Você está na página 1de 33

1

Introdução ao Direito

Tema 1: Direito em Geral


1.1: o homem, um ser eminentemente social.

Toda e qualquer Toda e qualquer comunidade humana necessita de uma ordem que
estabeleça regras de convivência entre os seus membros.

Nas sociedades actuais existem diferentes ordens normativas que regulam a vida
social do Homem.

A ordem social é, pois, o fundamento essencial da existência e funcionamento da vida


humana em sociedade.
“O direito é uma ordem e da sociedade. Uma ordem e não a ordem, repara-se porque
na sociedade outras se encontram1” ex: ordens religiosas.
O homem sempre viveu em comunidade. Com efeito, a tribo, a família, o Clã, a cidade,
a sociedade e o Estado, constituem manifestações inequívocas da sociabilidade do
Homem. O homem desenvolve toda a sua actividade em sociedade.
Diversos autores tentaram explicar a razão de ser da vida do homem em sociedade,
os primeiros são constituídos pelos autores clássicos, (Aristóteles Cícero, S. Tomás de
Aquino, Santo Agostinho), que defendem a origem natural da sociedade; o segundo
grupo é constituído por aqueles autores que consideram que a origem das sociedades
se fundamenta num contrato social (John Loocke, Thomas Hobbes e Jean Jacques
Rousseau). Para uma melhor compreensão da natureza social do homem, seguiremos
a baixo algumas concepções interessantes:
1. Concepção naturalista do Homem: Nesta concepção, a origem da sociedade
encontra o seu fundamento na natural sociabilidade do homem, ou seja, o
homem, em si, é um ser eminentemente social ( “ o Homem, é naturalmente,
um animal politico2, que não vive insolado. Pois que é nesta socialização que
homem consegue realizar as suas mais variadas necessidades. Nesta, são
destacados os pensadores como, Cícero, S. Tomás de Aquino, e Papa Leão XII.

2. Concepção Contratualista da sociedade: Nos seculos XVII e XVIII,


pensadores como Thomas Hobbes, jonh Locke, e Jean Jacques Rosseau, ao
contrário dos autores anteriores, defendem que a vida anterior não era natural,
pois resultava de um acordo de vontades (contrato social entre homens. No
entanto, os homens deixavam da sua vida solitária e errante, a aqueles eles
consideravam como estado natureza (status naturais), que se caracterizava
pela inexistência de autoridade, e passaram a viver num “estado de sociedade
(status civilis).

1
J. Oliveira Ascensão, in introdução ao estudo do Direito.
2
Aristóteles no seu livro a Política.
Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
2

Já Thomas Hobbes3 afirmava que o Homem é por natureza, feroz, egoísta,


violento e perigoso para com o seu semelhante, e muito conhecido com o seu
pensamento “Homo Hominus Lupos”- o Homem é o lobo do Homem, e por isso
o estado de Natureza gerava desordem e violência.

Desta forma o homem transitou do estado natureza para o estado sociedade, isto é,
através de um contracto social o homem procurou assumir e desistir de certos direitos
vindos da natureza a favor de uma entidade superior que estabelecia as regras dos
homens em comunidade. Foi a partir do pensamento deste pensador que que se
atribui a ideia ao estado que a ele deveria recair a responsabilidade de garantir: a
justiça a paz e a segurança.

1.1.2: A Necessidade de Existência do Direito.


A subsistência da vida humana em sociedade depende da existência de regras que
garantam a ordem e a convivência pacífica entre os homens.

Essas regras ou normas, por um lado, conferem direitos e garantem certos usos
fundamentais da liberdade (por exemplo, os direitos e deveres fundamentais previstos
na Constituição da República de Angola (CRA.), e por outro, proíbem aos indivíduos
o abuso dos direitos que lhes são conferidos.
Assim, a necessidade da existência de normas sociais (o do Direito), que regulem o
comportamento do homem em sociedade, baseia-se em duas características do ser
humano: a liberdade e a sociabilidade.

A conduta social do Homem tem, pois, respeitar as regras constituídas na sociedade.


Além disso, a convivência em traduz-se, concretamente, nos seus membros e na
divisão do possível por referência a regras que assegurem a harmonia entre todos e a
solução dos conflitos daí decorrentes. Também é necessário fazer recurso a meios
necessários para resolver os conflitos de interesse sempre existirão.
Com efeito, as regras são essenciais à sociedade para a promoção da solidariedade de
interesses para a resolução dos conflitos que aprecem por causa da convivência social.

1.1.3: O Direito como ordem social normativo.

Como vimos, a ordem é essencial ao Homem para regular a vida em sociedade e


revenir e resolver os conflitos. A primeira e mais elementar noção de ordem é aquela
que se pode observar nos fenómenos da Natureza. Na verdade, estes sucedem-se
segundo uma determinada ordem invariável: os ciclos de reprodução dos animais, as
marés, a fotossíntese, o ciclo da água, o movimento rotativo e translativo da Terra,
etc.

3
Na sua Obra Civis
Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
3

Ao contrário da ordem natural, a ordem social é constituída por uma teia complexa
de regras provenientes de ordens normativas de índole diversa: da ordem moral, da
ordem religiosa, da ordem de tracto social (cortesia, usos e costumes sociais) e da
ordem jurídica.

Estas ordens normativas coexistem na sociedade em que vivemos e apre- sentam-se


como um conjunto organizado e sistemático de normas que garantem a sua
estabilidade e coesão.

Todas elas se caracterizam, fundamentalmente, pela imperatividade ou


obrigatoriedade das suas regras ou normas.

Os comportamentos humanos em sociedade devem, pois, obedecer e respeitar essas


normas.

1. Ordem Moral

A moral refere-se à interioridade do Homem e determina-lhe um específico


comportamento que visa o aperfeiçoamento da pessoa em função daquilo que se
considera ser o Bem e o Mal.

As normas de conduta da ordem moral visam o indivíduo e não a organização social


em que aquele se integra. Contudo, a conduta de cada indivíduo em sociedade resulta,
em grande parte, das suas convicções morais aliás, estas tendem a produzir
transformações na ordem social, porque o nível de aperfeiçoamento moral das pessoas
se reflecte nas suas condutas sociais. Em conclusão, pode afirmar-se que a ordem
moral aponta regras dirigidas à consciência dos indivíduos e tem como sanção a
reprovação da formação moral da pessoa ou a má reputação.

Para a distinção entre o Direito e a Moral, baseamo-nos nos seguintes critérios:

a) Critério do Mínimo Ético: o direito limita-se a impor as regras morais cuja


observância é obrigatório para a continuação da paz, liberdade e da justiça na
sociedade. O direito será aquele mínimo ético que resulta da consciência com
as regras morais.
b) Critério da coercibilidade: as normas de ordem moral apenas são
relevantes em função da consciência de cada um, enquanto as normas jurídicas
são impostas para todos e são obrigatórios para todos de forma coerciva ou pela
força. Ou seja, se não cumprir as normas morais, não há qualquer sanção, já
nas jurídicas há sanção.
c) Critério da exterioridade: o direito tem origem no comportamento externo
do ser humano. Enquanto a moral tem a ver com a conduta interna.

Em conclusão, podemos entender que o direito, preocupa-se com os


comportamentos que causam conflitos de interesses na sociedade.

1. Ordem Religiosa

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
4

A ordem religiosa tem por função regular as condutas humanas em relação a


Deus, sendo, pois, uma ordem de transcendência ou da fé. Aqui o Homem procura
estabelecer as relações com Deus através da fé
2. Ordem de tracto Social.
As regras de tracto social destinam-se a permitir uma convivência maus
agradáveis entre as pessoas, mas não determinantes para a continuação da vida.
Nestas normas podemos encontrar exemplos como: Regras de etiqueta, regras de
cortesia, normas de urbanidade etc.
3. Ordem Jurídica.
A ordem mais importante, que é constituída pelo conjunto das normas jurídicas
que regulam os aspectos mais importantes da sociedade, é a ordem social regulada
pelo direito.
O Direito é o domínio de normas que mais se conecta com os nossos interesses,
representado pelo poder institucional do Estado regulando os actos mais importantes
da nossa vida em sociedade.
Entendamos o que significa Ordem Jurídica!
Podemos como qualificar como sendo um conjunto de normas que visam regular
a vida do homem em sociedade harmonizando os seus interesses e resolvendo os seus
conflitos pelo recurso a coercibilidade.

1.2: A sociedade e o Direito

Atendendo aos conteúdos estudados acima, conseguimos entender que, não há Direito
sem a sociedade. Ora, também não há natureza humana sem a sociedade.
Vários autores debatem-se sobre a grande falte de argumentos, fundamentos
históricos e sociológicos das teses da existência do homem isolado.
Alguns pensadores teorizam acerca dessa vida pré-social do ser humano – a que
chamaram (Estado Natureza), para depois explicar que a sociedade, nasce de um
pacto ou um contracto social celebrado entre homens para passarem a integrarem-se
em todo colectivo.

1.2.1- A sociedade e os Fins Sociais.

CAPíTULO --- FONTES DE DIREITO

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
5

Conforme já vimos no primeiro trimestre, o Homem sempre se caracterizou pela sua sociabilidade, não faz
parte da sua natureza viver sozinho. Na verdade, o Homem é aquilo que Aristóteles designou de zonn
politikón — um animal de cidade —, um ser social.
Podemos afirmar que, de algum modo, é na família que está a origem da sociedade pois, apesar de não
existirem certezas que tenha sido esta a forma mais antiga de vida colectiva, não temos qualquer dúvida
quanto ao seu papel fundamental na evolução do Homem como ser social. Com efeito, foi no pequeno
grupo familiar que o Homem sentiu a importância da colaboração dos demais membros para benefício de
todos e a necessidade de estabelecer determinados princípios de convivência, designando alguém para
impor a ordem e as regras — o chefe de família.
Viver em sociedade é isso mesmo.
"(...) A convivência em sociedade traduz-se na entreajuda, na solidariedade, na divisão do trabalho; e tudo
isto só é possível havendo padrões estabelecidos de conduta, regras que assegurem a harmonização das
actividades entre si. Como necessário se toma a resolução de conflitos que a vida social inevitavelmente
suscita4.
Assim, surgiu a necessidade do Direito, não só para estabelecer as regras de conduta entre as pessoas, mas
também para resolver os eventuais litígios que possam surgir.
Perante isto, já podemos retirar uma ideia: o Direito não é mais do que o conjunto de normas que
determinam a conduta dos homens nas suas relações sociais.
Se já podemos ter uma ideia muito simples do que é o Direito, vamos agora analisar a sua origem. Isto é,
até aqui abordámos, em termos muito breves, o que deu origem à necessidade do Direito. Agora, vamos
analisar a origem do Direito, como se criam as normas que disciplinam os homens nas suas relações sociais
— as Fontes do Direito.
Quando as pessoas, no seu dia-a-dia, utilizam expressões como "fonte de problemas", ou o sacerdote na
eucaristia pronuncia "fonte da vida", ou os jornalistas obtêm as notícias através das suas "fontes de
informações aliamos, desde logo, tais expressões à ideia de origem, ao local de onde surgem as coisas.
Ora, quando referimos "Fontes do Direito", tal como nos exemplos anteriores, não podemos deixar de aliar,
também, esta expressão ideia de origem- No entanto, do ponto de vista da origem, a expressão Fontes do
Direito pode ser entendida de diversas formas e adquirir, assim, diferentes sentidos.
Vejamos:
O Em sentido político ou orgânico: as Fontes do Direito são os órgãos que criam as normas que vigoram
na sociedade, pois é neles que está a origem das normas'.
O Em sentido material ou instrumental: as Fontes do Direito são os diferentes instrumentos, ou seja, os
documentos onde constam as normas jurídicas que disciplinam as relações sociais.
O Em sentido sociológico ou causal: as Fontes do Direito são os factores sociais ou históricos que levaram
à criação e condicionaram o conteúdo concreto de determinadas normas jurídicas.
O Em sentido técnico-jurídico ou formal: as Fontes do Direito são os modos de formação e de revelação
das normas jurídicas•.
No nosso estudo analisaremos, preponderantemente, as Fontes do Direito de acordo com este último sentido
— o sentido técnico-jurídico ou formal das Fontes do Direito.

4
JOÃO DE CASITO CO FAt:VLLnDE DE PÁG. 19.

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
6

1.1. AS FONTES DE DIREITO

Fontes imediatas:
1. São fontes Imediatas São fontes imediatas do direito as leis e. as normas corporativas
2. Consideram-se leis todas as deposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes; são
normas corporativas as regras ditadas pelos organismos representativos das diferentes categorias
morais, culturais, económicas profissionais, domínio das suas atribuições, hem. como os
respectivos estatutos e regulamentos intentos.
3. As normas corporativas podem não contrariar as disposições legais de carácter imperativo.
Quando nos referimos à lei ou às normas corporativas como fontes imediatas ou directas do Direito,
significa que qualquer cidadão a que se aplique determinada lei ou norma corporativa.
Só pelo simples facto de existir a lei e existirem sujeitos a quem esta se aplique, já existe o Direito. Por isso
mesmo se designam de fontes directas ou imediatas do Direito.
Uma outra fonte do direito que pode ser reconhecida como fonte directa ou imediata é o costume, entendido
como toda a prática reiterada e habitual, acompanhada da consciência ou convicção do seu carácter de
obriga com efeito, quando determinadas práticas, apesar de não reduzidas a escrito, são encaradas por quem
as pratica como obrigatórias, tais actos são, por si só, fonte directa de Direito.
No entanto, como se constata pela análise do artigo 1º do Código Civil, a lei é, por excelência, a principal
fonte directa e imediata do Direito.
Quando falamos em fontes indirectas ou mediatas do Direito, significa que o Direito nasce a partir da
intervenção de uma entidade que interpreta e aplica a norma, ou seja, os Tribunais ou os Doutrinadores.

• A lei e as normas corporativas


O artigo 1.º do Código Civil, como vimos, refere como fontes imediatas do Direito a lei e as normas
corporativas.
A lei pode ser entendida como a norma jurídica que provém dos órgãos estaduais competentes e se impõe
a todos os cidadãos.
"(...) Chama-se lei à norma jurídica decidida e imposta por uma autoridade com poder para o fazer na
sociedade política. A lei é assim uma norma jurídica de criação deliberada — é criada para servir como tal.
As normas corporativas são, igualmente, fontes imediatas do Direito, desde que não contrariem as
disposições legais de carácter imperativo. São normas impostas por organismos representativos de
corporações, no domínio das suas atribuições.

As normas corporativas são, igualmente, fontes imediatas do Direito, desde que não contrariem as
disposições legais de carácter imperativo. São normas impostas por organismos representativos de
corporações, no domínio atrona! daquela Existem em Angola diversos organismos corporativos, tanto
associações patronais como associações sindicais (por exemplo, a Ordem dos Advogados, a Ordem dos
Médicos, a Ordem dos Engenheiros, a Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola,
UNTA — União Nacional dos Trabalhadores Angola- nos, a Câmara dos Despachantes Oficiais de Angola,
etc.).
Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
7

Estes organismos corporativos têm como principal função representar os seus associados junto de outras
entidades e, em cooperação com estas, celebrar acordos (por exemplo, contractos colectivos de trabalho)
onde se estabelecem determinadas normas (normas corporativas) que não podem ser desrespeitadas por
nenhuma das partes.

• A jurisprudência e a doutrina
A jurisprudência corresponde ao conjunto das decisões dos tribunais.
A jurisprudência é fonte do Direito com força obrigatória geral quando é fixada por meio de assentos
(decisões de casos concretos e individuais que vinculam todos os outros tribunais de forma a julgarem de
igual modo situações idênticas).
Nos casos declarados na lei, podem os tribunais fixar, por meio de assentos, doutrina com força obrigatória
geral com efeito, os Assentos do Tribunal Supremo, porque estabelecem doutrina com força obrigatória
geral, são considerados verdadeiras fontes do Direito. No ordenamento jurídico português esta norma foi
revogada e os Assentos deixaram de constituir doutrina com força obrigatória geral.
No entanto, também em Portugal, a jurisprudência continua, obviamente, a ser uma fonte do Direito, na
medida em que as decisões dos tribunais podem ajudar a interpretar e a decidir os conflitos que surjam na
aplicação do Direito.
Por sua vez, a doutrina é constituída pelo conjunto de estudos, de professores e técnicos do Direito sobre a
forma adequada de aplicar, articular e interpretar as normas jurídicas, não possuindo, como já tivemos
oportunidade de referir, carácter vinculativo.
Em suma, a jurisprudência e a doutrina são fontes mediatas do Direito, dado que, tanto uma como outra,
necessitam que previamente existam as normas jurídicas para poderem, assim, funcionar como fontes
reveladoras do Direito positivo.
1.2. A LEI
Os diferentes sentidos da lei
O Estado goza de três poderes distintos, como já vimos: O poder Legislativo; poder Executivo
(administrativo/governativo); poder Judicial.
Do exercício do poder legislativo emerge a lei, entendida como norma jurídica imposta na sociedade, por
um órgão competente para tal — o Estado.
Contudo, o termo lei pode designar coisas diferentes e, por isso, assumir diferentes significados:
Pode significar o mesmo que ordenamento jurídico, como acontece no artigo 23.º da Constituição da
República de Angola, onde se consagra que todos os cidadãos são iguais perante a Constituição e a lei.
Pode ter o mesmo significado que acto legislativo (lei ou decreto legislativo presidencial), como, por
exemplo, no artigo 102.º, n.º da Constituição da República de Angola, onde se consagra que os impostos
só podem ser criados e extintos por lei, que determina a sua incidência, taxas, benefícios fiscais e garantias
dos contribuintes.
Pode significar o mesmo que acto da Assembleia Nacional, como preceitua o artigo 57.º da Constituição
da República de Angola, onde se refere que o exercício dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos
apenas podem ser limitados ou suspensos nos termos da lei devendo tais restrições limitar-se às medidas
necessárias e adequadas ao restabelecimento da normalidade constitucional (cfr. artigo 58.º, n.º 3 da
Constituição da República de Angola).

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
8

Pode significar o mesmo que norma jurídica, como, por exemplo, no artigo 179.º, da Constituição da
República de Angola, onde se consagra que os juízes não são responsáveis pelas decisões que proferem,
salvo as restrições impostas por lei.

A lei também pode assumir diversos sentidos:


A lei em sentido amplo e restrito quando falamos de lei em sentido amplo, referimo-nos a todos os diplomas,
de carácter geral e imperativo, provenientes de órgãos estaduais competentes (por exemplo, a Assembleia
Nacional, o Governo, as Assembleias Municipais ou Comunais), ou seja, leis, decretos-leis, regulamentos,
posturas e portarias. Em suma, a lei em sentido amplo abrange todos os diplomas que consagrem normas
jurídicas.
A lei em sentido restrito é a lei propriamente dita; isto é, o fruto do exercício do poder legislativo, que é
exercido pela Assembleia Nacional (lei) ou pelo Governo (decreto-lei).

• A lei em sentido material e formal.


A lei em sentido material é todo o acto normativo proveniente de um órgão estadual competente, ainda que
não esteja no exercício da função legislativa, abrangendo tal conceito as leis, decretos-leis, regulamentos,
portarias, decretos regulamentares, despachos normativos, etc.
A lei em sentido formal é aquela que se reveste das formas destinadas, por excelência, ao exercício da
função legislativa do Estado, como as leis constitucionais, as leis ordinárias e os decretos-leis.
Assim, se no primeiro sentido se vai atender à matéria contida no diploma (sentido material), no segundo
o que releva é o elemento formal do documento, ou seja, o modo como ele surge no ordenamento jurídico
(sentido formal).

• A Constituição, lei constitucional e lei ordinária


A Constituição é a designada Lei Fundamental, pois aí estão consagrados e protegidos os direitos, garantias
e deveres fundamentais do cidadão estabelecidas as regras de organização e funcionamento dos órgãos
estaduais superiores, nomeadamente os que exercem o poder legislativo. Com efeito, é a Constituição que
estabelece as regras para a criação dos demais actos do Estado, designadamente das leis, que, por sua vez,
não podem dispor contra a Constituição nem contra os princípios aí consagrados, sob pena de serem
declaradas inconstitucionais.
A lei constitucional, no ordenamento jurídico português, é a lei que visa alterar a Constituição — a chamada
Lei de revisão, não indicando a Constituição quaisquer outros actos normativos que exijam forma de lei
constitucional.
A lei ordinária é o diploma emanado por qualquer órgão estadual no exercício do poder legislativo.
As normas jurídicas contidas nas leis ordinárias que contrariem os preceitos da Constituição padecem do
vício de inconstitucionalidade, não podendo, por isso mesmo, ser aplicadas pelos tribunais ou outros órgãos
aplicadores do Direito.

1.3. A ELABORAÇÃO DE UMA LEI


As leis e os decretos legislativos presidenciais
Como já referimos, quando falámos em lei, esta pode assumir diferentes significados. Na verdade, há que
distinguir as leis dos decretos legislativos presidenciais, dado que a distinção entre estes diplomas assume
alguma importância, nomeadamente no que respeita ao processo da sua elaboração.
Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
9

Com efeito, a lei emerge do poder legislativo da Assembleia Nacional, órgão legislativo por excelência,
conforme consagra a Constituição da República de Angola nos seus artigos 160.º, 161.º, 164.º e 165.º
Por sua vez, os decretos legislativos presidenciais são emitidos pelo Presidente, enquanto titular do poder
legislativo. No entanto, a actividade legislativa do Presidente é urna actividade algo condicionada, senão
vejamos:
Quando se trata de matérias sujeitas a reserva relativa da Assembleia Nacional o Executivo necessita de
autorização legislativa daquela, só podendo legislar depois de obtido o diploma de autorização (lei de
autorização legislativa) e os decretos-leis estão subordinados, nestes casos, aos limites estabelecidos pelas
respectivas leis de autorização competência legislativa concorrente, mas dependente:
Em Portugal, fala-se ainda de competência legislativa concorrente dependente quando a Assembleia da
República reserva para si a fixação dos princípios ou das bases gerais dos regimes jurídicos, casos em que
o Governo pode, concorrentemente, criar decretos-leis sobre as mesmas matérias, embora dentro dos
quadros traçados pela Assembleia da República.
Quando se tratar de matérias respeitantes à própria organização e funcionamento do Executivo, este pode
legislar sem qualquer dependência da Assembleia Nacional — competência exclusiva.

• Processo de formação da lei


Tal como está previsto e formulado na Constituição da República de Angola o processo de elaboração de
uma lei consta de três fases:

• Iniciativa legislativa
• Discussão e Aprovação;
• Promulgação e Publicação.

a) Iniciativa legislativa
De acordo com a actual Constituição da República de Angola, a iniciativa legislativa cumpre aos
Deputados, aos grupos parlamentares e ao Presidente da República através de projectos de lei e propostas
de lei (cfr. artigo 167., n.ºs 1 e 3 da Constituição da República de Angola).
b) Discussão e Aprovação
De acordo com a Constituição os projectos ou propostas de lei, acompanhados dos respectivos relatórios
explicativos, são remetidos por escrito ao Presidente da Assembleia Nacional, que, por sua vez, os envia à
competente Comissão parlamentar, para efeitos de parecer. Obtido aquele parecer, os projectos são
incluídos na ordem do dia da reunião plenária seguinte, para discussão e, eventualmente, alteração.
Sendo entregue o projecto ou proposta de lei na Assembleia Nacional e este aceite e inscrito na ordem do
dia do Parlamento, será submetido a discussão na Assembleia onde existirá um debate na generalidade e
outro na especialidade.
A votação das propostas ou projectos de lei compreenderá uma na generalidade ou em primeira leitura,
seguindo-se o debate e votação na especialidade ou segunda leitura, e uma final global.
Os projectos de leis de bases, de leis e de resoluções são aprovados por maioria absoluta dos votos dos
Deputados presentes, desde que superior a mais de metade dos Deputados em efectividade de funções (cfr.
artigo 169.3 n.º 3 da Constituição da República de Angola).

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
10

No entanto, tratando-se de projectos de leis de revisão constitucional e propostas de referendo, atenta a


importância de tais actos, já se exige para a sua aprovação uma maioria qualificada de dois terços dos
Deputados em efectividade de funções (cfr. artigo 169.º, n.º 1 da Constituição da República de Angola).
Paralelamente ao processo legislativo ordinário, há ainda o processo de urgência que se encontra previsto
no artigo 173.º da Constituição da República de Angola, pelo qual a requerimento do Presidente da
República, de dez deputados em efectividade de funções, de qualquer Grupo Parlamentar e das Comissões
de Trabalho Especializadas, pode ser solicitada à Assembleia Nacional a urgência na discussão de qualquer
projecto ou proposta de lei ou de resolução.
A Assembleia Nacional pode, a requerimento de dez deputados ou de qualquer grupo parlamentar, declarar
a urgência na discussão de qualquer assunto de interesse nacional e de resolução urgente. Compete ao
Presidente da Assembleia Nacional decidir do pedido de urgência de agendamento, sem prejuízo de recurso
para o Plenário para deliberar sobre a urgência requerida.

c) Promulgação e Publicação
A Promulgação é o acto através do qual o Presidente da República declara que um determinado diploma,
elaborado por um órgão constitucionalmente passa a valer como lei.
O Presidente da República, através da promulgação, exerce o controlo jurídico formal e material dos actos
praticados no exercício do poder legislativo. Na verdade, o Presidente da República está obrigado a cumprir
e a defender a Constituição, como tal, quando os actos legislativos lhe são enviados para promulgação,
deve, por um lado, controlar a regularidade formal do processo e, por outro, averiguar se esses actos estão
de acordo com os preceitos constitucionais.
Em virtude dos seus poderes de controlo, o Presidente da República pode, pois, não promulgar uma lei, se
considerar que essa medida legislativa é inconstitucional.
Com efeito, sem a promulgação, as leis não têm qualquer valor, sendo mesmo consideradas como
inexistentes. O presidente da República pode solicitar à Assembleia Nacional uma nova apreciação do
diploma ou de alguma das suas normas (cfr. artigo 124.º, n.º 2 da Constituição da República de Angola).

Se depois desta reapreciação a maioria de dois terços dos Deputados à Assembleia Nacional se O direito
de pronunciar no sentido da aprovação do diploma, o Presidente da República deve promulgar o diploma
no prazo de quinze dias a contar da sua recepção. Antes do decurso dos prazos aqui referidos o Presidente
da República pode pedir ao Tribunal Constitucional a apreciação da constitucionalidade das leis da
Assembleia Nacional.
O Presidente da República não pode recusar a promulgação da lei de revisão constitucional, sem prejuízo
de poder requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação preventiva da constitucionalidade de tais leis.
As leis só se tornam obrigatórias depois da sua publicação no Diário da República, começando a vigorar a
partir da data expressamente prevista nestes diplomas. Na falta de fixação desta data, o diploma entra em
vigor de acordo com os termos fixados em legislação especial.
Para completares o teu estudo sobre o processo legislativo analisa o seguinte quadro.

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
11

Decretos Legislativos presidenciais


O Presidente da República, no exercício das suas competências, entre outros actos, emite decretos
legislativos presidenciais, decretos legislativos presidenciais autorizadas e decretos legislativos
presidenciais provisórias, que são publicados no Diário da República.
Revestem a forma de decreto legislativo presidencial os actos do Presidente da República que visem definir
a orgânica e estabelecer a composição do Poder Executivo (cfr. artigo 125.º, n.º 2 da Constituição da
República de Angola).
O Presidente da República como titular do Poder Executivo, no uso da respectiva autorização legislativa
que lhe for concedida pela Assembleia Nacional nos estritos termos definidos pelo artigo 170º da
Constituição, poderá editar decretos legislativos presidenciais autorizadas sobre as matérias previstas no
artigo 165.º da Constituição da República de Angola.
O Presidente pode editar decretos legislativos presidenciais provisórias sempre que, razões de urgência e
relevância, tal fornecida se mostre necessária à defesa do interesse público, devendo assim submeter tais
decretos à Assembleia Nacional para que esta os converta em lei, com ou sem alterações, ou os rejeite.
Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
12

Estes decretos legislativos presidenciais provisórias têm força de lei, contudo, nunca poderão ser aprovados
tais actos nas matérias de reserva legislativa absoluta da Assembleia Nacional e Orçamento Geral do
Estado, ou em matérias em relação às quais incidem leis aprovadas pela Assembleia Nacional, mas que
ainda aguardam promulgação (cfr. artigo 126.º da Constituição da República de Angola).
Os decretos legislativos presidenciais provisórias são editadas por períodos de sessenta dias, contados a
partir do momento da sua publicação cm Diário da República, findos os quais perderão a sua eficácia, salvo
se forem convertidos em lei pela Assembleia Nacional ou vejam a sua eficácia prorrogada por igual período
de tempo quando a Assembleia Nacional não tenha concluído a sua apreciação durante os primeiros sessenta
dias (cfr. artigo 126.º da Constituição da República de Angola).
O processo de apreciação parlamentar goza de prioridade e caduca se, requerida a apreciação, a Assembleia
Nacional não se tiver sobre ela pronunciado ou, tendo deliberado introduzir emendas, não tiver votado a
respectiva lei até ao termo da sessão legislativa em curso, desde que decorridas cinco sessões plenárias (cfr.
artigos 171.º, n.º 6 e 172% n.º 5, ambos da Constituição da República de Angola).
O Presidente da República deve remeter à Assembleia Nacional os decretos legislativos presidenciais
provisórias no prazo de dez dias contados a partir da sua publicação em Diário da República. Na
eventualidade de não ter sido efectuada tal remissão, apreciação parlamentar far-se-á por requerimento de
pelo menos, dez deputados.
Os decretos legislativos presidenciais provisórias que tenham sido rejeitados pela Assembleia Nacional ou
que tenham perdido a sua eficácia pelo decurso de tempo não poderão ser reeditados e publicados na mesma
sessão legislativa (cfr. artigos 126.º, n.º 8 e 172.º, n.º 4, ambos da Constituição da República de Angola).

d) Início e termo de vigência e Publicação.


No que respeita à publicação, não nos parece necessário acrescentar algo mais ao que já foi referido no
ponto anterior, quando se abordou o processo de elaboração das leis e os decretos legislativos presidenciais.
No entanto, entendemos ser oportuno indicar quais as normas legais que se referem à publicação.
Nos termos do artigo 125.º da Constituição da República de Angola, o Presidente da República, no exercício
das suas competências, emite decretos legislativos presidenciais e despachos presidenciais que têm de ser
publicados no Diário da República. Ora, como exemplo desses despachos temos todos os actos
administrativos do Presidente.
Na Constituição da República de Angola refere-se expressamente no seu artigo 119.º, a]. v) que cabe ao
Presidente da República, no âmbito das suas competências como Chefe de Estado, mandar publicar a
Constituição, as leis de revisão constitucional e as leis da Assembleia Nacional.
e) Vacatio legis
O período de tempo que decorre entre a data da publicação e a data da entrada da lei em vigor designa-se
de "Vacatio legis". É um período de tempo em que o diploma legal está em "descanso", em "férias", pois
juridicamente já existe, mas não surte qualquer efeito, por ainda não estar em vigor.
Este período de tempo serve para que os destinatários da lei — os cidadãos — tomem conhecimento da
existência do diploma e das condições da sua aplicação.
O período de Vacatio legis pode ser maior ou menor, consoante a lei em causa, podendo mesmo, caso assim
o determine o legislador, a lei entrar imediatamente em vigor após a sua publicação, não existindo qualquer
Vacatio legis.
Quando o legislador no próprio diploma nada refere quanto à data da sua entrada em vigor, segue-se o
estabelecido em legislação especial sobre o começo da vigência da lei, ou seja, o diploma legal entrará em
Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
13

vigor no quarto, décimo quinto ou trigésimo dia após a sua publicação, conforme se trate da província de
Luanda, restantes províncias ou estrangeiro, respectiva- mente. Este sistema é muito semelhante ao que
vigora em Portugal estabelecido no Decreto-Lei n.º 74/98, de 11 de Novembro.

• A Caducidade e Revogação da lei


Os modos de cessação da vigência de uma lei estão previstos no artigo 7. do Código Civil e consistem na
caducidade e na revogação da lei.
1 — Podemos falar de caducidade da lei quando:
8; estamos perante uma lei temporária' e é o próprio diploma legal que determina a data em que a mesma
deixará de vigorar. Assim, quando chegar aquela data, a lei caduca.
Estamos perante uma lei temporária que determina a sua vigência até data em que será revista por outro
diploma legal. Deste modo, quando entrar em vigor esse novo diploma, essa a Iei deixará de vigorar.
Contudo, se chegado o prazo fixado, a nova lei ainda não existir. Mantém -se vigor a lei que deveria ter
sido revista, pois o facto que determina a Sua caducidade ainda não se verificou. Estamos perante uma lei
que se destina a regular uma determinada realidade e esta, definitivamente, deixa de existir, tornando inútil
a lei então existente.
Por exemplo, não haveria qualquer necessidade de manter em vigor uma lei que, eventualmente, protegesse
os dinossauros, pois eles já não existem há milhões de anos.
2 —A revogação da lei pressupõe a entrada em vigor de uma nova lei em substituição da lei já existente.
Neste caso pode tratar-se de:

• Revogação expressa, se a nova lei diz expressamente que a lei existente está revogada.
• Revogação tácita, se existir incompatibilidade entre as disposições novas e as disposições antigas
ou se a nova lei vier regular toda a matéria da lei Revogação total (ab-rogação), se a nova lei vern
substituir, por completo, a lei anterior.
• Revogação parcial (derrogação), se a nova lei só vem alterar alguns normativos da lei anterior.

1.4. A HIERARQUIA DAS LEIS

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
14

De acordo.com o que analisámos, vimos que existem diferentes tipos de órgãos estaduais que emanam, no
exercício do seu poder legislativo, diferentes tipos de actos, ou seja, leis, decretos legislativos presidenciais
ou regulamentos.
Assim, importa saber se existe alguma hierarquia entre os diversos actos legislativos, pois, face a um
conflito entre dois actos, necessário é saber qual deles prevalece. Ora, como veremos, a lei de grau inferior
não poderá dispor contra norma de uma lei de grau superior.
Vejamos, pois, qual a hierarquia das leis. Em primeiro lugar, no topo da hierarquia temos a Constituição da
República de Angola, a lei fundamental, que, para além de fixar os grandes princípios de ordem política,
social e eco- nómica, estabelece o regime jurídico de produção e modificação das normas jurídicas. Por isso
mesmo, é também designada por lei primária. Aliás, neste mesmo sentido proclama o artigo 6.º, n.º 1 da
Constituição da República de Angola quando refere que a Constituição é a lei suprema. Ao lado da lei
fundamental estão, ainda, as chamadas leis constitucionais ou leis de revisão.
Os Tratados Internacionais surgem na pirâmide hierárquica logo após a Constituição e as leis
constitucionais. Na verdade, de acordo com o artigo 3.º da Constituição da República de Angola, o Direito
internacional geral ou comum, as normas constantes de convenções internacionais regularmente ratificadas
ou aprovadas, bem como as normas emanadas dos órgãos competentes das organizações internacionais de
que Angola seja membro fazem parte integrante do direito angolano, cujas leis ordinárias de direito interno
não podem contrariar. No último caso, a recepção automática da norma emanada tem de estar estabelecida
nos respectivos tratados constitutivos:
Em terceiro lugar surgem os actos normativos, designadamente, as leis e os decretos legislativos
presidenciais.
As leis e os decretos legislativos presidenciais terão igual valor, contudo, não podemos esquecer que as leis
terão valor reforçado, porquanto existem as leis de autorização legislativa que determinam os limites do
objecto, o sentido e a extensão do decreto legislativo proferido pelo Presidente da República enquanto
titular do poder executivo no âmbito da autorização legislativa.
Em quarto lugar estão os actos de administração onde se incluem os regulamentos e actos administrativos,
nomeadamente decretos regulamentares, portarias, despachos, instruções, circulares, regulamentos
policiais, regulamentos e posturas locais.
Existem diversos princípios subjacentes à hierarquia das leis, que são os
seguintes:

• As leis especiais prevalecem sobre as leis gerais.


• A lei de grau inferior não pode dispor contra norma de uma lei de grau superior.
• A hierarquia das leis respeita a hierarquia dos órgãos de que são ema- nadas.
Os actos legislativos dos órgãos de administração nacional prevalecem sobre os actos legislativos dos
órgãos de administração local, e ambos sobre as leis dos órgãos corporativos.
Assim, a hierarquia das leis tem a seguinte configuração:

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
15

1.5. A INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DAS LACUNAS DA LEI


• A interpretação da lei
A lei, por si só, não tem qualquer utilidade se não houver quem a aplique. Contudo, antes da aplicação, a
lei tem de ser interpretada e, somente a partir daí, é que poderá ser bem ou mal aplicada, dependendo sempre
do sentido fixado pela interpretação da norma.
A interpretação da lei consiste na operação técnico-jurídica que visa determinar qual o conteúdo e alcance
das normas jurídicas. Com efeito, a interpretação é uma operação fundamental na vida da norma jurídica.
Não podemos esquecer que o intérprete da norma pode ser qualquer pessoa e não só o juiz, o advogado ou
o solicitador. Por isso, as normas jurídicas devem ser as mais claras possíveis, de modo a não existirem
dúvidas na sua interpretação e posterior aplicação.

Segundo artigo 9º da Código Civil a interpretação da lei


1. A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos o pensamento
legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as circunstâncias em que a lei foi
elaborada e as condições especificas do tempo em que é aplicada.
2. Não pode, porém, ser considerado pelo intérprete o pensamento legislativo que não tenha na letra da lei
um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeita- mente expresso.
3. Na fixação do sentido e alcance da lei, o intérprete presumirá que o legislador consagrou as soluções
mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termos adequados.
Assim, constatamos que a interpretação passa, essencialmente, por duas fases distintas, primeiro pela
interpretação literal, onde o intérprete vai simplesmente apreender o sentido literal e gramatical ou textual
da lei e, numa segunda fase, pela interpretação lógica, onde o intérprete vai retirar, a partir do texto legal e
recorrendo a elementos extraliterárias, o pensamento do legislador, de forma a apreender o motivo que
justificou a existência da lei.

• Os elementos da interpretação
Elemento literal — aqui, atende-se, primordialmente, à letra da lei, ao sen- tido das palavras que a
compõem, na sua conjugação sintáctica indicada ela colocação e pelos termos de ligação.
Elemento lógico — de acordo com este elemento deve recorrer-se, fundamentalmente, a todas as
potencialidades que se destacam do texto legal, de forma a determinar qual é a razão justificativa da lei.
Deve, pois, determinar-se qual é a finalidade que o legislador prossegue — o espírito da lei.
Elemento sistemático — a ordem jurídica está sistematizada, por isso mesmo, quando se interpreta uma
norma, deve ter-se em conta o sistema onde a norma está inserida, pois ela faz parte de uma unidade
composta por elementos coordenados e homogéneos entre si.
Elemento histórico — na interpretação da lei deve atender-se ao contexto histórico em que foi criada,
nomeadamente através da análise dos trabalhos preparatórios e projectos-leis que estiveram na sua origem.

• Os diferentes tipos de interpretação


• A interpretação da lei segundo a sua fonte e valor
• Interpretação autêntica — se uma determinada lei suscitar dúvidas na sua interpretação, o órgão que a
criou poderá elaborar uma nova lei que fixe o sentido da primeira, são as chamadas leis interpretativas.
Estas leis, tal como refere o artigo 13.0 do Código Civil, integram-se na lei interpretada. De facto, não

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
16

existe uma nova lei, uma nova vontade do legislador ou uma nova norma, mas, pura e simplesmente, fixa-
se o sentido de uma lei que já existe — a lei interpretada.
Se há autores que consideram que só se pode falar de interpretação autêntica quando a norma interpretativa
provém do mesmo órgão legislativo que produziu a norma interpretada, a corrente maioritária entende que
para haver interpretação autêntica basta que a norma interpretativa não seja de valor hierárquico inferior ao
da norma interpretada. Assim, por exemplo, estamos perante uma interpretação autêntica quando um
decreto legislativo do Presidente é interpretado por uma lei da Assembleia Nacional, não sendo necessário
que seja o Presidente da República o autor da norma interpretativa.
o Interpretação doutrinal — é a interpretação efectuada, designadamente, pelos tribunais, advogados ou
pelo executor de qualquer acto administrativo. Deste modo, não deve a expressão "doutrinal" ser entendida
como se a interpretação estivesse a cargo, única e exclusivamente, da doutrina.
O que aqui importa destacar é que este tipo de interpretação vincula apenas a posição assumida face a um
determinado caso concreto, enquadra a interpretação autêntica vincula todos os cidadãos que se encontrem
na mesma situação.

• A interpretação da lei segundo a sua finalidade:


• Interpretação subjectivista — por esta via o intérprete procura reconstituir o pensamento concreto do
legislador.
• Interpretação objectivista — de acordo com esta interpretação procura-se determinar o sentido da lei,
abstraindo-se da pessoa ou pessoas que a fizeram.
• Interpretação histórica — pretende-se reconstruir o sentido que a lei tinha aquando da sua elaboração e
entrada em vigor.
• Interpretação actualista — procura-se determinar o sentido da lei atendendo somente ao momento da sua
aplicação.

• A interpretação da lei segundo o resultado:


• Interpretação declarativa — o intérprete considera que o sentido da lei está conforme o seu texto.
• Interpretação extensiva — o intérprete faz uma interpretação da norma de modo a corrigir a
desconformidade existente entre a letra da lei e o pensamento do legislador, pois entende-se que este
expressou na lei menos do que aquilo que pretendia, não abarcando todas as situações que queria disciplinar.
• Interpretação restritiva — interpretação que visa corrigir a desconformidade existente entre a letra da lei
e o pensamento do legislador, quando se entende que no texto legal o legislador usou uma formulação
demasiado ampla, indo para além do que na realidade pretendia.
• Interpretação enunciativa — quando o intérprete, por via da racionalização e dedução jurídica, retira da
norma interpretada todas as suas consequências.
• Interpretação ab-rogante — o intérprete, apesar da presunção de que o legislador consagrou as soluções
mais acertadas e soube exprimir perfeitamente o seu pensamento, conclui que determinada norma não tem
qualquer efeito útil, designadamente por esta ser incompatível com outra norma jurídica, não havendo
forma de as articular ou conciliar.

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
17

1.6. A INTEGRAÇÃO DAS LACUNAS DA LEI


A integração das lacunas e a interpretação da lei
Quando analisámos a questão relativa à interpretação da lei, vimos que competia ao intérprete encontrar,
dentro do ordenamento jurídico, a regra jurídica aplicável a determinada situação — interpretação em
sentido amplo. Assim, o intérprete terá de passar em revista as fontes do direito até chegar a uma de duas
conclusões — existe a norma jurídica aplicável à situação, ou não existe qualquer regra que, directamente,
contemple o caso. Se existe a norma, o intérprete fixa a fonte que contém a norma e interpreta-a, aplicando-
a ao caso em concreto — interpretação em sentido restrito. Se não existe qualquer regra aplicável ao caso,
já não estamos perante uma questão de interpretação, mas, isso sim, perante uma questão de integração de
lacunas da lei.
Em qualquer dos casos, o intérprete necessita de, previamente, interpretar a lei para poder determinar se há
ou não há norma jurídica aplicável (interpretação o em sentido amplo). Quando o intérprete, com base numa
norma existente, procura fixar o sen- tido desta, de forma a possibilitar a sua melhor aplicação, estamos já
na interpretação em sentido restrito.
Na integração, não há por natureza uma norma em que o intérprete se possa apoiar, e, todavia, há uma
situação que reclama uma solução jurídica. Diz-se, então, que há uma lacuna da lei. Nestes casos,
pressupõe-se que o jurista conhece as fontes vigentes e procura, por processos admitidos pelo ordenamento
jurídico, a maneira de resolver a situação.
Na verdade, o juiz, apesar do silêncio da lei, não se pode abster de decidir uma questão, ou seja, de julgar.

1.7. MEIOS DE CONTROLO DA LEGALIDADE


Os Estados modernos estão sujeitos à lei. Todos ouvimos diariamente falar em Estado de Direito ou de
Estado Democrático de Direito (como é a República de Angola, conforme artigo 2.º n.º 1, da Constituição).
Os órgãos públicos constituem-se e funcionam, mesmo os de grau mais elevado, segundo regras
preestabelecidas, que estão, desde logo, na Constituição, lei fundamental de um Estado. Ao Estado cabem
tarefas fundamentais como participar na definição da Ordem Jurídica e assegurar a sua aplicação efectiva,
através dos seus órgãos:
Administração Pública: a quem compete o exercício da tutela administrativa; e Tribunais: a quem compete
o exercício da justiça, ou seja, a tutela judiciária. Trata-se de órgãos de soberania que administram a justiça
"em nome do povo".
A Administração Pública existe para prosseguir o interesse público; mas ela não pode fazê-lo de qualquer
maneira e muito menos de maneira arbitrária, estando sujeita a certas regras e princípios. Aliás, o princípio
da prossecução do interesse público (ver artigo 198.º da Constituição da República de
Angola) é uma primeira manifestação de um outro princípio que norteia toda a actuação da Administração:
o princípio da legalidade, que veremos a seguir.
A Administração Pública visa, pois, a prossecução do interesse público, no respeito pelos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos, e, por- tanto, em obediência à lei e no respeito pelos
particulares (cfr. artigo 198.º da Constituição da República de Angola). Esta submissão ao Direito significa
uma submissão a princípios gerais de direito, à Constituição, a normas internacionais, etc. Ou seja, a
actuação da Administração Pública deve (e tem de) nortear-se por certos critérios cujo desrespeito gera
ilegalidades. Esses critérios são, precisamente, os limites intrínsecos do poder discricionário da
Administração Pública e constituem o corolário deste princípio da legalidade, destacando-se os princípios
da igualdade, da justiça e da proporcionalidade (cfr. n.º1 do referido artigo 198.º).

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
18

Assim, enquanto que a tutela administrativa é o meio por excelência de garantia dos direitos do Estado, ao
invés, a tutela judiciária prosseguida pelos Tribunais é o meio normal de tutela dos interesses dos
particulares, exercendo-se nas relações entre os particulares e nas relações entre estes e o Estado.
Ou seja, os particulares estão protegidos contra a violação dos seus direitos e interesses legalmente
defendidos, quer por parte de outros particulares, quer por parte do Estado.
A principal garantia dos particulares funda-se, pois, no chamado princípio da legalidade da Administração
Pública, que se traduz na total submissão da Administração à lei. E para que não haja atropelos à lei, e,
portanto, violação deste princípio, há que fiscalizar e controlar a actuação da Administração. De entre os
vários meios de controlo da legalidade, podemos destacar os seguintes:
O Tribunal Constitucional (artigo 180.º da Constituição);
Os Tribunais (artigo 176. da Constituição);
O Ministério Público (artigo 185.º ss da Constituição);
O Provedor de Justiça (artigo 192.º da Constituição);
O Tribunal de Contas (artigo 182.º da Constituição);
O Presidente da República (artigo 199 ss da Constituição);
O Assembleia Nacional (artigo 162.º alínea a) da Constituição).
Por exemplo, ao Presidente da República, enquanto Chefe de Estado (cfr. artigo 108.º), compete promover
junto do Tribunal Constitucional a fiscalização preventiva e sucessiva da constitucionalidade (ver infro) —
artigo 119.º, alínea c). Também a Assembleia Nacional, no domínio do controlo e de fiscalização que lhe
compete, deve velar pela aplicação da Constituição e pela boa execução das leis (artigo 162.º, alínea a) da
Constituição). Como se pode constatar pela diversidade de meios existentes, o controlo da legalidade é
uma preocupação global do sistema, do tal Estado de Direito, onde assume especial destaque o papel dos
tribunais e do Provedor de Justiça, por exemplo.
Sabemos, assim, que o controlo da legalidade não é, apenas, a fiscalização da constitucionalidade, apesar
de este ser o único aspecto que iremos abordar.

1.8. PROBLEMA DA INCONSTITUCIONALIDADE


Conceito: A constituição
O Estado consubstancia-se numa "unidade de sentido" que traduz uma certa ideia de organização política,
social e económica; é precisamente nesta ideia que se reflecte o modo como cada Estado está constituído e
organizado.
Esta organização do Estado encontra uma tradução normativa expressa num documento jurídico dotado de
particular formalismo e solenidade, nele se estabelecendo os princípios e regras basilares da ordem jurídica
— a Constituição. No constitucionalismo moderno, a constituição aparece como ordenação sistemática e
racional da comunidade. Ela é a lei fundamental de um Estado, nela se estabelecendo os princípios e regras
fundamentais da ordem jurídica.
Por isso, não é de admirar que a fiscalização do seu cumprimento seja vital nos Estados modernos. Como
diz o artigo 6.º, n.º 1 da Constituição da República de Angola, "a Constituição é a lei suprema da República
de Angola".
"(...) é a ordenação jurídica fundamental de uma comunidade política que delimita essa comunidade e lhe
fixa o sentido essencial. Constituição é um instrumento de limitação e, consequentemente, de racionalização
do poder político.
Daí a necessidade de cumprir e respeitar o disposto nas leis constitucionais. Como se pode, desde logo,
constatar no Título VII da Constituição da República de Angola.

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
19

Ora, a inconstitucionalidade consiste, precisamente, no não cumprimento da Constituição, por acto ou


omissão, por parte dos órgãos do poder político (de acordo com o artigo 4.º, o poder político é exercido nos
termos da Constituição e da lei).
O problema da inconstitucionalidade é, pois, uma consequência lógica e necessária do princípio da
hierarquia das normas jurídicas, sendo a Constituição o topo dessa hierarquia2 e o garante da harmonia e
da justiça do sistema.
Como expressa o artigo 226.º, n. º1, da Constituição, "a validade das leis e dos demais actos do Estado, da
administração pública e do poder local depende da sua conformidade com a Constituição".
Tipos de inconstitucionalidade
Nestes termos, "são inconstitucionais as leis e os actos que violem os princípios e normas consagrados" na
Constituição (cfr. artigo 226.º, n.º 2). Conforme referimos, o incumprimento da Constituição pode verificar-
se por acção ou por omissão, sendo estes os dois tipos principais de inconstitucionalidade.
Inconstitucionalidade por acção Inconstitucionalidade por omissão
A inconstitucionalidade por acção, também designada por inconstitucionalidade positiva, traduz-se na
produção pelo poder político de uma norma violadora da Constituição, isto é, contrária às normas e regras
constitucionais.
Art. 226º 5Constitucionalidade
1. A validade das leis e dos demais actos do Estado, da administração pública e do poder local depende
da sua conformidade com a Constituição.
2. São inconstitucionais as leis e os actos que violem os princípios e normas consagrados na presente
Constituição
A inconstitucionalidade por omissão, conhecida igualmente por inconstitucionalidade negativa, consiste na
violação da Constituição por falta de norma, ou seja, resulta do silêncio ou da inercia de um órgão político,
o qual deixa de praticar em certos tempos um determinado acto exigido pela constituição. Estes são os dois
tipos essenciais de inconstitucionalidade.
No entanto, a inconstitucionalidade por acção pode assumir várias modalidades, a saber:
Inconstitucionalidade Material: traduz-se na contradição entre o conteúdo de um acto do poder político
(uma norma legal) e os comandos da Constituição. Reporta-se ao conteúdo do acto jurídico.
Inconstitucionalidade Formal: refere-se ao processo de formação de uma norma e consiste na prática de um
acto do poder político em desrespeito dos trâmites impostos pela Constituição para a elaboração das normas.
Reporta-se, portanto, à forma do acto jurídico.
A inconstitucionalidade orgânica: refere-se à origem da norma e consiste na emanação de um acto do poder
político por órgão que não tinha poderes para sua pratica, de acordo com os ditames constitucionais.

1.9. FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE


São passíveis de fiscalização da constitucionalidade todos os actos que consubstanciem violações de
princípios e normas constitucionais, conforme determina o artigo 227.º da Constituição.

5
Da constituição da República de Angola
Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
20

A fiscalização e controlo do cumprimento da Constituição é fundamental num Estado de Direito e é uma


tarefa que pode ser levada a cabo por dois tipos de órgãos: órgãos políticos; e órgãos jurisdicionais.
A fiscalização pode, assim, ser jurisdicional ou política, consoante seja efectuada por órgãos jurisdicionais
ou políticos, os quais têm formas próprias de agir e critérios bem diferenciados.
No nosso sistema jurídico, a fiscalização da constitucionalidade cabe essencialmente aos órgãos
jurisdicionais. Porém, a Assembleia Nacional (veja-se o artigo 162.º, alínea a), da Constituição da
República de Angola) tem também competência genérica para vigiar o cumprimento da Constituição.
Mas, de facto, é essencialmente aos tribunais que compete o poder — e trata-se de um poder-dever, já que
esse poder constitui uma verdadeira obrigação — de apreciar a inconstitucionalidade, de recusar a aplicação
de normas inconstitucionais e de destruir todos os efeitos que estas eventualmente tenham produzido,
conforme o disposto no artigo 177.º da Constituição.
Evidentemente que é ao Tribunal Constitucionalidade que cabe papel mais importante de fiscalização da
inconstitucionalidade, cabendo-lhe em exclusivo a declaração de inconstitucionalidade de quaisquer
normas (cfr. artigo 180.nº 2, alínea a), da Constituição da República da Angola). Ou seja, os tribunais
(judiciais) não podem aplicar normas que julguem inconstitucionais, mas a declaração dessa
inconstitucionalidade cabe em exclusivo ao Tribunal Constitucional, pois é a ele que compete, em geral,
administrar a justiça em matérias de natureza jurídico-constitucional (cír. artigo 180.0, n.0 1 da
Constituição).

• Distinção entre fiscalização preventiva, concreta e abstracta da constitucionalidade


Devemos distinguir três modalidades de fiscalização:
-Fiscalização preventiva da constitucionalidade: está consagrada no artigo 228.º da Constituição e consiste
no controlo solicitado por certas entidades ao Tribunal Constitucional antes da promulgação, ratificação ou
assinatura de qualquer diploma legal.
* Fiscalização concreta da constitucionalidade: estava prevista no artigo 325.º do Projecto de Constituição
e refere-se aos recursos para o tribunal Constitucional das decisões dos tribunais que recusem a aplicação
de qualquer norma com fundamento na sua inconstitucionalidade ou que a aplica.
É, portanto, uma fiscalização de inconstitucionalidade invocada num caso concreto a correr termos num
qualquer tribunal. Porém, a Constituição da República de Angola acabou por não a consagrar
expressamente, ao invés do que acontece em Portugal, embora seja competência do Tribunal Constitucional
apreciar em recurso a constitucionalidade das decisões dos demais tribunais (ver artigo 180.º, nº 2, alíneas
d) e e) da Constituição).
* Fiscalização abstracta da constitucionalidade: está consagrada no artigo 230.º da Constituição e consiste
na apreciação pelo Tribunal Constitucional da inconstitucionalidade de uma norma já em vigor, tendo a sua
declaração (de inconstitucionalidade ou de ilegalidade) força obrigatória geral.

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
21

1.10. Norma Jurídica e a Ordem jurídica


A norma jurídica é o elemento de base do direito e, portanto, a célula de cada ordenamento jurídico. É um
imperativo de conduta, que coage os sujeitos a se comportarem da forma por ela esperada e desejada.
A compreensão da norma jurídica somente é possível a partir da noção de ordenamento jurídico, isto porque
a eficácia da norma e a institucionalização da sanção dependem da pré-existência de um ordenamento
jurídico.
Não existe nenhuma norma juridicamente válida sem a existência de um ordenamento jurídico
correspondente, apesar de ser possível a discussão acerca da possibilidade de a norma jurídica ser ou não
ser justa ou eficaz independente da sua validade.
Espécies de norma jurídica
O mundo normativo é variado e múltiplo, podemos destacar oito critérios de classificação sobre a norma
jurídica:
Quanto ao destinatário.
O destinatário geral da norma jurídica é o homem, todavia é possível que a norma jurídica pode-se dirigir
também a outras normas jurídicas. É possível destacar, a partir deste critério, o alcance da norma jurídica.
Assim, as normas jurídicas podem abranger grupos muito amplos ou determinados indivíduos ou situações
especificas.
Quanto ao modo de enunciação.
As normas jurídicas podem ser escritas, orais ou mesma expressas de modo não verbal (p. ex., semáforo).
Quanto à finalidade.
A norma jurídica pode ser proibitiva, permissiva (porque proíbe outros) ou preceptiva, tendo em vista a
descrição de uma conduta ou um comportamento.
Todavia, a norma jurídica também pode dirigir-se apenas a directrizes, intenções e objectivos. É o caso das
normas jurídicas programáticas.
Quanto ao espaço.
As normas jurídicas podem incidir em variados espaços e respeitar determinados limites espaciais de
incidência.
As normas jurídicas podem ser internacionais, nacionais ou mesmo respeitar os limites dos Estados da
Federação ou dos Municípios.
Quanto ao tempo.
As normas podem variar conforme o momento de vigência.
As normas jurídicas podem ser validas permanentemente, provisoriamente ou temporariamente.
A permanência diz respeito ao tempo de cessação da vigência e não ao tempo de início. Isto é, uma norma
é permanente mesmo que o prazo inicial seja posposto à promulgação – vacatio legis.
Nesse último caso, a norma jurídica pode possuir incidência imediata e incidência mediata.
Quanto às consequências.
As normas jurídicas podem ser divididas em normas de conduta e normas de sanção tendo em vista as suas
consequências.
Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
22

As normas de conduta, pelo critério de finalidade, podem exprimir uma obrigação, proibição ou permissão.
As normas de sanção indicam consequências do descumprimento da norma de conduta.
Quanto à estrutura.
As normas jurídicas podem ser normas autónomas e normas dependentes.
As normas jurídicas autónomas são as que tem por si um sentido completo, isto é esgotam a disciplina que
estatuem. É o caso de uma norma que revoga a outra.
As normas jurídicas dependentes exigem combinação com outras normas jurídicas, em relação à estrutura.
São dependentes porque estatui o comportamento e, por isso, se liga a outra, que lhe confere sanção.
Quanto à subordinação.
As normas jurídicas podem ser normas-origem e normas-derivadas. Normas-origem são as primeiras de
uma série.

Elementos do conceito da norma jurídica


Toda a norma jurídica compõe-se num suporte fático e numa correlata consequência jurídica realçando-se
os elementos:
Imperatividade, pois que o seu comportamento é obrigatório, ficando os destinatários sujeitos a sanções se
as não cumprirem;
A generalidade, já que se destinam a ser aplicadas a toda uma categoria de destinatários, não determinados
concreta e individualmente (ainda que, por exemplo, refiram-se ao Presidente da República, pois neste caso
se dirigem à instituição e não à pessoa que assume essas funções);
A abstracção, pois fixam a conduta a adoptar em situações de fato abstractas; "haverá lugar a…" ou
"designar-se-á…";

1.11. Noção de Relação Jurídica

Os fatos e, mais especificamente, os atos humanos, podem se apresentar como relações jurídicas.
Um dos elementos essenciais da experiência jurídica é representado pela relação jurídica, cujo conceito é
fundamental na Ciência do Direito, tendo sido estabelecido, de maneira mais clara, por F. C. Savigny, no
decorrer do século passado.
Muito embora o conceito de “Relação Jurídica” não desempenhe, hoje em dia, o mesmo papel que
lhe foi conferido até bem pouco tempo, dado o reconhecimento de outras categorias jurídicas não menos
relevantes, não deixa de ser um tema básico da Teoria Geral do Direito.
Devemos entender pela expressão “Relação Jurídica” que, em primeiro lugar, trata-se de uma
espécie de relação social. Os homens, visando à obtenção de fins diversos e múltiplos, entram em contato
uns com os outros. Há uma infinidade de laços prendendo os homens entre si, mas nem todos são de
natureza jurídica. A rigor, ninguém se relaciona na sociedade visando a fins estritamente jurídicos. São fins
morais, religiosos, económicos, estéticos, artísticos, utilitários que determinam a conduta humana.
Ora, se o homem, na sociedade, não objectiva a fins estritamente jurídicos, mas, ao contrário, fins
múltiplos, devemos reconhecer que nem todas as relações são jurídicas, embora possam, às vezes, reunir
duas ou mais pessoas através de vínculos estáveis e objectivos.
Quais das relações sociais devem ser tidas como jurídicas?

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
23

Podemos dizer que há dois enfoques principais a considerar.


De acordo com a teoria tradicional, baseada numa concepção individualista do Direito, as relações
jurídicas seriam relações sociais postas por si mesmas, apenas reconhecidas pelo Estado, com a finalidade
de protegê-las.
Prevalece, hoje em dia, uma concepção operacional de Direito, não se atribuindo mais ao Estado a
mera função de reconhecer e amparar algo já estabelecido pelo livre jogo de interesses individuais.
Ao contrário, o Estado baseado, é claro, nos dados do processo social, instaura modelos jurídicos
que condicionam e orientam o constituir-se das relações jurídicas. Neste ponto, Miguel Reale discorda da
pretensão de Cossio, o qual reduz o Direito à conduta.
Quer, porém, se entenda que as relações jurídicas são reconhecidas pelo Estado, ou que surjam
também em virtude de acto constitutivo do Estado, o certo é que não há que falar em relação jurídica se não
houver um fato correspondente as normas de Direito, de conformidade com o seguinte princípio básico:
“Os fatos e as relações sociais só tem significado jurídico inseridos numa estrutura normativa”.
Quando uma relação de homem para homem se subsume ao modelo normativo instaurado pelo
legislador, essa realidade concreta é reconhecida como sendo relação jurídica.
Dois requisitos são, portanto, necessários para que haja uma relação jurídica. Em primeiro lugar,
uma relação intersubjectiva, ou seja, um vínculo entre duas ou mais pessoas. Em segundo lugar, que esse
vínculo corresponda a uma hipótese normativa, de tal maneira que derivem consequências obrigatórias ao
plano da experiência . Pode ocorrer um ato que envolver a relação de duas ou mais pessoas, sem que,
todavia, chegue a se caracterizar como fato jurídico, por inexistir norma adequada, explícita ou implícita.
No campo do Direito Civil e outros ramos do Direito, muitas vezes a qualificação jurídica das
relações se opera por analogia. No Direito Penal, entretanto, isso não é possível. Ou existe a norma própria,
específica para o caso, ou não se deverá considerar como relação jurídica penal a que está sendo apreciada.
Vejamos o exemplo que nos oferece Carlos Cóssio. Em Buenos Aires, um soldado precisava
chegar, a certa hora, a seu quartel, e não encontrando condução disponível, num ato de desespero, por
pensar na punição que ia sofrer, apossou-se de um automóvel abandonado, seguindo a toda velocidade para
caserna. Lá chegando, já havia sido dado o alarma e, por isso, foi preso.
Eis aí um fato, uma porção de experiência humana na qual estão indirectamente envolvidas duas pessoas:
o soldado que se apossou do carro, e o dono do veículo, cada qual a reclamar o seu direito e expor suas
intenções.
No Código Penal Argentino, tal como ocorre no Brasil, no regime do Código de 1940, não existe
figura delituosa do furto de uso. Defende-se o militar alegando que não tivera intenção de apoderar-se da
coisa para torná-la sua, portanto o seu desejo era apenas usá-la a fim de realizar um objectivo, tal como o
procedimento todo confirmava. Assim, poderia haver uma relação jurídica civil ou uma relação jurídica
disciplinar, do ponto de vista dos Regulamentos do Exército, mas não uma infração penal típica.
Para que haja, portanto, relação jurídica penal, é necessário que, de maneira precisa e típica
coincidam os atos praticados com a hipótese prevista numa regra jurídica adequada. É por isso que
continuam sempre válidos dois brocardos jurídicos penais correlatos: Nulliun crimen sine lege, nulla poena
sine lege. Acrescenta-se com razão: nenhum crime sem tipicidade.
Muito embora nas demais esferas do Direito não se exija igual rigorismo quando à adequação entre a
“tipicidade do fato” e a “tipicidade da norma”, o certo é que não há relação jurídica sem norma, implícita
ou explícita, que como tal a qualifique.
As normas de Direito regulam comportamentos humanos dentro da sociedade. Isto é assim porque

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
24

o homem na vida social está sempre em interacção, influenciando a conduta de outrem, o que dá origem a
relações sociais que, disciplinadas por normas jurídicas, transformam-se em relações de Direito.
A relação jurídica consiste num vínculo entre pessoas em razão da qual uma pode pretender um
bem a outra que é obrigada. Tal relação só existe quando certas acções dos sujeitos, que constituem o âmbito
pessoal determinadas normas, forem relevantes no que atina ao carácter deôntico das normas aplicáveis a
situação. Só haverá relação jurídica se seu vínculo entre as pessoas estiver normado, isto é, regulado pela
norma jurídica, que tem por escopo protege-lo. Sem norma incidente numa relação social ou fática, essa
relação não se eleva ao nível jurídico. Nessa transformação leva-se em conta quatro elementos: Sujeito
ativo, sujeito passivo, vínculo de atributividade e um objecto.
Do mesmo modo que a norma, a relação jurídica é bilateral, externa, coercitiva e heterónoma.
As relações podem ainda ser simples ou complexas e também relativas ou absolutas.

Sujeito Passivo
Sujeito Passivo é a pessoa física ou jurídica que se obriga a realizar uma prestação, um dever, como
um devedor ou um mutuário.
O sujeito é passivo no sentido de dever a prestação principal, mas isto não exclui que ele também
tenha direitos de exigir algo em sentido complementar. Como exemplo pode-se dizer que se um credor
(sujeito activo) que deseja antecipar o pagamento previsto no título, assistirá então ao devedor (sujeito
passivo) o direito de apenas pagar na data do vencimento do título.
É claro que o devedor é sujeito passivo segundo a linha da prestação principal, o que não lhe tira,
entretanto, a possibilidade de actuar activamente nos elementos complementares da mesma prestação.

Sujeito Ativo
É o titular do direito subjetivo de ter ou de fazer o que a norma jurídica não proíbe. É o titular ou
beneficiário principal da relação.
Sujeito ativo é aquele em função do qual existe a obrigação ou a prestação principal, entretanto, isto não
impede que ele tenha deveres, correlatos ou não.
Este tem ainda a protecção jurídica, podendo ingressar em juízo, reavendo seu direito, reparando o
mal sofrido em caso de o sujeito passivo não ter cumprido suas obrigações.
Objectos das Relações
O poder do sujeito activo incide sobre o objecto imediato, que é a prestação devida pelo sujeito passivo,
por ter a permissão jurídica de exigir uma obrigação de dar, fazer ou não fazer, e sobre um objecto mediato,
ou seja, o bem móvel, imóvel ou semovente, sobre o qual recai o direito, devido à permissão que lhe é dada
por norma de direito de ter alguma coisa como sua, abrangendo, ainda, os seus modos de ser (sua vida, seu
nome, sua liberdade, sua honra).
Autores com Orlando Gomes defendem que para ser objecto de direito a coisa precisa apresentar
os requisitos de economicidade, permutabilidade e limitabilidade, isto é, ser susceptível de avaliação
pecuniária.
Já o fato propulsor, outro elemento abordado a respeito, agora na óptica de Maria Helena Diniz,

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
25

pode ser um acontecimento, dependente ou não da vontade humana, a que a norma jurídica dá a função de
criar, modificar ou extinguir direitos. Dele decorre o fato e o negócio jurídico.

Vínculo da Atributividade
Outro elemento fundamental da relação jurídica é o vínculo da atributividade capaz de ligar uma
pessoa a outra, muitas vezes de maneira complementar, mas sempre de forma objectiva. Há sempre o
vínculo entre duas ou mais pessoas, e toda pessoa que se insere em uma relação jurídica tem sempre direitos
e deveres, e não apenas direitos, ou apenas deveres.
O vínculo de atributividade é, por assim dizer, a concreção da norma jurídica no âmbito do
relacionamento estabelecido entre duas pessoas. É o vínculo que confere a cada um dos participantes da
relação o poder de pretender ou exigir algo determinado. Quando alguém tem uma pretensão amparada por
norma jurídica, diz-se que tem título para o ato pretendido, ou, por outras palavras, que está legitimado para
exigir o seu direito ou praticar o acto.
Não podemos esquecer das noções correlatas de título e legitimação pois se trata de matéria
fundamental. Ninguém pode dizer-se, por exemplo, proprietário de um terreno se a sua pretensão não estiver
amparada por um vínculo normativo que lhe atribua efectivamente o domínio: é esse vínculo que lhe
confere o título de proprietário e legitima os actos praticados nessa qualidade.
O vínculo de atributividade, que gera os títulos legitimadores da posição dos sujeitos numa relação
jurídica, pode ter várias origens. No exemplo de um contracto mútuo, o vínculo de atributividade é
representado pelo contracto, em virtude do qual duas vontades se ligam para a consecução de um
empréstimo. Desde que o negócio jurídico tenha sido estipulado segundo forma prevista ou não defesa em
lei, o acordo de vontade entre o mutuante e o mutuário gera um vínculo atributivo de pretensões legítimas,
fixando o âmbito das exigibilidades entre as pessoas que integram a relação. Tão íntima é, aliás, a correlação
entre vínculo de atributividade e título que, não raro essas expressões se empregam como sinónimas. Por
um fenómeno comum de translação de significado, ocorre mesmo que passou a ser chamado título também
ou documento comprobatório do direito atribuído a uma pessoa.
O vínculo de atributividade fica evidenciado e não poderá deixar de existir, nem há jurista algum
que haja levantado a hipótese de uma relação jurídica sem um laço que ligue duas ou mais pessoas, embora
seja errado dizer-se que em toda relação haja prestação e contraprestação recíproca. Se assim fosse, toda
relação jurídica seria de tipo contratual.

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
26

Tema 5: A Prática do Direito

1. OS TRIBUNAIS

Vamos deixar esta unidade à aplicação do Direito, constituindo esta actividade uma das tarefas
fundamentais do Estado. O cumprimento das normas nem sempre se verifica, havendo por isso a
necessidade de um conjunto de órgãos aptos para garantir o cumprimento das regras jurídicas. Assim sendo,
os tribunais são órgãos de soberania que têm competência para administrar a justiça em nome do povo,
exercendo a função jurisdicional, Art. 105º e 174º da CRA.

Cada tribunal é composto por um ou mais juízes, encarregado(s) de julgar os litígios. A maior parte dos
tribunais são organismos públicos, pertencentes ao sistema judicial de uma nação ou de um território com
autonomia judicial. No entanto existem também tribunais religiosos - como os tribunais eclesiásticos
das dioceses católicas - e tribunais privados - como os tribunais arbitrais para certas actividades económicas
e desportivas.
No Antigo Regime, antes da consagração da separação de poderes, existiam órgãos públicos não judiciais
(com funções, essencialmente, administrativas e legislativas) também designados "tribunais".
Art.174º
(Função jurisdicional)
1. Os tribunais são o órgão de soberania com competência de administrar a justiça em nome do povo.
2. No exercício da função jurisdicional, compete aos tribunais dirimir conflitos de interesses público ou
privado, assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos, bem como os princípios do
acusatório e do contraditório e reprimir as violações da legalidade democrática.
3. Todas as entidades públicas e privadas têm o dever de cooperar com os tribunais na execução das suas
funções, devendo praticar, nos limites da sua competência, os actos que lhes forem solicitados pelos
tribunais.
4. A lei consagra e regula os meios e as formas de composição extrajudicial de conflitos, bem como a sua
constituição, organização, funcionamento.
5. Os tribunais não podem denegar a justiça por insuficiência de meios financeiros.

Artigo 176.º (Sistema jurisdicional)

1. Os Tribunais superiores da República de Angola são o Tribunal Constitucional, o Tribunal Supremo, o


Tribunal de Contas e o Supremo Tribunal Militar.
2. O sistema de organização e funcionamento dos Tribunais compreende o seguinte: a) Uma jurisdição
comum encabeçada pelo Tribunal Supremo e integrada igualmente por Tribunais da Relação e outros
Tribunais;
b) Uma jurisdição militar encabeçada pelo Supremo Tribunal Militar e integrada igualmente por Tribunais
Militares de Região.
3. Pode ser criada uma jurisdição administrativa, fiscal e aduaneira autónoma, encabeçada por um Tribunal
superior.
4. Podem igualmente ser criados tribunais marítimos. 5. É proibida a criação de tribunais com competência
exclusiva para o julgamento de determinadas infracções.

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
27

2. O ACESSO AO DIREITO E AOS TRIBUNAIS

O conhecimento do direito por parte dos cidadãos é essencial, quer no exercício dos direitos, quer
por cumprimento dos deveres. Por outro lado, o acesso ao direito, não deve estar dependente da
capacidade económica dos sujeitos, afim de que se garanta a igualdade de direitos nesta matéria.
Este princípio, enquanto direito fundamental, dá a todos os cidadãos o direito ao acesso ao direito
e aos tribunais, independentemente da sua condição económica. Assim qualquer cidadão que veja os
seus interesses legalmente protegidos, tem o direito de recorrer os tribunais, estando vedada a
denegação da justiça por insuficiência de meios financeiros.
Nestes de caso, o Estado tem dever constitucional de criar as condições necessárias para que os
cidadãos mais desfavorecidos disponham de um serviço jurídico capaz executado por advogado de
forma a terem uma efectiva defesa material dos seus interesses.
Nos termos da constituição da República de Angola, isto é, nos termos do artigo 29º da CRA e
combinados com os artigos 195º, 196º, 197º, todos mesmo Diploma.
Para concretização deste preceito constitucional torna-se imperioso que os tribunais estejam próximos
dos cidadãos e que a legislação processual possibilite a realização de decisões em tempo útil, afim de
as tornar exequíveis.

Artigo 29.º
(Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva)

1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses
legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência dos meios económicos.
2. Todos têm direito, nos termos da lei, à informação e consulta jurídicas, ao patrocínio judiciário e a
fazer-se acompanhar por advogado perante qualquer autoridade.
3. A lei define e assegura a adequada protecção do segredo de justiça.
4. Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objecto de decisão em prazo razoável e
mediante processo equitativo.
5. Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos procedimentos
judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela efectiva e em tempo útil
contra ameaças ou violações desses direitos.

3. INFORMAÇÃO JURÍDICA
É uma tarefa pertencente especialmente ao governo, traduzindo-se num conjunto de acções destinadas
a tornar conhecido o direito e a ordem jurídica. Tal pressupõe a criação de serviços de acolhimento nos
tribunais e serviços judiciários. Passará igualmente por campanhas de divulgação e esclarecimento
junto das escolas, professores, encarregados de educação, colóquios abertos à comunidade envolvente.
Os órgãos de comunicação social desempenham a este nível um papel igualmente essencial, em tornar
conhecido o discutido direito. E com esta informação, facilitará de certa forma aos interessados, serem
esclarecidos dos seus direitos e da melhor forma de os defender sempre que sejam violados por outrem.

4. A PROTECÇÃO E CONSULTA JURÍDICA


A protecção jurídica compre a consulta e jurídica e o apoio judiciário. Este instrumento destina-se a facultar
as pessoas de reduzida condição económica, os serviços forenses, e custear, total ou parcialmente, os
encargos de uma causa judicial. Assim, à defesa de um advogado em processos judiciais, através da figura
de patrocínio judiciário, para quem tiver insuficiências económicas e fazer-se acompanhar por um advogado
perante qualquer entidade pública.

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
28

Assim sendo, compete aos Estado criar as condições e financiar uma rede de defensores que assegure a
assistência jurídica e ao patrocínio judiciário aos cidadãos com carência económica, em estreita colaboração
com a ordem do advogado de Angola.

5. O APOIO JUDICIÁRIO
O apoio judiciário compreende a dispensa total, ou parcial, de preparos (importância a pagar no tribunal
pelas partes de um processo, em vário momento, por adiamentos de taxas de justiça, bem como a dispensa
do pagamento dos serviços do advogado. Isto é regulado na lei das custas e assistências judiciarias, decreto
lei nº 15/95, de 10 de Novembro.

6. AS CUSTAS JUDICIAIS
As custas judicias dizem respeito ao pagamento dos encargos relacionados com determinado processo
judicial. Mas compreendem igualmente o pagamento dos outros encargos que possam surgir no processo,
como o pagamento das guias de deposito para que o processo siga um determinado rumo/passo e etc.
Normalmente, o pagamento das custas judiciais é, regra geral, da responsabilidade da parte que perde.

7. AS PROFISSÕES JURÍDICAS
Os graduados em Direito têm possibilidade de escolher várias profissões jurídicas. De entre as áreas
profissionais destacam-se a advocacia, magistratura, consultoria jurídica, consultoria fiscal e financeira,
mediação jurídica e arbitragem, docência, carreira diplomática, acesso a cargos públicos em
organizações internacionais, registos e notariado, solicitadoria, oficiais de justiça, agentes de execução,
inspectores e coordenadores da Polícia Judiciária, cargos de direcção e de gestão empresarial,
investigação jurídica e histórica, dirigentes e quadros superiores da administração pública.

Dependendo da saída profissional pretendida, os graduados podem ter de realizar um estágio para aceder
às respectivas Ordens profissionais (Advogados), realizar estudos avançados (Mestrado e
Doutoramento) ou ingressar em Escolas Profissionais (Centro de Estudos Judiciários para o acesso às
Magistraturas).

8. A IMPORTÂNCIA DA JUSTIÇA NO MUNDO ACTUAL

Justiça é um conceito abstracto que se refere a um estado ideal de interacção social em que há um equilíbrio
que, por si só, deve ser razoável e imparcial entre os interesses, riquezas e oportunidades entre as pessoas
envolvidas em determinado grupo social… A justiça deve buscar a igualdade entre os cidadãos.

Justiça social é uma construção moral e política baseada na igualdade de direitos e


na solidariedade colectiva. Em termos de desenvolvimento, a justiça social é vista como o cruzamento entre
o pilar económico e o pilar social.
O conceito surge em meados do século XIX, referido às situações de desigualdade social, e define a busca
de equilíbrio entre partes desiguais, por meio da criação de protecções (ou desigualdades de sinais
contrários), a favor dos mais fracos.[1][2]
Para ilustrar o conceito, diz-se que, enquanto a justiça tradicional é cega, a justiça social deve tirar a venda
para ver a realidade e compensar as desigualdades que nela se produzem. No mesmo sentido, diz-se que,
enquanto a chamada justiça comutativa é a que se aplica aos iguais, a justiça social corresponderia à justiça
distributiva, aplicando-se aos desiguais. O mais importante teórico contemporâneo da justiça distributiva é
o filósofo liberal John Rawls.

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
29

9. OS RAMOS DO DIREITO

I. DIVISÃO DO DIREITO
O estudo da ordem jurídica, realidade extremamente vasta e complexa, exige que à sua divisão em sectores
(ramos de direito). os inconvenientes que resultam dessa divisão, inúmeras vezes problemática e de rigor
científico algo duvidoso, são certamente menores se comparados com 0 enorme benefício que essa
sectorização tras para o aprofundamento do seu conhecimento.

11. Direito Público e Direito Privado — critérios de distinção


A primeira grande divisão no âmbito do Direito (objectivo, obviamente), distingue o Direito Público do
Direito Privado. Fala-se na existência de mais de uma São, porém, três os principais:

a) o do interesse;
b) o da qualidade dos sujeitos;
c) e o da posição dos sujeitos.
De acordo com o critério do interesse, Direito Público é aquele que visa predominantemente a prossecução
de interesses públicos (é interesse público o que respeita à existência, conservação e desenvolvimento da
sociedade política) e Direito Privado é aquele que visa essencialmente a prossecução de interesses privados.

Segundo o critério da qualidade dos sujeitos, o Direito Público regula as situações nas quais intervenha o
Estado ou qualquer ente público e o Direito Privado regula as situações dos particulares.
Finalmente, para o critério da posição dos sujeitos, o Direito é Público quando constitui e organiza o Estado
e os restantes entes públicos e regula a sua acção dotando essas entidades de jus imperii (ou poder de
autoridade, ou sujeitando-as a restrições particulares), e é privado o Direito que regula as situações em que
os sujeitos estão em posição de igualdade.

II. CRÍTICAS AOS CRITÉRIOS ENUNCIADOS

Da existência dessa enorme multiplicidade de critérios (ainda que os principais sejam os indicados) resulta
imediatamente que nenhum deles merece a concordância generalizada. Todos são, pois, passíveis de reparos
mais ou menos fundamentados, as principais críticas aos aludidos critérios são as que se seguem.
Quanto ao critério o do interesse um problema que se pode levantar logo prende-se com a constatação de
que não existe uma fronteira clara entre interesse público e o interesse Privado. ou entre servir
predominantemente o público e servir o interesse privado.

Exemplo: As a instituição dc fundações protegem o que estas. aliás. não podem deixar dc prosseguir
Interesses social.

Dos três referidos, aquele que merece maiores reparos é o critério da qualidade dos sujeitos. Inúmeras vezes,
de facto, os diversos organismos públicos incluindo o Estado, intervêm na vida jurídica em condições
semelhantes às dos particulares, sendo tais relações reguladas de acordo com o Direito Privado.

Exemplos: a) O Estado compra um imóvel a fim de lá instalar uma Conservatória de Registo Civil (art.
874º e segs. do C. C.);
b) O Estado pode ser responsabilizado nos termos do Direito Privado (art. 501º do C.C.).
c) O Estado pode ser herdeiro, também de acordo com o Direito Privado (art.0 2153º do Código Civil).

Quanto ao critério da posição dos sujeitos na relação jurídica, também não está isento de críticas. Diz-se
que este critério apenas descreve as situações em que os entes públicos agem dotados de jus impere e
aquelas em que tal não acontece, não se preocupando em explicar porque assim é. Explicação que apenas
poderia ser dada pelo critério do interesse, segundo alguns.
Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
30

Apesar das dificuldades referidas, revela-se importante procedermos à sectorização da ordem jurídica. Não
é de todo indiferente que a situação da vida em causa seja ou não regulada por um ramo de direito de
natureza pública ou de natureza privada. São duas realidades que, embora com princípios comuns, têm
também razões de decidir e princípios próprios. Não devemos esquecer, contudo, o emergir de no- vos
ramos jurídicos que compreendem simultaneamente uma componente de Direito Público e outra de Direito
Privado, havendo que se proceder a uma distinção cuidadosa dessas duas componentes. É o que se verifica,
por exemplo com o Direito do Ambiente e com o Direito económico.

RAMOS DE DIREITO PÚBLICO

sem esquecermos a advertência acabada de fazer, os ramos de Direito Público que frequentemente são
referidos pelos autores são os seguintes:
O Direito Constitucional;
O Direito Fiscal;
O Direito Administrativo;
O Direito Financeiro;
O Direito Penal;
O Direito Processual;
O Direito Económico.

O Direito Constitucional:

Este ramo de Direito irá merecer um tratamento mais aprofundado na próxima unidade temática. Agora
apenas se dirá que o Direito Constitucional está estreitamente relacionado com a Constituição, ainda que
estude realidades que estão fora dela. E o que se verifica, por exemplo, com as leis eleitorais, com o
regimento da Assembleia da República e com as leis de organização do Governo, etc.

O Direito Fiscal

O Direito Fiscal é o ramo de Direito que regula a definição e a aplicação dos impostos.
O imposto é uma prestação coactiva sem carácter de sanção, unilateralmente fixada pelo Estado, em
benefício próprio ou de outro ente público, de natureza pecuniária, com vista à cobertura das despesas
públicas, sem perder de vista objectivos de ordem económica e social.
A prestação do cidadão (sujeito passivo do imposto) não decorre de qualquer contraprestação imediata por
parte do Estado ou de outro ente público (sujeito activo do imposto). Trata-se, por consequência, de uma
prestação unilateral, ao contrário do que se verifica com a taxa, que é bilateral (ambas as partes, na taxa,
realizam uma prestação e recebem algo em troca).
Este ramo de Direito, como os demais, tem fins próprios. Recorre por isso mesmo a adaptações de regras
de origens diversas, afastando-se frequentemente de alguns princípios aceites por outros ramos de Direito.

O Direito Administrativo

Este ramo de Direito regula a prossecução de interesses públicos, com recurso a determinadas prerrogativas
de autoridade por parte de órgãos executivos ou administrativos.
Assim, quando os entes administrativos não actuarem nessa qualidade, mas em igualdade de circunstâncias
com os particulares, é o direito privado e não o direito público que regula tais situações.

Alguns autores chegaram a distinguir o direito constitucional deste ramo de Direito do seguinte modo: o
primeiro regularia a estática da organização estadual e o segundo a dinâmica.

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
31

Um dos mecanismos mais significativos do Direito Administrativo é o privilégio de execução prévia. Trata-
se da faculdade que certas entidades têm de executar imediatamente as medidas destinadas à satisfação das
necessidades colectivas mesmo que simultaneamente decorra um processo junto de um órgão jurisdicional
destinado a verificar se a medida projectada por essa entidade é ou não legal. Direito administrativo e o
Direito Constitucional constituem, no dizer de alguns juristas, a coluna mestra do direito público.

O Direito Financeiro
O conjunto das normas jurídicas que regulam a actividade financeira (cobrança de receitas e efectivação
das despesas públicas) constitui este ramo de Direito.
As receitas mais significativas provêm de impostos, taxas, receitas patrimoniais e empréstimos públicos.
Este ramo de direito só tardiamente se autonomizou do Direito Administrativo.
O Direito Penal:
O Direito Penal ou Criminal nasce da ideia de que certos e determinados actos são de tal maneira
prejudiciais à vida em sociedade que importa fazer algo para que a sua prática não se verifique com
frequência, sob pena de a coexistência social do Estado impõe à generalidade das pessoas 0 dever de
respeitar certos valores ou bens, reputados de fundamentais, desencorajando-as a desrespeitá-los, mas
quando tal se verifica sanciona esses actos (crimes) com castigos (penas).

Trata-se de um ramo de direito que há muito conhece, no conjunto do ordena- mento jurídico, uma relevante
e autónoma posição dada a sua especificidade.

Ao contrário dos demais ramos de direito, que se distinguem entre si essencialmente pelo conteúdo e
natureza das relações sociais que regulam, 0 Direito Penal distingue-se pela natureza da sanção que comina.
O crime e a pena são, pois, os dois pólos à volta dos quais gravita o essencial do presente ramo de direito.

O Direito Processual
A existência de conflitos de interesses (litígios) entre pessoas requer que uma entidade imparcial e acima
das partes possa ditar a solução do diferendo. Os tribunais são os órgãos vocacionados para tal função.
O conjunto das regras jurídicas que regulam essa actividade dos tribunais chama-se Direito Processual.
Processual porque há uma sequência de actos (processo) através dos quais o tribunal dirime o conflito.
O Direito Processual Civil é o processo correspondente aos litígios existentes entre particulares, resolvidos
de acordo com o Direito Privado.

Um conflito existente entre um trabalhador e a respectiva entidade patronal é regulado pelo Direito do
Trabalho e é dirimido nos tribunais do trabalho, de acordo com o Direito Processual do Trabalho ou Laboral.
O Direito Processual Penal ou Criminal regula a actuação dos tribunais no âmbito da aplicação das penas
como consequência da prática de crimes.
Existem outros tipos possíveis de direitos processuais, designadamente: Direito Processual Administrativo,
processo das contribuições e impostos e processo da justiça militar.

O Direito Económico
O Direito Económico, tal como os demais novos ramos de Direito, tem encontrado imensas dificuldades de
afirmação da sua autonomia. Trata-se de um tema de que não cuidaremos aqui, obviamente, mas que todo
o aprendiz de jurista não deve nunca perder de vista, sob pena de dar como adquiridas realidades que, afinal,
feita esta ressalva, cumpre que se diga que alguns autores entendem o Direito ainda o não são económicos
assim:
Direito Económico é o ramo do direito que estuda e regula as seguintes áreas:
a) a organização da economia, designadamente definindo o sistema e o regime económicos;
b) a condução ou controlo superior da economia pelo Estado, designa da mente estabelecendo o regime das
relações do "equilíbrio de poderes" entre o Estado e a economia;
c) a disciplina dos centros de decisão económica não estaduais, nomeada mente enquadrando, em termos
macroeconómicos, a actividade das instituições fundamentais.

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
32

RAMOS DE DIREITO PRIVADO

No âmbito do Direito Privado assume um relevo particular o Direito Civil (também designado por Direito
Privado comum ou direito-regra). Trata-se do conjunto de regras jurídicas que regulam a condição normal
das pessoas. Certas relações entre particulares, por vezes, revestem se de determinadas especificidades que
exigem tratamento adequado. É o que acontece com os chamados direitos privados especiais,
designadamente o Direito Comercial e o Direito do Trabalho.
O Direito Civil

I. Noção

O Direito Civil constitui o ramo de Direito mais profundamente estudado de toda a ordem jurídica, sendo
como que o "banco de dados" dos princípios gerais de Direito. Daqui resulta que as normas que dele fazem
parte funcionem a título subsidiário quando, por exemplo, os direitos privados especiais se confrontam com
dificuldades na regulação de um caso concreto.

O Código Civil, diploma fundamental das relações civis, funciona como repositório de normas dos diversos
ramos de direito, público ou privado. Assim, o seu Título I, do Livro I, "Das leis, sua interpretação e
aplicação", diz respeito às leis em geral, independentemente do ramo de direito a que pertencem.

Como anteriormente se afirmou, o direito civil regula a relação jurídica na sua forma mais simples e
destituída de especificidades. As relações jurídicas laborais ou comerciais, por exemplo, revestem-se de um
cunho particular que exige tratamento especial. Quando tal se não verifica é o Direito Civil que regula o
caso concreto•

Sub-ramos

A actividade dos paniculares, mesmo que destituída de especificidades, é de tal modo vasta e complexa que
o direito que a regula, o Direito Civil, é necessariamente também vasto e complexo. A sua divisão por sub-
ramos é, pois, uma necessidade.

A divisão que mais apoios obteve foi a chamada classificação germânica do Direito:

a) Direito das obrigações;


b) Direito das coisas ou direitos reais;
c) Direito da família;
d) Direito das sucessões.
O Código Civil segue de muito perto esta classificação, uma vez que se divide em cinco livros:

Livro I, "Parte Geral";


Livro II, "Direito das obrigações";
Livro III, "Direito das coisas";
Livro IV, "Direito da família";
Livro V, "Direito das Sucessões".
O estudo do Direito Civil que faremos seguirá de muito perto a classificação germânica, ainda que esta seja
objecto de muitas críticas. Não cabe a uma disciplina introdutória como é a nossa que nos detenhamos a
discutir o assunto.

O Direito das obrigações


I. Noção
O Direito das obrigações regula as relações jurídicas das quais resulta que uma ou mais pessoas estão
vinculadas a realizar em benefício de outra ou outras uma ou mais prestações.

Código Civil
Art. 397.0
Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023
33

(Noção)

Obrigação é o vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de
uma prestação.
Vejam-se alguns exemplos de situações reguladas em particular pelo direito das obrigações.

Exemplos:
I —A empresta a B 1000$00 e este compromete-se a restituir-lhos decorrido algum tempo. A restituição é
uma prestação.
2 —C assume o compromisso perante D de lhe fazer uma "marquise" na varanda do seu apartamento. A
feitura da "marquise" é uma obrigação.
A obrigação pode resultar de um contracto (como acontece nos exemplos acabados de referir), mas também
de outras fontes, designadamente de um acto ilícito.

Exemplo:

3 — Assim, se E culposamente partir um vidro da janela da casa de F, cujo valor ascende a 5000kz, fica
adstrito a indemnizá-lo da referida quantia. Eis uma nova prestação.
O sujeito activo da relação obrigacional designa-se por credor e o sujeito passivo por devedor.
O "Direito das obrigações" vem regulado no Livro II do Código Civil, subdividindo-se em dois títulos:

Título I, "Das obrigações em geral" (do art.0 397.º ao artº 873º);


Título II, "Dos contractos em especial" (do art.º 874º ao art.0 1250º).

Material de Apoio
10ª Classe
2022/2023

Você também pode gostar