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1. CONSTITUIÇÃO E CARTA CONSTITUCIONAL

O regime anterior à Revolução Francesa era caracterizado por uma monarquia


a e pelos privilégios desmedidos das desses sociais mais elevadas. A revolução veio dar lugar a
uma ordem nova, baseada na igualdade jurídica e política de cidadãos e na soberania nacional.
Os monarcas viram o seu poder e, acima a legitimidade do regime que personificavam serem
colocados em causa pela revolucionária que se ia desenvolvendo e pela revolta dos povos
sacrificados e a vez mais difíceis condições de vida. Daí que, como que liberalizando o seu
aprovaram textos constitucionais que limitavam o poder absoluto que até tinham. Os monarcas,
afirmando-se reis por direito próprio e, como tal, detém- plenitude da soberania, por sua livre
vontade autolimitavam os seus poderes do as leis constitucionais, que assumiram o aspecto de
concessões graciosas seus súbditos. A estas leis chamaram-se cartas constitucionais.

De certo modo essa evolução também se verificou em Portugal.


A primeira Constituição (1 822), ainda no regime monárquico, teve
origem o sentimento revolucionário que estava a desenvolver-se no País.

A Constituição de 1822 consagrou os direitos e deveres dos cidadãos portuguesa considerava


como elementos da Nação o território, a religião, o Executivo e a De acordo com os seus termos,
a soberania residia essencialmente na era exercida pelos seus representantes legalmente eleitos.

1.2. A CONSTITUIÇÃO ANGOLANA DE 1975

com os acontecimentos ocorridos em Portugal a 25 de Abril de 1974, assistiu-se à derrocada do


sistema colonial português. No programa do Movimento das Forças Armadas consagrou-se o
direito dos povos à sua autodeterminação.

Quais as intenções deste movimento?

Foram as de suprimir a polícia política, restabelecer a liberdade de pensamento e de expressão,


reconhecer os partidos políticos existentes ou a criar e a organização sindical clandestina, como
também proceder à realização de eleições em 1975, com o objectivo de eleger uma Assembleia
Constituinte, assim como estabelecer negociações com os movimentos de independência das
colónias.

Estes movimentos vieram então proclamar a independência e outorgar constituições- A primeira


Constituição em Angola foi aprovada em 1975.

A profunda instabilidade política c social que se verificou nesta altura resultou abandono dos
portugueses nas vésperas da independência, permitindo aos camponeses a recuperação da maior
parte da terra num processo que passou à margem de medidas legislativas de nacionalização ou
confisco. Não foi necessária uma Reforma Agrária. Embora a Constituição de 1975 definisse no
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seu artigo 11º que "todos os recursos naturais existentes no solo e no subsolo... são propriedade
do Estado, que determinará as condições do seu aproveitamento e utilização", não ficou explícito
nada de específico sobre a terra, nem foi aprovado nenhum diploma que enunciasse as questões
ligadas ao uso e aproveitamento da terra para fins agrícolas e ao seu ordenamento, nem sequer
se reflectiu ou legislou sobre a preservação dos direitos costumeiros das populações camponesas
e pastoris ou a sua integração no direito moderno.

Leis constitucionais: São as normas que compõem a Constituição do país.


Actos legislativos: actos legislativos são as leis, os decretos-leis e os decretos regulamentares.

Regulamentos:

Os regulamentos destinam-se a disciplinar de forma mais particularizada as normas estatuídas


por leis e decretos-leis, sendo promulgados pelo executivo no exercício de uma função
administrativa e não —activa.

Normas Estatutárias:
São normas que estão implícitas num estatuto. O Estatuto é a lei que regula de uma maneira
unitária e ordenada uma dada matéria, que não tem a amplitude ou a estabilidade suficiente para
justificar a designação de código.

Por exemplo: o estatuto dos funcionários é o conjunto das normas legais que definem e regulam
os poderes e os deveres correspondentes à qualidade de funcionários. É através das normas que
constituem o. estatuto dos funcionários que se estabelece a disciplina própria dos cidadãos que
exercem a sua actividade profissional no funcionalismo público, que fica definido como se
adquire e se perde a qualidade de funcionário público, que obrigações pendem sobre esse tipo de
trabalhadores, de que direitos gozam e, enfim, tudo o que diga respeito à relação laboral do
funcionalismo público.

Cabe aqui referir alguns dos princípios estruturantes do Estado de direito democrático, a saber:

1 — O princípio da hierarquia das fontes;


2 — O princípio da tipicidade dos actos legislativos.
3 — O princípio da legalidade.
4 — O princípio da competência.

Estes princípios caracterizam-se do seguinte modo:

1 — Princípio da hierarquia das fontes:


Segundo o princípio da hierarquia das fontes, os actos normativos (as leis, os decretos-leis e os
regulamentos) não têm todos a mesma hierarquia. Situam-se num piano vertical à semelhança de
uma pirâmide jurídica, de modo que na base do edifício legislativo, se encontram os
regulamentos e na sua parte superior a Constituição.
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A Lei Constitucional ordena hierarquicamente os actos normativos, de acordo com os seguintes


princípios:
o princípio da superioridade dos actos legislativos (leis e relativamente aos regulamentos e às
nomas estatutárias;

o princípio da igualdade entre os actos legislativos — as leis e os decretos-leis têm o mesmo valor
-hierárquico, interpretando-se, suspendendo-se ou revogando-se reciprocamente.

2 — Princípio da tipicidade dos actos:


Segundo este princípio só têm força de lei os actos expressamente considerados como ais pela
Constituição. Deste modo, a lei não autoriza que a interpretação, modificação, suspensão ou
revogação de qualquer norma legal sejam feias por outra norma legal que não tenha o mesmo
valor. Por exemplo: proíbem-se os actos normativos da administração (os regulamentos), que
modifiquem, suspendem ou revoguem as leis da Constituição, como também se proíbe estes actos
de fazerem uma interpretação ou integração autêntica leis constitucionais.

3 — Princípio da legalidade
O princípio da Ilegalidade da administração constitui um princípio estruturante do Estado de
direito e democrático e principalmente conjugado com o princípio da prioridade ou precedência
da lei relativamente a toda a actividade regulamentar administração. A administração Públia
deve obediência à lei de modo que os regulamentos que aprovar Em de respeitar as normas 1%ais
em vigor.

4 Princípio & competência:


Este princípio pressupõe uma delimitação positiva, no sentido de que cada órgão legislativo tem
a sua competência legislativa própria e até exclusiva, não podendo, sob pena de
inconstitucionalidade, produzir matéria legislativa sobre que que não se englobem na sua
específica competência. Como adiante veremos, a Constituição da República Angolana só pode
ser alterada peia Assembleia Nacional. O Governo, que também tem competência legislativa,
não tem, porém, competência para alterar a Constituição.

E O que é d direito constitucional:


É o conjunto de normas jurídicas que regulam a actividade do Estado, que designam as suas
funções e definem as atribuições e os limites dos órgãos do poder político.

Vamos fazer uma breve referência ao direito constitucional como ramo de direito público.

O direito público é o que disciplina e tutela directamente o interesse público, embora,


indirectamente, e, em segundo plano, possa tutar interesses particulares. O direito privado é o
que disciplina e tutela fundamentalmente interesses particulares, embora, em segundo plano,
possa igualmente condicionar o interesse público.

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1.3. CONSTITUIÇÃO E EM SENTIDO MATERIAL E EM SENTIDO FORMAL.

* A Constituição em sentido material é o conjunto de normas que regulam as estruturas do Estado


e da sociedade nos seus aspectos fundamentais.
A Constituição material é o cerne de uma constituição. Para existir não precisa de estar
organizada num documento escrito. As constituições materiais são vulgarmente descritas como
o constitucionalismo. tradicional e histórico, em que não havia um texto escrito.

A Constituição em sentido formal é o texto escrito onde constam as normas fundamenais da


ordem jurídica do Estado. Esse texto dimana de um órgão dotado de poderes especiais,
comummente designado por Assembleia Constituinte.

1.4. Constituições rígidas, flexíveis e semi-flexiveis

Entende-se por constituições rígidas/os textos constitucionais que são elaborados por um corpo
legislativo especialmente criado para esse efeito, e que, no exercício dessas específicas funções,
elabora a Constituição- A alteração desse texto constitucional apenas é admissível por uma
assembleia especialmente constituída para esse efeito e com poderes de alterar a Constituição.
Como se verá mais adiante, a Constituição da República é, em certo sentido, rígida, na medida
em que há determinadas matérias que não são susceptíveis de ser alteradas, tais como os direitos
e liberdades fundamentais e as garantias dos cidadãos.

Por outro lado, só por uma decisão de dois terços dos deputados da Assembleia Nacional em
efectividade de funções é que a(Lei Constitucional é susceptível de revisão.

A Constituição flexível é baseada nos costumes. Neste tipo de Constituição, a revisão é sempre
possível, e muito facilitada, porque não há um processo especial para elaborar, modificar ou
revogar as leis constitucionais. O legislador ordinário pode proceder à revisão da Constituição,
sendo, por consequência, os textos constitucionais meios pouco eficazes de limitação jurídica dos
poderes constituídos, na medida em que os mesmos variam ao sabor dos interesses desses
poderes.

Entende-se por Constituição semi-rígida/aquela que no seu texto prevê e regula a sua própria
revisão, decorrido um certo prazo.
Este tipo de Constituição prevê que, decorrido certo prazo depois da sua entrada em vigor, seja
a mesma revista.
precisamente o caso da Constituição de 1933, cujo texto prevê a possibilidade da sua própria
revisão, dez anos depois da sua entrada em vigor.

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1.2.1. Análises dos Princípios Fundamentais, direitos e deveres fundamentais, direitos,


liberdade e garantias pessoais consagrados na constituição da República de Angola.

O que são deveres fundamentais?

Deveres fundamentais: São os deveres, as obrigações expressamente consagradas na


Constituição, aos quais os cidadãos devem obediência e respeito. Por exemplo: o dever de pagar
impostos e o dever de defesa da Pátria.

Garantias pessoais: São as garantias consagradas na Constituição para cada cidadão, a protecção
dos direitos de cada cidadão e ainda o reconhecimento dos meios processuais adequados a essa
finalidade.

Por exemplo: protecção da segurança pública.

As garantias constitucionais são os meios destinados a assegurar o próprio ordenamento


constitucional e têm por função a observância, a aplicação, a estabilidade e a conservação da Lei
Constitucional.
Por exemplo: a fiscalização da constitucionalidade das leis e a revisão constitucional.
A Constituição Angolana tem como grandes fundamentos a democracia representativa e a
liberdade política. É uma Constituição que consagra os direitos fundamentais dos cidadãos e dos
trabalhadores e a divisão dos poderes políticos.

Direitos e deveres fundamentais


> Dos órgãos do Estado
> Da Defesa Nacional
> Garantia e revisão da Lei Constitucional
> Símbolos da República de Angola
> Disposições finais e transitórias
Os artigos 22º a 55º. da Lei Constitucional consagram os direitos fundamentais
— É uma expressão constitucional que designa as situações jurídicas fundamentais das pessoas.

São os direitos ou as posições jurídicas subjectivas das pessoas enquanto tais, individual ou
institucionalmente consideradas e assentes na Constituição.
Distingue-se dos direitos de personalidade, que se reportam aos bens do indivíduo. São as
situações jurídicas básicas do Homem reconhecidas pela lei civil (por exemplo, direito ao nome e
direito à imagem, etc.).

Distingue-se também dos Direitos do Homem (consagrados na Declaração Universal dos Direitos
do Homem), pois estes são comuns a todo e qualquer Homem, independentemente do local onde
quer que se encontre. São as situações jurídicas

que valem para todos os povos, independentemente da sua nacionalidade, raça ou confissão
religiosa.

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Os princípios fundamentais da Constituição Angolana são os seguintes:

> A República de Angola é um Estado democrático de direito e tem como fundamentos a unidade
nacional, a dignidade da pessoa humana, o pluralismo de expressão e de organização política, e
o respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do Homem, quer como indivíduo,
quer como membro de grupos sociais organizados (artigo 2º da Constituição da República).
> A soberania reside no povo, e o povo angolano exerce o poder político através do sufrágio
universal periódico para a escolha dos seus representantes (artigo 3º.CRA).

Os partidos políticos concorrem para a organização e para a expressão da vontade dos cidadãos,
os quais participam na vida política e na expressão do sufrágio universal, por meios democráticos
e pacíficos (artigo 4º.CRA).

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O DIREITO DA FAMÍLIA

Introdução
O Direito da família: é constituído pelo conjunto de normas que regulam as relações familiares
propriamente ditas, ou seja, as relações entre pessoas ligadas por laços biológicos do parentesco, pelo
vínculo legal do casamento, da afinidade e ainda pela adopção.
1. Fontes de relações jurídico-familiares
Nos termos do disposto no artigo 7º do Código da Família, as fontes das relações jurídico-familiares São o
parentesco, o casamento, a união de facto e a afinidade.
1.1. O parentesco:
O parentesco estabelece-se quer por laços de quer por adopção" (artigo 8º do Código da Família). Nos
termos do artigo 9º do Código da Família, "o parentesco por laços de sangue é o vínculo que liga duas
pessoas em virtude de uma descender de outra ou de ambas procederem de um progenitor comum".
O parentesco é a relação que se estabelece entre pessoas que têm o mesmo sangue, ou porque descendem
umas das outras — neste caso diz-se que o parentesco é em linha recta — ou porque provêm de um
progenitor comum — neste caso diz-se que o parentesco é em linha colateral.
A distinção entre parentesco em linha recta e parentesco em linha colateral é estabelecida no artigo
11º, n.º 1 do Código da Família, do seguinte modo:
O parentesco em linha recta: verifica-se quando um dos parentes descende do outro, ou seja, é série de
pessoas que descendem sucessivamente umas das outras, como, por exemplo, bisavô, avô, pai, filho, neto,
bisneto, etc.
O parentesco em linha colateral: verifica-se quando nenhum dos parentes descende de outro, mas ambos
procedem de um progenitor comum, como, por exemplo, irmãos, tio e sobrinho, primos, etc. O parentesco
na linha recta ascendente e na linha recta descendente (Artigo 11º, nº 2, do Código da Família).
A linha recta diz-se ascendente, quando na linha de parentesco se parte do descendente para o progenitor,
ou seja, quando se sobe de um indivíduo para as pessoas de que ele sucessivamente proveio, por exemplo:
o descendente, seu pai, seu avô, seu bisavô, seu trisavô, etc.
Por exemplo: O Pedro (descendente) — seu pai Manuel — seu avô Matias — seu bisavô Guilherme, etc.
A linha recta diz-se descendente quando na linha do parentesco se parte do progenitor ou ascendente para
a pessoa que dele procede, ou seja, quando se desce de um indivíduo para as pessoas que dele
sucessivamente provieram: ascendente, seu filho, seu neto, seu bisneto, etc.
Por exemplo: O Pedro (ascendente) — seu filho João — o filho do João que se chama Chico e é neto do
Pedro — o filho do Chico que se chama Gonçalo e bisneto do Pedro, etc.
limite do parentesco: (Artigo 13º do Código da Família)
Nos termos do disposto no artigo 13º do Código da Família, "salvo disposição legal em contrário, os efeitos
do parentesco produzem-se em qualquer grau da linha recta e até ao sexto grau na colateral” O cômputo
dos graus faz-se mediante as regras estabelecidas no artigo 12.º do Código da Família.
Na linha recta há tantos graus quantas as pessoas que formam a linha de parentesco, excluindo o progenitor.
> Na linha colateral os graus contam-se pela mesma forma, subindo por um dos ramos e descendo pelo
outro, mas sem contar o progenitor comum. Assim sendo, segundo este processo de contagem, os irmãos

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ou os avós e os netos são parentes em 2.º grau, os tios e os sobrinhos são parentes em 3.º grau, os primos
direitos são parentes em 4.º grau, etc.

Em consequência das relações de parentesco produzem-se diversos efeitos jurídicos entre os parentes, dos
quais se salientam os mais relevantes. O efeito principal do parentesco é o sucessório, ou seja, os
descendentes, os ascendentes, os irmãos e seus descendentes e os colaterais até ao 4º grau integram,
respectivamente, as 1ª, 2ª 3ª e 4ª classes de sucessíveis na ordem da sucessão legítima.
Um outro efeito do parentesco é a obrigação de alimentos que a própria lei impõe a determinados parentes.
É o que se verifica no artigo 249.º, n.º I e 2 do Código da Família. São obrigados a prestar alimentos ao
menor os pais e adoptantes e, nas faltas destes, sucessivamente:
> os outros ascendentes;
> os irmãos maiores;
> os tios;
> o padrasto ou madrasta em caso de morte do cônjuge.
São ainda obrigados a prestar alimentos nos restantes casos, sucessivamente:
> O cônjuge ou o ex-cônjuge;
> Os descendentes e, entre eles, os de grau mais próximo e os adoptados;
> Os ascendentes e, entre eles, os de grau mais próximo e os adoptados.

Por último, podemos ainda mencionar um outro efeito do parentesco, que é atribuído às relações de filiação:
o poder paternal. O poder paternal vem mencionado no Código da Família nos artigos 127.º e seguintes.
O poder paternal é o conjunto de poderes e deveres que a lei atribui ou impõe aos pais para regerem as
pessoas e os bens dos filhos menores.
1.2. A União de Facto:
O artigo 112.º do Código da Família estabelece que a união de facto "consiste no estabelecimento voluntário
de vida em comum entre um homem e uma mulher".
A união de facto subentende uma convivência idêntica à dos cônjuges, no sentido em que haja plena
comunhão de vida com certa duração.
1.3. A afinidade
A afinidade é o vínculo que une um dos cônjuges aos parentes do outro cônjuge. A fonte da afinidade é o
casamento.
A própria lei consagra, no artigo 14º do Código da Família, que "os parentes de um dos cônjuges são afins
do outro cônjuge".
Por exemplo: a Maria casa com o José, logo por afinidade a Maria vai ser cunhada da irmã do José, nora
da mãe do José.
As relações de afinidade são imensas e é preciso defini-las e ordená-las, procedendo-se deste modo à
contagem.
A afinidade determina-se pelas mesmas linhas e graus que definem o parentesco por laços de sangue (art.
15.º, n.º 1, do Código da Família). Isto quer dizer que um cônjuge é afim em linha recta dos parentes em
linha recta do seu cônjuge, afim em linha colateral dos parentes do seu cônjuge na linha colateral, afim no
2.º grau dos parentes em 2.º grau do seu cônjuge, etc.
Por exemplo: O João e a Maria casam. A Maria por afinidade passa a ser cunhada da irmã do João, sobrinha
dos tios do João, neta dos avós do João, etc.
Segundo o artigo 15.º, n.º 2, do Código da Família "a afinidade não cessa pela dissolução casamento". Ora,
aqui compreende-se que, no caso de dissolução por morte, o falecimento de um dos cônjuges não cessa as
relações do cônjuge vivo com os parentes do cônjuge que morreu.
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Por exemplo: A Maria é casada com o José. O José morre num acidente. As relações de afinidade da Maria
com os parentes do José não cessam por causa da morte.
Mas, no caso de dissolução por divórcio, as relações de afinidade deixam de ter social e juridicamente
qualquer relevância.
Os efeitos:
Os afins não têm direitos sucessórios. Podemos referir como efeito da afinidade a obrigação de alimentos.
A lei impõe no ‘artigo 249.º, n.º 1, alínea d), do Código da Família, que "são obrigados a prestar alimentos
ao menor o padrasto ou madrasta em caso de morte do cônjuge."
Por exemplo: o Manuel é menor e vive com o pai e a madrasta. O pai morre, mas o Manuel continua a
cargo da madrasta, cabendo a esta a obrigação de prestar alimentos ao Manuel.

1.4. O casamento
Noção de casamento
O artigo 20º do Código da Família define como casamento "a união voluntária entre um homem e uma
mulher, formalizada nos termos da lei, com o objectivo de estabelecer uma plena comunhão de vida". Trata-
se de uma plena comunhão de vida, em que os cônjuges estão reciprocamente vinculados pelos deveres de
respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência (artigo 43º do Código da Família).

1.5. A promessa de casamento no direito positivo e no direito costumeiro e sua relevância


jurídica.
A promessa do casamento está consagrada no artigo 22.º do Código da Família. A promessa de casamento,
seja ou não acompanhada da entrega de bens ou valores ao outro nubente ou à sua família, não produz
quaisquer efeitos jurídicos e não dá direito a exigir a celebração do casamento.
O que acontece quando um dos nubentes não cumpre a promessa de casamento?
O nubente não responde pela totalidade das perdas e danos causados, responde apenas por certas despesas,
pois, caso contrário, se tivesse de pagar uma indemnização muito avultada, o nubente que eventualmente
pretendesse romper a promessa, por razões certamente relevantes do seu foro pessoal, dificilmente teria
condições para exercer livremente a sua vontade face à ameaça de, em contrapartida, ter de pagar uma
indemnização aos outros. A lei pretende que o consentimento dos nubentes seja livre e, assim, se mantenha
até ao momento da celebração do casamento, pelo que o nubente que não cumpra a promessa apenas é
responsável por pagar determinadas despesas.
É precisamente esta obrigação de indemnizar determinadas despesas e obrigações que constitui o efeito
mais evidente da promessa de casamento.
1.6. Pressupostos da existência de casamento
Para haver um casamento é necessário que um dos nubentes manifeste, de forma expressa, a vontade de
contrair casamento com o outro nubente (artigo 35º do Código da Família). Os pressupostos da existência
de casamento são os seguintes:
a) a capacidade das partes;
b) consentimento do nubente.

1.7. Validade do casamento: elementos de fundo e elementos de forma

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Os elementos de fundo são: A capacidade e o mútuo consentimento das partes. Capacidade matrimonial
(idade núbil e impedimentos matrimoniais). Por regra só podem casar-se os maiores de 18 anos, mas,
excepcionalmente, é permitido casar o homem que tenha completado 16 anos e a mulher que tenha
completado 15 quando, ponderadas as circunstâncias do caso e tendo em conta o interesse do menor, seja
o casamento a melhor solução. (Por exemplo, no caso de haver uma gravidez.)
A autorização dada neste caso será concedida pelos pais, tutores ou por quem o menor a seu cargo, podendo
ser suprida pelo tribunal, ouvido o parecer do conselho de Família, quando a não autorização se mostrar
injustificada (artigo 24º do Código da Família).
Têm capacidade para contrair casamento todos aqueles em quem não se verifica algum dos impedimentos
matrimoniais previstos na lei (artigo 23.º do Código da Família).
Impedimentos matrimoniais: São as circunstâncias que impedem a celebração do casamento. É todo o
facto que impede à celebração do casamento, gerando assim a sua incapacidade. Esses impedimentos
podem ser dirimentes, absolutos ou relativos, e impedimentos impedientes.
Impedimentos matrimoniais dirimentes: são impedimentos que suprimem, extinguem o acto, tornam
anulável o casamento.
Impedimentos absolutos — são os factos que, gerando verdadeiras incapacidades, impedem a pessoa de
casar. Estes impedimentos constituem autênticas incapacidades de gozo, porque a pessoa relativamente à
qual se verifica um impedimento absoluto não pode validamente casar com ninguém.
São exemplos de impedimentos matrimoniais absolutos (artigos 24º e 25º do Código da Família):
1 —A falta da idade nupcial (só poderão casar os maiores de 18 anos de idade).
2 —A demência, quando esta for notória mesmo durante os intervalos lúcidos.
A demência significa uma anomalia que se manifesta quer no domínio do entendimento quer da vontade
que incapacita o indivíduo de se reger a si mesmo e governar os seus bens.
3 — A interdição ou inabilitação por anomalia psíquica.

A interdição: é a situação jurídica de uma pessoa que se encontra, total ou parcialmente, privada do
exercício dos seus direitos, em virtude de uma decisão judicial. Podem ser declarados interditos do exercício
dos seus direitos todos aqueles que por anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira se encontrem
incapazes de se governar a si mesmos e aos seus bens.

A inabilitação por anomalia psíquica: é a situação jurídica de uma pessoa que, em virtude de decisão.
Judicial, não pode, por si só, realizar determinados actos jurídicos, carecendo da autorização de um curador.
Podem ser inabilitados os indivíduos cuja anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira, embora de carácter
permanente, não seja de tal modo grave que justifique a sua interdição, assim como aqueles que, pelo abuso
de bebidas alcoólicas ou drogas, se mostrem incapazes de reger o seu património.
O casamento ou a união de facto legalmente reconhecida, enquanto o casamento ou união anterior não
forem dissolvidos. O casamento celebrado em todas estas situações é anulável (artigo 65.º alínea a), do
Código da Família).
Nestes casos, quem tem legitimidade para intentar a acção de anulação do casamento?
Nos casos de incapacidade por falta da idade núbil, de demência, de interdição ou inabilitação por anomalia
psíquica, têm legitimidade para intentar a acção de anulação do casamento as seguintes pessoas (artigo 67º,
alíneas a), b), c), d), e), do Código da Família):
1. qualquer dos cônjuges;
2. o Ministério Público;
3. o cônjuge do anterior casamento, no caso de bigamia;
4. os pais, os adoptantes ou o tutor, nos casos de menoridade e interdição ou inabilitação por anomalia
psíquica;
5. outras pessoas cujo interesse na anulação seja juridicamente protegido.
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O prazo que a lei estipula para a acção de anulação do casamento, é segundo o art.(Artigo 70º nº1, alíneas
a) e b), do Código da Família)os casos de incapacidade por falta de idade núbil, por interdição ou
inabilitação por anomalia psíquica ou notória, quando proposta próprio incapaz, o prazo é até ano após ter
atingido a maioridade)" lhe ter sido levantada a inter ou inabilitação ou de a demência ter cessado.
A acção de anulação do casamento fundada em impedimento absoluto pode ser instaurada nos seguintes

Nos casos de incapacidade por falta de idade Nos casos de casamento ou união facto legalmente
núbil, por interdição ou inabilitação por reconhecida, enquanto não for dissolvido o casamento
anomalia psíquica ou demência notória, quando a união anterior. Se houver bigamia prazo neste caso
proposta por outra pessoa, o prazo é dentro é a qualquer tempo, mas nunca depois de decorridos
dos dois anos seguintes à celebração do d anos da dissolução do casamento Impedimentos
casamento, mas nunca depois da maioridade, do relativos — são mais propriamente ilegitimidades que
levantamento da interdição ou inabilitação ou impedem a celebração do casamento com determinada
da cessação da demência. pessoa ou categorias de pessoas.

prazos:

São exemplos de impedimentos matrimoniais relativos (artigo 26º do Código da Família):


1 —O parentesco e a afinidade na linha recta.
2 — O parentesco no segundo grau da linha colateral.
3 — A pronúncia do nubente como autor ou cúmplice de homicídio doloso contra o cônjuge do outro,
enquanto não houver absolvição.
O casamento em todas estas situações é anulável (artigo 65º alínea a), do Código da Família).
Quem tem legitimidade para intentar a acção de anulação do casamento, nestes casos?
Têm legitimidade para intentar a acção de anulação do casamento as seguintes pessoas (artigo 67.º, alíneas
a), b), e) do Código da Família):
a) qualquer dos cônjuges;
b) o Ministério Público;
c) outras pessoas cujo interesse na anulação seja juridicamente protegido.

O prazo que a lei estipula para a acção de anulação do casamento:


(Artigo 7º nº 1, alíneas b) e c), do Código da Família)
A acção de anulação do casamento fundada em impedimentos relativos pode ser instaurada nos seguintes
prazos:
A qualquer tempo, nos casos de parentesco por laços de sangue ou por adopção em linha recta ou no
segundo grau da linha colateral.
No caso de condenação por homicídio contra o cônjuge de um dos nubentes, o prazo é até dois anos depois
da celebração do casamento.
Impedimentos matrimoniais impedientes — são aqueles que impedem a celebração do casamento, mas não
determinam a sua anulabilidade. Caso o casamento venha a ser celebrado, os cônjuges sujeitam-se a sanções
de carácter económico. Não há aqui incapacidades, mas antes proibições legais de contrair o casamento,
sob pena de sanções.
São exemplos de impedimentos impedientes:
A falta de autorização dos pais ou do tutor para o casamento de menores (artigo 24.0 do Código da Família);

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o parentesco no 3.º grau da linha colateral (por exemplo, o casamento entre tios e sobrinhas ou de tias com
sobrinhos).
Autorizada a celebração do casamento, o prazo internupcial deve ser celebrado dentro de 1 a 80 dias (artigo
31º do Código da Família).

O mútuo consentimento
O casamento é um contracto verbal, mas solene, em que o consentimento dos nubentes é exprimido por
palavras que eles pronunciam no momento da cerimónia (artigo 32.º do Código da Família).

O consentimento dos nubentes deve ser puro e simples, não devendo ser aposta ao casamento qualquer
condição ou termo.
Por exemplo: a Maria diz que só casa com o Manuel se ele daqui a dois anos lhe der um carro, caso contrário
não casa.
O casamento exige o consentimento de ambos os nubentes. Não havendo vontade de casar da parte de um
dos nubentes ou de ambos os nubentes e sem que esta vontade tenha sido manifestada nos termos da lei,
não pode haver um casamento válido. É o consentimento dos nubentes que valida o casamento.
O casamento simulado
O casamento simulado por parte de um ou ambos o nubente é anulável. (artigo 65.º, alínea b), do Código
da Família).
Simulação
Diz-se que o casamento é simulado quando, por acordo entre duas pessoas (por exemplo os nubentes), e no
intuito de enganar terceiros, existe divergência entre a vontade real e a vontade declarada.
Por exemplo: o Casamento simulado para um dos nubentes obter nacionalidade estrangeira, para pôr termo
a uma situação perigosa, ou para contornar uma disposição da lei, etc.
Devemos ainda referir que o consentimento deve ser livre e é necessário que se verifiquem as seguintes
situações:
a vontade dos nubentes tenha sido esclarecida, ou seja, formada com perfeito conhecimento das coisas, sem
qualquer erro; a vontade se tenha formado com liberdade exterior, ou seja, sem a pressão de
violências ou ameaças, ou coacção.
A relevância do erro no casamento depende dos seguintes pressupostos:
É necessário que 0 erro recaia na qualidade essencial da pessoa do Outro Cônjuge (por exemplo, o estado
civil Ou religioso do outro cônjuge, a nacionalidade, a sua impotência ou 0 facto de ser portador de doenças
incuráveis e que sejam hereditárias ou contagiosas);
O erro deve ser próprio;
O erro seja desculpável;
> O erro deve versar sobre uma circunstância que tenha sido decisiva ou determinante na formação da
vontade, de tal modo que, se o erro não existisse e o sujeito tivesse um conhecimento exacto dessa
circunstância, não teria querido casar.
A relevância da coacção no casamento depende dos seguintes pressupostos:
> A coacção deve ser essencial ou determinante da vontade, ou seja, é preciso que o casamento tenha sido
concluído por causa da ameaça ou do temor.
> Deve existir intenção de extorquir a declaração.
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> A cominação (ameaça) deve ser injusta e ilícita.


Os efeitos do casamento nestas situações
O casamento é anulado quando celebrado por parte de um ou de ambos os nubentes com falta ou vício da
vontade (erro, coacção, simulação).
A acção de anulação do casamento pode ser intentada pelo cônjuge cuja vontade faltou, ou foi vítima de
erro ou coacção, mas podem prosseguir nela os seus parentes na linha recta e os seus herdeiros, se o autor
falecer na pendência da causa.
A acção de anulação por simulação pode ser proposta pelo Ministério Público ou pelas pessoas prejudicadas
com o casamento.
A acção de anulação do casamento pode ser instaurada até dois anos após a celebração do casamento,
(Artigo 70.º, n.º 1, alínea b), do Código da Família).
2. Forma do acto do casamento
O casamento é público e solene e é celebrado em português ou em qualquer das línguas nacionais.
No acto do casamento, os nubentes devem ser esclarecidos sobre os direitos e deveres recíprocos dos
cônjuges e dos deveres para com os filhos.
O casamento deve ser celebrado em salas condignas dos órgãos do Registo Civil, dos comissariados ou de
instituições de carácter cultural ou recreativo legalmente reconhecidas.
Os nubentes podem pedir a celebração do casamento em residências, mas é necessária uma autorização do
órgão do Registo Civil. Nos meios rurais podem ser adoptadas formas de celebração que se moldem aos
condicionalismos locais.
No acto de celebração do casamento é essencial a intervenção das seguintes pessoas (artigo 34.º do Código
da Família): dos nubentes, podendo um deles ser representado por procurador; do funcionário do registo
civil e; > de duas testemunhas.
No acto da celebração do casamento pode um dos nubentes declarar que adopta o apelido do outro, ou
podem ambos optar pela adopção de um apelido comum, a partir do apelido dos dois.
Este direito ao apelido cessa no caso de dissolução do casamento. Mas no caso de dissolução do casamento
por morte, o cônjuge sobrevivo mantém o direito ao uso do nome, enquanto não contrair novo casamento.
Por exemplo: o Manuel Teixeira Martins casa com a Rosa Maria da Silva. No acto da celebração, a Rosa
pode adoptar o apelido do Manuel e passa a chamar-se Rosa Maria da Silva Martins.
O casamento é anulado se no acto da celebração faltarem as duas testemunhas que são exigidas por lei.
A acção de anulação pode ser intentada pelo Ministério Público. O prazo para instaurar a acção de anulação,
nesta situação, é até dois anos depois da celebração do casamento.
Por exemplo: a Maria casa com o Manuel, mas no acto da celebração faltaram as duas testemunhas. O
casamento neste caso é anulado.
Pode, se a falta das duas testemunhas for devida a circunstâncias atendíveis, e, como tal, reconhecidas pelo
Ministério da Justiça, desde que não haja dúvida sobre a celebração do casamento.
Assim, considera-se sanada a anulabilidade e válido o casamento, desde o momento da sua celebração.
2.1. Processo preliminar (declaração inicial, oposição ao casamento, despacho final)
As formalidades a cumprir antes da celebração do casamento são várias e constituem um seguimento de
actos, a que se chama processo de casamento ou processo preliminar.

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Nos termos do artigo 28.º do Código da Família, a capacidade matrimonial dos nubentes é comprovada
mediante processo preliminar organizado, perante o órgão de Registo Civil competente.
O primeiro passo no processo preliminar é a declaração inicial ou declaração para casamento (artigo 29.º
do Código da Família).
Quem quiser casar tem de declarar o casamento perante o funcionário do Registo Civil, pessoalmente ou
através de procurador e requerer a instauração do referido processo.
A declaração para casamento pode ser feita em documento assinado pelos nubentes ou pelo funcionário do
Registo Civil.
Segundo o disposto no artigo 29.º do Código da Família, a declaração para casamento é prestada sob
juramento, e a falsa declaração faz incorrer o nubente em responsabilidade criminal e civil. Refere, ainda,
este artigo que os nubentes que optem pelo regime da separação de bens devem declará-lo expressamente
na declaração inicial.
Depois da declaração inicial para o casamento, segue-se a afixação de edictal à porta da repartição
organizadora do processo, onde, pelo menos, um dos nubentes tenha residência. A afixação de edictal tem
como primordial objectivo tornar pública a vontade de duas pessoas casarem, de forma que quem tiver
conhecimento de algum impedimento o possa declarar o mais depressa possível.
Se algum dos nubentes residir fora da área da repartição organizadora do processo, o conservador remete
uma cópia do edital para a repartição dessa residência para ser afixada.
Decorrido o prazo dos editais, o funcionário que os fixou terá de lavrar no dia seguinte um certificado onde
conste que foram cumpridas as formalidades da lei e de que não foi declarado qualquer impedimento,
juntando o certificado ao processo preliminar ou remetendo-o à repartição competente.
Acabado o prazo das publicações e efectuadas todas as diligências necessárias, deve o conservador lavrar
despacho final, autorizando os nubentes a celebrar o casamento ou mandando arquivar o processo por não
se terem reunido os necessários requisitos legais.
O processo preliminar de publicações termina com o despacho final. Contudo, poderão surgir os chamados
incidentes do processo, entre os quais os seguintes:
> No caso de haver impedimentos impedientes (como, por exemplo, falta de autorização dos pais ou do
tutor para o casamento de menores), é necessário obter dispensa ou remover esses impedimentos, para o
conservador lavrar despacho final favorável ou passar o certificado.
> Se os nubentes quiserem celebrar o casamento em conservatória diferente daquela onde correu o processo
preliminar, o conservador remeterá oficiosamente a essa repartição um certificado, em que declare que os
nubentes podem contrair casamento.
Podem ser denunciados impedimentos, sendo este o mais importante incidente do processo. A existência
de impedimentos pode ser declarada por qualquer pessoa até ao momento da celebração do casamento,
sendo a declaração obrigatória para os funcionários do Registo Civil (artigo 3º0º do Código da Família).
Verificados os pressupostos legais, cabe ao funcionário do Registo Civil autorizar, por despacho, a
celebração do casamento. O casamento deve ser celebrado dentro do prazo de 180 dias (artigo 31.º do
Código da Família).
Se não for celebrado dentro desse prazo, é necessária nova publicação de editais e a junção de novos
atestados de residência e de outros documentos necessários.
Na celebração devem estar presentes os nubentes, podendo ser um deles representado por um procurador,
um funcionário do Registo Civil e por duas testemunhas (artigo 34.º do Código da Família).
A cerimónia da celebração deve ser pública. O funcionário lê a declaração para casamento e o despacho
final ou o certificado e pergunta às pessoas presentes se conhecem algum impedimento à realização do
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casamento. Não havendo nenhum impedimento, 0 funcionário pergunta aos nubentes se aceitam o outro
para seu cônjuge.
À celebração do casamento segue-se o registo do casamento. O acto do casamento está obrigatoriamente
sujeito a registo civil (artigo 38.º do Código da Família) - O sentido desta obrigatoriedade deve-se ao facto
de o registo ser a única prova legalmente admitida dos mencionados actos ou factos que não poderão ser
invocados enquanto não for lavrado o respectivo registo do casamento, quer pelas pessoas que casaram,
quer pelos herdeiros, quer por terceiros. O registo faz prova de todos os factos nele contidos.
1 — São lavrados por inscrição os assentos de casamento celebrados em Angola e os celebrados no
estrangeiro perante agente diplomático ou consular angolano e assinado logo após a celebração do acto
solene.
2 — São lavrados por transcrição os seguintes assentos:
> o assento de casamento urgente;
> o assento de casamento de angolanos no estrangeiro, celebrado segundo a lei do lugar da celebração ou
perante agente diplomático ou consular estrangeiro;
> o assento mandado lavrar por decisão judicial;
o assento do casamento canónico celebrado em conformidade com as normas do Registo Civil, antes da
entrada em vigor da Lei n.º 11/85, de 28 de Outubro;
> o assento de casamento que deve ser transcrito de outra repartição do Registo Civil ou de representação
diplomática ou consular.
Os assentos devem ser lidos na presença de todas as pessoas que nele intervierem e assinados logo após a
leitura, perante as partes intervenientes no acto, pelo funcionário e pelas testemunhas, não podendo haver
alterações no referido texto depois de assinarem. Está aqui implícito o princípio da inalterabilidade, não
estando posta de parte a possibilidade de o registo ser rectificado, podendo esta rectificação ser averbada
ao assento e ser introduzida no texto mediante novo registo e cancelamento do anterior.
A omissão do registo do casamento só pode ser suprida por decisão judicial, apurada a prova de existência
de casamento (artigo 42º do Código da Família). Idêntico regime vale para o caso de perda do registo.
O registo do casamento pode ser declarado inexistente ou nulo, designado por falsidade, como também
pode ser cancelado, aplicando-se em todos estes casos as normas referentes ao registo civil. Convém ainda
referir que o registo tem efeitos retroactivos (princípio da retroactividade).
Casamentos urgentes e quais as suas especificidades
Os pressupostos legais para haver casamento urgente são os seguintes: Quando haja fundado receio de
morte próxima de algum dos nubentes, ainda que derivada de circunstâncias externas.
Quando haja iminência de parto.
Para a celebração do casamento urgente não é necessária a constituição do processo preliminar nem a
presença do funcionário do Registo Civil.
As formalidades preliminares são as seguintes: Há uma proclamação oral e escrita que é feita à porta da
casa onde se encontram os nubentes, pelo funcionário do Registo Civil ou por qualquer pessoa presente.
Não é necessária publicação prévia dos editais nem intervenção do procurador.
> Na celebração do casamento é precisa uma declaração expressa do consentimento de cada um dos
nubentes, perante quatro testemunhas.
> Deve ser, ainda, redigida uma acta do casamento a seguir à celebração do mesmo, assinada por todos os
intervenientes que saibam e possam escrever.
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Com base nesta acta, o procurador deve lavrar um assento provisório do casamento, o qual é lavrado por
transcrição e assinado por duas testemunhas presentes no acto da celebração.
Se o processo preliminar já estiver organizado e concluído, o conservador enunciará o despacho final, que
deverá declarar se homologa (confirma, aprova) ou não o casamento.
2.2. Anulabilidade do casamento
Os casos de anulabilidade estão previstos no artigo 65.º e seguintes do Código da Família. São anuláveis:
1 — Os casamentos contraídos com falta da idade núbil, ou seja, não sendo os nubentes maiores de 18 anos
de idade (artigo 24.º do Código da Família).
2 — Os casamentos contraídos com impedimentos dirimentes (falta de idade nupciais, demência notória,
interdição ou inabilitação por anomalia psíquica, casamento anterior não dissolvido, parentesco na linha
recta, parentesco no 2.º grau da linha colateral, afinidade na linha recta e condenação por homicídio doloso
contra o cônjuge do outro, enquanto não houver absolvição).
3 — Os casamentos celebrados com falta da vontade por parte de um ou de ambos os nubentes
(incapacidade acidental) ou outra causa que determine a falta de consciência do acto, erro acerca da
identidade física do outro contraente, coacção física e simulação).
4 — Os casamentos em que tenha havido vício da vontade juridicamente relevante (erro-vício e coacção
moral).
5 — Os casamentos celebrados sem a presença das duas testemunhas exigidas por lei.
O regime da anulabilidade já foi descrito no nosso estudo, em relação a cada caso em que opera a
anulabilidade do casamento.
Vamos fazer uma recapitulação muito breve.
A acção de anulação só pode ser proposta por certas pessoas (artigo 67.º do Código da Família) e dentro de
certos prazos (artigo 70.º do Código da Família), considerando-se sanada a anulabilidade em certas
hipóteses (artigo 73.º do Código da Família).
Legitimidade para intentar a acção de anulação do casamento
1 — No caso de faltar a idade núbil e se se verificar algum do impedimento dirimente (relativos ou
absolutos), podem intentar a acção de anulação:
> qualquer dos cônjuges;
o Ministério Público;
> o cônjuge do anterior casamento, no caso de bigamia;
> os pais, adoptantes ou tutores, nos casos de interdição ou inabilitação por anomalia psíquica;
> outra pessoa cujo interesse na anulação seja juridicamente protegido.
2 — No caso de o casamento ser celebrado por parte de um ou de ambos os nubentes com falta ou vício da
vontade, a acção de anulação pode ser intentada: pelo cônjuge cuja vontade faltou ou foi vítima de erro ou
coacção, mas podem prosseguir na acção de anulação os seus parentes na linha recta e os seus herdeiros, se
o autor falecer na pendência da causa.
3 — Nos casos de os casamentos celebrados sem a presença obrigatória de duas testemunhas, a acção de
anulação pode ser intentada pelo Ministério Público.
Qual é o prazo para ser instaurada a acção de anulação do casamento?
1 — A acção de anulação do casamento pode ser instaurada, nos casos de incapacidade, por falta de idade
núbil, por interdição ou inabilitação por anomalia psíquica ou por demência notória, quando, proposta pelo
próprio incapaz, até um ano, após ter atingido a maioridade ou lhe ter sido levantada a interdição ou
inabilitação, ou a demência ter cessado.
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Quando a acção for proposta por outra pessoa, o prazo para instaurar a acção de anulação terá de ser dentro
dos dois anos seguintes à celebração do casamento, mas nunca depois da maioridade, do levantamento da
interdição ou inabilitação ou da cessação da demência.
2 — Nos casos de falta ou vício da vontade, da condenação por homicídio contra o cônjuge e um dos
nubentes, o prazo é de dois anos depois da celebração do casamento.
3 — A acção de anulação pode ser instaurada, a qualquer tempo, nos casos de parentesco por laços de
sangue, ou por adopção, em linha recta ou no 2.0 grau da linha colateral, nos casos de bigamia, mas nunca
depois de decorridos dois anos da dissolução do casamento.
Quais são as consequências da anulação?
O casamento anulado, quando contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, produz os seus efeitos em relação
a estes e a terceiros até ao trânsito em julgado da sentença. Se apenas um dos cônjuges tiver contraído o
casamento de boa-fé, só a esse cônjuge podem aplicar-se os benefícios do casamento e só esse cônjuge
pode opô-lo a terceiros. boa-fé (Artigo 72.º do Código da Família).
Considera-se que o cônjuge estava de boa-fé, quando tenha contraído o casamento na ignorância
desculpável do vício causador da anulabilidade ou cuja declaração de vontade tenha sido extorquida por
coacção física ou moral. Por exemplo: a Maria só casou com o Manuel porque este a ameaçou de morte e
de fazer mal à sua família.
O que se entende por má-fé? (Artigo 72.º, do Código da Família) Quando o cônjuge no momento da
celebração do casamento tem conhecimento da existência de alguma causa de anulabilidade.
Por exemplo: o Bento sabia aquando da celebração do casamento) que a Maria era casada com outro homem
e mesmo assim casou com ela.
Considera-se sanada a anulabilidade e válido o casamento desde o momento da celebração, se antes de
transitar em julgado a sentença de anulação ocorrer algum dos seguintes factos:
> Ser o casamento do menor não núbil confirmado por este perante o funcionário do Registo Civil e de
duas testemunhas, depois de atingir a maioridade;
Ser o casamento do interdito por anomalia psíquica confirmado por este perante o funcionário do Registo
Civil e de duas testemunhas, depois de ter sido levantada a interdição ou inabilitação ou, no caso de
demência, depois de se verificar judicialmente o seu estado de sanidade mental;
> Ser anulado o anterior casamento do bígamo;
> Ser a falta de requisitos formais devida a circunstâncias atendíveis, como tais reconhecidas pelo
Ministério da Justiça, desde que não haja dúvida sobre a celebração do acto do casamento.
3. Efeitos pessoais do casamento
Estudado o casamento como acto, vamos passar a estudar o casamento como estado. E estudar o casamento
como estado é estudar os efeitos do casamento: o estado de casado define-se em função dos efeitos que o
casamento traz para quem contrai o casamento. Uma pessoa casa e depois é juridicamente "outra pessoa",
ou seja, é outra a condição da sua pessoa, como também é outra a situação dos seus bens. Sobre a matéria
dos efeitos do casamento vão ser estudados em primeiro lugar os efeitos pessoais do casamento e depois os
efeitos patrimoniais do casamento.
3.1. Princípios reguladores das relações conjugais
(igualdade de direito e deveres; decisão comum)
Em consonância com o artigo 29.º da Constituição da República de Angola, O artigo 21.º do Código da
Família enuncia os princípios da igualdade de direitos e deveres dos cônjuges e da direcção conjunta da

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família. São os cônjuges que de comum acordo devem orientar a vida familiar, tendo sempre em conta o
bem da família e os interesses de um e de outro.
No caso de haver desacordo entre os cônjuges, não há na lei qualquer critério para resolver o conflito, não
podem os cônjuges solicitar uma acção judicial (a menos que um deles viole os seus deveres conjugais,
como adiante veremos). Estes conflitos têm de ser resolvidos dentro da família. Os cônjuges têm de acordar
entre si sobre a orientação da vida familiar. Por exemplo: pode cada um dos cônjuges, sem ter de ouvir o
outro, vestir-se ou pentear-se como quiser, escolher o partido político, etc.
3.2. Poderes e deveres matrimoniais (de respeito, de fidelidade, de coabitação, de
cooperação e de assistência)
A plena comunhão de vida importa aos cônjuges um conjunto de deveres que devem ser observados por
ambos. Os mais característicos são os deveres de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e de
assistência (artigo 43.º do Código da Família).
• O dever de fidelidade:
Os cônjuges têm o dever de guardar mutuamente fidelidade conjugal. A violação deste dever tem o nome
de adultério (que para existir tem de haver relações íntimas consumadas entre um dos cônjuges e uma
terceira pessoa).
• O dever de coabitação:
Implica comunhão de leito, mesa e habitação. O cumprimento deste dever pressupõe uma residência
comum. Segundo o artigo 44.º do Código da Família, os cônjuges devem viver juntos e escolher de comum
acordo a residência da família, devendo ponderar as exigências da sua vida profissional e os interesses dos
filhos.
O dever de assistência:
Este dever compreende os dois deveres referidos nos artigos 45.º e 46.º do Código da Família: prestação de
alimentos e contribuição para os encargos da vida familiar. Segundo o artigo 45.º do Código da Família, o
dever de assistência importa para os cônjuges a obrigação de participar solidariamente em todos os actos
da vida familiar e de contribuir para os encargos da vida familiar e a de comparticipar nos trabalhos
domésticos.

Em relação ao dever de contribuição para os encargos da vida familiar devem cumprir essa obrigação de
harmonia com as possibilidades de cada um. Se assim não for, qualquer dos cônjuges pode exigir que o
cônjuge faltoso seja condenado pelo tribunal a entregar o valor que for considerado adequado.
O dever de cooperação
Este dever está consagrado no artigo 45.0 do Código da Família: "O dever de cooperação importa para os
cônjuges a participação solidária em todos os actos da vida familiar, a contribuição para os encargos da
vida familiar e a comparticipação nos trabalhos domésticos." Trata-se, no fundo, de um dever jurídico que
a lei impõe aos cônjuges. O desinteresse por qualquer um dos cônjuges deste dever constitui um ilícito
conjugal, podendo ser pedido o divórcio ou a separação judicial de pessoas e bens.
O dever de respeito
Cada cônjuge tem o especial dever de respeitar os direitos individuais do outro, os deveres conjugais que
são atribuídos por lei e os seus interesses legítimos. Deste modo, não só deve considerar-se que o
desrespeito é uma conduta reprovável como deve entender-se que a ofensa dos direitos individuais ou
conjugais, quando feita pelo outro cônjuge, merece um mais profundo e intenso juízo de desvalor ou
descrédito do que quando tal ofensa for praticada por um estranho ao casal.

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4. Efeitos patrimoniais do casamento


Os efeitos patrimoniais do casamento dependem do regime de bens convencionado. Porém, há
determinados efeitos patrimoniais que são os mesmos, qualquer que seja o regime de bens do casamento.
Em primeiro lugar, é preciso fazer uma distinção entre a administração de bens próprios e a administração
dos bens comuns.
Nos bens próprios, cada cônjuge administra os seus próprios bens.
Nos bens comuns, propriedade de ambos, já a administração dos bens é conjunta, ou seja, ambos os
cônjuges administram os bens.
4.1. Regime económico no código da família (comunhão de adquiridos e separação de
bens)
Os nubentes podem contrair casamento, quer segundo o regime de comunhão de adquiridos quer segundo
o regime de separação de bens. Porém, a opção por este último regime deve ser feita na declaração inicial
e confirmada pelos nubentes no acto da celebração. Regime de comunhão de adquiridos Este regime
implica, simultaneamente, duas situações:
I — A comunhão de certos bens (a maior parte dos bens adquiridos depois do casamento, incluindo o
produto do trabalho dos cônjuges).
Por exemplo: a Maria e o Manuel casaram no regime de comunhão de adquiridos. Ambos trabalham. Os
salários recebidos por qualquer dos cônjuges durante o casamento constituem património comum do casal.
2 — A separação de outros bens, que ficam como se rios dos cônjuges ( que já tinham aquando da
celebração do casamento, ou bens que lhes surgiram depois do casamento), por doação, ou bens adquiridos
depois do casamento mas considerados como bens próprios do casal).
por exemplo: A Maria casou com o Manuel no regime de comunhão de adquirida. AI:x5s dois anos de
casamento, a Maria recebeu uma doação do seu pai. A doação constitui um bem próprio da Maria.
Por ex—o: a Maria casou com o Manuel no regime de comunhão de adquiridos. Mas antes do casamento,
a Maria já tinha em sua posse uma casa de férias. Neste caso, a casa de férias é considerada um bem próprio
da Maria.
Quais são os bens comuns dos cônjuges de comunhão de adquiridos?
(Artigo 51.º do Código da Família) Os bens comuns dos cônjuges no regime de comunhão de adquiridos
são os seguintes:
Os bens e direitos adquiridos a título oneroso, durante a constância casamento;
> Os salários, as pensões ou quaisquer outros frutos, recebidos qualquer um dos cônjuges durante o
casamento.
(Os bens precários de cada um dos cônjuges no regime de comunhão de adquiridos são os seguintes (Artigo
52.0 do Código da Família):
Os bens móveis e imoveis e os direitos que cada um dos cônjuges tiver antes do casamento; os bens e
direitos adquiridos por cada um dos cônjuges durante o casamento, a título gratuito;
Os direitos de autor, os prémios e as recompensas recebidos, que resultam da actividade pessoal de cada
um dos cônjuges; os bens adquiridos em virtude de direito pessoal de cada um dos cônjuges;
> Os bens de uso pessoal e objectos de trabalho exclusivos de cada um dos cônjuges. Regime de separação
de bens é o regime que se traduz numa autonomia dos bens que cada um dos cônjuges leva para o casamento
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ou adquire durante o casamento. Neste regime, os cônjuges têm liberdade de disposição e livre
administração dos bens de que é exclusivo dono e proprietário. Não há bens comuns, mas sim bens em
compropriedade (bens de que ambos os cônjuges sejam comproprietários).
Por exemplo: a Maria casou com o Manuel no regime de separação de bens. Antes do casamento, a Maria
tinha uma casa, um carro e várias lojas. Depois do casamento, a Maria comprou um armazém e mais uma
loja. Neste caso tanto os bens adquiridos antes do casamento como os bens adquiridos depois do casamento
são bens próprios da Maria.
Neste regime, cada um dos cônjuges conserva o domínio e a fruição dos seus bens presentes e futuros,
podendo dispor deles livremente. Porém, em relação aos bens móveis, em caso de dúvida, devem ser
considerados como pertencentes em compropriedade a ambos os cônjuges (artigo 53.0 do Código da
Família).
O que significa compropriedade?
A compropriedade é uma modalidade do direito de propriedade em que há uma pluralidade de titulares do
direito sobre a mesma coisa.
Por exemplo: em caso de dúvida sobre a posse de um computador ou de um carro, devem estes ser
considerados como pertencentes a ambos os cônjuges.
Vamos passar a analisar a administração dos bens dos cônjuges.
1 — Dos bens móveis, próprios do outro cônjuge ou comuns, por ele exclusivamente utilizados como
instrumento de trabalho.
2 — Os bens próprios do outro cônjuge, se este se encontrar ausente, ou por qualquer motivo impedido de
os administrar.
Nestes dois casos (pontos 1 e 2), o cônjuge que administra os bens comuns ou próprios do outro não é
obrigado a prestar contas da sua administração. Pode, contudo, ser responsabilizado pelos actos que
praticar, intencionalmente ou com grave negligência, em prejuízo do outro cônjuge ou do casal.
Por exemplo: a Maria e o Manuel são casados no regime de separação de bens.
A Maria trabalha numa loja, que lhe pertence. A Maria, entretanto, adoeceu, e o Manuel ficou a administrar
a sua loja. Num belo dia o Manuel ingeriu bebidas alcoólicas em excesso e, por força disso, resolveu partir
vários objectos da loja, causando prejuízos elevados à Maria. O Manuel deve indemnizar a Maria do valor
desses prejuízos.
Alienação ou oneração de bens (artigo 56.º do Código da Família) Cada um dos cônjuges tem legitimidade
para alienar ou onerar, por actos entre vivos, os bens próprios ou comuns de que tenha a administração,
excepto os bens móveis próprios do outro cônjuge ou comuns por ele utilizados como instrumento de
trabalho e os bens próprios do outro cônjuge quando este se encontra ausente ou, por qualquer motivo,
impedido de os administrar.
Todavia, só podem ser alienados ou onerados, com o acordo de ambos os cônjuges, tanto no regime de
comunhão de adquiridos como no regime de separação de bens, os seguintes bens:
> os bens próprios de um cônjuge utilizados exclusivamente pelo outro cônjuge como instrumento de
trabalho;
> os bens móveis próprios ou comuns utilizados em conjunto pelos cônjuges na vida do lar ou como
instrumento comum de trabalho.
Esta regra aplica-se para os bens imóveis?
Não, pois, se vigorar entre os cônjuges o regime de separação de bens, cada um dos cônjuges pode dispor
livremente dos seus bens imóveis.
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Nos casos em que, sendo necessário o acordo dos cônjuges, a alienação ou oneração dos bens é efectuada
sem o consentimento de um deles, o que acontece? (Artigo 60.0 do Código da Família). O cônjuge (ou seus
herdeiros) que não deu o seu acordo pode requerer a anulabilidade dos actos praticados.
O direito da anulação deve ser exercido no prazo de um ano a partir a aa em que o requerente teve
conhecimento do seu acto mas nunca depois de decorridos três anos sobre a sua celebração.
Convém ainda referir que no caso de alienação ou oneração de móveis, não sujeitos a registo, é necessário
o acordo de ambos os cônjuges.
A anulabilidade do acto não poderia ser aposta ao adquirente de boa-fé, ou seja, à pessoa que adquiriu o
bem móvel, estando de boa-fé, não poderia depois alguém reclamar o bem a essa pessoa.
Residência de família (artigo 57.º do Código da Família)
No caso da residência da família, qualquer que seja o regime de bens, carece do consentimento de ambos
os cônjuges, nomeadamente, o seguinte:
A alteração por mútuo consentimento e a resolução ou denúncia do contracto do arrendamento pelo
arrendatário;
> a cessão da posição de arrendatário;
o subarrendamento ou o empréstimo total ou parcial.
E se um dos cônjuges não dá o seu acordo? (Artigo 60.º do Código da Família)
O cônjuge (ou seus herdeiros) que não deu o seu acordo pode requerer a anulabilidade dos actos praticados.
Qual é o prazo?
O direito da anulação deve ser exercido no prazo de um ano, a partir da data em que o requerente teve
conhecimento do seu acto, mas nunca depois de decorridos três anos sobre a sua celebração.
Aceitação de doações, sucessões, repúdio da herança ou do legado (artigo 58.0 do Código da Família)
Os cônjuges não necessitam do consentimento do outro para aceitar doações, heranças ou legados.
Em relação ao repúdio da herança ou legado, o mesmo só pode ser feito por acordo de ambos os cônjuges,
salvo se vigorar entre eles o regime de separação de bens.
Por exemplo: a Maria é casada com o Manuel no regime de comunhão de bens.
A Maria recebe uma herança, mas não a aceita. Neste caso, a Maria terá de ter o acordo do Manuel para
não aceitar a herança. Se a Maria fosse casada no regime de separação de bens, já não precisava do acordo
do Manuel.
4.2. DÍVIDAS DOS CÔNJUGES (COMUNS E EXCLUSIVAS) DÍVIDAS DOS
CÔNJUGES
Dívidas comuns (artigo 61.º do Código da Família). São as dívidas que responsabilizam ambos dívidas
exclusivas (artigo 62.º do Código da Família). São as dívidas que são da exclusiva responsabilidade de cada
um dos cônjuges.
os cônjuges. são solidariamente pelas dívidas conjuntas por ambos ou por um para ocorrer a encargos do
familiar, ou em proveito comum do casal.
Os cônjuges são solidariamente responsáveis pelas dívidas contraídas por ambos ou por um deles com o
acordo do outro.
As dívidas contraídas por cada um dos cônjuges sem o acordo do outro.

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As dívidas provenientes de condenação por crimes, as indemnizações, as multas devi- das a factos
imputáveis a cada um dos cônjuges.
Se a dívida foi feita no interesse do casal, considera-se aplicada nos proveitos comuns dos cônjuges. Há
aqui um interesse material ou económico, mas também há um interesse moral ou intelectual.
Por exemplo: É o caso de a dívida ser feita por um dos cônjuges, para o casal comprar alimentos ou realizar
uma intervenção cirúrgica de um filho.
Quais os bens que respondem pelas dívidas dos cônjuges?
I — Se as dívidas são de ambos os cônjuges, respondem os seguintes bens:
Em primeiro lugar, respondem os bens comuns do casal e, na falta ou insuficiência deles, respondem os
bens próprios de cada um dos cônjuges.
No regime de separação de bens, a responsabilidade dos cônjuges é meramente conjunta.
Por exemplo: a Maria é casada com o Manuel no regime de comunhão de adquiridos. O casal tem dívidas.
Neste caso respondem em primeiro lugar os bens comuns do casal. Se os bens comuns não chegarem para
pagar todas as dívidas, respondem os bens próprios de cada um dos cônjuges.
2 —Se as dívidas são da exclusiva responsabilidade de cada um dos cônjuges, respondem os seguintes
bens:
Respondem os bens próprios do cônjuge devedor e, subsidiariamente, os bens Comuns (neste caso, o
cumprimento só é exigível depois de dissolvidos ou anulado o casamento);
> Responde, ao mesmo tempo que os bens próprios do cônjuge devedor, o produto do seu trabalho.
5. A dissolução do casamento
O casamento católico ou civil está "planeado" para ser perpétuo, mas esta tendência não exclui que o
casamento se dissolva, excepcionalmente, quando determinadas circunstâncias se verifiquem. São estas
circunstâncias a que chamaremos causas da dissolução do casamento.
Causas da dissolução (morte e divórcio)
As causas da dissolução do casamento São as seguintes:
1 — A morte de um dos cônjuges;
2 — A declaração judicial da presunção de morte de um dos cônjuges;
3 — O divórcio.
A morte de um dos cônjuges com a morte dissolve-se de imediato o casamento e extingue-se a relação
matrimonial, ou seja, cessam todos os efeitos do casamento, tanto os pessoais corno os patrimoniais. Mas
não é uma regra absoluta. A morte de um dos cônjuges atribui ao cônjuge sobrevivo determinados direitos
que são, ainda, efeitos do casamento.
Por exemplo: o cônjuge sobrevivo continua a poder usar os apelidos do outro, a relação de afinidade
mantém-se depois da dissolução do casamento, etc.
Quais são os efeitos da dissolução do casamento por morte? (Artigo 75.º do Código da Família)
O cônjuge sobrevivo mantém os direitos e os benefícios que haja recebido durante o casamento e realiza se
a partilha do património comum entre o cônjuge sobrevivo e os herdeiros do cônjuge falecido.
Na partilha, o cônjuge sobrevivo tem preferência:
nos bens comuns usados na vida do lar;
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> nos bens comuns usados como instrumento próprio ou comum de trabalho.
As dívidas contraídas com terceiros ou pelos cônjuges entre si serão liquidadas. sucessivamente, pela
mediação do devedor no património comum e pelos bens próprios deste.
É transmitido o direito de arrendamento para o cônjuge sobrevivo.
A declaração judicial da presunção de morte de um dos cônjuges (artigos 76.: e 77.0 do Código da Família):
Qualquer dos cônjuges pode requerer em tribunal a declaração judicial da presunção de morte do outro
cônjuge, decorridos três anos sobre a data das últimas notícias da sua pessoa e desde que existam fortes
indícios de que o cônjuge morreu.
Quais são os efeitos da presunção de morte?
declaração judicial de presunção de morte de um dos cônjuges dissolve casamento, a partir do momento
em que a declaração se torne definitiva.
> Se o cônjuge ausente aparecer e nenhum deles tiver casado, podem ambos dos cônjuges, se desejarem,
requerer judicialmente a revalidação do casamento, como se não tivesse sido dissolvido.
> Se qualquer um dos cônjuges tiver contraído novo casamento, será este considerado válido.

5.1. Modalidade de divórcio (por mútuo acordo e litigioso)


Noção de divórcio:
O divórcio consiste numa inteira ruptura da relação conjugal, da qual os cônjuges ficam desvinculados.
Os fundamentos do divórcio estão previstos no artigo 78.º do Código da Família.
"Os cônjuges podem pedir o divórcio sempre que se deteriorem, de forma completa e irremediável, os
princípios em que se baseava a sua união e o seu casamento tenha perdido o sentido para os cônjuges, para
os filhos e para a sociedade."
As modalidades do divórcio são: o divórcio por mútuo consentimento e o divórcio litigioso.
Divórcio por mútuo consentimento. No divórcio por mútuo consentimento têm de se verificar os seguintes
pressupostos legais (artigo 83.º do Código da Família): O divórcio tem de ser requerido pelos cônjuges;
Os cônjuges têm de estar casados há mais de 3 anos;
Os cônjuges já tenham completado 21 anos de idade;
Os cônjuges devem acordar sobre a prestação de alimentos ao cônjuge que
deles careça, ao exercício do poder paternal relativamente aos filhos menores
e o destino da casa da morada da família, de forma que os interesses dos próprios cônjuges e dos filhos
fiquem acautelados.
Competência para decretar o divórcio por mútuo consentimento (artigo 86.º do Código da Família):
O divórcio por mútuo consentimento pode ser decretado por via judicial ou através do Registo Civil da área
da residência de qualquer dos cônjuges.
Processo de divórcio (artigo 93.º do Código da Família) O requerimento inicial deve ser assinado por ambos
os cônjuges. Este requerimento deve conter os seguintes documentos:
> A certidão narrativa completa do registo de casamento;

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A certidão da idade dos cônjuges;


A relação especificada dos bens próprios e dos bens comuns;
> A certidão do regime de bens adoptado no casamento;
> A junção dos acordos complementares, se os houver, que são os acordos dos cônjuges sobre o exercício
do poder paternal relativamente aos filhos menores, a prestação de alimento ao cônjuge que deles careça, o
destino da casa de morada da família.
Em face do requerimento e reconhecida a viabilidade do pedido pela verificação dos pressupostos legais,
será marcado dia para a conferência dos cônjuges.
Na primeira conferência, a presença dos cônjuges é fundamental, mas se algum deles estiver impossibilitado
de comparecer, pode ser constituído mandatário judicial.
6. A união de facto
Noção

A união de facto pressupõe uma convivência idêntica à dos cônjuges sem que homem e mulher se
encontrem casados, em que terá de haver uma plena comunhão de vida, com certa duração. Segundo o
disposto no artigo 112.º do Código da Família, a união de facto é o estabelecimento voluntário de vida em
comum entre um homem e uma mulher.

6.1. Pressupostos legais

A união de facto só pode ser reconhecida depois de se verificarem os seguintes

pressupostos: a relação deve ter uma duração de três anos de coabitação consecutiva;

> os interessados têm de ter capacidade para a união de facto, não podendo verificar-se nenhum dos
impedimentos matrimoniais previstos no Código da Família (a falta da idade núbil, os impedimentos
absolutos e relativos. devem os interessados dar o seu consentimento. (Artigo 114.º do) Código da Família)
O reconhecimento da união de facto pode ser pedido pelos interessados de mútuo acordo, por um dos
interessados, em caso de morte do outro ou de ruptura. (Artigo 114.º do O reconhecimento da união de
facto a pedido de ambos os interessados é da competência do órgão do Registo Civil da área de residência,
e obedece às seguintes formalidades:

> o pedido é acompanhado dos documentos que comprovem os pressupostos legais;

> a prova de duração da união de facto é feita por testemunhas ou por documento emitido pelo órgão da
administração local;

> os interessados devem indicar o regime económico (comunhão de adquiridos ou separação de bens).

Depois de verificados os pressupostos legais, cabe ao funcionário do Registo Civil reconhecer, por
despacho, a união de facto.

Quais são os efeitos do reconhecimento da união de facto? (Artigo 119.º do Código da Família). O
reconhecimento da união de facto produz os efeitos da celebração do casamento, com efeitos retroactivos
à data do início da união de facto.

O reconhecimento da união de facto está sujeito a registo, que deve ser feito em livro próprio (artigo 120.º
do Código da Família). E também está sujeito ao regime da anulação nos mesmos termos da anulação do
casamento (O reconhecimento da união de facto por morte de um dos interessados ou ruptura da união
(artigo 122º.e seguintes do Código da Família).
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Quem tem legitimidade para intentar e prosseguir a acção de reconhecimento?

> o interessado ou o representante legal em caso de incapacidade do interessado;

> os herdeiros do interessado em caso de morte deste.

Qual o prazo.de caducidade do reconhecimento da união?

O reconhecimento da união de facto caduca no prazo de dois anos depois de acabar a união de facto a
decisão do tribunal que reconheça a união de facto produz os mesmos efeitos da dissolução do casamento
por morte ou por divórcio.

7. A ADOPÇÃO

A adopção é o vínculo que se estabelece entre duas pessoas (adoptante ou adoptantes de um lado e adoptado
do outro), independentemente dos laços de sangue. É uma relação legal de filiação.

Conteúdo legal da adopção

O artigo 197.º do Código da Família estabelece que a adopção visa a protecção social, moral e afectiva do
menor, constituindo, entre o adoptado e o adoptante, um vínculo de parentesco igual àquele que une os
filhos aos pais naturais.

O adoptante é aquele que adopta. O adoptado é aquele que é objecto de uma adopção. Da filiação adoptiva
derivam para o adoptado e para o adoptante os mesmos direitos e deveres que reciprocamente se
estabelecem entre os filhos e os pais. O parentesco derivado da filiação adoptiva é extensivo aos
descendentes do adoptado e aos parentes do adoptante. Por exemplo: o João é adoptado pelo Sr. Martins e
a Sra. Rosa, que têm dois filhos. O João passa a ser irmão dos outros dois filhos dos adoptantes.

7.1. REQUISITOS LEGAIS DO ADOPTANTE E DO ADOPTADO

O adoptante deve reunir cumulativamente os seguintes requisitos legais:

• o adoptante deve ter completado 25 anos e estar no pleno gozo dos seus direitos civis;
• o adoptante deve ter idoneidade moral e bom comportamento social nas relações familiares;
• o adoptante deve ter capacidade económica para sustento e educação do
• o adoptante deve ter saúde mental e física;
• o adoptante deve ter mais de 16 anos do que o adoptado.
Por exemplo: o Manuel quer adoptar uma criança de 5 anos de idade. O Manuel tem 30 anos e está no pleno
gozo dos seus direitos civis, tem idoneidade moral, é bem-comportado na sociedade e nas relações
familiares, tem capacidade económica, mas tem graves problemas de saúde. Nesta situação não é possível
ao Manuel adoptar a criança, porque não reúne todos os pressupostos que são exigidos por lei.

No caso de adopção do filho menor do cônjuge ou do companheiro da união de facto, é necessário que se
verifiquem, cumulativamente, os seguintes requisitos:

• o adoptante deve ter completado 25 anos e estar no pleno gozo dos seus direitos civis;
• o adoptante deve ter idoneidade moral e bom comportamento social nos familiares;
• o adoptante deve ter saúde mental e física.

Os requisitos legais do adoptado


O adoptado deve ter menos de 18 anos de idade e deve encontrar-se numa das
seguintes situações:
> ser filho de pais desconhecidos ou falecidos;
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estar na situação de abandono, mesmo que esteja ou não entregue a estabelecimento de assistência pública.
Considera-se o menor em situação de abandono, quando a família ou os parentes do menor se tenham
desinteressado, notoriamente, do exercício dos seus deveres por um período superior a um ano.
Por exemplo: o João tem cinco anos e foi encontrado em situação de abandono. O João reúne todos os
requisitos exigidos por lei para ser adoptado.

7.2. Consentimento para adopção; autorização para adopção


I —A adopção por consentimento dos pais.
Podem ser adoptados os menores cujos pais naturais ou biológicos consintam na adopção.
2 — O consentimento do adoptado.
O menor que tenha completado IO anos de idade não pode ser adoptado sem o seu consentimento.
3 — A adopção por estrangeiro.
O menor de nacionalidade angolana não pode ser adoptado por um cidadão estrangeiro sem a respectiva
autorização da Assembleia Nacional.

Tipos legais de adopção (dupla e unipessoal)

Existem dois tipos legais de adopção: a adopção dupla e a adopção unipessoal.

A adopção dupla faz extinguir os laços de parentesco entre o adoptado e seus parentes naturais (só devendo
ser atendidos os parentes naturais, no caso de haver algum impedimento matrimonial). O adoptado deixará
de usar os apelidos dos pais naturais, passando a usar somente os apelidos dos adoptantes.

Por exemplo: o João é adoptado pelo Sr. Pedro Martins e pela Sra. Rosa Martins, e passa a chamar-se João
Martins. As relações familiares com os pais naturais acabaram definitivamente, excepto se houver algum
impedimento matrimonial.

A adopção unipessoal é constituída apenas por uma pessoa não casada. Se o adoptante for homem substitui
o pai natural do adoptado e se o adoptante for mulher substitui a mãe natural do adoptado. Cabe ao adoptante
exercer o poder paternal em exclusivo em relação ao adoptado. O adoptado usará os apelidos do adoptante
e os do pai ou da mãe natural com quem permaneça em relações de parentesco.

Por exemplo: o João Ferreira da Silva é adoptado pelo Sr. Pedro Martins, mas as relações de parentesco
permanecem com a mãe natural. O João passa a chamar-se João Ferreira Martins.

A adopção pode ser constituída (artigo 205.0 do Código da Família):

> por ambos os cônjuges, desde que não estejam separados de facto ou por homem e mulher que vivem
união de facto em de ser reconhecida;

> pelo cônjuge, pelo homem e mulher que vivam em união de facto, relativa- mente ao filho do outro;

> individualmente, por pessoa não casada.

7.3. Efeitos da adopção (em relação ao adoptante, em relação ao adoptado, em relação a


familia do adoptado

1 — Os efeitos da adopção em relação ao adoptante são os seguintes:

> O parentesco derivado da adopção é extensível aos parentes do adoptante, ou seja, o adoptado passa a ser
neto dos pais do adoptante, passa a ser sobrinho do irmão do adoptante, etc.

> Incumbe ao adoptante a guarda, vigilância e prestação de cuidados com a saúde do adoptado.

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adoptantes ou o adoptado devem contribuir, de acordo com as suas necessidades, para a educação do filho,
colaborando com a escola e as instituições de apoio à infância e à juventude.

O adoptante deve exercer com responsabilidade os seus direitos e deveres, e deve contribuir com o seu bom
exemplo para a formação do adoptado.

A formação moral e a preparação profissional dos filhos como cidadãos válidos e socialmente úteis
constituem o fim social mais relevante da autoridade paternal.

> A autoridade paternal deve ser exercida por ambos os adoptantes (o pai e a mãe), ou só pelo adoptante
(pai ou mãe). No primeiro caso trata-se de adopção dupla, no segundo caso de adopção unipessoal.

O adoptante tem o dever de diligência e a obrigação de prestar contas, ou seja, devem os pais (adoptantes)
exercer com diligência a administração dos bens do filho (adoptado).

Por exemplo: os adoptantes (pai e mãe) ou o adoptante (pai ou mãe) devem pôr o filho a estudar,
acompanhá-lo nos estudos, dar-lhe uma boa alimentação, comprar roupa sempre que ele necessite, etc.

— Os efeitos da adopção em relação ao adoptado são os seguintes:

O adoptado tem o dever de respeito, de cuidados e assistência aos pais (adoptantes).

> No caso de adopção dupla (pai e mãe), o adoptado deixa de usar os apelidos dos pais naturais e passa a
usar só os apelidos dos adoptantes.

> No caso de adopção unipessoal, o adoptado passa a usar os apelidos do adoptante, e os do pai ou da mãe
natural com quem permaneça em relações de parentesco.

O adoptado passa a ser filho dos adoptantes, o que resulta para o adoptado nos mesmos direitos e deveres
que reciprocamente se estabelecem entre os pais e os filhos.

3 — Os efeitos da adopção em relação à família natural são os seguintes:

> Extinguem-se com a adopção os laços de parentesco entre o adoptado e seus parentes naturais. O adoptado
corta os laços familiares definitiva- mente, excepto no caso de haver algum impedimento matrimonial,
devendo ser atendidos, neste caso, os parentes naturais.

Por exemplo: o João é adoptado pelo Sr. Martins. O João deixa de fazer parte da família dos pais naturais.
Mas se o João um dia casar sem a idade núbil exigida por lei (maior de 18 anos), neste caso os pais naturais
poderão intervir.

Processo da adopção

A adopção constitui-se por sentença judicial proferida em processo de jurisdição voluntária. Será realizado
um inquérito judicial, no qual serão averiguadas as circunstâncias de facto em que se fundamenta o pedido
de adopção. O relatório do inquérito deverá acompanhar o pedido de constituição do vínculo dirigido ao
tribunal competente. O juiz decreta a sentença, descrevido detalhadamente os factos e as circunstâncias em
que se fundamenta e os motivos que determinam a constituição da adopção e decide em relação aos apelidos
do adoptado.

Nos termos do artigo 216.º do Código da Família, a sentença que decrete a adopção pode ser revista, se na
declaração de vontade do adoptante ou dos adoptantes tiver sido viciada por erro ou por coacção moral.

Quais são as formas de consentimento?

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O consentimento à adopção por parte do progenitor natural é de natureza pessoal e deve ser prestado perante
o tribunal ou através de documento autêntico em que se identifique a pessoa do adoptante. Na falta de pais
do menor, o consentimento será prestado perante o tribunal, por ordem de preferência, pelos seus avós,
irmãos maiores ou tios.

Quais são os prazos para a revisão (alteração da decisão judicial) da sentença que decrete a adopção? (Artigo
217.º do Código da Família)

> No caso de erro ou coacção moral, o prazo vai até um ano depois da data da cessação do vicio;

> No caso da falta de consentimento, o prazo vai até um ano depois da data do conhecimento da adopção.

A TUTELA

A lei menciona a tutela nos artigos 220.0 e seguintes do Código da Família.

A tutela é o poder outorgado por lei a pessoas juridicamente capazes para a defesa, guarda, educação,
desenvolvimento e protecção dos interesses pessoais e patrimoniais de menores, ou protecção dos interesses
patrimoniais dos interditos maiores.

Os sujeitos à tutela são:

> Os menores cujos pais não podem exercer o poder paternal.


> Os maiores interditos.
> O menor cujos pais estejam ausentes, desconhecidos ou falecidos.
> O menor, cujos pais não exerçam o poder paternal há mais de um ano. menor cuja adopção tenha sido
revogada.
> O menor a quem os pais estão inibidos (proibidos) de exercer o poder paternal.
> O maior declarado interdito por decisão do tribunal.

A instauração da tutela do menor que se encontre nas situações referidas acima é obrigatória. O tribunal
nomeia o tutor para o menor, considerando sempre os interesses do menor e da sociedade. A tutela pode
recair sobre os parentes ou afins do menor ou de pessoa que tenha o menor a seu cargo.
A aceitação do cargo de tutor é voluntária. Se for impossível a constituição da tutela voluntária, será o
menor declarado abandonado e deverá ser internado em estabelecimento de assistência ou educação,
ficando entregue aos cuidados e a cargo de tutor ao director do estabelecimento.
Para ser nomeado tutor de um interdito deve-se ter em conta os interesses deste e da sociedade e a opinião
do Conselho de Família. Neste caso, a tutela será atribuída preferencialmente pela seguinte ordem:
> ao cônjuge
> aos pais
> aos filhos
> aos avós e aos irmãos
O tutor deve ser maior de idade.
O tutor deve encontrar-se no pieno gozo dos seus #ireitos civis e políticos.
O tutor, pelo seu comportamento moral, profissional e social, deve mostrar-se capaz de educar e defender
os interesses do tutelado (do menor ou interdito maior).
O tutor deve ter uma capacidade económica para poder sustentar o menor ou o interdito maior.
O tutor não deve ter interesses contrários (opostos, incompatíveis) ao do menor ou interdito maior.
O tutor deve administrar o património do tutelado e prestar contas da sua administração.
O tutor deve utilizar os rendimentos do tutelado sempre em seu benefício.
O tutor deve fazer o inventário dos bens do tutelado, quando o tribunal que nomeou o tutor não o tiver feito.
> A remoção (o tutor não cumpre os seus deveres pessoais ou patrimoniais para com o tutelado).

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1. O DIREITO FISCAL

O Direito Fiscal é o conjunto das normas que dizem respeito às receitas públicas, especialmente as que
provêm dos tributos, contribuições e impostos. É o Direito Fiscal que estabelece as prestações patrimoniais
que os cidadãos são obrigados a fazer ao Estado, que estabelece as regras para o seu lançamento, para a sua
cobrança, as situações que determinam as isenções de impostos e, enfim, tudo o que respeita à relação entre
o Estado, enquanto cobrador de impostos, e o cidadão, enquanto pagador dos mesmos.

I- A ACTIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO


As exigências de satisfação das necessidades económicas de carácter público e de obtenção de meios
indispensáveis à respectiva protecção impõem ao Estado e às outras entidades públicas uma actividade
económica com características próprias, a actividade financeira.
A actividade financeira, destinada a assegurar a satisfação das necessidades públicas, abrange,
nomeadamente, a aquisição de meios económicos, o emprego desses meios, a coordenação dos meios
obtidos e das utilidades a realizar.

II- O DIREITO FINANCEIRO


O Direito Financeiro é o ramo de Direito Público que disciplina a aquisição e aplicação dos meios
económicos determinados a satisfazer necessidades públicas, ou seja, é o conjunto dc normas jurídicas que
disciplinam a actividade financeira do Estado e dos demais entes públicos.

Existem três Sectores no Direito Financeiro a saber:


a) O direito das receitas: é constituído por normas que disciplinam a aquisição dos meios patrimoniais
necessários prossecução dos fins do Estado e de Outros entes públicos.
b) O direito das despesas: é constituído por disposições reguladoras da aplicação das das receitas.
c) O direito da administração ou gestão financeira: regula a organização e funcionamento da
administração financeira, e cujo domínio é constituído pelo direito orçamental.

III- O DIREITO TRIBUTÁRIO

O Direito Tributário abrange toda a categoria jurídica financeira dos tributos (impostos, taxas,
contribuições), ou seja, é o direito que define como são cobrados os tributos para gerar receitas para o
Estado.

IV- NATUREZA DO DIREITO FISCAL E SUA


-Relação com outros ramos do direito

O Direito Fiscal insere-se no Direito Público, pois caracteriza-se por normas que disciplinam as relações
entre o Estado e os particulares, tendo por objectivo satisfazer as necessidades colectivas da comunidade
organizada no Estado.
1. O Direito Fiscal e o Direito Constitucional:
No texto constitucional existem preceitos de natureza fiscal.
Estes preceitos ou normas de natureza fiscal fixam os limites, regulam o exercício definem as garantias dos
cidadãos e indicam os fins a prosseguir pelo sistema fiscal.

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O artigo 101º da Constituição estabelece que o sistema fiscal visa a satisfação das necessidades financeiras
do Estado e outras entidades públicas, assegura a realização da política económica e social do Estado e
procede a uma justa repartição dos rendimentos e da riqueza nacional. Os impostos só podem ser criados e
extintos por lei, que determina a sua incidência, as taxas, os benefícios e as garantias dos contribuintes.
A Assembleia Nacional tem competência relativa para legislar na matéria referente à definição do sistema
fiscal e à criação de impostos (artigo 165.0, n.0 1, alínea o), da Constituição).

Compete ainda à Assembleia Geral no domínio político e legislativo aprovar o Orçamento Geral do Estado
(artigo 161º nº 1, alínea e), da Constituição).

2. O Direito Fiscal e o Direito Administrativo:


No caso da organização administrativa fiscal, a administração fiscal constitui a parcela da administração do
Estado a que está confiada a obtenção dos meios financeiros necessários para a realização dos fins do
Estado.
Por exemplo: Há muitos aspectos do Direito Fiscal que são disciplinados pelo Direito Administrativo, como
sucede com a organização dos seus serviços, com a definição das suas atribuições e competências c com a
constituição das relações de emprego público dos seus funcionários e agentes.

3. O Direito Fiscal e o Direito Penal:


Há nestes dois ramos de Direito uma estreita relação no que respeita, nomeadamente, a normas que o Direito
Fiscal abrange e que se destinam a punir os contribuintes que violem os normativos fiscais e, nessa medida,
não cumpram as obrigações nelas estabelecidas, Por exemplo, há infracções fiscais que são punidas com
multa ou coimas, mas existem outras, porque mais graves, que a lei pune como verdadeiros crimes.

4. O Direito Fiscal e o Direito Privado:


Muitas das situações tributárias têm na sua base situações privadas (Direito Civil e Direito Comercial). No
Direito Fiscal, o conceito de obrigação é semelhante ao das obrigações jurídicas privadas.
Por exemplo, existe uma obrigação por parte do credor do imposto (o Estado), de exigir do contribuinte
determinada prestação pecuniária e existe uma obrigação do contribuinte que é o dever de realizar essa
prestação.
Por outro lado, o Direito Fiscal liga a obrigação de imposto à prática de certos actos, ao exercício de
determinadas actividades que são disciplinados pelo Direito Privado.
Por exemplo: Os conceitos de notificação, citação, doação, arrendamento, prédio, comércio, pessoa
colectiva, contracto de trabalho, sociedade, etc.
Estes conceitos têm um sentido próprio no direito fiscal. É a própria lei fiscal que, face às exigências
particulares da matéria a disciplinar, se afasta da regulamentação jurídica privada de certos actos,
atribuindo, assim, um significado próprio aos conceitos do direito privado.
Por exemplo: A citação tem um âmbito bem diferente consoante estejamos: perante o Direito Privado
(Direito Civil), através da qual se dá o conhecimento ao réu que foi proposta contra si uma acção;
Perante o Direito Fiscal, através da qual se dá conhecimento ao executado que foi proposta contra si uma
execução.

5. O Direito Fiscal e o Direito Internacional:


O Direito Fiscal mantém estreitas relações com o Direito Internacional, nomeadamente pela necessidade
que os estados têm de regular entre si certas situações tributárias. Sendo assim,4é normal a celebração de
acordos, tratados e convenções entre dois ou mais estados, com o objectivo de regular os assuntos fiscais
no que se refere a determinadas actividades.
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V- FONTES DO DIREITO FISCAL


As fontes do Direito Fiscal são as seguintes:
a) a Constituição;
b) os decretos-leis;
c) os regulamentos;
d) as convenções internacionais.
A Constituição ocupa um lugar de particular relevo na hierarquia das fontes de Direito em geral. E no
campo do Direito Tributário, para além da sua função comum de supremacia relativamente à lei ordinária,
tem ainda a definir a zona reservada à lei em sentido formal, em obediência ao princípio da legalidade do
imposto.

1. A LEI
NOÇÃO E EXTENSÃO

CONSTITUIÇÃO: PRINCÍPIO DA LEGALIDADE, DA IGUALDADE, DA EFICIÊNCIA FUNCIONAL


DO SISTEMA TRIBUTÁRIO E PRINCÍPIO DA ANUALIDADE

A Constituição ocupa desde logo o primeiro lugar na hierarquia das fontes do Direito Fiscal, não só porque
define alguns princípios básicos aos quais o legislador ordinário deve obedecer ao estruturar o ordenamento
fiscal, como também imita de um modo geral o campo reservado às restantes formas normativas em matéria
de impostos.
a) Princípio da legalidade:
Determina que o imposto se traduz verdadeiramente num encargo para os contribuintes que só a lei pode
criar. Este princípio desdobra-se em dois segmentos:
No princípio da reserva de lei, que atribuiu à Assembleia Nacional uma reserva relativa para legislar em
matéria fiscal e na criação de impostos. Por sua vez, o Executivo também pode legislar nessas matérias,
mas apenas com autorização concedida pela Assembleia Nacional e nos termos da autorização que lhe tenha
sido concedida.
No princípio da reserva material de lei, que exige que a lei (lei Ca Assembleia Nacional, decreto-lei
autorizado) contenha a disciplina dos impostos tao completa quanto possível da matéria reservada.
O artigo 102º. da Constituição estabelece que os impostos, só podem ser criados por lei, que determine a
sua incidência, as respectivas taxas, benefícios fiscais e garantias dos contribuintes.
O artigo 1º do Código Geral Tributário também refere que "serão obrigatoriamente determinadas por lei a
incidência, as isenções da taxa de cada imposto".
Nestes termos a matéria reservada integra, relativamente a cada imposto, a incidência, a taxa, os benefícios
fiscais o as garantias dos contribuintes. Ou seja, a deve definir a incidência dc cada imposto em termos
determinados e deve abranger todas as normas relativas à incidência real (temporal) e pessoal do imposto
(sujeito activo e passivo).

E deve abranger estas matérias quer se trate da criação ou aumento dos impostos, quer se trate da sua
extinção ou diminuição.
Pelo contrário, a reserva da lei decorrente do princípio da legalidade fiscal não abrange qualquer outra
matéria fiscal, ou seja, não abrange a liquidação c cobrança dos impostos — são duas situações cuja
disciplina está sujeita apenas ao princípio geral da legalidade da administração pública.
Mas se a lei estabelece que ninguém é obrigado ao pagamento d? impostos, cuia cobrança e liquidação não
se façam nos termos da lei, já estamos perante uma situação que ó defendida com busca na reserva de
diploma legislativo, isto é. de lei ou dc decreto-lei. Ainda em relação às matérias do imposto referentes
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liquidação e cobrança, incluídos os prazos e caducidade, é necessário referir que se trata de matéria que não
pode ser Objecto de disciplina jurídica e regulamentos.

b)Princípio da igualdade:
Este princípio pode ser entendido em dois sentidos:
No sentido material (ou de igualdade na lei). Neste princípio está implícita a ideia de capacidade
contributiva, o (ILIC implica igual imposto pagos que dispõem dc igual capacidade contributiva e diferente
imposto para os que dispõem de diferente capacidade contributiva, sendo os contribuintes tributados na
proporção desta diferença;
no sentido formal (ou de igualdade perante a lei). Segundo este princípio todos os contribuintes são iguais
perante a lei, todos devem pagar imposto.
c) Princípio da eficiência funcional do sistema tributário
É um princípio que permite ao em dificuldades ligadas com a determinação da matéria colectável ou
referente ao controlo de certos tipos de rendimentos (em relação aos quais a fuga ou a evasão fiscal é
frequente), o recurso a técnicas que dificultam a prática excessiva dessas situações, por vezes, até à custa
da utilização de determinadas medidas discutíveis no campo da equidade fiscal.
d)Princípio da anualidade:
Compete à Assembleia Nacional aprovar anualmente a lei do orçamento, a qual deverá conter a
discriminação das receitas e das despesas referentes às dotações globais de diferentes funções e
departamentos do Estado.

2. LEIS, DECRETOS-LEIS, REGULAMENTOS.

a) Leis
As leis, no sentido de diploma legislativo, são as leis da Assembleia Nacional e os decretos-leis do
Executivo. Como já foi referido a propósito do princípio da legalidade fiscal, em relação aos elementos
essenciais dos impostos tem de haver obrigatoriamente uma intervenção prévia da lei (Assembleia
Nacional). Só depois de uma pronúncia legislativa da Assembleia Nacional é que o Executivo pode editar,
no domínio fiscal, decretos-leis autorizados.

Nos termos do disposto no artigo 165., alínea o), da Constituição, só através de lei da Assembleia Nacional
pode o Estado angolano criar impostos e definir o sistema fiscal.

b) Decretos-leis
Os decretos-leis são os actos legislativos, com força de lei, emanados (derivados) do Executivo em casos
de matérias não reservadas à Assembleia Nacional, ou, em caso de matérias reservadas à Assembleia
Nacional, com base numa lei de autorização por parte desta.
Os decretos-leis só podem desenvolver e completar os princípios definidos por lei ou disciplinar os restantes
elementos do imposto.

c) O regulamento
Os regulamentos, sejam os regulamentos do Executivo (os decretos regulamentares, as resoluções do
Conselho de Ministros, as portarias e os despachos normativos), sejam os regulamentos do poder local ou
das organizações administrativas locais (os decretos regulamentares locais), não podem, em virtude do
princípio da legalidade fiscal, disciplinar os elementos essenciais do imposto. Também por força dos
princípios legalidade fiscal, não podem os regulamentos versar sobre matérias do imposto referentes à
liquidação e à cobrança, quanto às demais matérias tributárias, os regulamentos podem intervir se e na
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medida em que o princípio geral da legalidade da administração o permita e que não haja qualquer
disposição legal em contrário.

VI- O IMPOSTO
CONCEITO E OBJECTIVO

1 — Objectivamente o imposto é uma prestação:


a) pecuniária;
b) unilateral;
c) definitiva;
d) coactiva.

a) O imposto define-se como uma prestação pecuniária, que tanto pode ser em espécie como em
dinheiro, como também pode consistir num facto ou numa actividade, como é o caso do imposto
do selo quando pago por meio de estampilhas fiscais.
Através desta característica do seu conceito, o imposto distingue-se das prestações de carácter
pessoal (por exemplo, o serviço militar ou o serviço cívico), quer das prestações de bens ou
serviços, exigidas aos particulares, em situações excepcionais, por exemplo, as requisições
administrativas ou expropriação por utilidade pública, que não constituem prestações definitivas e
têm como contrapartida o pagamento de uma indemnização. A prestação do imposto é unilateral,
o que significa que não há qualquer contraprestação por parte do beneficiário.

1. O imposto da taxa.
a) A taxa é um tributo com carácter bilateral e concretiza-se em três situações: na prestação de um serviço
público. Por exemplo, a prestação de um serviço público, como as taxas devidas pelos serviços de registo
e notariado (emolumentos), pelos serviços de justiça (taxa de justiça) e pelos serviços de educação pública
(propinas); na utilização de bens de domínio público. Por exemplo, as portagens, as taxas dos navios nos
portos, a taxa de aterragem de aeronaves nos aeroportos, etc.; na remoção de um limite jurídico à actividade
dos particulares. Por exemplo, as taxas devidas pelas licenças de uso e porte de armas, de caça, etc.
b) A prestação do imposto é de carácter definitivo, ou seja, uma prestação que não dá lugar a qualquer
reembolso, restituição ou indemnização. As importâncias atribuídas não serão restituídas, a não ser que
tenha havido qualquer irregularidade na tributação ou quando tenha sido exigido imposto superior ao
efectivamente devido.
c) O imposto é uma prestação coactiva, isto é, é uma prestação que é imposta por lei, o que quer dizer que
a respectiva obrigação tem sempre por fonte a lei.

2 — Subjectivamente o imposto é uma prestação:


a) pelas características objectivas que acabámos de assinalar;
b) exigida ao contribuinte (individual ou colectivo), que é o sujeito passivo;
c) a favor de uma pessoa colectiva de direito público, ou de pessoas privadas que exerçam funções públicas,
que são os sujeitos activos (por exemplo, as empresas concessionárias de obras públicas, serviços públicos
ou bens de domínio público, na medida em que a lei lhes conceda a qualidade de titulares activos de relações
jurídicas fiscais).

3 — Sob o ponto de vista teológico ou finalista:

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O imposto é exigido pelas entidades que exerçam funções públicas para a realização das suas funções de
carácter não sancionatório, ou seja, para os impostos fiscais está excluída a finalidade sancionatória. Assim,
o imposto distingue-se de uma
multa (sanção pecuniária penal) ou de urna coima (sanção pecuniária contra-ordenacional), bem como de
uma indemnização (reparação do prejuízo ou dano causado a outrem através dc acto ilícito).

VII- A ADMINISTRAÇÃO GERAL TRIBUTÁRIA

A Administração Geral Tributária (AGT) resulta da fusão entre a Direcção Nacional de Impostos (DNI),
Serviço Nacional das Alfândegas (SNA) e o Projecto Executivo para a Reforma Tributária (PERT),
determinada em Decreto Presidencial nº 325/14, de 15 de Dezembro. A AGT é uma pessoa colectiva de
Direito Público, que integra a Administração indirecta, gozando de personalidade e capacidade jurídica e
dotada de autonomia administrativa, regulamentar, patrimonial e financeira.
A AGT é um organismo do Estado que tem por missão fundamental propor e executar a política tributária
do Estado e assegurar o seu integral cumprimento, administrar os impostos, direitos aduaneiros e demais
tributos que lhe sejam atribuídos, bem como estudar, promover, coordenar, executar e avaliar os programas,
medidas e acções de política tributárias relativas a organização, gestão e aperfeiçoamento do sistema
tributário. A AGT tem igualmente a missão de controlar a fronteira externa do País e do território aduaneiro
nacional, para fins fiscais, económicos e de protecção da sociedade, de acordo com as políticas definidas
pelo executivo.

VIII- SUJEITOS DA RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL (IMPOSTO)

Os sujeitos da Relação jurídica Fiscal são:


O sujeito activo: é o titular activo da relação jurídica que possui o poder tributário, competência tributária,
a capacidade tributária activa e a titularidade da receita fiscal. (ESTADO)

Sujeito Passivo: são as pessoas singulares ou colectivas a que a lei impõe o dever de efectuar a apresentação
de imposto ou outros deveres acessórios.

IX- TIPOS DE IMPOSTOS VIGENTES NA RÉPUBLICA DE ANGOLA

Regime fiscal aplicável ao sector petrolífero


O regime fiscal aplicável às companhias petrolíferas. É um regime aplicável as entidades nacionais e
estrangeiras que exercem em Angola, operações petrolíferas, nomeadamente: pesquisa, desenvolvimento,
produção, armazenagem, venda, exportação, tratamento e transporte de petróleo bruto, etc.

A) Imposto Industrial

Imposto Industrial (II) incide sobre os lucros obtidos no exercício de qualquer actividade de natureza
comercial ou industrial, ainda que acidental. São consideradas sempre de natureza comercial ou industrial
as seguintes actividades:

Exploração agrícola, aquícola, avícola, silvícola, pecuária e piscatória;


Mediação, agência ou representação na realização de contractos de qualquer natureza;

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Exercício de actividades reguladas pelas entidades de supervisão de seguros e supervisão de jogos, pelo
Banco Nacional de Angola e pela Comissão de Mercado de Capitais;
Sociedades cujo objecto consista na mera gestão de uma carteira de imóveis, participações sociais ou outros
títulos; Fundações, fundos autónomos, cooperativas e associações de beneficência:

B) Imposto sobre o rendimento do Trabalho


Incidência (subjectiva e objectiva)

O novo CIRT segmenta os rendimentos de trabalho em grupos de tributação, nomeadamente, Grupo A, B


eC
Incidência objectiva
Grupo A - Todas as remunerações pagas pela entidade patronal aos trabalhadores por conta de outrem,
incluindo funcionários públicos;
Grupo B - Todas as remunerações pagas aos trabalhadores por conta própria, que desempenham, de forma
independente, actividades profissionais constantes da tabela de profissões anexa ao Código, bem como os
rendimentos percebidos pelos titulares de cargos de gerência e administração ou de órgãos sociais de
sociedades.
Grupo C - Todos os rendimentos recebidos pelo desempenho de actividades industriais e comerciais, que
se presumem todas as constantes na tabela de lucros mínimos em vigor.

C) Imposto predial Urbano:


Este imposto incide sobre as rendas dos prédios urbanos quando arrendados ou sobre o valor
patrimonial dos prédios quando não arrendados.

Para efeitos deste imposto, prédio urbano é toda a fracção de território (terrenos) incluindo as construções
neles assentes com carácter de permanência (seis meses ou mais) que estejam afectos a qualquer fim que
não sejam a agricultura, silvicultura e pecuária.

D) IVA
O imposto sobre o valor acrescentado (IVA) é um imposto que incide sobre a despesa ou consumo e tributa
o "valor acrescentado" das transacções efectuadas pelo contribuinte. Trata-se de um imposto plurifásico,
porque é liquidado em todas as fases do circuito económico, desde o produtor ao retalhista. Sendo
plurifásico, não é cumulativo, pois o seu pagamento é fraccionado pelos vários intervenientes do circuito
económico, através do método do crédito do imposto. O imposto é aplicado em diferentes países ao redor
do mundo. No nosso país foi aprovada pela lei nº 7/19 de 24 de Abril.

2. DIREITO ADMINISTRATIVO
I- FINS E MEIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O Direito Administrativo é o ramo de Direito que de um modo específico se refere à


Administração Pública.
A administração tem um duplo sentido:
Em primeiro lugar, administrar significa gerir um conjunto de bens para a realização de um conjunto de
fins heterogéneos. A administração é a tarefa ou actividade que consiste na prossecução desses fins.

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Em segundo lugar, a administração é uma organização específica a quem incumbe uma tarefa de
prossecução de finalidades ou interesses.
Mas o que nos interessa para o nosso estudo é a Administração Pública. O fim da Administração
Pública é, no fundo, a realização de interesses públicos que pertencem a uma generalidade de pessoas, a
um público.
Qual é a distinção entre interesse público primário e interesse público secundário?
O interesse público primário corresponde aos valores principais que orientam uma comunidade
politicamente organizada, relacionando-se com as condições indispensáveis à sua manutenção e
desenvolvimento, ou seja, com o seu bem comum (paz, justiça, bem-estar). A maior parte da função
legislativa está confiada à satisfação do interesse público.
Os interesses públicos secundários são considerados como um instrumento necessário à
realização do bem comum, ou seja, à confirmação do interesse público primário. É o caso, por exemplo, da
saúde, da educação e dos transportes, que estão no fundo confiados ao tratamento de um órgão público.

Vamos fazer uma breve referência à Administração Pública em sentido organizativo, funcional,
material e formal:

A Administração Pública em sentido organizativo: A Administração Pública é o sistema de


órgãos, serviços e agentes do Estado, bem como das demais pessoas colectivas públicas que asseguram, em
nome da colectividade, a satisfação regular e contínua dos interesses públicos secundários.
Em sentido organizativo, a administração aparece como uma máquina complexa, que visa a satisfação dos
interesses públicos secundários e da qual fazem parte os órgãos centrais e locais do Estado.
A Administração em sentido funcional: A Administração Pública refere-se à actividade dos
órgãos da administração, quer ela se traduza em actos de administração materiais, quer noutro tipo de actos,
nomeadamente em actividades relacionadas com outros sectores organizativos dos entes públicos ou até
mesmo relacionadas Corno o sector privado.
A Administração em sentido material: A Administração Pública corresponde à actividade de
administrar, ou seja, a Administração pública aparece com o significado de tarefas ou funções do Estado.
A Administração em sentido formal: A Administração Pública refere-se aos actos levados a
cabo pela Administração e que apresentam determinadas características externas típicas e um valor formal
próprio dos actos do complexo administrativo (actos administrativos).
Os actos administrativos têm valor formal, têm uma consistência relativa, uma vez que só estão sujeitos em
determinados termos à anulação e revogação. Os actos administrativos têm também força jurídica, têm
autoridade. A executoriedade, isto é, a susceptibilidade de determinado acto administrativo será passível de
execução prática, é a força jurídica típica dos actos administrativos.
Por este aspecto formal, a actividade da Administração distingue-se de outras actividades
públicas, nomeadamente dos actos legislativos (têm valor de lei e força inovadora), c dos actos
jurisdicionais (têm valor de sentença e força de caso julgado).

O que é o Direito Administrativo?

O Direito Administrativo é um ramo do Direito Público criado por um sistema de normas jurídicas, ou seja,
normas que regulam a organização da Administração, o seu funcionamento, ou as relações estabelecidas
entre ela e outros sujeitos de direito, no exercício da actividade administrativa de gestão pública.
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FUNÇÕES ESTADUAIS (LEGISLATIVA, JURISDICIONAL E ADMINISTRATIVA)

No que respeita às funções administrativas c legislativa, o Executivo, além dc ser o órgão máximo da
Administração Pública, também exerce a função legislativa, através da elaboração e aprovação de decretos-
leis. por outro lado, a Assembleia Nacional no exercício do poder legislativo aprova leis individuais e leis
de medida, com carácter concreto. Estas normas estão entre a norma legal e o acto administrativo.

Por último, a Administração emite normas jurídicas gerais e abstractas, que são os regulamentos, que por
vezes têm uma grande autonomia em face da lei (regulamentos independentes). Resumindo, a função
legislativa é tendencialmente geral e abstracta, é urna função que corresponde à aplicação directa da
Constituição, e a função administrativa é individual e concreta, é uma função subordinada à lei.

No que concerne às funções jurisdicional e administrativa, podemos dizer que a lei é considerada corno
pressuposto e fundamento da actividade administrativa, que parece cada vez mais vinculada ao Direito,
como também são reconhecidos ao poder jurisdicional espaços de criação na aplicação da lei e do direito.
Ambas as funções agem através de decisões individuais, próprias, concretas e momentâneas.

A distinção básica entre as duas funções prende-se com o facto de a função jurisdicional ter como conteúdo
e fim único a solução de uma questão de direito, que em regra é da competência de um órgão imparcial (c
tribunal), quando está em questão um conflito de interesses, ao passo que a função administrativa procura
criar as circunstâncias concretas, reais, para a realização do interesse público.

PRINCÍPIOS DE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA:

a) Princípio da prudência dos interesses públicos


A utilização por parte cia Administração de meios e formas do Direito privado visa a satisfação das
necessidades de interesses públicos e corresponde ao exercício da função administrativa, não se
confundindo com a capacidade privada da administração_ as razões que Ievam a Administração a recorrer
ao Direito Privado são razoes de eficiência. Existe o princípio da ‘liberdade de escolha q conveniente ou
necessária prossecução df_vs fins públicos. Além disso, a utilização do Direito privado aparece sempre
combinada com limitações ou regalias
Segundo a teoria dos dais degraus (década de I q;o:, na relação 8ª prestação da administração com ligação
de Direito Privado e de Direito Público, há uma preocupação em manter a natureza privada da relação,
garantindo, deste modo, as cautelas publicas. Nos casos dc dúvida entre privado ou público, será do
presumir que os agentes públicos utilizem o direito administrativo.

b) Princípio participativo
O princípio de participação e da colegialidade significa a procura de incentivar os cidadãos na solução nos
problemas locais. Como também aproximar os serviços público às populações de modo a garantir a
celeridade, a desburocratização e a adequação das decisões à realidade local.

A administração dc prestação tem a intenção de’ fornecer ao cidadão meios de satisfação directa das
necessidades, corno, por exemplo, educação c a saúde, etc.
A administração participativa passa a ser um instrumento de transformação da sociedade para a realização
de uma ideia de justiça social. Dai que se fale em administração conformadora ou constitutiva, O aparelho
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funcional mantém-se fortemente hierarquizado e com ideias definidas, as novas tarefas exigem administra
de tipo diferente, abertas à participação dos interessados (comissões, lhos, etc.), na preparação das decisões
ou até em sede deliberativa.

c) Princípio da legalidade quanto às atribuições e competências:

O princípio da legalidade exprime a subordinação da Administração à constituição. Leis da Assembleia


Nacional. C regulamentos). A lei no sentido amplo não é apenas o limite à actividade da Administração,
mas pressuposto de a actividade estadual.
No sentido de primado da lei, significa que a Administração não pode contrariar uma prescrição normativa
anterior, não pode emitir preceitos normativos que contrariem preceitos normativos de grau superior, como
também não pode praticar actos concretos que contrariem uma norma emitida por um órgão legislativo ou
pela própria Administração, além disso, significa que é um preceito normativo que fixa as atribuições dos
órgãos públicos e que estabelece em maior ou menor grau as suas competências.
No sentido de reserva de lei, significa que se reserva a um órgão com uma legitimação política especial a
fixação de condições em que se tocam situações muito importantes, qualquer que seja o órgão legislativo.
Sendo assim, a reserva de lei tem como consequência que novas normas de matérias reservadas precisem
de uma base legal directa dada por um preceito legislativo e que os actos concretos sobre matérias
reservadas precisem de uma base legal assente numa lei em sentido formal ou material.
O princípio da reserva da lei determina que se reserva para um órgão legislativo a definição de preceitos
gerais que toquem certos valores fundamentais da comunidade.

d) Princípio de direcção (administração) individual e da responsabilidade pessoal:

Como já se sabe, o Direito Privado constitui uma limitação à administração, porque é ele que fixa as
competências jurídicas e os direitos dos particulares impondo impedimentos externos à Administração
através da delimitação de um domínio de licitude que não
deve exceder. Mas quando a Administração invade o campo reservado dos particulares pratica um acto
ilícito, tendo a obrigação de o reparar tal como outro particular qualquer, apesar de haver regras especiais
que definem o modo de atribuição da responsabilidade.
É o Direito Administrativo em sentido estrito que regula o comportamento da Administração como poder
público no que concerne ao domínio da possibilidade e da capacidade de a Administração para com actos
seus provocar alterações no mundo jurídico.
A lei, por vezes, fixa mais do que as condições objectivas de acção do agente, indicando também o conjunto
de transformações jurídicas que pretende. É a chamada vinculação administrativa. Acto vinculado é
diferente de acto discricionário, pois neste a Administração tem a possibilidade de fixar o grau e o alcance
das modificações jurídicas pretendidas.
e) Princípio da desconcentração
A desconcentração administrativa é o processo administrativo através do qual um órgão da Administração
central do Estado transfere poderes para outro órgão da Administração local do Estado.
O que pode implicar uma estrutura organizativa desconcentrada?
Implica, pelo menos esse é o objectivo da desconcentração, uma maior eficiência da acção administrativa,
uma melhor qualidade de serviço.

f) Princípio da descentralização

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Este princípio significa o reconhecimento pelo Estado do direito das populações que integram os diversos
tipos de comunidades locais e regionais de se organizarem em pessoas colectivas públicas de população e
território dotadas de órgãos representativos que prosseguem com autonomia os interesses próprios dessas
comunidades.
Actualmente defende-se que só existe descentralização em sentido estrito ou verdadeiro, quando as diversas
tarefas públicas estiverem atribuídas a unidades administrativas intra-estaduais que, além de terem
autonomia cm relação ao Estado (autonomia jurídica, administrativa e financeira), têm ainda capacidade de
agir e de dar tratamento, autónoma e livremente, aos seus assuntos.

• ELEMENTOS DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

As pessoas colectivas públicas e os serviços públicos:


A organização administrativa tem, como elementos básicos, as pessoas colectivas de direito público, que
se manifestam através de órgãos administrativos, e os serviços públicos que pertencem a cada ente público
e que agem na dependência dos referidos órgãos.

Conceito de cada um dos elementos


Pessoas colectivas públicas as pessoas colectivas de direito público são aquelas a quem a ordem jurídica
fixa um conjunto de interesses públicos através do reconhecimento de poderes correspondentes. As pessoas
colectivas actuam por meio de órgãos, construindo-se, assim, figuras organizativas. Estes órgãos são cada
uma das repartições organizativas de um ente dirigidas a uma certa forma de realização das funções através
da prática de actos típicos. Os órgãos tornam-se actuantes através do concurso de pessoas físicas.
São pessoas colectivas públicas:
o Estado;
os institutos públicos;
as empresas públicas;
as associações públicas;
as autarquias locais;
as regiões autónomas.

O Estado é o principal ente público, sendo as outras pessoas colectivas entes públicos menores, isto é, são
entes exclusivamente administrativos, não desempenham nenhuma das outras funções estaduais além disso,
as suas atribuições administrativas são mais restritivas, quer do ponto de vista territorial quer do ponto de
vista da matéria abrangida. Por último, estas entidades dependem do Executivo (superintendência e tutela
administrativas).

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ACTIVIDADE ADMINISTRATIVA

• PRINCÍPIO DA PROSSECUÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO

O princípio da prossecução do interesse público é o princípio geral de direito administrativo segundo o qual
aos órgãos da Administração Pública compete prosseguir o interesse público, tendo por limite os interesses
legalmente protegidos dos cidadãos.
A sua dimensão significa, porém, o reconhecimento do valor instrumental dos outros interesses, públicos
ou privados. Quanto aos interesses privados basta permitir-lhes a sua afirmação para que sejam realizados.
A sua determinação faz-se negativamente, fixando limites à autonomia privada.
No que toca aos interesses públicos é indispensável que a lei os individualize. São interesses que, pela sua
posição relativamente ao interesse público primário, se designam por interesses públicos secundários.

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A Administração está colocada perante um interesse público definido, não lhe cabe procurar os seus fins,
nem pode recusar-se a prosseguir os fins que lhe forem impostos.

• PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Toda a Administração é, pois, uma administração legal, sendo o fim dos seus actos fornecido por uma
norma.
Administração legal:
1 — Princípio do primado da lei (sentido negativo e sentido positivo);
2 — Princípio da reserva da lei;
3 — Vinculação administrativa (discricionariedade).

1. — Segundo o princípio do primado da lei, a Administração não pode desrespeitar uma prescrição
normativa anterior, não pode praticar actos concretos que contrariem uma norma (sentido negativo). Por
outro lado, um preceito fixa a um órgão público as suas atribuições e estabelece as suas competências, isto
é, os poderes de que fica a dispor (sentido positivo). O princípio do primado da lei é uma consequência da
ideia dc legalidade material.

2 — De acordo com o princípio da reserva da lei, fica reservada para um órgão legislativo a definição de
preceitos gerais que toquem certos valores fundamentais da comunidade. Num regime parlamentar puro, o
Parlamento é o órgão com mais legitimidade democrática e onde há mais oposição e publicidade.

Segundo o princípio da reserva de lei, a Administração nunca pode disciplinar inicialmente as matérias
reservadas na Constituição, só podendo intervir em tais domínios quando haja uma autorização legal ou
constitucional expressa.

Todos os actos da Administração necessitam de uma específica fundamentação legislativa:


— No que respeita definição das competências (definição de poderes dos órgãos da administração para a
prática de actos) e aos fins (identificação dos interesses públicos que dirigem a actuação administrativa), a
Administração Pública estará sempre vinculada lei, ou seja, os fins e as competências da administração
serão matéria de reserva de função legislativa.

A Vinculação administrativa — A lei pode indicar o conteúdo dos actos, isto é, o conjunto das
transformações jurídicas que pretende. Acto vinculado é aquele que tem o seu conteúdo fixado na lei. Aos
actos vinculados opõem-se os actos discricionários. A discricionariedade é a possibilidade de a
Administração fixar o grau das modificações jurídicas pretendidas, não significando uma escolha total do
conteúdo, mas só aquela que seja consentida pelo fim estabelecido por lei.
A vinculação e discricionariedade são apenas dois conceitos-limite da realização do princípio da
legalidade.
Recusa-se, deste modo, a ideia de que a discricionariedade é uma liberdade essencial da Administração e
igualmente a concepção de que a discricionariedade é a faculdade de escolher várias soluções todas iguais.
A discricionariedade é uma delegação feita pelo legislador ao agente para encontrar uma solução para o
caso concreto, o que afasta a ideia de liberdade de facto, estando a opção materialmente sujeita a preceitos
jurídicos c não-jurídicos.
A lei e o acto legislativo são os pressupostos e os fundamentos de toda a actividade administrativa, no
domínio tradicional da administração de autoridade e no domínio da administração social ou de prestações.

Princípio da imparcialidade

Ao exigir-se imparcialidade está desde logo proibido o tratamento arbitrário e desigual dos cidadãos por
parte dos agentes administrativos, mas ao mesmo tempo impõe-se a igualdade de tratamento dos direitos e
interesses dos cidadãos através de um critério uniforme da ponderação dos interesses públicos, por isso se
diz que o princípio da imparcialidade da Administração é um princípio simultaneamente negativo e
positivo.
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