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direito constitucional

1. o que é o Direito Constitucional?


o Direito Constitucional é um ramo especial do direito público interno.
» em Direito Constitucional estudamos um núcleo duro que define a Constituição, pelo que se pretende uma
compreensão do seu objeto essencial – a Constituição e tudo aquilo que comporta. pretende caracterizar o
próprio modo de exercício do poder pelos órgãos do Estado, o que assegura a validade dos atos praticados por
estes nas suas relações entre si, com os cidadãos nacionais e estrangeiros.
» estudar o direito constitucional de um Estado é estudar também a sua história → e uma dimensão cultural
→ estudar o direito constitucional de um povo é estudar também a sua realidade político-socio-cultural pois
difere de país para país
» direito constitucional → direito que regula a constituição

2. Constituição
» a ideia de constituição que nós hoje conhecemos veio iniciar-se no final do século XVIII, após a revolução
norte americana (13 colónias revoltam-se contra os abusos da coroa, contra a exigências que os colonos
paguem impostos para custear a guerra na europa sem estarem representados no parlamento) e com a revolução
francesa (rejeição do antigo regime), de onde veio a maior influência, por ser um país, que na época,
correspondia ao centro do mundo. este movimento ficou chamado de movimento constitucional e não pode
ser separado das ideias políticas nem do movimento liberal → o liberalismo não só é contra o excesso de
Estado, mas também se baseia na ideia de que o poder do Estado não é um direito do monarca/rei → não
governa pelo direito divino, mas sim como representante do povo → a soberania deixa de ser algo que está na
posse do representante, mas sim algo que está na posse dos cidadãos (na altura → homens com mais de x
idade que sabiam escrever e ler) → soberania popular → durante muito tempo o liberalismo era uma ideia de
uma democracia limitada → não era universal porque o voto não era universal → o liberalismo valia para
aqueles que tinham alguma determinação jurídica.
atualmente, a Constituição é o ato que cria o Estado. do ponto de vista jurídico, corresponde à delegação do
povo. estabelece normas específicas, em conformidade com a existência dos sistemas e regimes políticos. as
regras constitucionais estão acima de qualquer maioria conjuntural e acima das demais regras.
a Constituição tem um valor superior às outras leis. regula as matérias estaduais. está ligada a situações
jurídicas, políticas e ideológicas, tendo por objetivo garantir a separação de poderes. está subjacente à
Constituição a ideia de que o poder reside no povo (através, claro está, dos seus representantes).

3. tipos de Constituição
➻ Constituição em sentido formal ou normas formalmente constitucionais – é o conjunto de textos escritos
que tem natureza constitucional. são as normas que são constitucionais porque estão na Constituição,
independente da importância que tem. se é retirada a norma da Constituição, consequentemente perde a
natureza constitucional, uma vez que o fato de estar na constituição é que atribui essa natureza.
➻ Constituição em sentido material ou normas materialmente constitucionais – são constitucionais em função
da matéria que ocupam. a natureza constitucional da norma jurídica é lhe dada pela matéria que a norma se
ocupa. a dignidade constitucional da norma advém da matéria que a norma se ocupa. o que determina sua
natureza constitucional não é o sítio onde ela está, mas sim a matéria que ocupa, por isso, se for retirada da
Constituição ainda possui sua natureza constitucional. são materiais e formais ao mesmo tempo, já que está
na Constituição. é a mais importante pois define o núcleo da constituição. se os princípios e valores da
sociedade mudam, a Constituição material também tem de mudar.

➻ Constituição em sentido instrumental – é a organização sistemática e racional das normas constitucionais


compreendidas na Constituição formal, inserida num um documento. é o texto fundamental.

➻ Constituição escrita – estão estabelecidas em um documento.

➻ Constituição não escrita – atualmente não existe. não há constituições não escritas, mas sim leis não
escritas. embora não sejam unicamente desta categoria (reino unido – processo de alteração do primeiro-
ministro).

➻ Constituição flexível – é aquela, cujo processo de revisão não difere do procedimento das demais leis
ordinárias.

➻ Constituição rígida – é aquela, cujo processo de revisão é mais exigente que o procedimento das leis
ordinárias (a Constituição portuguesa é rígida, visto que o seu processo de revisão exige uma maioria
qualificada de dois terços dos deputados em efetividade de funções).

➻ Constituição semirrígida –as características de constituição rígida e de constituição flexível conjugam-se.

pode existir partes na Constituição que são consideradas mais relevantes, então possuem uma maior exigência
de revisão, por outro lado, pode haver partes que são consideradas menos relevantes e por isso podem ser
modificadas normalmente.

➻ Constituição hiper-rígida – são aquelas que são extraordinariamente difíceis de mudar. estão subordinadas
a requisitos extremamente exigentes. (exemplo – Constituição norte americana – para ser revista carece de
aprovação de 2/3 do parlamento e depois disso, para entrar em vigor, requer aprovação de 3/4 dos parlamentos
dos estados federados).
» classificação ontológica de Loewenstein
o autor revela-nos três classificações de Constituição.

➻ Constituição normativa – é aquela que de facto é respeitada. as suas normas orientam a forma como a
política decorre bem como a relação entre o Estado e os cidadãos. aqui o poder político subordina-se ao valor
normativo da Constituição (exemplo – CRP de 1976).

➻ Constituição nominal – na prática, não são respeitadas – a realidade não é completamente compatível com
a Constituição. tem o objetivo de limitar o poder político, ainda que este não se lhe submeta totalmente (Ex:
Constituição de 1933).
➻ Constituição semântica – formalização do poder político, de índole autoritária, como confirmação e
legitimação do seu exercício (é o caso das Constituições dos estados totalitários – exemplo – Constituição da
União Soviética, China, Cuba).
» é o rei que faz a carta constitucional → o seu processo não é democrático → Portugal estabelecia um regime
liberal, mas foi imposto por uma pessoa ao contrário da Constituição é algo que resulta da vontade do povo
porque é o povo que é o representante do poder.
» legitimidade democrática – vontade e direito dos cidadãos
» legitimidade monarca – não pede autorização, assina (só ela é que conta)
quando os monarcas fazem a carta constitucional, aceitam o regime liberal, mas guardam para eles o poder.

4. poder constituinte
» poder constituído – resulta da constituição, é criado, organizado e formatado por ela. encontra fundamento
na constituição. encontra fundamento na Constituição.
» poder constituinte – é o poder mais importante e relevante. é prévio, cujo exercício leva à elaboração da
Constituição.
características do poder constituinte
1. é um poder inicial → encontra-se para a teoria do Estado como o Big Ban se encontra para o mundo →
impulsionador de tudo. este poder não tem outro por de trás dele → fundamenta-se a si próprio.
como surge? decorre naturalmente da soberania, o facto de haver um Estado e um poder político, requer existir
uma organização todo o Estado tem uma constituição – têm poder constituinte.
nota: as constituições dos Estados federados têm de respeitar a constituição federal.
2. é um poder autónomo → é o juiz do seu próprio exercício, cabe a ele dizer o ‘’quando, o ‘’se’’ e o ‘’como’’
→ pode definir como e quando.
nota: eleições 25 de abril 1975 → assembleia constituinte → foram eleitos 250 deputados para fazer uma
constituição não está escrito em lado nenhum certas coisas → o poder constituinte é que o define.
3. omnipotência → o poder constituinte não está sujeito a nenhuma regra, justifica-se a si próprio, têm total
liberdade o poder político estadual têm a maior liberdade aqui.
há limite ao poder constituinte?
se aceitarmos o poder natural → o poder constituinte não tem o maior poder → têm de respeitar → pode ter
muito, mas não tem tudo
esta conceção depende da perspetiva de cada um.
quem é o titular do poder constituinte?
nas teocracias quem detêm o poder é o monarca, pela vontade de Deus → têm a legitimidade para exercer o
poder.
numa democracia o titular do poder constituinte é o povo. pode fazê-lo através da democracia direta, ou seja,
pode ser o próprio povo a fazer a Constituição. já nas democracias representativas, delega nos seus
representantes o exercício do poder político, logo, o povo delega nos seus representantes o poder de aprovar
a Constituição (exemplo – Portugal). por fim, as democracias semidiretas, baseiam-se na ideia de que cabe a
um parlamento elaborar um projeto da Constituição, mas que a vigência do projeto está sujeito a aprovação
popular. não é o povo que faz tudo mas tem a palavra final (exemplo – Suíça).
» poder constituinte originário – faz a Constituição, é o momento zero.
» poder constituinte derivado – revisão da Constituição. decorre do anterior.
o poder derivado não é um poder tão livre como o originário → está subordinado ao poder constituinte
originário.

5. limites à revisão constitucional


» servem para criar condições para que a revisão constitucional ocorra dento de certos parâmetros para
proteger a Constituição e garantir que as alterações que venham a ser introduzidas obedecem uma série de
critérios. não é obrigatório que haja limite constitucional. essa questão tem a ver com a classificação que
separa as constituições rígidas das constituições flexíveis.
» limite formal – processo de revisão da Constituição → maioria necessária à revisão (154 votos) – artigo n.º
168, n.º 6.
na CRP existem 3 maiorias no parlamento: simples – quem tem mais votos, ganha (artigo nº 116, n.º 3),
absoluta – metade mais um (artigo n.º 198, n.º 5) e maioria 2/3 – em casos ainda mais excecionais, existe a
necessidade de aprovação de maioria de 2/3 dos deputados presentes desde que essas 2/3 seja superior à
maioria absoluta (artigo n.º 168, n.º 6 e 286, n.º 1).
» limite orgânico – está ligado à definição dos órgãos que podem rever a constituição, não necessariamente
quem pode rever, mas também quem pode desencadear o processo de revisão – artigo n.º 284 e 289, 161 ou
115.
» limite temporal – visa garantir alguma estabilidade ao texto constitucional. cria entraves a uma permanente
alteração ao texto. o objetivo é garantir estabilidade à Constituição. visa proteger o documento.
na CRP o texto constitucional não pode ser mudado durante um período correspondente a 5 anos, de acordo
com o artigo n.º 284, n. º 1. só pode existir, por regra, revisão constitucional decorrido 5 anos da data da
publicação da anterior lei de revisão ordinária. ou então a revisão extraordinária que significa que é uma
revisão que pode ocorrer antes dos 5 anos, normalmente por fatores exteriores. a Assembleia delibera por 4/5
antecipar a revisão, mas não muda em nada nas exigências em termos de conclusão. a revisão constitucional
é sempre maioria de 2/3, não interessa se a revisão é extraordinária ou ordinária.
» limite circunstancial – impossibilidade eventual de não se poder alterar a Constituição – artigo n.º 289. em
Portugal, não era possível rever a Constituição na pandemia.
a CRP admite, em certas circunstâncias, limitações aos direitos fundamentais dos cidadãos, mais propriamente
as situações do artigo n.º 259.
» limite material – tem a ver com a matéria, a ideia é ver se é ou não possível mexer em toda e qualquer
matéria que a Constituição prevê. ou, quando a Constituição é feita, deve-se estabelecer a proibição de revisão
a certas matérias que nela se encontram – deve haver clausulas. não está em causa defender o texto apenas e
sim defender o conjunto de ideias fundamentais que o texto consagra. visa proteger a essência das questões
que a Constituição assenta. baseia-se no estabelecimento de determinadas proibições ao poder constituinte
derivado. (essa é a questão de debates que tem suscitado – existe divisão doutrinaria referente a essa matéria).
artigo n.º 288.
teses...

➻ tese da irrelevância jurídica dos limites – os limites materiais que a Constituição consagra não tem
relevância jurídica. diz que não é aceitável, em circunstância alguma, que o legislador constituinte, ao fazer a
Constituição, delimite que não se pode mexer em certas matérias, futuramente. o poder constituinte originário
e derivado estão ao mesmo nível.

➻ tese da relevância absoluta dos limites – os limites tem de ser integralmente respeitados em toda e qualquer
circunstância. é legítimo que o poder constituinte originário estabeleça condicionamento ao poder constituinte
derivado, pois está subordinado ao mesmo. por isso, se o legislador constituinte disser que em certas matérias
não se pode tocar, isso significa que em revisões constitucionais não se pode mexer nessas matérias. leva à
ideia de que o poder constituinte originário é mais importante que o poder constituinte derivado.

➻ tese da eficácia relativa dos limites ou tese da dupla revisão constitucional – diz que se pode mexer em
certas matérias desde que recolhidas as condições necessárias e cumpridos certos pressupostos.
é aceitável, do ponto de vista jurídico, que os limites materiais sejam estabelecidos, isto é, o poder constituinte
originário tem o direito, ao fazer a Constituição, de estabelecer cláusulas que definem aquilo que não pode ser
mudado. Porém, o poder constituinte originário não pode ser considerado como absoluto e nunca podem ser
modificados porque nada impede que a própria cláusula sobre os limites seja alterada. basicamente, para se
mexer numa determinada matéria, tem de se rever a cláusula protetora para conseguir rever os artigos
protegidos.
subdivide-se em
tese da dupla revisão sucessiva: implica dois processos de revisão constitucional. numa primeira revisão
constitucional elimina-se ou modifica-se a cláusula protetora, numa segunda revisão constitucional modifica
a cláusula protegida. a primeira revisão visa retirar o limite.
implica sempre duas revisões constitucionais distintas.
tese da dupla revisão simultânea: na mesma revisão constitucional modifica a cláusula protetora e altera a
cláusula protegida.
faz-se tudo na mesma revisão. (exemplo – revisão constitucional em 1982).
opinião do prof → isto não faz sentido nenhum, é a mesma coisa do que dizer que os limites materiais não
servem para nada.
o Professor Gomes Canotilho considera que a tese da dupla revisão se traduz, não na possibilidade da revisão
de certas normas através da supressão de determinados limites materiais, mais sim num indício de fraude à
Constituição, ou mesmo numa rutura constitucional, visto que os limites materiais constituem a garantia de
princípios identitários da Constituição.

6. princípios constitucionais
» ordenamento jurídico: não é um conjunto de normas avulsas, tem uma coerência.
“ordem” – ordem é algo que está estruturado de algo organizado e coerente → por isso é que chamamos ordem
jurídica → algo que está feito de maneira racionar de modo a solucionar aquilo que encontramos nas normas
» os princípios jurídicos são o que dão coerência e consistência a uma ordem jurídica, o que significa que são
aqueles que marcam aquilo que é determinante na ordem jurídica, fazendo com que toda a ordem jurídica, ao
desenvolver-se, o faz de acordo e em decorrência com esses princípios.
tudo o que está na constituição é um poder jurídico.
» normas-princípio → olho para uma norma e ela própria define um princípio
a retroatividade das leis põe em causa a segurança jurídica e dos cidadãos →, mas a Constituição não a proíbe
→ só em dois casos → fiscal e penal → mas não há nada EXPRESSAMENTE → o tribunal constitucional
proíbe pois certas vezes não é tolerável
como é que pode ser aplicada uma sanção daqui a 10 anos sendo que eu fiz hoje? não pode
enquanto cidadão devo partir do princípio de que quando algo me é garantido, eu faço-o dentro desse quadro
legal
dois tipos de princípios
» aqueles que vem escritos na Constituição → estão consagrados (princípio da igualdade)
» princípios que resultam da interpretação do texto constitucional
a Constituição não são só normas, são valores e princípios.
um princípio jurídico existe se a própria Constituição diz (exemplo – artigo n.º 13 da lei fundamental) ou
através da interpretação da constituição, conclui-se através da leitura de um conjunto pertinente de normas
constitucionais (exemplo – princípio democrático).
quando preciso de saber se algo é legitimo → vou á procura de uma norma, e se não houver?
norma jurídica – texto → está sujeito à interpretação → muitas vezes as normas têm de ser interpretadas
» interpretação extensiva – é necessário quando o legislador disse menos daquilo que queria dizer ou que
era necessário
» interpretação restritiva – é necessário quando o legislador disse mais do que queria dizer → foi mais longe
do que queria
quando a norma não resolve aquela situação, mas resolve parecido → extensão da norma
e se não houver uma norma parecida? aplicação analógica
e se nem assim resolver? criação de uma norma → código civil
a ordem jurídica tem sempre de ter solução → se não há maneira de resolver tem de se criar uma norma,
inspirada nos princípios fundamentais
isto não é algo que fique permanentemente na ordem → é só criada para aquele caso concreto
princípio do Estado de direito democrático
é o princípio mais relevante que a CRP consagra.
como o nome indica, esse princípio tem duas vertentes:
1. Estado de direito – é o Estado em que o direito é respeitado. respeitar o direito não é respeitar as normas
jurídicas e sim respeitar o Direito, em que tudo aqui que o direito deve envolver, começando pela proteção
dos direitos fundamentais dos cidadãos e pela participação dos cidadãos na vida coletiva em liberdade, é
garantido. não é um Estado que se limita a cumprir regras, é um Estado cujas próprias regras tem em conta
princípios e valores fundamentais no que diz respeito aos cidadãos e a relação que tem com eles.
Estado de direito ≠ Estado de legalidade (é um Estado onde as regras jurídicas são cumpridas)
2. Estado democrático – o princípio democrático tem a ver com a forma como o poder político é organizado
e funciona; o modo como os cidadãos participam na vida política e como a estrutura de organização do Estado
se encontra construída. envolve a separação de poder horizontal ou vertical de podres.
ambas as vertentes só se afirmam completamente em complemento um com o outro. Para haver um, o outro
também deve existir.
só há um Estado de direito em democracia, e uma democracia tem de ser necessariamente um Estado de
direito.
dimensões do princípio do Estado de Direito
» princípio da constitucionalidade – num Estado de direito a Constituição é o documento mais importante e,
por isso, tem de ser respeitada por todos. tudo aquilo que vigora no Estado está expresso na Constituição.
prevalece sobretudo o resto, no entanto, não basta afirmar que ela deve prevalecer, devem ser criados
mecanismo que a assegurem.
quando se fala de um Estado de direito, fala-se da separação de poderes. um Estado de direito é, por natureza,
um Estado em que os diferentes órgãos do Estado têm os poderes previstos na lei e atuam de acordo com esse
respeito estrito pela divisão de poderes que a lei constitucional prevê. não há Estado de direito se não houver
separação clara de poderes ou se não houver independência dos tribunais.
» princípio da legalidade da administração – é consequência da função administrativa ser dependente – é
subordinada à lei artigo 266, n 2. a administração não atua como quer – toda administração política deve estar
subordinada à lei.
- reserva da lei- determinadas matérias só podem ser objeto de decisão pelo legislador, a administração pública
não interfere. Os atos não podem invadir um domínio que cabe ao legislador. a administração esta dependente
da função legislativa.
- supremacia da lei - ideia de que as leis têm valor superior às normas provenientes da administração. quando
há leis, as leis têm superioridade perante as normas jurídicas aprovadas pela administração porque a
administração publica está sempre ao serviço da função política e da função legislativa. as normas legais estão
sempre acima das normas administrativas.
(leis da administração publica = regulamentos ex hora de as discotecas fecharem. é uma maneira do Estado
gerar dinheiro).
» princípio da segurança jurídica e da proteção de confiança dos cidadãos – proibição da retroatividade. os
cidadãos têm de ter um quadro jurídico que podem confiar; o Estado está obrigado a garantir a segurança
jurídica dos cidadãos e garantir aos mesmo que esse quadro legal e as suas atitudes são confiáveis. não é toda
alteração que o Estado realiza que pode se opor ao quadro jurídico proposto; em regra geral, o Estado pode
mudar o que entender desde que ao fazer, está a cumprir o que garantiu que ia existir. se a Constituição
desempenha a função mais importante do Estado, tudo aquilo que vigora num tem que estar de acordo com a
Constituição.
- caso julgado – decisão judicial que já não admite recurso ordinário. do ponto de vista da certeza e da
segurança jurídica, as pessoas e empresas desenvolvem as suas condutas partindo do princípio que
determinada situação está resolvida. a ideia do caso julgado é uma consequência lógica do princípio da
proteção e segurança jurídica dos cidadãos.
» princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso – ‘’os fins não justificam os meio”, o Estado na
realização do interesse publico tem todo o direito a agir, e nessa sua ação pode ter de restringir/ limitar os
direitos dos cidadãos, porém, não pode passar de um determinado limite ao fazê-lo. ainda que o fim seja
importante, nem todos os meios se justificam para atingir esse fim. as medidas que são tomadas para atribuir
interesses que a constituição determina relevante, podem justificar, mas não podem ir para lá de certos
parâmetros. o interesse publico prevalece o interesse privado, entretanto não deve fazer desaparecer o interesse
privado. os meios devem ser adequados aos fins. a administração publica está subordinada ao princípio da
proporcionalidade – o interesse publico por si só não justifica tudo.
num Estado de direito, não posso ter dois interesses a reduzir um deles a zero – tem que respeitar a
proporcionalidade aos dois.
» princípio da proteção jurídica e das garantias processuais – num Estado de direito, a garantia das situações
jurídicas das empresas e das pessoas é assegurada pelos tribunais; a última palavra é sempre dos tribunais. tem
que ter condições reforçadas de se defender, sendo fundamental que no processo não valha tudo, não deve se
recorrer a meios indignos; não vale tudo num processo, condenar alguém está sujeito a regras. (artigo n.º 20 e
32 CRP). a pessoa é considerada inocente até prova em contrário e quem acusa é que tem que provar a culpa
e não o inocente que tem que provar a inocência.
- independência dos tribunais- é preciso que todos tenham condições para aceder aos tribunais, conseguindo
defender seus interesses.
dimensões do princípio democrático
conceção de democracia leva-nos à a ideia de povo como titular do poder político – soberania popular
a nossa Constituição não podia ser mais clara, quando afirma, no seu artigo n.º 1, que Portugal é uma República
soberana baseada na vontade popular. o artigo n.º 2 estatui que “A República portuguesa é um Estado de
Direito Democrático, baseado na soberania popular (...)”. o artigo n.º dispõe que a soberania reside no povo.
o artigo n.º 9 vincula o Estado a defender a democracia política e assegurar o respeito pelo Estado de Direito
Democrático.
a ideia de sufrágio universal, como objeto popular do exercício do poder político – delegação do poder –
democracia representativa (artigo n.º 10, n.º 1)
estatui o artigo n.º 108 que o poder político reside no povo e o artigo n.º 109 compreende a participação direta
e ativa dos cidadãos na vida política.
envolve várias formas de concretização
» princípio da soberania popular – o poder reside no povo. A CRP consagra expressamente em vários artigos,
na medida em que é possível encontrar em seu texto normas que referem que o poder político reside no povo
(exemplo – artigo n.º 3 n.º 1; 10 n.º 1; 108 CRP).
» representação política – o poder político pertence ao povo, mas é exercido, na generalidade dos casos, por
representantes por eles designados (exemplo – artigo n.º 202). representar significa agir em nome de alguém.
Aqueles que exercem as funções publicas, mesmo alguém que seja funcionário de uma autarquia, decide em
nome do povo. em Portugal, os cidadãos através das eleições, normalmente, transferem (delegam) para outros
o exercício do poder, entretanto, também é possível em alguns momentos que a decisão caiba não aos
representantes, mas sim aos representados. isto é, que o povo possa tomar decisões fundamentais emitida
diretamente (exemplo artigo n.º 115), porém, os referendos em Portugal dependem sempre de decisão dos
órgãos de soberania, confrontam-se com essa limitação. não há a possibilidade de um referendo ser
determinado pela vontade dos próprios cidadãos – os representantes devem autorizar a devolução do poder de
decidir sobre uma determinada matéria.
» democracia participativa – visa contrariar a democracia limitada; deve estar envolvido com os cidadãos
como interessados ativos naquilo que a política faz. participar politicamente significa envolver-se na vida dos
partidos políticos e em atividades cívicas a criação de movimentos sociais de apoio a guerra da Ucrânia é um
exemplo de participação política. os cidadãos devem exercer cidadania ativa que permite influenciar o modo
como as decisões políticas são tomadas. (artigo n.º 9 alínea c).

7. normas constitucionais
a distinção entre normas perceptivas e programáticas tem a ver com a circunstância da eficácia dessas normas
estar ou não condicionada pela realidade que as rodeia – se a eficácia da norma, está dependente daquilo que
são as circunstâncias concretas da vida, portanto os efeitos que ela se destina a produzir são diretamente
condicionados com esse facto a norma é programática. de ao contrário, a norma pode vigorar os efeitos
independentemente das condições da realidade, é norma perceptiva. a norma é perceptiva, como o próprio
nome indica, porque estabelece preceito, preceito é uma regra, uma ordem.
a norma é programática quando estabelece um programa. a diferença reside no facto de serem ou não
completas e de carecerem ou não de desenvolvimento por parte do legislador. basicamente, de deterem ou não
uma norma que a complemente de modo a que esta faça efeitos. tem a ver com o que estabelecem na realidade
e se dependem ou não dela.
normas programáticas – estão dependentes da realidade concreta, são normas que viam realizar objetivos e,
portanto, visam transformar a realidade. uma vez que visam transformar a realidade estão condicionadas com
os termos dessa mesma realidade. a concretização depende da realidade. ao definir objetivos, definem também
os meios para lá chegar.
normas perceptivas – não estão condicionados os seus efeitos pela realidade concreta; não está condicionada
a circunstâncias concretas da sociedade. a eficácia dessas normas não depende da realidade social. tem
efetividade independente das condições reais concretas. estabelecem preceitos, visam definir condutas.
(exemplo – direitos de liberdade e garantias, direito a vida – artigo n.º 24 CRP, direito ao voto aos 18 anos).
estas subdividem-se em
» normas exequíveis por si mesmas – executa-se só por si, são normas autossuficientes. (exemplo – direito
à vida, artigo 36 e 48 CRP)
» normas não exequíveis por si mesmas – não se executa só por si, fica dependente de uma lei; intervenção
do legislador sem a qual a norma não tem condições para produzir efeitos. os seus efeitos estão dependentes
da intervenção do legislador para criar condições de concretização de determinado direito. a norma
constitucional não é autossuficiente. (exemplo – direito a greve – artigo n.º 57 n.º 3, e n.º 167).

8. revisões constitucionais
a Constituição de 1976 na sua versão original uma forma que conjuga duas legitimidades, sendo elas a
legitimidade democrática e a
legitimidade revolucionária (representada pelo conselho da revolução, imposição corporativa das forças
armadas). além dessa espécie de tutela militar sobre a vida política portuguesa, ao conselho da revolução eram
atribuídos poderes de aconselhamento ao presidente da república, poderes legislativos (o conselho
revolucionário podia aprovar decretos-lei sobre matéria militar), competências executivas na medida em que
era o conselho da revolução que era responsável pela organização e funcionamento das forcas armadas, e não
era o governo. ao conselho da revolução também era atribuído competências de fiscalização da
constitucionalidade. as funções que cabem ao tribunal constitucional eram, na versão original da constituição
portuguesa, eram atribuídas ao conselho da revolução. portanto, há um órgão militar composto exclusivamente
por militares e escolhidos por eles, que legisla matéria de forcas armadas, que dirige as forcas armadas, que
condicionam o exercício de funções do presidente, e tem competências determinantes em matéria de
fiscalização da constitucionalidade. essa era uma democracia que tem funções exercidas pelos militares,
verifica-se uma anormalidade.
nos primeiros 10 anos da história democrática, a seguir à Constituição de 1976, o presidente da república foi
militar.
enquanto Portugal tivesse uma democracia condicionada, no ponto de vista político, e tivesse, do ponto de
vista económico, um conjunto de soluções que são contrárias daquilo que a união europeia apresenta, Portugal
não podia aderir a comunidade europeia. isso significa que a Constituição portuguesa de 1976, aprovada num
momento pós revolucionário, tinha de ser alterada porque se não fosse, Portugal não seria aceite nas
comunidades europeias. e esse é o principal motivo que desencadeia a primeira revisão constitucional de 1982.
» primeira revisão ordinária – 1982 – mais importante – elimina-se da carga ideológica alguns artigos
socialistas – extinção do conselho da revolução. o poder civil parou de estar subordinado ao poder militar.
obrigou a alterações do texto constitucional
as condições do conselho da revolução são distribuídas por diferentes órgãos de soberania, alguns já existentes
e outros que foram criados, por exemplo, as funções que o conselho da revolução tinha de consulta do
presidente da república foram transferidas para um órgão criado em 1982, o conselho de estado (é hoje um
órgão de aconselhamento do presidente da república), esse órgão substituiu aquilo que antes competia ao
conselho da revolução.
no que diz respeito as forcas armadas, as suas competências legislativas e executivas foram transferidas para
a assembleia da república e para o governo; a assembleia da república passou a ter competências para aprovas
as mais importantes leis em matéria militar e o governo passou a ser responsável pela legislação menos
importante em matéria militar e pela condição das forcas armadas que agora são dependentes do governo e do
presidente da república.
por fim, a matéria de fiscalização da constitucionalidade, que estava atribuída ao conselho da revolução, é
atribuída a um órgão criado na revisão constitucional de 1982, nomeadamente o tribunal constitucional.
a civilização do regime é, assim, o contributo mais importante da revisão constitucional de 1982.
essa revisão constitucional, na perspectiva da adesão de Portugal as comunidades europeias, preocupa-se em
começar a retirar o peso ideológico da Constituição, no plano político e económico. o percurso começa nessa
matéria, mas não acaba porque os avanços económicos feitos não resolviam por completo o problema da
articulação entre a economia portuguesa e uma economia capitalista concorrencial como a dos países da união
europeia.
» segunda revisão ordinária – 1989 – avança significativamente no processo de desestatização da economia.
era necessário abrir a economia e torná-la mais concorrencial, era preciso abrir o processo de privatização das
empresas que tinham sido nacionalizadas a seguir ao 25 de abril, era necessário permitir que houvesse
televisões e rádios privadas. elimina-se a reforma agrária.
com a revisão de 1989 é introduzida a figura do referendo nacional em Portugal.
» primeira revisão extraordinária – 1992 - todas as revisões extraordinárias se devem a motivos de natureza
externa, o que não significa que não possam ser utilizadas para modificar normas que tinham a ver com
questões exclusivamente internas.
a razão que desencadeia as revisões constitucionais extraordinárias em Portugal é sempre de natureza
internacional – é desencadeada pelo tratado de Maastricht, tratado que transforma as comunidades europeias
em união europeia. a grande razão que leva a revisão constitucional de 1992 é a circunstância de o tratado de
Maastricht ser o que introduz a moeda única, estabelece o euro. a moeda única é gerida e criada pelo banco
central europeu e a Constituição portuguesa tinha uma norma que estabelecia que o exclusivo de emissão de
moedas em Portugal era do banco de Portugal; portanto, isso obrigava a rever a constituição porque os tratados
europeus determinam que a sua entrada em vigor fica dependente da aprovação unanime dos estados-
membros.
» terceira revisão ordinária - 1997 - mexe em muitos artigos da Constituição, mas não tem um fio condutor,
por exemplo, é a revisão que permite as candidaturas independentes nas câmaras municipais, impõe que a
regionalização exija um referendo, estabelece a possibilidade de criação de círculos uni nominais (elegem só
um deputado), e a partir dela os imigrantes passam a ter o direito de votar nas eleições para o presidente da
república. não existe um tema que motiva essa revisão constitucional ordinária, como as outras.
» segunda revisão extraordinária - 2001 – é uma revisão que é motivada por uma razão de ordem externa e é
desenvolvida por outra razão de ordem externa. é motivada pela vontade de um país se tornar membro
fundador de uma organização, que é o tribunal penal internacional. é por força da vontade de adesão de
Portugal ao tribunal penal internacional que a revisão constitucional de 2001 começa. quando essa revisão
está em curso acontece o ataque as torres gêmeas, portanto, isso acaba por ser um motivo que conduz alterar
um conjunto de regras que inicialmente não estava ponderado.
essa revisão se tornou necessária porque a criação de um tribunal penal internacional era de aspiração da
comunidade internacional, há muitos séculos que existem tribunais internacionais que julgava Estados e não
pessoas que praticam atos contra o direito internacional (exemplo – crimes contra a paz da humanidade). a
competência dos tribunais é a competência que existe no momento da prática do facto, é o princípio básico. a
criação de tribunais depois dos crimes serem cometidos e resultando da vontade que quem ganhou para julgar
aqueles que perderam; não é um bom princípio. o tribunal internacional penal é uma tentativa de mudar essa
situação.
princípio fundamental: a Constituição portuguesa proíbe que um caso em caso de extradição para um individuo
ser julgado em outro país, não é autorizada a não ser que tenha garantias do país que realiza o pedido, que a
pena de morte ou de prisão perpétua não será aplicada ou se for aplicada pelos tribunais, o poder político se
comprometa a não ser efetivamente aplicada.
a pena máxima que o tribunal internacional pode aplicar é a pena de prisão perpétua, portanto, a Portugal não
podia ser realizado esse pedido por não poder haver pena de prisão perpétua. a única forma de Portugal aderir
ao tribunal penal internacional seria mudar a Constituição permitindo, excecionalmente quando se trata do
tribunal penal internacional, a possibilidade de poder ser aplicada a pena de prisão perpétua. a única alternativa
era rever a constituição extraordinariamente. o 11 de setembro permitiu rever a Constituição no sentido de
tornar mais fácil a luta contra o terrorismo.
» quarta revisão ordinária – 2004 – foi fundamentalmente provocada pela vontade de resolver aquilo que tinha
ficado conhecido na vida política portuguesa como o contencioso das autonomias. a ideia era tentar encontrar
soluções que permitissem pôr fim ao conflito permanente sobre a dimensão e os limites da autonomia das
regiões autônomas, sobretudo no plano legislativo. a revisão constitucional de 2004 é desencadeada e
caracterizada por essa questão da autonomia regional com o aumento das competências legislativas das regiões
autônomas, e com extinção da figura do ministro da república e a sua substituição por uma figura com menos
poderes, chamada representante da república. O ministro da república é substituído pelo representante da
república, que tem menos poderes e que exerce nas regiões autônomas os poderes que em nível nacional
competem ao presidente da república.
» terceira revisão extraordinária – 2005 – esta revisão serviu exclusivamente para abrir uma exceção para os
tratados europeus permitindo a realização de um referendo sobre a aprovação de um tratado que aprofunde a
integração europeia. isso foi pensado por causa do tratado constitucional, como França recusou teve de ser
aletrado e vem depois dar origem ao tratado de Lisboa.
é uma revisão extraordinária e se traduz apenas na introdução da constituição do artigo n.º 295, que vem
permitir que se realize em Portugal um referendo sobre a aprovação de um tratado que visa construção e
aprofundamento da união europeia. introduziu-se uma norma na constituição permitindo que um tratado sobre
questões europeia seja objeto de convenção internacional. segundo o artigo 115 n.º 3 – o regime do referendo
em Portugal não permite que um referendo incida sobre convenção internacional.
a revisão constitucional de 2005 vem permitir que, diferentemente do que acontece nos outros casos, o
referendo europeu incida sobre o próprio tratado e se concorda com a aprovação dele. Portugal já havia tentado
realizar um referendo sobre questões europeias,
mas não podia se perguntar aos cidadãos se concordam com a aprovação do tratado, então elaboram-se
perguntas para colocar a apreciação dos cidadãos e na sequência, de acordo com as respostas, o país ratificaria
ou nãos os tratados.

9. atos normativos legislativos e não legislativos


no texto constitucional português, há questões de extrema relevância:
1. questão da lei – a Constituição fala em atos normativos (atos que contêm normas) no artigo 112. nem todos
os atos normativos são atos legislativos (ato com valor de lei). a lei é um ato dotado de generalidade (significa
que as normas jurídicas não são estabelecidas para uma pessoa concreta e sim para todos aqueles que se
venham a enquadrar na situação que a norma prevê) e abstração (significa que a norma não é feita a pensar
num caso concreto, mas sim se aplica a todas as situações que se venham a enquadrar naquilo que a norma
estabelece). a Constituição não diz que nega a ideia de generalidade e abstração como conceitos fundamentais
para caracterizar uma lei, e nem que são obrigatórias para que uma lei seja considerada como tal.
na generalidade dos casos, as leis são e devem gerais e abstratas para que não crie discriminações inaceitáveis
constitucionalmente; prejudicar quem não deve e beneficiar quem não merece. entretanto, generalidade e
abstração não definem uma lei, os critérios que as qualificam é:
→ conteúdo político desse ato, uma vez que uma lei traduz sempre um critério de decisão político e ampla
margem de liberdade de escolha. um ato legislativo é sempre caracterizado pela inovação da ordem jurídica.
os atos legislativos são instrumento essencial para realizar os fins do estado. as realizações do Estado e as
opções que essa realização implica exigem sempre um ato legislativo. Por isso, os outros atos normativos não
legislativos se diferenciam dos atos legislativos, porque não tem o critério de decisão política, não lhes cabem
a realização dos fins do estado e não tem o caráter inovatório da lei; além de estarem subordinados à lei,
dependendo sempre da sua validade. atos legislativos subordinados à lei tem autonomia relativa, mas não são
inovadores de ordem jurídica e nem contém critério primário de decisão política; porque estão condicionados
pelos termos que a lei estabelece.
→ critérios formais, em particular quando se trata de leis da assembleia da república porque a maneira de
fazer atos legislativos é diferente. os atos legislativos têm um modo de elaboração e entrada em vigor que é
muito mais exigente do que os métodos de elaboração e entrada em vigor dos atos regulamentares.
→ lugar especial que tem na hierarquia das normas e pelas forças das suas disposições. na hierarquia das
normas as leis ocupam um lugar particular que é subordinado a Constituição, mas é superior a outros atos
legislativos internos. por isso, a lei tem de ser respeitada por atos que decorram do exercício de outras funções
do estado sob pena de ilegalidade desses mesmos atos.

9.1 atos legislativos


em Portugal, há 3 categorias de atos legislativos (atos com valor de lei) artigo n.º 112 n.º 1:
→ leis: vem da assembleia da república
→ decretos-lei: são oriundos do governo
→ decretos legislativos regionais: são originários das assembleias legislativas das regiões autónomas
as leis e os decretos-lei têm o mesmo valor e são aprovados pelos órgãos legislativos, de acordo com os poderes
conferidos pela Constituição da República Portuguesa. chamam-se leis aos atos aprovados pela Assembleia
da República e decretos-lei aos aprovados pelo Governo.
lei – categorias de competência legislativa
• reserva absoluta: segundo o artigo 164, cabe apenas a assembleia legislar.
• reserva relativa: artigo 165, a assembleia tem uma opção – decidir se quer conferir uma autorização ao
governo para legislar sobre certa matéria. a exclusiva competência legislativa é da assembleia, mas caso queira
que o governo intervenha deve ser feito dentro das linhas de orientação; a assembleia tem de definir os
parâmetros dentro dos quais o governo pode legislar (artigo 165 n.o 2). quando a assembleia emite uma
autorização ao governo tem de definir limites sob o qual ele deve se manter porque a competência é sua –
referir sobre qual matéria que ele vai legislar, qual o sentido da legislação, qual a orientação que o governo
tem de seguir, qual é o período que está autorizado e qual é a extensão.
nos termos do artigo 165 da Constituição, a dissolução da assembleia da república ou a demissão do governo
faz caducar as autorizações legislativas. as autorizações legislativas pressupõem uma relação de confiança
entre aquela assembleia da república e aquele governo;
• competência concorrencial: matérias que a assembleia da república pode legislar, mas não tem reserva
exclusiva. nos artigos 164 e 165 a assembleia da república não compete com ninguém; fora esses casos, há
competição e concorrência porque a assembleia não tem supremacia sobre nenhum órgão. artigo 161 alínea c
CRP.
decretos de lei – atos legislativos do governo
o artigo 198 CRP confere ao governo quatro tipo de competência legislativa, sendo que podem e devem ser
divididas em dois nomeadamente competência legislativa dependente e competência legislativa independente.
→ competências legislativas independentes – casos em que o governo é livre de legislar não estando
dependente da vontade da assembleia da república. o governo não está condicionado pelo parlamento para o
exercício da sua competência legislativa. são competências independentes aquelas que estão previstas no n1
alínea a e n2 do artigo 198 CRP.
• reserva absoluta – competência exclusiva do governo – resulta do n2 do artigo 198.
• competência legislativa concorrencial – resulta da alínea a do artigo 198. estabelece que compete ao governo
fazer decretos-lei em matérias não reservadas a assembleia da república, o que significa que o governo pode
legislar sobre tudo exceto se a matéria for reservada ao parlamento. o governo e a assembleia da república têm
a mesma posição, estão em pé de igualdade, ambos podem legislar.
→ competência legislativa dependente – a intervenção legislativa do governo está condicionada por uma
intervenção prévia da assembleia da república; a forma do governo legislar depende do que a assembleia
realizou antes. o governo só pode intervir legislativamente se a assembleia da república antes fizer alguma
coisa; sua capacidade de legislar está condicionada. são apresentadas no n1 alínea b e c do artigo 198 CRP.
• competência legislativa autorizada – resulta do artigo 198 n1 alínea b. podem existir decretos-lei autorizados
nas áreas onde pode haver autorizações legislativas, ou seja, quando estamos perante matéria do artigo 165.
se a assembleia da república aprovar uma lei de autorização legislativa, concedendo ao governo permissão
para intervir dentro dos parâmetros que a assembleia da república estabelecer, na sequência haverá um decreto-
lei autorizado. o decreto-lei autorizado, tem de exercer dentro dos limites da lei de autorização; nessa lei a
assembleia define um objeto de sentido, extensão e duração.
• competência legislativa de desenvolvimento – artigo n.º 198 n.º 1 alínea c. relação entre leis de bases e
decretos-lei de desenvolvimento. há matérias que deve haver reserva da assembleia da república, mas essa
reserva não deve estender-se a todo o tratamento de determinado assunto.
decretos legislativos regionais
→ competências legislativas dos parlamentos regionais –há matérias em que regiões autônomas podem
legislar, mas não existe matéria com exclusiva competência para tal.
• competências independentes: as regiões autônomas podem legislar sem estar dependente da intervenção do
governo ou da assembleia da república relativamente a matérias que interessem as próprias (exemplo – turismo
na região).
• competências dependentes: pressupõe uma anterior intervenção da assembleia da república. as assembleias
legislativas das regiões autônomas têm a possibilidade de provar diplomas autorizados, decretos legislativos
regionais autorizados, e podem aprovar diplomas de desenvolvimento, decretos legislativos regionais de
desenvolvimento. a alínea b do artigo 227 n1, confere as regiões autônomas o poder de legislar em matérias
de reserva relativa da assembleia da república mediante a autorização desta (decretos legislativos regionais
autorizados).
------ diz o artigo 112 n.º 2 da constituição que lei e decreto-lei têm igual valor sem prejuízo da subordinação
as correspondentes leis dos decretos-lei publicados no uso da autorização legislativa e dos que desenvolvam
as bases gerais dos regimes jurídicos. isto ignifica que tem igual valor em princípio geral, mas possui uma
exceção onde os decretos-leis autorizados e decretos-lei desenvolvimento estão subordinadas as
correspondentes leis. portanto, neste contexto, um decreto-lei não pode revogar uma lei. o princípio geral é de
equiparação hierárquica em termos de valor entre lei e decreto-lei, mas aplica-se somente na matéria da
competência legislativa concorrencial.

10. categoria de leis


leis de valor reforçado (artigo 112 n3).
se a lei tem valor reforçado significa que tem de ser respeitada por atos de outras funções do Estado e por atos
da própria AR no exercício da função legislativa – se isso não acontecer, a lei que viola outra lei de valor
reforçado é ilegal e não pode ser aplicada.
a Constituição prevê a existência de um tribunal constitucional que serve para verificar se a Constituição é ou
não respeitada e para decidir, se for o caso, afastar a aplicação de normas jurídicas que violem a constituição
(artigo 280 e 281).
é a própria constituição que utiliza a expressão lei dei valor reforçado e que diz que a sua violação gera
ilegalidade.
segundo o artigo 112 n.º 3, ao utilizar a expressão valor reforçado, diz que são dotadas desse mesmo valor
reforçado, quatro categorias distintas de leis. sendo elas...
1. leis orgânicas – as leis orgânicas são fundamentalmente caracterizadas por quatro elementos:
I. todas as leis orgânicas incidem sobre matérias do artigo 164. todas as leis orgânicas são incluídas na
reserva absoluta da assembleia da república. n.º 2 do artigo 166 e 255. nem tudo o que é reserva absoluta da
assembleia da república exige lei orgânica. não há qualquer flexibilidade do legislador. só são leis orgânicas
aquelas que o 166 n2 impõe que seja. o legislador não pode atribuir natureza de lei orgânica a uma que não
possui. existe princípio de tipicidade.
II. as leis orgânicas integram a categoria de leis de valor reforçado pelo procedimento. são aquelas que tem
valor reforçado porque o processo da sua aprovação é mais exigente que o processo de aprovação das leis
comuns. a regra geral de aprovação de leis na assembleia da república é a regra da maioria simples ou relativa.
as leis orgânicas têm uma exigência maior porque, de acordo com o artigo 168 n5, carecem de aprovação na
votação final global por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções, isto é, carecem de
aprovação por 116 votos. as leis orgânicas carecem de uma maioria especial na última votação. pode ter
maioria simples na primeira votação e passa, mas não pode ter maioria simples outra vez no final; tem de ser
maioria absoluta.
III. tem a ver com o que acontece no caso de o presidente da república vetar. por regra geral, artigo 136 n2,
se a assembleia da república confirmar o voto por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções,
o presidente da república deverá promulgar o diploma. já no caso das leis orgânicas, como a maioria absoluta
já foi a maioria de aprovação, se houver veto do presidente da república, a maioria de confirmação não é a
maioria absoluta e passa a ser a maioria prevista no artigo 136 n3, que estabelece nesse caso, exigência de
maioria de 2/3 dos deputados presentes desde que tenha tido maioria absoluta dos deputados em efetividade
de funções. para ultrapassar o veto do presidente, não exige a mesma maioria que para aprovar a lei, sobe o
patamar (de maioria absoluta para maioria de 2/3).
IV. enquanto todas as leis só o presidente da república pode pedir ao tribunal constitucional a fiscalização
preventiva, isto é, a fiscalização que é feita antes da promulgação; nas leis orgânicas o pedido de fiscalização
preventiva pode vir do presidente da república, do primeiro-ministro ou de 1/5 dos 230 deputados da
assembleia. portanto, nesse aspeto as leis orgânicas apresentam uma particularidade que as diferencia das
restantes leis.
2. leis que carecem de aprovação por maioria de 2/3 – são leis de valor reforçado pelo procedimento, pois
essas leis são aquelas que registam um processo de aprovação mais exigente do que as leis ordinárias.
o artigo 166 n.º 6 define uma maioria de 2/3 dos deputados presentes que tem de ser superior a maioria absoluta
dos deputados em efetividade de funções – há uma dupla maioria, por um lado são 2/3 dos deputados que
estão presentes no momento da votação, mas esses 2/3 tem de ser superior a maioria absoluta dos deputados
em efetividade das suas funções, ou seja, tem de ser pelo menos 117. tem de cumprir esses dois requisitos.
carecem de aprovação de 2/3 desde o início, se não tiver essa maioria de primeira, chumba.
3. leis que constituem pressuposto normativo necessário de outras leis – são leis de valor reforçado pelo
conteúdo ou em sentido próprio. são aquelas leis cuja relevância é ditada pela matéria que se ocupam.
de acordo com o artigo 112 n.º 3 da constituição, essas leis de valor reforçado pelo conteúdo dividem-se em
dois grupos:
- as leis que constituem um pressuposto normativo necessário de outras leis: para haver uma lei, outra tem que
existir. caso a lei A não exista, a lei B não pode existir. significa que precisa que a lei anterior condicione a
existência da lei posterior. o conteúdo da lei posterior está necessariamente condicionado pela lei anterior.
(exemplo – as leis de bases constituem um pressuposto normativo necessário dos decretos de lei de
desenvolvimento; a lei de ases também condiciona o conteúdo de um decreto-lei de desenvolvimento). pelo
fato de constituírem um pressuposto normativo necessário também condicionam o conteúdo;
- as leis que por outras devem ser respeitadas.
4. são leis de valor reforçado pelo conteúdo. artigo 112 n.º 3. significa que existem leis que tem de ser
respeitadas por outras. certas leis devem estar em conformidade com outras. a existência da lei posterior não
está dependente da lei anterior, mas existindo a lei anterior, a lei posterior deve respeitá-la. há uma relação de
subordinação entre as leis, isto é, se existir a lei A, a lei B tem de a respeitar embora não necessite dela para
existir. (exemplo – o orçamento de Estado impõe-se a todas as outras leis e nenhuma lei pode estar em
contradição com ele).

11. processo legislativo parlamentar


» processo de aprovação de leis na assembleia da república.
as assembleias legislativas regionais são parlamentos como a assembleia da república, portanto, as regras que
são seguidas são as mesmas. Já no que diz respeitos aos decretos de lei do governo os processos são diferentes.
na assembleia da república a aprovação de leis é pública enquanto no governo é secreto. o parlamento sendo
um órgão aberto e uma assembleia representativa a todos os cidadãos têm discussões as claras e está sujeita a
exigências constitucionais especificas relativamente ao modo como a tramitação de aprovação de diplomas se
faz.
o processo legislativo parlamentar é longo porque tem várias fases, é dada a oportunidade a todos os deputados
de participarem, e mesmo as forcas políticas que são contra o diploma colaboram para tentar encontrar
soluções políticas.
o papel fundamental da assembleia da república é fazer leis que tem de ser um diploma tecnicamente
elaborado.
» as fases do processo legislativo parlamentar são quatro e dependendo do ponto de vista são cinco
1. fase iniciativa – artigo 167. essa fase supõe a apresentação de um projeto de diploma, nesse caso um projeto
de lei/proposta de lei.
iniciativa legislativa – poder de desencadear o processo legislativo, entidades com iniciativa legislativa:
deputados, governo, grupos parlamentares, grupos de cidadãos eleitores, e assembleias legislativas das regiões
autónomas – artigo 167 n 1 (não exequível por si mesma) | competência legislativa – poder atribuído a certas
entidades para aprovar atos legislativos – AR, governo e AR.
o governo tem ambas (iniciativa e competência, mas em planos diferentes). a assembleia não – não tem
iniciativa.
» o documento pode designar-se por proposta de lei ou projeto de lei (artigo 119 n2 do regimento). projeto
de lei quando exercido pelos deputados ou grupos parlamentares e proposta de lei quando exercido pelo
governo ou pelas assembleias legislativas das regiões autónomas. as iniciativas legislativas são enviadas ao
PR.
2. fase de apreciação/fase instrutória – não está prevista na Constituição e sim num diploma que regula a
atividade da assembleia da república (regimento da assembleia da república – rege o funcionamento da
assembleia).
se houver violação das normas constitucionais em matérias da primeira fase, da terceira e da quarta, a lei não
pode vigorar. caso essa fase falte, não acontece nada, embora precisar existir, mas não é obrigatório. (exemplo
– não tem tempo de debater um caso de urgência então passa essa fase).
única fase facultativa e que não vem prevista na Constituição. essa fase corresponde a uma fase de estudo;
» a ideia é de que antes de passar a discussão e a votação política, a assembleia da república reflita sobre tal
para analisar a iniciativa legislativa com a finalidade de entender por que foi realizada, quais os objetivos que
visa e quais as consequências de uma eventual aprovação dessa iniciativa.
» esta fase não é eliminatória.
3. fase de discussão e votação/fase constitutiva – artigo 168 n1 e n2. a primeira votação é eliminatória; se
um diploma for reprovado na votação na generalidade não tem seguimento. é uma fase complexa que se
desagrega em várias subfases (2 discussões e 3 votações).
manda a Constituição do artigo 168, que esta fase seja dividida em três momentos diferentes – determina que
o processo envolva duas discussões e três votações – toda a lei tem de registar isto (se faltar alguma, a lei é
inconstitucional)
» discussões – discussão na generalidade – analisaram-se princípios fundamentais | discussão na
especialidade – detalhadamente o que significa
» votações – votação na generalidade - tem lugar no plenário da assembleia – sobretudo política, mas também
é técnica (exemplo – eutanásia – quando o diploma foi aprovado na AR, esse texto resulta de quatro iniciativas
que foram apresentadas por partidos diferentes – não se discutia quantos meses é que tinha de esperar para
fazer a eutanásia, quem é contra é contra, n vai discutir estes temas) isto significa que os que negaram n tenham
opinião depois para ajudar (convém, mesmo que não se revejam nesses valores) | votação na especialidade -
tem lugar nas comissões parlamentares – incide sobre cada artigo, número ou alínea – artigo 152 do
regulamento da assembleia | votação final/global – volta ao plenário - (não é antecedida de discussão) – não
está em causa uma análise detalhada, são apenas aspetos gerais. artigo 147 do regimento da assembleia
problema: requisitos a serem cumpridos (seja qual for o momento): o pressuposto fundamental para que uma
votação tenha lugar há uma regra fundamental – quorum – ou seja, um órgão colegial tem de ter regras para
quantos dos seus membros é que tem de estar para funcionar
quórum de funcionamento | quórum deliberativo – número de membros que tenham de estar presentes – artigo
116 CRP – maioria - diz que as deliberações dos órgãos colegiais são tomadas com a presença de maioria do
número legal de seus membros – a verificação do quórum é feita através de meios eletrônicos.
se a iniciativa legislativa é aprovada, passamos a ter um texto, que já não é um projeto/proposta de lei, e sim
um decreto da AR (é uma aspiração a ser lei, fata passar a apreciação do presidente da república).
a partir daqui o processo legislativo parlamentar sai do palácio de São Bento e muda-se para o palácio de
Belém.
4. fase de veto/promulgação/fiscalização ou fase de controlo – não é competência da assembleia da
república e sim do presidente. o Presidente está de facto a fiscalizar aquilo que a AR fez, tem uma dupla
vertente – se tiver dúvidas quanto a situação política que a ar tem no texto – veta. se tiver dúvidas quanto ao
respeito pela constituição – pede ao tribunal constitucional que tire estas dúvidas.
artigo 136, 278 e 279.
é uma fase que depende do presidente da república – é chamado a intervir no processo legislativo, mas esse
facto não faz dele legislador. o presidente da república exerce controle sobre o poder legislativo dos outros,
mas não legisla e sim fiscaliza.
o presidente da república pode vetar o que quiser, mas não deve fazê-lo.
entretanto, ao vetar, o presidente é obrigado a enviar à AR uma mensagem fundamentada explicitando as
razões pelas quais não promulgo.
por um lado, a assembleia quer uma lei, e por outro o presidente da república não quer, para resolver essa
divergência tem algumas possibilidades (algumas a Constituição refere expressamente e outras
implicitamente):
• a assembleia da república não faça nada, ao analisar o teor das críticas formuladas pelo presidente da
república, pode chegar à conclusão de que ele tem razão e que as críticas afetam o teor do diploma e por isso
não há solução ao texto; não tem como corrigir. não acontece com frequência. a assembleia da república
entende que sem as normas que foram criticadas o diploma não faz sentido e o processo legislativo não tem
seguimento.
• expurgar o diploma, ou seja, retirar. a assembleia da república limitasse a retirar do diploma as normas que
fundamentam o veto político do presidente. permite salvar o diploma uma vez que desaparece a razão de
conflito com o presidente da república.
não é possível fazer em todas as normas, porque se for retirada uma que leva outras a perderem o sentido, não
deve ser feito.
• reformulação, que é alterar o teor do diploma/modificar as soluções que dele constam. o presidente não
concorda com determinadas normas do diploma porque as soluções nelas consagradas para ele não são
adequadas, logo, a assembleia da república irá encontrar soluções novas que permitam ultrapassar a oposição
do presidente da república.
• confirmação, é possível a assembleia da república aprovar novamente a lei. a maioria necessária é, por regra,
uma maioria superior a maioria de aprovação inicial (artigo 136 n2 CRP). isto é, como regra geral, a
assembleia da república precisa para confirmar o diploma de uma maioria de 116 deputados, com algumas
exceções, as leis orgânicas por exemplo. (exemplo- há 120 deputados presentes, há quórum e pode deliberar,
se houver 2/3 deles a favor e pelo menos 117, o diploma é confirmado). se a confirmação existir, o presidente
da república é obrigado a promulgar o diploma no prazo de 8 dias a contar a sua recessão.
o veto do presidente da república pode ser ultrapassado.
5. fase de integração de eficácia – publicação. alguns entendem que essa fase não faz sentido porque a lei só
existe depois da promulgação; a publicação não é condição da sua existência e sim da sua eficácia. artigo 119.
ineficácia jurídica devida à falta de publicação oficial.

12. inconstitucionalidade
inconstitucional é aquilo que viola a constituição. se é inconstitucional não é valido. a inconstitucionalidade
aplica-se apenas a atos do poder público ou de entidades privadas que exerçam o poder público. é ter um
comportamento desconforme com o que a lei estabelece.
ilegal é aquilo que viola a lei – a ideia de ilegalidade traduz em uma situação em que há desconformidade com
a Constituição. a ideia da supremacia da Constituição tem a ver com o papel especial que ela ocupa na ordem
jurídica e com a importância das matérias que ela trata. tudo deve estar subordinado a Constituição, o que
implica que deve haver mecanismos adequados a não permitir a aplicação e afastar a ordem jurídica aquilo
que a viola (artigo n.º 3 n.º 3 e 277 n.º 1). não se pode reduzir a conceito de ilegalidade a ideia de violação de
normas da CRP. ao violar princípios que são acolhidos por normas, cujas manifestações podem ser
encontradas em diversos artigos, é inconstitucionalidade.
concluindo, a inconstitucionalidade é o desrespeito pela Constituição por atos provenientes de entidades
públicas e que se pode traduzir na violação de normas constitucionais ou de princípios que a Constituição
consagra. a ilegalidade, no direito constitucional é o desrespeito de leis de valor reforçado por parte de leis
ordinárias.
há várias formas
1. inconstitucionalidade por ação – violação por fazer algo que é proibido.
2. inconstitucionalidade por omissão – artigo n.º 283. violação por não fazer algo que é obrigatório (exemplo
– se a lei me obriga a aprovar um regulamento e eu não o faço, violo a lei por omissão). não cumprir a ordem
imposta. normas não exequíveis por si mesma enquadram-se nesse caso. – algo que impõe.
1. inconstitucionalidade material – tem a ver com a substância, com a matéria, com o conteúdo das normas
constitucionais. existe quando é desrespeitado o conteúdo de uma norma constitucional (exemplo - uma norma
que estabeleça que os cidadãos oriundos da região autônoma dos Açores não podem concorrer em pé de
igualdade com os restantes cidadãos do continente em relação ao acesso as universidades situadas no
continente, seria inconstitucional pela violação do princípio da igualdade). o conteúdo da norma é violado.
tem a ver com o desrespeito às exigências que decorrem do conteúdo de uma norma constitucional. É a única
que não se consegue resolver; a única solução seria mudar a constituição. como se resolve? não se resolve. as
consequências são diferentes – esta não pode ser resolvida, a menos que se mude a Constituição, mas isto não
tem sentido nenhum
3. inconstitucionalidade formal – tem a ver com o desrespeito das regras procedimentais, vícios no
procedimento dos atos (exemplo – a constituição estabelece que uma determinada lei deve ser aprovada por
maioria absoluta, e é aprovada por maioria simples). natureza processual. – como resolve? repete a votação
4. inconstitucionalidade orgânica – tem a ver com órgãos; existe quando foi violado do princípio da separação
de poderes (exemplo- o governo legisla em matéria de reserva absoluta da assembleia da república – o órgão
competente é a assembleia, mas quem legislou foi o governo). pode sempre resolver-se entregando o ato à
entidade resolver
5. inconstitucionalidade originária – momento em que a norma entra em vigor já desrespeita a constituição
que é anterior a ela. a inconstitucionalidade ocorre desde o momento zero (exemplo- 01/04/2020 é aprovada
uma lei, e a constituição da república portuguesa está em vigor desde 1976, está lei contém normas que viola
a constituição). está norma em causa não pode produzir efeitos.
6. inconstitucionalidade superveniente – a inconstitucionalidade não ocorre desde o momento zero. uma
determinada norma estava de acordo com a Constituição, porém, ao ser alterada, a norma passa a estar em
desconformidade com ela (exemplo – existindo a Constituição da república portuguesa e uma lei em
01/04/2020, e ocorre uma revisão constitucional em maio de 2024. esta lei quando entrou em vigor não tinha
nenhum problema e era compatível com o texto constitucional, entretanto, o texto constitucional mudou e
aquilo que respeitava a constituição deixou de respeitar em maio de 2024).
7. inconstitucionalidade total – quando afeta a norma globalmente; toda a norma é inconstitucional e nenhuma
parte dela pode ser aplicada (exemplo – uma norma que estabeleça que os cidadãos da união europeia podem
se candidatar a presidente da república em Portugal).
8. inconstitucionalidade parcial – quando afeta apenas um segmento da norma; apenas uma parcela da norma
é inconstitucional (exemplo – se houvesse uma norma que estabelecesse que todos os cidadãos portugueses,
com exceção dos naturais da região autônoma dos Açores, podem se candidatar em regime de igualdade nas
universidades públicas. esta norma não é totalmente inconstitucional, uma vez que se “com exceção” for
retirado passa a respeitar por inteiro as exigências constitucionais, nomeadamente o princípio da igualdade).
se a parte inconstitucional for retirada da norma, passa a ser constitucional.
9. inconstitucionalidade consequente – a norma legal está numa situação de inconstitucionalidade antecedente,
logo, a norma posterior padece de inconstitucionalidade consequente. a inconstitucionalidade da segunda é
consequência da inconstitucionalidade da primeira (exemplo- uma norma legal pode ser declarada
inconstitucional, ao abrigo dessa lei tinha sido aprovado um regulamento. o fundamento de validade do
regulamento é a norma da lei, logo, sem a norma da lei ele não pode existir. se a norma da lei é inconstitucional,
a consequência é que o regulamento aprovado ao abrigo da norma inconstitucional, também tem de ser
inconstitucional).
10. inconstitucionalidade antecedente – anterior. uma norma é inconstitucional e ao abrigo dela, a outra
também é.
todas as inconstitucionalidades podem ser resolvidas, com exceção a inconstitucionalidade material.
devem ser criados mecanismos para garantir que s normas inconstitucionais não sejam aplicadas. o tribunal
constitucional tem essa tarefa; quem faz a fiscalização da constitucionalidade são os tribunais. não basta
afirmar que uma norma é inconstitucional, deve se retirar consequências desse facto, por isso, é necessário
que haja mecanismos de controlo da constitucionalidade.

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