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O PROBLEMA DO CRITÉRIO DA MORALIDADE DAS AÇÕES

O PROBLEMA DA FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL


- Como distinguir a ação moralmente correta de uma ação moralmente incorreta? Que critério
ético permite fazer essa distinção?
Estudamos duas respostas diferentes :
- a ética deontológica de Kant
- E o utilitarismo de John Stuart Mill

A ÉTICA DE KANT
- A ética de Kant é deontológica ou seja = ética do dever. Esta defende. Que há ações que é
sempre errado realizar e outras que é sempre correto realizar, independentemente das suas
consequências serem positivas ou negativas.
Há deveres morais absolutos; estes devem ser incondicionalmente cumpridos - sem exceções
- e são válidos para todos os seres humanos ou quaisquer outros seres racionais.

A RAZÃO
Como poderemos descobrir quais são as ações que constituem um dever moral? ou como
poderá ser justificada a teoria de Kant?
A resposta Kantiana é a Razão, ou seja, graças à capacidade de pensar. A razão é oque dita
aquilo que é certo ou errado.
Para Kant a moralidade é um assunto racional, pois os sentimentos ou as convenções
sociais,a religião ou qualquer outro fator exterior à razão não tem papel a desempenhar na
moralidade. A razão é a fonte do imperativo categórico(ou lei moral).

IMPERATIVO CATEGÓRICO
-O imperativo categórico é o princípio supremo da moralidade: constitui um critério que
permite distinguir as ações corretas das incorretas e, portanto, o que devemos fazer do que
não devemos fazer. A expressão imperativo categórico significa que se trata de uma lei moral
que nos surge como uma ordem. Trata-se de deveres absolutos.
-. O imperativo categórico pode ser expresso na fórmula da lei universal e na fórmula da
humanidade
.
FÓRMULA DA LEI UNIVERSAL
. Fórmula da lei universal devemos realizar apenas as ações baseadas numa máxima que
gostaríamos que fosse transformada numa lei universal, ou seja, seguida por todas as pessoas
nas mesmas circunstâncias.
ex: Antes de realizarmos qualquer ação devemo-nos perguntar se queremos que a máxima
que vamos usar seja seguida por todos os agentes em todas as situações similares, ou seja, se
queremos que essa regra seja universalizada.Se a resposta for afirmativa, isso é sinal de que a
ação é moralmente boa e deve ser feita. Se a resposta for negativa, isso é sinal de que a ação é
moralmente má e não deve ser feita.
FÓRMULA DA HUMANIDADE
- Fórmula da humanidade: não devemos realizar ações em que as pessoas (os outros e nós
próprios) sejam consideradas apenas meios e não fins em si mesmas. Um ser humano não
deve ser tratado como um mero meio ou instrumento ao serviço dos outros, pois é um ser
racional capaz de fazer as suas próprias escolhas e, como tal, a sua autonomia deve ser
respeitada.
- Kant utiliza a expressão” sempre e simultaneamente como um fim e nunca simplesmente
como meio” pois o que é errado é usar as pessoas apenas como meios.
O problema está no «apenas». Quando as pessoas vivem em sociedade e trocam
Serviços é normal que sejam simultaneamente fins e meios. Por exemplo: os
trabalhadores são meios para o patrão ganhar dinheiro, mas se ele lhes paga um
ordenado justo e não os obrigar a trabalhar de mais (ou seja, se os respeitar, se os)
tratar como fins em si mesmos e não apenas como meios), então não os estara-
instrumentalizar e isso não será errado.
-Kant utiliza a expressão «tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro”,
para frisar que uma pessoa, além de instrumentalizar os outros, também se pode
instrumentalizar a si própria e isso é também errado. Por exemplo: uma pessoa
«viciada» em trabalho, um workaholic, reduz-se a si mesma a um meio de ganhar
dinheiro, descurando as outras dimensões da vida.

A BOA VONTADE
• A boa vontade é o bem supremo (ou último), pois é intrínseca e ilimitadamente boa - e não
pode ser usada para o mal. Temos uma boa vontade quando o nosso querer é determinado
pela razão e obedecemos ao imperativo categórico.

TIPOS DE AÇÃO E VALOR MORAL


• Uma pessoa dotada de boa vontade não realizará ações contrárias ao dever mas sim por
dever.

Ações contrárias ao dever- ações, obviamente erradas, e que não devemos realizar, por sua
vez também não possuem valor moral.( erradas ou imorais)

Ações por dever- ações cujo único motivo é fazer o que é correto, cumprir o dever pelo dever
assim, têm valor moral. O facto de as realizarmos é merecedor de estima e respeito.

Ações meramente conforme ao dever- ações que estão de acordo com o dever, mas não são
motivadas pelo respeito ao dever ou seja não têm valor moral.
Kant distingue dois tipos de ações meramente conformes ao dever:

-As ações realizadas com intenção egoísta, ou seja, motivadas pelo interesse (pela expectativa
de consequências benéficas para o agente), mas das quais resulta algo bom.
ex: É o que sucede,se uma pessoa Salvar outra de morrer afogada para obter elogios e
reconhecimento social.
-As ações motivadas por «inclinações imediatas» (sentimentos positivos como a
compaixão, a simpatia ou o amor). Nesses casos, a pessoa realiza efetivamente a
ação correta, mas devido à influência das suas emoções e não à consciência do
dever.
ex:É o que sucede, se uma pessoa salvar outra de morrer afogada porque sente um grande
amor por ela e não consegue viver sem ela.

IMPERATIVO CATEGÓRICO E HIPOTÉTICO


O verbo «dever» nem sempre é usado num sentido moral.
- Há deveres que derivam do imperativo hipotético (que nos diz que meios devemos usar se
queremos atingir certos resultados) e, por isso, não têm caráter moral.
ex: «Se não queres perder a confiança dos amigos, então não deves mentir».
- Aplicando o imperativo categórico, diremos simplesmente: «Não mintas» ou «Não mintas,
porque é errado».Este promove a autonomia da vontade enquanto o imperativo hipotético
promove a sua heteronomia.

AUTONOMIA E HETERONOMIA DA VONTADE


Autonomia- “ dar lei a si próprio”
- A boa vontade obedece a si mesma, revela autonomia. Se a vontade for influenciada por
interesses pessoais ou sentimentos revela, pelo contrário, heteronomia, o que significa que
não obedece a si mesma, mas a algo exterior à razão.

LIBERDADE
Uma vontade autônoma é uma vontade livre e, portanto, ser livre é obedecer à lei moral.
-Se percebo o que está certo, mas não o faço, porque vai contra os meus interesses, desejos ou
sentimentos, então não sou livre. Sou, pelo contrário, um escravo desses interesses, desejos e
sentimentos.
ex: se sei que a ação X é errada, mas ainda assim a faço, empurrado, pelo medo ou pelo
ciúme, não sou livre.
- Ou seja, para Kant não basta escolher para ser realmente livre, é preciso escolher o que é
moralmente corireto. Somos seres racionais e, por isso, quando a nossa vontade obedece à
razão e se submete à lei moral, obedecemos a nós próprios.

OBJEÇÕES A KANT

Conflito de deveres
Existem casos em que há deveres incompatíveis e, se forem absolutos, não sabemos o que
fazer.
O imperativo categórico afinal é consequencialista
- O teste da universalização das máximas mostra se as consequências, de todos seguirem uma
certa ação, são boas ou más.
É errado negar a importância moral dos sentimentos:
- Alguns deles são centrais na vida humana e têm caráter moral, pelo que é inadequado
retirá-los da esfera ética.
A ÉTICA DE STUART MILLS
O utilitarismo é consequencialista:
- As ações são moralmente corretas ou incorretas em função das suas consequências: se estas
forem favoráveis, a ação é correta; caso sejam desfavoráveis, é incorreta. O motivo é
irrelevante.

O PRINCÍPIO DA UTILIDADE
(ou o princípio ético supremo)
- As consequências são favoráveis na medida em que trazem felicidade (ou bem-estar) às
pessoas envolvidas e são desfavoráveis se trazem infelicidade.

A IMPARCIALIDADE
A felicidade deve ser calculada com imparcialidade, pois não se trata só da felicidade do
agente, mas da felicidade do maior número possível de pessoas envolvidas na ação.

HEDONISMO
O utilitarismo de Mill é hedonista
A felicidade consiste no prazer e na ausência de dor.

PRAZERES SUPERIORES E INFERIORES


Os prazeres são qualitativamente diferentes
Os prazeres intelectuais são superiores proporcionam, por isso, mais felicidade a um ser
racional : ler, ouvir música, debater etc…
Os prazeres corporais são inferiores
ex: comer, beber, sexo etc..
As pessoas que conhecem bem ambos preferem sempre os intelectuais aos corporais.

NÃO HÁ DEVERES ABSOLUTOS


Geralmente, roubar é incorreto, pois habitualmente provoca mais infelicidade do que
felicidade; contudo, pode haver situações em que roubar maximiza a felicidade e nesse caso
será uma ação correta (sendo então possível dizer que os fins justificam os meios).

PRINCÍPIOS SUBORDINADOS
-Na maioria das situações, os agentes não usam o princípio da utilidade (o princípio supremo)
para avaliar diretamente ações particulares, orientando- se por regras de ação (os princípios
subordinados), como por exemplo «não se deve roubar», consagradas pela experiência de
vida e «aprovadas, pelo princípio da utilidade. Quando, por vezes, essas regras não
funcionam (se forem seguidas produzir-se-á, ao contrário do que é habitual, mais infelicidade
do que felicidade) justifica-se - de acordo com o princípio da utilidade - abrir uma exceção.

BEM ÚLTIMO
-A felicidade é o bem último, já que é a finalidade última das ações humanas e tem valor
intrínseco: desejamo-la por si mesma, enquanto as outras coisas são desejadas como meios
para as alcançar.
OBJEÇÕES AO UTILITARISMO

Dificuldades de cálculo: podemos enganar-nos a calcular as consequências e considerar


benéficas ações que afinal são prejudiciais.

Violação de direitos individuais: o utilitarismo parece justificar ações que intuitivamente


consideramos erradas, pois desrespeitam os direitos de algumas pessoas (ainda que
maximizem a felicidade).

Excesso de exigência: impor ao agente que seja imparcial na consideração da sua felicidade
(e das pessoas próximas) e da felicidade das outras pessoas é errado e impossível de cumprir.

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