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Período Autoritário
A Constituição de 1911 vigorou até ao golpe de Estado de 28 de maio de. De 1926 a 1933
vigorou o "Constitucionalismo autoritário", houve uma interrupção da história
Constitucional, só começando em 1931 a ser preparada a nova Constituição. De 1933 em
diante passou a existir Constituição, que se inseria no grupo de Constituições semânticas, ou
seja, a Constituição não era um elemento organizador da sociedade, a Constituição não
cumpria uma função de delimitação dos poderes do Governo. A Constituição existia, mas não
cumpria as funções normalmente atribuídas a uma Constituição. Apesar de a Constituição
conter, no seu artigo 8º, um elenco de “direitos e garantias individuais dos cidadãos
portugueses”, as liberdades foram fortemente cerceadas durante o Salazarismo. A
qualificação do estado como corporativo e a criação da Câmara Corporativa refletem a
atenção prestada ao Fascismo Italiano. A Constituição, logo no seu artigo 1º, projetava na
“Nação Portuguesa” a dimensão de um Império. A organização do poder político instituída
tinha como principais traços característicos: um Executivo exercido pela Presidência da
República e pelo Conselho; tendência Presidencialista na letra da Constituição, que, no
entanto, se haveria de apagar face à preeminência da figura do Presidente do Conselho,
António de Oliveira Salazar; amplos poderes legislativos do Governo. Ao longo das várias
décadas de “vigência” – ainda que meramente formal – da Constituição de 1933, o regime foi
perdendo a sua vertente presidencialista - tendo até, em 1959, sido eliminada a eleição direta
do Presidente da República. A Constituição foi objeto de várias reformas constitucionais, mas
“todas as revisões constitucionais desenvolveram a tendência autoritária inicial”. Só a última
revisão, de 1971, após a substituição de António de Oliveira Salazar por Marcello Caetano na
Presidência do Conselho, teve um pendor mais liberal.
Princípio da Igualdade
O Princípio da Igualdade é associado à ideia de Justiça. Justiça consiste em tratar todos de acordo
com aquilo que são as suas exigências de modo a não haver privilégios, mas também não haver
atuações que ignoram a desigualdade de oportunidades que existem á partida na sociedade. O
Estado de Direito é um estado ao serviço da igualdade e da sua realização entre todas as pessoas.
O Princípio da Igualdade está intimamente relacionado com o Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana. De facto, a dignidade do indivíduo só é verdadeiramente respeitada se este for tratado
em condições de igualdade relativamente aos restantes indivíduos. Há referências a critérios de
igualdade em várias disposições da Constituição, mas é no artigo 13.º que este princípio está
consagrado em termos mais abrangentes. Este princípio também é uma exigência que decorre já
do princípio do Estado de Direito, entendido em sentido material, isto é, como um Estado
comprometido com a realização da justiça. Tal significa que os poderes públicos, no exercício de
todas as suas funções (seja a executiva, a legislativa ou a judicial) estão vinculados ao respeito do
princípio da igualdade.
Artigo 13.º (Princípio da igualdade)
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. – Conceito de igualdade
em sentido formal
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de
qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções
políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
Conceito de igualdade em sentido material – “Tratar o que é igual de forma igual e o que é diferente de
forma diferente na medida dessa diferença”
Princípio da Socialidade
Artigo 2.º - Estado de direito democrático
A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no
pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de
efetivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes,
visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da
democracia participativa.
Embora a formulação deste artigo remeta para o Princípio Democrático, devido à referência à
organização política do poder, este artigo apresenta uma dimensão social, a Democracia não é
só política, mas é também económica, social e cultural.
Nos termos da nossa Constituição, o Estado tem, entre as suas funções essenciais, de empenhar-
se na criação de condições económicas e sociais para haver efetivamente igualdade de
oportunidades entre todos.
Na versão originária da Constituição o pendor ideológico era muito forte no sentido de que o
objetivo da Constituição era o caminho para o Socialismo, e por isso, o Princípio da Socialidade
tinha aí uma associação necessária à construção de uma sociedade sem classes e de uma
aproximação ao ideal Socialista. Com as sucessivas revisões Constitucionais, as referências ao
Socialismo foram desaparecendo. O Princípio da Socialidade subsistiu dado que, o Estado não se
pode demitir de tentar criar estruturas sociais e económicas que favoreçam a igualdade real entre
os Portugueses (artigo 9º d), artigo 81).
O Princípio da Socialidade é um princípio que tem algumas condicionantes na sua realização e
efetivação prática, porque é um princípio sempre condicionado á reserva do possível, ou seja, os
recursos do Estado são limitados e, consequentemente políticas que promovem a igualdade real
entre as pessoas, são políticas que envolvem avultadas somas de dinheiro, e por isso é possível
minorar as desigualdades mas não é possível criar as condições ótimas de igualdade real entre
todos. Por isso, mitigam-se as desigualdades e não se cria necessariamente uma sociedade em que
a igualdade esteja garantida para todos. Na sequência disto, num Sistema Jurídico como o
Português, que é um sistema de democracia em que o legislador tem a liberdade de conformação,
diferentes forças políticas têm diferentes visões de como isto se realiza na prática. Umas visões
defendem uma maior participação do Estado e outras defendem uma menor participação do
Estado na realização de Direitos, devendo o Estado submeter-se mais a uma posição subsidiária.
Quando há uma alternância Democrática e, sucede, a um partido que tenha implementado um
programa de grande participação do Estado na Economia e nas estruturas sociais, um partido que
tem um programa diferente e que pretende liberalizar a Economia e remeter o Estado para um
papel regulador e subsidiário, o problema que se coloca é se este Governo liberalizador pode
provocar o chamado retrocesso social, isto é, pode retirar do Estado funções que este já estava a
assumir, em função de uma realização do Princípio da Socialidade. Aqui, entende-se que não há
um Princípio de Proibição do Retrocesso Social, porque isso invalidaria a liberdade de
conformação do legislador. No entanto, também não há uma total liberdade de retrocesso social,
há elementos mínimos de realização pretérita dos direitos que não podem ser afetados. O Princípio
da Proteção da Confiança também interfere, protegendo os cidadãos de realizações pretéritas dos
direitos, e por isso a atuação dos Governos e dos legisladores tem uma liberdade limitada. A
liberdade de conformação do legislador não é absolta, mas é limita pelo Princípio da Proteção da
Confiança, pelo Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e a garantia de uma existência
condigna, ideias que confluem numa intensificação da proibição do retrocesso social. Pode haver
retrocesso social, mas este retrocesso social tem que ser orientado por alguns princípios básicos
porque de outra maneira o oposto de um Estado social de Direito é o Estado Liberal, em que o
Estado entrega ao mercado a resolução de problemas sociais.
Princípio da Socialidade tem uma associação direta com o Princípio da Igualdade Material. A
igualdade material proíbe que se trate igualmente o que é diferente e diferentemente o que é igual,
e com o Princípio da Socialidade, dizemos que a Igualdade impões atuações diferenciadas no
sentido de repor a igualdade de oportunidades. Dimensão dinâmica do Princípio da Igualdade
Material no sentido de obrigar a políticas concretas de redução das desigualdades.
A República Portuguesa é, portanto, um Estado de Direito democrático e social que deve
promover a justiça social. Há uma estreita ligação desta dimensão social com o princípio da
dignidade da pessoa humana que é o fundamento constitucional de todos os direitos fundamentais,
sejam direitos, liberdades e garantias, sejam direitos económicos, sociais e culturais.
Princípio Democrático
Princípio Democrático é um Princípio da Democracia Política que é essencialmente relevante
para a organização do poder político que existe na Constituição (artigo 108º e seguintes). No
entanto, este Princípio é insistentemente afirmado nos primeiros 11 artigos da Constituição,
nomeadamente os artigos 1º e 2º. No artigo 3º, consagra-se o Princípio da Soberania Popular. No
artigo 10º, refere-se o Princípio do Sufrágio Universal e o Princípio da Pluralidade dos Partidos
Políticos enquanto elementos centrais para o Princípio da Democracia.
Princípio Democrático consiste no “governo do povo, pelo povo e para o povo” (Fórmula de
Lincoln). Este princípio pressupõe o Princípio de Soberania Popular, pressupõe que o titular
último do poder é sempre o povo (conjunto das pessoas que constituem a população de um Estado
num dado momento). Este Princípio da Soberania Popular pode conviver com diversas formas de
manifestação do Princípio Democrático. A forma básica no Sistema Português é a Democracia
Representativa, em que o poder não é exercido diretamente pelo povo, mas é mediado através de
institutos de representação pública do povo, em que quem exerce o poder recebeu por alguma via
mais direta (eleições) ou indireta (mandato popular) legitimidade para exercer esse poder. Há, no
entanto, outras formas de Democracia que se apresentam como alternativa à Democracia
Representativa que são as formas de Democracia direta, onde as pessoas são chamadas
diretamente a tomar decisões políticas importantes. Em Portugal, não existe um Sistema de
Democracia Direta, existe um Sistema de Democracia Representativa, no entanto, tem sido
reforçado um recurso a alguns mecanismos de Democracia Semidirecta, nomeadamente os
referendos, onde os representantes devolvem uma questão política ao corpo eleitoral, ao Povo,
pedindo que este se pronuncie sobre uma dada questão e tome uma decisão. Por isso, a
Democracia Representativa é oposta á Democracia Direta, mas podem conviver de alguma
maneira, e convivem em Portugal através da Democracia Semidirecta, sendo dada a possibilidade
e dar a palavra aos cidadãos através de referendos. Tanto a Democracia Representativa como a
Democracia Direta são concretizações do Princípio Democrático.
Direito Primário – tratados, que são convenções Internacionais. Isto significa que são
textos acordados entre os Estados, que estes assinam e que são ratificados, e que vigoram
na Ordem Jurídica Portuguesa, a partir do momento em que Portugal ratifica (aprova) um
tratado. Isso acontece com qualquer tratado. (artigo 8º nº2)
Direito Secundário essencialmente composto por dois tipos de normas emanadas pelas
Instituições Europeias: regulamentos e as diretivas. O Regulamento, é um ato da União
Europeia, que é diretamente aplicável nos 28 Estados Membros, o que significa que é um
ato normativo europeu que é publicado no Jornal Oficial da União Europeia e que é
aplicado diretamente. Um Regulamento não tem um ato mediador nacional, enquanto as
Diretivas pelo contrário são dirigidas aos Estados Membros da União Europeia, para que
estes façam a transposição da Diretiva. A transposição é cumprir a Diretiva convertendo-
a num ato de Direito Interno. O que vai vigorar em cada Estado é o ato Legislativo Interno
de transposição, que não é uma tradução da diretiva, mas é um modo pelo qual cada
Estado Membro se propõe atingir os objetivos da Diretiva. A União Europeia entende
que em relação a algumas matérias é conveniente uma margem de adaptação dos Estados
(Diretivas) e em relação a outras situações entende que é preferível exigir uma aplicação
uniforme em todo o espaço da União Europeia (Regulamento).
Elege
Portugal não se situa em nenhum dos sistemas matriciais de organização do poder político. Num
Sistema como o Português o povo é chamado a votar para o Parlamento e para o Presidente, e
aparentemente isto deveria significar que somos um Sistema Presidencial. Não somos um Sistema
Presidencial porque o Presidente não tem competência executiva. Das eleições para o Parlamento
decorre a formação de um Governo, e este Governo é o órgão que não tem legitimidade
democrática direta (não é votado diretamente pelas pessoas) mas que, há semelhança dos Sistemas
Parlamentares, espelha o resultado das Eleições Legislativas ou Parlamentares. O Governo exerce
competências executivas. Assim, o Sistema que regula o poder político em Portugal tem
semelhanças com o Sistema Presidencial, mas também tem semelhanças com o Sistema
Parlamentar. Como se designa o Sistema de Organização do Poder Político que vigora em
Portugal? Há uma designação que é o Semi-Presidencialismo. No entanto, há quem considere
que este nome transmite uma visão errada do Sistema que vigora em Portugal, porque este Sistema
(entende autores como Gomes Canotilho e Vital Moreira) tem mais afinidades com o Sistema
Parlamentar do que com o Sistema Presidencial, uma vez que o nosso Presidente da República
não chefia o Executivo. Esses autores consideram que o Sistema Português é de base Parlamentar
com elementos Presidenciais, mas o que define este Sistema é a base Parlamentar e não os
elementos Presidenciais. O Presidente da República tem essencialmente as funções dos
Presidentes da República dos Sistemas Parlamentares, ou seja, funções essencialmente
representativas. No entanto, também é característico dos Sistemas Semi-Presidenciais, até para
justificar a necessidade da sua eleição direta, atribuir aos Presidentes poderes mais significativos
que se traduzem, no poder da dissolução da Assembleia da República.
Este é um poder impensável em qualquer um dos Sistemas Matriciais:
no Sistema Presidencial é impensável porque, com que legitimidade ia o Presidente
dissolver o Congresso, dado que ambos têm a mesma legitimidade democrática;
no Sistema Parlamentar isto não teria qualquer sentido porque quem determina a entrada
em funções do Governo é o Parlamento, e o Parlamento é que escolhe o Presidente,
portanto o centro da vida política é o Parlamento, que pode por termo ao Governo, mas o
Presidente não tem legitimidade democrática direta para dissolver o Parlamento.
SISTEMA SEMI-PRESIDENCIAL
OU
SISTEMA DE BASE PARLAMENTAR COM ELEMENTOS PRESIDENCIAIS
POVO
A configuração do Sistema Português ficou mais ou menos estabilizada em 1976, ou seja, desde
a Constituição de 1976 que as grandes opções constituintes são as mesmas e não sofreram grandes
alterações. O sistema sofreu, no entanto, algumas alterações, que não foram alterações estruturais,
mas que traduziram algumas mudanças no sistema:
a 1ª Revisão Constitucional de 1982 foi a mais relevante do ponto de vista de alteração do
sistema político, porque de 1976 a 1982 existia entre os órgãos estaduais, o Conselho da
Revolução. O Conselho de Revolução é um órgão composto exclusivamente por militares, e
que tinha uma legitimidade revolucionária e não democrática, isto é, tendo sido um golpe
militar o que devolveu a liberdade e democracia a Portugal, os constituintes entenderam que
era conveniente que esse órgão perdurasse durante algum tempo, o que aconteceu até 1982,
ano em que o Conselho de Revolução foi extinto. Na substituição do Conselho de Revolução
foram criados dois órgãos: o Tribunal Constitucional e o Conselho de Estado. Além disso,
nesta Revisão Constitucional há um reforço da Assembleia da República e uma contenção
ligeira dos poderes Presidencias.
Em 1989, a Constituição sofre uma ligeira alteração que foi a introdução da possibilidade de
referendos, de consultas populares a nível nacional. Na versão da Constituição de 1976 não
se previa a possibilidade de a Assembleia da República, sobre uma qualquer matéria, entender
devolver a decisão sobre essa matéria ao corpo eleitoral (povo). Esta possibilidade foi
introduzida em 1989 através da figura do referendo nacional.
Têm havido algumas alterações Constitucionais que visam reforçar as autonomias dos Açores
e da Madeira, que se iniciaram em 1989.
Na Revisão Constitucional de 1997, á figura do referendo, que já existia, acrescenta-se uma
outra possibilidade que é que o referendo não tem de ser decidido pela Assembleia da
República, podem ser os eleitores a propor a realização de um referendo. É introduzida a
possibilidade de os referendos terem iniciativa popular, assim como é criada a possibilidade
de os eleitores subscreverem uma iniciativa legislativa, isto é, se os eleitores entenderem que
deve haver uma lei sobre uma determinada matéria, podem propor isso à Assembleia da
República. Estes mecanismos visam enriquecer um Sistema de Democracia Representativa
com elementos de Democracia Semidirecta, isto é, elementos que permitem aos cidadãos
participarem e exercerem diretamente os poderes. Também foram realizadas algumas
alterações importantes para os portugueses residentes no estrangeiro, que de acordo com a
Revisão de 1988 não podiam participar dos referendos, e esta Revisão torna possível que os
portugueses residentes no estrangeiro possam participar nos referendos, e admite-se também
que participem nas eleições para o Presidente da República.
A Revisão Constitucional de 1997 abriu a porta a uma alteração. A Assembleia da República
é constituída por 230 deputados que são eleitos através de círculos plurinominais. O país está
dividido em círculos que correspondem aos antigos distritos, e em cada distrito são eleitos
deputados. Cada lista apresentada a esse círculo eleitoral é uma lista que inclui vários nomes
ordenados pelo Partido, e depois a pessoa vota na lista do Partido que entender, elegendo com
isso, os deputados. A circunstância das listas serem plurinominais, apresentadas e ordenadas
pelos Partidos, faz com que as pessoas votem em deputados que não identificam ou
reconhecem, porque essencialmente o que fazem é votar em Partidos, querendo com isso
influenciar a formação do Governo. Para evitar essa situação nesta Revisão Constitucional
não se alterou este sistema, mas admitiu-se que o número de deputados pudesse ser inferior a
230 deputados. O número de deputados veio a ser definido entre 180 e 230 deputados, por
uma lei que veio a ser criado diminuindo o número de deputados, e admitiu-se que passassem
a conviver no sistema eleitoral círculos plurinominais e círculos uninominais, ou seja, as
pessoas quando votam, votam num partido, mas votariam também numa pessoa que
escolhiam como seu deputado, e por isso havia a conciliação entre a votação em lista
partidária e a votação em deputados individualmente considerados. A vantagem era aumentar
a proximidade entre eleitos e eleitores, as pessoas passariam a conhecer o seu representante,
pelo menos aquele em quem tinham votado na lista uninominal. Nenhuma destas
possibilidades foi introduzida na prática, apesar de permanecer a sua possibilidade na
Constituição. Os artigos 148 e 149 da Constituição contemplam estas possibilidades. Houve
uma reforma eleitoral, que iria resolver a distância entre representantes e representados,
porém, não foi feita a lei eleitoral que consumaria essa reforma.
As Revisões Constitucionais mais recentes não tocaram fundamentalmente em matérias de
organização do poder político, mas focaram-se em matérias relacionadas com a limitação de
mandatos para os presidentes das Câmaras e Juntas. Em 2004 passou a existir a limitação dos
mandatos, os presidentes podem fazer três mandatos consecutivos, mas depois não de podem
apresentar novamente a eleições (Revisão Constitucional de 2004).
Porque é que Portugal em 1976 não criou um sistema parecido com aquelas que foram as
realidades constitucionais que nos inspiraram? Estas eram essencialmente a realidade alemã,
italiana e espanhola. Porque é que não se instituiu um Sistema Parlamentar Simples? As grandes
razões para isto são:
Por um lado, tendo sido criada em 1976 uma Constituição Democrática, é normal que se tenha
pretendido criar um sistema muito centrado no Parlamento, isto é, restaurar a posição dos
Parlamentos enquanto órgãos democráticos por excelência e órgãos de representação
eleitoral. Isto podia justificar a opção contrária: porque é que não se optou por um Sistema
Parlamentar Puro? Há essencialmente duas razões históricas que podem justificar isso:
Já tínhamos tido um Sistema Parlamentar Puro em Portugal, durante a Primeira
República. Na Primeira República, a Constituição de 1911 instituía um Sistema
Parlamentar Puro. Nos Sistemas Parlamentares Puros o povo só elege o Parlamento,
e depois o Parlamento, em função dos resultados parlamentares, escolhe o Governo
e elege o Presidente da República. Este sistema vigorou em Portugal de 1911 a 1926,
período de muita instabilidade política. Por isso, associava-se o Parlamento Puro ao
resultado de instabilidade política.
O golpe de Estado que deu origem ao Estado Novo deu-se em maio de 1926. Nos
termos da Constituição de 1933 havia eleições para o Presidente da República. Foram
marcadas eleições Presidenciais para o ano de 1958, e nesse ano de 1958, é candidato
o General Humberto Delgado. Durante a campanha eleitoral, Humberto Delgado foi
confrontado com questões sobre o que é que faria caso viesse a ser eleito, e ele disse
que a primeira coisa que faria era demitir o Governo e o Primeiro-Ministro Salazar,
e exercer os poderes constitucionais tal como estes estavam previstos na Constituição
de 1933 (que era meramente semântica). A campanha de Humberto Delgado, teve
uma adesão popular enorme e houve uma votação massiva neste candidato. No
entanto, houve uma fraude eleitoral, e consequentemente, Humberto Delgado não foi
eleito, perdendo as eleições de acordo com os resultados eleitorais, e hoje é mais ou
menos certo afirmar-se que foi assassinado por agentes do Estado Português. Em
1959 deu-se uma Revisão Constitucional para acabar com a eleição direta do
Presidente, uma vez que, devido à eleição direta do Presidente, o Sistema Autoritário
do Estado Novo foi abalado em 1958. Isto fez com que, da parte da oposição
Democrática ao regime houvesse sempre a exigência de que viesse a ser restaurada a
Democracia. A oposição considerava que devia ser o povo a escolher o Presidente,
porque ainda havia a memória da possibilidade de escolher o Presidente,
possibilidade que afirmava a vontade popular. E, por isso, quando em 1974 se decide
que vai ser criada uma nova Constituição, e a Assembleia Constituinte é eleita em
1975 e começa a trabalhar, a decisão de que o Presidente da República havia de ser
eleito diretamente estava mais ou menos tomada, porque a oposição democrática ao
regime consistentemente exigia isso. Porque é que com esta decisão não se decidiu
optar por um Sistema Presidencialista? Um Sistema Presidencialista concentra o
poder numa só pessoa, o que não ia de encontro com aquilo que era o sentimento
político dominante na altura.
As normas que a Constituição Portuguesa dedica ao Presidente da República são as normas dos
artigos 120 a 146, sendo que os artigos 141 e 146 são dedicados a um órgão que existe na órbita
do Presidente, que é o conselho de Estado. O Conselho de Estado é um órgão não permanente,
um órgão consultivo do Presidente, que este pode convocar, quando assim entender, para ouvir
os seus conselhos. A nossa Constituição exige para alguns atos mais graves do Presidente, que
este não possa agir sem ouvir o Conselho de Estado.
Em traços Gerais podemos caracterizar o Presidente como:
- Tendo legitimidade democrática direta;
- Não tendo poderes gerais de direção política, não chefia o Governo, não é um órgão executivo.
Quem exerce o poder executivo é o Governo, que é um órgão autónomo do Presidente, mas é um
órgão em cuja constituição o Presidente da República intervém ao nomear o Primeiro-Ministro
que nomeia os Ministros que irão integrar esse Governo. Há uma intervenção direta do Presidente
na escolha do Governo.
- Para além disso, o Presidente da República é um órgão autónomo da Assembleia da República,
mas tem o poder de dissolução da Assembleia da República, isto é, o Presidente da República tem
a capacidade e o poder que a Constituição lhe confere, de decidir pôr termo à legislatura e
convocar novas eleições legislativas.
- Poderes especiais nas Relações Internacionais
- Poderes especiais na defesa nacional
- Presidente da República pode demitir o Governo, quando tal seja necessário para assegurar o
regular funcionamento das instituições democráticas
Artigo 120º define Presidente da República. O Presidente da República tem funções de:
Representação da República; Garantia da independência nacional; Garantia da unidade do Estado;
Garantia do regular funcionamento das instituições democráticas; Comandante Supremo das
Forças Armadas.
Artigo 120.º - Definição
O Presidente da República representa a República Portuguesa, garante a independência nacional,
a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas e é, por inerência,
Comandante Supremo das Forças Armadas.
O Presidente é eleito nos termos do artigo 121º, de forma direta por todos os portugueses, por
sufrágio universal, direto e secreto, que abrange todos os portugueses recenseados em território
nacional, e além disso, os cidadãos portugueses residentes no estrangeiro, desde que tenham laços
de efetiva ligação à Comunidade Nacional. No território nacional vota-se presencialmente e os
cidadãos portugueses residentes no estrangeiro podem votar, por exemplo, nos Consulados.
Artigo 121.º - Eleição
1. O Presidente da República é eleito por sufrágio universal, direto e secreto dos cidadãos
portugueses eleitores recenseados no território nacional, bem como dos cidadãos portugueses
residentes no estrangeiro nos termos do número seguinte.
2. A lei regula o exercício do direito de voto dos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro,
devendo ter em conta a existência de laços de efetiva ligação à comunidade nacional.
3. O direito de voto no território nacional é exercido presencialmente.
Quem é que pode ser eleito? As condições de elegibilidade estão previstas no artigo 122º. Para
ser eleito Presidente da República, tem que se ser português de origem e não português
naturalizado, com mais de 35 anos.
Artigo 122.º - Elegibilidade
São elegíveis os cidadãos eleitores, portugueses de origem, maiores de 35 anos.
Pode ser-se candidato a Presidente da República por duas vezes consecutivas, mas não se pode
ser candidato três vezes, ou seja, uma pessoa só se pode apresentar a eleições duas vezes e se for
eleito em ambas à terceira vez, não se pode apresentar a eleições durante os 5 anos seguintes.
Depois disso pode apresentar-se novamente a eleições. É proibida a reeleição consecutiva por
mais de três vezes – Artigo 123º
Artigo 123.º - Reelegibilidade
1. Não é admitida a reeleição para um terceiro mandato consecutivo, nem durante o quinquénio
imediatamente subsequente ao termo do segundo mandato consecutivo.
2. Se o Presidente da República renunciar ao cargo, não poderá candidatar-se nas eleições
imediatas nem nas que se realizem no quinquénio imediatamente subsequente à renúncia.
Ao contrário do que acontece nas eleições legislativas, onde as listas são partidárias, no caso das
candidaturas a Presidente da República as listas não são partidárias. As candidaturas a
Presidente da República são diretamente propostas pelos cidadãos, nos termos do artigo
124º. Quem controla as candidaturas é o Tribunal Constitucional. O candidato não pode ser
proposto por partidos. Mesmo os Presidentes que tenham um passado comprometido com
determinado partido, quando são eleitos, entregam o cartão partidário.
Artigo 124.º - Candidaturas
1. As candidaturas para Presidente da República são propostas por um mínimo de 7 500 e um
máximo de 15 000 cidadãos eleitores.
2. As candidaturas devem ser apresentadas até trinta dias antes da data marcada para a eleição,
perante o Tribunal Constitucional.
3. Em caso de morte de qualquer candidato ou de qualquer outro fato que o incapacite para o
exercício da função presidencial, será reaberto o processo eleitoral, nos termos a definir por lei.
Para a eleição do Presidente da República existe um Sistema eleitoral maioritário típico, isto é, é
eleito o candidato que tiver mais votos. Se não houver um candidato com a maioria absoluta dos
votos na primeira volta das eleições, os dois candidatos mais votados vão a uma segunda volta
das eleições e será eleito aquele que tiver mais de metade dos votos. Artigo 126º
Artigo 126.º - Sistema eleitoral
1. Será eleito Presidente da República o candidato que obtiver mais de metade dos votos
validamente expressos, não se considerando como tal os votos em branco.
2. Se nenhum dos candidatos obtiver esse número de votos, proceder-se-á a segundo sufrágio até
ao vigésimo primeiro dia subsequente à primeira votação.
3. A este sufrágio concorrerão apenas os dois candidatos mais votados que não tenham retirado a
candidatura.
O mandato tem uma duração de 5 anos. Se o Presidente cumprir os 5 anos cumpre-se o mandato
por completo. Se por alguma razão pessoal ou se morrer, o Presidente interrompe o mandato -
Artigo 128º
Artigo 128.º - Mandato
1. O mandato do Presidente da República tem a duração de cinco anos e termina com a posse do
novo Presidente eleito.
2. Em caso de vagatura, o Presidente da República a eleger inicia um novo mandato.
No entanto, o Presidente pode renunciar ao mandato. A renúncia dá origem a um novo processo
eleitoral, no qual o Presidente que renunciou não se pode apresentar a eleições. Artigo 131º
Artigo 131.º - Renúncia ao mandato
1. O Presidente da República pode renunciar ao mandato em mensagem dirigida à Assembleia da
República.
2. A renúncia torna-se efetiva com o conhecimento da mensagem pela Assembleia da República,
sem prejuízo da sua ulterior publicação no Diário da República.
A mais importante competência do Presidente da República tem a ver com o processo de formação
do Governo em que, nos termos da Constituição, o Presidente da República tem de facto um
conjunto de poderes importantes, que são aqueles que resultam da conjugação do que consta no
artigo 133º alíneas f) e h) e o artigo 187º da Constituição.
Artigo 133.º - Competência quanto a outros órgãos
Compete ao Presidente da República, relativamente a outros órgãos:
f) Nomear o Primeiro-Ministro, nos termos do n.º 1 do artigo 187.º;
h) Nomear e exonerar os membros do Governo, sob proposta do Primeiro-Ministro;
Artigo 187.º - Formação
1. O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos
representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais.
2. Os restantes membros do Governo são nomeados pelo Presidente da República, sob proposta
do Primeiro-Ministro.
Da conjugação destas normas resulta que é ao Presidente da República que compete nomear
alguém para formar Governo, para ser Primeiro-Ministro. Para este efeito o Presidente tem de
ouvir todos os Partidos representados na Assembleia da República, e tem de ter em conta os
resultados eleitorais. Nos primeiros tempos da Democracia Portuguesa, na vigência da
Constituição de 1976, tivemos vários Governos de Iniciativa Presidencial, isto é, situações em
que o Presidente entendeu chamar para formar Governo, não o líder de um partido representado
na Assembleia da República, mas outra personalidade que entendia estar em condições para
formar Governo. Desde os anos 80, nunca mais tivemos um Governo de Iniciativa Presidencial,
tivemos sempre Governos que foram o resultado da escolha do Presidente, mas escolha essa,
condicionada por aquilo que era a vontade dos Partidos representados na Assembleia da
República. Apesar disso, a Constituição ainda prevê a possibilidade de um Governo de Iniciativa
Presidencial, mas na prática isto não se realiza.
O Presidente da República não tem poderes gerais de direção política, não tem funções de decidir
como vai ser a política na área da Segurança Social ou na área da Saúde. No entanto, há duas
áreas em particular em que o Presidente tem alguma interferência política, atendendo aquilo que
são as funções do Presidente da República elencadas no artigo 120:
Enquanto representante da República, do ponto de vista das relações internacionais, o
Presidente da República tem algum poder, e por isso, ele tem poderes que lhe permitem, por
exemplo, ratificar convenções internacionais, acreditar (dar credibilidade) aos
representantes estrangeiros diplomáticos em Portugal e nomear os representantes
diplomáticos portugueses no Estrangeiro.
Na área da Defesa Nacional enquanto Comandante Supremo das Forças Armadas, o
Presidente tem poderes especiais em matéria de defesa, nomeadamente, tem assento no
Conselho de Defesa Nacional e em tudo o que sejam questões de defesa o Presidente tem
uma voz ativa (isto não significa que substitua o Ministro da Defesa).
Poderes políticos importantes que o Presidente da República tem para além da nomeação
do Governo: o poder de demissão do Governo e o poder de dissolução da Assembleia da
República. Nos termos do artigo 195º nº 2 da Constituição, o Presidente da República pode por
termo ao mandato político do Governo.
Artigo 195.º - Demissão do Governo
2. O Presidente da República só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para
assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado.
De acordo com aquilo que é a alteração introduzida com a Revisão Constitucional de 1982, o
artigo 195º nº2, o Presidente só o pode fazer quanto tal seja necessário para assegurar o regular
funcionamento das instituições democráticas. A leitura do que seja necessário para assegurar o
regular funcionamento das instituições democráticas é a leitura que o Presidente fizer, por isso
em rigor é um poder bastante discricionário do Presidente de decidir ou não a demissão do
Governo. O Presidente também pode dissolver a Assembleia da República, artigo 133 alínea e),
observando o disposto no artigo no artigo 172, e ouvindo os partidos representados na Assembleia
da República e o Conselho de Estado. O artigo 172 refere que a Assembleia da República não
pode ser dissolvida nos seis meses posteriores á sua eleição, nem no último semestre do mandato
do Presidente da República, para evitar o vazio de poder. Á exceção destes dois elementos
temporais o Presidente pode dissolver a Assembleia da República, sem apresentar nenhum
motivo, desde que cumpra os dois requisitos procedimentais de ouvir os Partidos representados
na Assembleia da República e ouvir o Conselho de Estado.
Artigo 133.º - Competência quanto a outros órgãos
Compete ao Presidente da República, relativamente a outros órgãos:
e) Dissolver a Assembleia da República, observado o disposto no artigo 172.º, ouvidos os partidos
nela representados e o Conselho de Estado;
Artigo 172.º - Dissolução
1. A Assembleia da República não pode ser dissolvida nos seis meses posteriores à sua eleição,
no último semestre do mandato do Presidente da República ou durante a vigência do estado de
sítio ou do estado de emergência.
2. A inobservância do disposto no número anterior determina a inexistência jurídica do decreto
de dissolução.
3. A dissolução da Assembleia não prejudica a subsistência do mandato dos Deputados, nem da
competência da Comissão Permanente, até à primeira reunião da Assembleia após as
subsequentes eleições.
Porque é que num caso se chama poder de demissão e noutro caso se chama poder de
dissolução? Órgãos colegiais podem ser dissolvidos, órgãos pessoais não podem ser dissolvidos,
as pessoas é que se demitem.
As Funções Presidenciais definem-se mais pela negativa: por exemplo, no exercício da função
legislativa, o Presidente da República não legisla nem faz propostas legislativas, não tem poder
de intervenção. Os Poderes do Presidente da República são poderes negativos: poder de requerer
a fiscalização da Constitucionalidade Preventiva (artigo 278º) e Sucessiva (artigo 281)
(apreciação da Constitucionalidade antes e depois das normas entrarem em vigor,
respetivamente); e poder de voto. O Governo ou a Assembleia da República aprovam determinado
ato, mas o Presidente pode vetá-lo. O Presidente quando recebe um ato legislativo pode:
promulga-lo (artigo 136º), pedir a Apreciação Preventiva (artigo 278º) da Constitucionalidade ao
Tribunal Constitucional ou vetá-lo politicamente (artigo 136º). A única forma do Presidente
intervir para colmatar um vazio legal, que entenda existir, é pedir ao Tribunal Constitucional que
aprecie uma situação de inconstitucionalidade por omissão (artigo 283º). O Presidente da
República não cria normas, não participa do processo de enriquecimento do Ordenamento
Jurídico.
No que diz respeito aos referendos quem os convoca é sempre o Presidente da República, a
Assembleia da República e o Governo podem propor, mas é o Presidente que decide convocar
referendos. O Presidente tem também uma função importante no sentido de nomear algumas
pessoas para cargos importantes, nomeadamente para os órgãos de Governo das Magistraturas,
os Conselhos Superiores de Magistraturas, e elege também membros para o Conselho de Estado.
A figura do Conselho de Estado está prevista nos artigos 141 e seguintes. O Conselho de Estado
tem membros: por inerência de funções (Presidente da Assembleia da República, Primeiro-
Ministro, Presidente do Tribunal Constitucional, Provedor de Justiça, Presidentes dos Governos
Regionais), os chamados membros honoríficos (antigos Presidentes da República), e há cinco
membros que são designados pelo Presidente e cinco que são eleitas pela Assembleia da
República – artigo 142º.
O Conselho de Estado tem funções de consulta política, mas o que o Conselho de Estado decide
não pode obrigar o Presidente a agir de uma determinada forma. O Presidente não fica vinculado
à decisão do Conselho de Estado.
ASSEMBLEIA DA RÉPUBLICA
A Assembleia da República é um órgão que está descrito na Constituição no artigo 147º como a
“assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses”. A Assembleia da República é um
órgão que se pretende que seja plural, onde todas as forças políticas que, consigam reunir o
número de votos necessários, podem ter os seus deputados a representá-las na Assembleia da
República. As eleições Legislativas têm listas que só podem ser apresentadas por Partidos
previamente constituídos. Não existem candidaturas independentes á Assembleia da República,
só pode haver candidaturas partidárias ou candidaturas de coligações partidárias.
Uma coligação partidária é uma aliança entre dois ou mais partidos políticos, normalmente de
ideias afins, para governar um país, uma região ou outra entidade administrativa.
Movimentos de cidadãos podem apresentar candidatura ás autarquias, mas não podem apresentar
candidatura às eleições legislativas.
É característica da Assembleia da República e a própria Constituição o afirma expressamente no
artigo 152º nº2, que os deputados representam todo o país e não os círculos por que são eleitos,
ou seja, o Princípio da Representação é um princípio que dá aos deputados uma vez eleitos
liberdade no exercício do mandato. Os deputados têm liberdade no exercício do seu mandato, e é
a própria Constituição que protege essa liberdade porque os deputados são eleitos por Partidos,
mas uma vez eleitos não estão vinculados, no exercício desse mandato, a ordens dos Partidos,
podem segui-las ou podem não as seguir. Os deputados podem desvincular-se dos Partidos pelos
quais foram eleitos, e manter o seu mandato de deputado. A Constituição protege os deputados e
a liberdade do seu mandato, de acordo com o previsto nos artigos 156, 157, 158 e 159 que preveem
os poderes dos deputados, as imunidades, os direitos e regalias dos deputados e os deveres dos
deputados, respetivamente. Os deputados só perdem os seus mandatos excecionalmente ou se
renunciarem voluntariamente aos seus mandatos ou se se verifica uma das circunstâncias previstas
no artigo 160º nº 1. Se um deputado se desvincular do seu Partido isso não implica perda do
mandato, só implica perda de mandato se se inscrever num Partido diverso. A circunstância dos
deputados apresentaram uma excessiva submissão ás disciplinas partidárias impostas é um dos
fatores salientado como contribuindo para a desvalorização do Parlamento, isto é, a ausência de
vozes próprias e independentes no Parlamento e o facto de os deputados muitas vezes se limitarem
a cumprir as diretivas Partidárias esvazia de sentido as funções que compete ao Parlamento
desempenhar.
O país está dividido em círculos eleitorais, correspondendo cada círculo aos antigos distritos,
existindo ainda um círculo eleitoral da Madeira, um círculo eleitoral dos Açores, um círculo
eleitoral dos portugueses residentes na Europa (elege 2 deputados) e um círculo eleitoral para os
portugueses residentes fora da Europa (elege 2 deputados). Cada círculo eleitoral apresenta um
número de mandatos que lhe compete eleger. As listas para cada um destes círculos são listas
plurinominais, isto é, os diversos Partidos apresentam listas com um conjunto diversificado de
nomes. No nosso Sistema são os Partidos que definem a ordem em que cada um dos deputados
se encontra, o que significa que quando se vota num determinado Partido, não podemos escolher
o deputado do Partido que vai ser eleito com o nosso voto. Existem países onde existe voto
preferencial e as pessoas podem escolher dentro da lista Partidária o deputado que querem eleger,
mas no Sistema Português vota-se apenas no Partido. Os círculos são de tamanho muito
diferenciado. É em função da População residente que se decide o número de deputados que cada
círculo eleitoral elege, e as assimetrias populacionais em Portugal refletem-se no número de
deputados que cada círculo elege: por exemplo o território de Lisboa é inferior ao território de
Bragança, no entanto como a densidade populacional de Lisboa é superior, Lisboa elege muitos
mais deputados do que Bragança. Assim, as escolhas eleitorais efetivas são diferentes nos círculos
eleitorais pequenos e grandes. Nos círculos eleitorais grandes os Partidos pequenos têm alguma
possibilidade de eleição o que não acontece nos círculos eleitorais pequenos. As listas
apresentadas pelos Partidos são fechadas, os cidadãos não têm a possibilidade de alterar a
composição da lista ou inverter a ordem.
O apuramento de votos é feito segundo um sistema proporcional, o sistema da média mais alta
de Hondt. Por exemplo: apuram-se todos os votos, e conclui-se que o Partido mais votado tem
1200 votos, o seguinte tem 800 votos. Se naquele círculo eleitoral existirem três mandatos para
aplicar, aplica-se a fórmula matemática para saber quantos deputados elege cada Partido. O
círculo eleitoral de Lisboa elege mais de 50 deputados, e nesse círculo eleitoral pode ocorrer a
situação de um deputado ter uma votação muito boa neste círculo eleitoral, e no resto do país ter
uma votação inexpressiva, como por exemplo 1% dos votos. Esse deputado pode ser eleito pelo
círculo eleitoral de Lisboa. Na Alemanha existe a cláusula-barreira, que significa que nenhum
partido com menos de 5% dos votos pode eleger deputados. Na Constituição Portuguesa, o artigo
152º nº1 exclui a cláusula-barreira. Em Portugal, qualquer força política que tenha condições para
obter o mandato, ainda que em termos nacionais não tenha uma votação expressiva pode eleger
deputados.
Características da Assembleia da República:
GOVERNO
O Governo está descrito no artigo 182º da Constituição. É o órgão constitucional a quem
compete a condução da política geral do país e a execução das leis através do exercício de
poderes de direção, supervisão e tutela na Administração Pública. A Administração Pública é
uma estrutura hierarquizada cujo topo está no Governo.
Composição do Governo (artigo 183º): Primeiro-Ministro, Vice-Primeiro(s)-Ministro(s) (se
existirem, pois podem não existir), Ministros (os Ministros que o Primeiro-Ministro entenda que
são importantes para organizar o órgão Executivo, não existe um número definido de Ministros),
Secretários de Estado, Sub-secretários de Estado.
Características do Governo em Portugal:
Órgão constitucional autónomo. Não é assim no Sistema Presidencial, onde quem
exerce a função executiva, a função de direção política e a função de órgão que dirige a
Administração Pública é o Presidente.
Órgão colegial á semelhança da Assembleia da República, mas é um órgão colegial
complexo. Enquanto que na Assembleia da República temos 230 deputados e o poder de
deliberação está distribuído equitativamente entre os 230 deputados, no Governo isto não
é assim, o Primeiro Ministro, por exemplo, tem algumas competências só dele assim
como, o Conselho de Ministros – artigo 184º - (formação colegial do Governo). O
Governo pode ter várias formações e várias fases e no exercício das suas competências o
Governo não exerce essas competências sempre colegialmente.
Órgão Solidário, característica que resulta do artigo 189º da Constituição. Ao contrário
do que acontece na Assembleia da República que é um órgão colegial, e onde reina a
pluralidade de opiniões, a divergências, a oposição de interposições entre as diversas
perspetivas de cada um dos deputados, o Governo é um órgão que tendo funções de
copula da Administração Pública e de direção politica do país, tem de ser um órgão coeso,
e por isso, o Programa do Governo e as deliberações do Conselho de Ministros vinculam
todos os Ministros. Todos os Ministros têm que solidariamente a acompanhar essas
deliberações e esse Programa.
Órgão hierarquicamente organizado. Os membros do Governo não estão numa posição
paritária, uns para com os outros, ao contrário do que acontece na Assembleia da
República.
Poder de o Presidente da República pedir contas ao Primeiro Ministro (artigo 201º c))
Poder de o Presidente da República demitir o Governo (artigo 195º nº2)
Controlo da Constitucionalidade
O artigo 221º define Tribunal Constitucional. Tribunal Constitucional é composto por treze
juízes, constituição que se encontra prevista no artigo 222º. Dos juízes que constituem o Tribunal
Constitucional: dez são designados pela Assembleia da República, e três são
cooptados/escolhidos pelos restantes juízes. Nos termos do artigo 222º nº 2 todos os juízes do
Tribunal Constitucional têm de ser juristas, sendo que, obrigatoriamente 6 juízes têm de ser juízes
dos restantes tribunais e juristas. O mandato doi juízes do Tribunal Constitucional é de 9 anos
(após a revisão constitucional de 1997), artigo 222º nº3, não podendo haver renovação do
mandato. Até 1997 os juízes do Tribunal Constitucional tinham mandatos de 6 anos que podiam
ser renovados, entendeu-se que isso era prejudicial para a imparcialidade dos juízes, e na revisão
constitucional de 1997 isso acabou. O Presidente e o Vice-Presidente do Tribunal Constitucional
são eleitos entre os seus pares e o Presidente tem assento no Conselho de Estado.
A função essencial do Tribunal Constitucional é fiscalizar a constitucionalidade das normas. Do
artigo 3º nº3 podemos concluir que se um ato for inconstitucional é nulo, e a função do Tribunal
Constitucional é a função de vigiar para que normas desconformes á Constituição não sejam
válidas.
O nosso Sistema de fiscalização da constitucionalidade é um sistema em que existe um Tribunal
Constitucional, mas ele não é o único com competências para a fiscalização da
constitucionalidade também os outros tribunais podem controlar a constitucionalidade das
normas. O artigo 204º a Constituição dá a todos os tribunais o poder de recusar a aplicação de
normas contrárias á Constituição. No Sistema Português qualquer tribunal tem o poder de recusar
a aplicação de uma norma com o fundamento na sua inconstitucionalidade. As decisões dos
tribunais em matéria de constitucionalidade são recorríveis para o Tribunal Constitucional.
O sistema de fiscalização concreta (artigo 280º) da constitucionalidade convive com o sistema
de fiscalização abstrata (artigos 278º e 281º) da constitucionalidade. Na fiscalização abstrata da
constitucionalidade o Tribunal Constitucional é confrontado com uma norma independentemente
da sua aplicação a um caso concreto. Por exemplo, o Governo decide criar um novo tipo de crime,
como a corrupção desportiva, criando um decreto-lei. Este decreto-lei é inconstitucional porque
o Governo não tinha competência para criar esta norma, a não ser que tivesse uma lei de
autorização prévia. Supondo que o decreto-lei é publicado no Diário da República, e há um
sentimento generalizado de que esta norma deve ser alvo de fiscalização pelo Tribunal
Constitucional, para que este torne evidente a inconstitucionalidade subjacente. Isto pode chegar
ao Tribunal Constitucional por duas vias: pode chegar ao Tribunal Constitucional porque há um
conjunto de entidades que a Constituição prevê que podem levar diretamente esta questão ao
Tribunal Constitucional (Presidente da República, Provedor de Justiça, …) ou, então, pode chegar
ao Tribunal Constitucional envolvido numa situação concreta, situação em que por exemplo o
senhor A é acusado de corrupção desportiva, onde a pessoa A pode alegar que a norma pela qual
está a ser acusado é inconstitucional, e portanto não é válida, e o senhor A tem de ser absolvido.
A norma que criminaliza a corrupção desportiva pode chegar ao Tribunal Constitucional por uma
via de fiscalização abstrata onde, por exemplo, o Presidente da República tem conhecimento da
norma e envia-a para o Tribunal Constitucional para esta ser apreciada, ou porque num caso
concreto em que a norma iria ter aplicação é invocada a sua inconstitucionalidade. Em qualquer
processo podem colocar-se questões de inconstitucionalidade, só que nesses casos essas questões
não se colocam em abstrato, mas nos casos concretos a que as normas têm aplicação – fiscalização
concreta. Na fiscalização abstrata a norma é apreciada independentemente de qualquer caso a que
ela possa eventualmente ter aplicação. Nos casos de fiscalização concreta a norma é apreciada
quanto á sua constitucionalidade, porque essa questão de constitucionalidade se suscitou num
caso concreto, e é relevante para a solução do caso concreto.
Controlo preventivo - controlo feito antes das normas entrarem em vigor. Quando uma
norma é aprovada, o Presidente da República pode promulgar ou vetar. Antes de promulgar
o Presidente da República pode pedir ao Tribunal Constitucional que aprecie preventivamente
a constitucionalidade da norma. O controlo preventivo da constitucionalidade é a
possibilidade que é dada ao Presidente da República (ou no caso dos Decretos Legislativos
Regionais, aos Representantes do Presidente da República nas regiões autónomas) de antes
de uma norma entrar em vigor, a fiscalizarem quanto á sua constitucionalidade. A fiscalização
preventiva é necessariamente abstrata porque a norma ainda não terminou o seu processo de
criação, estamos perante normas que só podem ser objeto de controlo abstrato porque são
normas que ainda não entraram em vigor.
Controlo sucessivo – relativamente a uma qualquer norma que esteja em vigor há um
conjunto de entidades que pode pedir a respetiva fiscalização de constitucionalidade
(Presidente da República, Provedor de Justiça, Procurador Geral da República). Por exemplo:
o exercício sobre os prémios dos atletas paraolímpicos chegou ao Tribunal Constitucional, o
Procurador-Geral da República teve dúvidas sobre se a norma era compatível com a
Constituição e submeteu-a ao controlo por parte do Tribunal Constitucional. Esta norma
estava em vigor e estava a ser aplicada e nem existiu um litígio em Tribunal por causa desta
norma, mas uma entidade suscitou o controlo sucessivo abstrato desta norma.
Controlo da inconstitucionalidade por omissão – eventual violação de normas
constitucionais, não por ação do legislador, mas por omissão do legislador. Por exemplo:
supondo que a norma constitucional que consta do artigo 35º da Constituição existe, mas o
legislador não criou essa lei. Os direitos podem ser exercidos sem lei? Nestas situações o
incumprimento da Constituição não se relaciona com uma ação desconforme da Constituição,
mas está relacionada com a inércia ou omissão do legislador, tendo como consequência deixar
as normas constitucionais sem exequibilidade.
Recursos de constitucionalidade – voltando ao caso do senhor A que é acusado do crime de
corrupção desportiva, e invoca a inconstitucionalidade da norma que tipifica este crime. O
Tribunal ou decide usar o poder que o artigo 204º lhe confere, recusando a aplicação da
norma, absolvendo o senhor A, ou decide que a norma não é inconstitucional e aplica-a, e
admitindo que estão reunidas as circunstâncias suficientes que permitem punir o senhor A. O
senhor A, se for absolvido não vai recorrer, mas se não for absolvido vai recorrer e no limite
pode recorrer para o Tribunal Constitucional, uma vez que se suscitou uma questão de
inconstitucionalidade naquele processo, a decisão que o Tribunal venha a tomar naquele
processo é suscetível de recurso para o Tribunal Constitucional.
Fiscalização Preventiva
Na Fiscalização prevista na Constituição nos artigos 278º e 279º, o objeto de controlo da
constitucionalidade são normas imperfeitas. Normas imperfeitas são normas cujo processo
legislativo ainda não terminou, são normas alvo de controlo de constitucionalidade apesar de o
seu processo de criação ainda não estar concluído, não estar perfeito. A fiscalização preventiva,
por definição, pretendendo prevenir inconstitucionalidades tem por objeto normas imperfeitas.
Normas imperfeitas já foram aprovados pelo órgão próprio, ou a Assembleia da República ou o
Governo (Conselho de Ministros), mas ainda não foram promulgadas pelo Presidente, nem foram
publicadas em Diário da República, são normas que ainda estão em processo de criação.
Nos termos do artigo 278º nos 1 e 2, nem todas as normas podem ser alvo de fiscalização
preventiva, só as normas mais importantes do Ordenamento Jurídico (tratados internacionais, leis,
decretos-lei, acordos internacionais, decretos legislativos regionais). Nota: regulamentos não
são leis, não podem ser submetidos a fiscalização preventiva.
Artigo 278.º - Fiscalização preventiva da constitucionalidade
1. O Presidente da República pode requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação preventiva
da constitucionalidade de qualquer norma constante de tratado internacional que lhe tenha sido
submetido para ratificação, de decreto que lhe tenha sido enviado para promulgação como lei ou
como decreto-lei ou de acordo internacional cujo decreto de aprovação lhe tenha sido remetido
para assinatura.
2. Os Representantes da República [Representantes do Presidente na República nas regiões
autónomas] podem igualmente requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação preventiva da
constitucionalidade de qualquer norma constante de decreto legislativo regional que lhes tenha
sido enviado para assinatura.
Quem pode requerer a apreciação preventiva? O controlo não obrigatório, é promovido pela
entidade à qual incumbe a ratificação, promulgação ou assinatura do diploma normativo: o
Presidente da República ou, no tocante a normas regionais, o Representante da República na
Região Autónoma em causa.
Esta fiscalização tem a sua tramitação tratada numa lei própria que é a lei do Tribunal
Constitucional, artigos 57º a 60º. Na Constituição estão tratados aspetos de tramitação
relacionados com prazos: nos termos do artigo 278º nº 3 o Presidente da República quando recebe
um ato para promulgação tem oito dias para pedir ao Tribunal Constitucional o controlo da
constitucionalidade. Nos termos do artigo 278º nº 8, o Tribunal Constitucional tem vinte e cinco
dias para responder, mas por uma questão de urgência o Presidente da República pode pedir para
encurtar a decisão.
Os efeitos da fiscalização abstrata e preventiva estão previstos no artigo 279º da Constituição.
Neste artigo preveem-se as situações em que o Tribunal Constitucional efetivamente entende que
há inconstitucionalidade, não está aqui prevista a possibilidade do Tribunal Constitucional
entender que não há inconstitucionalidade da norma. Suponto que o Presidente da República teve
dúvidas quanto á constitucionalidade da norma e o Tribunal Constitucional entendeu que as
dúvidas do Presidente não têm razão de ser, e que a norma não é inconstitucional, nesta situação
o Tribunal Constitucional remete a decisão ao Presidente da República, e o Presidente ou
promulga ou veta por razões políticas. No artigo 136º nº 1 refere-se que o Presidente da República
perante uma decisão de não inconstitucionalidade, ou promulga ou veta por razões políticas. Os
efeitos da decisão previstos no artigo 279º são os efeitos de uma decisão de inconstitucionalidade,
e no artigo 136º estão previstos os efeitos de uma decisão de não inconstitucionalidade. Se por
outro lado, as dúvidas do Presidente da República sobre a inconstitucionalidade de uma norma,
que o levam a pedir ao Tribunal Constitucional a fiscalização preventiva se revelarem verdadeiras,
existe um problema de inconstitucionalidade. O Tribunal Constitucional decide que a norma é
inconstitucional e remete a decisão para o Presidente da República, que nos termos do artigo 279º
nº 1, tem duas possibilidades: perante uma decisão de inconstitucionalidade do Tribunal
Constitucional, o Presidente está obrigado a vetar por inconstitucionalidade e a devolver o
diploma ao órgão que o tiver aprovado. Qualquer órgão (Assembleia da República, Assembleia
Legislativa Regional ou Governo) que aprove um diploma, que foi apreciado pelo Tribunal
Constitucional e foi vetado por inconstitucionalidade, pode desistir daquele processo legislativo
ou podem decidir expurgar a norma inconstitucional. Numa situação em que a
inconstitucionalidade está localizada numa norma, retirando a norma o diploma pode continuar.
Também existe a possibilidade de reformular, isto é, repensar todo o diploma e recriá-lo, é como
se iniciasse um processo legislativo próprio e o Presidente da República pode voltar a suscitar
novas dúvidas de inconstitucionalidade ao diploma formulado. Existe uma quarta possibilidade
que só a Assembleia da República pode fazer, que é decidir confirmar o diploma, isto é, nos
termos da nossa Constituição a Assembleia da República pode decidir relativamente a um ato
legislativo ou um tratado que tenha sido vetado por inconstitucionalidade, confirma-lo por
maioria de dois terços dos deputados (artigo 279 nº 2). Perante o veto de um diploma por
inconstitucionalidade a Assembleia da República pode desistir, expurgar, reformular ou
confirmar, enquanto que o Governo só pode desistir, expurgar ou reformular.
Notas: As decisões do Tribunal Constitucional em casos de fiscalização preventiva são pronúncias. As
decisões do Tribunal Constitucional podem ser no sentido da inconstitucionalidade ou da não
inconstitucionalidade. O Tribunal Constitucional nunca diz positivamente que uma norma é conforme á
Constituição, diz se as dúvidas de inconstitucionalidade são lógicas ou não.
Fiscalização Concreta
Nos casos de Fiscalização Abstrata, a questão da constitucionalidade da norma coloca-se
independentemente de qualquer caso concreto a que essa norma possa ter aplicação. Já nos casos
de Fiscalização Concreta, a questão de constitucionalidade surge a propósito de um caso concreto
a que a norma é aplicada. Os processos de Fiscalização Concreta começam sempre quando perante
um qualquer tribunal se suscita a questão da constitucionalidade de uma norma aplicável daquele
processo, a isto se chama um incidente de inconstitucionalidade. Num qualquer processo, dentro
da discussão que se está a desenvolver surge uma questão de constitucionalidade, que pode e deve
surgir perante um qualquer tribunal. Quando perante um qualquer tribunal se suscita a
constitucionalidade de uma norma que é aplicável aquele caso concreto, nos termos do artigo 204º
da Constituição, esse qualquer tribunal tem o poder-dever de decidir a questão de
constitucionalidade. Sempre que um Tribunal tenha que julgar um caso ele está proibido de aplicar
normas inconstitucionais. Ora, para o tribunal poder cumprir esta imposição constitucional, o
tribunal tem de apreciar se a norma é ou não é inconstitucional, e no nosso Sistema qualquer
tribunal tem de fazer isso devido ao artigo 204º. Quem é pode suscitar o incidente de
inconstitucionalidade? As partes do processo, o Ministério Público, ou por força daquilo que é
o artigo 204º da Constituição oficiosamente pelo próprio juiz do processo. Os juízes têm de
controlar oficiosamente por iniciativa própria a constitucionalidade das normas que aplicam. Uma
vez existindo este poder-dever o tribunal pode, perante um incidente de inconstitucionalidade,
fazer uma de duas coisas: ou exerce o poder que a Constituição lhe dá, nos termos do artigo 204º,
e considera a norma inconstitucional, e consequentemente recusa a sua aplicação; ou considera
que a norma não é inconstitucional e aplica-a ao caso concreto. O tribunal pode afastar a aplicação
de uma lei com fundamento na sua inconstitucionalidade. Por exemplo: o senhor A é acusado do
crime de corrupção desportiva, suscita o incidente de inconstitucionalidade. O juiz se entende que esse
incidente é procedente, que há razões para considerar a norma inconstitucional, vai recusar a aplicação
da norma e absolver o senhor A. Se pelo contrário o juiz entender que a norma não é inconstitucional
então aplica-a ao caso concreto. Esta é a fase de fiscalização da constitucionalidade que se chama
fiscalização difusa, isto é, feita por qualquer tribunal devido ao artigo 204º.
Qual é o sentido de termos um Tribunal Constitucional se qualquer tribunal decide questões
de constitucionalidade? Estas decisões dos tribunais sobre a inconstitucionalidade ou não
inconstitucionalidade, a aplicação ou não aplicação de uma norma, são decisões passíveis de
recurso para o Tribunal Constitucional, ou seja, quer num caso quer no outro, há recurso para o
Tribunal Constitucional das decisões proferidas ao abrigo do artigo 204º, recurso esse que está
previsto no artigo 280º da Constituição. Os tribunais estão obrigados a tomar decisões, mas essas
decisões são recorríveis para o Tribunal Constitucional, ou seja, a pronúncia de qualquer tribunal
sobre uma questão de constitucionalidade não é uma pronúncia definitiva. O artigo 208º nº 1 prevê
que tanto as decisões de recusa de aplicação como as decisões de aplicação são suscetíveis de
recurso para o Tribunal Constitucional, no entanto, o recurso está previsto em termos diferentes.
No caso dos recursos de decisão de recusa de aplicação da norma (previsto no artigo 280º nº1 a)),
este recurso é na maior parte dos casos obrigatório para o Ministério Público, nos termos do artigo
208º nº3, e são os chamados recursos per salto. Quando há uma decisão de um qualquer tribunal
que recusa a aplicação de uma norma com fundamento na sua inconstitucionalidade, essa é uma
decisão grave, é uma decisão que abala a Ordem Jurídica. Sempre que haja a recusa de aplicação
de uma norma constante de ato legislativo, decreto regulamentar, ou convenção internacional
(normas mais importantes do Ordenamento Jurídico) o Ministério Público está obrigado a recorrer
para o Tribunal Constitucional, nos termos do artigo 280º nº3. Se houver uma decisão de recusa
de aplicação proferida por um qualquer tribunal, o acesso ao Tribunal Constitucional é imediato.
Por exemplo: uma decisão de 1ª instância, e a decisão é passível de recurso para a 2ª instância
antes mesmo de se proceder a esses recursos vai imediatamente para o Tribunal Constitucional,
isto é, salta todas as instâncias do recurso para chegar ao Tribunal Constitucional.
Nos termos dos recursos da alínea b) do nº 1 do artigo 280º, que são os recursos de decisão de
recusa de não inconstitucionalidade da norma. Estes recursos para chegarem ao Tribunal
Constitucional requerem que primeiro se esgotem as vias ordinárias de recurso, e além disso, nos
termos do artigo 280º nº 4 só a parte que suscitou o incidente de inconstitucionalidade é que pode
recorrer. O Sistema não se preocupa que o processo chegue ao Tribunal Constitucional, a questão
só chega se a pessoa que invocar o incidente de inconstitucionalidade estiver disposta a ir até ás
últimas consequências e levar o caso ao Tribunal Constitucional. Se a parte não o fizer a decisão
do tribunal de aplicação da norma é válida.
Nos processos de fiscalização concreta da constitucionalidade, aquilo que o Tribunal
Constitucional vai apreciar é apenas o segmento da decisão quer nos recursos da alínea a) ou b),
o Tribunal Constitucional vai apreciar a inconstitucionalidade ou não inconstitucionalidade da
norma, nos termos do artigo 280º nº6. O Tribunal Constitucional não se vai pronunciar sobre a
matéria de facto, ou sobre outras matérias, não vai julgar o caso. O Tribunal Constitucional ou
confirma o entendimento do tribunal que primeiro se pronunciou, e nesse caso confirma s decisão
do tribunal, ou altera essa decisão.
Os efeitos da Fiscalização Concreta quer nos casos da apreciação feita pela generalidade dos
tribunais, quer nos casos da apreciação do Tribunal Constitucional, os efeitos de decisão em sede
de fiscalização concreta são efeitos limitados ao caso concreto, ou seja, o Tribunal Constitucional
considera que a norma é inconstitucional, mas quando decide em sede de fiscalização concreta o
Tribunal Constitucional não toma decisões para o Ordenamento Jurídico. Em consequência disto,
a norma não se aplica ao caso concreto, mas a norma continua a vigorar. No artigo 281º nº 3 refere
que se a mesma norma for considerada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional por três
vezes (três casos concretos), á quarta vez o processo é convertido num processo de fiscalização
abstrata sucessiva, aí não se vai ver se a norma vai ser aplicado ou não ao caso concreto, mas a
norma vai pondera-se de modo abstrato se a norma deve continuar a vigorar.
2. Poderia o caso de João vir a ser apreciado pelo Tribunal Constitucional? Justifique.
O caso do João poderia ser apreciado no Tribunal Constitucional porque uma vez que, suscitou
um incidente de inconstitucionalidade, estava aberta a porta para a possibilidade de recurso
para o Tribunal Constitucional.
Caso Prático 2
Suponha que o Presidente da República requereu, em 7 de outubro de 2019, a apreciação
preventiva da constitucionalidade de um diploma que lhe havia sido enviado pela Assembleia da
República para promulgação como lei. O Tribunal Constitucional pronunciou-se pela
inconstitucionalidade em 23 de novembro de 2019. Quid iuris se, entretanto, em 6 de novembro,
o Presidente da República veta politicamente o diploma e o veto é superado, por confirmação de
3/5 dos deputados em efetividade de funções em 18 de novembro?
Neste caso a apreciação preventiva da constitucionalidade foi requerida em 7 de outubro pelo
Presidente da República e a decisão do Tribunal Constitucional é de 23 de novembro. Este
período de tempo ultrapassa largamente o período de 25 dias previsto na Constituição. O veto
do Presidente de 6 de novembro é anterior á decisão do Tribunal Constitucional de 23 de
novembro. O Presidente não pode vetar um diploma que está em apreciação no Tribunal
Constitucional. Quando o Presidente recebe um diploma pode promulga-lo, vetar politicamente
ou pedir a apreciação do Tribunal Constitucional. Se pedir a apreciação do Tribunal
Constitucional, enquanto o Tribunal Constitucional aprecia o Presidente não tem nenhum poder
sobre o diploma. O Presidente tem de aguardar o resultado da apreciação preventiva da
constitucionalidade e se for uma decisão no sentido da inconstitucionalidade o Presidente é
obrigado a vetar, se for uma decisão no sentido da não inconstitucionalidade o Presidente pode
promulgar ou vetar politicamente. Neste caso, o Presidente vetou politicamente o diploma não
tendo poder para isso, logo este veto é inconstitucional. O artigo 136º prevê qual a maioria
exigida na Assembleia para superar um veto político que é a maioria absoluta (metade dos
deputados mais um), logo neste caso se o veto político fosse legítimo a maioria de 3/5 em si é
suficiente para confirmar o diploma, porque 3/5 é mais do que a maioria absoluta dos deputados.
Caso Prático 3
O Governo aprovou, em Conselho de Ministros, um decreto para ser promulgado como decreto-
lei através do qual se criava a Secretaria de Estado da Reforma da Instituição Militar.
O Presidente da República, não concordando com a oportunidade e a conveniência do diploma
exerceu o direito de veto, previsto no artigo 136º da Constituição. Quid iuris?
Segundo o artigo 198º nº2, “É da exclusiva competência legislativa do Governo a matéria
respeitante á sua própria organização e funcionamento”, a criação de uma Secretaria de Estado
é matéria de organização do Governo. Esta é matéria não só o Governo tinha competência para
legislar como era o único órgão de soberania com poder para legislar sobre esta matéria. É
matéria da competência exclusiva do Governo, legislar sobre a sua própria organização e
funcionamento. A ideia de uma Secretaria de Estado significa que dentro da organização do
Governo, vai existir uma Secretaria de Estado com competências nesse domínio, o que não
significa uma alteração substantiva na organização. A criação de Secretarias, a criação de
Ministérios, a articulação entre Ministérios, a articulação entre Secretarias de Estado é a única
matéria exclusiva do Governo. O Governo tinha competência exclusiva para legislar sobre esta
matéria. O Presidente da República não tem dúvidas acerca da inconstitucionalidade do decreto,
senão teria pedido a apreciação da constitucionalidade. Neste caso o Presidente pode vetar
decretos-lei do Governo por razões políticas o que não infringe o artigo 136º.
Caso Prático 4
A Assembleia da República concedeu ao Governo autorização legislativa para legislar sobre as
bases gerais do sistema de ensino.
No uso de tal autorização, o Governo emitiu um Decreto-Lei no qual, além de revogar as bases
gerais constantes da legislação em vigor, estabelecia regulamentação desenvolvida das matérias
em causa. Quid iuris?
As bases do Sistema de Ensino fazem parte da reserva absoluta da Assembleia da República,
artigo 164º alínea i), logo não pode existir uma lei de autorização da Assembleia da República
sobre esta matéria. Quando no uso de tal autorização o Governo emite um Decreto-Lei no qual
revoga as bases gerais, esse diploma é inconstitucional, porque essa matéria é de reserva
absoluta da Assembleia da República. No que diz respeito á circunstância de o Governo ter
estabelecido regulamentação desenvolvida das matérias em causa, essa legislação desde que,
esteja de acordo com as bases gerais desenvolvidas pela Assembleia da República não apresenta
nenhum problema. Segundo o artigo 198º nº1 alínea c) o Governo pode desenvolver as bases
gerais desde que as respeite, o Governo não pode revogar bases.
Caso Prático 5
Em 10 de novembro, a Assembleia da República concedeu ao Governo uma autorização
legislativa para que este órgão pudesse legislar sobre bases gerais do sistema de segurança social.
Em 30 de novembro, no uso da autorização, o Governo fez aprovar um Decreto-Lei que
claramente discriminava os cidadãos de etnia cigana.
O que pode o Presidente da República fazer para impedir a entrada em vigor de tal Decreto-Lei?
A Assembleia da República pode conceder ao Governo uma autorização legislativa para
legislar sobre as bases gerais do sistema de segurança social, pois esta é uma das matérias que
consta do artigo 165 na alínea f) que define as matérias sobre as quais a Assembleia da República
tem legitimidade para legislar, mas que pode autorizar o Governo a legislar. O Presidente da
República pode pedir fiscalização preventiva da constitucionalidade, nos termos do previsto
278º, ou vetar politicamente nos termos dos poderes conferidos no artigo 136º.
Para que se considere haver uma violação do Princípio da Proteção da Confiança dos
Cidadãos é necessário que os poderes públicos tenham atuado de modo a gerar nos cidadãos
uma expectativa de continuidade e estabilidade do quadro legal. Só quando existem
expectativas legítimas a salvaguardar é que o Princípio da Proteção da Confiança interfere.
Neste caso, os estudantes iniciaram os seus estudos naquela Universidade segundo a
expectativa de pagar anualmente apenas as propinas da universidade e não uma taxa de
emissão do diploma. Assim, o Regulamento da Universidade gerou nos estudantes uma
expectativa legitima de pagar apenas as propinas anualmente.
É necessário que os cidadãos tenham construído os seus planos de vida de acordo com essas
expectativas. Neste caso os alunos e as suas famílias organizaram as suas vidas e finanças
de acordo com a expectativa de que não teriam de pagar uma taxa de emissão do diploma.
É necessário que essas expectativas sejam verdadeiramente legítimas, fundadas em boas
razões. As expectativas dos alunos, são legitimas e fundadas no Regulamento que existia no
momento em que ingressaram na Universidade.
Para que a expectativa sobreleve a necessidade de alteração do quadro jurídico é necessário
que o interesse público que determinou a alteração da lei, não se sobreponha às expectativas
privadas. É necessário fazer uma ponderação entre, por um lado, qual foi o interesse público
que determinou uma alteração da lei, e, por outro lado, quais são as expectativas privadas.
Dessa ponderação chega-se á conclusão sobre se valem mais as expectativas privadas, e
então a Proteção da Confiança foi violada, ou se o interesse público tem um peso maior então
a Proteção da Confiança não foi violada. Neste caso, o interesse que determinou a alteração
do Regulamento, no sentido de passar a incluir uma taxa de emissão do diploma, não se
sobrepõe às expectativas dos alunos, pois esta alteração poderia significar que muitos alunos
não conseguiriam terminar o curso a que dedicaram anos de estudo, devido a uma alteração
de Regulamento que não existia no momento em que ingressaram na Universidade.
Assem, esta alteração regulamentar, viola o Princípio da Proteção da Confiança.
Pergunta Teórica 1
Dois dos princípios constitucionais fundamentais são o Princípio do Estado de Direito e o
Princípio da Separação de Poderes. Localize-os na nossa Constituição e esclareça se existe alguma
relação entre eles. Justifique.
O artigo 2º da CRP diz-nos que Portugal é um Estado de Direito. Não basta a existência de uma
Constituição, independentemente do seu conteúdo, para que possamos considerar a existência de
um Estado de Direito. Para que um Estado seja verdadeiramente considerado um Estado de
Direito, tem de se organizar de modo que não haja, por parte dos entes públicos, abusos no
exercício do poder.
Num Estado de Direito quem exerce autoridade está obrigado a exercer o poder nos estritos
limites das normas jurídicas existentes, e não de acordo com preferências pessoais. Essas normas
jurídicas têm de ser definidas previamente de modo claro, de maneira a permitir que os cidadãos
possam antever as consequências jurídicas das suas ações.
A doutrina constitucional tem estabelecido uma distinção entre elementos formais e elementos
materiais, nos quais se pode analisar o Princípio do Estado de Direito. Dentro dos Elementos
Formais existem o Princípio da Separação (e interdependência) de Poderes (legislativo,
executivo e judicial) presente nos artigos 2º e 111º da Constituição que visa garantir
organização do poder político e pretende que o poder não seja centralizado numa só pessoa, o
que evita abusos de poder. Os poderes não existem numa relação de abstração mútua, controlam-
se mutuamente. A ideia de interdependência vem do facto de os poderes se controlarem
mutuamente. O oposto de Estado de Direito é o Estado de Arbítrio (Estado Autoritário) onde os
poderes não são submetidos a nenhuma norma heterónima (norma definida por outrem) e
consequentemente os cidadãos estão numa situação de subjugação á vontade do poder sem
nenhuma capacidade de preverem as normas que regem a sua própria vida.
Assim, o Princípio do Estado de Direito relaciona-se com o Princípio da Separação e
Interdependência dos Poderes, porque num Estado de Direito não podem existir abusos, por
parte das entidades detentoras do poder, abusos no exercício do mesmo, o que só é garantido se
existir o Princípio da Separação (e Interdependência) de Poderes.
Pergunta Teórica 2
Diga se estas afirmações são verdadeiras ou falsas e justifique a sua resposta indicando sempre as
disposições constitucionais relevantes:
• As decisões dos tribunais quanto à inconstitucionalidade ou não inconstitucionalidade de
normas não são passíveis de recurso.
Falsa. Os processos de Fiscalização Concreta começam sempre quando perante um qualquer
tribunal se suscita a questão da constitucionalidade de uma norma aplicável daquele processo,
a isto se chama um incidente de inconstitucionalidade. Quando perante um qualquer tribunal se
suscita a constitucionalidade de uma norma que é aplicável aquele caso concreto, nos termos do
artigo 204º da Constituição, esse qualquer tribunal tem o poder-dever de decidir a questão de
constitucionalidade. Sempre que um Tribunal tenha que julgar um caso ele está proibido de
aplicar normas inconstitucionais. Uma vez existindo este poder-dever o tribunal pode, perante
um incidente de inconstitucionalidade, fazer uma de duas coisas: ou exerce o poder que a
Constituição lhe dá, nos termos do artigo 204º, e considera a norma inconstitucional, e
consequentemente recusa a sua aplicação; ou considera que a norma não é inconstitucional e
aplica-a ao caso concreto. Estas decisões dos tribunais sobre a inconstitucionalidade ou não
inconstitucionalidade, a aplicação ou não aplicação de uma norma, são decisões passíveis de
recurso para o Tribunal Constitucional, ou seja, quer num caso quer no outro, há recurso para
o Tribunal Constitucional das decisões proferidas ao abrigo do artigo 204º, recurso esse que está
previsto no artigo 280º da Constituição.