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A necessidade da fundamentação da moral:

Para fazermos boas ações, em primeiro lugar, é necessário saber o que faz
com que uma ação seja boa, ou como justificar moralmente as ações que
fazemos.
Éticas consequencialista: As ações são corretas ou incorretas em virtude dos
seus resultados ou consequências. Consideram quem as ações só podem ser
avaliadas a partir dos seus resultados. São, por isso, éticas a posteriori.
Éticas deontológicas: Certas ações devem ou não devem ser realizadas
independentemente das consequências. O valor moral de uma ação reside na
própria ação, ou seja, na intenção do sujeito que pratica a ação,
independentemente do fim ou consequência que produz.

Utilitarismo:
É uma ética teológica e consequencialista porque mede a moralidade das
ações pelas consequências que delas advêm.
É uma ética utilitarista porque se orienta pelo princípio da utilidade ou princípio
da máxima felicidade. Segundo este princípio, uma ação é útil quando produz a
felicidade geral, ou seja, da maioria dos envolvidos na ação.
Entende-se por felicidade a produção do prazer/bem estar e ausência de dor.
Por valorizar a procura do prazer e da felicidade, dizemos que esta ética se
inspira no hedonismo grego, no entanto Mill separou-se desta teoria ao
defender:
A imparcialidade: Este princípio exige que a nossa felicidade seja colocada ao
mesmo nível que a de todos os outros, por isso, quando calculo os benefícios
de uma ação, não posso colocar os meus interesses à frente dos outros. Desta
forma, evita-se o individualismo do hedonismo grego e cria-se uma sociedade
mais justa.
Ao contrário do hedonismo grego, o prazer e a felicidade não dependem
apenas da satisfação dos prazeres físicos. Para o utilitarismo, os prazeres
intelectuais e espirituais são superiores, porque nos separam do resto dos
animais, exigem maior empenho para a sua satisfação e são mais duradouros.
Quem experimentou os 2 tipos de prazeres pode testemunhar esse facto.
Mill acreditava que uma espécie de solidariedade permitiria o permanente
aumento de ações a favor da felicidade geral, fazendo evoluir a moralidade das
nações.
A aplicação do princípio da máxima felicidade implica um cálculo, uma espécie
de aritmética do bem-estar, no qual se avaliam as vantagens e desvantagens
das diferentes alternativas de uma dada ação, tendo em conta o grau de
satisfação ou insatisfação que delas se pode esperar. Neste cálculo devem ser
considerados um conjunto de parâmetros para avaliar a satisfação/insatisfação
esperada, tais como: a sua intensidade, duração, certeza ou incerteza, a sua
tendência, probabilidade da mesma dar origem algo da mesma espécie, etc.
Este cálculo utilitarista visa selecionar a ação que seja boa (útil) e moralmente
correta, isto é, que permita obter o máximo de felicidade (prazer) no maior
número de pessoas.
Objeções à ética Utilitarista:
É difícil quantificar a felicidade de uma ação;
Impossível prever todas as consequências de uma ação;
Pode conduzir a consequências moralmente inaceitáveis, permite graves
injustiças em nome da felicidade o maior número de pessoas.

Kant:
Intenção/motivo: cumprir o dever que a razão impõe, é o critério para
avaliarmos moralmente as ações.
Boa vontade: qualidade humana que nos permite agir moralmente, aquela
vontade educada para agir segundo o dever, obedecendo apenas à razão.
Este dever é universal, deve ser cumprido em todas as situações sem exceção.
Por isso os valores, deveres e obrigações em Kant são absolutos.
Para ser uma ação moral, temos de agir por boa vontade e por puro dever, não
apenas fazer algo bem, mas também com a motivação certa. Só agimos de
forma verdadeiramente livre quando o fazemos por puro dever e não de forma
a conseguir atingir as melhores consequências. As ações por dever seguem
imperativos categóricos, que prescrevem que uma ação é boa se for realizada
por puro respeito à lei moral em si mesma. Só assim há autonomia da vontade,
a lei moral impõe-se por si mesma a partir da razão.
Uma ação em conformidade com o dever é uma ação moral que é feita pela
razão errada. Exteriormente, parece que estamos a agir bem, mas fomos
motivados por uma intenção que não é pura, porque estamos a obedecer a
interesses, desejos, necessidades… Estas seguem imperativos hipotéticos,
princípios práticos que prescrevem que uma ação é boa porque é necessária
(ou seja, é um meio) para conseguir um fim. Neste caso, existe apenas
heteronomia da vontade, o ser humano recebe a lei moral não da sua razão,
mas do exterior. A ação deixa de ter valor por si mesma, tem valor apenas por
ser um meio para atingir um certo fim.
A lei moral é um imperativo categórico e ela obriga-nos incondicionalmente.
Kant deu-nos 3 formulações do imperativo categórico:
- 1ª Formulação: “Age segundo uma lei/máxima tal que possas ao mesmo
tempo querer que ela se torne lei universal”. (Exercício da Boa Vontade)
- 2ª Formulação: “Age como se a máxima da tua ação se devesse tornar, pela
tua vontade, em lei universal da natureza”.
- 3ª Formulação: “Age de tal forma que uses a humanidade, tanto na tua
pessoa como na de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo como fim e
nunca simplesmente como meio”. (Kant não nos proíbe de usar os outros como
meios, mas de os utilizarmos exclusivamente como meios (ex: ao mentir à
minha mãe, estou a usá-la como meio para poder ir a uma festa, sem respeitar
os seus direitos)
Para sermos livres numa ação temos também de agir sem quaisquer
inclinações (preferências, interesses, escolha diferenciada, desejos ou
impulsos).
Objeções à ética Kantiana:
Kant é sobretudo criticado pela inflexibilidade. Segundo ele poderíamos cair
nalguns exageros, sendo afastados do contexto real em que as ações
quotidianas se desenrolam.
Por mais puras que sejam as intenções do sujeito, não têm valor moral se ele
não o fizer por livre adesão racional da vontade – trata-se de uma exigência
extrema, desvalorizando sentimentos como a compaixão e as consequências
das nossas ações.
É difícil saber como aplicar a forma do dever em certas circunstâncias, por
exemplo, quando os valores entram em conflito.
John Rawls: (Teoria da Justiça)

Questão em estudo: “Será que podemos ter uma sociedade democrática mais
justa?” / “Será que o estado pode (e deve) corrigir as diferenças sociais”.
John Rawls é contratualista, pois o seu pensamento situa-se na linha dos que
defendem a teoria do contrato social, segundo o qual os cidadãos delegam
poder nos governantes em troca de um conjunto de benefícios, mas, em última
análise a soberania reside no povo, sendo a função do estado construir uma
sociedade justa.
O principal objetivo de John Rawls com a Teoria da Justiça como Equidade é
mostrar uma forma de entender a justiça social, conjugando-a com a liberdade,
para que possamos viver de forma justa.
No momento de escolhermos os princípios que governarão uma sociedade
justa, estamos a fazer um contrato social. Para que todas as partes
contratantes desejem, em simultâneo, liberdade e justiça é preciso que, no
momento de fazer o contrato – a posição original, todos sejam imparciais e
não tomem decisões com base nos seus interesses pessoais, o que só pode
acontecer se estiverem garantidas 4 condições:
 Todos os contratantes são livres (ninguém depende de ninguém ou está
submetido a alguém);
 Todos são iguais (no sentido em que têm o mesmo poder de decisão, o
voto de um vale tanto como o de outro);
 Todos são racionais (capazes de tomar decisões equilibradas);
 Todos estão cobertos por um véu de ignorância, isto é, desconhecem a
sua condição social, religiosa, sexual e económica, ou seja, a sua posição
na sua sociedade.
Sob o véu de ignorância, todas as partes contratantes se encontram em
situação de simetria e equidade, pelo que ninguém conhece os fatores que
poderiam permitir a obtenção de vantagens especiais, nomeadamente as
características e objetivos pessoais, as vantagens ou desvantagens naturais e
sociais. Nesta situação, desconhecemos as características particulares que nos
levariam a ser parciais, pelo que estão reunidas as condições para uma
escolha adequada, devidamente imparcial e racional.
Teoria da Ação Racional: os indivíduos sendo racionais são capazes de,
numa situação de igualdade, ter sentido de justiça.
Princípio Maximin: na nossa ação, devemos escolher a opção mais segura
ou, pelo menos, a menos arriscada (maximizar o nível de vida mínimo).
Princípios de justiça como equidade: A liberdade e a justiça serão alcançadas
pela promoção dos seguintes princípios (por ordem de importância):
Princípio da igual liberdade: Este é o princípio mais importante, nunca podendo
ser posto em causa. Diz que há um conjunto de direitos que deve ser garantido
a todos os indivíduos. O estado deve garantir a todos os indivíduos a
oportunidade de terem acesso, da mesma forma, a um conjunto de liberdades
fundamentais: liberdade política, liberdade de expressão, consciência,
propriedade, educação, etc.
Princípios da Igualdade:
Princípio da Igualdade de Oportunidades: É tolerável que alguns ocupem
posições sociais superiores (com mais benefícios e riquezas), desde que todos
estejam em igual condição de acesso às mesmas. Consiste em garantir a todos
os indivíduos as mesmas oportunidades de acesso aos vários lugares na
sociedade. Desde que os indivíduos possuam as mesmas capacidades e
competências, têm a mesma possibilidade de emprego, acesso a cargos
públicos, políticos, etc.
Princípio da Diferença: Consiste em admitir na sociedade algumas
desigualdades e económicas e sociais, desde que essas mesmas
desigualdades possam servir para o benefício dos mais desfavorecidos, ou
seja, criarem oportunidades que lhes permitam reduzir as desvantagens
sociais. Para Rawls, tratar as pessoas como iguais não implica remover todas
as desigualdades, mas apenas aquelas que trazem desvantagens para
alguém.
Problemas práticos da aplicação da justiça:
Será possível uma distribuição igualitária da riqueza? Distribuir de forma igual
os bens é uma forma de justiça distributiva que encara várias críticas:
Seria impraticável fazer esta distribuição, para além de que esta seria pouco
duradoura, pois nem todas as pessoas gastariam da mesma forma, causando
desigualdade novamente.
Se dessemos a todos o mesmo, os menos competentes teriam tendência a
nada fazer, pois sabiam que os competentes os iriam sustentar. Estes, por sua
vez, nada fariam de melhor pois não tinham recompensa e fazê-lo apenas para
sustentar os outros.
Finalmente, as pessoas têm diferentes necessidades, para além de que fazer
uma redistribuição tão radical iria contra o direito de propriedade privada e seria
uma intervenção em demasia na vida das pessoas.
No entanto, é possível fazê-lo parcialmente, em benefício dos mais pobres.
Daí a existência dos impostos, para que todos tenham acesso a algo.
É possível garantir a igualdade de oportunidades no acesso ao emprego e
cargos políticos?
 Tal não é exequível já que, devido às condições já criadas, os ricos estão
em vantagem natural sobre os outros.
 Cidadãos menos capazes poderiam ascender a cargos demasiado
importantes para a sua competência.
 Indivíduos mais competentes e esforçados devem ter direito a maiores
recompensas. Aplicar o princípio da diferença aqui causaria injustiças.
Para ajudar à resolução deste problema, visto que os igualitaristas defendem
que as pessoas nunca devem ser discriminadas por raça, sexo, orientação
sexual, etc, John Rawls propõe a discriminação positiva:
 Consiste no tratamento deliberadamente desigual de candidatos, que
favorece o grupo que é maior vítima de discriminação, para que a
sociedade fique mais próxima de ser igualitária.
Objeções:
Discriminação positiva: os críticos desta medida defendem que é um meio
injusto de atingir a igualdade, sendo anti igualitária e, como tal, incorreta. As
pessoas que obtiveram esses cargos podem sentir que não o fizeram por
mérito próprio e ficarem, como tal, ressentidas. Para além disso, terão as
pessoas talentosas incentivos para trabalharem mais, ou forma mais exigente?
Posição original: Como garantir que as pessoas colocadas na posição original
optam pelo seguro? Por que não imaginar que algumas estão dispostas a jogar
e a correr riscos?
Nozick (libertarista)

John Rawls defende um Estado social, implícito da ideia de cooperação


voluntária de todos os elementos da sociedade, enquanto Robert Nozick
defende o “Estado Mínimo”, isto é, que as funções do estado são apenas a
defesa perante ameaças externas, a segurança dos cidadãos e dos seus bens
e o cumprimento dos contratos e das leis.

Nozick critica o princípio da diferença enquanto padrão de distribuição


dos bens porque se trata de uma intromissão abusiva do Estado na vida
individual, tratando os bens das pessoas como se não fossem
delas. Nozick defende a “Teoria da titularidade”, ou seja, se não tiverem sido
adquiridos de forma fraudulenta, os bens pertencem às pessoas. Assim, se o
Estado retirar parte desses bens aos seus justos titulares sem o seu
consentimento, estará a violar os seus direitos de propriedade.

Como defensor da ética deontologista de Kant, Nozick considera que tirar


a uns para dar a outros sem o consentimento dos primeiros, é tratar as
pessoas como se elas não fossem pertença de si próprias, isto é, tratá-
las como meios e não como fins, como diria Kant. É uma forma de
instrumentalização das pessoas, violando a sua autonomia e, portanto, os seus
direitos mais básicos. Robert Nozick, como libertarista, concorda com o
restante do princípio da liberdade.
 
Michael Sandel (comunitarista)

Michael Sandel não concorda com a ideia liberal de que o bem comum é
apenas o resultado da combinação das preferências individuais. Só a
comunidade permite encontrar, em conjunto, o modo de vida que define uma
vida boa.

Para Sandel, o uso da posição original e do véu de ignorância como estratégia


para encontrarmos os princípios da justiça, falha, já que a imparcialidade
concedida não basta, porque mesmo que fosse definido um acordo, não seria
justo apenas e só por as partes terem livremente acordado nisso. Para Sandel,
a noção do que é bom não pode ser dada pelas preferências individuais de
seres completamente separados de uma comunidade concreta. O véu de
ignorância transforma-nos nesses seres, desprendidos de qualquer laço social,
sendo este acordo pouco credível.

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