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Glossário

Auto-respeito: self-respect
Um dos bens primários mais importantes que uma democracia
pode garantir para os seus membros. É constituído pela "noção
que um indivíduo tem do seu próprio valor e da sua confiança em
sua própria capacidade de realizar os seus objetivos", para o que a
sociedade política contribui com uma parte essencial e, no caso do
ideal liberal, de maneira deliberada (TJ, § 29). Ver também Bens
primários.
Bens primários: primary goods
"Os bens primários são coisas que todo homem racional presumi-
velmente quer, não importam quais sejam os seus outros desejos
[...] eles são constituídos pelos direitos, liberdades e oportu-
nidades, renda e riqueza." (TJ, §§ 11 e 15.) É em função deles que
se avalia a justiça de uma partilha. Porém, devido à imprecisão da
análise das liberdades (ver o Prefácio da tradução francesa de TJ,
p. 11), sua base se torna, a partir de 1980, "uma concepção moral
da pessoa que encarna um certo ideal" e os bens primários se defi-
nem atualmente pelas necessidades das pessoas enquanto pessoas
morais*.
Comunidade política: political community
"A teoria da justiça como eqüidade abandona de fato o ideal da
comunidade política se por esse ideal se entende uma sociedade
política unificada graças a uma doutrina abrangente única [...],
pois isso conduz à negação sistemática das liberdades fundamen-
tais." Mas, acrescenta Rawls, "é errôneo sustentar que, do ponto
de vista liberal, os cidadãos não compartilham metas fundamentais.
Contudo, essa meta comum não deve ser confundida com uma
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concepção do bem". Convém portanto distingui-la bem da meta
das comunidades não políticas ou das associações privadas mais
ou menos voluntárias, nas quais uma concepção particular do bem
pode unir os membros dessas associações sem ameaçar as suas
liberdades. Vê-se que o político tem para Rawls um sentido socio-
lógico, quase weberiano.
Comunitaristas: communitarians
Críticos das teorias universalistas e não históricas da justiça, como
a de Rawls, em nome de um ideal da comunidade humana inspi-
rado ao mesmo tempo por Aristóteles (Mac Intyre) e Hegel (C.
Taylor) e por uma crítica severa dos fracassos das sociedades libe-
rais contemporâneas (M. Sandel, M. Walzer).
Concepção política da justiça: political conception of justice
A teoria de Rawls é um exemplo dela. E uma concepção que,
desejosa de respeitar as liberdades individuais, se recusa a privile-
giar uma visão particular do bem e a deduzir dela princípios cole-
tivos de justiça, mas que tenta evitar o relativismo e o ceticismo.
Daí decorre o problema central, para Rawls, de uma legitimação
das limitações do justo que não se apoiará em nenhuma crença par-
ticular, que não invocará nenhum valor não político.
Concepção política da pessoa: political conception of the person
Numa democracia constitucional, a cidadania é o status que ex-
pressa a concepção política da pessoa, isto é, que a trata como li-
vre e igual e como dotada das duas faculdades morais*. Ela é inse-
parável da concepção política da sociedade como sistema eqüitati-
vo de cooperação.
Condições formais da justiça: formal conditions of justice
As limitações formais da justiça - generalidade, universalidade,
publicidade, relação de ordem e irrevocabilidade - são apenas con-
dições necessárias e não suficientes da justiça, pois elas "se apli-
cam à escolha de todos os princípios éticos e não apenas princípios
da justiça" (77, § 23, pp. 140-6). Ver também Publicidade.
Consenso por justaposição: overlapping consensus
"Um consenso por justaposição existe numa sociedade quando a
concepção política da justiça que governa as suas instituições bá-
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sicas é aceita por cada uma das doutrinas abrangentes*, sejam elas
morais, filosóficas ou religiosas, que perduram nessa sociedade ao
longo das gerações." Esse consenso se distingue de um simples
modus vivendi entre doutrinas opostas que seria mantido por puro
oportunismo. A idéia foi introduzida em TJ, p. 430.
Construtivismo: constructivism
Um traço essencial de uma doutrina construtivista como a teoria da
justiça como eqüidade está em que ela não afirma a existência de
fatos morais independentes e anteriores dos quais os seus princí-
pios seriam uma aproximação, pois isso teria como conseqüência a
heteronomia. Os princípios de justiça são, ao contrário, o resultado
de uma construção que expressa a concepção que têm de si mes-
mos e da sociedade os cidadãos autônomos de uma democracia.
Contexto da justiça: circumstances of justice
O "contexto da justiça" foi descrito por Hume como o conjunto
das condições que obrigam as sociedades humanas a estabelecer
regras de justiça, ou seja, por um lado, as condições objetivas de
igualdade e de relativa escassez de recursos e, por outro lado, as
condições subjetivas constituídas pelos conflitos de interesses
(Tratado da natureza humana, Livro III, 2? parte, seção II). Rawls
(TJ, § 22 e pp. 278-82) segue inteiramente Hume nesse ponto:
"As circunstâncias da justiça se verificam sempre que pessoas
apresentam reivindicações conflitantes em relação à divisão das
vantagens sociais (contexto subjetivo) em condições de escas-
sez moderada (contexto objetivo). A não ser que essas circuns-
tâncias existam, não há oportunidade para a virtude da justiça."
(TJ, p. 161.)
Contratualismo: contractualism
"Meu objetivo é apresentar uma concepção da justiça que genera-
lize e leva a um plano superior de abstração a teoria conhecida do
contrato social como se lê, digamos, em Locke, Rousseau e Kant."
(77, p. 12.)
Convicções bem ponderadas: Ver Julgamentos bem ponderados
Desinteresse mútuo: mutually disinterested
O desinteresse mútuo dos parceiros "não significa que eles sejam
egoístas. Mas são concebidos como pessoas que não têm interesse
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nos interesses das outras." (77, p. 15.) A expressão designa a hipó-
tese metodológica escolhida aqui por Rawls. Os parceiros só se
interessam por seus interesses, e não pelos dos outros. É por isso
que eles ignoram a inveja, e é assim que se exprime a sua raciona-
lidade (ver 77, § 25).
Dificuldades da razão: burdens of reason
São as dificuldades que seres sensatos podem encontrar no exercí-
cio das suas faculdades de raciocínio e de julgamento quando não
fazem intervir fatores externos à razão, como os conflitos de clas-
se, de interesses, o embuste etc. (1989, seção II).
Doutrinas e concepções abrangentes: comprehensive doctrines and
conceptions
Trata-se das doutrinas - filosóficas, morais e religiosas - pessoais
que englobam, de maneira mais ou menos sistemática e completa,
os diversos aspectos da existência humana e, portanto, que ultra-
passam as questões meramente políticas, considerando-as como
um caso particular de uma concepção mais ampla. O próprio Rawls,
com a idéia de uma concepçãofilosóficado "justo como eqüida-
de", planejava ampliar a sua teoria da justiça nesse sentido. Poste-
riormente, não só renunciou a esse projeto mas condenou-o como
incompatível com o respeito ao "fato do pluralismo" e à diversida-
de das crenças numa sociedade democrática. Ver Metafísica,
Política.
Equilíbrio ponderado: reflective equilibrium
Equilíbrio atingido pela reflexão entre nossos julgamentos bem
pesados e nossos princípios de justiça. "Por meio desses avanços e
recuos, suponho que acabaremos encontrando a configuração da si-
tuação inicial que ao mesmo tempo expresse pressuposições razoá-
veis e produza princípios que combinem com nossas convicções de-
vidamente apuradas e ajustadas" (77, p. 23).
Estabilidade: stability
Refere-se à segunda parte de uma teoria da justiça e aos valores
puramente políticos por ela examinados, sendo a primeira consa-
grada à justificação dos princípios de justiça comuns e aos valores
da justiça.
GLOSSÁRIO 377
Estado de direito: the rule of law
"O Estado de direito implica sobretudo o papel determinante de
certas instituições, bem como das práticas judiciais e legais que a
elas estão associadas. Ele existe enquanto as instituições desse tipo
são governadas de maneira razoável, de acordo com os valores
políticos que a elas se aplicam: a imparcialidade e a coerência, a
adesão à lei e o respeito pelos precedentes" (1989).
Estrutura básica da sociedade: basic structure
O objeto da teoria da justiça não é o exame das situações particu-
lares, mas sim da estrutura, das instituições básicas da sociedade e
do contexto por elas constituído. (77, § 33.)
Exigências constitucionais essenciais: constitutional essentials
O conjunto dos direitos e das liberdades básicas que definem a
cidadania, que são garantidos pela Constituição e que as maiorias
parlamentares devem respeitar.
Faculdades morais: moral powers
Enquanto cidadãos integrantes da sociedade, estamos dotados de
duas faculdades morais indispensáveis à cidadania: a capacidade
de ter uma concepção do nosso próprio bem, da nossa vantagem
racional, e um senso da justiça, isto é, uma capacidade de com-
preender e aplicar princípios de justiça.
Fato do pluralismo: the fact ofpluralism
A conseqüência do progresso das liberdades básicas - liberdade
de consciência, de expressão, de associação etc. - foi o surgimen-
to de doutrinas conflitantes e irreconciliáveis entre si na cultura
pública das democracias. Tornou-se impossível para uma só dou-
trina reunir os sufrágios do conjunto dos cidadãos, salvo com o
emprego da força. Por isso, a democracia não pode ser justificada
com base nos argumentos de uma doutrina específica.
Interesses superiores: highest-order interests
Trata-se de interesses ligados a interesses de primeira ordem e que
nos impelem a efetivar a nossa personalidade moral, portanto a de-
senvolver e a exercer as nossas duas faculdades morais. A socie-
dade é então, ela própria, um bem se permitir a concretização des-
ses interesses superiores.
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Intuicionismo: intuitionism
Doutrina segundo a qual uma ordem de fatos morais independen-
tes e anteriores ao nosso julgamento poderia ser atingida direta-
mente ou por aproximação. Rawls distingue o intuicionismo ra-
cional do intuicionismo pluralista de Ross, que concluiu pela im-
possibilidade de descobrir os princípios primeiros de justiça.
Julgamentos bem ponderados: considered judgments
São os julgamentos de valor aos quais chegamos com base em nos-
sa reflexão amadurecida e aos quais nos parece impossível dever
renunciar. A tarefa da teoria moral consiste em fornecer a explica-
ção desses julgamentos.
Justiça do contexto social: background justice
Corresponde, em 77, à "justiça básica"; ver índice Remissivo.
"Seria um erro chamar a atenção para as posições relativas instá-
veis dos indivíduos e exigir que cada mudança seja justa em si
mesma, vista como uma transação isolada. É a organização da es-
trutura básica que deve ser julgada, e isso deve ser feito de um
ponto de vista geral". Ver Estrutura básica.
Justiça procedimental pura: pure procedural justice
"A justiça procedimental pura se verifica quando não há critério
independente para o resultado correto; existe um procedimento
correto ou justo de modo que o resultado será também correto ou
justo" (77, p. 92).
Kantiano
"Uma concepção kantiana [do contrato social] considera os parcei-
ros como pessoas morais, livres e iguais, isto é, como tendo uma
concepção do seu bem e a capacidade de compreender e aplicar
uma concepção da justiça." (1978.)
Léxica: Lexical
Ordem que, como a de um léxico, exige que o primeiro princípio
seja inteiramente efetivado antes de se aplicar o segundo.
Liberalismo: liberalism
Seu ponto essencial é a afirmação da prioridade dos direitos e das
liberdades básicas que constituem a cidadania acima de todos os
outros valores com os quais elas poderiam entrar em conflito. En-
GLOSSÁRIO 379
tretanto, convém distinguir entre o liberalismo político e o libera-
lismo clássico, como o de Tocqueville ou o de J. S. Mill, que é uma
visão de conjunto da existência humana, uma doutrina abrangente.
Liberdade dos Modernos e liberdade dos Antigos
A liberdade dos Antigos, ou "liberdade positiva", é concebida
como a participação ativa dos cidadãos na vida pública da Cidade.
A liberdade dos Modernos, ou "liberdade negativa", é a liberdade
privada ou o exercício pelo individuo do seu direito natural de
gerir sua vida como bem entende (ver Benjamin Constant e Isaiah
Berlin).
Libertários: libertarians
Posição extrema que defende a idéia de um Estado mínimo, que
não deve intervir nas questões de justiça social. Seu representante
mais conhecido é Robert Nozick.
Metafísico: metaphysical
Termo empregado por Rawls para designar concepções da justiça,
como o utilitarismo, o perfeccionismo etc, que derivam de siste-
masfilosóficos,religiosos ou morais e se aplicam a todos os as-
pectos da vida, em vez de se limitarem à esfera política. O termo
foi substituído posteriormente (em 1986) por abrangente (com-
prehensive), e Rawls fala então mais de doutrinas abrangentes do
que metafísicas para expressar a mesma idéia. Ver também Polí-
tico, Doutrinas abrangentes.
O Racional e o Razoável: the Rational and the Reasonable
Distinção proposta a partir de 1980 com o fim de responder às crí-
ticas de Hart e de dar início à reviravolta "kantiana". O Racional
representa a busca, por parte de cada um, da satisfação dos seus
interesses e remete ao Bem. O Razoável representa as limitações
dos termos eqüitativos da cooperação social e remete ao Justo. "O
Razoável pressupõe e condiciona o Racional" (1980).
Parceiros: parties
São os atores imaginários desse procedimento artificial que é a
posição original e que são incumbidos de escolher e justificar os
princípios primeiros de justiça que representam de forma eqüitati-
va os interesses de todos os membros da sociedade. Mas eles não
são os representantes, no sentido político, dos cidadãos.
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Perfeccionismo: perfectionism
Doutrina que sustenta, como Platão, Aristóteles e Nietzsche, que
certas concepções do bem são intrinsecamente superiores a outras e
merecem que se sacrifiquem por elas, em nome do aperfeiçoamento
da espécie humana, os interesses ou os direitos de certas pessoas.
Pessoas morais: moral persons
"Os membros da sociedade são concebidos como pessoas morais
que podem cooperar tendo em vista a vantagem mútua, e não so-
mente como indivíduos racionais que têm desejos e metas a satis-
fazer." (1982.) Caracterizam-se por duas faculdades morais e
implicam uma concepção da sociedade como sistema eqüitativo
de cooperação.
Político: political
Conceito introduzido por Rawls em 1985 para indicar, em espe-
cial aos seus críticos comunitaristas, que sua teoria da justiça como
eqüidade tem um alcance muito mais reduzido do que parecia em
1971. Ela se refere somente à esfera do público, da comunidade
política*, e não às outras formas de associações humanas que não
apresentam os mesmos problemas. De fato, o político designa
agrupamentos a que não se pertence por livre opção e nos quais o
exercício do poder coercitivo do Estado representa sempre uma
ameaça para os direitos e as liberdades, mesmo num regime cons-
titucional. Por isso o político designa igualmente o domínio limi-
tado ao qual se aplica uma teoria da justiça: o consenso a respeito
das instituições e sua proteção. Ver também Comunidade políti-
ca, Doutrinas abrangentes, Metafísica.
Posição original: original position
É um procedimento figurativo que permite representar os interes-
ses de cada um de maneira tão eqüitativa que as decisões daí de-
correntes serão elas próprias eqüitativas. Contudo, Rawls modifi-
cou o procedimento distinguindo duas categorias de interesses, o
racional, por um lado, e o razoável, por outro, atribuindo priorida-
de ao segundo sobre o primeiro.
Princípio da diferença: difference principle
É a segunda parte do segundo princípio de justiça que é escolhido
em TJ, invocando o princípio do maximin ou a estratégia de evita-
ção do risco.
GLOSSÁRIO 381
Princípios primeiros de justiça,firstprinciples ofjustice
São os princípios que governam a estrutura básica da sociedade.
Para Rawls, em 1985, esses princípios eram os seguintes:
1. Cada pessoa tem um mesmo direito a um sistema plenamente
adequado de liberdades e de direitos básicos iguais para todos,
compatíveis com um mesmo sistema para todos.
2. As desigualdades sociais e econômicas devem preencher duas
condições: em primeiro lugar, devem estar ligadas a funções e po-
sições abertas a todos em condições de igualdade justa (fair) de
oportunidades e, em segundo lugar, devem proporcionar mais van-
tagens aos membros mais desfavorecidos da sociedade.
Racionalidade: rationality
Em 77, Rawls afirma que "o conceito de racionalidade invocado
aqui é aquele conceito clássico famoso na teoria social. Consi-
dera-se que uma pessoa racional tem um conjunto de preferências
entre as opções que estão a seu dispor. Ela classifica essas opções
de acordo com a sua efetividade em promover seus propósitos"
(77, p. 154); "[...] a combinação do desinteresse mútuo* e do véu
de ignorância [...] força cada pessoa a levar em consideração o
bem dos outros" (p. 160). Porém nos textos mais recentes (em es-
pecial a partir do artigo de 1985) ele reconhece que "um dos erros
de 77 foi o de ter considerado que a teoria da escolha racional
fazia parte da teoria da justiça".
Razão pública livre: free public reason
"A expressão 'utilização pública da nossa razão' foi adaptada da
monografia de Kant intitulada O que é o Iluminismo? (1784), onde
ele contrapõe a utilização pública da razão que é livre à utilização
privada, que não o pode ser" (1982, n? 13). Ela representa as regras
utilizáveis para as pesquisas de opinião pública, as negociações e
os contratos, os debates públicos, morais e políticos etc., e os seus
procedimentos são tanto os do senso comum quanto os da ciência
quando esta ultrapassa o estágio da controvérsia.
Retidão como eqüidade: rightness as fairness
Doutrina moral mais ampla, da qual a teoria da justiça como eqüi-
dade seria uma aplicação política: "A teoria da justiça como eqüi-
dade, ou, num sentido mais geral, da retidão como eqüidade, for-
nece uma definição ou explicação dos conceitos de justiça e de justo"
382 JUSTIÇA EDEMOCRACIA
(ver 77, pp. 18-9 e 118-9). É precisamente a esse gênero de ambição
que Rawls renunciou, porque ela é incompatível com o liberalismo
político (Prefácio de 1992, p. 1).
Senso comum: common sense knowledge
O termo não tem, na tradição da língua inglesa, sentido pejorativo.
Isso se deve a razões fundamentais ligadas a uma concepção dife-
rente da filosofia a partir de Bacon e Hobbes, na qual o senso
comum, o saber do indivíduo emanado das suas observações e da
sua experiência, o complemento e não o contrário do saber cientí-
fico, desempenha um papel de primeira ordem para o empirismo e
o pragmatismo que sempre caracterizaram essa concepção.
Sociedade bem ordenada: well-ordered society
Modelo do que é a sociedade democrática quando os princípios de
justiça nela operam e a unificam. Porém Rawls fez a crítica da fei-
ção não realista e antiliberal de uma unidade desse tipo quando ela
pressupõe que esses princípios de justiça devem derivar de uma
doutrina que todos compartilham (ver Prefácio de 1992, p. 4).
Teoria da justiça como eqüidade: justice as fairness
A expressão é empregada para designar a doutrina contratualista e
deontológica da justiça defendida por Rawls a partir de 1957 ("Jus-
tice as Fairness") para substituir o utilitarismo. Seu traço essen-
cial é a afirmação da prioridade do justo sobre o bem e a definição
da justiça pela eqüidade do processo de escolha dos princípios de
justiça (77, § 3, pp. 12-3).
Utilitarismo: utilitarianism
Doutrina clássica de Bentham e Mill, segundo a qual uma ação é
boa se as suas conseqüências aumentam a felicidade do maior nú-
mero de pessoas. O objetivo de Rawls é mostrar que o utilitarismo
é incompatível com os princípios da constituição norte-americana
e que é preciso substituí-lo por uma doutrina como a sua.
Utilitarismo da regra: rule-utilitarianism
Diferentemente do "utilitarismo do ato", para o qual basta avaliar
as conseqüências de um ato para julgá-lo, o utilitarismo da regra
sustenta que uma ação é boa se, e somente se, ela se conforma a
uma regra cujo respeito por todos tem as melhores conseqüências
possíveis.
w

GLOSSÁRIO 383
Utilitarismo médio: average utilitarianism
Diferentemente do utilitarismo clássico, o utilitarismo fundado na
utilidade média é compatível com o construtivismo (ver 77, § 27).
Véu de ignorância: veil of ignorance
Visando preservar a eqüidade na escolha dos princípios e não fa-
zer com que intervenham as contingências naturais e sociais, "os
parceiros ignoram certos tipos de fatos particulares [...]. Entre-
tanto eles conhecem todos os fatos gerais que afetam a escolha dos
princípios de justiça". Por isso a barganha e as relações de força
não podem intervir e a imparcialidade é constitutiva da justiça.

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