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Direito Constitucional

INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL


Conceito:
O Direito Constitucional é um ramo autônomo do direito público interno constituído
pelo sistema de normas jurídicas que regulam as instituições fundamentais do estado e regem
na sua estrutura e no seu funcionamento.
O Direito Constitucional distingue-se dos outros ramos do Direito simplesmente pelo
facto de ser um ramo do direito público que também regula actos do direito privado.
Nota: Para que um ramo do Direito ser considerado autônomo ele deve acarretar dois
elementos que são Objecto próprio de estudo e Princípios, v.g. D.C. tem como objecto a
C.R.A.
Elementos constitutivos do conceito de direito constitucional
1. Ramo autônomo;
2. Direito público;
3. Direito interno;
4. Regula os instituições fundamentais do estado (presidência da República, os tribunais,
Assembleia Nacional art. 105° CRA);
5. Regem o estado na sua estrutura e funcionamento.
Objectos do Direito Constitucional
1. Organizaçao de poderes;
2. Estrutura do Estado;
3. Direitos Fundamentais.

Características do direito constitucional1


a) SUPREMACIA: Se dá pelo posicionamento hierárquico normativo do direito
constitucional na ordem jurídica. Olhando-se pelo escalonamento da ordem jurídica o
direito constitucional pela sua força jurídica, assume uma posição suprema, estando no
topo da pirâmide legislativa.
As ordens jurídicas estão escalonadas de forma vertical e não horizontal porque existem
ordens jurídicas acima de todas outras.
Corolário (consequência) da supremacia
1. Substantivo: Implica que o sentido ordenador do direito constitucional não pode ser
contrariado por qualquer outra lei ordinária que lhe deve obediência, traduzindo assim
a ideia de conformidade constitucional ou constitucionalidade.
2. Adjetivo: Pressupõe a criação de mecanismos de verificação e fiscalização desta
supremacia e a concomitante determinação de consequências negativas de todos os
actos normativos, actos administrativos, actos jurídicos e políticas públicas que violam
a mesma.

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JORGE B. GOUVEIA (2014). Direito Constitucional Angolano, (pp. 29-35).

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Direito Constitucional

v.g. Fiscalização abstrata preventiva (art. 228 C.R.A) - A fiscalização é preventiva na


medida em que ocorre antes de a norma ser promulgada e publicada. Serve para prevenir
que se ofenda a substância constitucional.
Fiscalização abstrata sucessiva (art. 230 C.R.A) - Trata-se de um controlo sucessivo na
medida em que acontece depois da entrada em vigor das normas, ou seja, quando há
apreciação da inconstitucionalidade de uma norma que já foi promulgada e publicada.
3. Material: Dá-se pela localização do direito constitucional no topo da pirâmide
normativa, decorre também como corolário, a responsabilidade alocada do Direito
para consagrar as grandes linhas gerais, orientadoras e estruturantes de todos os outros
sistemas jurídicos que integram a ordem jurídica conferindo-lhe unidade sistemática e
validade material, fixação das suas balizas de regulamentação, daí decorre outra
característica do Direito Constitucional, nomeadamente:

b) TRANSVERSALIDADE: Se dá pelas conexões entre o Direito Constitucional e os


ramos que por ele são informados. O Direito Constitucional é o tronco de onde se
arrancam os outros ramos que formam a ordem jurídica.
c) FRAGMENTARIEDADE: Significa que raramente se compete regular de forma
completa as materiais sobre a qual debruça deixando muito dos elementos de regime a
outros níveis reguladores; aparecendo o Direito Constitucional como um sector
mínimo fundamental no qual se estabelecem os fundamentos dos diversos institutos
jurídicos, públicos e privados.
d) POLITICIDADE: Decorre pelo facto de ser também do Direito Constitucional a
regulação do estatuto do poder político, a sua origem (art. 3 C.R.A), forma (108
C.R.A), aquisição (109 C.R.A), manutenção ou recandidatura e exercício (art. 113
C.R.A).
e) LEGALISMO: A Constituição é a única fonte do Direito Constitucional.
f) ABERTURA: O Direito Constitucional é permeável aos influxos de outros ramos do
Direito, estando muito longe de ser um sistema fechado.
g) ESTADUALIDADE: Por ser lavrado por um estado, e só terá eficácia no determinado
território que a criou.

Espécies do Direito Constitucional


DIREITO CONSTITUCIONAL PARTICULAR OU ESPECIAL: Tem por objecto o
estudo das normas constitucionais vigentes num determinado estado. V.g. Direito
Constitucional português, D.C angolano, etc.
DIREITO CONSTITUCIONAL COMPARADO: Dedica-se ao estudo das normas
constitucionais vigentes ou não em diversos estados na perspectiva de identificar as
diferenças e contrastes.
DIREITO CONSTITUCIONAL GERAL: A semelhança do D.C. Comparado tem por
objecto o estudo das normas constitucionais de diversos estados, no entanto, na perspectiva de
identificar os pontos comuns e estabelecer-se uma teoria geral do direito constitucional.
Natureza jurídica
Visão comparatística do D.C angolano

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O PODER CONSTITUINTE
O poder constituinte tal como a expressão indica é o poder de constituir, criar,
positivar e elaborar normas constitucionais.
Na obra intitulada "Lições de Direito Constitucional e ciências políticas" da coautoria
do mui ilustre Dr. Marcelo Rebelo de Sousa de Sousa definiu-se o poder constituinte como
sendo o poder de elaborar normas constitucionais e como uma faculdade de um povo definir
as grandes linhas gerais do seu futuro colectivo. Em síntese entende-se por poder constituinte
a faculdade de criar uma constituição.
O autor francês Emmanuel Sieyès distingue o poder constituinte enquanto faculdade
de criar uma constituição, dos poderes constituídos de natureza judicial, legislativa e
executiva criados pela Constituição. Os poderes constituídos movem-se no quadro
constitucional, ao passo que o Poder Constituinte é o poder que cria a constituição.

Origem
O poder constituinte surgiu na idade moderna em consequência do surgimento da
doutrina do Contrato Social (teorizada e sustentada por Jean Jacques Rousseau 1762) que
influenciou a própria existência e noção de Estado, conquanto, passou-se a ter a necessidade
de regular o poder estadual através da feitura de Constituições. Devemos destacar também o
contributo do abade francês Emmanuel Sieyès que com a publicação da sua obra "O que é o
terceiro Estado" prestou subsídios relevantes para sedimentação do Poder Constituinte.
Espécies
O Poder Constituinte desdobra-se em duas grandes espécies nomeadamente:
A) Poder Constituinte Originário
B) Poder Constituinte Derivado
Vamos ater-nos ao estudo da primeira espécie deste poder, assim nesses termos:
Poder Constituinte Originário
O Poder Constituinte Originário é o poder em sede o qual se cria uma Constituição
exnova.
Este poder subdivide-se em duas modalidades:
1- Poder Constituinte Originário Histórico (aquele que se exerce quando o estado
é novo e que cria pela primeira vez na história a Constituição de um povo)
2- Poder Constituinte Originário Revolucionário (é aquele que se exerce quando o
estado já existe, mas substitui a sua Constituição por uma outra, este poder revoluciona o
estado nos seus aspectos essenciais.

Características do Poder Constituinte Originário


INICIAL: Porque inaugura a ordem jurídico-constitucional de um estado, servindo de
ponto de partida para a ordem jurídica deste. É inicial porque não há antes dele um poder jure,
havendo apenas poderes de facto, inexistindo um poder que lhe serve de fundamento.

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AUTÔNOMO: Porque não se subordina a um poder anterior, só a ele cabe criar a


Constituição, trata-se de um poder com ampla liberdade para dispor as matérias.
INCONDICIONADO: Não está condicionado a regras de forma ou de fundo ou
quaisquer outras condições pré-existentes estabelecidas por um outro poder, cabendo a criação
de condições como: A convocação das eleições para a Constituição da Assembleia
Constituinte, a redação dos textos constitucionais, a discussão, votação e a promulgação ao
próprio poder constituinte originário.
ILIMITADO: Só a este poder cabe, sem interferência de um outro poder, selecionar os
bens e valores que serão objecto de consagração constitucional, bem como as regras e
princípios que a integrarão.
Esta característica não é consensual e unânime na doutrina, na medida em que, alguns
autores apresentam alguns limites ao Poder Constituinte Originário, como é o caso dos
direitos naturais que devem ser respeitados no exercício deste poder, porquanto, são
superiores e anteriores ao Estado. Impõem-se ainda duas modalidades de limites,
nomeadamente:
A) Limites internos: As questões culturais sociológicas, antropológicas e éticas da
comunidade deveram ser respeitados no exercício do Poder Constituinte Originário.
B) Limites externos: No exercício do Poder Constituinte Originário deveram
respeitarse as normas internacionais imperativas (Ius congens) impostas por sujeitos do
direito internacional público do qual a nação é destinatária da Constituição (art. 12 C.R.A).
Titularidade do P.C.O
TEORIA MONÁRQUICA (CLERO, NOBREZA E MONARCA)
Monarquia absolutista: O monarca é o titular de todos os poderes de soberania
(Executivo, Legislativo e Judicial), sendo assim, neste tipo de monarquia o titular do P.C.O é
o monarca.
Monarquia constitucional parlamentarista: Diferente da anterior, neste tipo de
monarquia temos a figura do monarca como mero Chefe de Estado, cabendo a Chefia de
Governo ao Primeiro-Ministro, ou seja, o Parlamenta é o detentor deste poder.
TEORIA DA SOBERANIA-NAÇÃO
Teorizada por Emmanuel Sieyès e recepcionada pela Assembleia Constituinte
Francesa de 1791. A nação, enquanto titular do Poder Constituinte, seria a unidade orgânica
permanente, que não confunde com o conjunto de sujeitos que a compõe em determinado
momento da vida nacional.
Nação pressupõe a um grupo de indivíduos localizados num determinado território,
tendo um vínculo religioso, cultural, idiomático, etc.

TEORIA DA SOBERANIA POPULAR (Jean-Jacques Rousseau)


A titularidade do Poder Constituinte Originário está associado a questão da titularidade
da soberania. Portanto, o poder constituinte originário tem como seu titular o povo.
Formas de exercício do Poder Constituinte Originário

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A) DEMOCRÁTICA: O povo participa de forma directa e indirecta na criação da


Constituição.
Modalidades democráticas:
 Directa- Os cidadãos criam uma assembleia constituinte sem mediação de
nenhum órgão.
 Representativa- O povo aliena o poder constituinte aos representantes que
formam a assembleia constituinte.
 Semi-directa ou referenciada- O povo elege os representantes, estes elaboram a
Constituição e remetem o diploma ao povo para aprovação.
B) DITATORIAL: O poder está concentrado num só indivíduo.
 Monarquia
 Autocrática: Dá-se quando a Constituição é elaborada por movimentos
revolucionários que chegam ao Poder por via ilegal e inconstitucional, criando estes uma nova
Constituição que será imposta a sociedade sem participação popular.
C) MISTA: A constituição é lavrada por um grupo não eleito pelo povo, mas que em
última a remetem ao povo para aprovação.
 Constituições Pactuadas: Os representantes se autoproclamam e criam a
Constituição, mas depois apresentam a mesma para aprovação.
Poder Constituinte Derivado
O Poder Constituinte Derivado é um poder que visa essencialmente, alterar, eliminar e
introduzir normas na Constituição.
É, portanto, o poder de revisão constitucional, sendo simultaneamente poder
constituinte e poder constituído, na medida em que, resulta do prévio exercício do Poder
Constituinte Originário e actua sobre a ordem constitucional dentro dos limites fixados pela
Constituição sendo em consequência disto designado por alguns autores como Poder
Constituinte Impróprio.
Incidência
Alteração da redação de dispostos constitucionais;
Eliminação de normas constitucionais (supressão);
Introdução de novos preceitos constitucionais de forma autônoma numa disposição
existente (Aditamento).

Exercício do PCD em Angola


Alteração
CRA 2010 (antes da LRC) art. 176º Lei 18/21 art. 176º
A) T. Constitucional A) T. Supremo
B) T. Supremo B) T. Constitucional

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CRA 2010 Lei 18/21


Art. 162 Art. Art. 162 al. G

Eliminação ou supressão
CRA 2010 Lei 18/21
Art. 135, al. C Art. 135, al. C
a) V-P.R a) V-P.R
b) P.A.N b) P.A.N
c) P.T.C c) Revogado*
CRA 2010 Lei 18/21
Art. 242, al. A Art. 242, al. A
a) a)Revogado*
b) b)

Aditamento
CRA 2010 Lei 18/21
Art. 107º Art. 107°-A
CRA 2010 Lei 18/21
Art. 200 200º -A

Características do Poder Constituinte Derivado


SECUNDÁRIO: É secundário na medida em que resulta do prévio exercício do Poder
Constituinte Originário, ou seja, é fruto do seu exercício.
DEPENDENTE: Não cabe a este poder determinar quando deve se rever a
Constituição, na medida em que existem ciclos temporais estabelecidos pelo PCO.
CONDICIONADO: O seu exercício subordina-se a condições prévias estabelecidas
pelo PCO (art. 233 e 237 ambos da C.R.A)
LIMITADO: Não cabe ao Poder Constituinte Derivado selecionar as matérias que irá
dispor (art. 236 C.R.A).

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LIMITES DE REVISÃO CONSTITUCIONAL


Lei 13/12 de 2 de maio, lei sobre o R.A.N.
Razão de ser
Limites de revisão constitucional são mecanismos de defesa da C.R.A, visam
essencialmente evitar que o legislador altere a redação de textos constitucionais, adite ou
elimine normas constitucionais de forma desenfreada.
Espécies
A C.R.A estabelece 4 limites de revisão constitucional, nomeadamente:
a) Limites formais ou procedimentais (art. 233 CRA)
b) Limites temporais (art. 235 CRA)
c) Limites materiais (art. 236 CRA)
d) Limites circunstanciais (art. 237 CRA)
Limites formais: A revisão constitucional deve sujeitar-se a um procedimento
designado PROCESSO LEGISLATIVO ESPECIAL (art. 204 R.A.N) é um procedimento
rigoroso, burocrático e dotado de uma liturgia complexa, caracterizando-se isto como um
limite de revisão constitucional, diferente do procedimento em sede o qual se alteram as leis
ordinárias ou infraconstitucional designado PROCESSO LEGISLATIVO COMUM (art. 168
R.A.N) que é simplista,
PROCESSO LEGISLATIVO COMUM
Iniciativa art. 168 do R.A.N
Art. 173 do R.A.N
Art. 27
Aprovação art. 169 n.º 1/2 CRA
Votação Final global: art. 196 n.º 3 R.N.A.
PROCESSO LEGISLATIVO ESPECIAL
Iniciativa art. 204 R.A.N
Aprovação art. 169 CRA n.º 1
Votação Final global: art. 207 R.A.N

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TEORIA GERAL DA CONSTITUIÇÃO


A constituição
Origem
Falar da origem das Constituições é falar do seu surgimento por volta do século XVIII,
na sequência das revoluções liberais francesas e inglesas, com grandes constituições de John
Luck, Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau, conhecidos como os pais do Constitucionalismo
moderno. Foi, todavia, em 1787 que surgiu a primeira Constituição no Estados Unidos da
América e depois em 1791 a França concebeu a sua primeira Constituição.

Funções da Constituição
1- INTEGRAÇÃO SOCIAL: Em primeiro lugar entende-se que a Constituição tem como
função primária assegurar a integração social harmoniosa de todos os indivíduos, classes e
grupos sociais, devendo funcionar como documento de todos assegurando a coexistência
pacífica através de um complexo normativo assente essencialmente na igualdade, na
universalidade, na imparcialidade, reciprocidade e vantagens mútuas (art. 22 e 23 ambos da
C.R.A).
2- PROTEÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS: A Constituição enquanto Lex
Matter deve assegurar a proteção dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos
cidadãos influenciando assim todo o ordenamento jurídico a ter uma matriz assente no
princípio da dignidade da pessoa humana.
3- ORGANIZAÇÃO ESTADUAL: A orgânica do Estado e o seu respectivo
funcionamento são fixados pela Constituição que define a sua forma (federal ou unitário), o
sistema de governo (Parlamentarista, Presidencialista e Semipresidencialista), a forma de
governo (Monárquica ou Republicana), o sistema econômico (capitalista, socialista ou
comunistas), o sistema de partidos políticos (monopartidário ou pluripartidário), o sistema
administrativo (Centralização ou Descentralização), etc. Define os órgãos de soberania e
estabelece as formas de relação entre estes.
4- DIREÇÃO POLITICA: Pressupõe que é a Constituição que define as políticas
fundamentais do estado para os mais variados sectores, como cultural, social e econômico
Características das normas constitucionais
1) Autoprimazia normativa: A norma constitucional caracteriza-se pela sua superioridade
hierárquica num determinado ordenamento jurídico, pressupondo isto que a validade
das normas constitucionais não está dependente da sua conformação a uma outra lei,
elas encontram um fundamento de validade em si mesmas (art. 6 C.R.A)
2) As normas constitucionais são normas de produção: Elas determinam o procedimento
que deve ser adoptado na produção (criação, positivação) de normas jurídicas,
nomeadamente o processo legislativo ordinário comum e estabelecem a hierarquia das
fontes normativas (art. 167, 169 e 170 todos da CRA).
3) A conformação das normas constitucionais funciona como « conditio sine qua non »
de validade das leis ordinárias (art. 226 n.°1 CRA).
Características das Constituições
Quanto à estabilidade as Constituições classificam-se em:
 Constituições imutáveis
 Constituições rígidas
 Constituições semi-rígidas
 Constituições flexíveis

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