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AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº

2334756 - RJ (2023/0097021-0)
EMENTA
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO.
IBGE. LETIMIDADE PARA EXECUÇÃO
DO TÍTULO COLETIVO. OCORRÊNCIA.
PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO
CONHECIDO PARA DAR PROVIMENTO
AO RECURSO ESPECIAL.
DECISÃO
Trata-se de agravo em recurso especial
manejado por AILTON ANTONIO
BAPTISTA DE OLIVEIRA em face de
decisão do TRIBUNAL REGIONAL
FEDERAL DA 2ª REGIÃO, que negou
admissibilidade a recurso contra acórdão
assim ementado:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
REEXAME. DETERMINAÇÃO DO STJ.
OMISSÕES.
LEGITIMIDADE. EXECUÇÃO INDIVIDUAL
DE TÍTULO DE COLETIVO.
COMPROVAÇÃO DE FILIAÇÃO.
INDISPENSÁVEL. RESULTADO
INALTERADO. PROVIMENTO.1. Em que
pese ao reexaminar a petição dos
Embargos de Declaração, não se constatar
hipóteses de seu cabimento, insertas nos
incisos do art. 1.022 do CPC/15, passa-se
a análise ante a determinação do Superior
Tribunal de Justiça.2. "o julgador não está
obrigado a responder a todas as questões
suscitadas pelas partes, quando já tenha
encontrado motivo suficiente para o proferir
a decisão; A prescrição trazida pelo art. 489
do CPC/15 veio confirmar a jurisprudência
já sedimentada pelo Colendo Superior
Tribunal de Justiça, sendo dever do
julgador apenas enfrentar as questões
capazes de infirmar a conclusão adotada
na decisão recorrida" (STJ, Primeira
Seção, EDcl no MS 21.315/DF, Rel.
Ministra DIVA MALERBI, DJe 15/06/16,
unânime).
3. Não deve prosperar a tese de
desnecessidade de enumeração dos
beneficiários na petição inicial, bem como
de ofensa à coisa julgada, pois o
dispositivo do título judicial que se pretende
executar determinou o pagamento aos
substituídos, notadamente, aposentados e
pensionistas do IBGE associados à
Associação Impetrante. 4. "o fato de haver
legitimação extraordinária da Associação
para o mandado de segurança coletivo,
embora leve à dispensa de autorização
para propor a ação NÃO LEVA à ampliação
da coisa julgada a toda a categoria porque
isso somente seria possível na hipótese de
legitimação extraordinária de Sindicato,
onde a categoria é pelo mesmo
representada integralmente. No caso da
Associação, a coisa julgada alcança os
associados e não os "associáveis".
Associação não representa a categoria
porque isso foge do espírito associativista.
Hoje, conforme pacificado na jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, descabe
autorização para o ajuizamento de
mandado de segurança coletivo, mas, por
outro lado, só são alcançados pela coisa
julgada formada na ação coletiva os
associados, e como há a limitação, eles
precisam ser enumerados na petição inicial
de tal ação coletiva" (TRF2,Oitava Turma
Especializada, AG 0009024-
64.2017.4.02.0000, Rel. Des. Federal
MARCELO PEREIRA DA SILVA, e-DJF2R
08/01/18, maioria)5. Quanto à ofensa ao
microssistema de tutela coletiva de direitos
e à segurança jurídica não merece
prosperar tal argumento, tendo em vista
que a execução coletiva de n°0000870-
56.2012.4.02.5101 trata da obrigação de
incorporar aos proventos dos substituídos
do valor da gratificação GDIBGE, objeto
distinto dos autos originários. 6.
Recurso conhecido e provido. Sanada
omissões, restando, entretanto, inalterado
o resultado do decisum.
No especial, alega-se, além de negativa de
prestação jurisdicional, que a petição inicial
do writ coletivo foi expressa em sustentar a
legitimidade da associação impetrante no
inciso LXX do art. 5º da CF e súmula
629/STF, afirmando ser "desnecessária
autorização específica por parte dos
associados, uma vez que a impetrante é
substituta processual deles, ou seja,
demanda em nome próprio interesses
alheios" (Evento 12 OUT 20 Pág. 30). É
inequívoco e incontroverso que a petição
inicial do mandado de segurança coletivo
não enumerava nenhum associado em
particular, e não foi instruída com nenhuma
lista de associados, consoante certidão de
objeto e pé expedida pela Secretaria da 24ª
V. Federal, onde correu a ação
mandamental coletiva (Evento 12 OUT 21
Pág.31). E, conforme visto, a segurança foi
concedida, sem absolutamente nenhuma
discriminação entre os associados, quanto
à data de vinculação à associação ou de
aposentação.
Apresentadas contrarrazões.
A decisão agravada negou seguimento ao
especial sob a seguinte compreensão:
Nada há no acórdão impugnado que
contrarie, in abstracto, os dispositivos
infraconstitucionais alegadamente violados.
O resultado do julgamento baseia-se em
determinada premissa fática. Admitidos os
fatos, as conclusões não destoam da lei,
daí que não cabe recurso especial, pois a
aferição da ofensa a texto de lei teria que
reanalisar os fatos, e isto é incabível. Por
seu turno, os embargos de declaração
foram regularmente apreciados. De fato,
alegar que não o foram, quando isto
pressuponha, para que acatado,
reexaminar os fatos e, só assim, perquirir a
correção ou não do julgado, torna inviável a
via extrema. À luz da súmula nº 7 do
Superior Tribunal de Justiça, é vedado, em
sede de recurso especial, o reexame do
conjunto fático probatório constante dos
autos ("A pretensão de simples reexame de
prova não enseja recurso especial").
Significa dizer que a premissa equivocada
deve ser demonstrada com o corpo teórico
constatado pelo acórdão atacado, à luz das
premissas de fato por ele vislumbradas. In
casu, verifica-se que o órgão julgador
decidiu a controvérsia após análise dos
fatos, sendo certo que, para se chegar à
conclusão diversa, tornar-se-ia
imprescindível reexaminar o conjunto
fático-probatório dos autos, oque, como
visto, é vedado.
Contra tal compreensão sobreveio o
presente agravo.
É o relatório. Decido.
A pretensão recursal merece guarida.
Em caso análogo ao dos autos, já foi
julgado que, no tocante à legitimidade ativa
para o cumprimento da sentença
mandamental coletiva, prevalece no STJ o
entendimento de que a impetração de
mandado de segurança coletivo por
entidade associativa dispensa a
apresentação da lista de associados e
tampouco exige a autorização expressa
deles. Configurado, portanto, caso de
substituição processual, os efeitos da
decisão proferida no mandado de
segurança coletivo impetrado por
associação alcançam todos os associados,
sendo irrelevante que estejam ou não
indicados em uma lista nominal ou a data
da filiação.
Eis a ementa:
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO.
SERVIDOR PÚBLICO. GRATIFICAÇÃO
POR DESEMPENHO. OMISSÃO.
INEXISTÊNCIA. EXECUÇÃO INDIVIDUAL
DE TÍTULO JUDICIAL. MANDADO DE
SEGURANÇA COLETIVO.
LEGITIMIDADE.
DESNECESSIDADE DE PROVA DA
FILIAÇÃO ATÉ O MOMENTO DO
TRÂNSITO EM JULGADO. AGRAVO
INTERNO. ALEGAÇÕES DE VÍCIOS NO
ACÓRDÃO.
INEXISTENTES.
I - Na origem, trata-se de execução
individual da sentença proferida no
mandado de segurança coletivo impetrado
pela Associação Nacional dos Aposentados
e Pensionistas do IBGE - Dapibge. A
decisão exequenda determinou "que a
autoridade impetrada promova o
pagamento ao substituídos (a saber, aos
aposentados e pensionistas do IBGE
associados à Associação impetrante), da
parcela denominada GDIBGE, na mesma
proporção que é paga aos servidores em
atividade mencionados no art. 80 da Lei n.
11.355/2006."
II - Na decisão do Juízo de origem,
acolheu-se parcialmente a impugnação da
executada, por excesso na execução. Na
Tribunal a quo, conheceu-se do agravo de
instrumento e, de ofício, a decisão foi
reformada para julgar extinta a execução,
por ilegitimidade ativa e inviabilidade da
execução antes da liquidação da sentença
coletiva.
Nesta Corte, deu-se provimento ao recurso
especial, determinando-se o retorno dos
autos ao Tribunal de origem para que
prossiga com a execução, julgando-se o
agravo de instrumento.
III - A pretensão versa questão de direito,
para cujo deslinde não há necessidade de
reexame de matéria fático-probatória.
IV - Afasto a alegação de ofensa aos arts.
489 e 1.022 do CPC/2015, porque não
demonstrada omissão capaz de
comprometer a fundamentação do acórdão
recorrido ou de constituir-se em empecilho
ao conhecimento do recurso especial.
Citem-se, a propósito, os seguintes
precedentes: EDcl nos EDcl nos EDcl na
Pet n. 9.942/RS, Rel. Ministro Benedito
Gonçalves, Primeira Seção, julgado em
8/2/2017, DJe de 14/2/2017; EDcl no AgInt
no REsp n. 1.611.355/SC, Rel. Ministro
Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em
14/2/2017, DJe de 24/2/2017; AgInt no
AgInt no AREsp n. 955.180/RJ, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta
Turma, julgado em 14/2/2017, DJe de
20/2/2017; AgRg no REsp n.
1.374.797/MG, Segunda Turma, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, DJe de
10/9/2014.
V - No tocante à legitimidade ativa para o
cumprimento da sentença mandamental
coletiva, prevalece no STJ o entendimento
de que a impetração de mandado de
segurança coletivo por entidade associativa
dispensa a apresentação da lista de
associados e tampouco exige a autorização
expressa deles.
VI - Configurado, portanto, caso de
substituição processual, os efeitos da
decisão proferida no mandado de
segurança coletivo impetrado por
associação alcançam todos os associados,
sendo irrelevante que estejam ou não
indicados em uma lista nominal ou a data
da filiação. Nesse sentido, recente acórdão
da Segunda Turma, proferido em recurso
de minha relatoria, em caso semelhante:
AREsp n. 1.477.877/RJ, Rel. Ministro
Francisco Falcão, Segunda Turma, julgado
em 13/8/2019, DJe 19/8/2019.
VII - A propósito, ver ainda os seguintes
julgados: AgInt no AREsp n. 1.494.381/RJ,
Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira
Turma, julgado em 19/8/2019, DJe de
22/8/2019; AgInt no REsp n. 1.775.204/RJ,
Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, julgado em 23/5/2019, DJe de
19/6/2019; AgInt no AREsp n.
1.377.063/RJ, Rel. Ministro Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma,
julgado em 16/5/2019, DJe de 21/5/2019;
REsp n. 1.793.003/RJ, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado
em 12/3/2019, DJe de 29/5/2019 e AgInt no
REsp n. 1.447.834/CE, Rel. Ministro
Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, julgado em 11/12/2018, DJe de
4/2/2019.
VIII - Quanto à ausência de condição válida
para o prosseguimento da execução
individual, no caso, da prévia liquidação da
sentença mandamental coletiva, esta
Corte, pela Segunda Turma, examinando
recurso especial com origem também na
execução da sentença proferida no
Mandado de Segurança Coletivo n.
2009.51.01.002254-6, aplicou
entendimento firmado nesta Corte no
sentido de reconhecer a possibilidade de
ajuizamento da execução individual do
título formado em ação coletiva, quando for
possível a individualização do crédito e a
definição do quantum debeatur por meros
cálculos aritméticos.
IX - Segundo essa jurisprudência, em tal
situação não é imprescindível que o credor
aguarde a juntada de documentos a cargo
do devedor, como é o caso sob análise, em
que se pretende o pagamento de valores
atrasados de parcelas remuneratórias.
Conferir:
REsp n. 1.773.287/RJ, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado
em 6/12/2018, DJe de 8/3/2019.
X - Agravo interno improvido.
(AgInt no AREsp n. 1.482.647/RJ, relator
Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma,
julgado em 4/2/2020, DJe de 10/2/2020.)
No mesmo sentido: REsp 2067013, Rel.
Ministro BENEDITO GONÇALVES, DJe
15/08/2023; AgInt no REsp 2052925, Rel.
Ministro FRANCISCO FALCÃO, DJe
15/08/2023; REsp 2041938, Rel. Ministro
GURGEL DE FARIA, DJe 28/03/2023.
Ante o exposto, com fulcro no art. 932, V,
do CPC/2015 c/c o art. 253, parágrafo
único, II, c, do RISTJ, conheço do agravo
para dar provimento ao recurso especial,
nos termos da fundamentação.
Publique-se. Intimem-se. Retornem os
autos à origem para que ela prossiga no
julgamento da lide como entender de
direito.
Brasília, 30 de agosto de 2023.
MINISTRO MAURO CAMPBELL
MARQUES
Relator
(AREsp n. 2.334.756, Ministro Mauro
Campbell Marques, DJe de 01/09/2023.)

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