).

85
21/04/2022
Nulidades processuais/adjetivas:
Nulidade processual é o desvalor jurídico correspondente á
inobservância dos requisitos e formalidade próprias do ritualismo processual
legalmente estabelecido. É a sanção do ordenamento jurídico que corresponde
a uma situação de inobservância dos requisitos e das formalidades próprias do
ritualismo processual legalmente estabelecido.
É ao desvio jurídico que o ordenamento faz corresponder uma
sanção/desvalor jurídico negativo que denominamos no direito processual de
nulidades processuais.
O conceito de nulidade processual em direito processual não
corresponde ao conceito estudado em Direito Civil. Em direito civil a nulidade é
uma das duas modalidades de invalidade do direito substantivo – a nulidade é
a modalidade com um regime mais inflexível que pode ser invocada a todo o
tempo por qualquer interessado, enquanto a anulabilidade é um regime mais
flexível que só pode ser invocado por determinadas pessoas. No direito
processual não há este regime duplo. Utilizamos a Nulidade processual como
uma figura una.
A nulidade processual não tem o mesmo regime das nulidades do direito
civil. Corresponde, grosso modo, ao conceito de direito substantivo a que
chamamos de invalidade. No direito processual existe uma figura unitária que
tem traços era mais solene, ora mais flexíveis, consoante o que estiver em
causa. A nulidade processual é a invalidade processual.
As inobservâncias dos requisitos processuais e das formalidades do
ritualismo processual legalmente estabelecido corresponde a uma
irregularidade processual.
Nem todas as irregularidades processuais da origem a uma nulidade
processual, por isso distinguimos a irregularidades invalidantes (desvios que o
ordenamento jurídico fulmina com uma nulidade processual) regularidades não
invalidantes (patologias que no encontram da parte do ordenamento jurídico
processual como resposta tao solene como as irregularidades invalidantes –
não lhes corresponde um desvalor jurídico processual). De forma geral as
irregularidades são não invalidantes.
O legislador distingue nulidades principais (nulidades típicas - artigo 186º
e seguintes CPC) e nulidades secundárias (também podem ser típicas, embora
raramente o sejam – artigo 195º CPC – nulidades processuais abertas).
Nulidades principais:
Nulidades processuais típicas – artigo 186º CPC:
Nº1 artigo 186º CPC – Nulidade de todo o processo. A ineptidão da
petição inicial gera a nulidade de todo o processo. O que é a ineptidão da
petição inicial? Isso está previsto no nº2 do artigo 186º CPC:

86
- Falta do pedido ou da causa de pedir - Se apresento uma petição inicial
e não deduzo nenhum pedido, então não há pedido. Se faltarem os
fundamentos fáctico jurídicos (causa de pedir) a ação também é ineptidão.
Quando o pedido ou a causa de pedir não são compreensíveis também se gera
a ineptidão da petição inicial e a nulidade de todo o processo. O legislador
permite que a ineptidão seja sanada se o réu contestar (nº3 do artigo 186º
CPC), interpretando algo que lá estava.
- Contradição entre o pedido e a causa de pedir – os factos são
contraditórios entre si.
- Cumulação de pedidos incompatíveis entre si – o ator pode cumular
vários pedidos contra o reu, mas se os pedidos forem incompatíveis entre si
gera-se a ineptidão da petição inicial. (ex.: não posso pedir que um contrato
seja declarado nulo e ao mesmo tempo que o reu execute as obrigações
emergentes desse contrato)
Nº4 do artigo 186º CPC - Mesmo que cumule pedidos que não recaiam
no âmbito da competência do tribunal ou da matéria em causa, o que levaria á
absolvição do reu da instância – ainda assim, a ineptidão da petição inicial
subsiste não obstante o pedido não poder prosseguir por incompetência do
tribunal ou por erro na forma do processo. (ex.: um conjugue propõe uma ação
contra outro conjugue peticionando o divorcio sem mútuo consentimento e
peticionando que o conjugue cumpra os seus deveres conjugais. Sabendo que
o pedido de divorcio é uma ação especifica e que o outro pedido cai na
natureza de processo comum, então ambos os pedidos não podem prosseguir
em conjunto. A ineptidão persiste ainda que um dos pedidos cumulados não
possa prosseguir)
Exceções dilatórias – faltas de pressupostos processuais e a nulidade de
todo o processo.
A nulidade de todo o processo é considerada uma exceção dilatória que
tem por consequência a absolvição da instância. Portanto, a consequência da
nulidade e todo o processo é a absolvição do reu da instância (artigo 577º, b)
CPC).
Nulidade de falta de citação (artigo 187º CPC) – é nulo tudo o que se
processe depois da petição inicial salvando-se apenas esta quando o réu não
tenha sido citado. Portanto, é nulo tudo o que se passar depois da petição
inicial quando não houver lugar há petição do réu. Esta norma tem de ser
interpretada restritivamente, pois a Distribuição não é afetada pela falta de
citação; poderá também salvar-se o despacho liminar. Os atos processuais que
são anteriores á citação e que até podem ser preparatórios dela não são
afetados pela nulidade de falta de citação.
A nulidade de falta de citação verifica-se quando o reu não tenha sido
citado. O legislador entende a nulidade e falta de citação a outras situações em
que, havendo a aparência de realização de citação, o legislador manda tratar

87
aquela situação viciada de irregularidades como se não existisse citação. O
artigo 188º CPC indica equiparações de citações aparentes a citações efetivas.
É possível fazer uma citação pessoal quando a pessoa já morreu, por
exemplo, nos casos em que é o filho que recebe a citação e fica responsável
de transmiti-la ao pai que entretanto morre sem que lhe seja transmitida a
citação – artigo 188º, nº1 d) CPC.
O citado tem o ónus de provar que não tomou conhecimento da citação
– artigo 188º, nº1, e) CPC.
A consequência da nulidade de falta de citação é que é nulo todo o
processado a seguir á citação.
O artigo 19º, nº1 CPC prevê ainda um caso de nulidade de falta de
citação que é: os maiores acompanhados que não estejam sujeitos a
representação podem intervir em todas as ações em que sejam citados. Tem
de ser citado o maior acompanhado, mesmo que o acompanhante tenha sido
citado para a ação.
A nulidade de falta de citação é sanável nos termos do artigo 189º CPC
– se o réu ou o MP intervirem no processo sem a falta de citação e não invoca
logo na sua primeira intervenção essa nulidade então ela fica sanada.
Nulidade de falta de citação em casos de litisconsórcio (artigo 190º
CPC): no litisconsórcio voluntário temos num único processo concentradas
várias relações jurídicas processuais (artigo 35º CPC). Se o litisconsórcio for
necessário temos uma única relação jurídica processual com uma pluralidade
de titulares (artigo 35º CPC). como há esta distinção o legislador também
distingue a nulidade de falta de citação consoante a falte de citação tenha
ocorrido numa situação de litisconsórcio voluntário ou de litisconsórcio
necessário (artigo 190º, a) e b) CPC).
Nulidade da citação: a citação realizou-se mas esta com vícios que o
legislador não comparou á falta de citação (artigo 191º CPC). A nulidade de
citação prefere sempre á nulidade de falta de citação. Não pode haver
simultaneamente nulidade de falta de citação e nulidade de citação.
Quando o ato processual citação não tenha sido realizado observando
as formalidades descritas na lei para a sua realização, então a citação é nula.
Qualquer irregularidade na realização da citação gera a nulidade, mas o
legislador tem 2 exceções (artigo 191º, nº4 e nº 3 CPC): se a irregularidade não
for para prejudicar a defesa do citando, então a irregularidade é não
invalidante; se a regularidade ter consistido em se ter indicado no ato da
citação um prazo de defesa superior aquele que a lei concebe.
Ex.: num caso em que a lei prevê 30 dias para contestar mas a
irregularidade indicar um prazo de 60 dias, então não se prejudica o citado,
mas deve-se reconhecido o prazo mais longo que provem do erro da
secretaria. O autor pode requerer uma nova citação do réu com o prazo
correto.

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A nulidade da citação é sanável nos termos do artigo 191º, nº2 CPC – o
prazo para arguiu a nulidade da citação corresponde ao prazo de contestação,
exceto: se a nulidade da citação ocorreu numa citação edital (não se contanto
os casos em que a lei equipara á falta de citação) pode ser arguida até á
primeira intervenção do citado no processo; se a irregularidade da citação
pessoal tiver consistido em não se indicar prazo algum, então também pode ser
arguida até á primeira intervenção do citado no processo. A primeira
intervenção pode se pedir á secretaria judicial para consultar o processo.
A nulidade da citação tem de ser arguida mas há uma exceção – artigo
566º CPC (depois falaremos disso).
Erro na forma do processo (artigo 193º, nº1 CPC) – consiste no
emprego de uma forma processual que não é aquela que deveria ter sido
utilizada. É pelo pedido deduzido que determinamos qual a forma processual a
empregar. Se for um pedido que recai no âmbito da previsão de uma forma de
processo especial então aplicamos essa forma de processo especial, mas se
não entrar em nenhum então aplicamos o processo comum. quem decide a
forma processual como a ação vai ser tramitada é o autor quando a propõe – é
com esta indicação que o processo começa a ser tramitado, mas pode-se
chega ao caso de não ser esta a ação correta.
O erro na forma do processo é uma nulidade processual típica. É de
conhecimento oficiosos e, tem como consequência a convolação processual
(ex.: o juiz manda convolar uma ação de processo comum numa ação de
confirmação de sentença estrangeira, aproveitando-se os atos já praticados e
não aproveitando aqueles que não deveriam ser praticados). Não é possível
convolar a forma processual erradamente observada na forma processual que
se deveria observada numa diminuição das garantias do réu – na prática isso
leva á absolvição da instância. (ex.: na ação de processo especial reu só teve
10 dias para contestar, mas se tivéssemos seguido a ação comum que erra a
correta então o reu teria 30 dias para contestar, por isso não se podem
convolar – há absolvição do reu da instancia).
Erro no meio processual (artigo 193º, nº3 CPC) – ocorro quando se
emprega dentro de um processo um meio processual errado (ex.: recurso,
reclamação, incidente na instância). O juiz vai convolar o meio erradamente
utilizado no meio processual adequado/correto.
Falta de vista ou exame ao MP (artigo 194º CPC) – intervenção do MP
como parte acessória (artigo 10º EMP + artigo 325º CPC) deve ser feita. Se
não for feita esta notificação ao MP para intervir como parte acessória isso
configura uma nulidade processual. Se a entidade a quem o MP tinha de
prestar assistência tiver tio intervenção no processo, a falta de intervenção do
MP fica sanada.
Nulidades secundárias – artigo 195º CPC:

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A norma do artigo 195º CPC é residual, ou seja só se aplica quando não
sejam aplicáveis as nulidades dos artigos anteriores. Só estamos perante uma
nulidade se se verificaram 2 requisitos:
- Requisito objetivo – desvio do ritualismo processual
- Requisito subjetivo – lei declara a irregularidade como irregularidade
processual (ex.: artigo 170º, nº3 CPC) ou quando a irregularidade cometida
possa influenciar no exame ou decisão da causa (não se exige que numa
avaliação retrospetiva se venha a concluir que influenciou. Exige-se que numa
avaliação prospetiva aquela irregularidade seja apta de influenciar o exame ou
a decisão da causa).
Todos os uros desvios ao ritualismo processual que não recaiam no
âmbito do 187º e seguintes ou no âmbito do 195º CPC as irregularidades
processuais não invalidantes, ou seja, que não geram um desvalor jurídico
processual. podem ter consequências disciplinares, por exemplo, ou mesmo
não ter consequência nenhuma.
As nulidades processuais podem ser de conhecimento oficioso do
tribunal ou estar dependentes de arguição (artigo 196º CPC): nulidades de todo
o processo, falta de citação, citação edital, forma do processo, meio processual
e vista ou exame do MP.
Fora as nulidades que o tribunal conhece oficiosamente, só a parte que
tinha interesse no ato que foi omitido ou no afastamento do ato que foi
ilegalmente praticado, etc. é que pode invocar essa nulidade processual (artigo
197º CPC). O nº2 traz um requisitos negativo, dizendo que não pode arguir a
nulidade parte que lhe deu causa através do seu comportamento, nem a parte
que renunciou á sua arguição – este requisito pode ser preenchido de forma
expressa ou tácita.
As nulidades tem um prazo para ser arguidas pelas partes (artigo 198º
CPC): a nulidade de todo o processo e a nulidade de erro na forma do
processo só podem ser invocadas até à contestação ou na própria
contestação. As nulidades de falta de citação e de falta de vista ao MP podem
ser arguidas em qualquer estado do processo enquanto não devam considerar-
se sanadas. A nulidade da citação pode ser invocada nos termos do artigo
191º, nº2 ou seja, pode ser invocada dentro do prazo para a contestação ou até
á primeira intervenção do citado no processo.
A nulidade secundária tem um regime de arguição bastante complexo. O
artigo 199º CPC distingue as situações em que a parte está presente, quer por
si própria, quer através do seu mandatário, a nulidade tem de ser invocada até
ao encerramento daquela audiência. Quando a parte não estiver presente o
prazo para a arguição (de 10 dias nos temos do artigo 149º CPC) começa a
contar a partir do dia em que, depois de cometida a irregularidade, a parte
interveio no processo ou da parte ter tido notificada para qualquer termo no
processo, porem o facto de a parte ter sido notificada para intervir no processo,
não significa que ela tenha tido conhecimento da nulidade, por isso o legislador

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indica que se a parte tivesse sido diligente deveria ter percebido a nulidade ou
se na notificação a mencionava, por isso o prazo de 10 dias começa a contra
dessa data.
O tribunal decide se houve ou não nulidade nos termos do artigo 200º
CPC.
No conhecimento das nulidades é obrigatório o contraditório, portanto,
tem de se dar possibilidade ás partes de se pronunciar (artigo 3º CPC), mas há
duas exceções (artigo 201º CPC): o tribunal pode indeferir uma arguição de
nulidade sem ouvir a parte contrária, mas não pode deferir sem ouvir a parte
contraria, salvo caso de manifesta necessidade ( corresponde á norma do
artigo 3º, nº3 CPC que tem uma norma equivalente); o ato nulo não pode ser
renovado se já expirou o prazo dentro do qual deveria ter sido praticado (artigo
202º CPC).
Nulidades das sentenças:
O artigo 615º CPC prevê as nulidades das sentenças e o artigo 613º nº3
manda aplicar as nulidades das sentenças aos despachos judiciais. O artigo
666º prevê uma série de nulidades dos acórdãos das relações e o artigo 685º
CPC prevê as nulidades dos acórdãos do STJ. Isto depois será estudado
quando chegarmos ao estudo da sentença final.
A doutrina diverge: há autores que dizem que as nulidades das
sentenças são uma forma autónoma das nulidades processuais. Há outros
autores que acreditam que são uma forma de nulidade especial e é esta a
opinião do professor.

ACABA AQUI A MATÉRIA PARA A PRIMEIRA FREQUENCIA.

Caso prático:
A sociedade “Farmácia Antunes Lda.”, com sede e administração
principal no Porto, e Carlos, residente em Penafiel e comerciante estabelecido no
Mercado Municipal de Vila Nova de Gaia, celebraram verbalmente, em Vila do Conde,
um contrato mediante o qual aquela Farmácia se comprometeu a fornecer a este
7.500 máscaras cirúrgicas pelo preço de 7.500€ (IVA incluído), ficando ajustado que as
máscaras seriam entregues 05/02/2021 na bancada de Carlos no Mercado Municipal e
o preço colocado a pagamento em 10/02/2021 mediante cheque entregue ao balcão
da Farmácia.
Apesar de efetuada a entrega das mercadorias, Carlos não colocou o preço a
pagamento na data prevista nem em qualquer outro momento. Inconformada, a
farmácia Antunes Lda. constituiu Diogo como seu advogado, o qual propôs em nome
da sua constituinte uma ação judicial com vista á condenação de Carlos a pagar-lhe a
quantia em dívida.

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Proposta a referida ação, a secretaria do tribunal procedeu á citação de Carlos
mediante carta expedida por via postal registada com aviso de receção no dia
14/04/2021 e dirigida á residência de Carlos, tendo sido aí recebida em 19/04/2021
pelo seu filho Eduardo, que assinou o aviso de receção e declarou estar em condições
de entregar o expediente a seu pai.
Carlos constituiu Francisco como seu advogado, o qual apresentou contestação
dentro do prazo legal. Na sua contestação, Francisco alegou que Carlos pagará o preço
por transferência bancária da sua conta para a conta da Farmácia Antunes Lda.
Por despacho de 26/05/2021 o juiz do processo ordenou a Carlos que juntasse
o documento comprovativo da realização da transferência. Este despacho foi
notificado a Francisco mediante aviso expedido por intermédio da plataforma Citius
em 28/05/2021 e recebido por Francisco nessa mesma data.
Entretanto, em 31/05/2021, Diogo morreu de enfarte do miocárdio, desse facto
sendo informado o processo logo no dia 01/06/2021. Depois de reunir com vários
advogados, a Farmácia Antunes Lda. constituiu Henrique como seu novo mandatário,
mediante procuração forense outorgada a 07/06/2021, e remetida por Henrique ao
tribunal através da plataforma Citius, com conhecimento a Francisco, no dia
09/06/2021.
c.) Indique o dia exato correspondente ao termo do prazo para
Carlos apresentar a sua contestação.
Resposta do professor: O prazo de contestação na ação de processo
comum é de 30 dias (artigo que ainda não estudamos) e conta-se a partir da
citação, que, segundo o artigo 228º, nº2 CPC – a citação pode ser entregue ao
filho de Carlos, Eduardo, que lha deve transmitir. Sendo que a citação se
considera efetuada no dia em que se mostre assinado o aviso de receção por
Eduardo, pois presume-se que a carta foi entregue ao destinatário
oportunamente (artigo 230º, nº1 CPC). Assim, o prazo de contestação começa
a contar a partir do dia 19/04/2021. O prazo de contestação tem o seu dias a
quo no dia 19/04/2021. Temos um prazo dilatório (artigo 245º CPC) de 5 dias
devido a ter sido o filho a receber a carta. Assim, temos um prazo de 30 + 5
dias que deve ser contado como um prazo único consoante o artigo 142º CPC.
Assim, temos um prazo de 35 dias, pelo que o prazo termina a 24 de Maio,
com a possibilidade de praticar o ato nos 3 dias uteis seguintes mediante o
pagamento de multa.
d.) Indique o dia exato correspondente ao termo do prazo para
Carlos juntar o comprovativo, tal como ordenado pelo juiz.
Resposta do professor: artigo 248º, nº1 CPC o conhecimento da
notificação é presume-se feito no 3º dia útil posterior ao do seu envio ou no
primeiro dia útil posterior a este. O aviso foi expedido no dia 28/05/2021, pelo
que se começa a contar o prazo a 01/06/2021, pois 31/05/2021 é o dias a quo.
Assim, o prazo de 10 dias começaria a contar a 01/06/2021, pelo que
terminaria a 11/06/2021 porque 10/06 é feriado. Mas o advogado morreu.

92
Trata-se de uma causa em que é obrigatória a constituição de advogado, por
isso a instância suspende-se (artigo 269º, b) + 271º CPC). A suspensão da
instância começa (artigo 271º CPC) quando é informado no processo que o
advogado morreu. A consequência da suspensão da instância em relação aos
prazo processuais em cursos é a suspensão dos prazos, exceto se a causa da
suspensão da instancia for a alínea a) ou b) do nº1 do artigo 269º CPC, casos
em que o efeito é interruptivo (inutiliza-se o período já decorrido da contagem
do prazo e começa-se a contar do sue inicio quando cessar a suspensão da
instancia). A suspensão da instância cessa com a constituição de um novo
mandatário (artigo 276º, nº1, b) CPC). A parte contraria tomou conhecimento
após a notificação (artigo 221º CPC) que se presume realizada no 3º dia
seguintes após a expedição na plataforma citius ou o 1º dia útil seguinte
quando aquele não o seja. Assim, presume-se realizada a notificação a 14 de
junho de 2021, data em que cessa a suspensão da instancia e é a partir daqui
que se transforma o dias a quo para a contagem do prazo, assim, o prazo
termina a 24 de junho com a possibilidade da pratica de ato fora de prazo nos 3
dias seguintes. (artigo 629º CPC; artigo 40º CPC)
Tem de estar sempre presente se há ou não suspensão da instância,
porque isto nem sempre é automático. Pode o advogado morrer mas não
suspender a instância porque não é obrigatória a constituição de advogado.

Caso prático:
Em 2 de Janeiro de 2019, António, Bernardo e Carlos resolveram
constituir uma sociedade comercial denominada “António, Bernardo e Carlos,
Lda.” Com vista a desenvolverem em conjunto a atividade de comercio de bens
alimentares, a qual ficou sedeada e com a sua administração principal no
município de Gondomar. Logo no final do mês de janeiro a referida sociedade
celebrou com David, casado com Francisca o regime de separação de bens
ambos residentes no município de Matosinhos, um contrato de compra e
venda através do qual a sociedade adquiriu pelo preço global de 100.000€, um
armazém industrial cito em Vila Nova de Gaia, com o valor patrimonial tributário
de 60.000€, ficando ajustado que o preço seria pago em quatro prestações de
igual valor, a primeira das quais foi paga logo no ato da outorga do contrato de
compra e venda. Sucede que David não informara que o armazém tinha graves
danos estruturais que impossibilitavam a sua utilização para a finalidade
pretendida, pelo que, em 8 de fevereiro a “António, Bernardo e Carlos, Lda.”
propôs uma ação contra David peticionando a anulação do referido contrato de
compra e venda e a condenação de David a restituir a parcela do preço já
paga, acrescida dos juros de mora que se vencessem na pendencia da ação.
Proposta a ação, a secretaria judicial promoveu a citação de David
mediante carta registada com aviso de receção dirigida ao seu local de trabalho
e sendo ai recebida por Helena, rececionista, que aceitou a correspondência e
assinou o aviso de receção em 12/04/2019.

93
David contestou no prazo legal. Neste articulado invocou a sua própria
ilegitimidade e deduziu reconvenção peticionando que a arte por lapso
remetera para David para o endereço do armazém e que a sociedade tinha
entretanto colocado a embelezar os escritórios da sua sede.
A contestação apresentada por David foi notificada pela secretaria
judicial ao mandatário da “António, Bernardo e Carlos, Lda.” Através da carta
registada, em virtude de nessa semana a plataforma Citius estar inativada,
expedida no dia 11/07/2019.
a.) Indique, com rigor e precisão, qual o concreto tribunal e/ou juízo
competente para conhecer da ação proposta pela sociedade “António,
Bernardo e Carlos, Lda.”.
Resposta:
1. Competência internacional: o caso não nos coloca nenhum problema de
conexão com ordenamen1tos jurídicos estrageiros
2. Competência em razão da hierarquia: a generalidade das ações propõem-se
em primeiro grau de decisão nos tribunais de primeira instancia, salvo
exceções que não se verificam no caso.
3. Competência em razão do território: aqui aplica-se a regra do foro geral do
artigo 80º, nº1 CPC. Trata-se da regra do tribunal do domicilio do réu. O
domicilio do réu é Matosinhos, por isso o fato de conexão territorial é o
município de Matosinhos.
Tribunais com área de atuação em Matosinhos: juízo central cível de Povoa do
varzim, Juízo local cível de Matosinhos, tribunal marítimo, concorrência e
regulação, propriedade intelectual, família e menores, comercio
4. Competência em razão do valor: o valor desta causa é de (artigo 297º, nº2
CPC): o valor desta causa é 125 mil euros, o que significa que recai no âmbito
da competência do juízo central cível da povoa do varzim do tribunal judicial da
comarca do porto.

b.) Indique a data exata que corresponde ao último dia do prazo para a
apresentação da contestação por David.
Resposta:

94
13/05/2022
Correção do teste:
Grupo 1:
a.) A opção pelos julgados de paz exige que exista julgado de paz na
localidade onde existe o fator de conexão territorial. entre a opção entre a ação
declarativa especial e a ação de processo comum não é uma verdadeira
opção, pois apenas aplicamos as regras do código. Quer a ação declarativa
especial, quer a ação de processo comum aplica-se o acórdão que diz que
entre a rede dos julgados de paz há uma liberdade de opção.
b.) Esta formulação enquanto regra geral não está errada, mas comporta várias
exceções. Explicar o princípio da estabilidade da instancia e dizer que mesmo
depois de dada a estabilidade da instancia é possível fazer modificações
subjetivas ou objetivas e explicar quais são as modificações objetivas e as
modificações subjetivas. A reconvenção também é uma forma de modificação
objetiva e a apensação de processos não é uma verdadeira modificação
objetiva, mas acaba por ter efeitos semelhantes.
Grupo 2:
a.) Ação declarativa; distinguir ação declarativa e executiva; distinguir e explicar
em que consiste cada uma das ações; forma de ação de processo comum e
processo especial e explicar em que consiste cada um deles – Ação declarativa
constitutiva extintiva quanto ao pedido de anulação e um pedido de ação de
condenação na prestação de coisa. Aplica-se a forma de processo comum.
Quanto á competência temos de aplicar as etapas que estudamos na aula:
competência internacional (não suscita nenhum problema de conexão com
outros ordenamentos jurídicos); competência em razão da hierarquia (há algum
tipo de pretensões que são da competência dos tribunais de segunda instancia
e outros do STJ, mas aqui aplica-se a regra de que as ações se propõe em
primeiro grau de decisão aos tribunais de primeira instancia); competência em
razão do território (pedia-se a anulação de um contrato e, como consequência
desse pedido a condenação da restituição do preço já pago ao abrigo desse
contrato, por isso aplica-se aqui a regra do foro geral do artigo 80ºCPC quanto
ao pedido de anulação, por isso corresponde ao domicilio do réu. Podia-se
colocar a questão da aplicação do artigo 71ºCPC, mas mesmo assim nunca
poderia cair na aplicação deste artigo por causa da regra do artigo 82º, nº2
CPC. o domicílio do réu é em Espinho. Portanto, em relação á competência em
razão da matéria apenas poderá surgir duvidas entre o juízo central cível de
Santa Maria da Feira e o juízo de competência genérica de espinho. O valor da
causa é de 50 mil euros, porque o valor corresponde á soma do valor de cada
um dos pedidos. Assim, o tribunal competente é o juízo de competência
genérica de Espinho do tribunal judicial da Comarca de Aveiro. (artigo
130ºLOSJ)

95
b.) O prazo de contestação da ação de processo comum é de 30 dias e
começa a contar-se a partir da citação. O réu considera-se citado no dia 8 de
Abril de 2022 (artigo 228º CPC), mas temos de aplicar aqui as dilações do
artigo 245ºCPC. foi Helena quem assinou o aviso de receção e isso faz
corresponder á alínea b) do artigo 245º CPC ao que corresponde uma dilação
de 5 dias. O Réu foi citado em Amarante, por isso existe a dilação de mais 5
dias da alínea a) do artigo 245ºCPC. Artigo 142º CPC. O prazo termina a 27 de
Maio, com a possibilidade de pratica do ato fora de prazo mediante pagamento
de multa nos 3 dias seguintes.
c.) Joana é a advogada que morreu, tendo-se comunicado ao processo a sua
morte a 11/07. A consequência da morte de Joana depende se é ou não
obrigatória a constituição de mandatário na causa (artigo 40º, nº1, a) e 629º,
nº1 CPC) – é obrigatória a constituição de advogado. A morte de joana vai
determinar a suspensão da instância (artigo 269ºCPC e 271º, nº1CPC), a
suspensão da instância cessa quando a parte contraria tiver conhecimento de
que foi constituído novo advogado. Referencia dos efeitos gerais da suspensão
da instância (artigo 275ºCPC), dizendo em especial que a suspensão da
instância, por ter sido determinada por morte de mandatário faz interromper os
prazos processuais.

96
19/05/2022

Dimensão dinâmica da ação


O nosso estudo vai centrar-se na tramitação da ação declarativa de
processo comum, que tem uma forma única.
Diferentes fases de uma ação declarativa de processo comum de acordo
com a funçao
1 – Iniciativa ou impulso
2 – Saneamento – procede-se ao saneamento do processo, saneando o
que é inútil ao processo
3 – Condensação – delimita-se o objeto da causa. Indica-se os factos
que precisam de produção de prova e os factos que já não precisam de
produção de prova
4 – Instrução ou produção de prova – o tribunal vai fazer produzir prova
em relação aos factos alegados pelas partes que careçam de prova.
5 – Discussão – as partes fazem as suas alegações sobre a prova
produzida e sobre os factos que se devem considerar provados ou não
provados e a aplicação do direito a esses factos.
6 – Julgamento – o tribunal julga a causa tanto quanto á matéria de facto
como quanto á matéria de direito (aplicando o direito aos factos provados)
7 – Recurso
Estas fases não seguem uma ordem cronológica, isto é apenas uma
classificação funcional.
Esta perspetiva funcional não é aquela que corresponde á sequencia
normal da evolução da tramitação do processo – para isso usamos a
perspetiva processual ou diacrónica que corresponde aquela que vamos seguir
ao longo das próximas aulas.
1 – Articulados – desenvolvem-se essencialmente 4 funções
- Iniciativa do autor que deduz uma pretensão e invocando os
fundamentos dessa pretensão
- Oposição do réu que deduz os seus elementos de defesa
- Reconvenção do réu e contra defesa do autor
- Alegação de factos supervenientes
2- Audiência prévia – desenvolvem-se 3 fases:
- Saneamento do processo
- Delimitação do objeto da causa

97
- Condensação dos temas probatórios
3 – Audiência final – é onde tem lugar:
- Instrução da causa – produção da prova
- Discussão da matéria de facto
- Discussão da matéria de direito
Hoje em dia, a audiência termina com as partes a fazerem alegações
quer quanto á matéria de facto, quer quanto á aplicação da matéria de direito a
esses factos.
4- Sentença – procede-se ao julgamento da causa, quer decidindo a
matéria de facto (se os factos foram provados ou não), quer decidindo a
matéria de fundo.
5 – Recurso:
- Recurso de apelação - pode dizer respeito a matéria de direito e
a matéria de facto
- Recurso de revista – interpõem-se dos acórdãos das relações
para o STJ, que tem por objeto apenas a matéria de direito
- Recurso de revista per saltum – interpor um recurso de
revista do tribunal de primeira instância para o STJ- isto é possível, verificando
um conjunto de requisitos como o valor da causa e se no recurso não se
suscitar nenhuma matéria de facto, só de direito.
Esta sequência tem algumas particularidades:
O julgamento da causa pode ocorrer numa fase antecipada – discussão
e julgamento da causa – pode ocorrem em 2 momentos no processo:
- Revelia do réu operante – consideram-se provados os factos alegados
pela autor na petição inicial. No final da fase dos articulados, como os factos já
estão todos provados não é preciso ouvir testemunhas, fazer perícias,
consultar documentos, o legislador diz que se salta para a audiência previa e
depois sentença.
- o tribunal pode, logo na audiência previa, fazer um julgamento
antecipado da causa, ou seja, logo ali julgar procedente ou improcedentes as
pretensões do autor.
- Fase de pré-saneamento – destina-se a preparar o saneamento da
causa.
- A instrução da causa realiza-se na audiência final – este é o momento
desejável para a produção da prova, mas nem toda a prova pode ser produzida
na audiência final, por isso esta ocorre também ao longo do processo mesmo
antes da audiência final. Isto é possível porque:

98
- Diligencia sumária da prova (artigo 419º CPC): produção
antecipada de prova
- Produção de depoimentos de partes na audiência previa
(artigo 456ºCPC)
- Inquirição de testemunhas antes da audiência final - artigo
500º CPC
- Realização de perícias (ex.: analises sanguíneas)
- Verificações não judiciais qualificadas (artigo 494ºCPC)
- Prova documental: deve ser logo junta com os articulados
ao longo dos vários requerimentos. Atualmente o legislador pune a verificação
tardia de documentos – artigo 423ºCPC
- Obtenção de prova documental junto de terceiros (ex..
notificar uma empresa para juntar um documento) – artigo 423ºCPC
Estudando cada uma das fases em especial:
Fase dos articulados – artigo 147ºCPC
Os articulados são as peças em que as fases… (artigo 147ºCPC).
Os articulados tem uma tripla função: desencadeamento da
ação/impulsionar o processo: delimitação do objeto da instancia (as partes vão
neles alegar s factos convenientes ás suas pretensões); assegurar ou permitir
o exercício do contraditório.
Atualmente o CPC prevê 4 espécies de articulados:
- petição inicial – é o articulado da iniciativa do autor e é com ele que se
inicia a causa
- contestação – articulado da iniciativa do réu na qual se defenda da
pretensão do autor e onde pode ser deduzida reconvenção
- replica – serve apenas para defesa do autor reconvindo em relação á
reconvenção apresentada pelo réu reconvindo.
- tréplica – resposta que o réu apresenta ao autor – não está prevista a
sua existência no código, mas pode vir a existir novamente.
- Articulados supervenientes – permitem vir ao processo alegar factos
novos.
Classificações do articulados:
Podemos classificar os articulados segundo 3 diferentes perspetivas:
- articulados necessários são aqueles cuja oportunidade de
apresentação se verifica em toda e qualquer ação declarativa de processo
comum – existem necessariamente em qualquer ação, há sempre uma

99
oportunidade para a sua apresentação, não quer dizer que se apresentem (ex.:
petição inicial e contestação); articulados eventuais só podem ser
apresentados se se verificar um determinado pressuposto que ocorre
pontualmente (ex.: réplica e articulados supervenientes)
- Articulados obrigatórios são aqueles suja apresentação/produção se
revela indispensável à existência ou á subsistência de uma determinada ação,
ou seja, se aquele articulado não for apresentado a relação jurídico processual
ou não se inicia ou não prossegue (a petição inicial é o único articulado
obrigatório); os articulados facultativos são aqueles que no caso de não serem
apresentados não comportam qualquer consequência quanto á subsistência da
instancia, mas a falta da sua apresentação pode ter outras consequências,
nomeadamente quanto á parte que não as apresenta (ex.: contestação)
- Articulados normais são aqueles suja apresentação ou possibilidade de
apresentação tem lugar na sequência normal de tramitação da causa, ou seja,
de acordo com o ritualismo processual que o legislador definiu (ex.: petição
inicial, contestação, réplica). Articulados excecionais são aqueles cuja
oportunidade de apresentação não está prevista no normal funcionamento da
causa, ou seja, no normal ritualismo processual, assim, são apresentados
quando surge a oportunidade para isso (ex.: articulado superveniente – pode
ser apresentado mesmo depois da audiência final).
Petição inicial – artigo 552º CPC:
A petição inicial tem por função: o impulso processual, ou seja, dar
origem à propositura da causa; a alegação dos fundamentos da situação
jurídica invocada; dedução do pedido, isto é indicar a ou as pretensões que o
autor pretende ver decretadas pelo tribunal.
O artigo 552º CPC indica-nos uma série de requisitos que a petição
inicial deve obedecer:
- Endereço – morada a quem se dirige
- Introdução – indicar a identificação das partes, a forma do processo
(pode haver erro na forma do processo que se corrige através da convolação
na forma processual correta aproveitando os atos praticados)
- Exposição dos motivos – os factos alegados pelo autor
- Conclusão – o autor deve formular o pedido. se o autor não formular
nenhum pedido temos a nulidade de todo o processo
- Elementos complementares de indicação obrigatória: endereço do
mandatário, valor da causa, comprovativo do pagamento da taxa de justiça
- Elementos complementares de indicação facultativa: rol de
testemunhas e requerer outras diligencias probatórias. Os requerimentos
probatórios podem ser logo feitos na petição inicial, mas não é obrigatório que
o sejam (artigo 552º, nº6 CPC) é ainda relevante o artigo 598º, nº1 e 2CPC. No
caso do artigo 598º, nº2 a lei só permite alterar os requerimentos probatórios

100
até 20 dias antes em que se realize a audiência final. As testemunhas
indicadas pelo autor na petição inicial e as testemunhas indicadas pelo réu na
contestação podem ser notificadas pelo tribunal.
Na petição inicial o pedido é muito importante. O pedido caracteriza-se
por 4 grandes características: concretude, determinabilidade, certeza e
atualidade. O pedido deve corresponder a uma pretensão, concreta,
determinada, certa e atual que o autor quer ver quanto ao réu.
A pretensão tem de ser deduzida em termos que o tribunal, sobre a
pretensão, tem de ficar na posição de decidir julgá-la procedente ou
improcedente. O tribunal não responde a perguntas, decide proteções.
É possível deduzir pedidos genéricos (artigo 556ºCPC – remeter para o
artigo 569º CPC), ou seja, pedidos que não são nem determináveis, nem
determinados. Também posso deduzir um pedido genérico quando estou
dependente de uma conduta do réu o que o réu não prestou (ex.: condenar o
réu a pagar algo que devia ter sido apurado na prestação de contas que ele
deveria ter feito mas que não fez).
Universalidade de facto – rebanho
Universalidade de direito – estabelecimento comercial, herança indivisa
É ainda possível deduzir pedidos genéricos nos termos do artigo 569º
CPC – no pedido de indemnização não obrigatório indicar um valor concreto.
Quando o autor deduz um pedido genérico, depois vai ter de sofrer um
incidente de liquidação – permite tornar concreto um pedido genérico (artigo
556º, nº1, b) CPC).
Os pedidos tem de ser atuais, ou seja, tem de dizer respeito a realidades
atuais. No entanto, a lei admite 2 exceções a esta regra no artigo 557º CPC:
- Condenação no cumprimento de prestações vincendas (ex.: rendas
que se vencem depois de proposta a ação)
- Condenação em prestações futuras nos casos em que se pretende o
despejo do prédio. De maneira a que quando a obrigação se vencer já tenha
comigo um título executivo.
É possível cumular pedidos, mas depende do preenchimento de 3
requisitos:
- Requisito negativo – artigo 556º, nº1, b) CPC – não posso cumular dois
pedidos incompatíveis entre si, pois isso tem como consequência a ineptidão
da petição inicial que gera a nulidade de todo o processo
- Artigo 555º, nº1 CPC que remete para o 37º, nº1 CPC: não há
cumulação de pedidos se aos pedidos cumulados corresponderem formas
processuais diferentes. Também não se pode cumular pedidos se dessa
cumulação resultar ofensa das regras de competência internacional ou das
regras em razão da matéria ou da hierarquia, o que significa que se pode
101
cumular pedidos violando as regras de competência territorial ou as regras de
competência em razão do valor. Ex.: não posso cumular um pedido de revisão
de sentença estrangeira com um pedido qualquer que recaia na competência
dos tribunais de 1º instância.
Mas há uma exceção a estes requisitos cumulativos (artigo 555º, nº 2
CPC), que é o facto de no processo especial de divorcio ou separação sem
consentimento do outro conjugue se poder cumular esse pedido com um
pedido de condenação de pagamento de alimentos.
Pode-se deduzir pedidos alternativos (artigo 553º CPC):
Artigo 553º, nº1 - ex.: B compromete-se a pagar a C 50 mil euros ou
entregar-lhe determinado carro – isto é uma obrigação alternativa. Pode
acontecer que o autor venha dizer que o reu tinha de optar, mas o que ele
queria mesmo era o dinheiro. Por isso, o legislador elaborou o nº2do artigo
553º CPC. Neste caso, como o tribunal só pode decidir aquilo que lhe é pedido,
então para que o tribunal não se veja limitado, então este pode condenar o réu
a cumprir uma das prestações em alternativa.
É possível deduzir pedidos subsidiários, ou seja, sobre uma lógica de
subsidiariedade (artigo 554ºCPC) – o pedido subsidiário é o pedido que é
apresentado ao tribunal para ser tomado em consideração somente no caso de
não ser procedido o pedido anterior; é estabelecida uma prioridade, pois o
tribunal só vai reconhecer do pedido conhecido em segundo lugar se o primeiro
for julgado improcedente. Os pedidos subsidiários podem ser incompatíveis
entre si (ex.: posso pedir que um contrato seja declarado nulo e pedir que, se
não o for, então que o reu seja condenado a cumprir). Não é possível deduxir
pedidos subsidiários se corresponderem a esses pedidos formar processuais
diferentes, regras em razão da matéria, hierarquia ou competência
internacional distintas.
Apresentada a petição inicial esta é remetida a juízo através da
plataforma Citius, mas se não for obrigatória a existência do mandatário esta
pode ser apresentada pessoalmente na secretaria, por correio ou telecópia.
A primeira etapa da sequencia processual que se vai desenvolver é a
distribuição, mas há ainda uma operação puramente burocrática que é de
controlo formal da petição inicial pela secretaria contra aqueles elementos que
devem constar da petição inicial e que se não o for então não pode ser julgada
procedente – artigo 558º CPC.
A recusa da petição inicial pela secretaria pode ser reclamada para o juiz
do processo, podendo ainda haver recurso da decisão do juiz para a relação –
artigo 559ºCPC.

Contestação:

102
A contestação é um articulado da iniciativa do réu que corresponde ao
exercício pelo réu da sua defesa face às pretensões do autor. O réu tem de ser
citado e é a partir da citação do réu que surge a oportunidade de apresentação
da contestação (artigo 562º e 563ºCPC).
Citação urgente – artigo 561ºCPC: este regime hoje em dia tem puco
significado pratico, mas no passado era muito importante porque a distribuição
dos processos apenas se fazia 2 dias por semana, por isso uma ação podia
entrar no tribunal a ainda ficar alguma urgência em realizar a citação, devido à
suspensão de prazos de prescrição. Hoje em dia, a citação não depende de
despacho de juiz. no entanto, o legislador manteve, ainda, esta figura com um
interesse residual. Uma vez declara urgente uma citação, a secretaria deve dar
prioridade a esse processo e deixar de lado os demais.
Se for requerida citação urgente isso tem despacho limitar (artigo 226º,
nº4, f) CPC).
A citação na ação declarativa de processo especial comporta certos
efeitos que lhe são específicos (artigo 564ºCPC):
- Efeitos processuais:
- Princípio da estabilidade da instância (artigo 260º CPC + artigo
564º, b) CPC)
- Uma vez citado, o réu fica inibido de propor contra aquele autor
uma ação que tenha por objeto imediato a mesma questão jurídica, pois
ao abrigo do princípio da economia processual isso deve ser feito no
mesmo processo deduzindo uma reconvenção - artigo 564º, c) CPC
- Efeitos extra-processuais:
- Faz cessar a boa-fé do possuidor - artigo 564º, a) CPC
- Os efeitos que a citação tem na contagem do prazo de
prescrição de direitos – artigos 300º e seguintes CC, sendo que a definição é
dada no artigo 298ºCPC. A prescrição é uma forma de extinção de um direito
decorrente do não exercício pelo seu titular durante um lapso de tempo
estabelecido na lei (não há um prazo para exercer o direito). Se não exerço o
meu direito, ao fim de X anos esse direito extingue-se. No entanto, não há
prescrição se for um direito indisponível ou em relação ao qual a lei não admite
prescrição.
O prazo ordinário de prescrição é de 20 anos (artigo 309ºCPC), mas
existem prazos especiais de prescrição (artigo 310º CC; artigo 482 CC; artigo
498 CC), também existem as prescrições presuntivas que não são bem
prescrições, pois são presunções de cumprimento, ou seja, presume-se que a
obrigação correspondente aquele direito foi cumprida depois de um
determinado período de tempo.
A realização da citação te um efeito interruptivo na contagem de um
prazo prescricional, ou seja, determina que a contagem do prazo seja sustada

103
e que o prazo recomesse depois a ser contado desde o seu início – artigo 323º
CC. o que opera o efeito interruptivo é a citação, não é a data de propositura da
ação.
A citação não é o único facto que suspende a contagem do prazo
prescricional, mas é apenas esta que vamos estudar.
Muitas vezes, pode acontecer que a ação é proposta no limite do prazo
prescricional, mas a citação só é realizada mais tarde e, nesses casos, o
legislador tendo presente que o direito iria prescrever, estabelece no artigo
323º, nº2 CPC – atualmente, não obrigatório o autor requerer a citação. Há
autores que dizem que este artigo tem de se interpretado de forma atualista.
Mas há autores minoritários que dizem que esta norma deve continuar a ser
lida consoante ali está, ou seja, a norma só se aplica se no final da petição
inicial o autor requerer a citação do réu, senão esta norma não se aplica – esta
é a posição do professor.
Mesmo que haja nulidade da citação, esta continua a interromper o
prazo prescricional.
A verificação do facto interruptivo determinaria que se começasse a
contar a partir do prazo interruptivo um novo prazo. A realização da prestação
interrompe o prazo prescricional e suspende o reinício da contagem do prazo
prescricional (artigo 327ºCC+ artigo 326º CC).

104
20/05/2022
Nos efeitos extra-procesuais aquele que se destaca e que temos estado
a trabalhar é o efeito que a citação tem na contagem do prazo prescricional. A
citação tem por efeito interromper a contagem do prazo prescricional e, o
legislador acrescenta no artigo 323ºCC que se a citação não se realizar nos 5
dias seguintes a ter sido requerida pelo autor, por causa que não lhe é
imputável, então a prescrição tem-se por interrompida logo que decorridos
esses 5 dias.
A citação tem um outro efeito, que é o efeito de suspender o reinício da
contagem prescricional, isto funciona também como uma particularidade da
citação. Não se reinicia a contagem do prazo que foi interrompido enquanto a
decisão naquele processo não tiver sido tomada (artigo 327ºCC).
Quando se verifique a desistência ou a absolvição da instância ou esta
se considere deserta, o novo prazo processual volta a correr após o prazo
interruptivo (artigo 327ºCC). Quando assim é, o efeito suspensivo da citação
não se dá e o novo prazo prescricional começa a correr desde o facto
interruptivo.
Se por motivo processual que não é imputável ao autor o réu for
absolvido da instância.
Se a absolvição da instância acontece em 2027 para uma citação feita
em 2021, então o prazo de 3 anos que se iniciou com o facto interruptivo já
terminou – para que isto não aconteça vem o nº3 do artigo 327ºCC dizer que o
legislador dá 2 meses adicionais a contar da data de absolvição da instancia
para acautelar as expectativas do autor, mas isto só ocorre se a absolvição da
instancia não se dever a um motivo que é imputável ao autor.
Além da citação, também interrompe o prazo prescricional a Notificação
judicial de qualquer ato que exprima direta ou indiretamente a intenção de
exercer o direito – refere-se á notificação judicial avulsa ou notificação judicial
(artigo 256ºCPC)
As notificações judiciais avulsas são notificações realizadas por
intermédio do tribunal. A carta registada com aviso de receção faz prova de
que alguém enviou uma correspondência e de que essa foi recebida em
determinada data, mas não faz prova do conteúdo. Quando queremos ter a
certa absoluta do conteúdo foi efetivamente comunicado ao destinatário e da
receção do destinatário, então o requerente pode dirigir-se ao tribunal pedindo
para notificar X do assunto Y.
A realização da notificação segue as regras da citação, inclusivamente,
pode ser feita por contacto pessoal de um agente de execução ou de um
funcionário de justiça. Este meio processual esgota-se na realização da
notificação, pois não admite contestação.
A diferença entre a notificação avulsa e a notificação feita por uma
pessoa com os seus próprios meios é da certeza em relação ao conteúdo e,

105
também, porque tem um efeito de interrupção na contagem do prazo de
prescrição.
Há uma divergência na doutrina e na jurisprudência de que: se há tantas
interrupções quantas notificações avulsas se fizer, há quem entenda que só
pode haver uma única notificação avulsa.
Há outras causas de interrupção e de suspensão, nas quais não vamos
entrar em detalhe porque não são matéria de direito processual civil, mas que
podem ser encontradas nos artigos 318º e seguintes CC.
Contestação:
O prazo para contestar é de 30 dias – artigo 569º nº1 CPC. Porem este
artigo vem acautelar a situação de que, apesar de normalmente não haver
despacho liminar a ordenar a citação, mas pode haver (nos casos do artigo
326ºCPC, em que o juiz, em vez de ordenar a citação pode fazer um
diferimento liminar) casos em que o despacho liminar seja recorrido, por isso, a
parte final do artigo 569º, nº1 CPC vem dizer que nos casos de revogação do
deferimento liminar é notificado ao reu e o prazo começa a contar da data
dessa notificação.
Podem coexistir numa ação vários réus e, nesse caso, cara réu é citado
separadamente e, podem haver réus em reação aos quais se aplica um prazo
dilatório, réus em relação aos quais não se aplica nenhum prazo dilatório,
citações efetuadas em diferentes alturas, etc.. mas muitas vezes o réus tem
conveniência em contestar juntos, isto faria com que o reu cujo prazo
terminasse mais cedo se vinha impedido de contestar com outro reu, por isso
há um aproveitamento do principio do prazo de defesa entre o réus. Isto vale,
quer para os réus que queiram contestar separadamente, quer para os réus
que pretendem contestar em conjunto com os outros réus.
Isto pode levara a um problema adicional que é: se eu propuser uma
ação contra 4 réus, hoje é citado 1, na semana seguinte o outro e os outros 2
não se conseguem citar. Como a ação proposta assenta em litisconsórcio
voluntário, é possível desistir da instância ou do pedido em relação aos 2 réus
que ainda não foram citados. Os 2 réus que já foram citados e estavam a
aguardar o prazo dos outros 2 que ainda não foram citados, então renasce o
prazo de contestação destes réus e, assim podem contestar no prazo de 30
dias a contar no prazo de notificação da desistência.
A desistência da instância exige o acordo do réu, exceto se ainda não
tiver contestado. O réu que ainda não contestou não precisa de dar o acordo
para a desistência da instância.
O prazo de 30 dias que vimos para contestar pode ser prorrogado em 2
modalidades:
- A pedido do MP quando este é reu ou representa algum dos réus
(artigo 569º, nº4 CPC)

106
- A pedido de outros réus que não o MP invocando motivo ponderoso
que dificulta ao reu ou ao seu mandatário a defesa (artigo 569º, nº5 CPC).
Só se pode prorrogar um prazo que ainda está a decorrer.
É importante ter em conta o estabelecido no nº6 do artigo 569º CPC, que
determina que o facto de entregar o requerimento a pedir a contagem do prazo
não significa que há prorrogação do prazo.

107
26/05/2022
A citação do reu vai indicar-lhe o prazo que ele dispõe para apresentar a
contestação. Se o reu não se apresentar a defender-se na causa, então
dizemos que este está em revelia (réu revél):
- Revelia absoluta: (artigo 566ºCPC) o réu não deduziu oposição, não
constituiu mandatário nem teve qualquer intervenção no processo. Tem como
efeito a nulidade da citação não é de conhecimento oficioso do tribunal (tem de
ser invocada pela citado ou pelo citando), mas neste caso é de conhecimento
oficioso e, se o tribunal encontrar alguma irregularidade no ato manda renová-
lo/repeti-lo.
- Revelia relativa: não apresentou contestação dentro do prazo mas teve
qualquer intervenção no processo (ex.: constituiu advogado, consultou o
processo, etc). permite concluir que o réu tomou conhecimento da existência
do processo, por isso se não apresentou contestação deve-se a uma falha que
lhe é imputável.
A revelia tem como função é efeito cominatório semipleno que é o de se
considerarem provados os factos alegados pelo autor na petição inicial.
- Revelia operante: opera efeitos no processo (artigo 567ºCPC). existem
2 pressupostos para que haja revelia operante: citação pessoal ou citação
edital quando se tenha juntado procuração a mandatário pessoal dentro do
prazo de contestação. Se o reu não contesta, mas juntou procuração dizemos
que é uma revelia relativa, se o reu conteste a junta procuração dizemos que
há revelia relativa qualificada. Isto tem como consequência a confissão dos
factos, por isso avançamos diretamente para a fase de discussão e julgamento
abreviado da causa (artigo 567º, nº2 CPC) – pode dar-se o caso de os factos
alegados pelo autor não darem procedência aos pedidos que deduziu.
- Revelia inoperante: não opera efeitos no processo. Não se produz o
efeito cominatório semipleno nos casos do artigo 568ºCPC (que funcionam
como uma exceção á regra). Se houver vários réus, um contesta e o outro não,
então não podemos dar os factos confessados em relação a um réu e não aos
outros, assim, a revelia não é operante relativamente aos factos contestados,
mas se houver factos que dizem apenas respeito ao réu revél então esses
podem dar-se como provados.
Também há revelia operante sendo o réu incapaz, em que está
dependente de terceiro (legais representante e depois o MP). Nos casos dos
incapazes não há revelia operante desde que a causa se situe no âmbito da
sua incapacidade.
Também não há lugar a efeito cominatório semipleno se o réu tiver sido
citado editalmente e permanecer na situação de revelia absoluta.
A aliena d) do artigo 568ºCPC refere-se a direitos indisponíveis. Os
direitos indisponíveis não podem ser afastados, pelo que não há revelia
operante.

108
Também não há revelia operante em relação aos factos cuja prova exija
documento escrito (ex.: declarações de vontade referentes á compra e venda
de bens imóveis).
Ainda assim, a revelia inoperante tem algumas consequências na
tramitação do processo, pois não há audiência prévia (artigo 592º, nº1, a)
CPC).
Contestação:
A contestação também tem de obedecer a certos requisitos (artigo
572ºCPC):
- Individualizar a ação, ou seja, identificar o tribunal, o juízo, o processo,
as partes
- Indicar a fundamentação fáctico-jurídica da defesa
- Autonomizar os factos constitutivos das exceções invocadas
A alínea d) permite que se façam logo os requerimentos probatória, mas
existem particularidades, como é o caso no 556º, nº6 CPC do 598º, nº1 CPC e
do 598º, nº2 CPC – alteração na sequencia da replica, alteração da audiência
previa, alteração do rol de testemunhas.
Em relação á contestação temos de ter 2 princípios:
- Princípio da concentração da defesa (artigo 573º, nº1 CPC) – o réu
deve concentrar todos os seus meios de defesa na contestação, sob pena de
ficar precludido o seu conhecimento. Porem há 2 exceções:
1. Meios de defesa que a lei diga que tem de ser deduzidos em
separado
2. Exceções, incidentes ou meios de defesa que sejam
supervenientes, ou seja, que venham depois da contestação ou que se tratem
de questões que o tribunal poderia conhecer oficiosamente sem ninguém
invocar, também os poderá conhecer depois da contestação mesmo que
tivesse conhecimento delas e não a tivesse invocado na contestação (ex.:
caducidade de direitos).
Prescrição (artigo 303º CC) – extinção de um direito pelo seu não
exercício durante o prazo que a lei prevê. Tem de se invocada na contestação,
pois tem de se invocada por quem a aproveita.
Caducidade (artigo 333º CC) – dá-se quando por vontade das partes ou
por força da lei o direito tem de ser exercido durante um prazo determinado. É
apreciada oficiosamente pelo tribunal.
- Princípio do ónus da impugnação simplificada (artigo 574ºCPC): o reu
tem de tomar posição especificadamente dos factos que o autor alega na
petição inicial. O autor deve dizer se o facto é falso ou se é verdadeiro em
relação a cada um dos factos que o autor alega, sendo que (segundo o nº2 do

109
artigo 574ºCPC) se consideram provados por acordo os factos em relação aos
quais o réu não se menciona na contestação – mas há exceções. No entanto, o
réu pode declarar que não sabe se determinado facto é real nos termos do nº3,
considerando-se confessados se forem factos pessoais dele ou de que o réu
deva ter conhecimento, equivalendo a impugnação quando não se tratam de
factos pessoais dele ou de que o réu deva ter conhecimento.
Há exceções a esta regra:
- Factos que não podem ser objetos de confissão – factos
relativos a direitos indisponíveis
- Factos que só podem ser provados por documento escrito.
- Também não se aplica esta regra aos factos que não tendo sido
especificadamente impugnados na contestação, mas estejam de acordo com a
sua defesa (ex.: dizer que o réu nunca conduziu trotinetes na vida, faz com que
não seja necessário contestar uma situação especifica em que dizem que ele
conduziu.
- Não há ónus de impugnação especificada em relação a
incapazes, ausentes ou incertos representados pelo MP (nº4 do artigo
574ºCPC).
Em relação aos factos instrumentais (artigo 5ºCPC) que sejam alegados
na petição inicial consideram-se admitidos por acordo se não forem
especificadamente impugnados pelo reu, mas essa admissão não seja feita por
acordo. A admissão por acordo é o grau máximo de intocabilidade factual.
Na contestação o réu pode-se defender (artigo 571ºCPC) por:
- Defesa direta ou defesa por impugnação: o réu situa-se na versão
fáctico jurídica apresentada pelo autor. O réu coloca em causa a versão
apresentada pelo autor, mas vai contestar os factos que o autor invocou. Pode
consistir em:
- Impugnação direta: o réu contradiz os factos impugnados na
petição inicial
- Impugnação indireta: quando afirma que os factos ainda que
provados não podem conduzir á consequência jurídica que o autor pretende
deles extrair, isto é, os factos não são suficientes para estabelecer a posição
jurídica que o autor quer ver tutelada (não pondo em causa os factos alegados
pelo autor).
Estes meios não são mutuamente excludentes.
- Defesa indireta ou defesa por exceção: o réu traz factos novos á causa,
podendo estes ser por diferentes razões. Pode ser por:
- Exceção dilatória: o réu alega factos novos que impedem o
tribunal de avançar para o julgamento da causa

110
- Exceção perentória: o réu alega factos novos que servem de
causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invocado pelo autor
invocando a improcedência total do pedido. Conduzem á absolvição do pedido,
podendo ser absolvição total ou absolvição parcial. (Ex.: caducidade,
prescrição cumprimento de uma obrigação)
As exceções dilatórias estão mais detalhadamente previstas no artigo
577º CPC, que nos mostra um elenco meramente exemplificativo, mas, quase
todas as alíneas se tratam de situações de falta de um pressuposto processual
(exceto a alínea b), que não tem a ver com nenhum pressuposto processual,
mas que a lei configura como um pressuposto processual – a nulidade de todo
o processo verifica-se quando é inepta a petição inicial).
As exceções dilatórias nem sempre são de conhecimento oficioso do
tribunal (artigo 578ºCPC).
Efeitos das exceções dilatórias se julgados procedentes – artigo 576º,
nº2CPC: obstam a que o tribunal conheça do mérito da causa e dão lugar á
absolvição da instância ou á remessa dos processos para outro tribunal. Já as
exceções perentórias -artigo 576º, nº3 CPC: são de conhecimento oficioso
salvo se houver norma avulsa que diga que naquele caso concreto não o é
(artigo 579ºCPC) e tem com efeito a condução a que o pedido do autor seja
julgado improcedente na sua totalidade ou em parte.
Requisitos da contestação (artigo 572ºCPC)
Na contestação pode haver lugar á reconvenção. A reconvenção é a
possibilidade de o reu deduzir pedidos contra o autor. originariamente a
reconvenção era um incidente da instância e, depois passou a ser um
articulado próprio, sendo que atualmente é um capítulo dentro do articulado
contestação. A reconvenção tem uma natureza necessária porque um dos
efeitos da citação é o de inibir o réu de propor uma ação contra o autor quanto
á mesma questão jurídica (artigo 564ºc) CPC). No entanto, a reconvenção,
alem dos aspetos processuais que devem ser tratados a propósito do
articulado devem ter ainda alguns requisitos, pois tem de haver uma conexão
entre o objeto inicial da causa e o pedido e a causa de pedir reconvencional, ou
seja, tem de ter uma conexão material com a pretensão do autor e só assim é
que será admissível a reconvenção.
O artigo 266ºCPC diz-nos que a reconvenção é admissível apenas nas
alíneas emergentes no nº2:
a.) quando o pedido que o reu quer deduzir contra o autor emerge de um
facto jurídico invocado pelo autor na petição inicial ou de um meio de defesa
direto ou indireto que o reu invocou. A reconvenção é admissível quando o
facto jurídico é o mesmo
d.) quando o pedido do réu tende em conseguir em seu benefício o
mesmo efeito jurídico que o autor pretende obter (ex.: o autor pretende que
seja reconhecia propriedade em relação a um imóvel, mas o reu reconvindo

111
vem pedir que seja reconhecida a sua propriedade relativamente ao mesmo
imóvel)
b.) quando o réu se proponha a tornar efetivo o direito a benfeitorias ou a
despesas à coisa cuja entrega lhe é pedida
c.) nas situações de compensação. Deu durante muito tempo grandes
divergências doutrinárias, mas o legislador veio regular esta matéria no atual
CPC de uma forma inovadora que está em vias de ser revisto. A compensação
(artigo 847ºCPC) tem como requisitos que o crédito seja exigível judicialmente
(exclui os créditos emergentes de obrigações naturais) e que as duas
obrigações que vão ser compensadas tem como objeto coisas fungíveis da
mesma espécie e qualidade, sendo que se não forem de igual montante pode
dar-se a compensação na parte correspondente.
Quando o réu quer exercer esta faculdade de compensação em relação
ao autor, invocando um crédito que este tem em relação ao autor, isto pode
fazer-se extrajudicialmente. Durante muito tempo seguiu-se a teoria de que se
o reu queria compensar um crédito até ao montante que o autor lhe pedia isso
podia ser invocado como exceção perentória, mas se o reu queria alem de
compensar obter um pagamento em excesso, ai tinha de fazer como exceção
perentória até ao valor e o resto como reconvenção. No atual código, a
invocação de um crédito por parte do réu deve ser deduzida reconvenção
(artigo 266º CPC).
Porem, há alguns obstáculos á reconvenção previstos no artigo 266º
CPC:
- nº3 - Não há reconvenção se a forma processual aplicável ao pedido
reconvencional for diferente da forma processual aplicada ao pedido do autor
cuja ação está a decorrer, mas isto é suprível de acordo com o artigo 37º, nº2 e
3ºCPC.
- nº4 - situações em que há litisconsórcio necessário, por isso,
juntamente com a reconvenção o réu pode juntar o incidente de intervenção de
terceiros que no caso for aplicado. Isto vale quer para situações de
litisconsórcio necessário, quer para situações de litisconsórcio voluntário.
- nº5 – nos casos de chamamento de terceiros de litisconsórcio
voluntário, o tribunal pode dispensar o chamamento desses terceiros em caso
de isso ter consequências graves no processo
A reconvenção subsiste ainda que no pedido primitivo haja lugar á
absolvição do réu da instância, casos em que o pedido reconvencional se for
bem deduzido pode prosseguir. Pode haver uma absolvição da instância do
pedido primitivo e a reconvenção continuar.
Processualmente, a reconvenção é regulada no artigo 583ºCPC e
seguintes. A reconvenção é um capítulo autónomo dentro do articulado da
contestação – tudo aquilo que estudamos quanto ao pedido da petição inicial
vale também quanto ao pedido nos casos de reconvenção.

112
A reconvenção interfere com o valor da causa (artigo 299º, nº1 CPC). só
há soma dos dois valores se forem pedidos distintos, pois se os dois fizerem o
mesmo pedido, não há soma do valor dos pedidos (ex.: caso em que autor e
réu pede ambos para serem declarados proprietários de um mesmo
imóvel).daqui vai resultar que a ação quando foi proposta tinha um determinado
valor e, porque houve reconvenção o valor da causa vai ser outro e isso vai
gerar uma incompetência do tribunal em razão do valor (artigo 93º, nº2 CPC).
Mas isso só vale para a competência em razão do valor, porque se estivermos
perante um caso de competência territorial, então há uma extensão da
competência do tribunal competente para conhecer o pedido primitivo, também
para conhecer o pedido reconvencional interposto pelo réu (artigo 93º, nº1
CPC). A extensão da competência não vale para as regras da competência
internacional, em razão da matéria ou em razão da hierarquia.
Ex.: propus uma ação no tribunal marítimo onde estava em causa uma
ação de transporte marítimo de mercadorias e o reu deduz reconvenção de um
crédito emergente de um contrato de transporte rodoviário de mercadorias.
Estamos perante uma situação de incompetência material, pelo que a
reconvenção não pode ser admitida.
O artigo 575ºCPC diz-nos que a contestação é notificada ao autor pela
secretaria e, havendo lugar a várias contestações a secretaria aguarda pela
apresentação de todas as contestações ou pelo decurso do prazo e só depois
notifica todas as contestações que tenham sido apresentadas ao autor. O
regime do artigo 221ºCPC diz-nos que os mandatários são obrigados a notificar
os mandatários das partes.
Notificada a contestação pode haver lugar a um articulado adicional – a
replica. A replica é apresentada pelo autor, mas apenas nas situações
previstas no artigo 594ºCPC. Antigamente A replica tinha 2 funções: servia de
contestação á reconvenção e para responder às exceções que o réu tinha
invocado na contestação. O novo CPC vem dizer que a réplica só é admissível
para o autor deduzir toda a defesa quanto á matéria da reconvenção. Hoje em
dia a replica está restringida a um articulado de contestação á reconvenção.
A replica pode ser admitida nas ações de simples apreciação negativa
(artigo 584º, nº1 CPC) em que o ónus da prova reside no réu. Nestas ações a
replica tem uma função de resposta á alegação dos factos constitutivos que o
reu tenha feito na alegação da sua contestação.
A replica é a apresentada no prazo de 30 dias a contar da notificação da
contestação, por isso é que o legislador diz que as notificações devem sem
apresentadas todas ao mesmo tempo.
Em matéria de apresentação da replica vigora no artigo 586ºCPC remete
para o 569ºCPC que permite a prorrogação da replica. Vigora para a replica as
mesmas regras que vimos em relação á contestação. Artigo 587º, nº1 e nº2
CPC.

113
Como a replica é a contestação á reconvenção, o auto reconvindo pode
também defender-se com exceções. A resposta a estas exceções é regulada
pelo artigo 3º, nº4 CPC, em que a parte pode exercer o contraditório as
exceções da replica na audiência prévia.
Se o réu tiver invocado na contestação a exceção de incompetência
relativa (é uma exceção dilatória), está previsto no artigo 103ºCPC um
articulado excecional para responder apenas a essa exceção.
Dia 9 de junho não há aula

114
27/05/2022
Caso prático:
António, solteiro, residente no município de Vila Nova de Gaia, propôs,
por intermédio do advogado por si constituído, Eduardo, uma ação declarativa
de processo comum contra “Bentex, Transportes Internacionais de Mercadorias
Lda.”, com sede e administração principal no município de Aveiro,
peticionando à condenação desta sociedade a pagar-lhe uma indemnização de
2.500€, alegando que quando António se encontrava a pilotar o seu barco de
recreio no canal de acesso ao Porto de Leixões, sito no município de
Matosinhos, um cabo do navio Imperial, propriedade de Bentex, soltou-se da
amarra e foi projetado na direção de António, acertando-lhe e causando neste
diversos ferimentos que determinaram um impedimento para o trabalho com a
duração de 20 dias e a necessidade de realização de tratamentos médico-
cirúrgicos.
A Bentex foi regularmente citada, vindo a apresentar contestação em
29/03/2022. Na sua contestação, além de se defender em relação ao pedido de
António, a Bentex deduziu reconvenção peticionando a condenação de António
a pagar-lhe 2.600€ referente ao preço da prestação de serviços de transporte
de um contentor que Bentex prestara a António em 2018, divida essa que ainda
estava por pagar.
A contestação foi notificada pela secretaria a Eduardo através de
comunicação expedida por via eletrónica através da plataforma Citius em
8/04/2022, uma vez que o sistema Citius se encontrava indisponível naquela
data.
Entretanto, Eduardo morreu a 30/04/2022, facto que foi comunicado ao
tribunal logo no próprio dia, tendo António constituído novo mandatário,
Francisco, através de procuração forense que foi junta ao processo através de
requerimento apresentado via Citius nesse meso dia.
Entretanto, numa reunião que tiveram em finais desse mês de maio,
Francisco sugeriu a António que desistisse do pedido formulado nessa ação e
que intentasse contra a Bentex um procedimento de injunção, a peticionar a
mesma quantia com base nos mesmos factos porque, segundo Francisco,
estes procedimentos são bastante mais céleres do que uma ação de processo
comum e, normalmente, estão decididos em poucos meses, com muito mais
vantagem para António.
b.) Qualifique e aprecie a admissibilidade do pedido reconvencional
deduzido pela Bentex Lda.
Resposta:
1º - explicar o que é reconvenção, dar noção de reconvenção,
enquadrar, explicar as vias de reconvenção, explicar que não é qualquer
pretensão que pode ser dirigida pelo reu contra o autor pois exige-se uma
conexão entre o pedido reconvencional e o pedido primitivo.

115
2º- no artigo 266ºCPC está prevista a situação do caso prático? Há aqui
um pedido de responsabilidade civil extracontratual e a Bentex em reação
deduz um pedido na condenação do pagamento de uma prestação de um
contrato. Assim, nos termos da alínea c) é admitida reconvenção.
Nas ações de indemnização por responsabilidade civil extracontratual é
preciso ver se o facto foi praticado com dolo ou com negligencia (artigo
853ºCC). Aqui o facto não foi praticado com dolo, por isso, não se aplicaria o
obstáculo do 853º, a) CC.
Se ele não pretendesse obter a compensação ou o pagamento do
remanescente, se fosse para obter o conhecimento do crédito e o seu
pagamento integral já não seria admissível porque falta a conexão, pois não
emerge do mesmo facto jurídico. Também não se trata de benfeitorias e
despesas realizadas com a coisa.
Há aqui outro problema que também tem de ser identificado na resposta.
Quando resolvemos a alínea a) o tribunal competente para conhecer da ação
era o tribunal marítimo e, o tribunal competente para reconhecer da questão se
esta fosse deduzida autonomamente é importante perceber se se trata de
transporte marítimo de contentor, caso em que não há impedimento da
reconvenção nos termos do 266º, nº3. Mas se não se tratar de transporte
marítimo então já não é admissível reconvenção. (artigo 113º LOSJ)
As únicas regras de competência que podem ser infringidas para admitir
um pedido reconvencional são de valor e território. As regras de competência
em razão da matéria, hierarquia e competência internacional não podem ser
infringidas.

c.) Indique a data exata que corresponde ao último dia do prazo para
apresentação da replica por António.
Resposta:
De acordo com o artigo 585ºCPC, a replica é apresentada no prazo de
30 dias, a contar daquele em que for ou se considerar notificada a
apresentação da contestação.
Neste sentido, importa perceber quando se considera notificada a
contestação.
(Continuar a resolução em casa)
Caso prático:
Em 17 de maio de 2014, António, por descuido seu, embateu a bicicleta
que conduzia na montra da padaria de Bernardo, causando-lhe um prejuízo no
valor de 4 mil euros. Desde essa data Bernardo tem vindo a insistir junto de
António para que este proceda ao pagamento daquele montante, tendo
inclusivamente remetido cartas registadas com aviso de receção em

116
07/09/2014, 09/04/2015, 15/05/2016 e 14/01/2017. Na falta de qualquer
resposta, Bernardo requereu a notificação judicial avulsa de António, a qual se
realizou a 25/02/2017. Ainda assim, António não procedeu ao pagamento de
qualquer indemnização.
Inconformado, Bernardo, por intermédio do seu advogado Carlos que
constituíra com poderes forenses gerais, propôs em 15/05/2017 no Tribunal da
Comarca do Porto uma ação declarativa de processo comum contra António
destinada a obter a condenação a pagar-lhe uma indemnização no valor de 4
mil euros.
António foi citado por via postal na sua residência em Coimbra através de
carta, cujo aviso de receção foi assinado pelo seu filho, que declarou estar em
condições de entregar a António, em 22/05/2017
António apresentou contestação, subscrita pelo seu mandatário Eduardo, a
quem outorgara procuração com poderes forenses gerais, na qual deduziu
pedido reconvencional contra Bernardo, pedindo a condenação deste a pagar-
lhe 1.500€ relativos a um fornecimento de pão que não fora pago.
Na contestação António invocou ainda a prescrição do direito de
Bernardo.
A contestação foi notificada ao autor por comunicação expedida através
do sistema Citius em 08/09/2017.
Entretanto, a 16/09/2017 Carlos morreu, desse facto se dando
conhecimento ao tribunal no próprio dia. Bernardo procedeu à constituição de
novo mandatário mediante procuração junta aos atos em 25/06/2017 e nessa
mesma data comunicada ao mandatário da contraparte através do sistema
Citius.
e.) Qualifique a exceção de prescrição invocada por António e aprecie o
seu fundamento.
Resposta:
A invocação de exceções constitui uma forma de defesa indireta,
corresponde á invocação de factos novos com o objetivo de obstar ao
procedimento da causa ou de impedir, modificar ou alterar o procedimento da
causa pelo autor.
Artigo 576º, nº3 – exceções perentórias são aquelas que importam… a
prescrição extingue o direito de crédito invocado pelo autor. Esta exceção é ou
não procedente e se for qual é a consequência que vai ter no processo. Está
aqui em causa a prescrição de um direito de crédito (indemnização emergente
de responsabilidade civil extracontratual) que tem um prazo prescricional de 3
anos, assim, prescreve a 17/05/2017.
A interpelação extrajudicial não interrompe nem suspende a contagem
do prazo processual, pois não afetam a prescrição no direito de Bernardo a
17/05/2017.

117
Com a interpelação realizada através de notificação judicial avulsa
interrompe-se o prazo de prescrição (artigo 323ºCC). Assim, a 25/02/2017
temos a interrupção da prescrição. A notificação judicial avulsa um processo
especial que se esgota com a realização da notificação judicial, por isso, a
apenas tem efeito interruptivo. Assim, ao prazo prescricional para-se a
contagem do prazo judicial, inutiliza-se o período já decorrido e vai começar a
contar um novo prazo judicial de 3 anos e por isso o direito vai prescrever
agora em 25/02/2020, o que só por si nos dava uma indicação segura de que a
exceção era improcedente.
A ação foi proposta a 12/05/2017 e a notificação realizou-se a 22/05/2017.
Temos aqui outro facto interruptivo da prescrição e por isso este é um facto
simultaneamente interruptivo e suspensivo. O prazo que terminaria em
25/02/2020 vai ser interrompido em 22/05/2017 e não se vai realizar a sua
contagem até que a decisão transite em julgado.

f) O pedido reconvencional é admissível neste caso?

118
02/06/2022
Articulados supervenientes (artigo 588º CPC)
Os articulados supervenientes são articulados eventuais, facultativos e
excecionais porque não cabem na sequência da normal tramitação da causa.
Destinam-se a permitir a alegação de factos constitutivos (autor) ou
extintivos (réu) do direito invocado. Trata-se de factos que não puderam ser
alegados nos articulados da petição inicial e da contestação. Se pudessem ter
sido alegados nesses articulados (petição inicial e contestação), então já não
poderiam vir a ser alegados: no caso do autor é o principio da estabilidade da
instancia, pois uma vez citado o réu fica estabilizada a causa de pedir; em
relação ao réu este está obrigado a concentrar a sua defesa na contestação.
Quando há factos que deveriam ter sido invocados num momento
próprio, mas isso não foi possível, então utilizam-se os articulados
supervenientes.
Quais são os factos supervenientes? Artigo 588º, nº2 CPC – factos
ocorridos posteriormente ao termo dos prazos marcados nos artigos
precedentes e os factos anteriores de que a parte só tenha só tenha
conhecimento depois de findarem esses prazos.
Se o autor tiver direito a apresentar réplica (contestação à reconvenção)
então os factos supervenientes podem ser deduzidos nesse articulado
posterior. Os factos supervenientes podem ainda ser alegados num articulado
excecional ad hoc que é apresentado com essa finalidade de alegas factos
supervenientes (nº1). Quando é que se apresenta? Nº3 – na audiência previa
quando os factos que se queiram alegar tenham sido conhecidos até á
audiência preia; nos 10 dias depois a ser notificado de que foi agendada a data
para a audiência final; na audiência final se os factos que quero alegar
ocorreram posteriormente ou a parte teve conhecimento dos mesmos em data
posterior á audiência previa ou 10 dias após a notificação para a audiência
final.
Este articulado (artigo 588º, nº3, c) CPC) é apresentado oralmente uma
vez que o sue momento de apresentação é nas audiências previas ou na
audiência final. Tem de ser ditado para a ata a alegação de factos novos
supervenientes e a sua superveniência.
O articulado superveniente é sempre objeto de despacho liminar, por
isso, pode ser liminarmente dispensado nos termos do nº4 do artigo 588ºCPC.
Os factos alegados constituem tema de prova.
Pré-saneamento (fase facultativa):
Antes da audiência previa pode existir a fase do pré-saneamento, onde
se profere o despacho pré-saneador. Esta fase é facultativa. O despacho pré-
saneados visa prosseguir as exigências do artigo 590º, nº2 CPC. o legislador
dá uma preferência a que as ações sejam decididas pelo mérito e que, sempre

119
que possível se possam suprir as exceções dilatórias (artigo 590º, nº2 e artigo
6ºCPC).
Este é o primeiro momento em que o juiz tem acesso ao processo. O juiz
apenas viu as peças processuais se houver revelia absoluta em que há
discussão e julgamento final da causa. No entanto, o juiz pode ter acesso ao
processo quando a citação depende de despacho prévio do juiz.
É nesta fase que a secretaria faz os atos conclusos ao juiz (abre uma
conclusão do processo). Trata-se da entrega do processo físico com todos os
documentos ao juiz.
Se o juiz neste primeiro contacto identificar a verificação de uma
exceção dilatória vai promover o seu suprimento. Se houver documentos que
estão em falta ou que ele entende que podem ou devem ser juntos porque são
imprescindíveis, o juiz pode, no despacho pré-saneador determinar às partes
que se junte um documento.
A função mais problemática do despacho saneador é providenciar pelo
cumprimento dos articulados. Se o tribunal identificar que os articulados tem
falhas ou vícios formais, pode determinar á parte respetiva que aperfeiçoe o
articulado. O aperfeiçoamento dos articulados pode ter por objeto o
aperfeiçoamento de irregularidades formais (nº3 do artigo 590ºCPC – erros de
escrita, erros de calculo, identificação das exceções dilatórias) e imprecisões e
insuficiência na alegação de factos (nº4 – está em causa vícios substanciais: o
autor não alegou os factos que queria alegar ou foi insuficiente nessas
alegações).
Porém, há um limite a esta possibilidade, que está regulado no nº6, que
nos vem dizer que as alterações á matéria de facto alegadas devem conformar-
se com os limites do 265ºCPC, ou seja, os limites da modificação objetiva da
instância. O autor não pode modificar a causa de pedir a não ser nos termos
em que o poderia fazer no termos do artigo 265ºCPC. este pedido do juiz é
apenas para concretizar/clarificar a petição inicial que ele apresentou
anteriormente. O réu também deve respeitar o princípio da especificação da
defesa e ónus da contestação simplificada, assim, não pode invocar meios de
defesa que não tinha invocado anteriormente.
A apresentação do articulado aperfeiçoado está sujeita ás regras de
contrariedade e de prova (nº5). O prazo geral de resposta é de 10 dias d artigo
149º.
O despacho em que o juiz convida a supri irregularidades formais ou
vícios dos articulados não admite recurso.
Como vimos na aula passada, o artigo 3º, nº4 CPC, para que não haja
um ping-pong eterno de respostas o legislador impõe um limite, atualmente é a
replica que apenas tem como função a contestação á reconvenção. Se o reu
na reconvenção invocar exceções dilatórias o reu não tem como responder, por
outro lado, se o autor reconvindo na replica invocar exceções dilatórias em

120
relação ao pedido reconvencional o réu reconvindo não tem onde contestar
essas exceções dilatórias, por isso, nestas circunstâncias, o contraditório é
exercício nos termos do artigo 3º, nº4 CPC.
Tem-se vulgarizado nos tribunais um costume praeter legem (não
contraria a lei mas acrescenta-lhe alguma coisa) de o tribunal, na fase do pró-
saneamento, convidar a parte em causa (autor ou reu reconvinte) a apresentar
um articulado ad hoc para responder às exceções.
Decorrida esta fase intermédia facultativa do pré-saneamento dá-se
início á fase propriamente dita da audiência prévia. O legislador impõe aqui um
prazo meramente ordenador/disciplinar (todos os prazos que a lei prevê para
atos do tribunal ou da secretaria são prazos meramente ordenadores, casos
em que o incumprimento não tem relevância para o processo, mas pode haver
responsabilidade disciplinar) – artigo 591º CPC.
Nas situações de revelia operante (o réu é revel mas não se produz
efeito cominatório semi-pleno), então não se realiza audiência previa. Não vale
a pena realizar audiência previa porque o réu é revél.
Também não há lugar á audiência previa se o processo tiver de findar no
despacho saneador através da procedência de uma exceção dilatória. A
consequência da procedência de uma exceção dilatória é a absolvição da
instancia ou com a remessa do processo para outro tribunal – nestes casos o
juiz não precisa de realizar a audiência previa, desde que a questão da
exceção dilatória em causa já tenha sido debatida nos articulados – isto será
difícil de acontecer exceto se o juiz fizer o articulado praeter legem. Com essa
resposta já pode proferir saneador sem haver audiência previa e absolver o reu
da instância em caso disso.
O juiz pode dispensar a realização da audiência previa pelos motivos
apresentados no artigo 593º, nº1 CPC. o juiz dispensa a realização da
audiência previa e profere por escrito os despachos que lhe caberia proferir na
própria audiência previa. Neste caso, as partes tem direito a reclamar destes
despachos, mas a reclamação é sempre feita em audiência previa, por isso, a
parte que pretenda reclamar tem o direito potestativo de requerer em 10 dias a
realização da audiência prévia (artigo 593º, nº3 CPC).
Tramitação da audiência previa: não é adiada se faltarem as partes ou
os seus mandatários (artigo 591º, nº5 CPC) e é sempre que possível gravada
(artigo 591º, nº4 CPC).
No anterior CPC havia a audiência preliminar e o hábito era que a
audiência preliminar fosse realizada no gabinete do juiz com alguma
informalidade. O novo CPC diz que a audiência previa tem de ser gravada
sempre que possível e, seguindo as regras de gravação da audiência final.
Estas regras aplicam-se á audiência previa o que leva a que na pratica
as audiências previas sejam realizadas nas salas de audiência do tribunal. Isto

121
leva a discutir se as audiências previas estão sujeitas ou não ao principio da
publicidade.
Finalidades da audiência previa- artigo 491º, nº1 CPC:
a.) tentar a conciliação das partes – o artigo 594ºCPC diz-nos que
quando a causa couber nos poderes de disposição das partes pode haver em
qualquer altura do processo lugar a tentativa de reconciliação
b) e c)) exercer o contraditório – o contraditório é quanto ás exceções
invocadas no ultimo articulado admissível. Nos termos da aliena b) também se
pode fazer o contraditório quanto ás questões de fundo desde que o tribunal se
proponha logo a decidir o mérito da causa na audiência previa, logo no
despacho saneador – é o julgamento abreviado ou antecipado da causa.
c.) aperfeiçoamento dos articulados – discutir as posições das partes
com vista á delimitação dos termos do litigio e discutir a necessidade de
aperfeiçoamento dos articulados.
d.) e f)) saneamento e condensação a causa
e.) adequação processual
g.) programação da audiência final
É na audiência previa que se profere o despacho saneador e o
despacho de delimitação dos termos do litígio.
O despacho saneador é um despacho intermédio proferido no final da
audiência previa ou na sequência da sua dispensa e tem por finalidade
conhecer e decidir as exceções dilatórias e conhecer as nulidades processuais
que tenham sido invocadas pelas partes ou que o tribunal deva conhecer
oficiosamente. O objetivo é que numa fase intermédia do processo se permita
ao tribunal eliminar o que não interessa ou mesmo por fim ao processo. (artigo
595º, nº1, a) CPC)
Invocando falta de elementos, o tribunal pode relevar para a sentença o
conhecimento de exceções dilatórias (artigo 595ºCPC).
Uma segunda finalidade do despacho saneador é proceder ao
julgamento antecipado da causa, ou seja, no artigo 595º, nº1 b.) CPC refere
que o tribunal pode conhecer imediatamente do mérito d causa, ou seja, julgar
a pretensão o autor procedente ou improcedente. Não é normal que isto se
faça neste momento, mas a lei permite que o faça sempre que o estado do
processo o permitir – esta decisão pode ser parcial, não precisa de ser quanto
a toda a questão de fundo (é possível conhecer de um só pedido quando o
autor deduziu mais que um ou conhecer de parte de um pedido).
O despacho saneador fica registado na ata da audiência prévia. O
despacho saneador pode ser proferido por escrito nos termos do artigo 595º,
nº2 CPC.

122
Quando o tribunal conheça logo no todo ou em parte do mérito da causa,
o despacho saneador assume a denominação de saneador-sentença e pode
ser executado como sentença se for caso disso. Portanto, tem o mesmo valor
jurídico que uma sentença. O saneador-sentença é imediatamente recorrível
nos termos do 644º, nº1, b)CPC.
Se a ação tiver de prosseguir: prossegue se o tribunal ao abrigo da
alínea a) do nº1 do 595ºCPC não julgou procedente nenhuma exceção dilatória
ou nenhuma nulidade que impedisse o prosseguimento da causa (nulidade de
todo o processo decorrente da ineptidão da petição inicial), nem conheceu de
todo o pedido ao abrigo da alínea b). Se a ação tiver prosseguido o juiz profere
o despacho de delimitação do objeto do litígio (artigo 596º CPC) - o juiz vai
delimitar o objeto e indicar os temas em relação aos quais é necessário
produzir prova.
A prova só se vai produzir na audiência final ou eventualmente antes da
audiência final.
O artigo 596º, nº2 CPC diz-nos que o despacho de delimitação do objeto
do litígio e de enunciação dos temas de prova pode ser reclamado. o juiz
profere o despacho de delimitação do objeto do litígio e de enunciação de
temas de prova e a parte logo a seguir reclama e, depois da reclamação o juiz
decide imediatamente a seguir.
Além disso, há um despacho adicional a ser proferido na audiência
previa que o despacho previsto na alínea g) do nº1 do 591º CPC que é o
despacho de programação da audiência final. O juiz no final da audiência
previa deve programar os atos que se vão realizar na audiência final.
Não há audiência previa se nos termos do artigo 592º, nº1, b) CPC e,
nessas circunstâncias o processo termina. O saneamento e a condensação
fazem-se quando haja revelia inoperante (artigo 592ºCPC) ou quando o juiz
tenha dispensado de audiência previa (artigo 593º, nº1 CPC)
Audiência final:
Se o processo não terminar na audiência previa (termina na audiência
previa quando forem julgadas exceções dilatórias ou quando o juiz procede ao
julgamento antecipado da causa de todos os pedidos), a ação prossegue para
a audiência final que é agendada e planificada no decurso da audiência prévia
ou, se não houver lugar á audiência previa nos termos do 593º, nº2, d) CPC.
Não há audiência previa mas prossegue-se logo para a audiência final
se o reu for revel e a revelia for inoperante.
Os intervenientes da audiência final são convocados para ela.
A audiência final tem 3 finalidades (artigo 604ºCPC):
1. conciliação das partes

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2. Produção da prova – depoimentos das testemunhas, esclarecimentos
dos peritos e outras diligencias que possam ter de ocorrer como deslocações
ao local, etc.
3. discussão da causa – realiza-se através da produção de alegações
orais sobre matéria de facto e de direito
A audiência final realiza-se perante tribunal singular. Atualmente, desde
o novo CPC e desde a nova LOSJ não há em processo civil tribunais coletivos
(artigo 599º CPC), podendo haver algumas exceções em direito do trabalho e
nos processos de menores.
O juiz pode determinar que seja assistido por um técnico (artigo 601º
CPC) que assista á audiência final e aí preste os esclarecimentos necessários.
O técnico é uma pessoa com conhecimentos específicos numa área
determinada (ex.: questões de arquitetura, engenharia, contabilidade, etc.). Isto
é diferente dos assistentes técnicos que podem auxiliar os advogados, mas
esses são auxiliares dos advogados este é um auxiliar do tribunal e que presta
esclarecimentos ao próprio tribunal.
A audiência final obedece a um conjunto de princípios relativos á sua
organização que são:
- Princípio da plenitude da assistência do juiz (artigo 605ºCPC) – o
juiz que inicia a audiência final tem de assistir a toda a audiência final e tem de
proferir a sentença do processo. Isto pode suscitar alguns problemas se o juiz
ficar impedido (ex.. baixa medica, grave doença, morte, o juiz aposenta-se) que
são resolvidos no artigo 605ºCPC, e começando-se do princípio nos casos em
que o juiz morre ou fica permanentemente incapacitado.
Se a impossibilidade for temporária então interrompe-se a audiência pelo
tempo indispensável até ao juiz regressar, a não ser que as circunstâncias
aconselhem a repetição dos atos praticados perante outro juiz. quando o juiz
fica impedido há um que o vem substituir e é esse que vem decidir se se
aguarda pelo regresso do juiz impedido ou se se vai realizar a audiência sobre
a sua presidência.
No caso de se recomeçar a audiência sob a presidência do juiz
substituto, é este que vai completar a audiência mesmo que entretanto o juiz
efetivo regesse ao ativo.
Quando o juiz é transferido, promovido ou aposentado, o juiz conclui o
julgamento daquele processe e proferir a sentença daquele processo, a não ser
que a aposentação tenha tido como fundamento razoes de saúde ou razoes
disciplinares, então reinicia-se uma nova audiência perante um novo juiz.
- Princípio da publicidade – no artigo 606º, nº1 CPC vemos uma
dimensão qualificada perante a audiência final. A audiência é publica, o que
significa que qualquer pessoa pode sentar-se na sala de audiências e assistir,
mas o juiz pode decidir pela não publicidade da audiência se isso se

124
salvaguardar a moral da pessoa ou a dignidade publica ou para garantir o seu
normal funcionamento.
- Princípio da continuidade da audiência final – artigo 606º, nº2 CPC-
a audiência final deve ser continua de maneira a que haja uma espécie de
concentração no tempo. Tudo o que se tem de desenvolver na audiência deve
ser desenvolvido em atos sucessivos.
A audiência só deve se interrompida por motivos de força maior ou se
durante a audiência falecer ou se impossibilitar o juiz.
Claro que nem sempre é possível fazer a audiência toda num só dia.
Portanto, o nº3 do artigo 606ºCPC diz que se não for possível concluir a
audiência em 1 dia esta é suspensa e marca a continuação para os 30 dias
imediatos com o acordo das partes.
Quanto às regras de funcionamento da audiência final (artigo 604º, nº4
CPC): a audiência final decorre no próprio tribunal mas é possível inquirir as
testemunhas e as partes que devam prestar depoimento de parte por vídeo
conferencia ou teleconferência nos termos do 502º, nº1 CPC.
O nº1 do artigo 603ºCPC regula uma matéria que causava muitos
transtornos que é os adiamentos das audiências. Ora, a audiência realiza-se
salvo se houver algum impedimento do tribunal, falta algum dos advogados
mas apenas se a marcação tenha ocorrido mediante acordo prévio ou o
advogado invocar motivo que constitua justo impedimento.
Registo e audiência da ata (artigo 155ºCPC)
O artigo 604º, nº2 e 3º CPC regula a sequência dos trabalhos de uma
audiência final. O juiz procura conciliar as partes, depois realizam-se os atos
seguintes pela ordem definida nas alíneas do nº3. No entanto esta ordem pode
ser alterada nos termos do nº8 deste artigo 604ºCPC.
No fim tem sempre de ocorrer as alegações das partes. No CPC anterior
as alegações das partes eram apenas sobre matérias de facto porque às
alegações de matéria de direito eram escritas. Atualmente, as alegações são
orais tanto para a matéria de facto como para a matéria de direito.
A audiência final é encerrada a seguir às alegações. E a seguir entramos
na fase seguinte que é a fase da sentença.
Se o juiz não se julgar suficientemente esclarecido (artigo 607º, nº1
CPC) pode reabrir a audiência e ordenar a realização de mais audiências de
prova.

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