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A crítica de Rawls ao

utilitarismo

Docente: Prof. Fernando Vieira


A crítica de Rawls ao utilitarismo
John Rawls John Stuart Mill

Rawls (como kant) considera toda a pessoa humana como um ser simultaneamente
livre, igual, e fim em si mesmo, recusando a sua instrumentalização.

Partindo deste pressuposto, discorda do utilitarismo, alegando:

• A falta de um principio absoluto que sirva de critério universal para decidir o que
é justo ou injusto;

• A subordinação do indivíduo a interesses sociais, não lhe reconhecendo direitos


fundamentais invioláveis;

• Que, ao subordinar a politica à felicidade global, não fosse tomada em


consideração a forma justa ou injusta como ela é distribuída
Rawls Utilitarismo

• Em primeiro lugar, e de acordo com a sua avaliação da teoria utilitarista,


esta falha por não concordar com os nossos juízos ponderados sobre o
facto de os direitos individuais não deverem estar sujeitos ao cálculo dos
interesses sociais.
• A proposição central do utilitarismo é o princípio da maior felicidade.
• De acordo com este princípio, o melhor resultado é aquele que maximiza
a felicidade agregada dos membros de uma sociedade tomada como um
todo. Contudo, em algumas circunstâncias plausíveis, pode acontecer que
a maneira de maximizar a felicidade agregada signifique impor um
sofrimento considerável a um ou a alguns membros de uma sociedade.
Suponhamos…
que nós pertencemos a uma sociedade de 100 pessoas, e para que 95 possam ficar mais felizes
tenhamos que escravizar as restantes 5, sujeitando-as a tarefas que a nossa sociedade considera
desagradáveis e cruéis, mas que nos libertem para realizar tarefas mais agradáveis e
recompensadoras.
Pode acontecer que esta ação venha a produzir mais felicidade do que a alternativa de não
escravizar ninguém, mesmo considerando a miséria dos infelizes escravizados.
Tendo em conta que para o utilitarismo, o melhor resultado é aquele que maximiza a felicidade
agregada e podendo o máximo de felicidade agregada ser alcançado através da escravização de
alguns para produzir a maior felicidade para a maioria, então o utilitarismo defenderá que esta opção
será a melhor.
Rawls defende que resultados deste tipo colidem com os nossos juízos ponderados sobre os direitos
que os indivíduos possuem e que não devem ser sacrificados no cálculo dos interesses sociais.
Rawls Utilitarismo

● Em segundo lugar, na opinião de Rawls, ainda que os utilitaristas Nota:


aceitem que diferentes coisas contribuam para o bem, pressupõem
que isso acontece porque contribuem para o bem-estar psicológico,
que é, só por si, o único bem. Utilitarismo

● Rawls pensa que este pressuposto está errado pois, na sua Se os indivíduos forem
perspetiva, há uma conceção pluralista de diferentes conceções de informados/ racionais
bem e mesmo que todas as pessoas fossem muitíssimo informadas
e racionais estas possuem diferentes valores e formulam diferentes
Apenas um bem!
projetos sendo alguns destes valores e projetos mais importantes
que a sua própria vida e experiência individual. Isso é, alguns
indivíduos — muitos indivíduos, de facto — valorizam outras coisas
para além de estados mentais ou estados de bem-estar psicológico. Prazer mental/
bem-estar
psicológico
“…A justiça é a primeira virtude das
instituições sociais, como a verdade o é
dos sistemas de pensamento...”
–John Rawls
A justificação dos princípios de justiça
• O primeiro é um argumento a favor de todos os princípios de justiça que formam a
teoria da justiça como equidade.

• O segundo é um argumento que defende diretamente o segundo princípio de justiça.


Rawls afirma que este argumento é o mesmo que o primeiro, mas apresentado de
maneira diferente.
O argumento da posição original

• Trata-se de uma situação hipotética de escolha dos princípios de uma sociedade justa,
processo que, para ser justo, tem de ser imparcial e todas as partes nele envolvidas têm
de ser tratadas como iguais. A posição original define-se pelo que não sabemos e pelo
que sabemos.
O argumento da posição original

• Os bens sociais primários são diretamente distribuídos pelas instituições sociais, em que Rawls inclui
também as empresas. Os bens naturais primários não são, como é óbvio, diretamente distribuídos
pelas instituições sociais, mas são por elas influenciados.
O argumento da posição original

• O perfecionismo, que figura nos princípios que podem ser escolhidos, defende que uma sociedade
justa procura maximizar a realização da excelência humana na arte, ciência e cultura.

• Foram, assim, eliminadas do processo de escolha dos princípios de justiça as contingências sociais e
naturais. Esta é a mais importante restrição a que um processo de escolha, para ser justo, tem de
estar sujeito. Só ela, na verdade, assegura uma escolha imparcial.
O argumento da posição original

• Excluir as contingências sociais e naturais do processo de escolha equivale a pôr de lado todas as
considerações moralmente arbitrárias e injustificadas, como seria o caso se atendêssemos a
considerações de pobreza ou de riqueza.

• Além de imparcial, por impedir vantagens negociais, o processo de escolha é, então, racional, por
atender apenas a considerações moralmente justificadas. É nele, aliás, que reside a chave para a
compreensão da justiça como equidade, que se verifica apenas quando o próprio processo de
escolha é equitativo.
Teste intuitivo de justiça

• Trata-se da solução maximin, que é assim conhecida por assegurar a maximização do mínimo.

• Se as nossas intuições de igualdade e justiça nos conduzem ao mundo 3, chegados lá, veremos que
os menos favorecidos têm a melhor situação possível no que respeita a liberdades, oportunidades e
rendimentos.
Teste intuitivo de justiça

• A solução maximin para o problema da justiça social é contrária ao utilitarismo. Garantido a


compensação mínima mais alta, o bem de uns quantos não pode ser sacrificado pelo maior bem do
maior número.

• Os menos favorecidos alcançam nele o nível 5 na escala de distribuição de bens sociais primários,
mas ficam-se pelos níveis 3 e 2 nos outros mundos.

• É verdade que os outros dois padrões de distribuição têm uma utilidade média mais alta.
Então, qual a escolha mais racional?

• A escolha do mundo 3 é mais racional e compatível com as nossas intuições de igualdade e justiça.

• Diz justamente que a sociedade deve promover a distribuição igual da riqueza, a menos que as
desigualdades económicas e socias beneficiem o mais possível os menos favorecidos.

• E a verdade é que nenhuma das desigualdades dos mundos 1 e 2 gerou grandes benefícios para os
menos afortunados, que neles se encontram numa situação que fere a nossa sensibilidade moral.
O argumento intuitivo da justiça social

Este argumento é o mesmo que o argumento da posição original, mas apresentado de uma maneira
diferente.
O destino das pessoas deve depender das suas escolhas, e não das circunstâncias em que se
encontram. Ninguém merece ver as suas escolhas e ambições negadas pela circunstância de
pertencer a uma certa classe social ou raça. Estando garantida a igualdade de oportunidades,
prevalece nas sociedades atuais a ideia de que as desigualdades de rendimento são aceitáveis.
Como ninguém é desfavorecido pelas suas circunstâncias sociais, o destino das pessoas está nas
suas próprias mãos.
O argumento intuitivo da igualdade de
oportunidades

Mas será que esta visão da igualdade de oportunidades respeita a tua


intuição de que o destino das pessoas deve ser determinado pelas
suas escolhas, e não pelas circunstâncias em que se encontram?
O argumento intuitivo da igualdade de oportunidades

Rawls pensa que não. Por esta razão: reconhecendo apenas diferenças nas
circunstâncias sociais e ignorando as diferenças nos talentos naturais, a visão dominante
terá de aceitar que o destino de um deficiente seja determinado pela sua deficiência. Se
é injusto que o destino de cada um seja determinado por desigualdades sociais, também
o será se for determinado por desigualdades naturais. Logo, como as pessoas são
moralmente iguais, o destino de cada um não deve depender dos acasos sociais ou
naturais. Neste caso não poderás aceitar o destino do deficiente.
O argumento intuitivo da igualdade de oportunidades

Em alternativa Rawls propõe que a noção comum de igualdade de oportunidades passe a reconhecer as
Em alternativa Rawls propõe que a noção comum de igualdade de oportunidades
desigualdades naturais. Como?
24. Opasse
argumento intuitivo da as
a reconhecer igualdade de oportunidades
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naturais. Como?deve beneficiar de forma exclusiva dos seus
talentos naturais, mas não é injusto permitir tais benefícios se eles trazem vantagens para os menos talentosos.
NinguémSedeve
Por exemplo: uma beneficiar de forma
pessoa nascer exclusiva não
muito inteligente, dospode
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naturais, mas não
inteligência, mas épode usá-la
para ajudar os outros.v
injusto permitir tais benefícios se eles trazem vantagens para os menos talentosos.
Por exemplo: Se uma pessoa nascer muito inteligente, não pode distribuir a sua
inteligência, mas pode usá-la para ajudar os outros.
Concluindo...

Em cada um dos princípios mantém-se a ideia de distribuição justa. Assim, uma


desigualdade de liberdade, oportunidades ou rendimento será permitida se
beneficiar os menos favorecidos. Isto faz de Rawls um liberal com preocupações
igualitárias.

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