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Ética , Direito e Política

O problema da justiça social


- A teoria da justiça de John Rawls.
Vida em sociedade:
Ética – reflexão sobre os valores (bem, justiça, verdade, etc,)
que devemos praticar: o critério é a consciência do
indivíduo.

Direito – conjunto de normas reguladoras da


sociedade/sistema de leis e normas que visam ordenar a
sociedade e as relações entre os seus membros.
Ao Direito interessam as ações que devem ser
explicitamente permitidas, proibidas e obrigatórias.

Exemplos:
Caraterização dos indivíduos:
Indivíduo como ser social – com a obrigação da obediência
às normas jurídicas.

Indivíduo como pessoa moral – avalia as normas jurídicas e


age em conformidade, ou não, com a sua consciência (por
vezes há um conflito entre o cumprimento das leis e os
valores éticos 1).

1 exemplos: pena de morte, aborto, eutanásia, etc.


A desobediência civil
Há ações que são autorizadas, ou não proibidas pelo Direito,
mas que se pode pensar serem eticamente reprováveis.

A desobediência civil é o não cumprimento ativo, público e


pacífico de uma lei que se crê injusta de um ponto de vista
ético, com o propósito de levar a Sociedade
/Estado/Legisladores a repensarem essa lei e a revogá-la ou
alterá-la.
Exemplos históricos – as leis segregacionistas nos USA
(Luther King), o Apartheid na África do Sul
(Mandela), o Eugenismo da Alemanha Nazi
(extermínio dos judeus).
A Política
Organiza a Sociedade e o Estado – os valores fundamentais
são a justiça e a garantia da segurança da vida em comum.
John Rawls (1921-2002)
-Uma teoria da justiça.
“Uma teoria da justiça” 1971
A equidade pela ignorância.
A teoria da justiça de Rawls enquadra-se no Liberalismo
Igualitário.
Talvez o aluno seja rico, talvez seja multimilionário. Mas a
maioria dos alunos não são ricos e alguns são muito
pobres.
Isto não parece justo nem correto – e, de facto, não é.
O liberalismo igualitário
Pretende conjugar a prioridade da liberdade, com a
importância da igualdade de oportunidades e do papel
do Estado na distribuição de bens e serviços.

Págs. 245, 246


Quem tem o quê?
Imagine que tem de criar uma sociedade nova e melhor.
- A justiça consiste basicamente na equidade. Os seres

humanos devem ter os mesmos direitos e liberdades,


porque, enquanto seres humanos, têm igual valor moral.

- Uma sociedade justa será aquela que melhor garante a


equidade - é esta que tem valor intrínseco, e não o saldo
da felicidade geral, como para o utilitarismo.
Rejeição do utilitarismo
O utilitarismo é compatível com a ideia de haver um
conjunto de indivíduos que veja as suas liberdades
sacrificadas em nome do bem-estar geral (princípio da maior
felicidade). Pág. 259
Para Rawls a sociedade deve assegurar a máxima liberdade
para cada pessoa.
A posição original e o véu da ignorância

A posição original é uma experiência mental/situação


hipotética em que se concebe uma situação de contrato
inicial, entre sujeitos livres, iguais e racionais, para a
definição/escolha dos princípios da justiça.
Pág. 247
O véu de ignorância -
A posição original como situação hipotética na qual os
indivíduos se encontram quando estão a decidir como
organizar a vida em sociedade (escolha dos princípios da
justiça a coberto do véu da ignorância) e estabelecem um
contrato social.
Quando Rawls afirma que os indivíduos contratantes devem
estar cobertos por um véu de ignorância, o que ele quer
dizer é que estes desconhecem:
- as suas características particulares (físicas, psicológicas);
- o lugar que ocupam na sociedade, a sua situação
económica, os seus talentos naturais, etc.

O véu da ignorância garante a imparcialidade e


razoabilidade das decisões. Pág. 247
Admite-se que, se ignorássemos a nossa posição atual,
escolheríamos os princípios de justiça mais equitativos.
Deste modo, evitaríamos escolher os princípios que
beneficiassem exclusivamente a nossa situação atual,
minimizando os riscos de termos uma vida insatisfatória.
Os princípios da justiça
Colocados na posição original, acabaríamos por chegar livre
e racionalmente a um acordo ou negociação equitativa
(contrato social), que visa garantir três coisas: pág. 248

- Os mesmos direitos e deveres básicos para todos;


- As desigualdades só seriam admissíveis se todos
beneficiassem com isso, especialmente os mais
desfavorecidos;
- Ninguém seria beneficiado ou prejudicado pela
acaso/lotaria natural ou pelas circunstâncias sociais.
Para garantir estas três coisas, a coberto do véu de
ignorância, escolheríamos dois princípios de justiça:
Pág. 255 Texto pág. 250
1 - Princípio (da igualdade de liberdades) da liberdade:
Toda a gente tem direito às mais amplas liberdades básicas –
direitos cívicos (liberdade de opinião, de expressão e de
reunião); direitos políticos – (direito de voto e de
participação na vida pública); direitos da pessoa – (direito
à integridade física e psicológica).
Assim, práticas como a escravatura, a tortura ou a prisão
arbitrária das pessoas constituem violações do
princípio da liberdade.

2a - Princípio da oportunidade justa (as


desigualdades económicas e sociais serão dispostas de
modo a estarem ligadas a funções e lugares acessíveis a
todos, em condições de igualdade de oportunidades).
O Estado deve intervir para garantir que todos tenham
as mesmas oportunidades, facultando-lhes o acesso à
educação, cultura, saúde.
Visa corrigir a lotaria social. Pág. 257

Metáfora da pista de atletismo (todos correm o


mesmo).
2b - princípio da diferença (as desigualdades
económicas e sociais devem ser distribuídas de modo
que resultem nos maiores benefícios possíveis para os
menos favorecidos)

Pág.258
O Princípio da liberdade tem preferência sobre o
princípio da oportunidade justa e este sobre o princípio
da diferença.

Pág. 258
A regra maximin –Maximizar o mínimo
Pior resultado possível Melhor resultado possível

Opção A Pobreza extrema Riqueza extrema

Opção B Pobreza acentuada Riqueza acentuada

Opção C Pobreza moderada Riqueza moderada


Indivíduo Indivíduo Indivíduo Indivíduo
A B C D
Sociedade 200 400 500 800
1
Sociedade 50 400 600 1000
2
Sociedade 150 250 250 300
3
Desconhecendo (véu de ignorância) qual o vosso lugar na
sociedade, qual seria a vossa opção (segundo a teoria da
justiça)?
-A
-B
-Cx
- 1x
- 2
- 3
- A regra maximin permite numa situação de incerteza
maximizar o mínimo. Quando não sabemos os resultados
associados a uma escolha , é racional escolher como se o
pior nos fosse acontecer.

- Preferimos optar por uma sociedade em que o pior que nos


pode acontecer não seja muito mau e seja até, dentro do pior
o melhor possível. Pág.253
Objeções/ críticas à teoria de Rawls
- Implica um papel demasiado protecionista do Estado;
- Subvaloriza a ambição dos agentes (baixa a fasquia);
- Objeção Kantiana - os ricos estarão a ser usados como um
meio de financiar os pobres;
- Atinge direitos legítimos ao enriquecimento (diz Nozick);
- Torna irrelevante o mérito (ao defender que a distribuição
desigual da riqueza só é admissível se reverter a favor dos
mais desfavorecidos).
Robert Nozick - a conceção minimalista de
Estado(critica libertarista):
- Nozick afirma que uma sociedade justa é a que não impõe
qualquer limite legal aos níveis de desigualdade económica
nela presentes (não aceita o princípio da diferença):

O Estado deve ser mínimo, limitando-se a assegurar as


liberdades políticas e a proteger os cidadãos da violência
de outros.
Pág. 261
Nozick considera que a interferência do Estado é
eticamente inaceitável, pois viola direitos de propriedade e
desrespeita a liberdade individual de cada um gerir o seu
rendimento e riqueza como bem entender.
Nozick avança com uma conceção alternativa de justiça que
é libertista.
- Mesmo que numa sociedade haja assinaláveis
desigualdades económicas, esse facto, não torna legítima a
redistribuição da riqueza.

- O fosso entre ricos e pobres só é injusto se for criado


através de meios injustos, tais como a fraude e o roubo.
- Para assegurar os serviços mínimos [educação, saúde,
segurança (exército, polícia), estradas, etc], é legítimo que
o Estado cobre impostos.

- Pode e deve apelar-se à generosidade, mas não é justo isso


ser uma obrigação ou imposição.
A crítica comunitarista de Sandel
(n. 1953)
Págs. 266,267
- Os indivíduos não esxistem de forma autónoma e isolada,
fazem parte de uma comunidade (relações e interações
sociais).
- Só a comunidade permite encontrar, em conjunto, o modo
de vida que define uma vida boa, que é afinal o bem
comum.
- As pessoas não se autodeterminam, há escolhas que

decorrem de laços comunitários preexistentes que moldam


as nossas preferências.

Ex. Não escolhemos a nossa família, mas esta molda muitas


das nossas opções.
A crítica de Sandel a Rawls recai sobre a prioridade do
princípio da liberdade sobre o princípio da oportunidade justa.

Para Sandel as liberdades individuais devem ser interpretadas


em função de uma conceção de bem comum. Deve haver uma
prioridade do bem comum na definição do justo.

Ver o exemplo da liberdade religiosa. Pág. 268


- Pertencemos em grande parte não só a nós próprios, mas à
comunidade em que estamos enraizados.
- Não basta as nossas escolhas serem imparciais para serem
justas. Um acordo é justo quando é bom (a noção do bom
é anterior à noção do que é justo).
- A noção do que é bom ou não bom, não pode ser dada
pelas preferências individuais, mas decorre do nosso
enraizamento numa comunidade concreta.

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