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John Rawls (Teoria da Justiça):

Questão em estudo: “Será que podemos ter uma sociedade democrática mais
justa?” / “Será que o estado pode (e deve) corrigir as diferenças sociais”.

John Rawls é contratualista, pois o seu pensamento situa-se na linha dos que
defendem a teoria do contrato social, segundo o qual os cidadãos delegam poder nos
governantes em troca de um conjunto de benefícios, mas, em última análise a
soberania reside no povo, sendo a função do estado construir uma sociedade justa.

O principal objetivo de John Rawls com a Teoria da Justiça como Equidade é mostrar
uma forma de entender a justiça social, conjugando-a com a liberdade, para que
possamos viver de forma justa.

No momento de escolhermos os princípios que governarão uma sociedade justa,


estamos a fazer um contrato social. Para que todas as partes contratantes desejem,
em simultâneo, liberdade e justiça é preciso que, no momento de fazer o contrato – a
posição original, todos sejam imparciais e não tomem decisões com base nos seus
interesses pessoais, o que só pode acontecer se estiverem garantidas 4 condições:

 Todos os contratantes são livres (ninguém depende de ninguém ou está submetido


a alguém);
 Todos são iguais (no sentido em que têm o mesmo poder de decisão, o voto de um
vale tanto como o de outro);
 Todos são racionais (capazes de tomar decisões equilibradas);
 Todos estão cobertos por um véu de ignorância, isto é, desconhecem a sua
condição social, religiosa, sexual e económica, ou seja, a sua posição na sua
sociedade.
Sob o véu de ignorância, todas as partes contratantes se encontram em situação de
simetria e equidade, pelo que ninguém conhece os fatores que poderiam permitir a
obtenção de vantagens especiais, nomeadamente as características e objetivos
pessoais, as vantagens ou desvantagens naturais e sociais. Nesta situação,
desconhecemos as características particulares que nos levariam a ser parciais, pelo que
estão reunidas as condições para uma escolha adequada, devidamente imparcial e
racional.
Teoria da Ação Racional: Os indivíduos sendo racionais são capazes de, numa situação
de igualdade, ter sentido de justiça.
Princípio Maximin: Na nossa ação, devemos escolher a opção mais segura ou, pelo
menos, a menos arriscada (maximizar o nível de vida mínimo).
Princípios de Justiça como Equidade:
A liberdade e a justiça serão alcançadas pela promoção dos seguintes princípios (por
ordem de importância):
 Princípio da Igual Liberdade: Este é o princípio mais importante, nunca podendo
ser posto em causa. Diz que há um conjunto de direitos que deve ser garantido a
todos os indivíduos. O estado deve garantir a todos os indivíduos a oportunidade
de terem acesso, da mesma forma, a um conjunto de liberdades fundamentais:
liberdade política, liberdade de expressão, consciência, propriedade, educação,
etc.
 Princípio da Igualdade de Oportunidades: É tolerável que alguns ocupem posições
sociais superiores (com mais benefícios e riquezas), desde que todos estejam em
igual condição de acesso às mesmas. Consiste em garantir a todos os indivíduos as
mesmas oportunidades de acesso aos vários lugares na sociedade. Desde que os
indivíduos possuam as mesmas capacidades e competências, têm a mesma
possibilidade de emprego, acesso a cargos públicos, políticos, etc.
 Princípio da Diferença: Consiste em admitir na sociedade algumas desigualdades e
económicas e sociais, desde que essas mesmas desigualdades possam servir para o
benefício dos mais desfavorecidos, ou seja, criarem oportunidades que lhes
permitam reduzir as desvantagens sociais. Para Rawls, tratar as pessoas como
iguais não implica remover todas as desigualdades, mas apenas aquelas que
trazem desvantagens para alguém.
Problemas práticos da aplicação da justiça:
Será possível uma distribuição igualitária da riqueza? Distribuir de forma igual os bens
é uma forma de justiça distributiva que encara várias críticas:
 Seria impraticável fazer esta distribuição, para além de que esta seria pouco
duradoura, pois nem todas as pessoas gastariam da mesma forma, causando
desigualdade novamente.
 Se dessemos a todos o mesmo, os menos competentes teriam tendência a nada
fazer, pois sabiam que os competentes os iriam sustentar. Estes, por sua vez, nada
fariam de melhor pois não tinham recompensa e fazê-lo apenas para sustentar os
outros.
 Finalmente, as pessoas têm diferentes necessidades, para além de que fazer uma
redistribuição tão radical iria contra o direito de propriedade privada e seria uma
intervenção em demasia na vida das pessoas.
 No entanto, é possível fazê-lo parcialmente, em benefício dos mais pobres. Daí a
existência dos impostos, para que todos tenham acesso a algo.
É possível garantir a igualdade de oportunidades no acesso ao emprego e cargos
políticos?
 Tal não é exequível já que, devido às condições já criadas, os ricos estão em
vantagem natural sobre os outros.
 Cidadãos menos capazes poderiam ascender a cargos demasiado importantes para
a sua competência.
 Indivíduos mais competentes e esforçados devem ter direito a maiores
recompensas. Aplicar o princípio da diferença aqui causaria injustiças.
Discriminação positiva: Consiste no tratamento deliberadamente desigual de
candidatos, que favorece o grupo que é maior vítima de discriminação, para que a
sociedade fique mais próxima de ser igualitária. Foi proposta por Rawls, visto que os
igualitaristas defendem que as pessoas nunca devem ser discriminadas por raça, sexo,
orientação sexual, etc.
Objeções:
 Discriminação positiva: Os críticos desta medida defendem que é um meio injusto
de atingir a igualdade, sendo anti igualitária e, como tal, incorreta. As pessoas que
obtiveram esses cargos podem sentir que não o fizeram por mérito próprio e
ficarem, como tal, ressentidas. Para além disso, terão as pessoas talentosas
incentivos para trabalharem mais, ou forma mais exigente?
 Posição original: Como garantir que as pessoas colocadas na posição original
optam pelo seguro? Por que não imaginar que algumas estão dispostas a jogar e a
correr riscos?

Problemas da Origem e Possibilidade do Conhecimento:

Gnosiologia: Área da filosofia que pesquisa sobre o conhecimento, fazendo perguntas


acerca da origem, verdade, conhecimento.
Questão do problema da possibilidade do conhecimento: Será que podemos
conhecer alguma coisa? / Será que o sujeito apreende efetivamente o objeto?
Dogmatismo: Confiança de que a razão pode atingir a certeza e a verdade. Esta
perspetiva opõe se ao ceticismo, pois acredita que o conhecimento é possível.
Ceticismo: Não encontra justificações empíricas nem racionais para aceitar que temos
um conhecimento absoluto do que quer que seja.
Ceticismo sistemático: Adota a dúvida como um princípio definitivo. Adota-se no final
de um percurso intelectual, como conclusão deste.
 Ceticismo radical: É impossível ao sujeito apreender o objeto, o conhecimento é
impossível e nega-se que haja justificações suficientes para as nossas crenças.
 Ceticismo mitigado: Não estabelece a impossibilidade do conhecimento, mas sim a
impossibilidade de um saber rigoroso. Não podemos afirmas se este ou aquele
juízo é ou não verdadeiro, apenas podemos dizer se é ou não provável.
 Ceticismo metafísico: Aplicado apenas a algumas áreas específicas. Este defende
que não se pode conhece nada para além da experiência sensível. (Ex: ideia de
Deus, não é possível ter experiência sensível, logo não pode haver certeza.
Ceticismo Metódico: Não é uma teoria filosófica, na medida em que não corresponde
ao final de um percurso intelectual. É um método para alcançar a verdade, sendo
utilizada no início do percurso
Problema da origem do conhecimento: De onde vêm as ideias que produzem o
conhecimento?
Empirismo: Todo o conhecimento provém da experiência. Não existem ideias nem
conhecimentos inatos, o conhecimento resulta da ligação de ideias simples fornecidas
pelos sentidos.
 Metáfora da “tábua rasa”: Ao nascermos, a nossa mente é como uma folha em
branco, não possui ideias. As ideias vão se formando no contacto com o mundo.
Racionalismo: A razão é a fonte principal de conhecimento e só através da mesma é
que se pode encontrar um conhecimento seguro, sendo este independente da
experiência sensível, logicamente necessário e universalmente válido. Para os
racionalistas, é possível alcançar a verdade acerca do mundo físico e do metafísico.

Racionalismo Dogmático de Descartes:

Razões que levam Descartes a duvidar: Descartes duvida da existência do mundo


físico, do seu próprio corpo (ou pelo menos a capacidade de o conhecermos), dos
conhecimentos adquiridos até ao momento, devido aos seguintes argumentos:
 Argumento da regressão ao infinito;
 Possuímos preconceitos;
 Argumento das ilusões dos sentidos;
 Não podemos distinguir o sonho da vigília.
Características da dúvida cartesiana:
 Metódica: É uma estratégia para chegar à verdade.
 Universal: Aplica-se a todas as áreas da ciência;
 Radical: Chega ao extremo;
 Hiperbólica: É levada ao exagero, atingindo o mundo físico e metafísico;
 Provisória: Não permanecerá, dissipar-se-á posteriormente;
 Catártica: É purificadora.
Método de trabalho de Descartes: Para trabalhar com segurança e conduzir bem a
Razão nos seus raciocínios, utiliza 4 regras:
 Evidência: Não aceitar nada como verdadeiro sem que seja evidente, ou seja, claro
e distinto. Com esta regra, dá-nos um critério para distinguir o verdadeiro do falso
ao mesmo tempo que impõe a dúvida metódica, ou seja, passa a ser um método
para atingir o conhecimento;
 Análise: Dividir os problemas em partes mais simples;
 Síntese: Reunir todas as partes simples num todo com sentido;
 Enumeração: Passar em revisão todos os passos de uma investigação.
Papel da dúvida metódica: Exercer sistematicamente a dúvida, a fim de nunca aceitar
como verdadeiro aquilo que não for claro, distinto e, portanto, evidente. A dúvida é
um instrumento que manda considerar falso o que não for absolutamente verdadeiro.
Ilusão dos sentidos: Aplicando o princípio hiperbólico que orienta o uso da dúvida,
devemos considerar como enganador o que nos engana algumas vezes, logo os
sentidos não são dignos de confiança.
Argumento do sonho: Descartes considera que podemos duvidar da experiência
sensível pois, por vezes, acreditamos que estamos a ter uma determinada experiência,
quando na realidade estamos a sonhar, logo nunca podemos ter a certeza absoluta de
não estar a sonhar enquanto julgamos percecionar objetos.
Génio Maligno: As realidades matemáticas são realidades que resultam da razão.
Sendo evidentes, ao colocá-las em causa, todos os outros produtos da razão serão
postos em dúvida. Descartes coloca a hipótese do génio maligno, que tivesse o poder
de o manipular de tal maneira, levando-o a pensar que é algo evidente quando não o
é, levando a que nem as verdades evidentes estejam seguras, tornando-se a dúvida
hiperbólica.
Cogito: Enquanto pensava, Descartes deu-se conta que se duvida, pensa. E se pensa,
não pode não ser nada. Esta verdade resistiu à dúvida metódica mesmo quando se
radicalizou colocando-se a hipótese do génio maligno, pois mesmo que ele o engane
sobre tudo, não o pode enganar sobre a sua existência. Encontrou, assim, a primeira
certeza, “Penso, logo existo”, que é uma verdade autoevidente, pois no precisa de
nenhuma crença anterior para a justificar e fundacional pois é através dela que se vão
fundamentar outras verdades posteriores (resolve-se a regressão ao infinito).
Características do cogito: Ser pensante, uma substância imaterial, racional, já não
precisou de provar a existência de matéria para provar a sua existência, sendo
independente de matéria.
Solipsismo: Não sabe se há mais alguma coisa para além da sua mente, encontra-se
em solidão intelectual.
Necessidade de provar a existência de Deus: A fim de afastar a hipótese do génio
maligno.
Descartes prova a existência de Deus (Res Divina): A ideia de Deus não pode ter
vindo da experiência, nem pode ser factícia (tbm vêm da experiência), logo só pode ser
inata. Não pode ter vindo do génio maligno, pois este não saberia o que é a perfeição e
não poderia ter vindo dele, pois ele é imperfeito (duvida). Assim, só pode ter sido Deus
a colocá-la lá. Além disso, a ideia de perfeição implica a existência.
Destruição da hipótese do génio maligno: Provada a existência de Deus como um ser
perfeito, afasta-se a possibilidade de ser enganador, pois a maldade é uma
imperfeição. Passa a ser possível, então recuperar crença nas verdades evidentes que
tinham sido postas em causa devido à hipótese do génio maligno.
Existência o mundo físico (Res Extensa): Descartes percebe que tem uma tendência
muito forte para acreditar que as suas perceções sensíveis são causadas por objetos
físicos e Deus, ao não ser enganador, não o havia de enganar sobre tão forte sensação.
Assim, o seu corpo é extenso como qualquer realidade física e sobre ele tem
determinadas emoções, sensações, etc, que acontecem contra a nossa vontade, logo a
causa dessas sensações é o corpo.
Confiança nos sentidos: Embora nunca sejam de inteira confiança, é possível provar a
verdade das nossas crenças mais fundamentais se, em vez de darmos primazia aos
sentidos, nos guiarmos pela razão, ou seja, se as informações provenientes dos
sentidos forem rigorosamente examinadas pela razão, que continua a ser a única fonte
de conhecimento.
Ideias inatas: Estão na nossa mente desde a nascença e ela descobre-as por si própria;
Ideias adventícias: Têm origem nas sensações, experiência;
Ideias factícias: Criadas pela nossa imaginação através das adventícias.
3 grandes princípios da metafísica: Res Cogitans, Res Divina, Res Extensa.
Críticas a Descartes:
 Círculo cartesiano: Precisa de Deus para provar as verdades evidentes mas precisa
de uma verdade evidente (ideia de Deus) para provar que Deus existe;
 Crítica ao argumento ontológico: A existência é uma condição para as
características;
 Interação mente-corpo: O dualismo torna confusa a interação entre a mente e o
corpo: se a mente não está no espaço, como pode estar ligada ao corpo?

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