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Constituição

conceito e classificação

Prof. Dr. Ilzver de Matos Oliveira


Aula 02 – Teoria Constitucional e Direitos
Fundamentais
O que é uma Constituição?
 “É o conjunto de normas que organiza os elementos
constitutivos do Estado: um sistema de normas
jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do
Estado, a forma de seu governo, o modo de
aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento
dos seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos
fundamentais do homem e as respectivas garantias”.
(José Afonso da Silva)

 Juridicamente: É a lei fundamental de um Estado, que


constitui e organiza uma nação.
Sentidos da Constituição
 Sentido sociológico

 Sentido político

 Sentido jurídico
Sentido Sociológico
 Para Ferdinand Lassale a
constituição de um país é, em
essência, a soma dos fatores reais
do poder que regem nesse país,
sendo esta a constituição real e
efetiva, não passando a
constituição escrita de uma “folha
de papel”. A constituição deve
representar os “fatores reais do
poder”, ou seja, as forças políticas
presentes num determinado
grupo social que se organiza.
Sentido Político
 Carl Schmitt considera a constituição
como a decisão política fundamental,
decisão concreta de conjunto sobre o
modo e a forma de existência da unidade
política, fazendo distinção entre
constituição (decisão política
fundamental: estrutura e órgãos do
Estado, direitos individuais, vida
democrática e etc), e leis
constitucionais (demais dispositivos
inseridos no texto do documento
constitucional, mas não contêm matéria
de decisão política fundamental).
Sentido Jurídico
 Para Hans Kelsen a constituição é
considerada norma pura, puro dever-ser,
sem qualquer pretensão de fundamentação
sociológica, política ou filosófica. Kelsen
toma a palavra constituição em dois sentidos:
no lógico-jurídico (constituição significa
norma fundamental hipotética, cuja
função é servir de fundamento lógico
transcendental da validade da constituição
jurídico-positiva) e no jurídico-positivo
(norma positiva suprema, conjunto de
normas que regula a criação de outras
normas, lei no seu mais alto grau). É o
conjunto de normas essenciais que
disciplina a organização do Estado e dá
fundamento de validade às suas leis.
Classificação das Constituições
 QUANTO À ORIGEM:
1- Votada ou Promulgada (1891, 1934, 1946 e 1988)
Aquela que se origina de Assembléia popular eleita para exercer a
atividade constituinte. Ex: CF de 1988
2- Outorgada (1824, 1937 e 1967/69).
Aquela posta por um indivíduo ou por um grupo que não
recebeu, do povo, diretamente, o poder para exercer a função
constituinte. Ex: CF de 1824.
3 - Constituição Cesarista ou Bonapartista: assim chamada
pela doutrina, nada mais é do que uma Constituição outorgada
que passa por uma encenação de um processo de consulta ao
eleitorado, para revesti-la de aparente legitimidade.

4 - Constituição “dualista” ou “pactuada”: citada pela


doutrina, essa Constituição caracteriza-se por ser fruto de um
acordo entre o soberano e a representação nacional.
Classificação das Constituições
 QUANTO À FORMA:
1- Escrita
Aquelas em que os preceitos estruturadores do Estado são
documentados em um texto. Ex: A CF Brasileira

2- Histórica ou Costumeira
São as que se fundamentam nos usos e nos costumes
cristalizados pela passagem do tempo e obedecidos por
aqueles aos quais se dirigem. Ex: Constituição Inglesa
Classificação das Constituições
 QUANTO AO CONTEÚDO:
1- Material
-A organização total do Estado (sentido amplo).
-Normas constitucionais que regulam a estrutura do Estado, a
organização de seus órgãos e os direitos fundamentais do cidadão
(sentido estrito).

2- Formal
É o peculiar modo de existir do Estado, reduzido, sob forma
escrita, a um documento solenemente estabelecido pelo poder
constituinte e somente modificável por processos e formalidades
especiais nela própria estabelecidos.
Classificação das Constituições
 QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO:
1- Dogmática
-Sempre escrita
-Elaborada por um órgão constituinte, e sistematiza as idéias
fundamentais da teoria política e do Direito dominante no
momento.
2- Histórica ou Costumeira
-Não escrita
-Resultante da lenta formação histórica, do lento evoluir das
tradições, dos fatos sócio-políticos que se cristalizam como
normas fundamentais da organização de determinado Estado. Ex:
Constituição Inglesa
Classificação das Constituições
 QUANTO À ESTABILIDADE:
1- Rígida
-Demanda processo especial e qualificado para sua modificação.
Ex: Constituição Brasileira

2- Flexível
-É aplicável um procedimento legislativo comum para sua
modificação. Ex: Constituição Francesa

3- Semi-Rígida
-Exige para modificação de parte de seus dispositivos um
processo especial e qualificado
-Para outra parte exige um procedimento legislativo comum.
Classificação das Constituições
QUANTO À FUNÇÃO:
 1 - Constituição garantia, quadro ou negativa: é a clássica, enunciando os
direitos das pessoas, limitando o exercício abusivo do poder e dando uma
garantia aos indivíduos.Originou-se a partir da reação popular ao absolutismo
monárquico. É denominada quadro porque há um quadro de direitos definidos
e negativa porque se limita a declarar os direitos e, por conseguinte, o que não
pode ser feito.

 2- Constituição balanço: é um reflexo da realidade. É a “Constituição do ser”.


Um exemplo é a Constituição da extinta URSS, de 1917

 3 - Constituição dirigente: não se limita a organizar o poder, mas também


preordena a sua forma de atuação por meio de “programas” vinculantes. É a
“Constituição do dever-ser”. A nossa Constituição Federal inspirou-se no
modelo da Constituição portuguesa.
Classificação das Constituições
QUANTO À IDEOLOGIA

 1 - Eclética, pluralista, complexa ou compromissória:


possui uma linha política indefinida, equilibrando diversos
princípios ideológicos. Conforme entende Manoel
Gonçalves Ferreira Filho, no fato de a Constituição Federal
ser dogmática na sua acepção eclética consiste o caráter
composto de nosso dogmatismo (heterogêneo).

 2 - Ortodoxa ou simples : possui linha política bem


definida, traduzindo apenas uma ideologia.
Classificação das Constituições
QUANTO Á EXTENSÃO OU MODELO

 3 - Constituição sintética: é a Constituição


concisa. A matéria constitucional vem predisposta
de modo resumido. Exemplo: a Constituição dos
Estados Unidos da América, que tem 7 artigos e 26
emendas.

 4 - Constituição analítica: caracteriza-se por ser


extensa, minuciosa. A Constituição brasileira atual
é o melhor exemplo.
Histórico das Constituições brasileiras
 1824: positivada por outorga. Constituição
do Império do Brasil. Havia um quarto
poder: o Poder Moderador.
 1891: positivada por promulgação. Primeira
Constituição da República.
 1934: positivada por promulgação.
 1937: positivada por outorga (Getúlio
Vargas). Apelidada de Constituição
“Polaca”.
Histórico das Constituições brasileiras
 1946: positivada por promulgação. Restabeleceu o Estado
Democrático.
 1967: positivada por outorga. (há quem sustente ter sido
positivada por convenção, pois o texto elaborado pelo
Governo Militar foi submetido ao referendo do
Congresso Nacional antes de entrar em vigor).
 1988: positivada por promulgação (Constituição Cidadã).

 Observação: em 1969 foram efetivadas várias alterações


por meio da Emenda Constitucional n. 1/69, que
para alguns autores caracteriza uma Constituição
outorgada.
Classificação da Constituição de 88

 1. Quanto ao conteúdo: formal;


 2. Quanto à forma: escrita;
 3. Quanto à extensão: analítica;
 4. Quanto ao modo de elaboração: dogmática;
 5. Quanto à ideologia: eclética;
 6. Quanto à origem: promulgada;
 7. Quanto à estabilidade: rígida;
 8. Quanto à função: garantia e dirigente.
O Princípio da Supremacia Constitucional

Constituição e Emendas Constitucionais


(alteração constitucional)

Leis Complementares

Leis Ordinárias; Leis Delegadas


e Medidas Provisórias

Resoluções, Decretos, e
Portarias

A não-adequação das normas infra-constitucionais à Constituição


Federal resulta na exclusão do sistema -
INCONSTITUCIONALIDADE
OBJETO DA CONSTITUIÇÃO
 A definição dos elementos essenciais do Estado.
Nem sempre foi tão amplo este objeto, este vem
estendendo-se com o correr da história. Essa
ampliação do conteúdo da constituição gerou a
distinção entre a TEORIA MATERIAL e a
TEORIA FORMAL da Constituição. Mas esta é
uma divisão em desuso, pois já não se pode dizer
que a parte da constituição que não está entre os
ELEMENTOS ESSENCIAIS não é constituição em
sentido material, e apenas em sentido formal.
Teoria Material e Teoria Formal da Constituição

Normas materialmente constitucionais


Art. 2º. São poderes da União, independentes e harmônicos entre si,
Legislativo, o Executivo e o Judiciário

Normas formalmente constitucionais


Art. 59, parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração,
redação, alteração e consolidação das leis.

Distinção:
O Estado brasileiro não deixaria de existir se a
segunda norma (art.59) não constasse da
Constituição Federal de 1988.
Elementos Essenciais da Constituição

 A Constituição do Estado, considerada a sua lei


fundamental, seria, então, a organização dos seus
ELEMENTOS ESSENCIAIS: um sistema de
normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que
regula a forma do Estado, a forma de seu
governo, o modo de aquisição e o exercício do
poder, o estabelecimento de seus órgãos e os
limites de sua ação, assegura os direitos e as
garantias do indivíduo e da coletividade,
disciplina os fins econômicos, sociais,
políticos, culturais e ambientais.
Elementos Essenciais da Constituição

Em síntese, a Constituição é


o conjunto de normas que
organiza os elementos
constitutivos do Estado. São 5
as categorias de elementos:
Elementos essenciais
 ELEMENTOS ORGÂNICOS OU ORGANIZATIVOS
 ELEMENTOS LIMITATIVOS
 ELEMENTOS SÓCIO-IDEOLÓGICOS
 ELEMENTOS DE ESTABILIZAÇÃO
CONSTITUCIONAL
 ELEMENTOS FORMAIS DE APLICABILIDADE
ELEMENTOS ORGÂNICOS OU
ORGANIZATIVOS

 normas que regulam a estrutura do Estado,


organização e funcionamento. Exs.: Título
III - Da Organização do Estado, Título IV –
Da Organização dos Poderes e do Sistema de
Governo, Capítulos I e II do Título V - Das
Forças Armadas e Da Segurança Pública, e
Título VI – Da Tributação e do Orçamento.
ELEMENTOS LIMITATIVOS
 normas que trazem os direitos e
garantias fundamentais, e limitam a
ação dos poderes estatais e dão o tom
da atuação do Estado. Exs.: Título II –
Dos Direitos e Garantias
Fundamentais, com exceção dos
Direitos Sociais.
ELEMENTOS SÓCIO-IDEOLÓGICOS

 normas que revelam o compromisso da


Constituição com Estado Social
intervencionista, garantidos do bem-estar e
da justiça social. Exs.: Capítulo II do Título
II – Dos Direitos Sociais, Título VII – Da
ordem econômica e financeira e Título VIII –
Da Ordem Social.
ELEMENTOS DE ESTABILIZAÇÃO
CONSTITUCIONAL
 normas que asseguram a solução de conflitos
constitucionais, a defesa da constituição, do Estado
e das instituições democráticas, protegendo contra
alterações e infringências. Exs.: Art. 102 e 103 –
Jurisdição Constitucional, Art. 102, I, “a” – Ação de
Inconstitucionalidade, Arts. 34-36 – Da
intervenção nos Estados e Municípios, Art. 59, I e
60 – Processo de Emendas à constituição, Título V,
Capítulo I – Da defesa do Estado e das instituições
democráticas.
ELEMENTOS FORMAIS DE APLICABILIDADE

normas que estabelecem regras de


aplicação da constituição. Exs.:
Preâmbulo, os Atos das Disposições
Constitucionais Transitórias, o §1º
do Art. 5º.
Referências
 CONSTITUIÇÃO FEDERAL 1988.
 LENZA, Pedro. Direito Constitucional
Esquematizado. Saraiva. 12 ed., 2008
 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. São
Paulo: Atlas.
 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito
Constitucional Positivo. Malheiros Editores, 30 ed.,
2008.
Sites importantes
 www.stf.gov.br (jurisprudência)
 www.trf4.gov.br (jurisprudência e edital)
 www.senado.gov.br (leis)
 www.planalto.gov.br (leis)

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